4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A Biodanza me ajudou a abrir os olhos dos meus olhos e dessa abertura, nasceu o desejo de escrever sobre o olhar. Este trabalho revela muito da minha trajetória e do meu processo na Biodanza. Iniciei na Biodanza em 2004 e desde o início, o tema “Olhar” me seduziu. Descobri que não se olha apenas com os olhos. Olhamos com todo o corpo, com todos os sentidos. Olhamos “com o coração”. Ao olharmos alguém, encontramos nos seus olhos toda a sua história de vida, alegrias, tristezas, força, fragilidade, raiva, ternura, enfim, sentimentos e emoções pulsando juntos, criando a dança da vida. Através da Biodanza, eu aprendi a me conhecer melhor, a ter mais confiança, a reconhecer o meu lugar no mundo. Assim como Narciso, eu passei muito tempo presa a uma autoimagem que me levou a uma “miopia” e a um “astigmatismo” existencial. A partir da minha entrega às vivências e à (con)vivência com o grupo, passei a me perceber um ser único, plena da minha inteireza e do prazer de me sentir viva e parte da vida; a perceber o outro como um semelhante, alguém onde eu me vejo e que também se vê através de mim; a perceber o mundo como um local onde eu posso me encontrar e me perder, o mundo que me acolhe e do qual eu também faço parte: somos feitos do mesmo “tecido”. Através dos encontros com o outro eu pude me encontrar. E nesse processo a minha luz foi se fortalecendo. Rolando Toro disse que fazendo crescer a parte luminosa do ser, a parte escura tende a desaparecer. Sinto que assim aconteceu comigo. Na medida em que a luz acendia em mim, a autoimagem – imagem mental que se tem de si mesmo – se enfraquecia, dando lugar à autoestima – valorização e qualificação afetiva que se faz de si mesmo. Escrever sobre o olhar foi para mim, estar o tempo todo em frente ao espelho. Em muitos momentos foi difícil e em alguns, eu quase desisti. Ocorre que a Biodanza para mim é vivência. E durante o meu percurso na escola, eu me dediquei muito pouco aos estudos teóricos. E agora, no momento de fazer esta dissertação, o aspecto vivencial foi muito forte. Outra dificuldade que eu encontrei no desenvolvimento deste estudo, foi a escassez de material teórico sobre o olhar, nos livros e apostilas específicos da Biodanza. Entretanto, a falta de material fez com que eu buscasse outros caminhos, me possibilitando lindos encontros com obras de outros autores que me enriqueceram muito, em especial Merleau- Ponty, Clarice Lispector, Alberto Caeiro (Fernanco Pessoa), que para mim, foi amor a primeira vista. 39
Para a composição desta monografia, escolhi a abordagem tendo o olhar como meio de conexão, dentro dos três níveis de vinculação da Biodanza: a vinculação comigo, com o outro e com a totalidade. Durante o processo de pesquisa, encontrei e me identifiquei com o Mito de Narciso e Eco. Considero que existe ainda muita coisa a ser pesquisada sobre o Olhar. Não considero este tema esgotado com o final deste trabalho. Fica então o convite a todos aqueles que desejarem dar continuidade e contribuir com o aprofundamento deste tema. 40