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BIODANZA E O OLHAR - Pensamento Biocêntrico

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Da tolice do mundo também. Mas, pelas suas considerações, eles tiveram um encontro bom e<br />

profundo, apesar de fugaz. A moça seguiu fantasiando sobre quem poderia ser aquela pessoa.<br />

Imaginando se tratar de um estrangeiro, deu ao seu amigo desconhecido o nome de John. E<br />

sobre o encontro, ela confidencia: - John, eu nunca esquecerei você. Nem com o passar dos<br />

anos. Porque nós fomos eternos naquele instante. Foi um instante apenas mas nele fizemos<br />

um comentário do mundo e de nós próprios. Meu irmão. Clarice Lispector continua a falar<br />

sobre o seu amigo desconhecido e na sequencia, relata outro encontro também fugaz. Ela<br />

conta que estava num táxi que parou num sinal vermelho, tendo um outro táxi parado ao seu<br />

lado. No outro carro estava um homem que também a olhou. Ele fixou o seu olhar e piscou<br />

para ela, que respondeu desviando o olhar. De certo, ela não se sentiu ofendida pelo homem,<br />

mas sentiu que ele era uma pessoa inútil e queria inutilizá-la também. Comparando os dois<br />

encontros, ela completa que “...John me deixou plena e útil”. Ainda coversando mentalmente<br />

com John, a autora diz que “...eu estou séria, mas por dentro estou sorrindo. Não sei de quê.<br />

É que viver me faz sorrir. É um sorriso misterioso. Vem de florestas interiores, de lagos e<br />

açudes e montanhas e céus. Sou toda misteriosa, John. Você é mais claro que eu. Você é um<br />

riso, um olhar de surpresa”.<br />

Tomei emprestada esta crônica para usá-la de alegoria e exemplificar como um<br />

encontro pode ser profundo e intenso, independente do tempo em que ele acontece. O que<br />

conta no encontro é a intenção, a entrega, a pureza. Maria Lucia Pessoa define a vinculação<br />

como fenômeno profundo e comovedor. Rolando Toro aponta o sorriso e o olhar como a<br />

chave do vínculo. Percebe-se nas palavras de Clarice Lispector toda a poética e doçura da<br />

vivência do encontro e o quanto essa poética pode afetar as pessoas. Clarice e o hippie<br />

vivenciaram um encontro não no tempo linear de Khronos, mas no tempo existencial de<br />

Kairos. E é aí que reside a magia dos encontros profundos. E tudo se deu no momento de um<br />

olhar e de um sorriso. T.S.Elliot disse que escutamos música tão profundamente ouvida que<br />

nem é ouvida, mas somos nós a música enquanto dura a música… Penso que as palavras de<br />

Elliot podem traduzir o encontro vivido profundamente, a ponto de sermos o próprio encontro<br />

na intensidade do tempo desse encontro. Mas o encontro, assim como o olhar, vai além de<br />

mim e do outro, onde existe o grupo, a natureza, o mundo, o cosmo. Como já citamos<br />

anteriormente, o vínculo se dá em três níveis: eu comigo, com o outro e com a totalidade. E na<br />

medida em que eu me aprofundava nas vivências, no grupo e com o grupo, eu me percebia<br />

num processo de dissolução, numa fusão com o todo, numa aproximação, mesmo que ainda<br />

distante, do outro e da natureza. A partir daí, eu pude experimentar o que Rolando Toro<br />

afirmou: o sentimento de íntima vinculação com a natureza e com o próximo é uma<br />

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