Sétima Edição - Junho / 2009 - MGA
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es, de que sejam atendidas nas Delegacias<br />
Especiais para Mulheres, na<br />
medida em que são vítimas do mesmo<br />
preconceito, do machismo. Eu<br />
considero que é inviável a abertura<br />
de delegacias específicas para homossexuais<br />
porque implicaria em um<br />
grande investimento e, a não ser nas<br />
grandes capitais, a demanda não justificaria<br />
tal investimento. Sobretudo<br />
porque não existe uma consciência<br />
política por parte de grande parte das<br />
vítimas homossexuais de denunciarem,<br />
com medo de serem vítimas de<br />
novo preconceito e discriminação,<br />
que de vítimas se tornem réus, quando<br />
vão procurar fazer justiça. O que<br />
eu acho que é fundamental é que as<br />
delegacias da mulher ou as contra o<br />
racismo tenham pessoas especializadas<br />
em atender gays, travestis e lésbicas,<br />
para que possamos encaminhar<br />
nossas denúncias, evitando que<br />
a omissão e a impunidade reforçem<br />
a prática de novos crimes.<br />
_O _O que que o o senhor senhor achou achou da da cam- camcam- panha panha de de de Mar Marta Mar ta Suplicy Suplicy ter ter ter insinuainsinua-<br />
do do que que o o Kassab Kassab era era gay gay, gay , como como se se<br />
se<br />
issoisso fosse fosse diminuir diminuir de de alguma alguma mama-<br />
neira neira a a a ação ação ação dele dele como como político? político? A<br />
A<br />
Mar Marta Mar Mar ta que que inclusive inclusive já já já ganhou ganhou um<br />
um<br />
troféu troféu do do GGB, GGB, o o T TTriângulo<br />
T riângulo RR<br />
Rosa. RR<br />
osa.<br />
A polêmica da propaganda eleitoral<br />
de Marta Suplicy indagando sobre<br />
se o Kassab tem mulher e filhos<br />
repercutiu nacionalmente. Lideranças<br />
do movimento LGBT, inclusive do<br />
núcleo de petistas, protestaram. Alguns<br />
militantes históricos, como o<br />
próprio João Silvério Trevisan, criticaram<br />
gravemente Marta... Eu conhecendo<br />
Marta desde 1985, quando fui<br />
entrevistado pela TV Mulher, na TV<br />
Globo, e estando com ela várias vezes<br />
no Congresso Nacional, quando<br />
se tentava votar o projeto de parceria<br />
civil, conhecendo seus livros e suas<br />
declarações, eu jamais entenderia que<br />
houve conhecimento por parte dela<br />
dessa propaganda, feita por um marqueteiro,<br />
e que ela jamais teria autorizado<br />
ou inspirado uma propaganda<br />
homofóbica, porque estaria indo<br />
contra duas décadas de luta e contra<br />
seus princípios. De modo que eu fui,<br />
com outras lideranças do movimento,<br />
mais condescendentes, mais<br />
magnânimos, tivemos a alma grande,<br />
no sentido de exigir que ela pedisse<br />
perdão, reconhecesse que pi-<br />
sou na bola, mas isso não justifica tripudiar<br />
em cima de um currículo e<br />
méritos que são inegáveis. Aprendi<br />
com minha mãe a ser generoso e a<br />
perdoar.<br />
_E _E o o senhor senhor senhor já já pensou pensou em em se se ele- eleeleger ger ger a a algum algum cargo cargo cargo público?<br />
público?<br />
No final dos anos 80, cheguei a<br />
cogitar a idéia de me candidatar para<br />
deputado estadual, mas logo desisti,<br />
porque eu não tenho o perfil de um<br />
candidato. Eu não gosto de muito<br />
contato popular. Atualmente ando na<br />
rua olhando para o chão, para que<br />
as pessoas não venham me cumprimentar.<br />
Prefiro cada vez mais o anonimato,<br />
quando menos a mídia.<br />
Embora no meu túmulo que já está<br />
comprado no Campo Santo - aliás<br />
numa quadra muito boa, em que eu<br />
tenho como vizinhos membros da<br />
família de Antonio Carlos Magalhães<br />
e outros da burguesia baiana - pretendo<br />
que seja escrito: Luiz Mott,<br />
humanista e uranista. Uranista é um<br />
termo do século 19 que é sinônimo<br />
de homossexual. Preferi esse termo<br />
porque vai obrigar as pessoas a irem<br />
ao dicionário e vai ilustrar a cultura<br />
delas. E eu com temor de que se colocasse<br />
humanista e homossexual ou<br />
gay o meu túmulo pudesse ser alvo<br />
de depredação ou vandalismo... De<br />
modo que o depoimento que eu dou<br />
como decano do movimento homossexual<br />
- não sou o primeiro, há<br />
outros que estiveram antes de mim,<br />
estão vivos, mas que largaram a militância;<br />
eu desde 1980 até hoje não<br />
tive férias nem trégua na luta pelos<br />
direitos de cidadania dos homossexuais,<br />
por isso é um título que se conquista,<br />
não se é eleito decano - eu<br />
como decano me considero imprescindível,<br />
que são aqueles que lutam<br />
a vida toda, como no célebre poema<br />
de Brecht. O depoimento que eu dou<br />
é que não me arrependo um só minuto<br />
de ter assumido a minha verdadeira<br />
essência existencial. Para mim,<br />
parafraseando Jean Jeanet, esse célebre<br />
escritor francês homossexual, a<br />
homossexualidade foi uma graça. Ele<br />
dizia “pra mim a homossexualidade<br />
foi uma bênção”. Foi uma graça eu<br />
ter assumido. Pra mim foi fonte de<br />
alegria, felicidade e muita ajuda. Recebo<br />
cartas de centenas e centenas<br />
de gays e lésbicas que não se mataram<br />
e passaram a se aceitar e se tor-<br />
naram cidadãos de bem a partir do<br />
meu depoimento e do meu testemunho<br />
como um gay assumido. E que<br />
está muito bem documentado no<br />
meu livro “Crônicas de um gay assumido”,<br />
onde eu me torno um dos<br />
poucos homossexuais a escrever um<br />
livro na primeira pessoa narrando experiências<br />
pessoais, e utopias, e intimidades.<br />
_V _Vocês _V ocês se se arrependem arrependem de de não<br />
não<br />
terem terem apoiado apoiado L LLeo<br />
L eo Kret Kret Kret nas nas eleições eleições<br />
eleições<br />
para para a a Câmara Câmara Câmara Municipal? Municipal?<br />
Municipal?<br />
A Leo Kret frequentou durante três<br />
anos o projeto “Se Ligue”, do GGB,<br />
indo a mais de 100 reuniões. De<br />
modo que o que ela sabe hoje sobre<br />
direitos humanos, homossexualidade<br />
e AIDS, foi no GGB que aprendeu.<br />
As primeiras entrevistas, os primeiros<br />
vídeos, foram feitos na sede<br />
do GGB. O Marcelo Cerqueira chegou<br />
até a oferecer a ela uma roupa<br />
para que ela desfilasse certa vez e na<br />
parada de 2007 ela recebeu a faixa<br />
de fadinha e esteve no alto do trio<br />
principal. Porque nós sempre apoiamos<br />
e tentamos ensinar a Leo Kret a<br />
ser uma pessoa de respeito, com<br />
menos espalhafato e mais conteúdo.<br />
Mas jamais qualquer pessoa em sã<br />
consciência indicaria um jovem de 23<br />
anos, com pouca escolaridade e sem<br />
nenhuma formação política, para representar<br />
a comunidade homossexual<br />
na Câmara de Vereadores. Leo Kret,<br />
objetivamente, não tem o perfil de<br />
uma liderança comunitária, embora<br />
tenha recebido os 12 mil votos, sobretudo<br />
de pagodeiros e pessoas que,<br />
segundo a interpretação de inúmeros<br />
cientistas sociais com quem conversei,<br />
representa um voto não de<br />
protesto, mas de esculhambação,<br />
como em São Paulo as velhinhas elegeram<br />
Clodovil, não pelo fato de ele<br />
ter um projeto político dos homossexuais,<br />
mas porque muitos heterossexuais<br />
gostam do gay efeminado, espalhafatoso,<br />
palhacinho, etc. Eu tenho<br />
certeza que Leo Kret vai fazer um<br />
ótimo mandato. Basta que seus assessores<br />
copiem as 300 e tantas ações<br />
afirmativas aprovadas na conferência<br />
LGBT e que essas propostas sejam<br />
apresentadas e aprovadas. Mas nem<br />
os próprios assessores gays ou representantes<br />
do movimento LGBT da<br />
Bahia votaram em Leo Kret. Não fui<br />
apenas eu ou o GGB a dizer que ela<br />
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