Exóticas web.cdr - Rede Pró-Fauna - Estado do Paraná
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É certo que, qualquer introdução de espécie pode vir a se tornar uma<br />
invasão biológica. Este processo segue alguns padrões gerais e depende<br />
da espécie que será introduzida, <strong>do</strong> ambiente onde a mesma será<br />
introduzida, seu grau de integridade, e a comunidade nativa deste local,<br />
entre outros fatores, sen<strong>do</strong> muitos deles de difícil mensuração. A pressão<br />
de propágulos é algo crucial, ou seja, espécies com maior potencial de<br />
reintroduções (mais cultivadas, por exemplo) e/ou com um grande<br />
número de indivíduos introduzi<strong>do</strong>s com freqüências altas, são mais<br />
susceptíveis a se tornarem invasoras. Desta forma, existem espécies com<br />
um maior potencial de invasão, assim como existem ambientes ou<br />
habitats mais susceptíveis às invasões (e.g. MEFFE e CARROL, 1994;<br />
TOWNSEND, 2003; THOMPSON e TOWNSEND, 2004; BEGON et al., 2006).<br />
Espécies generalistas, resistentes, com altas taxas reprodutivas e de<br />
dispersão, são candidatas mais fortes a se tornarem invasoras <strong>do</strong> que<br />
espécies ultra-especializadas, frágeis, com taxas de reprodução e<br />
dispersão baixas. Da mesma forma, ambientes com parâmetros abióticos<br />
extremos e/ou com variações bruscas, portanto mais inóspitos e/ou bem<br />
preservadas; com comunidades mais diversificadas e com interações<br />
complexas estabelecidas, estariam menos sujeitos às invasões, porém<br />
não imunes. Ao passo que, locais com parâmetros ambientais mais<br />
amenos e constantes, degrada<strong>do</strong>s e/ou comunidades com uma<br />
diversidade relativamente baixa, com poucas interações, ou muitas<br />
espécies endêmicas e de pequeno porte, seriam mais susceptíveis à<br />
invasões biológicas. Por fim, é tu<strong>do</strong> uma questão de quantidades e de<br />
quem vai ser introduzi<strong>do</strong> ou aonde. As generalizações teóricas, apesar de<br />
importantes, devem ser ao menos vistas com cautela. Assim, cada<br />
espécie deve ser tratada como entidade biológica única que é, da mesma<br />
forma que o ambiente em particular e sua biodiversidade devem ser<br />
respeita<strong>do</strong>s e compreendi<strong>do</strong>s antes de qualquer tipo de introdução ou<br />
manejo (e.g. BALTZ e MOYLE, 1993; MEFFE e CARROL, 1994; PERRY e<br />
VANDERKLEIN, 1996; MOYLE e LIGHT, 1996).<br />
Alguns aspectos teóricos da ecologia de comunidades, como as análises<br />
de teia trófica, por exemplo, podem auxiliar a responder algumas<br />
questões. Em geral, a introdução de um herbívoro, em um local com<br />
poucos preda<strong>do</strong>res levaria a um desequilíbrio na comunidade de plantas<br />
e, conseqüentemente, em todas as demais interações. A adição de uma<br />
espécie preda<strong>do</strong>ra generalista e de grande porte, numa área com poucos<br />
competi<strong>do</strong>res, certamente causaria modificações ainda maiores, pois<br />
estaria agin<strong>do</strong> diretamente sobre muitos níveis tróficos. Desta maneira,<br />
tu<strong>do</strong> é uma questão de intensidade e complexidade entre a espécie<br />
introduzida e o seu novo ambiente, assim, embora alguns aspectos sejam<br />
gerais, as peculiaridades de cada caso devem ser compreendidas e todas<br />
as possibilidades consideradas. Então, é imprescindível que seja<br />
considerada a inexistência de um único fator controla<strong>do</strong>r e primordial,<br />
seja ele físico, químico ou biológico, mas sim a contribuição de uma vasta<br />
gama de fatores que atuam em escalas múltiplas dentro de uma<br />
hierarquia espaço/temporal (MEFFE e CARROL, 1994; PERRY e<br />
VANDERKLEIN,1996).<br />
Na maioria das vezes, a introdução de uma nova espécie, distinta<br />
evolutivamente e biologicamente da comunidade original, resulta em um<br />
novo desafio interpretativo <strong>do</strong>s múltiplos parâmetros de uma<br />
comunidade, os quais naturalmente já são demasiadamente complexos.<br />
Na prática, entretanto, a introdução de espécies é tratada como uma<br />
questão de custo/benefício, com as decisões partin<strong>do</strong> de interesses<br />
econômicos e/ou culturais, crian<strong>do</strong> inevitavelmente um conflito entre os<br />
diversos setores da sociedade. Assim, é difícil prever ou mensurar os<br />
custos e benefícios de uma introdução, já que, por exemplo, os valores<br />
econômicos e culturais a respeito de uma espécie introduzida por um<br />
grupo com interesses comuns podem mudar com o passar <strong>do</strong> tempo<br />
(McNEELY, 2001).<br />
Em termos gerais, ainda existe uma árdua necessidade de reflexão sobre<br />
o tema e de se conciliar os da<strong>do</strong>s teóricos obti<strong>do</strong>s pelos cientistas e<br />
pesquisa<strong>do</strong>res com as ações efetivas e práticas realizadas por técnicos,<br />
agentes <strong>do</strong> governo e gerencia<strong>do</strong>res. Além disso, existe um conflito real,<br />
entre o tempo gasto com estu<strong>do</strong>s científicos e teóricos e a necessidade<br />
emergencial de ações efetivas e rápidas para a erradicação ou controle de<br />
algumas espécies introduzidas, principalmente em ambientes com altas<br />
taxas de endemismo, por exemplo, algumas unidades de conservação <strong>do</strong><br />
esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Paraná</strong>. Neste senti<strong>do</strong>, o papel <strong>do</strong>s toma<strong>do</strong>res de decisão e<br />
principalmente o direcionamento <strong>do</strong>s interesses políticos, sociais e<br />
econômicos são primordiais para a viabilização efetiva de planos de ação<br />
para espécies invasoras. Assim, de um mo<strong>do</strong> geral, qualquer plano de<br />
ação deve possuir uma equipe multidisciplinar e seguir uma linha lógica<br />
e integrativa de passos visan<strong>do</strong> a otimização das ações quanto à<br />
organismos invasores.<br />
A falta de conhecimento <strong>do</strong> público em geral, sobre os danos causa<strong>do</strong>s<br />
por espécies invasoras, afeta muito as percepções da sociedade em<br />
relação ao problema, assim dificultan<strong>do</strong> seu controle e/ou erradicação.<br />
Isto reforça que as bioinvasões são problemas interdisciplinares,<br />
complexos e graves. Desta forma, a dificuldade ou falta de interesse na<br />
percepção <strong>do</strong>s riscos e danos causa<strong>do</strong>s pelas introduções de espécies só<br />
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