D E F E N S O R r»o P o v o — 1 . ° A N N O Quinta feira, 31 fa outubro <strong>de</strong> 1895 — N.° 53 Sciencias, lettras e artes .A.S CRIADAS (Timotro Trin) VERSVO LIVRE DO HESPANH0L (CONCLUSÃO) A que tive, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Salvadora, era uma mulher muito callada; porém a infeliz chorava quando a mandava preparar o chocolate, gemia quando a mandava varrer, entristecia quando a mandava ás compras, o que a não impedia <strong>de</strong> roubar o mais que po<strong>de</strong>sse, e quando esfregava, chorava d'uma tal maneira que parecia lhe havia dado uma tareia. Meu marido disse-me: «Mulher, olha, parece-me que esta criada ha <strong>de</strong> provavelmente ser a rainha Artemisa, ou alguma princeza <strong>de</strong>sthronada.» Um dia resolvi-me, a perguntar-lhe, cançada <strong>de</strong> a vêr chorar tanto, porque razão se affligia áquelle ponto, o que lhe havia acontecido; então, ella em tom lugubre e para mais trágico coutou-me a seguinte historia e disse-me: «Senhora, choro porque não nasci para misteres tão baixos; a mim educaram-me como se educa uma senhora; melhorando o presente, e se não fossem os malditos caminhos <strong>de</strong> ferro, estava eu em minha casa como se fôra uma rainha,» «Mas que lhe fizeram os caminhos <strong>de</strong> ferro para assim se mostrar tão contraria a elles?» «O quê? Arruinaram meu pae, a mim e a toda a minha familia... Pois se as coisas não corressem assim não me teria a senhora como criada, nem outra qualquer; eu é que as teria, e não estaria reduzida a ter que me sujeitar a serviços... ai! nem posso fallar em tal, cada vez que me lembro... Eu <strong>de</strong>via até fazer por me esquecer d'isto, mas que quer a senhora, a gente sempre se lembra. .. Mas quem o havia <strong>de</strong> dizer?... «Então quem era o seu pae? Era capitalista, banqueiro, accionista?...» «Não, senhora; era conductor d'uma diligencia.» Puz na rua aquella victima do progresso, e tomei uma mulher idosa, apezar da opposição <strong>de</strong> meu marido que lhe não agradavam as velhas, começando por mim. A creada nova, era uma velhota encarquilhada, com o queixo retorcido, e que em casa mandava mais do que eu. Quando me via na cozinha começava a resmungar, e dizia-me que não queria estorvos, que ella bem sabia como as coisas se faziam, que não precisava <strong>de</strong> conselhos. Mandava a estrelar ovos para o almoço, e ella aquecia-os, porque dizia serem assim melhores; fazia quanto muito bem lhe parecia; sahia a todas as horas; tomava a melhor sopa, e comia, segundo as suas palavras, pouco mas a meudo, o caso era que não ficava nada, e a nós servia-nos o que ella <strong>de</strong>ixava. A meu marido chamava velho rabujento, e quando não tinha que fazer — que não tinha que fazer em todo o dia — vinha para o meu quarto, e tratava-me como <strong>de</strong> egual para egual, fallava mal das pessoas que frequentavam a casa; quiz matar o gato, todo o dia estava tomando remedios e aguas quentes para combater o flato, histerismo, rheumatismo, asthma e outros achaques. Um dia disse-me que lhe pozesse sanguesugas; tendo-me eu negado, foi ter com meu marido para que lh^as <strong>de</strong>itasse. Gomo não lhe fizemos a vonta<strong>de</strong>, chamou-nos <strong>de</strong>shumanos, ameaçou-nos com o mau olhado, com a justiça <strong>de</strong> Deus, e... tivemos que a pôr a andar. Tomámos por ultimo uma criada muito mo<strong>de</strong>sta, muito limpa, arranjadinha, que não tinha namorado algum, segundo ella dizia: a única cousa que pedia era que a <strong>de</strong>ixassem ir á egreja, <strong>de</strong>sejo muito natural e que <strong>de</strong>monstrava o grau <strong>de</strong> religiosida<strong>de</strong> da boa Suzana — era o seu nome. Todos os dias ia á missa das almas, pela manhãsinha, todas as tar<strong>de</strong>s á novena, ao miserere, emfim não podíamos contar com ella senão ás horas <strong>de</strong> comer: a comida, porém, estava sempre fria e <strong>de</strong>sconsolada... Quizemos mo<strong>de</strong>rar um pouco a sua <strong>de</strong>voção, e a maldita a todos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o porteiro até aos visinhos, ao merceeiro, ao taberneiro, e a todo o mundo, foi dizendo que éramos uma sucia <strong>de</strong> herejes. Estavamos para a <strong>de</strong>spedir, quando um dia foi um policia buscal-a, e lá a levou comsigo empan<strong>de</strong>irada. sem sabermos para on<strong>de</strong>, nem para quê. Soubemos <strong>de</strong>pois, que aquella mosquinha morta pertencia a uma quadrilha <strong>de</strong> larapios, e que com effeito ia ás egrejas, não para resar nem visitar santos, mas para revistar as algibeiras dos <strong>de</strong>votos, roubando limpamente o mais que podia. Em casa roubounos então entre outros objectos um relogio, tres colheres <strong>de</strong> prata, roupas e outras miu<strong>de</strong>zas. Foi esta a minha ultima creada, concluiu D. Marquinhas.—Agora não tenho nem quero nenhuma. Eu mesmo me sirvo, e meu marido diz que eu sou peor que todas ellas, que faço tudo mal; mas antes quero ouvir as recriminações do meu homem do que aturai as. Devo <strong>de</strong>clarar, antes <strong>de</strong> terminar este conto, que quando D. Marquinhas se casou, não era D. Marquinhas, mas só Marquinhas, porque era... a creada do andar <strong>de</strong> baixo da casa em que vivia seu esposo. Um ramo <strong>de</strong> flores GABIRU. Um pobre mineiro, inutilisado no trabalho, resi<strong>de</strong> em Paris em precarias circumstancias. Não tendo meios e não encontrando ninguém que lhe désse protecção; lembrou-se <strong>de</strong> ir á camara franceza e lançar para o meio da sala um ramo <strong>de</strong> flores e assim julgava po<strong>de</strong>r alcançar uma in<strong>de</strong>mnisação pelo <strong>de</strong>sastre que soffreu, inhibindo-o <strong>de</strong> ganhar o seu sustento. Por isso lembrou-se d'aquelle meio tão inoffensivo e dirigiu-se ao edifício das camara, havendo naquelle dia, 27 do corrente, sessão parlamentar. De repente do logar da tribuna, on<strong>de</strong> Vaill ante lançára a bomba, o pobre arremessa um ramo <strong>de</strong> flores para a sala e grita: — Viva a patria! Viva a França! Tudo se levantou cheio <strong>de</strong> terror, suppondo-se ser uma bomba <strong>de</strong> dynamite; e quando os ânimos socegaram e o homem foi preso, souberam o que havia sido causa <strong>de</strong> tantos sustos. Não se sabe se o homem foi feliz com a i<strong>de</strong>ia. EL-REI DIVERTE-SE Gran<strong>de</strong> «soirèe» «Da mesma fórma que não é <strong>de</strong> uso levar ás Folies Bregères, aos Ambassa<strong>de</strong>urs ou ao Jardin <strong>de</strong> Paris as senhoras da socieda<strong>de</strong>, lambem estes logares estão interdictos, ao que parece, aos chefes <strong>de</strong> Estado que, mesmo fóra dos seus paizes, têm <strong>de</strong> pautar uma gran<strong>de</strong> parte da sua vida pelas regras da meticulosa pragmatica. Assim é que po<strong>de</strong>ndo, assistir ás passagens mais escabrosas— e não são poucas nem pouco disfarçadas — das Demi-Vierges ou <strong>de</strong> qualquer peça do Palais Royai, é-lhes <strong>de</strong>feso comtudo ouvirem o reportorio picante da Yvette Guilberte, do Poliin e dos outros astros do Café concerto. «Se não fosse o Fígaro, que não quiz <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong>smentir as tradições complacentes que fixou Beaumarchais, o rei <strong>de</strong> Portugal, apezar da sua longa estada em Paris, não lograria presencear um espectáculo em que estas notahilida<strong>de</strong>s caféconcertistas tomassem parte. «Assim, a redacção do Figaro, pelos seus redactores principaes os srs. F. <strong>de</strong> llodays e A. Périver, offereceu no dia 25, ao rei <strong>de</strong> Portugal, uma soirèe, cujo programma, cora raras excepções, mais <strong>de</strong> nomes do que <strong>de</strong> números, parecia feito para o Scala, ou para o Alcazer d Etè. «El-rei chegou ás lí horas da noite acompanhado do ministro portuguez e da sua comitiva, occupando toda a primeira fila <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>iras e ficando Sua Magesta<strong>de</strong> entre os dois redactores principaes do Figaro. «Uma orchestra tocou á chegada o hymno da Carta, que foi ouvido sentado, por isso que Sua Magesta<strong>de</strong> se sentou logo que chegou ao seu logar. «Entrou-se francamente no reportorio café-concerto. Gallipaux do Vau<strong>de</strong>ville, Polin do Scála, e Villé do Eldorado, escalaram resolutamente a pragmatica, tendo ainda assim sido muito conscienciosos nos números qiie escolheram. «Quem, porém, não teve contemplações com o régio hospe<strong>de</strong> do Figaro foi Yvette Guilbert. A rainha das cançonatistas exhibiu em tres das suas canções tudo o que o seu reportorio tem <strong>de</strong> mais salé- « Les ingénues e Les jeunes mariées fizeram rir el-rei convulsamente, com aquelle riso franco e sincero que Yvette, com o seu extraordinário modo <strong>de</strong> dizer e com a sua gesticulação ainda mais extraordinaria, sabe provocar. Yvette, sentindo-se gatée quiz dar como primeur ao auditorio especial que a escutava Les déhors du mariage. .. que ella disse com uma câlinerie cheia <strong>de</strong> malícia e que lhe valeu applausos unanimes e calorosos. Uma observação necessaria: no auditorio não havia senhoras...» E' do Diário <strong>de</strong> Noticias o que se acaba <strong>de</strong> lêr. Nem mais uma palavra.,. MATADOIRO Pelo actual matadoiro — aon<strong>de</strong> os marchantes pagam á camara apenas um direito <strong>de</strong> entrada e outro <strong>de</strong> pezagem, fazendo todos serviços com pessoal seu — cobra a camara <strong>de</strong> receita bruta annualmente em média i:200$000 réis. D'esta importancia tem-se a <strong>de</strong>duzir, como encargos do matadoiro: Ao veterenario 36o$>ooo réis Ao fiscal 1802&000 » A um policia i26$ooo » A um guarda io8$5oo » Para impressos, expedientes, reparos, conservação do pardieiro e material 200^000 » 974$5OO » <strong>de</strong> modo que a receita liquida se reduz apenas á insignificância <strong>de</strong> 3oo$ooo réis o que é o melhor attestado <strong>de</strong> incúria, indolência e criminosa indifferença —senão ignorancia dos mais rudimentares princípios <strong>de</strong> administração municipal! — porquanto o matadouro da villa mais humil<strong>de</strong> d'este districto <strong>de</strong>ve ren<strong>de</strong>r quantia egual, senão superior — e não é a terceira cida<strong>de</strong> do reino. Os pretendidos concessionários do novo matadoiro dão á camara uma renda ou subvenção annual <strong>de</strong> um conto <strong>de</strong> réis, ficando <strong>de</strong> sua conta todas as <strong>de</strong>spezas que se relacionem com o matadoiro <strong>de</strong> modo que aquelle conto <strong>de</strong> réis, seja uma receita liquida e entregam á camara, no fim <strong>de</strong> 6b annos um magnifico edifício com todo o seu material, edifício que segundo o plano que vimos executado em tempo na Casa Havaneza e agora na Papelaria Central, realisará um dos primeiros estabelecimentos da Europa, no limite das suas dimensões e que nunca po<strong>de</strong>rá valer menos <strong>de</strong> trinta e seis contos <strong>de</strong> réis. Actualmente, a lavagem das tripas faz-se no rio, ou mesmo na praça, á vista <strong>de</strong> todos os transeuntes, a dobrada é lavada também e preparada grosseiramente em logares públicos— e a carne é conduzida para os talhos ás costas dos carregadores, porcos e immundos, ás vezes <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> chuva, mas sempre exposta á vista dos transeuntes. Pelo novo matadoiro, a lavagem das tripas e a preparação das dobradas é feita <strong>de</strong>ntro do matadoiro em, officinas especiaes, por processos mo<strong>de</strong>rnos, com abundancia <strong>de</strong> agua e escrupuloso asseio — a carne é conduzida em carroças especiaes tapadas, com pessoal limpo e com a farda do matadoiro Ha uma tabella nova que <strong>de</strong> facto não tem comparação com a actual, que tem <strong>de</strong>pauperado a camara sem beneficio immediato do publico ; mas os marchantes fião tem mais encargo algum e os serviços e preparação das rezes são feitos com pericia, asseio, còmmodida<strong>de</strong> e pelos processos mo<strong>de</strong>rnos. O publico em geral pô<strong>de</strong> utilisar-se com muita vanta- gem do matadoiro especialmente para a matança dos suínos como vamos <strong>de</strong>monstrar. Hoje um particular que <strong>de</strong>seje abater um porco em casa não dispen<strong>de</strong> menos <strong>de</strong> i$5oo réis, além <strong>de</strong> um incommodo e porcaria enorme durante a preparação do porco. Com o novo matadoiro, qualquer que o <strong>de</strong>seje utilisar avisa a administração d^quelle estabelecimento e esta manda-lhe a carroça a casa receber o porco vivo e traz lh'o a casa morto e limpo com o sangue e as tripas correspon<strong>de</strong>ntes (lavadas) por <strong>de</strong>smanchar, pela somma total <strong>de</strong> 460 réis, e <strong>de</strong>smanchado, 660 réis. O dono do porco po<strong>de</strong> assistir a todo o trabalho como está bem <strong>de</strong> ver. No actual matadoiro embora a capacida<strong>de</strong> o muito zelo e circumspecção do veterinário, os serviços fazem-se, geralmente, sem or<strong>de</strong>m e como Deus quer e a camara <strong>de</strong>seja. Nas proximida<strong>de</strong>s da hora da matança, que <strong>de</strong> ordinário é das 2 ás 3 horas, é impossível, senão perigoso, e muito <strong>de</strong>sagradavel passar-senas immediações do matadoiro que, como todos sabemos fica á entrada do bairro novo <strong>de</strong> Santa Cruz — passeio predilecto e actualmente muito frequentado pelos moradores da cida<strong>de</strong> e seus visitantes, pois áquella hora, quem alli passar julga-se numa feira <strong>de</strong> gado, alli, um rebanho <strong>de</strong> ovelhas, acolá um outro <strong>de</strong> cabras, mais a<strong>de</strong>ante uma vitelinha, uns porcos, a vacca, etc., etc., — todos esperando a hora do sacrifício — as mulheres e homens do serviço estão <strong>de</strong>itados pelo chão em mangas <strong>de</strong> camisa com as selhas e alguidares ao lado, dando assim aos transeuntes um espectáculo bem triste. No novo matadoiro, todo murado e cercado <strong>de</strong> um jardim, os serviços e o seu pessoal obe<strong>de</strong>cem a uma or<strong>de</strong>m e a um regulamento, que nem <strong>de</strong> leve se torna suspeito (á visinhança) a que o edifício é <strong>de</strong>stinado a não ser pelo titulo. Mas este bem estar geral não convém á camara, antes prefere o stato quo. Nós também lhe não queremos mal por isso, mas os munícipes <strong>de</strong>veriam merecer-lhe mais alguma consi<strong>de</strong>ração. Conflicto luso-italiano Continua a imprensa das diversas nações da Europa a occupar-se da viagem do rei portuguez, apreciando e commentando-se o conflicto luso-italiano, a que <strong>de</strong>u causa a saída precipitada do reino ao sr. D. Carlos e a recusa <strong>de</strong> não ir á Italia quando estava, essa visita, no itenerario que publicaram primeiro os jornaes <strong>de</strong> Lisboa, que passam por beber dofino em informes e por aquelles que têm a honra e recebem o proveito <strong>de</strong> serem os thuribularios d'essa malta <strong>de</strong> energúmenos. E' enorme o numero <strong>de</strong> jornaes que se collocaram ao lado do governo italiano, applaudindo o procedimento do presi<strong>de</strong>nte do conselho, Cnspi, por não <strong>de</strong>ixar esmagar a Italia pelos ardis da seita negra ás or<strong>de</strong>ns do papa, nem pelas ameaças d'este, proce<strong>de</strong>ndo com energia e altivez ás suas imposições. São unisonos os brados, unanimes as opiniões do jornalismo da Italia una. Quasi todos escrevem obe<strong>de</strong>cendo á força da mesma i<strong>de</strong>ia, trabalhando para o mesmo fim e alvejando o mesmo ponto o qual é — combater os reaccionários, inutilisar os manejos do papa que preten<strong>de</strong> hostilisar o po<strong>de</strong>r real, que o <strong>de</strong>sthronou. Em telegramma, que publica o Corriere Della Sera, <strong>de</strong> Roma se affirma que a retirada do embaixador <strong>de</strong> Portugal é o primeiro <strong>de</strong> uma serie <strong>de</strong> actos, ten<strong>de</strong>ntes a dar á politica italiana um caracter manifestamente anti-clerical; publicando <strong>de</strong>pois um artigo <strong>de</strong>clarando impru<strong>de</strong>nte o procedimento do governo portuguez, que annunciou a visita do sr. D. Carlos á Italia sem prevêr, e quasi dando se ares <strong>de</strong> não saber as dificulda<strong>de</strong>s que ella podia originar.. . E com a attitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem está seguro das suas opiniões, vae a Tribuna, <strong>de</strong>clarando que applau<strong>de</strong> as <strong>de</strong>clarações do governo, mas que a dignida<strong>de</strong> da Italia impõe-lhe o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> não se <strong>de</strong>ixar — nunca! — acorrentar aos caprichos do Vaticano. Por estas harmonias, que o leitor está ouvindo, affirmam os outros jornaes italianos, que apodam o governo portuguez <strong>de</strong> ignorante e néscio, em tremendas sóvas, como por exemplo, a Opinione, a qual julga que com as instrucções dadas pelo governo italiano, o inci<strong>de</strong>nte pô<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>clarar-se esgotado, não <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> notar que o governo portuguez andou muito levianamente. Regalem-se os gran<strong>de</strong>s estadistas <strong>de</strong> meia tijella, com o que acabam <strong>de</strong> ouvir, mas apurem os sentidos que as melhores vae dizel-as a Riforma, que em tom altivo, falia com esta sobranceria que vereis. Rejubilando pela solução que teve o inci<strong>de</strong>nte, observa que se o governo portuguez virou <strong>de</strong> frente ante as ameaças do Vaticano, isso é questão com que a Italia nada tem. Affirma que é o Vaticano que recorre a ameaças para conservar longe do Quirinal os soberanos catholicos, empregando as armas da fé para fomentar discórdias nos estados catholicos, não hesitando mesmo ante a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> provocar a revolução nos estados da Europa, que querem conservar relações d'amiza<strong>de</strong> • com a Italia. Em mau serviço mata o ocio o santo padre, vigário <strong>de</strong> Christo na terra — em nome, que não em pessoa — pois que nunca houveram boccas que se abrissem para con<strong>de</strong>mnar o gran<strong>de</strong> Nazareno que só proclamou a revolução para emancipar os povos da escravidão dos tyrannós, e nunca para atear o odio das raças, nos estados da Europa. Pouco evangelico se mostra o Leão do Vaticano, esten<strong>de</strong>ndo as prezas da vingança aos que luctam pela liberda<strong>de</strong>. Faz recordar a fabula do — Mosquito e do leão... Fechar com chave d'oiro se diz das coisas que tem valor, e realmente é bem cabida a phrase, a um periodo d'um artigo da Italie com que terminamos, pois sendo este jornal mo<strong>de</strong>rado nas suas questões, escreve, a proposito do conflicto diplomático e da influencia do Vaticano, essas palavras, que vão transcriptas, on<strong>de</strong> salienta bem frisantemente este facto foistorico: que todos os soberanos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Napoleão 1 a Napoleão 111 encontraram a sua <strong>de</strong>sgraça nas suas ligações com o Vaticano, concluindo por esta phrase: «talvez um dia D. Carlos veja a Italia, •uas terá então um ex-aniepuito ao •eu titulo <strong>de</strong> rei, e MÓ a generonida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Humberto lhe po<strong>de</strong>rá mitigar um pouco a* amarguras do exílio. Não pó<strong>de</strong>m ser mais irónicas, nem mais escalpellantes as palavras do jornal Italie, já recordando a Leão XIII as infamias dos papados, e consi<strong>de</strong>rando perigosas para as testas coroadas as ligações do Vaticano, já presagiando ao sr. D. Carlos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um dia ainda ver a Italia, procurando na generosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu tio o balsamo consolador <strong>de</strong> quem se vê na <strong>de</strong>sdita. Que não passam <strong>de</strong> parolas — dizem por cá os gran<strong>de</strong>s doutores do estado. Quem sabe lá?
XLVX Recordo com gran<strong>de</strong> mágua que lembrei, na occasião, á camara — a boa maneira <strong>de</strong> canalisar a agua, junto à mesma excavação do gaz, na Estrada da Beira. Acceitando os nossos planos, dava á valia mais largueza, po<strong>de</strong>ndo caber dois canos sem lhe dar gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>speza. Consta haver um camarista, homem finorio, sagaz; diz ser perigosa a rotura que se um dia dér no gaz... (olhem que eu sou fatalista) com a agua se misturai 1!... Fica á conta dos leitores dizerem, sem rabulice, qual é dos vereadores que disse tal bernardice ? A resposta ao meu pedido, quer-se em verso bem medido. Fra -Dique. N. B. As respostas não <strong>de</strong>vem exce<strong>de</strong>r á quintilha, e serão assignadas, para conhecimento d'esta redacção. Po<strong>de</strong>m fazer uso do pseudonymo. CARTAS UE LONGE