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Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi

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A partir de Paulo de Tarso surgiu <strong>um</strong>a religião dirigida a to<strong>do</strong>s os seres<br />

h<strong>um</strong>anos em que "não há mais judeus nem gentios". Ela contém <strong>um</strong>a fonte<br />

de universalidade concreta que se dirige à multiplicidade h<strong>um</strong>ana em suas<br />

diferentes etnias e que se reencontrará no Islã e, depois, sob forma laicizada,<br />

no h<strong>um</strong>anismo europeu.<br />

Encontramos outra fonte de universalidade na herança cultural helênica:<br />

qualquer ser h<strong>um</strong>ano é <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de razão, o que lhe permite exercer<br />

sua <strong>com</strong>petência na política da Pólis. A deusa Atena não dirige a cidade<br />

de Atenas, ela a protege. quem dirige é a Assembleia <strong>do</strong>s cidadãos. E na<br />

democracia, <strong>com</strong>o na filosofia ateniense, o debate desempenha <strong>um</strong> papel<br />

central: é o caminho para a verdade. Além disso, a filosofia se define não<br />

somente <strong>com</strong>o <strong>um</strong>a busca de sabe<strong>do</strong>ria mas, ainda mais, <strong>com</strong>o <strong>um</strong>a vontade<br />

de reflexão acerca de todas as coisas.<br />

Precisamos também ass<strong>um</strong>ir a herança universalista <strong>do</strong> Império Romano<br />

expressa no edito de Caracala, que reconheceu os direitos de<br />

cidadão romano a qualquer habitante <strong>do</strong> Império, independentemente<br />

de sua origem étnica.<br />

é necessário, igualmente, ass<strong>um</strong>ir a mensagem <strong>do</strong> Renascimento — outra<br />

mensagem <strong>do</strong> Sul — e é essa mensagem que precisamos ass<strong>um</strong>ir e retomar<br />

expressa no termo "problematizar". O Renascimento é <strong>um</strong> movimento <strong>do</strong><br />

espírito no qual se problematiza o mun<strong>do</strong>: "O que é o mun<strong>do</strong>?" Problematiza-se<br />

o homem: "O que é o homem?" Problematiza-se a natureza: "O que<br />

é a natureza?" Problematiza-se Deus: "De qual Deus falamos? Ele existe?"<br />

<strong>um</strong> h<strong>um</strong>anismo nasceu a partir dessa problematização. A palavra "h<strong>um</strong>anismo"<br />

tem duas faces. há <strong>um</strong>a face que precisamos aban<strong>do</strong>nar. é a <strong>do</strong> homem<br />

<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>r, destina<strong>do</strong> a se tornar senhor e mestre da natureza, segun<strong>do</strong><br />

a formulação de Descartes. Devemos rejeitar esse h<strong>um</strong>anismo arrogante,<br />

porque sabemos, de agora em diante, que qualquer vontade de <strong>do</strong>minar a<br />

natureza degrada, não apenas essa natureza, mas também nossa h<strong>um</strong>anidade,<br />

inseparavelmente ligada a ela, que depende dela ainda mais <strong>do</strong> que ela<br />

de nós. A outra face <strong>do</strong> h<strong>um</strong>anismo é a <strong>do</strong> valor e da dignidade de to<strong>do</strong> ser<br />

h<strong>um</strong>ano, qualquer que seja ele, venha de onde vier. é esse h<strong>um</strong>anismo que<br />

devemos não apenas ass<strong>um</strong>ir, mas também propagar nesta era planetária,<br />

em que toda a h<strong>um</strong>anidade vive <strong>um</strong>a <strong>com</strong>unidade de destino.<br />

Temos que ass<strong>um</strong>ir também a herança cultural <strong>do</strong> Renascimento, porque<br />

hoje, de novo, devemos problematizar o mun<strong>do</strong>. Nosso universo não é<br />

mais o de Copérnico e o de galileu, no qual o sol se tornara central. é <strong>um</strong><br />

universo absolutamente gigantesco, onde não há mais centro, onde a Terra<br />

é o minúsculo planeta de <strong>um</strong> minúsculo sol, astro menor de <strong>um</strong>a pequena<br />

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