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instituto politécnico de bragança escola superior de educação

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

INSTITUTO POLITÉCNICO DE BRAGANÇA<br />

ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO<br />

Curso: Complemento <strong>de</strong> Formação Científico Pedagógico para<br />

Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico – 2º ano<br />

Disciplina: Seminário <strong>de</strong> Investigação<br />

Tema: “A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa”<br />

O docente:<br />

Drª. Sofia Bergano<br />

Trabalho elaborado por:<br />

Maria Irene Fernan<strong>de</strong>s Preto<br />

Bragança, 18 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2003<br />

1


Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

ÍNDICE<br />

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3<br />

2- ENQUADRAMENTO TEÓRICO............................................................................. 4<br />

2.1. Da cultura miran<strong>de</strong>sa em geral ao longo <strong>de</strong> uma vida ............................................. 4<br />

2.2. Da língua ou fala miran<strong>de</strong>sa em particular -Zonas <strong>de</strong> influência da fala miran<strong>de</strong>sa 6<br />

2.3. Porque <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> se falar mirandês em Miranda..................................................... 9<br />

2.4. Origens da língua miran<strong>de</strong>sa.................................................................................. 10<br />

2.5. A língua miran<strong>de</strong>sa hoje ........................................................................................ 13<br />

2.6. Criação da Disciplina <strong>de</strong> Opção da Língua Miran<strong>de</strong>sa na<br />

Escola Preparatória <strong>de</strong> Miranda do Douro.................................................................... 15<br />

2.7. À <strong>de</strong>scoberta do mirandês...................................................................................... 16<br />

2.8. Legitimação do mirandês....................................................................................... 18<br />

2.9. Uso do mirandês falado e escrito pelas instituições do concelho .......................... 19<br />

2.10. O uso do mirandês no dia a dia............................................................................ 20<br />

3. OBJECTIVO GERAL DO ESTUDO...................................................................... 21<br />

4. METODOLOGIA ..................................................................................................... 22<br />

4.1. INVESTIGAÇÃO-ACÇÃO................................................................................... 22<br />

4.2. População Alvo...................................................................................................... 25<br />

5. PROJECTO:.............................................................................................................. 26<br />

5.1. Activida<strong>de</strong>s levadas a cabo para atingir o (s) objectivo (s) proposto (s) ............... 26<br />

5.2. Calendarização das activida<strong>de</strong>s.............................................................................. 26<br />

6. AVALIAÇÃO DO PROJECTO............................................................................... 27<br />

6.1. Indicadores <strong>de</strong> sucesso........................................................................................... 27<br />

7. CONCLUSÃO ........................................................................................................... 28<br />

BIBLIOGRAFIA........................................................................................................... 30<br />

ANEXOS ........................................................................................................................ 32<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Qual rio ou riacho que, por bom caudal que tenha acabará por infiltrar-se,<br />

evaporar-se e morrer se não for sendo alimentado com outros pequenos riachos... ainda<br />

que finos fios <strong>de</strong> água: a língua miran<strong>de</strong>sa necessita igualmente <strong>de</strong> alimentos, fios ou<br />

riachos, ainda que pequenos quando não, morrerá certamente; tanto mais que acabou <strong>de</strong><br />

nascer há pouco (em termos <strong>de</strong> legalização ou reconhecimento, refira-se).<br />

Querendo ou po<strong>de</strong>ndo ser mais um dos fios <strong>de</strong> água que alimentam esse pequeno<br />

rio recém-nascido, pretendo assim, com este meu pequeno trabalho, continuar a<br />

alimentar e impedir uma morte ou evaporação menos precoce.<br />

Tal como muitos pequenos riachos acabam por fazer um gran<strong>de</strong> rio, muitas<br />

chamadas <strong>de</strong> atenção, ainda que pequenas, mo<strong>de</strong>stas e sinuosas, po<strong>de</strong>rão ajudar a<br />

engrossar esta língua que foi, é minha e po<strong>de</strong>rá ser <strong>de</strong> muitos outros e para a qual<br />

pretendo chamar à atenção.<br />

- Porque me magoa que ainda hoje se ouçam interlocutores <strong>de</strong> meios <strong>de</strong><br />

comunicação social a falar da língua miran<strong>de</strong>sa como que <strong>de</strong> um dialecto se trate.<br />

- Porque aproximadamente 90% dos Portugueses <strong>de</strong>sconhecem a existência <strong>de</strong>sta<br />

língua.<br />

- Porque até a nível <strong>de</strong> ensino <strong>superior</strong> foi enquadrada alternativa a língua<br />

estrangeira.<br />

- Mas, porque ainda assim, cada vez mais estou a ver juntarem-se outros pequenos<br />

riachos a este rio que está a engrossar, vou também eu <strong>de</strong>saguar nestas águas<br />

irrequietas, irrequietas e até um pouco turvas porque acabam <strong>de</strong> transbordar do lago<br />

on<strong>de</strong> durante séculos se mantiveram retidas, e prestes a evaporarem-se.<br />

Para concretizar o objectivo a que me proponho, vou levar a cabo um projecto<br />

Investigação/Acção.<br />

Nunca os falantes <strong>de</strong> qualquer língua foram <strong>de</strong>masiados, nunca seremos<br />

<strong>de</strong>masiados, mormente nós que somos tão poucos.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

2- ENQUADRAMENTO TEÓRICO<br />

2.1. Da cultura miran<strong>de</strong>sa em geral<br />

ao longo <strong>de</strong> uma vida<br />

Nunca os responsáveis pelos <strong>de</strong>stinos dos povos se empenharam tanto , como estão<br />

hoje a fazê-lo na recolha, preservação e divulgação da cultura material e espiritual vinda<br />

dos antepassados, uns talvez com o orgulho <strong>de</strong> possuírem elementos notáveis <strong>de</strong>ssas<br />

culturas, outros por terem receio <strong>de</strong> as per<strong>de</strong>rem por completo, <strong>de</strong>struídos ou<br />

<strong>de</strong>sprezados pelo agitar das novas expressões <strong>de</strong> vida.<br />

Falar <strong>de</strong> cultura é falar <strong>de</strong> toda a produção e criação da inteligência e da acção do<br />

homem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que começou a construir a história da humanida<strong>de</strong>. ( Mourinho, A.;1991;<br />

pág.1).<br />

Deve-se ao Dr. António Maria Mourinho uma boa parte das iniciativas que<br />

permitiram a sobrevivência e preservação da língua, da cultura e do património histórico<br />

das Terras <strong>de</strong> Miranda. De facto, ao longo <strong>de</strong> muitas décadas, lutou solitariamente contra<br />

o <strong>de</strong>sinteresse generalizado pela cultura popular miran<strong>de</strong>sa mas a perseverança com que<br />

o fez, <strong>de</strong>u frutos, bem espelhados na visibilida<strong>de</strong> nacional e internacional que conseguiu<br />

dar ao mirandês (língua) e às danças (cultura) dos Pauliteiros <strong>de</strong> Miranda.<br />

As iniciativas sobre a língua e a cultura miran<strong>de</strong>sa que hoje se multiplicam,<br />

prolongam um pouco mais a activida<strong>de</strong> seminal <strong>de</strong> António Maria Mourinho.<br />

Profundamente <strong>de</strong>dicado à causa da cultura miran<strong>de</strong>sa, que conhecia como<br />

ninguém, António Maria Mourinho teve o mérito <strong>de</strong> escrever continuamente sobre os<br />

seus achados, faceta que aliava à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dinamização cultural e <strong>de</strong> organizador<br />

<strong>de</strong> eventos e instituições. Para além <strong>de</strong> estudos eruditos ou <strong>de</strong> divulgação, publicou<br />

recolhas <strong>de</strong> narrativas orais em mirandês e os seus próprios textos literários e poéticos.<br />

A música, a dança e o teatro também mereceram a sua atenção, quer como<br />

estudioso, quer como organizador, quer como ensaiador/encenador.<br />

Para a sobrevivência da dança dos pauliteiros e da música da gaita <strong>de</strong> foles,<br />

contribuiu in<strong>de</strong>levelmente a sua iniciativa ao refundar em 1945 o Grupo <strong>de</strong> Pauliteiros<br />

<strong>de</strong> Miranda (Duas Igrejas - Cércio).<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

Após a <strong>de</strong>mocratização do país, o interesse dos miran<strong>de</strong>ses pela sua própria cultura<br />

cresceu e hoje não há praticamente freguesia nenhuma que não tenha fundado ou<br />

mantido o seu Grupo <strong>de</strong> Pauliteiros.<br />

A marca mais duradoura <strong>de</strong> António Maria Mourinho é talvez o Museu das Terras<br />

<strong>de</strong> Miranda fundado em 1982, por cuja criação lutou persistentemente e do qual viria a<br />

ser o primeiro director (até 1995).<br />

Neste Museu recolheram-se e continuam a recolher-se as tradições longínquas e a<br />

vida <strong>de</strong>sta região <strong>de</strong> Entre-Douro-e-Sabor.<br />

Entre as regiões do Norte <strong>de</strong> Portugal, a Terra <strong>de</strong> Miranda, (assim chamada<br />

documentalmente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados do séc. XII), tem-se <strong>de</strong>stacado como uma das zonas<br />

mais ricas <strong>de</strong> expressões culturais, na habitação, nos hábitos agro-pastoris, no traje<br />

antigo em que dominavam a lã e o linho, no calçado, nos instrumentos <strong>de</strong> trabalho, nos<br />

adornos pessoais, nas diferentes formas <strong>de</strong> artesanato (ferro, cestaria, linho e lã) e na<br />

fala, com dialecto próprio filho do latim e irmão do castelhano e do português, mas<br />

especificado com estrutura linguística própria (Mourinho, A.;1991; pág.10).<br />

Em tempos actuais a manutenção escrita e falada do mirandês, a recuperação da<br />

gaita <strong>de</strong> foles ou os trabalhos <strong>de</strong> recolha levados a cabo pela editora “Sons da Terra” são<br />

sinais <strong>de</strong> vitalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> amor por uma terra que tem lutado com todas as suas forças<br />

contra o monstro da normalização.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

2.2. Da língua ou fala miran<strong>de</strong>sa em particular<br />

Zonas <strong>de</strong> influência da fala miran<strong>de</strong>sa<br />

No extremo Nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Portugal, ao longo da fronteira Sul <strong>de</strong> Alcanices, entre a<br />

Ribeira <strong>de</strong> Angueira, a Nascente e a Poente o Rio Douro, existe um conjunto <strong>de</strong> al<strong>de</strong>ias<br />

on<strong>de</strong> as pessoas utilizam entre si duas línguas, o português e o mirandês.<br />

Os dois idiomas convivem actualmente numa situação <strong>de</strong> diglossia, isto é, <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilização. Sendo o primeiro utilizado em qualquer circunstância e o<br />

segundo com um uso mais restrito, geralmente confinado à família e às relações entre<br />

vizinhos e al<strong>de</strong>ias (Ferreira, M.;1999; pág.9).<br />

A Terra <strong>de</strong> Miranda fica situada num dos extremos <strong>de</strong> Portugal separada <strong>de</strong><br />

Espanha apenas pelo Rio Douro e do concelho <strong>de</strong> Vimioso pelo Rio Angueira. Sendo a<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Miranda a capital do território on<strong>de</strong> o mirandês tem o seu domínio, torna-se<br />

natural supor que também outrora se falou na cida<strong>de</strong> e que só com o andar do tempo<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> se falar.<br />

Aten<strong>de</strong>ndo a que Miranda só é cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados do século XVI e cida<strong>de</strong> pouco<br />

importante, teve princípios humil<strong>de</strong>s. “Era ela antes que o rei D. Dinis lhe pusesse os<br />

olhos, uma al<strong>de</strong>ia ignóbil” diz Jerónimo Cardoso no Agiologio Lusitano (citado por<br />

Vasconcelos, J.;1900; pág.105), on<strong>de</strong> o adjectivo ignóbil significa “ não nobre, pouco<br />

conhecida, obscura”. D. Dinis <strong>de</strong>u-lhe um certo impulso. Reformou o castelo e as<br />

muralhas em virtu<strong>de</strong> da sua posição estratégica sobre o Rio Douro. Passou-lhe carta <strong>de</strong><br />

Foro em 1286, na qual a chama <strong>de</strong> vila.<br />

No início do século XV D. João I conce<strong>de</strong>u-lhe algumas regalias, mas mesmo<br />

assim não eram suficientes que fizessem sofrer alterações no idioma, porque se tratava<br />

<strong>de</strong> população pouco culta, uma gran<strong>de</strong> parte formada por pessoas analfabetas.<br />

A própria vida dos habitantes <strong>de</strong> Miranda não era muito diferente da das<br />

povoações vizinhas, pois apresentava um aspecto rústico quer no arranjo do seu interior<br />

quer no viver das próprias pessoas, por tal não se justificaria uma fala diferente.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

Falam hoje em dia o mirandês cerca <strong>de</strong> 15000 pessoas, em todas as al<strong>de</strong>ias do<br />

concelho <strong>de</strong> Miranda do Douro excepto na freguesia <strong>de</strong> Atenor e na cida<strong>de</strong> (se<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

concelho) propriamente dita. Fala-se ainda nas povoações <strong>de</strong> Vilar Seco e <strong>de</strong> Angueira,<br />

pertencentes ao concelho <strong>de</strong> Vimioso e falou-se também na <strong>de</strong> Caçarelhos e<br />

anteriormente (há muito mais tempo) em Avelanoso, ambas pertencentes também ao<br />

concelho <strong>de</strong> Vimioso mas que se presume terem elas pertencido à Terra <strong>de</strong> Miranda.<br />

Embora sendo uma pequena área geográfica possui uma gran<strong>de</strong> riqueza linguística.<br />

(anexo I).<br />

O mirandês não é um falar completamente homogéneo. Nele po<strong>de</strong>mos encontrar três<br />

grupos étnicos, que não sendo muito diferentes possuem algumas diferenças quer<br />

fonéticas, quer vocabulares <strong>de</strong> terra para terra. O mirandês do norte ou raiano que tendo<br />

convivência com os espanhóis se notam certas formas particulares e sinais fonéticos do<br />

espanhol; o do centro, nitidamente mirandês e o do sul ou sendinês que compreen<strong>de</strong><br />

apenas as gentes <strong>de</strong> Sendim, que, falando um mirandês <strong>de</strong> características vocálicas<br />

bastante irregulares se vai <strong>de</strong>sfazendo <strong>de</strong>le para introduzir o português (Mourinho,<br />

A.;1961; pág.10).<br />

Po<strong>de</strong>remos dizer que as pessoas são bilingues ou trilingues, pois falam o<br />

português, o mirandês e o castelhano.<br />

O meio em que esta linguagem nasceu e se <strong>de</strong>senvolveu foi sempre <strong>de</strong> plena<br />

rusticida<strong>de</strong> ou vida agro-pecuária dos seus habitantes, lavradores, boieiros e pastores e<br />

foi sempre e apenas uma língua falada e não escrita, que José Leite da Vasconcelos<br />

classifica <strong>de</strong> puramente “doméstica, língua do lar, do campo e do amor” (Vasconcelos,<br />

J.; 1990; pág.12).<br />

O mirandês é, como todas as línguas naturais, um legado cultural <strong>de</strong> um valor<br />

ilimitado. Esta língua materna integra a cultura <strong>de</strong> um povo, não só por ser um dos<br />

modos como a cultura se exprime, mas principalmente porque constitui um instrumento<br />

<strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação e <strong>de</strong> memória colectivas.<br />

A <strong>de</strong>fesa do mirandês <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> essencialmente da <strong>de</strong>dicação e do uso por parte dos<br />

seus falantes.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

Sendo a língua o principal meio <strong>de</strong> comunicação entre os seres humanos, nesta<br />

terra <strong>de</strong> ricas tradições do Extremo Nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Portugal, o mirandês, língua<br />

individualizada que, teve a sua origem no latim como veremos, é o principal meio <strong>de</strong><br />

comunicação entre os miran<strong>de</strong>ses.<br />

Confinada entre o português e o espanhol, não se <strong>de</strong>ixou influenciar<br />

profundamente por estas embora tenha recebido <strong>de</strong> ambas elementos lexicais, mas em<br />

especial do Português.<br />

A influência do português é mais forte que a do espanhol pelo facto <strong>de</strong> o mirandês<br />

se falar em território português.<br />

Por ser uma língua mais oral que escrita, apresenta uma literatura escassa:<br />

romances <strong>de</strong> tradição oral, representações teatrais, contos, fábulas, quadras, provérbios e<br />

canções tradicionais. Falta-lhe literatura abundante, mo<strong>de</strong>rna e individual que é<br />

necessário produzir e publicar.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

2.3. Porque <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> se falar mirandês em Miranda<br />

Como atrás referi também se falou mirandês na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Miranda e <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> se<br />

falar e irei explicar porquê.<br />

Como até o século XIII Miranda era uma al<strong>de</strong>ia insignificante só a partir <strong>de</strong>ssa<br />

altura começou a ter alguma importância aquando da sua passagem a vila por carta <strong>de</strong><br />

foro <strong>de</strong> D. Dinis.<br />

Essa importância fez com que D. João III pedisse ao Papa para a separar do<br />

Arcebispado <strong>de</strong> Braga ao qual pertenceu até o século XVI e que constituísse um novo<br />

bispado do qual Miranda seria a sua se<strong>de</strong>.<br />

Aconteceu a criação do bispado em 22 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1545 e imediatamente<br />

D. João III por carta <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> Julho do mesmo ano conce<strong>de</strong> a Miranda novos títulos <strong>de</strong><br />

nobreza tornando-a cida<strong>de</strong>.<br />

Como consequência dos títulos <strong>de</strong> se<strong>de</strong> do bispado e <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> verificaram-se<br />

gran<strong>de</strong>s alterações na vida dos miran<strong>de</strong>ses. Vem para Miranda o bispo D. Toríbio Lopez,<br />

primeiro bispo da Diocese <strong>de</strong> Miranda, que pediu ao rei D. João III vários auxiliares,<br />

como: cónegos, capelães, bacharéis, professores e outros, tendo-lhe sido satisfeito o<br />

pedido.<br />

Entretanto chegaram também a Miranda e com uma certa instrução empregados <strong>de</strong><br />

diversas categorias e criaram-se instituições que dantes não existiam.<br />

Como os empregados que vinham não sabiam falar mirandês e como se<br />

compreen<strong>de</strong> que em relações e tratos sociais tão variadas, a língua portuguesa era a<br />

oficial e obrigatória, a fala miran<strong>de</strong>sa foi posta <strong>de</strong> parte a pouco e pouco, até que<br />

acabou por não resistir.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

2.4. Origens da língua miran<strong>de</strong>sa<br />

Os primeiros investigadores que apuraram que esta linguagem não era nem<br />

portuguesa nem castelhana, mas intermédia das duas com flexão própria e<br />

individualizada foram os sábios Dr. José Leite <strong>de</strong> Vasconcelos, D. Ramon Menen<strong>de</strong>z<br />

Pidal, o filólogo A. R. Gonçalves Viana e o sueco professor Erik Staaf.<br />

O primeiro estudioso a interessar-se seriamente pelo idioma mirandês ao nível da<br />

escrita foi o Dr. José Leite <strong>de</strong> Vasconcelos que, não sendo ele mirandês e não<br />

dominando por isso a língua uma vez que apenas a conhecia por aprendizagem e<br />

enquanto estudante do curso <strong>de</strong> medicina aproveitava as horas vagas para visitar um<br />

homem do concelho <strong>de</strong> Miranda que estava doente no Hospital da Misericórdia do Porto<br />

para que o ajudasse nas suas traduções e então traduziu o episódio <strong>de</strong> D.ª Inês <strong>de</strong> Castro<br />

e outras poesias.<br />

Houve concerteza outros miran<strong>de</strong>ses que o ajudaram. O primeiro texto que<br />

publicou em mirandês foi um conto popular com o título “Cristo e São Pedro” em Junho<br />

<strong>de</strong> 1882 num jornal sevilhano. A seguir publica uma série <strong>de</strong> pequenos artigos no jornal<br />

“O Penafi<strong>de</strong>lense” intitulados “O dialecto Mirandês” que mais tar<strong>de</strong> são compilados no<br />

opúsculo “O Dialecto Mirandês” editado no Porto. É nessa altura que se ouve dizer que<br />

existe um idioma que nem é Português nem Galego. O gran<strong>de</strong> trabalho sobre o<br />

mirandês, o gran<strong>de</strong> monumento sobre a língua miran<strong>de</strong>sa surge com a obra, em dois<br />

volumes, intitulada “Estudos <strong>de</strong> Filologia Miran<strong>de</strong>sa” escrita por José Leite <strong>de</strong><br />

Vasconcelos.<br />

O primeiro volume editado em 1900 sobre a Língua estruturalmente dita, e o<br />

segundo editado em 1901 com documentação e textos miran<strong>de</strong>ses que a Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Geografia <strong>de</strong> Lisboa publicou na Imprensa Nacional no Centenário do Descobrimento da<br />

Índia.<br />

Começou na última década do século XIX a ser cultivada por alguns miran<strong>de</strong>ses<br />

mais ou menos letrados, entre eles o Aba<strong>de</strong> Manuel Sardinha e o P.e Francisco<br />

Meirinhos, ambos naturais <strong>de</strong> São Martinho <strong>de</strong> Angueira.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

O Aba<strong>de</strong> Sardinha traduziu para mirandês duas quadras <strong>de</strong> Antero <strong>de</strong> Quental.<br />

Bernardo Fernan<strong>de</strong>s Monteiro, natural da Póvoa, traduziu para mirandês a “Epístola <strong>de</strong><br />

S. Paulo aos Coríntios” e os quatro evangelhos que constituem o novo testamento<br />

(S. Mateus, S. Lucas, S. Marcos e S. João).<br />

Outro gran<strong>de</strong> divulgador do mirandês foi o Mogadourense escritor e jornalista<br />

Dr. Trinda<strong>de</strong> Coelho que publicou excertos no jornal “O Repórter”em 1896.<br />

Em 1961 António Maria Mourinho publica um livro <strong>de</strong> poesias da sua autoria<br />

“Nôssa Alma i Nôssa Tiêrra,” tendo seguidamente publicado outros, e a ele outros se<br />

seguiram.<br />

A respeito da origem latina do mirandês surgem dois problemas que convém<br />

elucidar:<br />

- Provém o mirandês directamente do latim vulgar trazido na época romana<br />

para a Terra <strong>de</strong> Miranda, e é por isso autóctone? ou<br />

- provém <strong>de</strong> um idioma vizinho, importado, já <strong>de</strong>pois da época romana para<br />

esta região?<br />

Vou começar pelo segundo problema. Po<strong>de</strong> afigurar-se como plausível que o<br />

território mirandês fosse pouco a pouco colonizado na Ida<strong>de</strong> Média por gentes vindas <strong>de</strong><br />

Espanha que tenham trazido consigo a sua língua e que <strong>de</strong>pois evoluiria.<br />

Resta-nos o primeiro problema, cuja solução só po<strong>de</strong> ser afirmativa. O mirandês<br />

po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se não só como continuação do Latim vulgar que se falou na época<br />

romana no território correspon<strong>de</strong>nte à Terra <strong>de</strong> Miranda mas como um dos idiomas do<br />

sistema linguístico do Nor<strong>de</strong>ste da Ibéria.<br />

Que razões terá havido para que se formasse um idioma especial na Terra <strong>de</strong><br />

Miranda e a tão pouca distância <strong>de</strong>la no concelho <strong>de</strong> Mogadouro e em quase todas as<br />

al<strong>de</strong>ias do concelho <strong>de</strong> Vimioso se fala Português? As razões da formação do mirandês e<br />

<strong>de</strong> outros idiomas vizinhos “riodonorês” e “guadramilês”, tanto em Portugal como na<br />

Espanha são múltiplas e não diferem das que concorreram para a constituição <strong>de</strong> todos<br />

os idiomas particulares em que um principal se <strong>de</strong>staca.<br />

A origem do mirandês é o Latim. Isso ficou <strong>de</strong>monstrado na Gramática (<strong>de</strong> José<br />

Leite <strong>de</strong> Vasconcelos) on<strong>de</strong> se estabelece a correspondência existente entre os<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

fenómenos miran<strong>de</strong>ses e os latinos. Aí ele mostra que os fenómenos mais essenciais do<br />

mirandês acham a sua razão <strong>de</strong> ser no latim. Que os processos <strong>de</strong> formação do plural e<br />

do feminino dos nomes, que os pronomes, os numerais, os verbos, as preposições, as<br />

conjunções e os advérbios são <strong>de</strong> origem latina.<br />

O que faz a personalida<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira da língua miran<strong>de</strong>sa é a sua flexão<br />

gramatical, isto é, a sua perfeita e completa estrutura linguística saída directamente do<br />

latim popular.<br />

O mirandês é pois uma das evoluções do Latim.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

2.5. A língua miran<strong>de</strong>sa hoje<br />

Apesar da evolução progressiva registada, sobretudo ao nível <strong>de</strong> vida das<br />

populações miran<strong>de</strong>sas, a aculturação, a <strong>escola</strong>rida<strong>de</strong> obrigatória, a difusão dos massmédia<br />

terem contribuído involuntariamente para uma certa <strong>de</strong>cadência da língua<br />

miran<strong>de</strong>sa, hoje verifica-se com satisfação que alguns <strong>de</strong>sses factores estão a contribuir<br />

<strong>de</strong> uma forma directa e voluntária para a <strong>de</strong>fesa e implemento da mesma tomando<br />

medidas <strong>de</strong> preservação e incentivo a nível local e central como foi a homologação <strong>de</strong><br />

uma Disciplina <strong>de</strong> Opção nas Escolas Preparatórias do concelho.<br />

Fruto <strong>de</strong> factores atrás <strong>de</strong>scritos, algumas pessoas, sobretudo jovens, <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong><br />

falar a língua <strong>de</strong> seus pais e avós embora utilizem o sotaque e alguns vocábulos<br />

miran<strong>de</strong>ses. No entanto, a maioria dos miran<strong>de</strong>ses falam-na e usam-na entre si<br />

diariamente, mas à frente <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>sconhecidas evitam falá-la, porque dizem eles<br />

“quem fala mirandês fala mal, quem fala português fala grabe ou fidalgo”. No entanto,<br />

com a sensibilização que tem vindo a ser feita nos últimos tempos, a população tem<br />

vindo a aceitá-la melhor e está a <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rá-la como a língua do<br />

sub<strong>de</strong>senvolvimento e passa a consi<strong>de</strong>rá-la como um valor linguístico - cultural.<br />

O Mirandês, é pois uma língua viva, com muito valor. Além <strong>de</strong> ser uma língua<br />

perfeita com todos os elementos que uma língua po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ter quanto à fonética, à<br />

morfologia e à sintaxe, como diz António Maria Mourinho “é um legado riquíssimo dos<br />

nossos ascen<strong>de</strong>ntes, com oito séculos <strong>de</strong> existência”(citado por Raposo, D.;1987;<br />

pág.56).<br />

Para não <strong>de</strong>ixar per<strong>de</strong>r tão valioso tesouro, forma-se um grupo <strong>de</strong> entendidos<br />

linguistas e falantes da língua que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m estabelecer regras claras para escrever, ler e<br />

ensinar mirandês e fixar uma escrita o mais unitária possível e inicia-se então a<br />

elaboração <strong>de</strong> uma “Proposta <strong>de</strong> Convenção Ortográfica Miran<strong>de</strong>sa”, isto em finais <strong>de</strong><br />

1994.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

Embora haja quem diga que o mirandês po<strong>de</strong> prejudicar as crianças na<br />

aprendizagem da Língua Portuguesa, isso não é verda<strong>de</strong>, antes pelo contrário, po<strong>de</strong><br />

ajudá-las.<br />

Por exemplo: se a uma criança <strong>de</strong> uma outra região do país on<strong>de</strong> na pronúncia não<br />

se distingue o som s do z (entre vogais) lhe dissermos que a palavra gozo se escreve com<br />

a letra z e não com a letra s, ela no momento fixará a regra mas não a compreen<strong>de</strong> e<br />

então, sob a influência <strong>de</strong> outras palavras semelhantes ela po<strong>de</strong>rá escrever erradamente<br />

goso em vez <strong>de</strong> gozo. No entanto, se se tratar <strong>de</strong> uma criança miran<strong>de</strong>sa e sabendo ela<br />

que em mirandês se diz gozo (com z e não com s intervocálico), esta, nunca se enganará<br />

na escrita. Como este há muitos outros exemplos <strong>de</strong> como o conhecimento do mirandês<br />

po<strong>de</strong> trazer vantagens para o uso do português.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

2.6. Criação da Disciplina <strong>de</strong> Opção da<br />

Língua Miran<strong>de</strong>sa na Escola Preparatória <strong>de</strong> Miranda do Douro<br />

Em 9 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1985 é emanado do Ministério da Educação e Ciência –<br />

Direcção Geral do Ensino Básico para a Escola Preparatória <strong>de</strong> Miranda do Douro um<br />

ofício que comunica que é autorizada a título experimental a inclusão a título facultativo,<br />

no 5º ano <strong>de</strong> <strong>escola</strong>rida<strong>de</strong> (1985/86) da disciplina <strong>de</strong> Língua Miran<strong>de</strong>sa (ofício nº 32675anexo<br />

II).<br />

Em 20/7/99 por Despacho Normativo 35/99 – D.R. I Série- B Nº167- (anexo III), é<br />

<strong>de</strong>terminada a aprendizagem oficial do mirandês.<br />

A partir daqui nasceu nos mais novos uma consciência <strong>de</strong> valorização e<br />

revitalização do mirandês, até aqui consi<strong>de</strong>rada como língua <strong>de</strong>sprestigiada, <strong>de</strong><br />

sub<strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong>senvolveu-se o orgulho e a auto-estima, fez-se uma maior<br />

utilização, divulgação e dignificação.<br />

A avaliação <strong>de</strong>sta disciplina é consi<strong>de</strong>rada em pé <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> com o das outras<br />

disciplinas, mas não tem peso em caso <strong>de</strong> retenção. (Projecto <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> da<br />

aprendizagem da Língua Miran<strong>de</strong>sa na Escola EB2 <strong>de</strong> Miranda do Douro – anexo IV).<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

2.7. À <strong>de</strong>scoberta do mirandês<br />

Como já referi, o mirandês que foi durante séculos uma língua <strong>de</strong> transmissão oral,<br />

que foi escrita e estudada pela primeira vez por José Leite <strong>de</strong> Vasconcelos em finais do<br />

século XIX; que ao longo do século XX, embora alguns outros sábios a tenham<br />

abordado nas suas origens e <strong>de</strong>scrito os aspectos do seu funcionamento. Como por<br />

exemplo, José Herculano <strong>de</strong> Carvalho e António Maria Mourinho, o que graças ao<br />

interesse <strong>de</strong>stes estudiosos, o mirandês ressurgiu <strong>de</strong> uma forma extraordinária em finais<br />

do século XX, sobretudo após o reconhecimento do mirandês como uma outra língua<br />

oficial <strong>de</strong> Portugal. É uma realida<strong>de</strong> que o número <strong>de</strong> falantes e a área <strong>de</strong> utilização do<br />

mirandês têm vindo a <strong>de</strong>crescer, para tal tornou-se urgente tomar alguns cuidados<br />

especiais.<br />

Então a <strong>de</strong>scoberta do mirandês continua, não se tratando <strong>de</strong> uma questão que<br />

interesse apenas a estudiosos, mas também aos falantes da língua, que os envolve.<br />

Os esforços conjugados <strong>de</strong> investigadores dos Centros <strong>de</strong> Linguística da<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa e <strong>de</strong> Coimbra, <strong>de</strong> responsáveis pelo estudo e difusão do<br />

mirandês, <strong>de</strong> Domingos Raposo, professor da Disciplina <strong>de</strong> Mirandês e da autarquia <strong>de</strong><br />

Miranda do Douro, permitiu a elaboração em 1995, 1996 e 1997 da “Convenção<br />

Ortográfica da Língua Miran<strong>de</strong>sa” (anexo V).<br />

Estabelece uma norma ortográfica o mais unitária possível com critérios claros e<br />

simples e através da qual todos os miran<strong>de</strong>ses po<strong>de</strong>m expressar qualquer i<strong>de</strong>ia, po<strong>de</strong>m<br />

ler e escrever já com alguma regra específica à partida, e não apenas falar <strong>de</strong> coisas do<br />

campo.<br />

É aprovada em 1997 e publicada em 1999 e aqui se dá início ao processo <strong>de</strong><br />

normalização da língua.<br />

Ainda em 1995, foi elaborado um pequeno dicionário <strong>de</strong> mirandês-português com<br />

cerca <strong>de</strong> 14000 palavras, assim como uma nova gramática <strong>de</strong> mirandês, da autoria <strong>de</strong><br />

Moisés Pires.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

O mirandês passou assim a ser legalmente uma das formas <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> cultura,<br />

instrumento <strong>de</strong> comunicação, i<strong>de</strong>ntificação e memória colectiva da comunida<strong>de</strong><br />

miran<strong>de</strong>sa. É importante possibilitar-lhe vida e expansão. Exemplo e testemunho <strong>de</strong>sses<br />

propósitos, é o <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> um mirandês <strong>de</strong> Cicouro, simples homem do campo:<br />

“Miran<strong>de</strong>ses! Não vos envergonheis <strong>de</strong> falar a vossa língua, a qual apren<strong>de</strong>stes no<br />

berço, assim como os vossos ascen<strong>de</strong>ntes, bem como outros, talvez mais cultos do que<br />

vós e que através dos séculos chegou até nós. Nada vos prejudica o saber duas línguas,<br />

pois muitas nações falam diferentes línguas e a vizinha Espanha tem várias”. (citado<br />

por Mourinho, A.;1993).<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

2.8. Legitimação do mirandês<br />

Em reunião plenária <strong>de</strong> 17/9/98 (da nossa Assembleia da República) é discutido o<br />

projecto <strong>de</strong> Lei (n.º 534/VII), sobre o reconhecimento oficial <strong>de</strong> direitos linguísticos da<br />

comunida<strong>de</strong> miran<strong>de</strong>sa, que acaba por ser aprovado na generalida<strong>de</strong> com baixa à 6.ª<br />

Comissão (Diário da Assembleia da República N.º 2 - I Série, <strong>de</strong> 18/09/98 - sexta-feira<br />

relativo à VII legislatura – 4.ª Sessão Legislativa – anexo VI).<br />

As gentes <strong>de</strong> Miranda reconhecerão certamente por todo o sempre, na pessoa do<br />

proponente Dr. Júlio Meirinhos, mirandês <strong>de</strong> gema ao tempo <strong>de</strong>putado nacional, o<br />

benefício que tal proposta trouxe à língua miran<strong>de</strong>sa.<br />

Apenas em 19/11/98 é votada na Assembleia da República a legislação que, <strong>de</strong><br />

uma vez por todas, confere legitimida<strong>de</strong> ao mirandês.<br />

Agora com essa lei, a que veio caber o N.º 7/99, promulgada, referendada e<br />

publicada em 15, 19, e 29 <strong>de</strong> Janeiro daquele ano respectivamente.<br />

O mirandês afirma-se, tem direito à promoção, à aprendizagem, e ao apoio<br />

científico, e educativo e, enquanto património cultural é reconhecido a todo o mirandês e<br />

não só, direito a cultivar tal língua (DR N.º 24 – I Série – A <strong>de</strong> 29/1/99 - anexo VII ).<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

2.9. Uso do mirandês falado e escrito<br />

pelas instituições do concelho<br />

O uso do mirandês nas várias instituições do concelho <strong>de</strong> Miranda do Douro data<br />

dos anos 80 do século XX.<br />

Era com um certo ar <strong>de</strong> graça, em festas e quando havia a visita <strong>de</strong> um ministro ou<br />

qualquer outro visitante.<br />

Só a partir <strong>de</strong> 1999 a língua miran<strong>de</strong>sa passou a ser usada por alguns (não muitos)<br />

<strong>de</strong>putados à Assembleia Municipal <strong>de</strong> Miranda do Douro, em intervenções feitas nesse<br />

órgão autárquico.<br />

Passou também a ser usada noutras intervenções públicas, como na apresentação<br />

<strong>de</strong> festas, <strong>de</strong>bates levados a efeito por associações culturais, conferências, etc.<br />

Para além das várias obras que têm sido publicadas em língua miran<strong>de</strong>sa,<br />

aparecem também convites e cartazes da autarquia, <strong>de</strong> comissões <strong>de</strong> festas e <strong>de</strong><br />

associações; há um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> al<strong>de</strong>ias cujo nome das ruas é bilingue; os jornais<br />

trimestrais das Escolas EB2 e Secundária <strong>de</strong> Miranda e da EB2,3 <strong>de</strong> Sendim trazem<br />

páginas escritas em mirandês e há também alguns jornais públicos que trazem notícias e<br />

crónicas escritas nessa língua.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

2.10. O uso do mirandês no dia a dia<br />

Os dados mais recentes que existem sobre o uso do mirandês são os <strong>de</strong> um<br />

inquérito feito por uma professora da Escola Secundária <strong>de</strong> Miranda do Douro. 1<br />

Os inquéritos abrangem 2 % da população que resi<strong>de</strong> nas se<strong>de</strong>s <strong>de</strong> freguesia do<br />

concelho, estando também incluídas a se<strong>de</strong> do concelho e a freguesia <strong>de</strong> Atenor, on<strong>de</strong><br />

não se fala mirandês (como já referi anteriormente).<br />

Eis algumas conclusões <strong>de</strong>sse inquérito:<br />

87,6 % dos inquiridos diz compreen<strong>de</strong>r a língua miran<strong>de</strong>sa , mas essa<br />

percentagem atinge os 100 % na maioria das freguesias rurais;<br />

64,6 %dos inquiridos respon<strong>de</strong>m que sabem falar mirandês, sendo essa<br />

percentagem mais elevada nas al<strong>de</strong>ias;<br />

os inquiridos que falam mirandês fazem-no no dia a dia ou quando lhes é<br />

solicitado;<br />

a maioria dos inquiridos referiu que apren<strong>de</strong>u a língua com os pais ou avós<br />

(53,9 %);<br />

a maioria dos inquiridos fala mirandês com os filhos, e é nas freguesias do<br />

norte do concelho que os pais mais falam mirandês com os filhos; (as ida<strong>de</strong>s<br />

compreendidas entre os 45-64 anos);<br />

76,3 % acham importante que as crianças aprendam mirandês.<br />

1 http://miran<strong>de</strong>s.no.sapo.pt/LMRuso.html<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

3. OBJECTIVO GERAL DO ESTUDO<br />

Divulgar a cultura miran<strong>de</strong>sa nomeadamente a “língua miran<strong>de</strong>sa,”<br />

sensibilizando os professores das <strong>escola</strong>s pertencentes ao Agrupamento <strong>de</strong> Escolas <strong>de</strong><br />

Miranda do Douro para a importância <strong>de</strong> tão preciosa e primeira língua falada pelas<br />

gentes das Terras <strong>de</strong> Miranda.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

4.1. Investigação-Acção<br />

4. METODOLOGIA<br />

O que é investigação - acção?<br />

Como o próprio nome indica é uma metodologia que tem o duplo objectivo <strong>de</strong><br />

investigação e acção, no sentido <strong>de</strong> obter resultados em ambas as vertentes.<br />

Investigação - no sentido <strong>de</strong> aumentar a compreensão por parte do investigador, do<br />

cliente e da comunida<strong>de</strong>.<br />

Acção - para obter mudança numa comunida<strong>de</strong>, ou organização, ou programa.<br />

A metodologia <strong>de</strong> investigação-acção quando aplicada a projectos <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong><br />

informação será um precioso auxiliar na concepção, análise, <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

implementação da vertente sócio-organizacional <strong>de</strong>sses projectos.<br />

Por outro lado o seu <strong>de</strong>senvolvimento contempla especialmente a aprendizagem<br />

obtida em cada uma das fases, pelo grupo <strong>de</strong> projecto, incluindo os investigadores<br />

envolvidos e por todos aqueles que participam no processo <strong>de</strong> investigação-acção. 2<br />

É bom vermos numa sala <strong>de</strong> aula na qual se pratique a avaliação formativa, existe<br />

uma verda<strong>de</strong>ira investigação-acção.<br />

Existe um “investigador colectivo”, formado pelo professor e pelos alunos<br />

envolvidos na melhoria do processo, que actuam no campo educativo, e em conjunto<br />

produzem conhecimento e formação.<br />

A investigação-acção aplicada por um investigador colectivo em que os principais<br />

elementos são a intervenção, a investigação e a formação, parece ser um bom tipo <strong>de</strong><br />

investigação-acção. Da mesma forma a avaliação com carácter formativo <strong>de</strong> um projecto<br />

educativo po<strong>de</strong> assemelhar-se a uma situação <strong>de</strong> investigação-acção.<br />

A investigação-acção po<strong>de</strong> ser apresentada resumidamente sob duas noções: a<br />

primeira sob a forma metodológica propriamente dita e a segunda relativa à crítica da<br />

metodologia positivista.<br />

2 http://qofisb.<strong>de</strong>i.uc.pt/<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

Entre ambas as metodologias po<strong>de</strong> estabelecer-se alguma equivalência e po<strong>de</strong> até<br />

haver uma interligação entre elas.<br />

As dificulda<strong>de</strong>s em ultrapassar as posições do positivismo e empirismo constituem<br />

trabalhos para os quais é necessário recorrer à metodologia <strong>de</strong> investigação-acção e ao<br />

processo que leva à sua sistematização.<br />

Estas razões pelas quais a investigação-acção como metodologia mais não é que<br />

um prolongamento da crítica racionalista do positivismo. O eixo sobre o qual giram a<br />

maioria das críticas antipositivistas num triângulo <strong>de</strong> observação/teoria/política é o da<br />

observação/teoria. Esta era a teoria <strong>de</strong> G.Bachelard (Esteves, A.; 1986; pág. 252).<br />

Sob o ponto <strong>de</strong> vista da investigação científica o objectivo ten<strong>de</strong> à <strong>de</strong>scoberta das<br />

leis ou à invenção <strong>de</strong> mecanismos e formulações sob a forma <strong>de</strong> lei.<br />

Temos assim duas gran<strong>de</strong>s correntes que atravessam a filosofia da ciência: uma<br />

que tenta “salvar os fenómenos” e outra que se esforça por <strong>de</strong>scobrir a essência das<br />

coisas; uma revestida <strong>de</strong> negativismo e outra que reformula a própria ontologia no<br />

universo da Ciência.<br />

Com vista à fundamentação da investigação-acção teremos que fazer uso <strong>de</strong><br />

contributos epistemológicos e com diversas tentativas <strong>de</strong> sociologia crítica sob pena <strong>de</strong><br />

não elaborarmos uma a<strong>de</strong>quada componente metodológica.<br />

Dentro <strong>de</strong>stes contributos epistemológicos e por revestirem contextos culturais<br />

totalmente diferentes até porque os momentos históricos também são diferentes<br />

po<strong>de</strong>remos referir dois contextos: o americano e o <strong>de</strong> Nietzshe.<br />

“Avaliar um projecto <strong>de</strong> trabalho que se <strong>de</strong>senvolve <strong>de</strong> acordo com uma<br />

metodologia <strong>de</strong> investigação correspon<strong>de</strong> a implementar uma activida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

investigação-acção no interior <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong>senvolvido segundo esta mesma<br />

metodologia” (Cortesão, L.; 1995; pág. 577).<br />

A investigação-acção é uma forma <strong>de</strong> trabalho que se afasta das orientações<br />

rigorosas da filosofia positivista que pugna pela compreensão dos conhecimentos e não<br />

pelas dificulda<strong>de</strong>s sócio-económicas.<br />

23


Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

Opta portanto pela teoria <strong>de</strong> procurar articular dialecticamente a consciência da<br />

força dos <strong>de</strong>terminantes macro-estruturais ao mesmo tempo que procura ler os seus<br />

fenómenos no contexto social e histórico.<br />

Quando se reflecte acerca <strong>de</strong> um projecto <strong>de</strong> investigação-acção com a intenção <strong>de</strong> o<br />

avaliar, o objectivo principal não será apenas verificar se as finalida<strong>de</strong>s enumeradas no<br />

início dos trabalhos foram ou não atingidas, recorrendo a metodologias quantitativas, se<br />

os efeitos obtidos justificam os investimentos que se fizeram, se ocorrem <strong>de</strong>svios em<br />

relação aos resultados <strong>de</strong>sejados como se verificaria se fosse trabalhado num quadro<br />

clássico <strong>de</strong> avaliação.<br />

Não nos po<strong>de</strong>mos esquecer que a investigação surgiu da consciencialização da<br />

existência <strong>de</strong> um problema real e da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar o mesmo e <strong>de</strong>scobrir se<br />

estão a ser encontradas algumas causas que tenham dado origem a esse problema. Ainda<br />

mais importante que a própria investigação-acção é a avaliação o que consiste num<br />

trabalho a quem não foi previamente indicado um plano <strong>de</strong> acção nem a forma <strong>de</strong><br />

realizar esse plano.<br />

Em vez <strong>de</strong> cumprir um caminho previamente estabelecido, a avaliação vai-o<br />

construindo conforme o vai realizando através <strong>de</strong> dúvidas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas, <strong>de</strong> tentativas e<br />

<strong>de</strong> avanços e recuos. É importante que ao longo <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> investigação-acção<br />

haja vigilância dos processos utilizados acerca dos instrumentos a que se recorre e<br />

acerca das atitu<strong>de</strong>s que se tomam. A investigação-acção toda ela gira à volta <strong>de</strong> uma<br />

acentuada in<strong>de</strong>pendência entre uma e outra.<br />

A investigação-acção conduz a uma comunicação simétrica dos seus protagonistas,<br />

comunicação pela qual eles repartem os seus saberes e <strong>de</strong>sta forma acabam com a<br />

relação sujeito-objecto, o que geralmente anima a relação do investigador com os seus<br />

parceiros ( Bataille citado por Leite, C., Rocha ,C. e Pacheco, N.; 1995; pág. 584 ).<br />

Nos projectos <strong>de</strong> investigação-acção a figura do investigador colectivo é<br />

provavelmente a mais usada como sejam: professores dos três ciclos do Ensino Básico e<br />

os seus alunos, professores universitários nas Ciências da Educação e os respectivos<br />

finalistas <strong>de</strong>ssa licenciatura; populações <strong>de</strong> origem africana ou cigana que coabitem o<br />

mesmo meio e a restante população nacional. Para que a figura do investigador colectivo<br />

24


Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

funcione aparecem obstáculos que não <strong>de</strong>vem ser menosprezados ainda que não sejam<br />

palpáveis .<br />

Po<strong>de</strong>m esses obstáculos ser <strong>de</strong> natureza i<strong>de</strong>ológica, institucional, afectiva e mau<br />

relacionamento com o po<strong>de</strong>r.<br />

No nosso estudo pareceu-me ser esta a metodologia mais apropriada uma vez que<br />

temos um duplo objectivo que é aumentar o nosso conhecimento científico sobre o tema<br />

e resolver uma situação que consi<strong>de</strong>ramos problemática que é a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reavivar<br />

a “Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa”.<br />

4.2. População Alvo<br />

Este projecto <strong>de</strong>stina-se a ser levado a cabo pelos professores das <strong>escola</strong>s do 1º<br />

Ciclo do Ensino Básico que constituem o Agrupamento <strong>de</strong> Escolas <strong>de</strong> Miranda do<br />

Douro, estando nove situadas em ambientes rurais (em que já poucas crianças falam<br />

mirandês) e uma na se<strong>de</strong> do concelho (on<strong>de</strong> não se fala mirandês).<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

5. PROJECTO:<br />

“Lhéngua Miran<strong>de</strong>sa”<br />

5.1. Activida<strong>de</strong>s levadas a cabo<br />

para atingir o (s) objectivo (s) proposto (s)<br />

Escrever pequenos textos em mirandês;<br />

Escrever em mirandês os convites a enviar aos colegas para o seu aniversário;<br />

Escrever em mirandês os postais <strong>de</strong> Natal para os alunos levarem às famílias;<br />

Elaborar cartazes para as diferentes ocasiões;<br />

Fazer visitas a <strong>escola</strong>s <strong>de</strong> outros concelhos ensinando aos alunos cantigas,<br />

histórias, adivinhas e outros passatempos em mirandês;<br />

Trabalhar a Expressão Dramática e Musical em mirandês;<br />

Organizar um encontro <strong>de</strong> professores sobre a Língua Miran<strong>de</strong>sa;<br />

Organizar um manual <strong>escola</strong>r em mirandês;<br />

Organizar cursos <strong>de</strong> Verão sobre o mirandês.<br />

5.2. Calendarização das activida<strong>de</strong>s<br />

Estas activida<strong>de</strong>s realizar-se-ão durante um ano lectivo.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

6. AVALIAÇÃO DO PROJECTO<br />

O projecto vai ser avaliado ao longo do ano lectivo, se necessário po<strong>de</strong>rá ser<br />

reformulado.<br />

6.1. Indicadores <strong>de</strong> sucesso<br />

Comparar o número <strong>de</strong> inscrições na Disciplina <strong>de</strong> Língua Miran<strong>de</strong>sa na<br />

Escola EB2 <strong>de</strong> Miranda do Douro, do próximo ano com as <strong>de</strong>ste ano. Esperamos<br />

e <strong>de</strong>sejamos que haja aumento.<br />

Avaliar a participação e satisfação dos professores com o encontro organizado<br />

no programa “ Curso <strong>de</strong> Verão <strong>de</strong> Língua Miran<strong>de</strong>sa”.<br />

Reunir com professores e pais periodicamente para avaliar o projecto<br />

(avaliação qualitativa).<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

7. CONCLUSÃO<br />

A elaboração <strong>de</strong>ste trabalho penso ter sido uma experiência gratificante para mim,<br />

uma vez que me proporcionou a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> me <strong>de</strong>bruçar e reflectir mais<br />

profundamente sobre este rico património que é a “língua miran<strong>de</strong>sa,” primeira língua<br />

que eu aprendi a falar.<br />

Penso ter ficado mais sensibilizada ao investigar sobre algo que já esteve quase a<br />

<strong>de</strong>saparecer e que há alguns anos a esta parte tem preocupado miran<strong>de</strong>ses e não só, e por<br />

isso se <strong>de</strong>dicaram <strong>de</strong> alma e coração ao árduo trabalho que foi para todos a revitalização<br />

<strong>de</strong>ssa nossa língua.<br />

Não tenho gran<strong>de</strong>s dúvidas que a língua miran<strong>de</strong>sa atravessa momentos altos <strong>de</strong><br />

vitalida<strong>de</strong>.<br />

O interesse sobre a mesma tem vindo a aumentar significativamente nos diversos<br />

meios <strong>de</strong> estudo sociais e culturais.<br />

Contrariamente ao que se verificava há aproximadamente vinte anos, pelo menos<br />

hoje a juventu<strong>de</strong> já não sente vergonha em falar a sua língua materna.<br />

Fiquei satisfeita por também eu ter podido contribuir com um pouco do meu<br />

trabalho e ter engrossado mais um pouco o caudal a que na introdução aludi, pois, <strong>de</strong>sta<br />

forma po<strong>de</strong>rá o riacho continuar a sua marcha rumo à foz, po<strong>de</strong>rá a nossa língua ficar<br />

mais nobre.<br />

É em mirandês que se contam histórias, se dizem provérbios, se cantam e se<br />

dançam as cantigas à volta da fogueira das festas, se reza, se conversa em reuniões<br />

familiares e <strong>de</strong> vizinhos, nos serões <strong>de</strong> Inverno, à lareira, na cozinha, verda<strong>de</strong>ira sala <strong>de</strong><br />

cultura do nascimento até à morte (anexo VIII).<br />

“Ele é tão nacional, tão ingénuo, tão engraçado, que dá lástima que se <strong>de</strong>ixe<br />

morrer, po<strong>de</strong>ndo com a sua recolha e estudo enriquecer-se mais o espólio linguístico da<br />

família linguística românica!...” (Mourinho, A.;1961; pág.16).<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

“ Salvar o mirandês é orgulharmo-nos, nós portugueses <strong>de</strong> ter dado um dos mais<br />

elevados exemplos <strong>de</strong> cultura, inteligência e respeito pelos tesouros culturais e<br />

linguísticos existentes”( Raposo, D.;1987; pág.57) e continua ainda:<br />

“Amemos a nossa terra e <strong>de</strong>fendamos aquilo que é nosso.<br />

Defendamos a nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Perpetuemos esta herança linguístico-cultural tão<br />

importante para a nossa realização em plenitu<strong>de</strong> e para a alegria <strong>de</strong> viver. Façamos<br />

<strong>de</strong>la a nossa segunda língua. Falemo-la, estu<strong>de</strong>mo-la, escrevamo-la e leiamo-la sem<br />

vergonha.” (Raposo, D.; 1987; pág. 58).<br />

Permitiu-me este estudo aprofundar conhecimentos e sensibilizar a população<br />

alvo e até alguns familiares meus, especialmente o meu marido para a relevância da<br />

Língua Miran<strong>de</strong>sa, quer a nível nacional quer no contexto das línguas minoritárias, por<br />

forma a incentivar um mais frequente uso <strong>de</strong>sta língua, motivo por si suficiente para<br />

po<strong>de</strong>r afirmar que o objectivo proposto foi conseguido.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

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logístico, técnico e científico.<br />

Diário da Assembleia da República – I Série - N.º 2, Sexta-feira, 18 <strong>de</strong> Setembro<br />

<strong>de</strong> 1998 - VII Legislatura – 4ªSessão Legislativa (1998/1999); Reunião Plenária <strong>de</strong> 17<br />

<strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1998, projecto lei do reconhecimento oficial <strong>de</strong> direitos linguísticos da<br />

comunida<strong>de</strong> miran<strong>de</strong>sa.<br />

Lei N.º 7 /99 <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> Janeiro - Diário da República Nº24 <strong>de</strong> 29/1/99 – I Série – A,<br />

reconhecimento oficial <strong>de</strong> direitos linguísticos da comunida<strong>de</strong> miran<strong>de</strong>sa.<br />

http://qofisb.<strong>de</strong>i.uc.pt/<br />

http://mirandês.no.sapo.pt/LMRuso.html<br />

http://www.eb2-miranda-douro.rcts.pt/miran<strong>de</strong>s/miran<strong>de</strong>s.html<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

ANEXOS<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

ANEXO I<br />

Mapa das localida<strong>de</strong>s da área linguística miran<strong>de</strong>sa.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

ANEXO II<br />

Criação da Disciplina <strong>de</strong> Opção da Língua Miran<strong>de</strong>sa nas Escolas Preparatória e<br />

Secundária do Concelho <strong>de</strong> Miranda do Douro<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

Despacho Normativo n.º35/99<br />

ANEXO III<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

ANEXO IV<br />

Projecto <strong>de</strong> Continuida<strong>de</strong> da Aprendizagem da Língua Miran<strong>de</strong>sa na EB2 <strong>de</strong><br />

Miranda do Douro<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

ANEXO V<br />

Convenção Ortográfica da Língua Miran<strong>de</strong>sa.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

Diário da Assembleia da República.<br />

ANEXO VI<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

ANEXO VII<br />

Lei n.º 7/99 <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> Janeiro.<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

História<br />

Provérbios<br />

Cantiga<br />

Oração<br />

Texto<br />

ANEXO VIII<br />

Texto escrito por Domingos Raposo, aquando da<br />

apresentação do Projecto- Lei do Reconhecimento dos<br />

Direitos Linguísticos da Comunida<strong>de</strong> Miran<strong>de</strong>sa<br />

Assembleia da República<br />

Lisboa, 17 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1998<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

STÓRIA 3<br />

Er una beç u lhobo, ancontrou una cochina que tenie us cochinicos, i chegou l lhobo<br />

a la borda d’eilhes i dixo que ls qrie comer, i la cochina dixo-le que nó, q’aguardara mais<br />

us dies.<br />

- Puis bie aca benerei.<br />

Fui par u arador, i dixo-le q’habie <strong>de</strong> come-las bacas.<br />

Depuis dixo l’arador:<br />

- Nó, q’indasta mui fracas. Deixaremo-las mais us dies.<br />

Apuis fui par una que staba nu cerrado angordar:<br />

- Ah! baca, que t’hei-<strong>de</strong> comer1<br />

- Agora nu me comas: <strong>de</strong>ixa-m’ mais us dies q’agora stou mui fraca.<br />

D’alhi a uito dies fui lhobo a come-la baca, i dixo lhobo:<br />

- Agora bou-t’ a comer!<br />

- Puis come, come!<br />

Depuis prendiu lhobo uma cord’a la baca, i dixo-l la bac’a lhobo:<br />

- Mete la corda ne cachaço; agora quers que t’ansine cumo faie las bacas ne brano,<br />

quando dá-la mosca?<br />

- Ansinai, ansinai. Tod’ ye bie saber.<br />

- I puis saltou la bac’a fugir cu lhobo a la ratra. Apuis cobrou-se la corda i fui lhobo<br />

pa la raposa, i dixo-le:<br />

- Si, si comadrica,<br />

Se la corda nu quebra<br />

I l nolo nu <strong>de</strong>fata,<br />

You iba parar a casa<br />

Del donho <strong>de</strong> la baca.<br />

3 http://www.eb2-mirnda-douro.rcts.pt/miran<strong>de</strong>s/html<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

PROBÉRBIOS 4<br />

Las forfalhicas <strong>de</strong> l cerron Mais bale um paixarico na mano<br />

Pa la tar<strong>de</strong> buônas son. Que dous a bolar.<br />

Malo háia quien mal <strong>de</strong> mi diç: Cesteiro que fai un cesto<br />

Malo háia quien me lo chega al nariç. Fai un ciênto,<br />

Dando-le berga i tiêmpo.<br />

Nun te fies an perro que nun lhadra,<br />

Nin an home que nun fala. Quien cuônta un cuônto<br />

Acrecénta-l’ un puônto.<br />

Antre primos e armanos Filho sós,<br />

Nun metas las manos. Pai serás,<br />

Cumo fazires,<br />

Assi acharás.<br />

Na terça, nin tou cochino mates, nin tue Quien buôna semente sembra<br />

Filha cases, nin tue tela urdas. Bun trigo cuôlhe.<br />

Quien sembr’ abrolhos cuôlhe spinos.<br />

4 http://www.eb2-miranda-douro.rcts.pt/miran<strong>de</strong>s/miran<strong>de</strong>s.html<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

Mira-me, Miguel,<br />

Cumo stou <strong>de</strong> bonitica!<br />

Saia <strong>de</strong> burel,<br />

Camisica se stopica!...<br />

Eilha:<br />

Tengo trés meninos<br />

Nun tengo que le dar<br />

Pongo-m’a cantar<br />

A ansiná-los a beijar.<br />

Mira-me, Miguel!,...<br />

El:<br />

Tengo trés oubeilhas,<br />

Mais ua cor<strong>de</strong>ira,<br />

Quiêro-me casar<br />

I nun acho quien me queira!<br />

Mira-me Miguel!,...<br />

Eilha: Beila, pedro, beila,!<br />

El: Senhora quiero pan!<br />

Eilha: Beila mais un pouco,<br />

Que lhougo te el daran!...<br />

Mira-me, Miguel!,...<br />

El: Bamos a la cama!<br />

Eilha: Bamos a drumir<br />

El: You lhebo la manta,<br />

Eilha: You lhebo al candil!...<br />

Mira-me Miguel!,...<br />

Ambos:<br />

Bi benir la gaita,<br />

I l gueiteiro nó<br />

Oh que pena tengo<br />

No mil coraçon!...<br />

Mira-me Miguel!,...<br />

CANTIGA 5<br />

Mira-me Miguel<br />

5 http://www.eb2-miranda-douro.rcts.pt7miran<strong>de</strong>s/miran<strong>de</strong>s.html<br />

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ORAÇON 6<br />

Santa Bárbola se bestiu i se calçou<br />

Al camino se botou<br />

Santo Antonho ancontrou<br />

- Adon<strong>de</strong> bás, Bárbola?<br />

- Vou arramar esta troboada<br />

Qu’anda pul mundo spalhada,<br />

On<strong>de</strong> nun haba beira nien lheira<br />

Nien ramico d’oulibeira<br />

Nien pan, nien bino<br />

Nien casa cul sou bezino<br />

Nien bezerricos a mamar,<br />

Esta tormiênta you hei-<strong>de</strong><br />

Ampuntar.<br />

6 http://www.eb2-miranda-douro.rcts.pt/miran<strong>de</strong>s/miran<strong>de</strong>s.html<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

Texto 7<br />

La Lhéngua Miran<strong>de</strong>sa, doce cumo ua meligrana, guapa i capechana, nun yê <strong>de</strong> onte,<br />

<strong>de</strong> trasdonte ou trasdontonte mas cunta cun uito séclos <strong>de</strong> eijistência.<br />

Sien se subreponer a la “lhéngua fidalga i grabe”l Pertués, yê tan nobre cumo eilha ou<br />

outra qualquiêra.<br />

Hoije recebiu bida nuôba.<br />

Saliu <strong>de</strong> l absedo i <strong>de</strong>l cenceinho an que bibiu tantos anhos. Deixou <strong>de</strong> s’acrucar,<br />

znudou-se <strong>de</strong> la bargonha, ampiponou-se para, assi, po<strong>de</strong>r bolar, strebolar i çcampar l<br />

probenir.<br />

Agarrou l ranha<strong>de</strong>iro para abibar l lhume <strong>de</strong> l’alma i l sangre dun cuôrpo bien sano.<br />

Chena <strong>de</strong> proua, abriu la puôrta <strong>de</strong> la sue priêça <strong>de</strong> casa, puso fincones ne l sou ser,<br />

saliu pa las ourriêtas i preinadas...<br />

Lhibre, cumo l reixenhor i la chelubrina, yá puô<strong>de</strong> cantar, yá se puô<strong>de</strong> afirmar.<br />

A la par <strong>de</strong> l Pertués, a partir <strong>de</strong> hoije, yê lhuç <strong>de</strong> Miranda, lhuç <strong>de</strong> Pertual.<br />

Texto da apresentação do Projecto-Lei do reconhecimento dos<br />

Direitos Linguísticos da Comunida<strong>de</strong> Miran<strong>de</strong>sa<br />

Assembleia da República<br />

Lisboa, 17 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1998<br />

7 http://www.eb2-miranda-douro.rcts.pt/miran<strong>de</strong>s/miran<strong>de</strong>s.html<br />

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Seminário <strong>de</strong> Investigação A Língua e a Cultura Miran<strong>de</strong>sa<br />

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