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BIODANZA E O OLHAR - Pensamento Biocêntrico

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experiência culminante que se tem rara vez na vida. Experimentá-la uma só vez permite<br />

iniciar uma mudança na atitude frente a si mesmo e frente aos demais.<br />

2.3 O olhar e o grupo, o mundo e a totalidade<br />

Leonardo da Vinci (apud Chaui), a partir das suas experiências como pintor e cientista,<br />

se encantou com as possibilidades do olhar no diálogo do ser para com o mundo e escreveu:<br />

Não vês que o olho abraça a beleza do mundo inteiro? [...] É janela do corpo<br />

humano, por onde a alma especula e frui a beleza do mundo, aceitando a prisão do<br />

corpo que, sem esse poder, seria um tormento [...] Ó admirável necessidade! Quem<br />

acreditaria que um espaço tão reduzido seria capaz de absorver as imagens do<br />

universo? [...] O espírito do pintor deve fazer-se semelhante a um espelho que adota<br />

a cor do que olha e se enche de tantas imagens quantas coisas tiver diante de si.<br />

Também Marilena Chauí escreveu sobre o olho como janela da alma e espelho do<br />

mundo. Como janela da alma no sentido de “deixar visível” o que vai no nosso íntimo, como<br />

forma de nos revelarmos ao mundo. Como espelho do mundo pela capacidade de refletir e<br />

apreender as imagens do universo.<br />

A autora nos faz lembrar que “porque cremos que a visão se faz em nós pelo fora e,<br />

simultaneamente, se faz de nós para fora, o olhar é, ao mesmo tempo, sair de si e trazer o<br />

mundo para dentro de si”. Estas palavras nos remetem à idéia de que o olhar não é um ato tão<br />

objetivo quanto se pensa. Olhar é envolver e ser envolvido, sentir e se fazer sentir, tocar e ser<br />

tocado. Mas, de que forma acontece esse diálogo entre eu e o mundo, através do olhar? No<br />

texto Reflexão sobre o olhar, Elisabeth de Miranda afirma que ela abraça o mundo com o<br />

auxílio de diversas lentes: pelo viés da consciência, do inconsciente, do ego, da persona, do si<br />

[…] as diferentes perspectivas todas, ainda que antagônicas, possuem um papel de<br />

complementaridade.[…] Somente concedendo espaço para todos os nuances sou capaz de<br />

obter uma maior apreensão do todo que sou eu”. A autora diz ainda que, nesse diálogo, a<br />

natureza humana nos prepara para a perplexidade e sacralidade do olhar: para um olhar que<br />

em mim não é só meu, para a necessidade de reverenciar o mistério que sustenta a mim, a<br />

você, a vida, o universo.<br />

Esta percepção é ratificada nas palavras de Merleau-Ponty quando afirma:<br />

Já que as coisas e meu corpo são feitos do mesmo estofo, cumpre que sua visão se<br />

produza de alguma maneira nelas, ou ainda que a visibilidade manifesta delas se<br />

acompanhe nele de uma visibilidade secreta. [...] Qualidade, luz, cor, profundidade,<br />

que estão a uma certa distância diante de nós, só estão aí porque despertam um eco<br />

em nosso corpo, porque este as acolhe.<br />

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