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BIODANZA E O OLHAR - Pensamento Biocêntrico

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os olhos estejam fixando firmemente um objeto, ocorrem movimentos oculares<br />

imperceptíveis, deslocando a imagem para um ponto e outro da retina, impedindo o<br />

apagamento da percepção.<br />

Bosi, ao mencionar a relação do olho com o cérebro, relembra o anatomista norte-<br />

americano Stephen Poliak, no seguinte:<br />

...(Poliak) chegou a admitir a hipótese revolucionária de que o tecido cerebral<br />

resultou de uma evolução dos olhos em pequenos organismos aquáticos que<br />

viveram há mais de um milhão de anos atrás. Quer dizer: não foi o cérebro que se<br />

estendeu até a formação do órgão visual, mas, ao contrário, foi olho que se<br />

complicou extraordinariamente dando origem ao córtex onde, supõe-se, estaria a<br />

sede da visualidade.<br />

Sabe-se que o olho não é um órgão isolado, ele está inserido na corporeidade, se<br />

movimenta pelo mundo, absorvendo as imagens que por ele são tocadas. Merleau-Ponty, ao<br />

falar sobre o olhar intencional do artista que se deixa tocar pelo visível e, pela mão, traduz na<br />

arte a imagem apreendida, diz que “o instrumento que se move por si mesmo, meio que<br />

inventa seus fins, o olho é ‘aquilo’ que foi sensibilizado por um certo impacto do mundo e o<br />

restitui ao visível pelos traços da mão”. Vê-se nas palavras do filósofo que existe no olhar do<br />

artista uma intencionalidade, levando a crer num olhar humano abrangendo muito mais que o<br />

ato de ver: o aspecto subjetivo do olhar.<br />

3.3 O olhar pela subjetividade<br />

Na crônica A complicada arte de ver, Rubem Alves fala sobre uma mulher que<br />

pensava estar louca pois, ao cortar a cebola na cozinha, pela primeira vez, a viu de forma<br />

diferente, como se fosse uma “rosácea de um vitral da catedral gótica”. Ele a tranquilizou<br />

enquanto lhe mostrava o poema de Neruda – Ode à cebola – dizendo que esssa pertubação<br />

visual é comum aos poetas: “Você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas<br />

ensinam a ver”- disse a ela. Rubem fala ainda que “ver é muito complicado [...] existe algo<br />

na visão que não pertence à física”. Ele confidencia a ela que ao ver os ipês floridos sente<br />

que ali se encontra uma epifania do sagrado. Porém, uma vizinha derrubou um ipê que<br />

florecia na frente de sua casa porque sujava o chão e dava trabalho para limpar. Ela via apenas<br />

o lixo e não a beleza da florada. O autor prossegue, citando Adélia Prado que disse: Deus de<br />

vez em quanto me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”.<br />

Mas, o que seria para o poeta uma pedra além daquilo que ela realmente é: uma pedra?<br />

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