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Sétima Edição - Junho / 2009 - MGA

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emissora. Diz ainda que pode<br />

“chocar” a audiência.<br />

Proposta Proposta Proposta da da alteridade<br />

alteridade<br />

alteridade<br />

Chocante é constatar a fraqueza<br />

ética de pessoas e instituições<br />

que se dizem chocadas<br />

com uma manifestação de afeto<br />

que elas mesmas legitimam<br />

somente para uma parte da população.<br />

Contudo, permitem a<br />

si mesmas distrair com cenas de<br />

violência descarada, exposição e<br />

grafismo sexuais apelativos, consumismo,<br />

escárnio do próximo<br />

e comportamentos vis. Uma fraqueza<br />

tão parcial pode ser alegada<br />

para justificar tal objeção?<br />

Um véu que esconde o temor<br />

de algo tão autêntico, verossímil<br />

e digno que sua simples admissão<br />

pode abrir definitivamente<br />

as comportas de uma grande<br />

represa criada por séculos de<br />

negação?<br />

O filme de Ang Lee O segredo<br />

de Brokeback Mountain não<br />

fez concessão alguma ao que a<br />

sociedade supostamente estava<br />

ou não preparada para ver. O diretor<br />

usou sensibilidade e talento<br />

para mostrar uma história de<br />

amor universal que contempla<br />

todos, revelando que “a experiência<br />

da alteridade (e a elaboração<br />

dessa experiência) leva-nos<br />

a ver aquilo que nem teríamos<br />

conseguido imaginar” e que<br />

“devemos especialmente reconhecer<br />

que somos uma cultura<br />

possível entre tantas outras, mas<br />

não a única”.Assim, relacionarse<br />

com o outro reconhecendo a<br />

legitimidade da sua expressão é<br />

a base de uma co-presença ética.<br />

José Roberto Goldim diz que<br />

a proposta da alteridade “rompe<br />

com a perspectiva autonomista<br />

e individual para remetêla<br />

a uma visão de rede social.<br />

Deixa de ter sentido a máxima<br />

`a minha liberdade termina<br />

quando começa a dos outros´,<br />

sendo substituída pela proposta<br />

de que a minha liberdade é<br />

garantida pela liberdade dos<br />

outros”.<br />

Mesquinhez Mesquinhez e e<br />

e<br />

fraqueza fraqueza ética<br />

ética<br />

Por outro lado, quando uma<br />

emissora comercial representa<br />

em uma obra de ficção a existência<br />

de certas entidades como,<br />

por exemplo, o relacionamento<br />

entre pessoas do mesmo sexo,<br />

não o faz de forma gratuita. A<br />

recusa em fazê-lo soaria como<br />

um indesejável atestado de atraso,<br />

falta de visão e esterilidade<br />

criativa. Então, em contraponto,<br />

deve haver uma responsabilidade<br />

maior que se sobreponha<br />

a interesses econômicos, por<br />

exemplo. Uma responsabilidade<br />

que se sobreponha ao simples<br />

argumento da tolerância, sobre<br />

a qual diz Saramago: “Tolerar a<br />

existência do outro e permitir<br />

que ele seja diferente ainda é<br />

muito pouco. Quando se tolera,<br />

apenas se concede, e essa<br />

não é uma relação de igualda-<br />

de, mas de superioridade de um<br />

sobre o outro. Deveríamos criar<br />

uma relação entre as pessoas, da<br />

qual estivessem excluídas a tolerância<br />

e a intolerância.”É por<br />

isso que o beijo gay, ou a sua<br />

discussão, não devia encher o<br />

saco de ninguém. Não basta<br />

tolerá-lo na alcova escura destinada<br />

ao medo e à feiúra. É necessário<br />

perceber a sua beleza,<br />

sob o sol e à luz porque é a beleza<br />

possível do outro, que não<br />

se recusa a celebrar a nossa.A<br />

lenda grega diz que Narciso causou<br />

muita dor aos seus admiradores<br />

porque reservava somente<br />

para si próprio o amor e a beleza.<br />

Acabou sucumbindo à morte<br />

triste e solitária em um lago de<br />

desespero. Mas se queremos ser<br />

belos, merecedores de justiça e<br />

amor, devemos desvendar nossa<br />

beleza despindo-a de seu egoísmo<br />

narcisista, onde só o nosso<br />

beijo é legítimo e belo, e assimilar<br />

a beleza do outro, para que<br />

não sucumbamos a um poço<br />

profundo de mesquinhez e indefensável<br />

fraqueza ética.<br />

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