Sétima Edição - Junho / 2009 - MGA
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não representa o movimento, mas<br />
vamos para a realidade que, eleita,<br />
estamos apoiando. Mas os candidatos<br />
que ofereciam propostas e projetos<br />
e um histórico de militância, Marcelo<br />
Cerqueira e Valquírima, do grupo<br />
Palavra de Mulher Lésbica, eram<br />
os candidatos sintonizados com a<br />
militância baiana.<br />
_V _Vocês _V ocês fizeram fizeram a a famosa famosa lista lista lista dos<br />
dos<br />
100 100 gays gays mais mais impor impor importantes impor impor tantes para para a<br />
a<br />
história história do do Brasil, Brasil, que que tem tem nomes nomes<br />
nomes<br />
como como Zumbi Zumbi e e Santos Santos Dumont. Dumont. Qual<br />
Qual<br />
é é a a relevância relevância de de uma uma lista lista como como essa,<br />
essa,<br />
por por por que que divulgar divulgar essa essa questão questão seria<br />
seria<br />
impor importante? impor tante?<br />
Os gays, lésbicas e travestis são<br />
vítimas de um complô do silêncio da<br />
historiografia oficial que nega a existência<br />
da homossexualidade entre<br />
VIPs ou que heterossexualiza VIPs<br />
homossexuais, como por exemplo a<br />
omissão da homossexualidade de<br />
Santos Dummont, o nosso grande<br />
herói nacional, ou a heterossexualização<br />
das cartas de Shakespeare. Isso<br />
mostra que sempre houve esse complô.<br />
E nós achamos que quanto mais<br />
homossexuais de destaque na sociedade<br />
se assumirem, estão fornecendo<br />
modelos para jovens homossexuais<br />
se inspirarem, e vai mostrar para a<br />
sociedade que é preconceito achar<br />
que gay é marginal, que é inferior, etc.<br />
É uma política de visibilidade para resgatar<br />
nossa história. Dai aos gays o<br />
que é dos gays. Estimulo que mais e<br />
mais pessoas saiam do armário, estimulo<br />
que mais e mais pesquisas históricas<br />
descubram quem pertence ao<br />
grupo daqueles que praticam o amor<br />
que não ousavam dizer o nome. Já<br />
que homossexualidade não é crime,<br />
não é doença e não é pecado, não é<br />
nenhum crime revelar a orientação<br />
sexual das pessoas. Perguntar não<br />
ofende, afirmar não ofende, sobretudo<br />
havendo pistas, rumores persistentes<br />
ou provas de que tais pessoas<br />
praticavam a homossexualidade.<br />
_Estava _Estava lendo lendo uma uma entrevista entrevista entrevista sua<br />
sua<br />
em em que que o o senhor senhor afirmou afirmou que que os os VIP VIPs VIP<br />
enrustidos enrustidos acabam acabam sendo sendo cúmplices<br />
cúmplices<br />
do do sofrimento sofrimento e e até até mor mor morte mor mor te de de jovens jovens<br />
jovens<br />
que que não não se se assumem. assumem. Não Não há há uma<br />
uma<br />
cer cer certa cer ta militância militância excessiva excessiva para para as as pespes-<br />
soas soas se se assumirem? assumirem? Isso Isso não não fere fere a<br />
a<br />
liberdade liberdade de de cada cada um um decidir decidir sair sair sair do<br />
do<br />
armário armário ou ou não? não? É É como como se se todos<br />
todos<br />
44<br />
tivessem tivessem tivessem que que levantar levantar bandeiras...<br />
bandeiras...<br />
Os negros querem até que a Cleópatra<br />
tenha sido negra. Uma pessoa<br />
que tenha 10% de fenótipo negro<br />
hoje em dia tem que se afirmar<br />
como afrodescendente. Eu quero<br />
trabalhar por uma sociedade futura<br />
em que a raça, o gênero, a orientação<br />
sexual sejam irrelevantes, que as<br />
pessoas valham pelo que são, pela<br />
sua honestidade, competência, simpatia.<br />
Mas nessa fase, considero que<br />
é muito importante que os negros<br />
que foram considerados feios digam<br />
que “Black is beautiful”, que os gays<br />
que foram considerados inferiores<br />
digam que têm orgulho de ser gay,<br />
e as mulheres tratadas como o sexo<br />
frágil, tenham a afirmação da sua<br />
condição de mulher. É uma estratégia<br />
temporária, provisória, assim<br />
como as cotas raciais. Eu inclusive<br />
defendo as cotas para homossexuais,<br />
porque se é para resgatar e para<br />
compensar injustiças históricas, ninguém<br />
mais que os homossexuais<br />
foram discriminados. Ser negro nunca<br />
foi crime, mas ser homossexual<br />
até o fim da Inquisição era considerado<br />
um crime de lesa-majestade.<br />
Até hoje nenhum negro ou deficiente<br />
físico é insultado em casa, ou<br />
expulso do lar devido à sua condição<br />
de minoria, mas os homossexuais<br />
vivem na clandestinidade e o<br />
preconceito e a violência começam<br />
em casa. Considero que é fundamental<br />
que mais e mais pessoas se<br />
assumam, e vou continuar nessa<br />
minha cruzada, resgatando a história<br />
dos homossexuais célebres e<br />
estimulando os vivos para que saiam<br />
do armário.<br />
_As _As cotas cotas que que o o senhor senhor defende<br />
defende<br />
seriam seriam implantadas implantadas nos nos mesmos mesmos<br />
mesmos<br />
moldes moldes que que as as as raciais? raciais? E E E seguiriam seguiriam o<br />
o<br />
padrão padrão de de 10%, 10%, que que é é a a média média média de<br />
de<br />
homossexuais homossexuais na na na população?<br />
população?<br />
Isso. Considero que nada justifica<br />
que as cotas sejam apenas para indíos<br />
e pobres e negros sendo que outras<br />
minorias sociais, como obesos e<br />
albinos e homossexuais, que sofrem<br />
igual discriminação, sejam discriminados<br />
em políticas afirmativas. Quanto<br />
à dificuldade de estabelecer quem é<br />
gay ou lésbica - travesti é fácil - é a<br />
mesma questão dos negros. Autoidentificação<br />
é suficiente para que a<br />
pessoa seja beneficiada.<br />
_V _Você _V _Você<br />
ocê já já já quis quis ser ser padre padre e e hoje<br />
hoje<br />
combate combate a a igreja igreja e e a a discriminação<br />
discriminação<br />
queque ela ela ela alimenta, alimenta, alimenta, tanto tanto a a igreja igreja cacatólicatólicatólica<br />
quanto quanto à à evangélica. evangélica. Há Há avanavan-<br />
ços ços nesse nesse segmento? segmento?<br />
segmento?<br />
Até os 18 anos meu ideal de vida<br />
era ser padre. Fui seminarista, noviço,<br />
estudante de filosofia na ordem<br />
dominicana, a mais intelectual e<br />
moderna, que se opôs ao golpe<br />
militar e foi até perseguida por conta<br />
disso. Ao entrar na universidade,<br />
na Faculdade de Filosofia da USP,<br />
conheci o marxismo. Ao ler o livro<br />
“A ideologia Alemã”, me tornei ateu,<br />
entendendo que o certo é que os<br />
homens criam os deuses à sua imagem<br />
e semelhança, e não o contrário,<br />
como nos era ensinado. E sobretudo<br />
quando me tornei um militante<br />
homossexual constatei que<br />
as igrejas, o judaísmo, o cristianismo,<br />
o islamismo e o protestantismo,<br />
sobretudo religiões fundamentalistas<br />
evangélicas, são a principal<br />
fonte de manutenção da homofobia.<br />
Nos púlpitos e nas televisões<br />
evangélicas é onde mais se divulga<br />
a intolerância e o preconceito contra<br />
os homossexuais. Sou incansável<br />
lutador contra o papa anterior e<br />
o Bento 16, que são os maiores inimigos<br />
dos homossexuais na modernidade,<br />
e contra os evangélicos que<br />
continuam associando homossexualidade<br />
ao diabolismo. Mesmo no<br />
candomblé - que embora seja uma<br />
religião muito aberta aos orixás hermafroditas,<br />
homossexuais, bissexuais<br />
- não tem um discurso explícito de<br />
defesa dos homossexuais, considerando<br />
que grande parte dos pais-desanto,<br />
mães-de-santo e filhos-desanto<br />
têm uma sexualidade aberta<br />
inclusive ao homoerotismo. Apesar<br />
de não ser anti-clerical sou fundador,<br />
em 1995, do grupo ateísta latino-americano.<br />
Meu manifesto ateísta<br />
foi o primeiro documento de militância<br />
de ateísmo no Brasil. Infelizmente,<br />
o grupo ateísta não cresceu<br />
tanto quanto o grupo gay. Ainda é<br />
um tema muito tabu, mas eu considero<br />
que é fundamental que as pessoas<br />
cresçam intelectualmente em<br />
relação ao ateísmo, porque eu vejo<br />
marxistas, doutores em filosofia e ciências<br />
humanas que são moderníssimos<br />
na questão da ciência e continuam<br />
infantis, acreditando em<br />
Deus, no diabo e na feitiçaria.