45-54 - Universidade de Coimbra
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DEFENSOR DQ POVO-1.' ANNO Quinta feira, 17 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 49<br />
LIBERDADE RELIGIOSA<br />
Interrompo, por hoje, a série das questões<br />
organicas, para dar logar a uma pequena polemica<br />
<strong>de</strong> duplo caracter politico-religioso<br />
com os meus collegas do campo ultramontano:<br />
A Or<strong>de</strong>m, A Palavra e O Correio Nacional,<br />
que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os acontecimentos do dia<br />
3o <strong>de</strong> julho em Lisboa, não cessam <strong>de</strong> pedir,<br />
<strong>de</strong> mãos postas, ao governo liberal do sr.<br />
D. Carlos Coburgo uma perseguiçãosinha<br />
religiosa, movida contra os que na imprensa<br />
ou em assemblêas publicas ousem confessar-se<br />
dissi<strong>de</strong>ntes do dogma catholico, e tentem<br />
justificar a sua dissidência.<br />
Noutro jornal (A Batalha) respondi eu já<br />
ao zelo seraphico da Or<strong>de</strong>m. Esta resposta<br />
não é pois individualmente en<strong>de</strong>reçada a este<br />
ou áquelle jornal: é a todos quantos formam<br />
na mesma fileira da intolerância sectaria.<br />
Notam os mo<strong>de</strong>rnos exegetes que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
o principio do Christianismo, que na Egreja<br />
se estabeleceram duas correntes contradictorias,<br />
e essencialmente irreconciliáveis; a corrente<br />
judaica, representada por S. Pedro; e<br />
a corrente cosmopolita, representada por S.<br />
Paulo.<br />
Na vida ainda dos dois apostolos, por<br />
vezes a dissidência estalou em bem significativas<br />
disputas.<br />
S. Pedro, espirito estreito, acanhado, nacionalista,<br />
não vendo horisontes mais vastos<br />
que os <strong>de</strong> Jerusalem, adstricto ás fórmulas e<br />
praticas tradicionaes, sem nunca ter logrado<br />
comprehen<strong>de</strong>r o que havia <strong>de</strong> societário, <strong>de</strong><br />
fraternal e expansivo na doutrina do mestre,<br />
eternamente jungido á Lei, representou, na<br />
nascente Egreja, a revivescencia da synagoga.<br />
S. Paulo, espirito culto, como uma educação<br />
que po<strong>de</strong>ríamos chamar humanista,<br />
acceitou do Christianismo exactameate a doutrina<br />
cosmopolita, e foi assim que se fez o<br />
apostolo dos gentios; prégando a graça, é facto,<br />
mas tornando-a accessivel a todos, e fa-<br />
zendo consistir a condição capita! para a salvação<br />
na carida<strong>de</strong>, no amor.<br />
(Continua)<br />
Uma vingança<br />
HELIODORO SALGADO.<br />
Começa a sair semanalmente em Lisboa,<br />
sob a direcção do nosso dilecto amigo e illustre<br />
escriptor, sr. Heliodoro Salgado, intemerato<br />
apostolo da <strong>de</strong>mocracia, pertinaz propagandista<br />
anti-jesuitico reaccionário, este antigo<br />
diário.<br />
E' soldado vigilante que não <strong>de</strong>ixa empolgar<br />
á reacção a supremacia das suas doutrinas<br />
liberaes.<br />
Preparae as lombadas — ó vós que nos<br />
ouvis.<br />
O CASAMENTO DO PAPAGAIO<br />
PAULO BOUHOMME<br />
VERSÃO LIVKE<br />
CONTO<br />
(CONCLUSÃO)<br />
Eram dois homens <strong>de</strong> fôro contra um papagaio.<br />
A vantagem <strong>de</strong>via ser incontestavelmente<br />
d'elles.<br />
Mas, por uma inexplicável fatalida<strong>de</strong>, apenas<br />
o sr. Rapinault entrou no gabinete, calou-se<br />
o papagaio. Parecia que tinha advinhado<br />
a tempesta<strong>de</strong> que lhe pairava sobre a<br />
cabeça. No pateo o silencio era profundo.<br />
Um bocado <strong>de</strong> paciência, rosnou o sr.<br />
Galoubet; vae já ouvir.. .<br />
Abriu a janella, convidou o procurador a<br />
approximar-se, e, apontando-lhe com o <strong>de</strong>do<br />
o poleiro do papagaio, pendurado na pare<strong>de</strong><br />
exterior, perguntou :<br />
— Vê ? Lá está elle...<br />
— Vejo sim... vejo.<br />
E durante alguns minutos os dois homens<br />
examinaram o papagaio que, surprehendido<br />
com aquella inesperada apparição poz-se a<br />
miral-os curiosamente com os olhos luzentes,<br />
afiando o bico, mas ironicamente mudo. De<br />
quando em quando fazia exercícios, pendurando-se<br />
pelo bico no poleiro, mas retomava<br />
logo a posição habitual, sempre calado.<br />
O sr. Galoubet; que estava furioso, não<br />
Até que um dia Honorina disse ao procurador<br />
:<br />
— Eu entendo que só o senhor acharia<br />
o meio <strong>de</strong> nos livrar d'este medonho tyranno.<br />
..<br />
E <strong>de</strong>u ás suas palavras uma uncção particular<br />
e quasi um tom <strong>de</strong> supplica.<br />
Pois não, minha senhora, respon<strong>de</strong>u galantemente<br />
o sr. Rapinault, certamente que<br />
ha um meio <strong>de</strong> eu ouvir os gritos do papagaio.<br />
— Um meio ! Qual ? Diga, diga <strong>de</strong> pressa<br />
!...<br />
O moço procurador, <strong>de</strong>cididamente subjugado<br />
pelos encantos <strong>de</strong> Honorina, cofiou o<br />
bigo<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pois disse pausadamente :<br />
— O meio era se o papá e a mamã consentissem<br />
que eu viesse aqui muitas vezes...<br />
— Mas o papá não <strong>de</strong>seja outra coisa !<br />
Respon<strong>de</strong>u ingenuamente a rapariga.<br />
— Elle, talvez, mas v. ex. a será da mesma<br />
opinião ?<br />
Não me atrevo a esperar...<br />
E Honorina que comprehen<strong>de</strong>ra as meias<br />
palavras do sr. Rapinault, corou até á raiz<br />
dos cabellos... O sonho <strong>de</strong> Honorina não<br />
era casar com um procurador, mas a mamã<br />
soube levar a questão como um diplomata<br />
consummado. Esse casamento era a salvação<br />
do pae, a quem o papagaio acabaria por en-<br />
louquecer. E a galante rapariga <strong>de</strong>ixou-se<br />
convencer.<br />
— Aos meus braços, sr. Rapinault, disse<br />
no dia seguinte o advogado ao futuro genro.<br />
Dou-lhe a minha filha, mas com uma condição<br />
!<br />
— Bem sei... o papagaio, respon<strong>de</strong>u radiante<br />
o procurador.<br />
Pô<strong>de</strong> contar commigo.<br />
E tres semanas mais tar<strong>de</strong> os Galoubet<br />
celebravam com um gran<strong>de</strong> jantar os esposaes<br />
da sua querida Honorina. Mas vinte e<br />
quatro horas <strong>de</strong>pois trouxeram-lhe uma noticia<br />
que os <strong>de</strong>ixou estupefactos: o papagaio<br />
tinha morrido <strong>de</strong> repente !<br />
A preparar o salmão para o jantar a cosinheira<br />
tinha <strong>de</strong>ixado cahir, por falta <strong>de</strong> cautella<br />
alguns ramitos <strong>de</strong> salsa sobre a gaiola<br />
do papagaio, que se <strong>de</strong>u pressa em comel-os .<br />
A Egreja catholica, da qual esses jornalistas<br />
são conspícuos apologistas, alguns <strong>de</strong><br />
incontestável talento e <strong>de</strong> incontestada sciencia,<br />
como o sr. dr. Silva Ramos e o padre<br />
Senna Freitas, foi sempre intolerante porque,<br />
pelo dogma que lhe serve <strong>de</strong> base, como a<br />
todas as religiões reveladas; ella nega a mais<br />
fundamental das liberda<strong>de</strong>s: a liberda<strong>de</strong> moral.<br />
Ha um livro que a seita tem em gran<strong>de</strong><br />
conta, no qual esta negação passa das simples<br />
individualida<strong>de</strong>s isoladas para as collectivida<strong>de</strong>s<br />
sociaes: é o Discurso sobre a Historia<br />
Universal, <strong>de</strong> Bossuet. A historia da<br />
Assyria, a da Babylonia, a da Pérsia, a <strong>de</strong><br />
Roma, não é um escandalo <strong>de</strong> factos mais<br />
ou menos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da vonta<strong>de</strong> individual<br />
dos seus apparentes promotores: nada d'isso.<br />
Dada a quéda do primeiro par, no E<strong>de</strong>n, e<br />
a promessa d'um re<strong>de</strong>mptor divino ao Adão<br />
peccador, todos esses factos não são mais <strong>de</strong><br />
que scenas preparatórias do gran<strong>de</strong> drama<br />
da re<strong>de</strong>mpção. Deus, o contra-regra, prepara<br />
as scenas e marca as entradas: o homem<br />
executa.<br />
O homem passa pois a ser um automato<br />
nas mãos <strong>de</strong> Deus, movendo-se sem consciência<br />
alguma do seu <strong>de</strong>stino. Ha um povo<br />
eleito para a realisação do gran<strong>de</strong> mysterio<br />
re<strong>de</strong>mptorista; o povo judaico; eleito apezar<br />
<strong>de</strong> tudo, apezar das suas quédas, das suas<br />
apostasias; eleito pela vonta<strong>de</strong> soberana <strong>de</strong><br />
Deus, que conce<strong>de</strong> gratuitamente a graça a<br />
quem muito bem lhe apraz, ao passo que,<br />
para os per<strong>de</strong>r, endurece o coração dos infiéis,<br />
evitando assim que elles se convertam.<br />
E 1 O actual governo é essencialmente vinga-<br />
Galoubet como homem pratico ainda se<br />
tivo; não per<strong>de</strong> a menor occasião <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>n-<br />
lembrou <strong>de</strong> romper o projecto <strong>de</strong> casamento.<br />
ciar os seus instinctos rancorosos.<br />
Mas reconsi<strong>de</strong>rou e não fez mal porque o sr.<br />
Nunca se esquece d'aquelles que uma vez<br />
Rapinault sahiu um excellente marido.<br />
o <strong>de</strong>sprezaram. Senão vejamos:<br />
E Honorina, que foi a mais feliz das mu-<br />
Criticámos ha pouco uma violência do sr.<br />
ministro da marinha contra um brioso oficial<br />
da nossa armada, antigo lente da Escola<br />
Naval e um perfeito caracter como homem<br />
e um escrupoloso cumpridor dos seus <strong>de</strong>veres<br />
na sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> militar e funccionario<br />
publico.<br />
lheres, <strong>de</strong>veu a ventura <strong>de</strong> toda a sua vida á<br />
visinhança d'um papagaio!<br />
G.<br />
Commissão <strong>de</strong> resistencia<br />
Agora temos outra violência para criti-<br />
Esta commissão que vae resistindo aos<br />
car, praticada pelo sr. João Franco, mais re-<br />
encontrões do governo, que não faz caso das<br />
pugnante ainda do que a primeira, pelo fim<br />
suas palavras, pois «que obras não se veem,<br />
que teve em vista e pelos resultados preju-<br />
reuniu a capitulo para <strong>de</strong>liberar... entreter<br />
diciaes que trouxe aos estudantes da Escola<br />
a <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>.<br />
Medica <strong>de</strong> Lisboa.<br />
se pou<strong>de</strong> conter:<br />
Por isso o Queiroz Ribeiro passou as pa-<br />
Historiemos o facto que é <strong>de</strong>veras curioso — E' muito exclamou elle, com os lábios lhetas — e na resistencia ao venha a nós faz<br />
e symptomatico.<br />
trémulos e as mãos crispadas; parece que o um figurão.<br />
Os estudantes <strong>de</strong> Medicina pediram ao está a fazer <strong>de</strong> proposito!<br />
sr. ministro do reino a concessão <strong>de</strong> porta- — E' curioso, realmente, observou o prorias<br />
para repetirem o exame <strong>de</strong> passagem curador, porque, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que eu cheguei, ainda<br />
d'anno, como é praxe ha muito tempo, e não <strong>de</strong>u um pio.<br />
Que os tempos estão bicudissimos — seus<br />
pedaços <strong>de</strong> patiforios.<br />
dispensa do exame <strong>de</strong> allemão até ao fim do E esperaram ainda <strong>de</strong>bruçados no peitoril<br />
actual anno lectivo, obrigando-se a apresen- da janella. O procurador fazia todas as di- Rei Antonio, o Bergeret<br />
tarem antes do acto a certidão <strong>de</strong> approvaligencias para não romper á gargalhada.<br />
Este Ínclito comilão —a 5o mil réis por<br />
ção d'aquella lingua. Foram <strong>de</strong>sattendidos — E diabolico! exclamou afinal o sr. Ga- dia — não larga aquella macaca que o tem<br />
nas suas pretenções.<br />
loubet. E' capaz <strong>de</strong> não abrir bico em todo acompanhado, constante e teimosa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
A razão da má vonta<strong>de</strong> do sr. João Franco o dia... Pois bem!... Não o quero <strong>de</strong>- elle se metteu a tralhão, a commandar excr-<br />
contra os estudantes da Escola Medica <strong>de</strong> morar mais tempo. O sr. tem como eu os citos. O que elle vale como funccionario e o<br />
Lisboa é a lembrança da celebre parodia á seus momentos contados. Peço-lhe apenas seu prestigio como cabo <strong>de</strong> guerra, dil-o o sr.<br />
burlesca exhibição das forças da guarda pre- que torne cá em momento mais opportuno. bispo <strong>de</strong> Moçambique e relata-o o nosso coltoriana,<br />
na Avenida da Liberda<strong>de</strong>.<br />
O procurador mostrou-se um homem <strong>de</strong>lega a Vanguarda:<br />
O sr. ministro João Franco quiz ver se licadíssimo. Ao <strong>de</strong>spedir-se affirmou, todo<br />
obrigava os estudantes a implorar a benevo- amavel:<br />
«O sr. bispo <strong>de</strong> Moçambique conversou bastante<br />
lência regia, a irem submissos e supplican- — Ao primeiro signal, cá estou n^im com o sr. Ferreira d'Alineida sobre os azares da<br />
guerra sustentada contra o Gungunhana pelas trotes<br />
ante sua magesta<strong>de</strong>, o rei D. Carlos, coa- prompto!...<br />
pas do rei Antonio.<br />
gidos pela força das circumstancias e pelo Todos em casa do advogado, a mulher,<br />
«O príncipe da egreja ó <strong>de</strong> opinião que as tro-<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> obstarem á perda d^m anno. a filha, a creada, até o porteiro receberam pas alli <strong>de</strong>stacadas seriam <strong>de</strong>mais, se o combate<br />
Proce<strong>de</strong>u exactamente como quando os or<strong>de</strong>m para ir a casa do sr. Rapinault ape- fosse em campo raso; mas que são insufficientes<br />
na actual conjunctura, porque o Gungunhana tem<br />
verda<strong>de</strong> que, assim, a tolerancia <strong>de</strong>ve- briosos académicos <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> lhe pediram nas o papagaio recomeçasse. Succe<strong>de</strong>u isso por seu lado as diíílculda<strong>de</strong>s que o terreno apreria<br />
impôr-se, pois que o homem não tem culpa um feriado para se <strong>de</strong>morarem mais por um muitas vezes; o animal gritava, assobiava, senta, o clima, e até o estado sanitario das nossas<br />
<strong>de</strong> que Deus, nos seus secretos e insondáveis dia na capital, então em galas para festejar o ensur<strong>de</strong>cia toda a respeitável familia, mas tropas.»<br />
<strong>de</strong>sígnios, o tenha votado irremediavelmente anniversario natalício do glorioso poeta João apenas o sr. Rapinault chegava esbaforido,<br />
a uma perdição eterna, e bem lhe bastará <strong>de</strong> Deus.<br />
chamado pela criada ou pelo porteiro, recahia Em que mãos caíram os pobres soldados<br />
esta <strong>de</strong>sgraça...<br />
Procurou explorar a favor do paço, mas no seu mutismo, com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero do que estão em Lourenço Marques.<br />
Mas não, respon<strong>de</strong>-se: o fiel, o eleito, d'essa vez foi corrido. Os estudantes 'da Uni- advogado, da mulher e da filha, que já não sa- E tudo a custar-nos o melhor <strong>de</strong> um conto<br />
pondo o seu coração <strong>de</strong> accordo com a vonversida<strong>de</strong> preferiram voltar immediatamente biam que fazer para conjurar o perigo, por- e quinhentos por me\!...<br />
ta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>ve odiar os réprobos, perse- ás suas aulas a rojarem-se aos pés do moque o sr. Galoubet ameaçava dar em doido!<br />
guil-os, exterminal-os, abominal-os, só pornarcha, implorando o favor, o enorme favor Afinal foi resolvido convidar o procuraque<br />
Deus os abomina ! Ha mesmo um theo- <strong>de</strong> um feriado!<br />
dor para um almoço. Só por arte do diabo Descoberta importante<br />
logo <strong>de</strong> seita que affirma que, no céu, os jus- Ainda que os estudantes <strong>de</strong> Lisboa resol- ,é que o papagaio <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> gritar durante<br />
tos, gozam com os tormentos soffridos pelos vam em vista da recusa, recorrer á benevo- a refeição. Elle acceitou, mas, por cumulo O nosso amigo e collega — A Liberda<strong>de</strong>,<br />
con<strong>de</strong>mnados no inferno!<br />
lencia regia, nem por isso ficarão sendo me- <strong>de</strong> fatalida<strong>de</strong>, cahiu um gran<strong>de</strong> aguaceiro <strong>de</strong> Vizeu, dr. Maximiano d'Aragão, um cu-<br />
Quão longe está esta doutrina impia d'aquelnos liberaes, antes pelo contrario, cada vez os justamente á hora marcada, e os donos do rioso investigador e iliustradissimo auctor da<br />
les meigos idyllios do Christo nos Evange- seus princípios e i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>mocráticas se radi- papagaio retiraram-no da janella. Era mais importante obra Vi^eu, acaba <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir no<br />
lhos!...carão<br />
mais nos seus espíritos alevantados, uma <strong>de</strong>speza sem proveito! Procurou-se ou- archivo da Sé, d'aquella cida<strong>de</strong>, um docu-<br />
•<br />
tendo agora a animal-as a indignação profuntro meio. Se se po<strong>de</strong>sse fazer engulir ao mento assás importante e que diz respeito<br />
da, o nojo contra os especuladores palacianos. papagaio uma pilula envenenada, arsénico ou aos tão discutidos quadros do celebre pintor<br />
A attitu<strong>de</strong> dos jornaes catholicos, n'este<br />
E' preciso que os senhores do governo mesmo salsa que tem a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> alte- portuguez Vasco Fernan<strong>de</strong>s (Grão-vasco).<br />
momento, não offerece, pois, novida<strong>de</strong> al-<br />
saibam, que um estudante nunca perdoou a rar a saú<strong>de</strong> aos galinaceos! Mas a maneira O documento tem a data <strong>de</strong> 1607 (63<br />
guma; nem sob o ponto <strong>de</strong> vista doutrinário,<br />
quem lhe faça per<strong>de</strong>r um anno <strong>de</strong> estudo. <strong>de</strong> introduzir na gaiola a pilula, o arsénico annos <strong>de</strong>pois da morte <strong>de</strong> Vasco Fernan<strong>de</strong>s);<br />
nem sob o ponto <strong>de</strong> vista das tradições.<br />
Rico ou pobre, e muito principalmente po- ou a salsa? E <strong>de</strong>pois, se tudo se <strong>de</strong>scobrisse, e já os pintores d^quella epocha diziam que<br />
Sem recuarmos mais longe, bastará remonbre,<br />
o seu <strong>de</strong>sejo é concluir a formatura, que era certo um processo por perdas e damnos. se não podia fazer quadro idêntico, tão bom,<br />
tarmo-nos aos tempos, para sempre omino-<br />
muitas vezes é feita á custa dos maiores sa-<br />
tão perfeito, e bem acabado (diz o mesmo<br />
sos, do tyranno D. Miguel. Periodicos infacrifícios<br />
e privações.<br />
documento).<br />
mes, cuja só <strong>de</strong>nominação basta a <strong>de</strong>nunciar-<br />
Explorar com a fraqueza dos outros foi<br />
Esta <strong>de</strong>scoberta constitue um dos maiolhe<br />
o caracter, ahi viam a luz publica, dirigi-<br />
sempre cobardia; o ministro que imaginou<br />
res títulos <strong>de</strong> gloria a que tem jus o seu<br />
dos por sacerdotes do altar, taes como: A<br />
levar os estudantes a fazerem profissão <strong>de</strong> fé<br />
auctor; a sua explanação vae elevar a um<br />
Besta esfolada, do padre José Agostinho <strong>de</strong><br />
monarchica ante o solio augusto <strong>de</strong> sua ma-<br />
extraordinário realce o '3.° volume da monu-<br />
Macedo; O Mastigoforo, do padre Fortunato<br />
gesta<strong>de</strong> fi<strong>de</strong>líssima, bem o sabe, bem o <strong>de</strong>ve<br />
mental obra— Vi\eu, que se encontra á venda<br />
<strong>de</strong> S. Boaventura; O Cacete, do padre Fran-<br />
comprehen<strong>de</strong>r.<br />
em todas as livrarias, o que constitue um<br />
cisco Recreio; etc. Publicavam esses perio-<br />
Quiz vingar-se, vingou-se; é quanto bas-<br />
trabalho d'investigação, <strong>de</strong>véras interessante<br />
dicos as maiores infamias contra os liberaes,<br />
tou. Que lhe importa a justiça do pedido?<br />
e valioso.<br />
todos alcunhados <strong>de</strong> pedreiros-livres e ma-<br />
Ninguém lhe irá pedir contas..'. Mas hão <strong>de</strong><br />
çons, e não cessavam <strong>de</strong> pedir ao governo<br />
pedir-lh'as, mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>.<br />
que se <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> branduras para com os<br />
liberaes. Imagine-se as branduras do go-<br />
Então talvez o ministro vingativo e ranverno<br />
d'aquella besta-féra que se chamou o<br />
coroso se arrependa dos seus actos, das suas<br />
con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Basto!<br />
propotencias e inqualificáveis arbitrarieda<strong>de</strong>s.<br />
XLII<br />
•<br />
E a dizerem que a cida<strong>de</strong><br />
«A Batalha»<br />
não tem na vereação,<br />
gente <strong>de</strong> zelo e bonda<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong> extrema <strong>de</strong>dicação!<br />
Ern meneios d'ameaça,<br />
a mostrar que não ha medo,<br />
conseguiu salvar, na praça<br />
do Commercio — o arvoredo !<br />
Foi este caso, á tardinha :<br />
'stavamos nós na palrata<br />
e um vereador se avisinha...<br />
Vê que a ave inda esgravata,<br />
e ahi vae o sr. Barata<br />
a perseguir a gallinha.<br />
BYa-Dique»