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Anais do II Simpósio Winnicott de Londrina - BVS Psicologia ...

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ANAIS DO <strong>II</strong> SIMPÓSIO WINNICOTT DELONDRINA<strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise<strong>Londrina</strong>2013


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseComissão Organiza<strong>do</strong>raProf. Dr. É<strong>de</strong>r Soares SantosProfa. Dra. Carla Maria Lima BragaProf Dra. Maíra Bonafé SeiCoor<strong>de</strong>nação AdjuntaProf. Dr. José Fernan<strong>de</strong>s WeberProf. Dr. Marcos NalliAssistentes <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>naçãoMiriele Sicote GouvêaFrancislaine Brasil CenciAna Carolina Lima BragaComissão Editorial <strong>do</strong>s <strong>Anais</strong>:Profª. Drª. Carla Maria Lima BragaProfº.Dr. E<strong>de</strong>r Soares <strong>do</strong>s SantosProfª. Drª. Maíra Bonafé SeiMonitoresAlexia Rodrigues RuizAmanda Galvim BanaClara Maki InabaCinthia CavalcanteDaniela Cristina OliveiraDaniela Yumi Cianca OkimuraDavid Lourenço Martins da CostaDébora Kalwana <strong>do</strong>s SantosEstefani Nayara BarcellosFábio Augusto <strong>do</strong> ImpérioFabrício <strong>de</strong> Oliveira RamosFlávia Angelo VercezeGeovanna Moreno CiancaGuilherme Devequi QuintilhanoMarcelo Apareci<strong>do</strong> da SilvaMário Reinal<strong>do</strong> da SilvaPedro Henrique Silveira RauchbachRessalva: Os textos apresenta<strong>do</strong>s são <strong>de</strong> criação original <strong>do</strong>s autores, que respon<strong>de</strong>rãoindividualmente por seus conteú<strong>do</strong>s ou por eventuais impugnações <strong>de</strong> direito por parte <strong>de</strong>terceirosUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>ii


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseCatalogação na publicação elaborada pela Divisão <strong>de</strong> Processos Técnicos daBiblioteca Central da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.Da<strong>do</strong>s Internacionais <strong>de</strong> Catalogação-na-Publicação (CIP)S612aSimpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (2. : 2012 : <strong>Londrina</strong>, PR)<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> [livro eletrônico] : <strong>Winnicott</strong>na história da psicanálise / comissão organiza<strong>do</strong>ra: É<strong>de</strong>r Soares <strong>do</strong>s Santos,Carla Maria Lima Braga, Maíra Bonafé Sei. – <strong>Londrina</strong> : UEL, 2013.1 arquivo digital.Disponível em: http://www.uel.br/eventos/simposiowinnicott/Inclui bibliografia.ISBN 978-85-78461-95-91. <strong>Winnicott</strong>, D.W. (Donald Woods), 1896-1971 – Congressos. 2. Psicanálise– Congressos. 3. Filosofia – Congressos. I. Santos, É<strong>de</strong>r Soares <strong>do</strong>. <strong>II</strong>. Braga,Carla Maria Lima. <strong>II</strong>I. Sei, Maíra Bonafé. IV. Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong><strong>Londrina</strong>. V. Título.CDU 159.964.2Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>iii


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseAna Vitória Salimon C. <strong>do</strong>s SantosAgressivida<strong>de</strong> infantil no ambiente escolar ........................................................................................ 92Tamires GazolaAndréa Fernan<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Araújo GasquesAs implicações <strong>de</strong> um ambiente que po<strong>de</strong> não ter si<strong>do</strong> suficientemente bom ................................. 93Cinthia CavalcanteCarla Maria Lima BragaClínica da transicionalida<strong>de</strong> e a tendência anti-social: uma análise <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente em conflitocom a lei .............................................................................................................................................. 101Josiane Santos Costa MartinsKarina AnshauLincoln Silva BorgesMarco Antonio <strong>do</strong> CarmoMérylin Janazze GarciaNatalia Zanuto <strong>de</strong> OlivieraConsi<strong>de</strong>rações a respeito da transferência na perspectiva winnicottiana ....................................... 110Ana Lúcia VolpatoJorge Luís Ferreira AbrãoDiana Pancini <strong>de</strong> Sá Antunes RibeiroConstruin<strong>do</strong> o <strong>de</strong>sconstruí<strong>do</strong>: a família <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> setting ................................................................ 118Alessandra Elisa GromowskiAngela Maria Zechim Luziano da SilvaCarla Maria Lima BragaMariana Grassi <strong>do</strong> NascimentoDa gestação ao nascimento: encontros e <strong>de</strong>sencontros ..................................................................... 119Ana Paula MarsonAna Carolina MassaroAmanda Bernar<strong>do</strong> GuimarãesElizângela <strong>de</strong> Freitas SilvaJuliana Fiorim da EncarnaçãoDireito como realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Eros ........................................................................................................... 128César BessaAldacy CoutinhoEi mãe, me <strong>de</strong>ixa ser a<strong>do</strong>lescente! ....................................................................................................... 129Mayara BarrosCarla Maria Lima Braga“Espelho, espelho meu, existe mulher mais <strong>do</strong>ente <strong>do</strong> que eu?”: Quan<strong>do</strong> Narcisa tem umfilho com <strong>de</strong>ficiência visual ............................................................................................................... 130Bruno Aurélio da Silva FinotoFalso Self: A <strong>de</strong>fesa contra o verda<strong>de</strong>iro self a partir <strong>do</strong> referencial winnicottiano ...................... 131Carla Maria Lima BragaFlávia Angelo VercezeHei<strong>de</strong>gger e a Fenomenologia .............................................................................................................. 138E<strong>de</strong>r Soares SantosMário Reinal<strong>do</strong> da SilvaLar, <strong>do</strong>ce lar: reflexos <strong>do</strong> aban<strong>do</strong>no parental .................................................................................... 139Ana Claudia Petryszyn AssisCarla Maria Lima BragaNovo paradigma na Psicanálise: vida e trajetória teórico-prática <strong>de</strong> Donald Woods <strong>Winnicott</strong> . 140Gabrieli Franciscatti DiasCíntia MarsonDiana Pancini <strong>de</strong> Sá Antunes RibeiroO conceito <strong>de</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> hesitação aplica<strong>do</strong> à clínica winnicottiana com crianças na saú<strong>de</strong>pública ................................................................................................................................................. 141Flávia MoraesLídia Pereira da SilvaDiana Pancini <strong>de</strong> Sá Antunes RibeiroO cuidar <strong>do</strong> sofrimento humano: a que se presta a terapia winnicottiana? ................................... 142Manuela Campos PérgolaO impacto <strong>de</strong> um suicídio materno no <strong>de</strong>senvolvimento infantil e a re-construção <strong>de</strong> umUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>v


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseambiente suficientemente bom com auxílio da psicoterapia ......................................................... 150Lidiane G. Ran<strong>do</strong>Ana Vitória Salimon C. <strong>do</strong>s SantosO jogo e o lúdico na construção subjetiva, um olhar psicopedagógico ............................................ 151Guilherme Afonso Pereira PalaciosNilce da SilvaO médico e o monstro: reflexões a cerca <strong>de</strong> um bor<strong>de</strong>rline .............................................................. 160Tatiane Kelli RodriguesCarla Maria Lima BragaO passa<strong>do</strong> não reconhece o seu lugar: está sempre presente - um estu<strong>do</strong> sobre abuso sexual àluz da teoria winnicottiana ................................................................................................................ 161Bruna Maria <strong>de</strong> SouzaCarla Maria Lima BragaO uso da consulta terapêutica em crianças vítimas <strong>de</strong> abuso sexual: a experiência no contextoinstitucional ........................................................................................................................................ 169Cristina Fukumori WataraiOs componentes ontológicos da Psicanálise <strong>Winnicott</strong>iana .............................................................. 170Fabrício Ramos <strong>de</strong> OliveiraÉ<strong>de</strong>r Soares SantosOs traços <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescer: Desenho-Estória e a construção <strong>do</strong> olhar <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente sobre simesmo ................................................................................................................................................. 171Daniela Cristina OliveiraCarla Maria Lima BragaRumo à in<strong>de</strong>pendência: um estu<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> um atendimento clínico ......................................... 172Elizângela <strong>de</strong> Freitas SilvaCarla Maria Lima BragaTransferência na perspectiva psicanalítica winnicottiana: estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso com criança ............... 173Bruna Isabella RussoMariana Paschoal MartinsDiana Pancini <strong>de</strong> Sá Antunes RibeiroUm holding pros meus fantasmas ....................................................................................................... 174Débora Kalwana <strong>de</strong> Martini Lopes <strong>do</strong>s SantosCarla Maria Lima BragaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>vi


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseSexta 28/09/20128:30 AberturaProgramação9:00 - 10:00 Conferência <strong>de</strong> Abertura• <strong>Winnicott</strong> e FreudProf. Dr. Ro<strong>do</strong>lfo Fenile (UNISAL - SBPW)10:30 - 12:00 Mesa Re<strong>do</strong>nda• O trabalho <strong>do</strong> psicanalista <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a <strong>de</strong>mandaProfa Dra Diana Pancini <strong>de</strong> Sá Antunes Ribeiro (Unesp -Assis)• Corpo e Psicose: uma perspectiva winnicottianaProfa Dra Lilian Miranda (UFRRJ)14:00 - 15:15 Mesa Re<strong>do</strong>nda• Progresso da História da PsicanáliseProf. Dr. E<strong>de</strong>r Soares Santos (UEL - SBPW)• Teoria <strong>do</strong> Relacionamento mãe-bebê: a porta <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> nos USAProfa Dra. Ariadne Moraes (SBPW)15:15 - 16:30 Mesa Re<strong>do</strong>nda• <strong>Winnicott</strong> e BowlbyProfa Dra Roseana Moraes Garcia (SBPW)• <strong>Winnicott</strong> e KleinProfa Dra Carla Maria Lima Braga (UEL - SBPW)17:00 - 18:00 Apresentação <strong>de</strong> ComunicaçõesSába<strong>do</strong> 29/09/20129:00 - 10:00 Apresentação <strong>de</strong> Comunicações10:00 -11:00 Conferência• <strong>Winnicott</strong> e Ferenczi: aproximações e DiferençasProf Dra Elsa Oliveira Dias (SBPW)11:00 - 12:00 Mesa Re<strong>do</strong>nda• Consi<strong>de</strong>rações sobre o Jogo <strong>do</strong> RabiscoProfa Dra Maíra Bonafé Sei (UEL)• Consultas terapêuticas: algumas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atuaçãoProfa Dra Maria Ângela Fávero-Nunes (UEL)12:15 - 13:15 Conferência <strong>de</strong> Encerramento• <strong>Winnicott</strong> e JungProf. Dr. Zeljko Loparic (PUCPR - Unicamp - SBPW)Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>1


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseApresentaçãoCarla Maria Lima Braga 1É<strong>de</strong>r Soares Santos 2Maíra Bonafé Sei 3É com satisfação que apresentamos aos colegas os “<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio<strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise”. Este material é compostopor resumos e textos na íntegra <strong>do</strong>s trabalhos apresenta<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong> evento,realiza<strong>do</strong> entre 28 e 29/Setembro/2012. Divi<strong>de</strong>-se em três diferentes partes, a saber,Conferências e Mesas Re<strong>do</strong>ndas, ambas com textos <strong>do</strong>s palestrantes convida<strong>do</strong>s pelaComissão Organiza<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> evento, e Comunicações Orais, com textos <strong>de</strong> participantesinteressa<strong>do</strong>s em partilhar seus estu<strong>do</strong>s e experiências a partir <strong>do</strong> referencialwinnicottiano.Compreen<strong>de</strong>mos que o interesse e estu<strong>do</strong> da obra <strong>de</strong> D. W. <strong>Winnicott</strong> temcresci<strong>do</strong> nos últimos anos, fato que aponta para a importância <strong>do</strong>s conceitos <strong>de</strong>ste autorainda hoje. Os eventos como o aqui proposto se apresentam como um momento on<strong>de</strong>trocas po<strong>de</strong>m ser efetuadas, questionamentos po<strong>de</strong>m ser feitos, <strong>de</strong> maneira a fomentar o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> conhecimento e ampliação da aplicação das i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>.Po<strong>de</strong>r-se-ia dizer que a divulgação e pesquisa sobre a teoria <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> noBrasil foi ampliada em função <strong>de</strong> investigações promovidas pela filosofia da psicanálisee psicologia clínica e por uma mudança na concepção <strong>de</strong> leitura da psicanálise11 Psicóloga. Docente <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong><strong>Londrina</strong>. Membro da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Psicanálise <strong>Winnicott</strong>iana (SBPW) Mestre em Educaçãopela UEL. Doutora em <strong>Psicologia</strong> pela PUC/ Campinas. Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Projeto Integra<strong>do</strong> “A Clínica<strong>Winnicott</strong>iana: um estu<strong>do</strong> sobre a Teoria <strong>do</strong> Amadurecimento Pessoal e o Manejo Clínico”. Membro daSocieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Psicanálise <strong>Winnicott</strong>iana2 Doutor em Filosofia pela Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas (Unicamp). Desenvolveu uma tese sobre ateoria <strong>do</strong> amadurecimento pessoal <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> e o conceito <strong>de</strong> acontecência (Geschichtlichkeit) emHei<strong>de</strong>gger, sob fomento da Fundação <strong>de</strong> Amparo à Pesquisa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo (FAPESP). Esteveentre final <strong>de</strong> 2003 e início <strong>de</strong> 2005 em Friburgo, Alemanha, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolveu estágio <strong>do</strong>utoral naUniversitat Freiburg (Albert-Ludwigs) como bolsista <strong>do</strong> DAAD/CNPq. É membro <strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong> Filosofiae Práticas Psicoterápicas da PUC-SP (Grupofpp) e membro <strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong> trabalho em Filosofia ePsicanálise da Associação Nacional <strong>de</strong> Pós-graduação em Filosofia (ANPOF). Publicou em 2010 o livro“<strong>Winnicott</strong> e Hei<strong>de</strong>gger: aproximações e distanciamentos”. São Paulo: DWW Editoria/FAPESP.Atualmente é professor adjunto na Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> no Paraná e coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r <strong>do</strong>Mestra<strong>do</strong> em Filosofia da mesma universida<strong>de</strong>. Suas publicações versam sobre temas da psicanálise <strong>de</strong><strong>Winnicott</strong> e da filosofia <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>gger.3 Psicóloga, Mestre Doutora em <strong>Psicologia</strong> Clínica – IP-USP, Docente <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> ePsicanálise – CCB-UEL. Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão 01619 – “Atendimento a famílias pormeio <strong>do</strong>s recursos artístico-expressivos com base no referencial winnicottiano”. E-mail:mairabonafe@gmail.comUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>2


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisewinnicottiana levadas adiante, sobretu<strong>do</strong>, pelo Grupo <strong>de</strong> Pesquisa em Filosofia ePráticas Psicanalíticas, conduzi<strong>do</strong> pelo Zeljko Loparic.<strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser li<strong>do</strong> como apenas mais um <strong>do</strong>s continua<strong>do</strong>res da obra <strong>de</strong>Freud e passou a ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como o psicanalista que provocou uma mudança <strong>de</strong>paradigma na própria história da psicanálise. De forma bastante sumária, isto significadizer que a psicanálise winnicottiana não concentra a solução <strong>de</strong> seus problemasclínicos no mo<strong>de</strong>lo <strong>do</strong> Complexo <strong>de</strong> Édipo e sim na constituição <strong>de</strong> uma relação dualentre <strong>do</strong>is seres: um que precisa conquistar gradualmente maturida<strong>de</strong> para po<strong>de</strong>r-ser econquistar um senti<strong>do</strong> para uma vida real que valha a pena – o bebê – e outro que, pormeio <strong>de</strong> seus cuida<strong>do</strong>s, promove as condições necessárias para esta chegada – a mãe ouaquele que se <strong>de</strong>dica a um bebê. Isto não quer dizer que Freud tenha si<strong>do</strong> esqueci<strong>do</strong> eaban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>. Muito pelo contrário, <strong>Winnicott</strong>, partin<strong>do</strong> <strong>de</strong> Freud, se <strong>de</strong>bruçou sobreproblemas que a psicanálise freudiana não conseguia resolver <strong>de</strong> forma satisfatóriacomo a questão <strong>do</strong>s distúrbios emocionais graves quer em crianças em tenra ida<strong>de</strong> querem adultos; ten<strong>do</strong> chega<strong>do</strong> a formular concepções próprias e originais sobre saú<strong>de</strong> e<strong>do</strong>enças psíquicas.<strong>Winnicott</strong> passou a ser li<strong>do</strong> por si mesmo, isto é, sem as lentes kleinianas e semas lentes freudianas. Des<strong>de</strong> então, questões como: há uma teoria winnicottiana?<strong>Winnicott</strong> não é apenas uma extensão revisada da obra <strong>de</strong> Melanie Klein? O que há <strong>de</strong>original no pensamento <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> não é apenas uma teoria sobre o brincar? Taisquestões já estão ultrapassadas e não fazem mais senti<strong>do</strong>. <strong>Winnicott</strong> nos apresenta umcomplexo arcabouço teórico chama<strong>do</strong> teoria <strong>do</strong> amadurecimento pessoal que conseguediscutir e oferecer bases para se refletir e tratar tanto <strong>de</strong> neuroses como <strong>de</strong> psicoses.Os artigos que estão reuni<strong>do</strong>s neste livro mostram em sua diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>abordagens teóricas e clínicas a riqueza e proficuida<strong>de</strong> da teoria <strong>do</strong> amadurecimento,<strong>de</strong>svelan<strong>do</strong>-nos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuarmos pesquisan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento dahistória da psicanálise e a história da psicanálise <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> no contexto dasmudanças <strong>de</strong> paradigma.Agra<strong>de</strong>cemos pelo apoio <strong>do</strong> Mestra<strong>do</strong> em Filosofia <strong>de</strong> Centro <strong>de</strong> Letras <strong>do</strong>Centro <strong>de</strong> Ciências Humanas e <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise <strong>do</strong> Centro<strong>de</strong> Ciências Biológicas da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, e pelo apoio daSocieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Psicanálise <strong>Winnicott</strong>iana.Boa leitura!Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>3


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseConferênciasUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>4


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise<strong>Winnicott</strong> e FreudRo<strong>do</strong>lfo Fenile 4ResumoPreten<strong>de</strong>-se apontar em linhas gerais a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Freud em formular uma ciência<strong>do</strong> tipo naturalista, contan<strong>do</strong> com conceitos auxiliares, crian<strong>do</strong> assim a metapsicologiaque norteia a teorização psicanalítica. Preten<strong>de</strong>-se igualmente apontar a maneira nãonaturalista e não metapsicológica <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> elaborar sua psicanálise, <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong>uma teoria <strong>do</strong> amadurecimento pessoal e não meramente uma teoria <strong>do</strong> funcionamento<strong>do</strong> aparelho psíquico.4 Psicólogo clínico. Membro afilia<strong>do</strong> da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Psicanálise <strong>Winnicott</strong>ianna. Professor <strong>do</strong>Centro <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> São Paulo e <strong>do</strong> Centro <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> Campinas. Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r adjunto e professor <strong>do</strong>curso <strong>de</strong> pós-graduação (lato sensu) "Interfaces da Psicanálise <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>" <strong>do</strong> Centro UNISAL -Lorena. Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r adjunto e professor <strong>do</strong> Grupo <strong>Winnicott</strong> <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Paraíba e <strong>do</strong>s Colóquios<strong>Winnicott</strong> <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Paraíba. Possui formação em Filosofia, Teologia e <strong>Psicologia</strong>.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>5


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise<strong>Winnicott</strong> e Ferenczi: aproximações e DiferençasElsa Oliveira Dias 5ResumoO estu<strong>do</strong> visa examinar e cotejar as críticas formuladas à psicanálise freudiana,inicialmente por Ferenczi e mais tar<strong>de</strong>, por <strong>Winnicott</strong>, e comparar as soluções propostaspor ambos, ao constatarem, cada qual em sua época, a crise à qual fica exposta apsicanálise tradicional caso não reveja certos aspectos fundamentais <strong>de</strong> sua teoria e <strong>de</strong>sua técnica clínica.5 Possui graduação em <strong>Psicologia</strong> pela Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São Paulo (1975) , mestra<strong>do</strong>em Filosofia pela Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São Paulo (1984) e <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em <strong>Psicologia</strong>(<strong>Psicologia</strong> Clínica) pela Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São Paulo (1998). Tem experiência na área<strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>, com ênfase em <strong>Psicologia</strong> <strong>do</strong> Desenvolvimento Humano. Atuan<strong>do</strong> principalmente nosseguintes temas: <strong>Winnicott</strong>, amadurecimento, distúrbio psíquico, psicose, trauma e agonias impensáveis.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>6


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise<strong>Winnicott</strong> e JungZeljko Loparic 6ResumoDe início, o presente artigo reconstrói a avaliação winnicottiana da psicologia analítica eda autobiografia <strong>de</strong> Jung, explicitan<strong>do</strong> a maneira como <strong>Winnicott</strong> concebeu a oposiçãoentre Jung e Freud, tanto em termos pessoais com teóricos. Em seguida, são estuda<strong>do</strong>scertos temas centrais da psicanálise winnicottiana, cuja elaboração revela traços <strong>do</strong>diálogo com Jung. Por fim, apresentam-se argumentos para a tese <strong>de</strong> que a psicanálisewinnicottiana po<strong>de</strong> ser vista como a superação da oposição entre Jung e Freud.Palavras-chave: <strong>Winnicott</strong>, Jung, Freud, psicanálise, psicologia analítica.6 Possui graduação em Filosofia - Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Louvain (1962), mestra<strong>do</strong> em Filosofia -Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Louvain (1965), <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em Filosofia - Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Louvain(1982) e pós-<strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em Filosofia pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Konstanz (1987). Atualmente, é professorcolabora<strong>do</strong>r da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas e <strong>do</strong>cente da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>do</strong>Paraná. Tem experiência <strong>de</strong> ensino e pesquisa na área <strong>de</strong> Filosofia, com ênfase em História da Filosofia eFilosofia da Psicanálise, <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> trabalhos principalmente sobre seguintes autores e temas: Kant,Hei<strong>de</strong>gger, <strong>Winnicott</strong>, semântica transcen<strong>de</strong>ntal, pensamento pós-metafísico e paradigma winnicottiano.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>7


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseMesas Re<strong>do</strong>ndasUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>8


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>9


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseO trabalho <strong>do</strong> psicanalista <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a <strong>de</strong>mandaDiana Pancini <strong>de</strong> Sá Antunes Ribeiro 7ResumoBuscou-se analisar as consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> sobre o trabalho <strong>do</strong> analista,especialmente o que foi por ele <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a <strong>de</strong>manda <strong>do</strong> paciente esua pertinência na atualida<strong>de</strong> da saú<strong>de</strong> mental pública. Ao falar sobre possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>atendimento psicanalítico para <strong>Winnicott</strong> são focalizadas também suas exposições sobreo valor da Consulta Terapêutica, além <strong>do</strong>s trabalhos com uso <strong>do</strong> Jogo da Espátula.Consi<strong>de</strong>ra-se a pertinência <strong>de</strong>sta discussão para pensarmos sobre <strong>de</strong>mandas, tanto <strong>do</strong>spacientes crianças quanto sobre as <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> seus responsáveis. Quan<strong>do</strong> se fala dapsicanálise na saú<strong>de</strong> pública este tema se reveste <strong>de</strong> suma importância <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> àsquestões práticas que se apresentam no espaço público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Palavras-chave: Psicanálise com crianças, <strong>Winnicott</strong>, Saú<strong>de</strong> PúblicaAbstractWe sought to examine the consi<strong>de</strong>rations of <strong>Winnicott</strong> on the analyst's work, especiallythat which was called by him according to patient <strong>de</strong>mand and its relevance in today'spublic mental health. When talking about possibilities of psychoanalytic treatment for<strong>Winnicott</strong> are also focused their presentations on the value of the TherapeuticConsultation, plus use of the work with the Game of Spatula. It is consi<strong>de</strong>red therelevance of this discussion to think about the <strong>de</strong>mands of both children and patientsabout the <strong>de</strong>mands of their guardians. When speaking of psychoanalysis in this publichealth issue is of utmost importance due to practical issues that arise in public health.Keywords: Psychoanalysis with children, <strong>Winnicott</strong>, Public Health.IntroduçãoQuan<strong>do</strong> fui convidada para este Simpósio estava justamente len<strong>do</strong> o livro <strong>de</strong><strong>Winnicott</strong> The Piggle: Relato <strong>do</strong> Tratamento Psicanalítico <strong>de</strong> uma menina, <strong>de</strong> 1987.Não foi, portanto, aleatoriamente que escolhi este tema, visto que estava e estou7 Professora Assistente Doutora <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> Clínica <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> daUNESP/Assis. Mestre em <strong>Psicologia</strong> Clínica pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Doutora em <strong>Psicologia</strong>como Profissão e Ciência pela PUC-Campinas. Pesquisa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong> Pesquisa (CNPq) Figuras emo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> subjetivação no contemporâneo. E-mail: diana@assis.unesp.br.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>10


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseimplicada com a questão <strong>de</strong> nossa prática clínica em enquadres diferencia<strong>do</strong>s,especialmente na saú<strong>de</strong> pública em unida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e estratégias <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dafamília. Nada mais natural <strong>do</strong> que o tema <strong>de</strong> um enquadre clínico diferencia<strong>do</strong> propostopor <strong>Winnicott</strong> que já se preocupava com questões práticas <strong>de</strong> seus pacientes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> osprimórdios <strong>de</strong> sua atuação como pediatra e psicanalista.Foi em um Pré congresso ao Congresso Internacional <strong>de</strong> Psicanálise na Europa,em junho <strong>de</strong> 1969 que <strong>Winnicott</strong> apresentou, para ser supervisiona<strong>do</strong> por Ishak Ramzy(que fora seu aluno) o caso por ele <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> <strong>de</strong> psicanálise <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a<strong>de</strong>manda (1987, p. 12). Tratava-se <strong>do</strong> caso <strong>de</strong> uma pequena garota apelidada <strong>de</strong> Piggleque foi conduzi<strong>do</strong> por meio <strong>de</strong> sessões infrequentes e irregulares, sempre realizadasapós solicitação da garota e com ampla participação <strong>de</strong> seus pais, especialmente <strong>de</strong> seupai nas próprias sessões. Abriu-se na época amplo <strong>de</strong>bate sobre se o que era por eleexposto se tratava <strong>de</strong> análise ou <strong>de</strong> psicoterapia.No prefácio <strong>do</strong> livro The Piggle, Ramzy aponta que <strong>Winnicott</strong> dizia não sercapaz <strong>de</strong> estabelecer esta distinção. Ele resume a questão ao dizer que o que importa ésaber se o terapeuta fez treinamento analítico ou não. Em 1962, volta ao assunto numafrase famosa que provavelmente vocês já <strong>de</strong>vem ter ouvi<strong>do</strong> que é:Gosto muito <strong>de</strong> fazer análise e sempre aguar<strong>do</strong> com expectativa o final<strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las. A análise pela análise não tem senti<strong>do</strong> para mim.Faço análise porque é disso que o paciente precisa e aceita. Se opaciente não precisa <strong>de</strong> análise, faço então, outra coisa. Na análise,pergunta-se: quanto é permiti<strong>do</strong> fazer? Por contraste, em minha clínica,o lema é: quão pouco precisa ser feito? (WINNICOTT, 1983/1962,p.152).E continua:Em minha opinião, nossos objetivos no exercício da técnica não sãoaltera<strong>do</strong>s, no caso <strong>de</strong> interpretarmos os mecanismos mentais quepertencem aos tipos psicóticos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m e aos estágios primitivosnas fases emocionais <strong>do</strong> indivíduo. Se nosso objetivo continua a ser o<strong>de</strong> verbalizar o consciente incipiente em termos da transferência, entãoestaremos fazen<strong>do</strong> análise; caso contrário, seremos então analistasfazen<strong>do</strong> outra coisa que consi<strong>de</strong>ramos apropriada à ocasião. E por quenão? (WINNICOTT, 1983/1962, p. 155).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>11


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseEntão se trata <strong>de</strong> discorrer sobre a necessida<strong>de</strong>, em algumas situações <strong>de</strong> nossaprática, <strong>de</strong> sermos um psicanalista fazen<strong>do</strong> outra coisa mais apropriada à ocasião,manten<strong>do</strong> o rigor teórico e a coerência com o méto<strong>do</strong> psicanalítico.Dias (2003) nos ofertou um livro no qual apresenta <strong>de</strong> forma unitária, segun<strong>do</strong>suas próprias palavras, o corpo conceitual da teoria winnicottiana e organiza e <strong>de</strong>screveos vários estágios <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> Amadurecimento Pessoal <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>. Segun<strong>do</strong> ela:A ênfase <strong>de</strong>ssa teoria recai sobre os estágios iniciais, pois é nesseperío<strong>do</strong> que estão sen<strong>do</strong> constituídas as bases da personalida<strong>de</strong> e dasaú<strong>de</strong> psíquica. Iluminan<strong>do</strong> o que se passa na peculiar relação bebêmãe,<strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>screve as necessida<strong>de</strong>s humanas fundamentais – que,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as etapas mais primitivas, permanecem ao longo da vida até amorte <strong>do</strong> indivíduo – e as condições ambientais que favorecem aconstituição paulatina <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> unitária – que to<strong>do</strong> bebê <strong>de</strong>ve po<strong>de</strong>ralcançar -, incluídas aí a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionar-se com o mun<strong>do</strong> ecom os objetos externos e <strong>de</strong> estabelecer relacionamentos interpessoais(DIAS, 2003, p. 13).A Teoria <strong>do</strong> Amadurecimento é, portanto, o ponto <strong>de</strong> partida, o cerne <strong>do</strong>pensamento winnicottiano e sobre o qual se assenta a base da saú<strong>de</strong> psíquica e <strong>do</strong>sdistúrbios psíquicos, com a classificação <strong>de</strong>stes, e das várias imaturida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> homem.Também sobre esta base teórica repousam as possíveis ações terapêuticas, a prevenção ea cura <strong>de</strong>stas <strong>do</strong>enças e imaturida<strong>de</strong>s.Saú<strong>de</strong> relaciona-se, por conseguinte, à a<strong>de</strong>quação entre maturida<strong>de</strong> emocional eida<strong>de</strong> cronológica e as patologias psíquicas relacionam-se às imaturida<strong>de</strong>s persistentesao longo <strong>do</strong> tempo e estariam em <strong>de</strong>sacor<strong>do</strong> com a ida<strong>de</strong> cronológica da pessoa.O que <strong>de</strong>staco é o papel atribuí<strong>do</strong> por <strong>Winnicott</strong> ao ambiente que recebe o bebê eque tem na família o principal veículo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> e <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong>ste novo serhumano. As necessida<strong>de</strong>s da criança e os cuida<strong>do</strong>s que requerem e recebem ou não dafamília, configuram importantes da<strong>do</strong>s a serem observa<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> se instala uma<strong>do</strong>ença psíquica que solicita a atuação <strong>de</strong> um psicanalista.O valor atribuí<strong>do</strong> por <strong>Winnicott</strong> a situação familiar é fundamental na condução<strong>do</strong>s procedimentos terapêuticos indica<strong>do</strong>s em cada caso em particular.O que preten<strong>do</strong> enfatizar é que há uma diferença muito gran<strong>de</strong> ao se receber naclínica uma criança com psicopatologia subjacente aos primórdios <strong>de</strong> sua vida, relativaà <strong>de</strong>pendência absoluta <strong>do</strong> bebê, ou se receber uma criança cuja psicopatologia remete à<strong>de</strong>pendência relativa, especialmente quan<strong>do</strong> já se constitui como uma pessoa, comoUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>12


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisenão-eu. Assim como se receber uma criança que caminha rumo a sua in<strong>de</strong>pendência(nunca alcançada em sua totalida<strong>de</strong>).São várias as condições psicopatológicas possíveis <strong>de</strong> ocorrerem ao longo <strong>do</strong>processo <strong>de</strong> amadurecimento, mas todas dizem respeito à relação estabelecida ou nãoentre a criança e as pessoas que <strong>de</strong>la cuidam. <strong>Winnicott</strong> discorre sobre as funçõesmaternas e paternas que são fundamentais para se compreen<strong>de</strong>r sua teoria e apsicopatologia que subjaz a esta, mas não objetivo me aprofundar nesta questão, nemela é a temática principal da minha fala. Embora reconheça ser ela importante para suacompreensão.O que me parece imprescindível é o fato <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> por Dias (2003) <strong>de</strong> que sãoas psicoses e não as neuroses, o paradigma <strong>do</strong> a<strong>do</strong>ecer humano para <strong>Winnicott</strong>. Há quese <strong>de</strong>stacar e privilegiar os estágios <strong>de</strong> amadurecimento iniciais. Dias nos ensina que“Referi<strong>do</strong> às tarefas fundamentais <strong>do</strong> início da vida, os distúrbios psicóticos <strong>de</strong>rivam <strong>do</strong>fracasso ambiental em favorecer a resolução <strong>de</strong>ssas tarefas, transforman<strong>do</strong>-as emconquistas <strong>do</strong> amadurecimento” (2003, p. 15).Penso então que cada caso clínico seja único e solicite uma resposta própria ànecessida<strong>de</strong> inerente àquela criança, naquele meio ao qual esta pertença (viva).Sob os preceitos da Teoria <strong>do</strong> Amadurecimento <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>vem-se realizardiagnósticos pessoais da criança e <strong>de</strong> seu processo maturacional, e diagnósticos sociaisda família, da escola, entre outros, para que se saiba o que esperar em termospsicopatológicos ou não, assim como <strong>de</strong> acolhimento <strong>do</strong> meio às respostas da criança aotratamento psicanalítico indica<strong>do</strong>. Isto também recomenda que estas avaliações sejamefetuadas ao longo <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> tratamento. <strong>Winnicott</strong> já indicava o tanto quevalorizava o diagnóstico:Como tantas vezes se mostra verda<strong>de</strong>iro quan<strong>do</strong> examinamos ummecanismo psicanalítico, trata-se <strong>de</strong> uma questão <strong>de</strong> diagnóstico, e, sefossemos melhores em diagnóstico, pouparíamos a nós mesmos e anossos pacientes um boca<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo e <strong>de</strong>sespero (WINNICOTT,1994/1968, p. 182).Na realização <strong>de</strong> diagnósticos, Serralha (2009) diz que:Se <strong>de</strong>scarta<strong>do</strong>s os problemas <strong>de</strong> malformação <strong>do</strong> cérebro e outrosproblemas neurológicos que contribuem para imaturida<strong>de</strong>s, estasresultariam <strong>de</strong> falhas por parte <strong>do</strong> ambiente, no fornecimento <strong>de</strong>Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>13


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisecuida<strong>do</strong>s facilita<strong>do</strong>res <strong>do</strong> amadurecimento emocional da criança. Desseponto <strong>de</strong> vista, cada caso clínico teria necessida<strong>de</strong>s diferentes quepo<strong>de</strong>riam exigir mudanças na técnica psicanalítica clássica, cujoprincipal recurso é a interpretação. Essa técnica clássica seria aplicávelaos casos <strong>de</strong> neuroses, ou seja, casos em que o amadurecimento dacriança não foi bloquea<strong>do</strong> em ida<strong>de</strong> mais precoce por ina<strong>de</strong>quação <strong>do</strong>ambiente, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ela alcançar um grau <strong>de</strong> integração maior que lhepossibilite a condição <strong>de</strong> ser um si mesmo individual (p. 149).E os casos mais graves, ditos difíceis, como <strong>de</strong> autismo? Estes necessitariam <strong>de</strong>manejo clínico diferencia<strong>do</strong> da técnica clássica, no qual se <strong>de</strong>staca o oferecimento <strong>de</strong>holding (sustentação psíquica e até mesmo física, em alguns casos). Massud Khan, noprefácio <strong>do</strong> livro <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> Da pediatria à psicanálise, <strong>de</strong>fine o manejo:O manejo é, na verda<strong>de</strong>, o provimento daquela adaptação ambiental, nasituação clínica e fora <strong>de</strong>la, que faltou ao paciente no seu processo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento e sem o qual tu<strong>do</strong> o que ele po<strong>de</strong> fazer é existir pelaexploração reativa <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, assim como pelo seupotencial <strong>do</strong> id. Só quan<strong>do</strong> o manejo foi eficaz para o paciente é que otrabalho interpretativo po<strong>de</strong> ter valor clínico. O manejo e o trabalhointerpretativo muitas vezes caminham la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>, apoian<strong>do</strong>-semutuamente, um facilitan<strong>do</strong> a ação <strong>do</strong> outro na experiência <strong>de</strong> vida total<strong>do</strong> paciente (2000, p. 28).Segun<strong>do</strong> Avellar (2004) as principais características <strong>do</strong> manejo são:[...] criar um setting protegi<strong>do</strong> <strong>de</strong> invasões; propiciar ao paciente aquilo<strong>de</strong> que necessita: ausência <strong>de</strong> intrusão pela interpretação, presençacorporal sensível; permitir que o paciente se movimente livremente peloconsultório e faça o que sentir necessida<strong>de</strong>; e, pelo manejo, propiciaraspectos <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> que o ambiente familiar e social não proporcionaria(p. 91-92).Como consequência <strong>do</strong> manejo há a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um trabalho interpretativobem sucedi<strong>do</strong>, corroboran<strong>do</strong> a tese <strong>de</strong> que manejo e interpretação po<strong>de</strong>m sercomplementares.Para <strong>Winnicott</strong> a interpretação tem como propósito a inclusão <strong>de</strong> um sentimentoque o analista tem <strong>de</strong> que foi feita uma comunicação, que precisa ser reconhecida e queo analista está tentan<strong>do</strong> alcançar corretamente o senti<strong>do</strong> daquilo que foi comunica<strong>do</strong>.Muitas vezes, a comunicação se dá no silêncio da sessão.Avellar (2004) acrescenta que:Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>14


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseA questão principal em <strong>Winnicott</strong> é compreen<strong>de</strong>r qual a comunicaçãoessencial que o paciente está fazen<strong>do</strong> naquele momento da sessão e<strong>de</strong>volvê-la <strong>de</strong> uma maneira que ele possa ouvir e reconhecer. Acomunicação essencial se dá no espaço potencial porque é aí que oindividuo busca aquilo que aten<strong>de</strong> às suas necessida<strong>de</strong>s<strong>de</strong>senvolvimentais. E o analista proporciona o ambiente necessário paraque esta comunicação aconteça. A confiabilida<strong>de</strong> é condição para essetipo <strong>de</strong> trabalho (p. 93).Quan<strong>do</strong> se fala em interpretação, portanto, se consi<strong>de</strong>ra como fundamental acapacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> analista <strong>de</strong> fornecer holding ao paciente. Essa capacida<strong>de</strong> reflete naforma como se oferece a interpretação (gestos, tom <strong>de</strong> voz, silêncio, etc.).Falan<strong>do</strong> em comunicação essencial, comunicação significativa que ocorre noespaço potencial e por meio da capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> analista <strong>de</strong> oferecer holding, observa-se oque foi <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> por <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> Consultas Terapêuticas. Essas têm umacaracterística muito peculiar, pois representam a exploração integral das primeirasentrevistas psicológicas e, ainda, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliação e intervenção psicológicaem encontros analíticos que se respaldam numa comunicação significativa entreterapeuta e paciente (LESCOVAR, 2001). As Consultas Terapêuticas duravam <strong>de</strong> uma atrês sessões, caracterizan<strong>do</strong>-se como uma intervenção breve.Não se efetiva a Consulta Terapêutica por meio <strong>de</strong> procedimentos técnicosespecíficos, nem estabeleci<strong>do</strong>s a priori: a comunicação é da dupla terapeuta e paciente;<strong>Winnicott</strong> utilizava com frequência o Jogo <strong>do</strong> Rabisco, que não se constituía enquantotécnica, mas sim <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong> suficiente para que fosse usa<strong>do</strong> por cada paciente <strong>de</strong>maneira própria. A comunicação significativa po<strong>de</strong> se dar por meio da fala, <strong>do</strong> brincar,<strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos, enfim <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> media<strong>do</strong>res dialógicos. É na transicionalida<strong>de</strong> que obrincar é propicia<strong>do</strong> e que o uso <strong>de</strong> media<strong>do</strong>res dialógicos faz senti<strong>do</strong> na clínica(MEDEIROS, 2003, P. 141).Ao discorrer sobre Consultas Terapêuticas, consi<strong>de</strong>rada então por <strong>Winnicott</strong>uma terapia rápida, com poucas sessões, este <strong>de</strong>monstra a importância que atribui àfamília na prevenção <strong>de</strong> distúrbios psíquicos e como veículo principal <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> eprevenção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> psíquica. Na condução <strong>de</strong> Consultas Terapêuticas com crianças afamília, ou uma situação familiar, é condição para que se use <strong>de</strong> Consultas Terapêuticas(LESCOVAR, 2001).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>15


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseLescovar (2001) em sua dissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> orientada por Loparic nos dizque isso se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> Consultas Terapêuticas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rda sustentação dada pela família à criança após o <strong>de</strong>sbloqueio em seu <strong>de</strong>senvolvimentoatingi<strong>do</strong> por meio das entrevistas.A família fazia parte <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> em diversas situações: ele trocavacartas e telefonemas com a família para avaliar seu próprio trabalho e para acompanharo <strong>de</strong>senvolvimento da criança; ele contava com a confiança e transferência positiva <strong>do</strong>spais para conseguir bons resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma breve. Para <strong>Winnicott</strong> a limitação para ouso e efetivação das Consultas Terapêuticas se dá também e em gran<strong>de</strong> parte peladisponibilida<strong>de</strong> ambiental para acolher seu próprio <strong>de</strong>senvolvimento, mais até <strong>do</strong> quepela gravida<strong>de</strong> <strong>do</strong> distúrbio da criança. Neste senti<strong>do</strong> po<strong>de</strong>mos afirmar a importância <strong>do</strong>diagnóstico dito social e da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> constante interlocução com a família <strong>de</strong>nossos pacientes.Lescovar acrescenta que “... em Consultas Terapêuticas, assim como no Jogo daEspátula, inicialmente, a criança <strong>de</strong>verá hesitar quanto à apresentação <strong>de</strong> suaproblemática” (p. 210). Khan (2000/1958) caracterizou o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> hesitação como abase da configuração da confiabilida<strong>de</strong> na relação profissional, como a matriz para aemergência <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> ilusão. Há que se esperar pelo gesto da criança. Nestesenti<strong>do</strong>, ainda segun<strong>do</strong> Khan, há clara diferença entre resistência e hesitação.<strong>Winnicott</strong> trabalhou no Paddington Green Children’s Hospital e no Queen’sHospital for Children por cerca <strong>de</strong> quatro décadas, nas quais aten<strong>de</strong>u a cerca <strong>de</strong> 60.000bebês, crianças, mães, pais e avós (Khan, 2000/1958). Ao longo <strong>de</strong>sse perío<strong>do</strong>,observou certo padrão <strong>de</strong> comportamento infantil com um objeto – a espátula – nasconsultas que realizava com os bebês e seus responsáveis, em geral com as mães.Descreve esse padrão <strong>de</strong> comportamento no Jogo da Espátula em seu trabalho“Observação <strong>de</strong> Bebês numa Situação Padronizada”, em 1941, e o <strong>de</strong>monstra com o quechama <strong>de</strong> “estágios”.Devi<strong>do</strong> à sua importância para a reflexão <strong>de</strong>ste artigo, reproduzimos abaixo o“Jogo da Espátula” tal como apresenta<strong>do</strong> por Avellar (2004):Estágio 1- O perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> hesitação. O bebê é atraí<strong>do</strong> pela espátula,esten<strong>de</strong> a mão para a espátula e, em seguida, percebe que a situaçãomerece ser consi<strong>de</strong>rada. Instaura-se um dilema, o momento é <strong>de</strong>expectativa e imobilida<strong>de</strong>. Nenhuma intervenção <strong>de</strong>ve ocorrer nessemomento. Estágio 2 – O bebê põe a espátula na boca e mastiga-a comUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>16


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseas gengivas. Ao invés <strong>de</strong> expectativa e imobilida<strong>de</strong>, surge autoconfiançaacompanhada <strong>de</strong> livre movimentação corporal, relacionada àmanipulação da espátula. O bebê está <strong>de</strong> posse da espátula e parecesentir que ela está sob o seu <strong>do</strong>mínio, à disposição <strong>do</strong>s seus propósitos<strong>de</strong> auto-expressão. Estágio 3- O bebê <strong>de</strong>ixa cair a espátula como quepor engano. Se ela lhe é <strong>de</strong>volvida, diverte-se, livran<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>laagressivamente. Em seguida, vai para o chão e diverte-se com outrosobjetos [...]. (Avellar, 2004, p. 75).Po<strong>de</strong>mos notar que é por meio da hesitação que o bebê sente o ambiente, sefamiliariza com ele, para que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> estabelecida a confiança e recebida a“autorização” <strong>do</strong>s responsáveis por aquele ambiente e objeto, possa explorá-lo por umgesto espontâneo, que origina uma maneira <strong>de</strong> se colocar naquele momento. Na situaçãoanalítica, analogamente, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que o brincar <strong>do</strong> paciente seja o gestoespontâneo possibilita<strong>do</strong> pelo estabelecimento <strong>de</strong> um setting <strong>de</strong> confiança que não sejainvasivo, antecipan<strong>do</strong> a “colocação da espátula na boca” <strong>do</strong> bebê-paciente.Coloco-me em acor<strong>do</strong> com Khan (2000), para o qual:O conceito <strong>do</strong> “perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> hesitação” acrescenta algo novo ao conceitoclássico <strong>de</strong> resistência conforme o conhecemos <strong>do</strong>s trabalhos <strong>de</strong> Freud.É muito freqüente encontrarmos em escritos psicanalíticosinterpretações da resistência <strong>de</strong> um paciente, quan<strong>do</strong> na verda<strong>de</strong> opaciente se encontra em um “perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> hesitação”, ou seja, em outraspalavras, o paciente está <strong>de</strong> fato tatean<strong>do</strong> para encontrar “uma espécie<strong>de</strong> intimida<strong>de</strong>” na situação analítica, on<strong>de</strong> ele irá aos poucos fazer a suaprimeira contribuição verbal ou gestual [...] (p. 19).O Jogo da Espátula é um paradigma para pensarmos o ritmo e a temporalizaçãoda sessão e a organização <strong>do</strong> processo analítico como um to<strong>do</strong>. Tem começo/hesitação,<strong>de</strong>senvolvimento e fim/perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> finalização.O trabalho <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a <strong>de</strong>manda ou Psicanálise “compartilhada comos pais”Trabalhar com a modulação <strong>do</strong> tempo respeitan<strong>do</strong> o tempo <strong>de</strong> finalização da<strong>do</strong>pelo paciente com a conclusão <strong>de</strong> seu jogo possibilita que este não precise mais usar oanalista, pois a questão transferencial se conclui naquela sessão, com o analistapermitin<strong>do</strong> ser <strong>de</strong>struí<strong>do</strong> pelo paciente (AVELLAR, 2004).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>17


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseO trabalho <strong>do</strong> tempo no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma experiência ser permitida aopaciente lança as bases também <strong>do</strong> trabalho em Consultas Terapêuticas, mas segun<strong>do</strong>Lescovar (2001):In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento (ConsultasTerapêuticas, análise padrão, psicoterapia breve, trabalho segun<strong>do</strong> a<strong>de</strong>manda), o importante, para a clínica psicanalítica winnicottiana,concentra-se na permissão e no favorecimento <strong>de</strong> experiências integraisà criança, completan<strong>do</strong> ciclos que vão da relação subjetiva ao uso <strong>de</strong>objetos. O Jogo da Espátula (1941) po<strong>de</strong> ser toma<strong>do</strong> como exemploparadigmático da condução clínica <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> (p. 218).Trabalhar com a modulação <strong>do</strong> tempo nesta perspectiva, segun<strong>do</strong> Avellar (2004)permite que o trabalho analítico seja feito segun<strong>do</strong> a <strong>de</strong>manda <strong>do</strong> paciente, tal como nocaso relata<strong>do</strong> por <strong>Winnicott</strong>, The Piggle, no qual a paciente pedia uma sessão quan<strong>do</strong><strong>de</strong>mandava trabalhar alguma questão.Para <strong>Winnicott</strong> (2000/1941) o terapêutico neste trabalho estava no fato <strong>de</strong> o<strong>de</strong>senvolvimento completo <strong>de</strong> uma experiência ser permiti<strong>do</strong>. Ele dizia ofertar aopaciente, tal como a mãe ao seu bebê, o direito <strong>de</strong> completar uma experiência que tem ovalor <strong>de</strong> uma lição <strong>de</strong> objeto. Para Avellar (2004),[...] Desenvolver uma experiência completa, sentir-se atraí<strong>do</strong> pelaespátula, apossar-se <strong>de</strong>la, jogar com ela e po<strong>de</strong>r livrar-se <strong>de</strong>la semalterar a estabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> meio ambiente, tem um gran<strong>de</strong> valorterapêutico porque permite que a criança estabeleça a confiança naspessoas e a crença <strong>de</strong> boas relações internas constituin<strong>do</strong> uma lição <strong>de</strong>objeto (AVELLAR, 2004, p. 77).As mães sabem o valor <strong>de</strong> uma experiência completa, e as muitas experiências<strong>de</strong>ste tipo têm valor cumulativo para o estabelecimento da saú<strong>de</strong> psíquica <strong>do</strong> bebê.O analista <strong>de</strong>ve, pois, conduzir a situação <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> maneira que se aproxime<strong>do</strong> “Jogo da Espátula”. A análise seria o acúmulo <strong>de</strong> várias experiências completas.No livro The Piggle (1987) <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>screve as várias sessões realizadas comGabrielle quan<strong>do</strong> solicitadas por ela. Gabrielle, a Piggle, recebeu este apeli<strong>do</strong> carinhosoque po<strong>de</strong>mos traduzir por ‘porquinha’ e que po<strong>de</strong>ria ser equivalente no Brasil a‘gatinha’, por exemplo.Ela a<strong>do</strong>ece após o nascimento <strong>de</strong> sua irmãzinha e contava <strong>do</strong>is anos e quatromeses quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> início <strong>do</strong> tratamento. <strong>Winnicott</strong> aten<strong>de</strong>u Gabrielle 16 vezes “<strong>de</strong> acor<strong>do</strong>Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>18


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisecom a <strong>de</strong>manda”, e ela estava com cinco anos por ocasião <strong>de</strong> sua última consulta.Segun<strong>do</strong> seus pais as preocupações <strong>de</strong>la a mantinham acordada à noite e tiveram seuinício após o nascimento <strong>de</strong> sua irmãzinha quan<strong>do</strong> ela estava com 21 meses. Alémdisso, ela ficava aborrecida, <strong>de</strong>primida, insegura, angustiada e <strong>de</strong>monstrava muitociúmes. <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>ixa em seus escritos a <strong>de</strong>scrição da saú<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> Gabrielle, não<strong>de</strong>finin<strong>do</strong> o diagnóstico, mas nos informan<strong>do</strong> que não se tratava <strong>de</strong> criança psicótica.Ela ao longo das sessões vai <strong>do</strong> patológico a um “padrão organiza<strong>do</strong> como<strong>do</strong>ença” (<strong>de</strong>fesas mais primitivas se organizaram no lugar das <strong>de</strong>fesas que entraram emcolapso com o nascimento da irmã), ainda segun<strong>do</strong> <strong>Winnicott</strong> (1987, p. 18). Notratamento ela vai retoman<strong>do</strong> uma série <strong>de</strong> estádios <strong>de</strong> maturação que já haviam si<strong>do</strong>vivencia<strong>do</strong>s antes da segunda gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> sua mãe.Gabrielle morava distante <strong>de</strong> Londres e esta foi uma razão pela qual <strong>Winnicott</strong>trabalhou <strong>de</strong>sta maneira. As outras dizem respeito às possibilida<strong>de</strong>s da família participar<strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> atendimento, o qual solicita ampla participação <strong>de</strong>les em to<strong>do</strong> o processo, eo fato <strong>de</strong>, nesta época, <strong>Winnicott</strong> já estar a<strong>do</strong>enta<strong>do</strong>.Ele ainda faz na apresentação <strong>do</strong> livro The Piggle consi<strong>de</strong>rações sobre osignifica<strong>do</strong> para a família <strong>de</strong> a criança estar sob os cuida<strong>do</strong>s <strong>do</strong> analista. Para ele oanalista é mais tolerante à sintomatologia da criança <strong>do</strong> que os pais. Estes acreditamque, após o início <strong>do</strong> tratamento, os sintomas que venha a apresentar significam sempreum reinício <strong>de</strong> análise, mesmo que ela já tenha recebi<strong>do</strong> alta. E, neste ponto, suareflexão é a <strong>de</strong> queUma vez que se inicia um tratamento o que se per<strong>de</strong> <strong>de</strong> vista é a ricasintomatologia <strong>de</strong> todas as crianças que são satisfatoriamente tratadasem suas próprias casas. É possível que o tratamento <strong>de</strong> uma criança, <strong>de</strong>fato, interfira em algo muito valioso, que é a capacida<strong>de</strong> da família <strong>de</strong>tolerar e enfrentar os esta<strong>do</strong>s clínicos da criança, indicativos <strong>de</strong> tensãoemocional, ou paradas temporárias no <strong>de</strong>senvolvimento emocional, ou o<strong>de</strong>senvolvimento propriamente dito (1965/1987, p. 18).Em acor<strong>do</strong> com este pensamento <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>, a análise <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a<strong>de</strong>manda oferece vantagens, mesmo que não haja impedimentos <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>paciente, haja vista que a inclusão da família a implica com o tratamento e po<strong>de</strong> facilitarque aspectos <strong>de</strong>senvolvimentais espera<strong>do</strong>s não sejam por esta significa<strong>do</strong>s como<strong>do</strong>ença, mas sim como passagens esperadas <strong>do</strong> amadurecimento, com imaturida<strong>de</strong>s asquais a própria família possa cuidar.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>19


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseConsi<strong>de</strong>ro que na contemporaneida<strong>de</strong> faça muito senti<strong>do</strong> pensarmos que afamília, tão atarefada com seus afazeres particulares, possa se implicar mais com o filhoem tratamento no caso <strong>de</strong> ser incluída <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre na análise. Responsabilizar os paise/ou outros familiares po<strong>de</strong> significar valorizar seu próprio papel e torná-los assim maispróximos e responsáveis com seus filhos. Além <strong>de</strong> possibilitar que se responsabilizem,<strong>de</strong> fato, pelo amadurecimento <strong>de</strong> seus filhos. Não se trata, portanto, <strong>de</strong> culpabilizá-los.Os pais <strong>de</strong> Gabrielle participaram <strong>de</strong> uma maneira intensa <strong>de</strong> seu tratamentopsicanalítico. Tanto no acolhimento da necessida<strong>de</strong>, da <strong>de</strong>manda <strong>de</strong>sta ao solicitar umasessão com <strong>Winnicott</strong>, quanto nas próprias sessões e por meio <strong>de</strong> correspondência emque falavam <strong>de</strong> seus sentimentos e <strong>de</strong> suas hipóteses sobre a <strong>do</strong>ença da filha. Trocavamcom <strong>Winnicott</strong> informações, preocupações, seja por cartas ou por telefonemas. Estavamparticipan<strong>do</strong> ativamente da análise, então nomeada por <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> psicanálisecompartilhada.Serralha (2009) conclui seu artigo levantan<strong>do</strong> a pertinência <strong>de</strong>ste trabalho <strong>de</strong>acor<strong>do</strong> com a <strong>de</strong>manda, assim como o <strong>de</strong> consultas terapêuticas, por constituírem umapossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a teoria psicanalítica a<strong>de</strong>ntrar, manter-se e basear trabalhos comcrianças em instituições públicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> até pela impossibilida<strong>de</strong> real <strong>de</strong> atendimentoscom várias sessões semanais <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às condições <strong>de</strong> nossa realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Além dasprecárias condições <strong>do</strong> transporte público, questões financeiras e familiares (porexemplo: famílias com muitos filhos), dificultarem a análise tradicional.Talvez eu possa concluir este ensaio dizen<strong>do</strong> que consi<strong>de</strong>ro a pertinência <strong>de</strong> seconsi<strong>de</strong>rar a análise compartilhada na contemporaneida<strong>de</strong> também como um trabalhoque possibilite a implicação <strong>do</strong>s pais não somente com os atendimentos, mas até com aprópria paternida<strong>de</strong>/maternida<strong>de</strong>, em alguns casos.Penso que a análise compartilhada possa se constituir como uma possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> maior implicação da família nos cuida<strong>do</strong>s ofereci<strong>do</strong>s à criança, além <strong>de</strong>responsabilizá-la, <strong>de</strong> fato, por seus atendimentos. E este é um mo<strong>de</strong>lo para saú<strong>de</strong>pública, mas também para clínica particular, em meu entendimento. Não se trata <strong>de</strong>análise para menos favoreci<strong>do</strong>s economicamente, mas sim <strong>de</strong> se fazer o que é necessárioem cada situação analítica. E, assim, fazer o melhor possível.ReferênciasAVELLAR, L. Z. Jogan<strong>do</strong> na análise <strong>de</strong> crianças: intervir-interpretar na abordagemwinnicottiana. São Paulo: Casa <strong>do</strong> Psicólogo, 2004.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>20


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseDIAS, E. O. A teoria <strong>do</strong> amadurecimento <strong>de</strong> D. W. <strong>Winnicott</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago,2003.KHAN, M. M. R. Prefácio (1958). In: D. W. <strong>Winnicott</strong>, Textos Seleciona<strong>do</strong>s - DaPediatria à psicanálise (Jane Russo trad.) Rio <strong>de</strong> Janeiro: Francisco Alves, p. 7-61,2000.LESCOVAR, G. Z. Um estu<strong>do</strong> sobre as consultas terapêuticas <strong>de</strong> D.W. <strong>Winnicott</strong>.Dissertação (Mestra<strong>do</strong>). Dissertação em <strong>Psicologia</strong> Clínica. Pontifícia Universida<strong>de</strong>católica <strong>de</strong> São Paulo, 2001.MEDEIROS, C. Brincar, sonhar, ser: reflexões sobre intervenções não-interpretativasem diferentes contextos clínicos. In: AIELLO-VAISBERG, T. e FOLLADOR eAMBRÓSIO. Ser e Fazer – Trajetos <strong>do</strong> sofrimento: rupturas e (re) criações <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>.São Paulo: Instituto <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 2003, p. 138-150.SERRALHA, C. A. <strong>Winnicott</strong> com Gabrielle e seus pais. Natureza humana [online],vol.11, n.1, p. 149-164, 2009.WINNICOTT, D. W. Os objetivos <strong>do</strong> tratamento psicanalítico (1962). In:WINNICOTT, D.W. O ambiente e os processos <strong>de</strong> maturação: estu<strong>do</strong>s sobre a teoria<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento emocional. Trad. Irineo C. Schuch Ortiz. Porto Alegre: Artmed,1983, p. 152-155.WINNICOTT, D. W. The Piggle: relato <strong>do</strong> tratamento psicanalítico <strong>de</strong> uma menina.Trad. Else Pires Vieira e Rosa <strong>de</strong> Lima Martins. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 2ª. Edição,1987.WINNICOTT, C.; SHEPHERD, R.; DAVIS, M. Sobre “O uso <strong>de</strong> um Objeto” (1968).In: Explorações psicanalíticas: D.W. <strong>Winnicott</strong>. Trad. <strong>de</strong> José Octavio <strong>de</strong> AguiarAbreu. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.WINNICOTT, D. W. A observação <strong>de</strong> Bebês numa Situação padronizada (1941). In:WINNICOTT, D. W. Da Pediatria à Psicanálise: obras escolhidas. Trad. DavyBogomoletz. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 2000.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>21


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseCorpo e psicose: uma perspectiva winnicottianaLilian Miranda 8ResumoEste trabalho tem como temática a relação psique-soma e suas configurações na psicose.Partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> pressuposto freudiano <strong>de</strong> que o eu se estrutura com base no funcionamentocorporal, discutimos as formulações <strong>de</strong> D. W. <strong>Winnicott</strong> acerca <strong>de</strong> tal estruturação,apresentan<strong>do</strong> o que o autor chamou <strong>de</strong> elaboração imaginativa das funções corporais eprocesso <strong>de</strong> personalização. Destacamos que uma das principais etapas da estruturaçãopsíquica correspon<strong>de</strong> à apropriação pessoal que o recém-nasci<strong>do</strong> faz da anatomia e dassensações corporais gerais, o que requer o suporte <strong>de</strong> um ambiente capaz satisfazer suasnecessida<strong>de</strong>s a contento, sem intervenções que se padronizam como invasão,insuficiência ou imprevisibilida<strong>de</strong>. Nesse processo, a mãe <strong>de</strong>sempenha a primeirafunção <strong>de</strong> espelho, reunin<strong>do</strong> as partes <strong>do</strong> corpo da criança e refletin<strong>do</strong>-as através <strong>do</strong> seuolhar. A partir <strong>de</strong> algumas vinhetas clínicas, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos que problemas no processo <strong>de</strong>personalização po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar formas <strong>de</strong> relação com o corpo marcadas porprofun<strong>do</strong> estranhamento ou ameaça, próprias da psicose. O sujeito experimenta umcorpo fragmenta<strong>do</strong>, que não se apresenta como uma morada confiável para a psique,porque não pô<strong>de</strong> vivenciar as funções corporais e imaginá-las no seu ritmo. Nessaperspectiva, nota-se que, enquanto os neuróticos vivem sob o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> <strong>do</strong>mar os sinais<strong>de</strong> autonomia <strong>do</strong> corpo, os psicóticos se encontram submeti<strong>do</strong>s a uma legião <strong>de</strong> órgãos emovimentos <strong>de</strong>sgoverna<strong>do</strong>s e insubordináveis.8 Psicóloga. Doutora em Saú<strong>de</strong> Coletiva pela Unicamp. Pesquisa<strong>do</strong>ra Visitante da ENSP/FIOCRUZ.Experiência <strong>de</strong> <strong>do</strong>cência em cursos <strong>de</strong> graduação e especialização da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, supervisão clínicoinstitucionalem serviços públicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e trabalho clínico em Centros <strong>de</strong> Atenção Psicossocial –CAPS.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>22


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise<strong>Winnicott</strong> e BowlbyRoseana Moraes Garcia 9ResumoTanto <strong>Winnicott</strong> quanto Bowlby, na tradição freudiana, consi<strong>de</strong>raram a psicanálise umaciência, porém enquanto Bowlby avançou suas pesquisas no campo da ciência natural,enveredan<strong>do</strong>-se pela estatística e pelo estu<strong>do</strong> da etologia, <strong>Winnicott</strong> enten<strong>de</strong>u apsicanálise como uma ciência <strong>do</strong> existir humano com todas as suas especificida<strong>de</strong>s ecomplexida<strong>de</strong>s, no que se aproximou <strong>do</strong> filósofo Martin Hei<strong>de</strong>gger (cf. Loparic,1999).Neste trabalho preten<strong>do</strong> explicitar as principais diferenças entre esses <strong>do</strong>is autores quemuitas vezes são confundi<strong>do</strong>s.9 Possui graduação em <strong>Psicologia</strong> pela Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Campinas (1990), graduaçãoem Ciência da Computação pela Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas (1977), mestra<strong>do</strong> em <strong>Psicologia</strong>(<strong>Psicologia</strong> Clínica) pela Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São Paulo (2004), mestra<strong>do</strong> em MatemáticaAplicada pela Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas (1980) e <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em <strong>Psicologia</strong> (<strong>Psicologia</strong> Clínica)pela Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São Paulo (2009). Tem experiência na área <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>, comênfase em <strong>Psicologia</strong> <strong>do</strong> Desenvolvimento Humano, atuan<strong>do</strong> principalmente nos seguintes temas:tendência antissocial, teoria da agressivida<strong>de</strong>, teoria <strong>do</strong> amadurecimento pessoal e psicanálisewinnicottiana. Diretora <strong>do</strong> Centro <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> Campinas, professora e supervisora da SBPWUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>23


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise<strong>Winnicott</strong> e Klein<strong>Winnicott</strong> and KleinCarla Maria Lima Braga 10ResumoO presente trabalho visa a contribuir com o pensar a respeito da história da Psicanálise ea inserção <strong>do</strong> psicanalista D. W. <strong>Winnicott</strong> neste contexto teórico-clínico enfatizan<strong>do</strong> arelação com Melaine Klein e apontan<strong>do</strong> assim, as principais divergências entre osautores. Apesar <strong>do</strong>s teóricos virem <strong>de</strong> uma mesma escola Psicanalítica freudiana, cadaum diferenciou-se em sua prática clínica e em seu entendimento <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>ser humano. Klein propôs a possibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> tratamento psicanalítico <strong>de</strong> crianças e ocorrelato da associação livre que seria a brinca<strong>de</strong>ira no atendimento infantil. Kleinconfere um valor gran<strong>de</strong> às questões libidinais e intrapsíquica. A autora enfatiza quefantasias edipianas têm origens precoces, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> que bebês são capazes <strong>de</strong>estabelecer relações objetais. Em oposição às estas questões, <strong>Winnicott</strong> enfatizasobremaneira a participação <strong>do</strong> ambiente na constituição <strong>do</strong> indivíduo, contrarian<strong>do</strong> apremissa psicanalítica. Além disso, enten<strong>de</strong> que a vivência <strong>de</strong> Édipo em termos <strong>de</strong>objetos parciais seria impraticável, pelo não amadurecimento <strong>do</strong> bebê.Palavras-chave: Klein, <strong>Winnicott</strong>, PsicanáliseSummaryThe present work aims to contribute to thinking about the history of Psychoanalysis andthe insertion of the psychoanalyst D.W.<strong>Winnicott</strong> theoretical-clinical in this contextemphasizing the relationship with Melanie Klein and pointing out the main differencesbetween the authors. Despite the theorists come from a same Freudian Psychoanalyticschool, each differentiated themselves in their clinical practice and in theirun<strong>de</strong>rstanding of the <strong>de</strong>velopment of the human being. Klein proposed the possibility ofpsychoanalytic treatment of children and the correlative of free association that wouldbe playing in the children's care. Klein gives a large value libidinais and intrapsíquica10 Psicóloga. Docente <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong><strong>Londrina</strong>. Membro da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Psicanálise <strong>Winnicott</strong>iana (SBPW) Mestre em Educaçãopela UEL. Doutora em <strong>Psicologia</strong> pela PUC/ Campinas. Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Projeto Integra<strong>do</strong> “A Clínica<strong>Winnicott</strong>iana: um estu<strong>do</strong> sobre a Teoria <strong>do</strong> Amadurecimento Pessoal e o Manejo Clínico”. Membro daSocieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Psicanálise <strong>Winnicott</strong>ianaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>24


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseissues. The author emphasizes that edipianas fantasies have early origins, un<strong>de</strong>rstandingthat babies are capable of objetais relations. In opposition to these issues, particularlyemphasizes the participation of <strong>Winnicott</strong> environment in the individual's Constitution,contrary to the psychoanalytic assumption. In addition, believes that the experience ofpartial objects with Oedipus was impracticable and not baby ripening.Keywords: Klein, <strong>Winnicott</strong>, PsychoanalysisBoa tar<strong>de</strong> a to<strong>do</strong>s. Inicio a minha fala enfatizan<strong>do</strong> a importância <strong>de</strong> nósestudarmos a História da Psicanálise para po<strong>de</strong>r enten<strong>de</strong>r e diferenciar alguns aspectosteóricos importantes. Aqui pensaremos o lugar em que <strong>Winnicott</strong> teve <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>stecontexto teórico clínico a agora vejamos sua relação com Melaine Klein e as principaisdivergências teóricas.Melanie Klein, psicanalista nascida na Áustria, tomou contato com a psicanáliseem 1914 com artigo <strong>de</strong> Freud e iniciou seus estu<strong>do</strong>s através <strong>do</strong> incentivo <strong>de</strong> seu entãoanalista, Karl Abraham, um importante segui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Sigmund Freud. Este autor mereceum <strong>de</strong>staque <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a sua contribuição no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma teoria psicanalíticaque <strong>de</strong>stacava a agressivida<strong>de</strong> como algo <strong>de</strong> importância primordial durante osprimeiros meses <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da criança, o que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o ponto <strong>de</strong>partida da teorização kleiniana.Esta autora austríaca po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> principal representante dasegunda geração psicanalítica mundial, já que transformou o freudismo clássico, crian<strong>do</strong>uma nova forma <strong>de</strong> análise, a análise <strong>de</strong> crianças. Partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> âmbito fisiológico dateoria freudiana, Klein aprofun<strong>do</strong>u-se na dimensão psicológica, com intuito <strong>de</strong> estudar amente das crianças <strong>de</strong> tenra ida<strong>de</strong>, suas fantasias, me<strong>do</strong>s, angústias, etc. Sua primeiratarefa foi <strong>de</strong>senvolver uma técnica <strong>de</strong> análise que viabilizasse o acesso ao inconscienteda criança, já que não é espera<strong>do</strong> que uma criança pequena colabore com a técnica daassociação livre. Ela <strong>de</strong>senvolveu então a análise através da brinca<strong>de</strong>ira. Por meio daativida<strong>de</strong> lúdica, a autora interpretava as fantasias, as angústias, e outras manifestações<strong>do</strong> inconsciente da criança, as quais eram expressas <strong>de</strong> maneira simbólica.Klein divergiu <strong>do</strong> pai da psicanálise em relação à importância crucial que esteatribui à sexualida<strong>de</strong>, na medida em que ela coloca a agressivida<strong>de</strong>, inata na criança,como central em sua teoria. A teorização kleiniana a respeito das fantasias inconscientesé extremamente precisa e <strong>de</strong>talhada. Po<strong>de</strong>–se dizer que a autora aumentou o po<strong>de</strong>r daUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>25


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseanálise clínica e aplicada, ao abordar estes fenômenos que não foram explora<strong>do</strong>s porFreud.De toda forma, a teoria kleiniana ainda enfatizou as questões libidinais eainda consi<strong>de</strong>rava o complexo <strong>de</strong> Édipo como dinâmica central em to<strong>do</strong> o<strong>de</strong>senvolvimento humano, apesar <strong>de</strong> conceber a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o complexo <strong>de</strong> Édipoacontece por volta <strong>do</strong>s 2 ou 3 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (1923) e no primeiro ano <strong>de</strong> vida (1926) eem 1927 enten<strong>de</strong> que seria um processo a partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>smame. Afirma que o superegoarcaico é cruel, rigoroso e punitivo além <strong>do</strong> componente da agressivida<strong>de</strong> aparecer em<strong>de</strong>staque na fantasia edípica da criança. Para Klein surge um sentimento <strong>de</strong> culpa e umme<strong>do</strong> da punição.Em relação a este ponto <strong>de</strong> vista, afirma Loparic (apud Marchiolli 2010) quenos anos 30, quan<strong>do</strong> o complexo <strong>de</strong> Édipo ainda era geralmente aceito como nuclear,<strong>Winnicott</strong> notou a existência <strong>de</strong> múltiplas formas <strong>de</strong> distúrbios, acompanhadas <strong>de</strong>angústias que não pareciam po<strong>de</strong>r ser enquadradas como “regressões aos pontos <strong>de</strong>fixação pré-genitais”, liga<strong>do</strong>s à “dinâmica provenientes <strong>do</strong> conflito <strong>do</strong> complexo <strong>de</strong>Édipo plenamente <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>” (p. 74). <strong>Winnicott</strong> concluiu: algo estava erra<strong>do</strong> emalgum lugar... Então vejamos algo sobre <strong>Winnicott</strong>.<strong>Winnicott</strong>, médico que em sua formação conviveu no mun<strong>do</strong> da pediatria epsiquiatria e logo ce<strong>do</strong>, ainda estudante, percebeu que os distúrbios físicos não setratavam apenas <strong>de</strong> uma questão organicista. Para Dias, (2002) “ele parece ter si<strong>do</strong>,muito ce<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sperta<strong>do</strong> para o fato <strong>de</strong> que a saú<strong>de</strong>, e mais <strong>do</strong> que a saú<strong>de</strong>, o sentir-sevivo, não po<strong>de</strong> resumir-se ao bom funcionamento <strong>do</strong>s órgãos e das funções, e queseparar o físico <strong>do</strong> psíquico é um procedimento intelectualmente possível, masaltamente artificial” (p. 120).Ainda estudante teve contato com a obra <strong>de</strong> Freud, em 1920 torna-se médico eem 1923 inicia sua análise.Em 1935, por sugestão <strong>de</strong> seu analista, procura Melanie Klein, que já eraconhecida por seu interesse pelas angústias precoces e por suas teorias sobre as fasesmais primitivas da infância. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> da maior importância o estu<strong>do</strong> empreendi<strong>do</strong>por Klein, <strong>Winnicott</strong> persegue a trilha aberta por ela e torna-se seu supervisionan<strong>do</strong> <strong>de</strong>1935 até 1940. Chegou a ser analista <strong>de</strong> seu filho Eric <strong>de</strong> 1935 a 1939. (mas recusa-se aser supervisiona<strong>do</strong> por ela no caso <strong>do</strong> filho, como ela pretendia) Percebeu logo queKlein sabia muito, e muito mais <strong>do</strong> que ele, sobre o tema e, mesmo em fasesposteriores, quan<strong>do</strong> se distanciou <strong>de</strong>cisivamente da linha teórica kleiniana, afirmouUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>26


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisesempre ter aprendi<strong>do</strong> muito com ela. Havia, no entanto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, diferençasteóricas que foram se aclaran<strong>do</strong> e aprofundan<strong>do</strong> à medida que os elementos conceituaisbásicos da sua própria teoria ganhavam precisão, acaban<strong>do</strong> por revelar que asrespectivas teorias eram incompatíveis já nos fundamentos.Enquanto Klein construía seu pensamento e apresentava suas i<strong>de</strong>ias através daSocieda<strong>de</strong> Britânica <strong>de</strong> Psicanálise <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua chegada em Londres em 1926 outrosautores começavam a <strong>de</strong>senvolver trabalhos próprios e <strong>de</strong>linear novos caminhos para opensamento psicanalítico pós-guerra. O principal interesse era nos acontecimentos davida precoce <strong>do</strong> individuo.Este seria um <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> divergência pelo fato <strong>de</strong> Klein haver formula<strong>do</strong> o<strong>de</strong>senvolvimento individual <strong>do</strong> bebê humano em termos exclusivamente intrapsíquicos,sem referência ao ambiente. Essas diferenças nos pressupostos <strong>de</strong>terminaram caminhosteóricos e clínicos radicalmente diversos: enquanto <strong>Winnicott</strong> se preocupava com a<strong>de</strong>scrição das necessida<strong>de</strong>s pessoais <strong>do</strong> bebê e <strong>do</strong>s vários tipos <strong>de</strong> fracasso ambiental naresposta a essas necessida<strong>de</strong>s, Melanie Klein continuava a <strong>de</strong>screver os mecanismosmentais primitivos <strong>do</strong> bebê e a configurar os conflitos internos e fantasmáticos <strong>do</strong>psiquismo, num total <strong>de</strong>sprezo pela realida<strong>de</strong> externa.Outro ponto <strong>de</strong> discórdia diz respeito ao início <strong>do</strong> complexo <strong>de</strong> Édipo. ParaKlein as fantasias edípicas tem origem precoce ou pré-genital e que é um fenômeno <strong>de</strong>vida primitiva estabelecen<strong>do</strong>-se aos 6 meses <strong>de</strong> vida. A autora relaciona o Complexo <strong>de</strong>Édipo com a frustração oral sentida pelo bebê no processo <strong>do</strong> <strong>de</strong>smame, reforçada pelasfrustrações anais <strong>do</strong> treinamento <strong>de</strong> hábitos higiênicos.No extremo oposto encontra-se <strong>Winnicott</strong> que sem dúvida mostra sua oposiçãoao conceito <strong>de</strong> Complexo <strong>de</strong> Édipo precoce <strong>de</strong> Klein. Seu posicionamento tem basepontos importantes que diverge <strong>do</strong> pensamento da compreensão <strong>do</strong> ser humano. Para oautor, quan<strong>do</strong> o indivíduo chega ao complexo <strong>de</strong> Édipo esta é uma conquista tardia noprocesso <strong>de</strong> amadurecimento ou como ele diz um “ganho em saú<strong>de</strong>”. Um conquista naqual mostra que as etapas anteriores transcorreram tal como <strong>de</strong>veriam. Essa conquistapermite a criança o estabelecimento <strong>de</strong> uma relação triangular, em que cada integrante<strong>do</strong> triangulo é uma pessoa inteira. A criança po<strong>de</strong> então integrar sentimentos <strong>de</strong> amor eódio seja em relação a si mesmo seja em relação ao objeto. Para <strong>Winnicott</strong> essa etapapo<strong>de</strong> ser vivida a sexualida<strong>de</strong>.O momento <strong>do</strong> Édipo é <strong>de</strong> fantasias e experiências genitais, a realização ficapostergada para o início da puberda<strong>de</strong>, neste caso a intervenção <strong>do</strong> terceiro elemento daUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>27


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliserelação representa um alívio para a impotência da criança, que na ausência <strong>de</strong>sta terceirafigura, precisa enfrentar a agonia da impotência sozinha.As divergências teóricas existentes na Socieda<strong>de</strong> Britânica <strong>de</strong> Psicanálise,protagonizadas por Melaine Klein e Anna Freud afastou <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>sta disputa teórica,trazen<strong>do</strong> uma in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> pensamento. <strong>Winnicott</strong> tinha uma insistência na vida <strong>de</strong>ser ele mesmo e <strong>de</strong>sta forma <strong>de</strong>sagra<strong>do</strong>u principalmente a Klein, pois fizera parte <strong>do</strong>corpo teórico kleiniano. A relação entre Klein e <strong>Winnicott</strong> era como a <strong>de</strong> um aluno paraa sua mestre. No início ela escrevia longas cartas a afetuosas, mas com o tempo e comas suas discordâncias teóricas, a relação ficou em <strong>de</strong>sacor<strong>do</strong>. Suas objeçõesfundamentavam-se especialmente na relutância <strong>de</strong>la em reconhecer a importância damãe concreta e <strong>de</strong> sua conduta concreta no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> bebê.Em um episódio Klein convida <strong>Winnicott</strong> para escrever um capítulo <strong>de</strong> livro eem uma carta <strong>de</strong> 1952, ele respon<strong>de</strong>:Pessoalmente, acho que é muito importante que seu trabalho seja reafirma<strong>do</strong>por pessoas que façam <strong>de</strong>scobertas à sua própria maneira e que apresentem o que<strong>de</strong>scobrem em sua própria linguagem. É <strong>de</strong>sse mo<strong>do</strong> que a linguagem será mantidaviva. Se você estipular que no futuro apenas a sua linguagem será usada paraexpressar as <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> outra pessoa, então a linguagem se torna uma linguagemmorta, como já se tornou na Socieda<strong>de</strong>...Estou preocupa<strong>do</strong> com essa estrutura, quepo<strong>de</strong>ria ser chamada <strong>de</strong> kleiniana, que acredito ser o real perigo para a difusão <strong>de</strong> seutrabalho. Suas i<strong>de</strong>ias sobreviverão na medida em que forem re<strong>de</strong>scobertas ereformuladas por pessoas originais, <strong>de</strong>ntro e fora <strong>do</strong> movimento psicanalítico.(<strong>Winnicott</strong>, [1952], 2005, p. 43)Em outro trecho da carta, <strong>Winnicott</strong>, <strong>de</strong> maneira incisiva afirma:Sinto que você está tão bem ro<strong>de</strong>ada pelos que a apreciam, valorizam o seutrabalho e tentam colocá-lo em prática, que você ten<strong>de</strong> a per<strong>de</strong>r contato com outrosque estão fazen<strong>do</strong> um bom trabalho, mas que por acaso não caíram sob suainfluência.... (p.45)Assim, <strong>Winnicott</strong> ao tentar dar reconhecimento a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> ao papel <strong>do</strong>s eventosexternos no <strong>de</strong>senvolvimento humano, ele correu o risco <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> alguém queper<strong>de</strong>ra <strong>de</strong> vista a revolucionária <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> Freud <strong>do</strong> grau extraordinário comque o inconsciente or<strong>de</strong>na a nossa percepção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> exterior. Ao corrigir aextravagância <strong>de</strong> Klein sobre a não valorização <strong>do</strong> ambiente externo, <strong>Winnicott</strong>Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>28


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseintroduziu uma série <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias singulares por um campo mais amplo da ciência dapsicologia, tanto no campo teórico como no campo prático.Felice (2003) nos aponta a respeito da divergência na técnica analítica com oskleinianos que seria uma relativização da importância da interpretação verbal emanálise, juntamente com uma acentuação da relevância <strong>do</strong> brincar, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> valor terapêutico. Klein enfatizou sua clínica na análise <strong>de</strong> crianças a qual, <strong>de</strong>acor<strong>do</strong> com a autora, tem a mesma função da análise <strong>de</strong> adultos: a interpretação <strong>de</strong>fantasias inconscientes. Oliveira (2007) afirma que Klein era contra outras funçõesexpostas por diversos autores; tais como educação e fortalecimento. No caso <strong>de</strong> criançaspequenas, suas fantasias inconscientes são expressas, simbolicamente, através <strong>de</strong> suaativida<strong>de</strong> lúdica, caben<strong>do</strong> ao analista a interpretação <strong>de</strong>stas brinca<strong>de</strong>iras, <strong>de</strong> forma aelucidar as fantasias subjacentes a elas e analisá-las. Qualquer tipo <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira é umpossível continente <strong>de</strong> fantasias e <strong>de</strong>sejos inconscientes.Para <strong>Winnicott</strong> (1975), é somente no brincar que o indivíduo, criança ou adulto,po<strong>de</strong> ser criativo e <strong>de</strong>scobrir seu self. Além disso, é somente no brincar que é possível acomunicação. O autor consi<strong>de</strong>ra que a psicanálise é uma forma altamente especializada<strong>do</strong> brincar, a serviço da comunicação consigo mesmo e com os outros (WINNICOTT,1975). Quan<strong>do</strong> o paciente não é capaz <strong>de</strong> brincar, o terapeuta <strong>de</strong>ve dirigir seu trabalhono senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> levá-lo a conseguir brincar.Fulgencio (2011) afirma que a análise winnicottiana é pensada em termos dasrelações com o ambiente. Nunca se trata, para <strong>Winnicott</strong>, <strong>de</strong> uma relação apenas daperspectiva da dinâmica interna <strong>do</strong> indivíduo, mas <strong>de</strong> um estar-com que caracteriza terum lugar compartilha<strong>do</strong> com o outro para viver. O autor afirma isso basea<strong>do</strong> em suaconcepção <strong>de</strong> que o amadurecimento é uma linha que vai da <strong>de</strong>pendência para ain<strong>de</strong>pendência, saben<strong>do</strong>, no entanto, que a in<strong>de</strong>pendência nunca é absoluta, mas <strong>de</strong>veintegrar a vida social e a vida cultural.Desta forma, <strong>Winnicott</strong>, introduziu os conceitos que <strong>de</strong>nominou “preocupaçãomaterna primária”, “mãe satisfatória”, “mãe <strong>de</strong>dicada comum”, “fase <strong>de</strong> preocupação”,ambiente, objetos transicionais, invasão, regressão à <strong>de</strong>pendência, verda<strong>de</strong>iro e falsoself, tendência antissocial. Além disso, <strong>de</strong>senvolveu uma teoria <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoinfantil, normal e patológico. Voltou-se para temas da criação <strong>de</strong> filhos, da brinca<strong>de</strong>iraem todas as suas formas, <strong>do</strong> relacionamento da vida individual e grupal, social ecultural, da criminalida<strong>de</strong> e da técnica psicanalítica.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>29


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseReferênciasOLIVEIRA, M. P. Melanie Klein e as fantasias inconscientes. <strong>Winnicott</strong> e-prints, v. 2,n. 2, pp. 1-19. 2007.DIAS, E. O. A trajetória intelectual <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>. Natureza Humana, v. 4, n. 1, 111-156. jun/2002.FELICE, E. M. O lugar <strong>do</strong> brincar na psicanálise <strong>de</strong> crianças. <strong>Psicologia</strong>: teoria eprática. v 5, n. 1, pp. 71-79. 2003.FULGENCIO, L. A constituição <strong>do</strong> símbolo e o processo analítico para <strong>Winnicott</strong>.Paidéia (Ribeirão Preto) vol.21 n.50, pp. 393-401 Sept./Dec. 2011.MARCHIOLLI, P. T. O. Análise <strong>do</strong> conceito <strong>do</strong> complexo <strong>de</strong> Édipo em Melaine Klein eDonal<strong>do</strong> <strong>Winnicott</strong>. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em <strong>Psicologia</strong>). Campinas: PontifíciaUniversida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Campinas, 2010.WINNICOTT, D. W. Gesto Espontâneo. São Paulo Ed Martins Fontes, 2005.WINNICOTT D. W. O brincar e a realida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1975.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>30


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseProgresso da História da PsicanáliseE<strong>de</strong>r Soares Santos 11ResumoA intenção <strong>de</strong>sta comunicação é mostrar que, embora na Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong>Psicanálise <strong>Winnicott</strong>iana se utilize das noções <strong>de</strong> paradigma da Thomas Kuhn, não setrata <strong>de</strong> uma idiossincrasia <strong>do</strong> grupo, ou seja, uma maneira <strong>de</strong> apoia-se num únicoteórico que daria as razões para se acreditar em um progresso na história da psicanálise<strong>de</strong> Freud a <strong>Winnicott</strong>. Abordaremos na comunicação a noção <strong>de</strong> progresso para ahistória, a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões nas ciências a partir <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista da epistemologia ea noção <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas em Kuhn.11 Doutor em Filosofia pela Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas (Unicamp). Desenvolveu uma tese sobrea teoria <strong>do</strong> amadurecimento pessoal <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> e o conceito <strong>de</strong> acontecência (Geschichtlichkeit) emHei<strong>de</strong>gger, sob fomento da Fundação <strong>de</strong> Amparo à Pesquisa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo (FAPESP). Esteveentre final <strong>de</strong> 2003 e início <strong>de</strong> 2005 em Friburgo, Alemanha, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolveu estágio <strong>do</strong>utoral naUniversitat Freiburg (Albert-Ludwigs) como bolsista <strong>do</strong> DAAD/CNPq. É membro <strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong> Filosofiae Práticas Psicoterápicas da PUC-SP (Grupofpp) e membro <strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong> trabalho em Filosofia ePsicanálise da Associação Nacional <strong>de</strong> Pós-graduação em Filosofia (ANPOF). Publicou em 2010 o livro“<strong>Winnicott</strong> e Hei<strong>de</strong>gger: aproximações e distanciamentos”. São Paulo: DWW Editoria/FAPESP.Atualmente é professor adjunto na Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> no Paraná e coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r <strong>do</strong>Mestra<strong>do</strong> em Filosofia da mesma universida<strong>de</strong>. Suas publicações versam sobre temas da psicanálise <strong>de</strong><strong>Winnicott</strong> e da filosofia <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>gger.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>31


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseTeoria <strong>do</strong> Relacionamento mãe-bebê: a porta <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> nos USA 12Ariadne Alvarenga <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong> Engelberg <strong>de</strong> Moraes 13ResumoQuestões epistemológicas, históricas, teóricas e clínicas são caminhos para avaliar olugar e a contribuição <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> para a área da psicanálise. A perspectivaepistemológica se confirma um bom recurso porque impõe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliar ahistória <strong>do</strong> movimento psicanalítico propician<strong>do</strong> uma visualização no tempo e noespaço <strong>do</strong> impacto <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada pesquisa para a área. A<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> esse cenário,preten<strong>do</strong> apresentar as questões que obscureceram, para a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> psicanalistasamericanos, a autenticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> como teórico-clínico.Palavras-chave: <strong>Winnicott</strong>, psicanálise americana, crise teórica.AbstractEpistemological, historic, theoretical and clinical questions are possibilities to evaluate<strong>Winnicott</strong> place and contributions to psychoanalysis. A<strong>do</strong>pting this scenery, I intend toshow the issues that ma<strong>de</strong> obscure to Americans psychoanalysts to recognize theauthenticity of <strong>Winnicott</strong>´s work.Keywords: <strong>Winnicott</strong>, American psychoanalysis, theoretical crisis.Estritamente falan<strong>do</strong>, o viés epistemológico direciona o olhar para questõesrelativas à produção <strong>do</strong> conhecimento e ao <strong>de</strong>senvolvimento da psicanálise <strong>de</strong>s<strong>de</strong> suafundação por Freud. Desse ponto <strong>de</strong> vista a atenção <strong>de</strong> filósofos, teóricos <strong>do</strong>conhecimento e psicanalistas inci<strong>de</strong> sobre o posicionamento da psicanálise enquantociência, a especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, seus méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pesquisa e análisecom o objetivo <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r uma simples questão: quais os fundamentos que sustentame justificam as proposições psicanalíticas. Este é o campo <strong>de</strong> pesquisa em que a áreatrava relacionamento com correntes gerais da filosofia, como positivismo,12 Trabalho apresenta<strong>do</strong> no <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>: <strong>Winnicott</strong> na História da Psicanálise, emsetembro <strong>de</strong> 2012.13 Psicóloga Clínica, Mestre e Doutora em <strong>Psicologia</strong> Clínica pela PUC-SP. Membro da Socieda<strong>de</strong>Brasileira <strong>de</strong> Psicanálise <strong>Winnicott</strong>iana (SBPW). Membro <strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong> Pesquisa em Filosofia e PráticasPsicoterápicas (GFPP). Professora <strong>do</strong> Centro <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> São Paulo (CWSP). Aten<strong>de</strong> em consultórioparticular <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1986.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>32


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisehermenêutica, marxismo, fenomenologia, existencialismo, entre outras, em diálogos quese alternaram entre momentos <strong>de</strong> apoio e momentos <strong>de</strong> contun<strong>de</strong>ntes questionamentos.Em uma análise <strong>do</strong>s embates teóricos enfrenta<strong>do</strong>s pela psicanálise ao longo <strong>de</strong>sua história, Bleichmar, em seu livro A psicanálise <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Freud, nomeia esse campo<strong>de</strong> análise como “zona” epistemológica externa e propõe que, como ciência, apsicanálise no nível <strong>do</strong> conhecimento é confrontada em mais duas outras “zonas”,<strong>de</strong>nominadas por ele <strong>de</strong> “zonas internas”. A primeira “zona interna” é relativa àconvivência entre a psicanálise e áreas afins, como a psiquiatria e a psicologia. Segun<strong>do</strong>ele, foi <strong>do</strong> diálogo entre essas três áreas que as aproximações e dissensões ocorridas, emtermos teórico e clínico, entre os pensa<strong>do</strong>res da psicanálise, afilia<strong>do</strong>s e admira<strong>do</strong>resaconteceram. Ainda que haja uma extensa lista <strong>de</strong> exemplos para ilustrar essa situação,menciono aqui a dissensão <strong>de</strong> Jung, o enfoque culturalista, as críticas <strong>de</strong> Piaget, aconcepção humanista <strong>de</strong> Carl Rogers, o rompimento <strong>de</strong> Fritz Perls e o nascimento daGestalt-terapia, a reflexologia pavloviana, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> pensamento biológicocomo base <strong>do</strong> a<strong>do</strong>ecimento e mais recentemente as pesquisas em neurociências.Na segunda “zona interna” estão agrupa<strong>do</strong>s os teóricos envolvi<strong>do</strong>s com osproblemas epistemológicos <strong>de</strong>correntes da concordância ou discordância com a herançafreudiana. Portanto, aqueles psicanalistas que investigam, pesquisam e trabalham parapromover o <strong>de</strong>senvolvimento da teoria e da clínica movi<strong>do</strong>s pela preocupação <strong>de</strong>compreen<strong>de</strong>r a diversida<strong>de</strong> teórica e <strong>de</strong> manter a unida<strong>de</strong> da área. Nesse grupoencontram-se “os analistas clássicos e os pós-freudianos, como Melanie Klein,Hartmann, Lacan, <strong>Winnicott</strong> e o grupo britânico, o movimento latino-americano ou,mais recentemente, Mahler, Kohut e Kernberg, nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s” (BLEICHMAR,1992, p. 402).Orientada por essa classificação, <strong>de</strong>fino que o foco <strong>de</strong>ste trabalho é elucidar asquestões relativas à “segunda zona interna”, por consi<strong>de</strong>rar que, em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong>sproblemas aconteci<strong>do</strong>s nessa zona, o reconhecimento e a a<strong>de</strong>são ao pensamento <strong>de</strong><strong>Winnicott</strong> no continente americano tenham ocorri<strong>do</strong> tardiamente.É <strong>de</strong> conhecimento geral que as concordâncias e polêmicas acontecidas entre osteóricos agrupa<strong>do</strong>s na segunda “zona interna” têm promovi<strong>do</strong> crises, rompimentos, mastambém gera<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimentos para a psicanálise. Sabe-se também que a penetração<strong>do</strong>s novos entendimentos teóricos alcança<strong>do</strong>s pela psicanálise aconteceu <strong>de</strong> formadiferente em solo europeu e americano. Na Europa, após um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> contestação dasi<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Freud, tanto a psiquiatria biológica como a vertente antropológica-existencialUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>33


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseda psiquiatria se distanciaram <strong>do</strong> confronto direto com a psicanálise. Dessa forma, o<strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramento das questões relativas à área centrou-se no interior <strong>do</strong> movimentopsicanalista, prevalecen<strong>do</strong>, após um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> discussão provocada pelas i<strong>de</strong>iaskleinianas, uma posição separatista que faz com que, ainda hoje, o continente estejadividi<strong>do</strong> entre os freudianos, os lacanianos, os a<strong>de</strong>ptos <strong>de</strong> M. Klein e os segui<strong>do</strong>res <strong>do</strong>grupo britânico in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s o percurso da psicanálise como área <strong>de</strong> conhecimento epesquisa seguiu um percurso particular. Assim que divulgadas, as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Freudalcançaram especial interesse por parte da psiquiatria, área médica que estava envolvidaem uma acirrada disputa <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> com a neurologia. Como forma <strong>de</strong> estabelecer-secomo campo da medicina reconheci<strong>do</strong> e distinto da área concorrente, a psiquiatriaamericana afastou-se da pesquisa biológica e <strong>do</strong> tratamento medicamentoso, a<strong>de</strong>rin<strong>do</strong> àtécnica psicanalítica como práxis clínica. A a<strong>de</strong>são foi <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m que entre os anos 40e 70 <strong>do</strong> século XX a formação em psicanálise se tornou obrigatória para os médicospsiquiatras e o tratamento analítico prescrito como única forma <strong>de</strong> tratamento para osdistúrbios psíquicos. Centra<strong>do</strong>s nas premissas freudianas, os psicanalistas americanospermaneceram fiéis à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que <strong>de</strong> pacientes não neuróticos não po<strong>de</strong>riam seranalisa<strong>do</strong>s. Pouco interesse havia para o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> pacientes psicóticos e antissociais.Da<strong>do</strong> esse cenário, nessa época, nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, os confrontos epistemológicos daprimeira “zona interna” aconteciam apenas com a área da psicologia.Levan<strong>do</strong> em conta aspectos relativos à segunda zona interna, vale <strong>de</strong>stacar que adivisão entre M. Klein e A. Freud ocorrida na socieda<strong>de</strong> britânica na década <strong>de</strong> 40 tevegran<strong>de</strong> repercussão nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, resultan<strong>do</strong> em uma persistente antipatia datradição psicanalítica americana à contribuição <strong>de</strong> M. Klein, autora cuja teoria foi, pormuito tempo, totalmente ignorada. Em <strong>de</strong>corrência disso, o trabalho <strong>de</strong> A. Freud foimais difundi<strong>do</strong> naquele país e a <strong>de</strong>dicação ao pensamento <strong>de</strong> Freud vigoroupre<strong>do</strong>minante até por volta <strong>de</strong> 1980 (cf. MITCHELL e BLACK, 1995, p. 85). Alémdisso, os psicanalistas americanos transferiram a animosida<strong>de</strong> nutrida por Klein tantopara os teóricos que aceitavam as inovações da psicanalista como para aqueles quefaziam parte <strong>do</strong> grupo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte britânico, entre os quais estavam <strong>Winnicott</strong>,Fairbain, Balint, Bolwby e Guntrip. Conheci<strong>do</strong>s como teóricos das relações objetais,esses psicanalistas enfrentaram importante rejeição entre os anos 50 e 70 em razão <strong>de</strong>esse enfoque ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um <strong>de</strong>svio <strong>do</strong> pensamento psicanalítico tradicional. Po<strong>de</strong>sedizer que foi a conjunção <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s esses fatores que retar<strong>do</strong>u a penetração da correnteUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>34


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise<strong>de</strong> pensamento psicanalítico que <strong>de</strong>stacava a relevância <strong>do</strong>s relacionamentos precocespara o <strong>de</strong>senvolvimento individual em solo americano.O <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> pensamento freudiano iniciou seu <strong>de</strong>clínio nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>squan<strong>do</strong> a i<strong>de</strong>ia da etiologia biológica <strong>do</strong> a<strong>do</strong>ecer e, concomitantemente, o retorno damedicação como tratamento para as psicopatologias ressurgiram a partir <strong>do</strong>s anos 70.Contribuiu também para isso o fato <strong>de</strong> a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> analistas americanos começar areconhecer as limitações para tratar com análise clássica pacientes que não seenquadravam nos critérios <strong>de</strong> tratabilida<strong>de</strong> e análise impostos por Freud. Tambémcrescia a observação <strong>de</strong> que pacientes neuróticos muitas vezes encobriam transtornossubjacentes <strong>de</strong> origem pré-edípica, além <strong>de</strong> um aumento da <strong>de</strong>manda por atendimento<strong>de</strong> pacientes <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s narcísicos, bor<strong>de</strong>rline e psicóticos, espelhan<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> ampliação nas técnicas <strong>de</strong> análise. Por fim, a ampla psicologização <strong>de</strong> to<strong>do</strong> equalquer aspecto da vida levou a psicanálise a per<strong>de</strong>r espaço para áreas não médicas <strong>de</strong>aconselhamento como a psicologia e a assistência social. Por tu<strong>do</strong> isso, a psicanálise,que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre fora externamente contestada como ciência pelos filósofos <strong>do</strong>conhecimento e cientistas naquele país, passou a ser internamente contestada comométo<strong>do</strong> <strong>de</strong> tratamento pelos psiquiatras biologicistas, pelos psicólogos e por algunspsicanalistas.Em meio a essas turbulências algumas ações foram tomadas. Em uma tentativa<strong>de</strong> pacificação entre filósofos e cientistas, que tinham uma atitu<strong>de</strong> extremamente críticapara com a psicanálise, o <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> filosofia da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nova Iorqueorganizou, em 1958, um encontro interdisciplinar com representantes das três áreas, noqual foram discutidas as principais críticas à psicanálise. O ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong>ssaconversa foi a compreensão <strong>do</strong>s cientistas e filósofos <strong>de</strong> que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ciênciaaceitável era o usa<strong>do</strong> pelas ciências naturais, cujo exemplo máximo são a física e aquímica. Assim <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>, a psicanálise ficou alocada entre as ciências humanas, ao la<strong>do</strong>da metafísica, i<strong>de</strong>ologia e religião. Posto isso, cientistas e filósofos questionaram amaneira <strong>de</strong> teorizar psicanalítica e argumentaram sobre a importância <strong>de</strong> a área fazervalidações empíricas, caso preten<strong>de</strong>sse ser reconhecida como ciência.Relativo aos resulta<strong>do</strong>s concretos <strong>de</strong>sse encontro, Bleichmar apresenta umestu<strong>do</strong> feito por Peter Fonagy, em 1982, no qual este último fez uma revisão <strong>do</strong>s quatropassos que os psicanalistas buscaram empreen<strong>de</strong>r na direção <strong>de</strong> sustentar uma validaçãoempírica da disciplina: 1. estu<strong>do</strong>s sobre a eficiência terapêutica realiza<strong>do</strong>s, entre outrosteóricos, por Kernberg; 2. a busca <strong>de</strong> verificação das hipóteses <strong>de</strong>ntro da sessãoUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>35


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise(laboratório interpretativo), realizada por Bowlby e outros; 3. a observação direta <strong>do</strong><strong>de</strong>senvolvimento, realizada por Mahler, Spitz e Bowlby e, também, uma série <strong>de</strong>estu<strong>do</strong>s experimentais para validar as concepções teóricas.Portanto, entre os anos 70 e 90 <strong>do</strong> século XX o cenário psicanalítico americanomu<strong>do</strong>u, haven<strong>do</strong> cada vez mais espaço para as i<strong>de</strong>ias <strong>do</strong>s teóricos das relações objetaisem razão <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>senvolvimentais que enfatizavam que a interrupção e o déficit<strong>de</strong> atendimento <strong>do</strong>s pais ao longo <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da criança, mais <strong>do</strong> que osconflitos sexuais, eram os elementos significativos para a psicopatologia. Por<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem uma clara ruptura com a teoria instintual freudiana, as posições teóricas <strong>do</strong>grupo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da Socieda<strong>de</strong> Britânica – especialmente a noção da importância <strong>do</strong>ambiente e <strong>do</strong> relacionamento inicial entre mãe e bebê – passaram a ser consi<strong>de</strong>radascomo uma alternativa para o impasse psicanalítico.Para compreen<strong>de</strong>r a mudança <strong>de</strong> interesse teórico ocorrida no campopsicanalítico é importante voltar à atenção para o trabalho <strong>de</strong> John Bowlby, queestudava os efeitos das diferentes formas <strong>de</strong> experiência familiar sobre o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma criança <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1929, quan<strong>do</strong> trabalhou em uma escola paracrianças <strong>de</strong>sajustadas. Contrapon<strong>do</strong> as i<strong>de</strong>ias kleinianas, que <strong>de</strong>fendiam o pre<strong>do</strong>mínioda agressivida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>strutivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> bebê como um aspecto intrapsíquico, Bowlbysustentava a importância <strong>do</strong> relacionamento entre mãe e filhos como base para oajustamento psíquico, e marcou sua dissidência com M. Klein quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>stacou o papelda mãe real com a afirmação: “mas existe uma coisa como uma mãe ruim”(MITCHELL e BLACK, 1995, p. 114).Funda<strong>do</strong> nessa inquietação, Bowlby iniciou uma produtiva e influente linha <strong>de</strong>pesquisa sobre o afeto que contribuiu para elucidar a importância <strong>do</strong> compromisso <strong>do</strong>spais para com os filhos. A i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> que problemas relativos à mudança <strong>de</strong>ambiente e/ou separação e perdas parentais exercem influência no <strong>de</strong>senvolvimentoemocional da criança e a<strong>do</strong>lescente gerou modificações tanto no mo<strong>do</strong> <strong>de</strong>relacionamento familiar como nas políticas públicas ligadas ao alojamento erecuperação <strong>de</strong> jovens antissociais.Em virtu<strong>de</strong> da divulgação <strong>de</strong> suas pesquisas, John Bowlby foi contrata<strong>do</strong> em1950 pela Organização Mundial da Saú<strong>de</strong> para <strong>de</strong>senvolver um estu<strong>do</strong> sobre asnecessida<strong>de</strong>s das crianças sem lar, isto é, crianças órfãs ou separadas <strong>de</strong> suas famíliaspor diferentes motivos e que precisavam <strong>de</strong> assistência <strong>de</strong> lares substitutos ou algumainstituição. Para realizar esse trabalho ele passou cinco meses viajan<strong>do</strong> por diversosUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>36


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisepaíses da Europa (França, Suécia, Suíça, Reino Uni<strong>do</strong>) e pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,participan<strong>do</strong> <strong>de</strong> discussões com os responsáveis pelo assunto em cada país. 14Essa empreitada <strong>de</strong> Bowlby teve gran<strong>de</strong> repercussão por estar sintonizada com aclássica polêmica entre natureza versus criação que rondava o mun<strong>do</strong> científico social eo campo psicanalítico no segun<strong>do</strong> pós-guerra, reacen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> também, no interior dapsicanálise, a questão da oposição trauma versus fantasia como origem <strong>do</strong> a<strong>do</strong>ecer. Anoção <strong>de</strong> que a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s que uma criança recebe nos primeiros anos <strong>de</strong>vida e também a privação materna nessa fase têm ressonância em termos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>emocional futura foi acolhida como um avanço. Em suas pesquisas com animais, e naanálise comparativa <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s com crianças – evi<strong>de</strong>ntes esforços em correspon<strong>de</strong>r aoapelo <strong>de</strong> cientificida<strong>de</strong> e comprovação <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s exigi<strong>do</strong>s da psicanálise pelacomunida<strong>de</strong> filosófica científica americana –, Bowlby aponta as situações e problemasque po<strong>de</strong>m se confirmar como ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s ou traumáticos para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>uma criança. No entanto, apesar <strong>do</strong> impacto que suas i<strong>de</strong>ias provocaram e a gran<strong>de</strong>repercussão <strong>de</strong> seus livros, po<strong>de</strong>mos dizer que as tentativas <strong>de</strong> teorização <strong>de</strong> Bowlby sãoreconhecidamente frágeis e simplistas.A crítica <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> às proposições teóricas <strong>de</strong> Bowlby foi incisiva. Apesar <strong>de</strong>dar crédito à iniciativa <strong>do</strong> colega <strong>de</strong> anunciar o valor <strong>do</strong> relacionamento mãe-bebê nosmomentos iniciais e <strong>de</strong> propagar a importância <strong>de</strong> se evitarem rompimentos<strong>de</strong>snecessários nessa fase, <strong>Winnicott</strong> aponta sérias restrições aos postula<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Bowlby.As objeções <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> às justificativas teóricas <strong>de</strong> Bowlby são <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m que leros comentários <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>, 15 sem estudar Bowlby, po<strong>de</strong> provocar a errônea impressão<strong>de</strong> que houve má vonta<strong>de</strong> da parte <strong>do</strong> primeiro em relação à contribuição teórica <strong>do</strong>colega britânico. 1614 Um relatório das conclusões <strong>de</strong>sse estu<strong>do</strong> foi publica<strong>do</strong> em forma <strong>de</strong> livro em 1952, como umacompilação <strong>do</strong> relatório original, entregue pelo psicanalista a ONU em 1951. Em 1964 uma segundaedição <strong>do</strong> livro Cuida<strong>do</strong>s Maternos e saú<strong>de</strong> Mental foi publicada. Essa nova edição foi revisada pelopróprio autor e acrescida <strong>de</strong> <strong>do</strong>s artigos <strong>de</strong> Mary D. Salter Ainsworth, que também são resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>investigação e estu<strong>do</strong>s sobre o mesmo tema e foram solicita<strong>do</strong>s pela ONU em 1962.15 <strong>Winnicott</strong> fez a resenha <strong>do</strong> livro Maternal Care and Mental Health <strong>de</strong> Bowlby e participou como omesmo <strong>do</strong> <strong>de</strong>bate Grief and Mourning in Infancy que po<strong>de</strong>m ser vistos em <strong>Winnicott</strong> (1994).16 Na resenha que fez <strong>do</strong> livro, Cuida<strong>do</strong>s Maternos e saú<strong>de</strong> Mental, <strong>Winnicott</strong> realça a preocupação <strong>de</strong>Bowlby em dar um tratamento estatístico para as questões psicológicas e o quanto perseguir esse objetivosupersimplificou o assunto trata<strong>do</strong>. Ele também critica a abordagem teórica <strong>do</strong> livro, “uma pobreza <strong>de</strong>tratamento que é <strong>de</strong>cepcionante”, con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> que, em alguns momentos “são mais satisfatórios,embora mais popularmente formula<strong>do</strong>s” (WINNICOTT, 1994 p. 324). Quan<strong>do</strong> juntos, em 1953, em um<strong>de</strong>bate sobre o tema luto na infância, <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>clara o equívoco da leitura, por parte <strong>de</strong> Bowlby, sobreo tema privação e <strong>de</strong>privação, perda e luto em seus próprios textos. Também faz questão <strong>de</strong> se pronunciarsobre o quanto consi<strong>de</strong>ra ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> a transposição <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s com animais para sereshumanos dizen<strong>do</strong> “gosto da etologia por causa <strong>do</strong> que ela nos diz a respeito <strong>do</strong>s animais” e, afirmaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>37


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseA mesma opinião sobre a teorização <strong>de</strong> Bowlby tem os historia<strong>do</strong>res dapsicanálise americana Mitchell e Black. Para esses autores, conquanto Bowlby tenhaalcança<strong>do</strong> um menor status <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> corpo teórico psicanalítico (cf. MITCHELL eBLACK, 1995, p. 138) ele conseguiu, <strong>de</strong> fato, marcar seu lugar no cenário americanoporque suas pesquisas, além <strong>de</strong> alertarem para a importância das relações entre pais efilhos, estabeleciam uma interface entre a psicanálise e outras disciplinas como biologia,antropologia e etologia.Avalian<strong>do</strong> essa passagem histórica, constatamos que, por se <strong>de</strong>dicar a um temafrequente e preocupante em sua época, Bowlby cumpriu um importante papel pordivulgar uma nova possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão <strong>do</strong> a<strong>do</strong>ecimento psíquico e, ao fazerisso, <strong>de</strong> alguma forma colaborou para disseminar as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> nos Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s, visto que com frequência ele se apoiava no pensamento <strong>de</strong>sse teórico parajustificar suas proposições.A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong>sses novos ares, a resistência da tradição freudiana a inovações nateoria e técnica permanecia, especialmente por parte daqueles vincula<strong>do</strong>s às Socieda<strong>de</strong>s<strong>de</strong> Psicanalistas <strong>de</strong> Nova Iorque e <strong>de</strong> Chicago. No entanto, mesmo assim, algunspsicanalistas americanos, como Thomas Og<strong>de</strong>n (São Francisco), Arnold Mo<strong>de</strong>ll(Boston), Phyllis Greenacre (New York), Simon Grolnick, Peter Giovachinni 17(Chicago) e, também, estrangeiros resi<strong>de</strong>ntes no país como Otto Kernberg, HeinzKohut, Margaret Mahler começaram a se interessar pela teoria das relações objetais epelo pensamento <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>. Entretanto, logo <strong>de</strong> início, o valor, a importância e ainventivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> pensamento <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> em relação ao pensamento tradicional nãoforam i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s. Por esse motivo, mesmo com o empenho <strong>de</strong> novos estudiosos <strong>de</strong>sua teoria, a receptivida<strong>de</strong> a <strong>Winnicott</strong>, em 1968, quan<strong>do</strong> apresentou na SPNY o artigo“O uso <strong>do</strong> objeto e o relacionamento através <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificações”, não foi facilitada.Elsa Dias, no artigo “<strong>Winnicott</strong> em Nova Iorque: um exemplo daincomunicabilida<strong>de</strong> entre paradigmas” (DIAS, 2005 p.179), apresenta uma profundaanálise das questões e <strong>do</strong>s argumentos contrários a <strong>Winnicott</strong> feitos pelos psicanalistasamericanos, apontan<strong>do</strong> aquela experiência como “uma ilustração da tese <strong>de</strong> Thomas S.enfaticamente que, “para o analista, a contribuição da etologia é um beco sem saída” (WINNICOTT,1994, p. 327).17 Giovacchini, que se interessava pelo pensamento <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos <strong>de</strong> sua formação,também <strong>de</strong>ve ser menciona<strong>do</strong> como responsável pela divulgação <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ias na América <strong>do</strong> Norte. Noprimeiro volume da serie “Táticas e técnicas psicanalíticas”, no qual reuniu autores americanos eeuropeus afins com o pensamento in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, incluiu o artigo <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> “Fragmentos <strong>de</strong> uma análise”.Esse artigo <strong>de</strong>spertou o interesse <strong>de</strong> muitos estudiosos americanos a respeito <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ias.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>38


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseKuhn sobre a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> interlocução entre os a<strong>de</strong>ptos <strong>de</strong> paradigmas diferentes <strong>de</strong>uma mesma disciplina e sobre o mo<strong>do</strong> como estes se tornam refratários aoquestionamento <strong>de</strong> seus compromissos teóricos <strong>de</strong> base”. Para Dias,[...] o <strong>de</strong>bate nova-iorquino sobre o artigo “O uso <strong>de</strong> um objeto”,conti<strong>do</strong> na Ata redigida por David Milrod, ilustrou aspectos sociais ecomunicacionais <strong>do</strong> conflito entre o paradigma sexual da psicanálisetradicional, organiza<strong>do</strong> em torno <strong>de</strong> conceitos da teoria freudiana dasexualida<strong>de</strong> e da metapsicologia, e o paradigma maturacional <strong>de</strong><strong>Winnicott</strong>, centra<strong>do</strong> na sua teoria <strong>do</strong> amadurecimento e numaontologia <strong>de</strong> tipo fenomenológico, avessa à especulaçãometapsicológica” (DIAS, 2005, p.205)E foi realmente na linha das questões paradigmáticas que a psicanáliseamericana envere<strong>do</strong>u a partir <strong>do</strong> momento em que a posição freudiana comosustentáculo teórico e clínico da área foi se <strong>de</strong>smanchan<strong>do</strong>. Sob sérios questionamentosa respeito da proprieda<strong>de</strong> da análise como tratamento para as psicopatologias maisgraves, a psiquiatria paulatinamente se distanciou da psicanálise, tanto como formaçãocomo prática e retomou a medicalização como forma <strong>de</strong> tratamento. Com isso, passousea aceitar não médicos – como psicólogos e assistentes sociais – para formaçãopsicanalítica, os quais, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> um outro olhar sobre as questões da saú<strong>de</strong>emocional, faziam sérios questionamentos teóricos e clínicos. Acossa<strong>do</strong>s pela novaconcorrência profissional, os psicanalistas/psiquiatras perceberam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ampliar a teoria e a técnica para aten<strong>de</strong>r a uma nova <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> pacientes. Somente apartir <strong>do</strong>s anos 70 houve uma real abertura para o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> pensamento <strong>de</strong> MelanieKlein e <strong>de</strong>mais teóricos das relações objetais.O aprofundamento <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ssa nova linha teórica psicanalítica introduziuum novo problema aos psicanalistas americanos e estudiosos da área. Reconhecidas asinovações vindas <strong>de</strong> solo europeu, a dúvida surgida era sobre como incorporar a gran<strong>de</strong>gama <strong>de</strong> inovações teóricas e clínicas propostas por Klein e colegas britânicos ao corpoteórico psicanalítico tradicional.Em 1975, Arnold Mo<strong>de</strong>ll fez uma tentativa <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o impassepsicanalítico nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, apoia<strong>do</strong> em T. S. Kuhn, isto é, em termosparadigmáticos. Reconhecen<strong>do</strong> que a psicanálise vivia um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> crise cria<strong>do</strong> peladiscrepância entre as teorias tradicionais e os “novos fatos vin<strong>do</strong>s principalmente dapsicopatologia das teorias da relação objetal” (apud EAGLE, 1984, p. 29), Mo<strong>de</strong>lltentou integrar a nova dimensão <strong>de</strong> fenômenos propostos por essas teorias ao mo<strong>de</strong>loUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>39


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisefreudiano. Para ele, essa integração seria fundamental para que o mo<strong>de</strong>lo freudianosobrevivesse como o paradigma central da psicanálise. Morris Eagle criticou essatentativa <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>ll, realçan<strong>do</strong> que, ao tentar ajustar essas duas teorias, ele acabourevelan<strong>do</strong> dificulda<strong>de</strong>s e inconsistências entre elas. Para Eagle, a real contribuição <strong>de</strong>Mo<strong>de</strong>ll com esse estu<strong>do</strong> foi <strong>de</strong>svelar que o paradigma freudiano estava severamente<strong>de</strong>safia<strong>do</strong> pelas teorias da relação <strong>de</strong> objeto e pelos fenômenos <strong>do</strong> self.Algumas outras tentativas <strong>de</strong> integração, acomodação ou complementarida<strong>de</strong>entre as teorias <strong>de</strong> base pulsional e <strong>de</strong> base relacional foram feitas, naquele país, porSandler, Schafer, Stolorow, Brandchaft, Kernberg e Kohut. No entanto, passa<strong>do</strong>s osanos, essa fase foi encerrada. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> integração e acomodação <strong>do</strong>s diferentesmo<strong>de</strong>los teóricos ou teorias psicanalíticas existentes ou mesmo as tentativas <strong>de</strong> buscar“ampliar os conceitos e as fronteiras <strong>do</strong> velho paradigma para incluir o que é novo”(GREENBERG, 1994, p. 11) é um <strong>de</strong>safio há muito <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> <strong>de</strong> la<strong>do</strong> pela comunida<strong>de</strong>americana. Atualmente, está assimilada pelos teóricos psicanalistas, filósofos ecientistas a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se colocarem em um mesmo invólucro as tesesfreudianas e as <strong>de</strong>scobertas <strong>do</strong>s teóricos das relações objetais. Dessa forma, pre<strong>do</strong>minanaquele país a noção <strong>de</strong> que a psicanálise como área se equilibra em torno <strong>de</strong> <strong>do</strong>isparadigmas divergentes <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s por Greenberg e Mitchell <strong>de</strong> estrutura pulsional eestrutura relacional; na visão <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>ll, <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como o mo<strong>de</strong>lo uma pessoa e duaspessoas e, na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Eagle como instinto versus mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>ficitário (cf. Barron,Eagle e Wolitzky, p. 43).Entretanto, a <strong>de</strong>dicação aos teóricos das relações objetais a partir <strong>do</strong>s anos 80 <strong>do</strong>século XX aprofun<strong>do</strong>u e <strong>de</strong>terminou o reconhecimento das significativas diferençasentre os postula<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sses autores. Hoje, é consenso na comunida<strong>de</strong> psicanalistaamericana a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que as perspectivas relacionais na psicanálise compartilham umcompromisso fundamental com a proposição <strong>de</strong> que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da vida o<strong>de</strong>senvolvimento psicológico ocorre nos relacionamentos, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>cisivos os momentosprimitivos da relação mãe-bebê. Também reconhecem: 1) que os teóricos <strong>de</strong>ssa linhanão pensam em termos <strong>de</strong> pulsão que procuram se <strong>de</strong>scarregar e que eles relativizam ou<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ram o complexo <strong>de</strong> Édipo como estruturante, visto que as patologias maisgraves têm sua origem nos estágios iniciais da relação mãe-bebê; 2) que eles diferem namaneira pela qual concebem a estrutura <strong>do</strong>s relacionamentos iniciais e sobre o lugar eimportância <strong>de</strong>les na organização psíquica e mental.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>40


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseNo artigo “Object relactions: toward a relational mo<strong>de</strong>lo of mind” (Irene Fast,1992), fica bem exemplificada essa posição. Ela diz que, na perspectiva das relaçõesobjetais, as crianças po<strong>de</strong>m ser vistas como persegui<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> objetos como propõemFairbairn e Bowlby ou, em vez <strong>de</strong>ste enfoque direcional, outros teóricos enfatizam orelacionamento <strong>de</strong> duas pessoas como um to<strong>do</strong> – a unida<strong>de</strong> mãe-bebê – como maisfundamental <strong>do</strong> que a busca <strong>de</strong> vínculo por parte da criança, como propõe, por exemplo,<strong>Winnicott</strong> (FAST, 1992, p. 188).Gradualmente, a noção <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma pessoa é afeta<strong>do</strong> tantopela maneira <strong>de</strong> ser da mãe como pelo mo<strong>do</strong> como a mãe percebe e cuida <strong>de</strong> seu bebêtornou-se evi<strong>de</strong>nte. Várias outras áreas <strong>de</strong> pesquisas, como a neonatologia, contribuírampara iluminar essa verda<strong>de</strong>. Nesse novo cenário, a teoria <strong>do</strong> amadurecimento pessoal <strong>de</strong><strong>Winnicott</strong> vem se <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> como a que maior substrato traz para a compreensão <strong>do</strong>acontecer humano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento <strong>de</strong> um bebê <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, sem consciência <strong>de</strong> si,<strong>do</strong> outro e da relação entre eles, até a constituição <strong>de</strong> uma pessoa autônoma, criativa,responsável e ciente <strong>do</strong>s compromissos com o outro e com a realida<strong>de</strong>.Contrapon<strong>do</strong>, por exemplo, com a noção <strong>de</strong> “mãe ruim” <strong>de</strong>flagrada por Bowlby,e que terminou por gerar um excesso <strong>de</strong> pre<strong>de</strong>terminações <strong>do</strong> que é bom e mau narelação entre mãe e filho, atualmente se reconhece que somente <strong>Winnicott</strong> esclareceteoricamente qual é o papel da mãe e quais são as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> bebê para que a linha<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento transcorra sem distorções. Também se aceita que apenas em<strong>Winnicott</strong> há clareza sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r ou não as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> umfilho ao longo da trajetória <strong>de</strong> ele se constituir como pessoa sempre ser relativa a umasituação concreta. Isto é, está sempre referi<strong>do</strong> a uma mulher com uma condição <strong>de</strong>amadurecimento e capacida<strong>de</strong>s próprias, que lidará com a nova realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serinicialmente tu<strong>do</strong> para cada novo bebê que venha ter, na esperança <strong>de</strong> que ele venha aser alguém. Para <strong>Winnicott</strong>, não há regras nem tecnicismo propostos, por ninguémexterno a essa relação, que capacite a mulher para exercer essa tarefa com pessoalida<strong>de</strong>.Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se ainda a oposição natureza versus criação, sabe-se que<strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>staca a importância <strong>do</strong> ambiente, mas que, apenas em sua teoria, o lugar e aimportância da fantasia da criança na constituição <strong>de</strong> seu psiquismo estão manti<strong>do</strong>s.Concernente à oposição entre trauma versus fantasia, compreen<strong>de</strong>-se que somente<strong>Winnicott</strong> articulou diferentes acepções <strong>de</strong> trauma, as quais só po<strong>de</strong>m ter seus senti<strong>do</strong>s esignifica<strong>do</strong>s <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> relaciona<strong>do</strong>s ao momento da falha ambiental e <strong>do</strong>amadurecimento <strong>do</strong> bebê. O aspecto diferencial, em termos <strong>de</strong> experiência <strong>do</strong> que éUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>41


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisebom ou mau para cada pessoa, além <strong>de</strong> ser continuamente constituí<strong>do</strong> na relação inicialentre mãe e filho, é, por sua vez, colori<strong>do</strong> pela crescente capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fantasiar dacriança em <strong>de</strong>senvolvimento.Nos últimos 20 anos esta tem si<strong>do</strong> a atmosfera <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s psicanalíticosamericanos. Greenberg consi<strong>de</strong>ra <strong>Winnicott</strong> como “um colabora<strong>do</strong>r, extremamenteinova<strong>do</strong>r e influente para o <strong>de</strong>senvolvimento da teoria e prática psicanalítica”, e como oautor que formulou uma completa teoria, “<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> self a partir da suamatriz relacional” (GREENBERG, 1994, p. 138). Eles também assumem que “asformulações <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> quanto à emergência <strong>do</strong> self (...) fornecem um fundamentopara a teoria <strong>de</strong>senvolvimental radicalmente diferente daquele <strong>de</strong> seus pre<strong>de</strong>cessoresfreudianos e kleinianos” (GREENBERG, 1994, p. 138). Mitchell e Black (1995), nolivro Freud and Beyond, apreen<strong>de</strong>m que “a ponte construída por <strong>Winnicott</strong> entre asqualida<strong>de</strong>s e nuances da subjetivida<strong>de</strong> adulta e a sutilida<strong>de</strong> da interação mãe-bebêpromoveu uma nova e po<strong>de</strong>rosa perspectiva <strong>de</strong> compreensão tanto <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<strong>do</strong> si-mesmo como <strong>do</strong> processo analítico” (GREENBERG, 1994, p. 125).ReferênciasBARRON, J., EAGLE, M. e WOLITZKY, D. Interface of Psychoanalysis andPsychology. Washington, American Psychological Association, 1992.BLEICHMAR, N. A psicanálise <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Freud. Porto Alegre, Artes Médicas, 1992.BOWLBY, J. Cuida<strong>do</strong>s maternos e saú<strong>de</strong> mental. São Paulo, Martins Fontes, 1981.BOWLBY, J. Formação e rompimentos <strong>do</strong>s laços afetivos. São Paulo, Martins Fontes,1990.DIAS, E. <strong>Winnicott</strong> em Nova Iorque: um exemplo da incomunicabilida<strong>de</strong> entreparadigmas. Natureza Humana, v. 7, n. 1, p. 179-206, 2005.GIOVACCHINI, P. L. Teorias e técnicas psicanalíticas – D.W. <strong>Winnicott</strong>. PortoAlegre, Artes Médicas, 1995.GREENBERG, J. R. Relações objetais na teoria psicanalítica. Porto Alegre, ArtesMédicas, 1994.KERNBERG, O. F. Contemporary Controversiesin phychoanalytic theory, techiniques,and their applications. New Haven, Yale Univertsity Press, 2004.MITCHELL, S. A. e BLACK, M. Freud and Beyond. New York, Basic Books, 1995.SHORTER, E. Uma história da psiquiatria: da era <strong>do</strong> manicômio à ida<strong>de</strong> <strong>do</strong> prozac.Lisboa, Climepsi, 2001.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>42


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseWINNICOTT, D.W. (1989). Psycho-Analytic Explorations. Cambridge, Mass., HarvardUniversity Press. Tradução brasileira: Explorações psicanalíticas. Porto Alegre, ArtesMédicas, 1994.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>43


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseConsi<strong>de</strong>rações sobre o Jogo <strong>do</strong> Rabisco 18Consi<strong>de</strong>rations about the Squiggle GameMaíra Bonafé Sei 19ResumoO “Jogo <strong>do</strong> Rabisco” foi cria<strong>do</strong> como uma estratégia <strong>de</strong> contato e intervenção<strong>de</strong>senvolvida por <strong>Winnicott</strong>. Este autor apresenta as Consultas Terapêuticas, que seconfiguram como entrevistas diagnósticas, por meio das quais é possível ofertar escuta eholding. Tem-se uma valorização <strong>do</strong> lúdico, com o terapeuta como alguém capaz <strong>de</strong>brincar e propiciar o brincar <strong>do</strong> outro. Para as Consultas Terapêuticas <strong>de</strong> crianças,<strong>Winnicott</strong> propôs o uso <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong> Rabisco”. Após a apresentação <strong>de</strong>sta técnica,varia<strong>do</strong>s profissionais adaptaram-na conforme suas necessida<strong>de</strong>s. Assim, há autores queapontam o uso <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong> Rabisco” em contextos <strong>de</strong> diagnóstico psicológico,associa<strong>do</strong> a histórias concebidas a partir <strong>do</strong> rabisco esboça<strong>do</strong> na psicoterapia <strong>de</strong>crianças, em atendimentos familiares com a contribuição <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s familiares. Percebe-seentão, por meio da literatura e da experiência clínica, que este é um recurso rico cujaspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aplicação têm se amplia<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma a abranger situações e públicosdiversos.Palavras-chave: Psicanálise, <strong>Winnicott</strong>, Jogo <strong>do</strong> Rabisco.AbstractThe “Squiggle Game” was created as a contact and intervention strategy <strong>de</strong>veloped by<strong>Winnicott</strong>. The author presents the Therapeutic Consultations, which are configured asdiagnostic interviews, through which it is possible to offer listening and holding. In thiscontext there is a positive reception of the playful, with the therapist as someone whocan play and promote the playing of the other. <strong>Winnicott</strong> proposed the use of “SquiggleGame” for the Therapeutic Consultations of children. After presenting this technique,various professionals adapted it to their own needs. Thus, some authors have suggestedusing the “Squiggle Game” in contexts of psychological diagnosis, associated withstories <strong>de</strong>signed from squiggle sketched in the psychotherapy of children, in family care18 Reflexões <strong>de</strong>senvolvidas por meio da prática clínica da autora em diversos contextos e por meio <strong>de</strong> suapesquisa <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>, financiada pela CAPES/FAPESP.19 Psicóloga, Mestre e Doutora em <strong>Psicologia</strong> Clínica – IP-USP; Docente <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>e Psicanálise – CCB-UEL; E-mail: mairabonafe@gmail.comUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>44


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisewith the contribution of all family members. It can be seen then, through literature andclinical experience, that this is a rich resource whose application possibilities have beenexpan<strong>de</strong>d and now cover different situations and publics.Key words: Psychoanalysis, <strong>Winnicott</strong>, Squiggle Game.Jogo <strong>do</strong> Rabisco: consi<strong>de</strong>rações iniciaisA socieda<strong>de</strong> contemporânea apresenta-nos um novo mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> viver,especialmente nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, com um ritmo marca<strong>do</strong> pela velocida<strong>de</strong>, pelaintensida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s afazeres, pela fragilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s vínculos (Bauman, 2004). Muitas são as<strong>de</strong>mandas externas às quais <strong>de</strong>vemos nos submeter e que contribuem para uma perda <strong>de</strong>contato com nosso mun<strong>do</strong> interno, <strong>de</strong>sejos, valores e sonhos. Enten<strong>de</strong>mos que, em ummun<strong>do</strong> como este, pouco espaço passa a ser <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> para um brincar livre, espontâneoe <strong>de</strong>scompromissa<strong>do</strong>, para o lúdico, para a arte, para a criação. Convém, com isso,lembrarmos que para <strong>Winnicott</strong> (1975) ou vivemos criativamente ou po<strong>de</strong>mos sentirque a vida não vale ser vivida.Trago, assim, um trecho <strong>do</strong> texto “Pensar é transgredir” <strong>de</strong> Lya Luft (2004), quecom gran<strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> trata <strong>de</strong>ste tema. De acor<strong>do</strong> com esta autora, “buscamos oator<strong>do</strong>amento das mil distrações corremos <strong>de</strong> um la<strong>do</strong> a outro achan<strong>do</strong> que somosgran<strong>de</strong>s cumpri<strong>do</strong>res <strong>de</strong> tarefas. Quan<strong>do</strong> o primeiro <strong>de</strong>ver seria <strong>de</strong> vez em quan<strong>do</strong> parare analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores.” (p.22). Diante <strong>de</strong>sta dinâmica, é natural que o a<strong>do</strong>ecimento se faça presente. A<strong>do</strong>ecimentoque se manifesta, por vezes, no campo psíquico e, em outras, torna físico algo<strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> um sofrimento mental como forma <strong>de</strong> clamar a atenção e <strong>de</strong>mandar umrepensar, uma reflexão por parte daquele que a<strong>do</strong>ece (WINNICOTT, 1964/1994).Entretanto, mesmo diante da <strong>do</strong>ença, o tempo ou, justamente, a escassez <strong>do</strong>tempo somada às distintas <strong>de</strong>mandas e às carências diversas enfrentadas pela populaçãoacabam por pre<strong>do</strong>minar. Po<strong>de</strong>m ser percebidas, por meio <strong>de</strong>ste contexto, dificulda<strong>de</strong>spara o empreendimento <strong>de</strong> intervenções para o restabelecimento da saú<strong>de</strong>. Para osprofissionais que atuam em serviços públicos, estas dificulda<strong>de</strong>s apresentam-se aindamais intensamente, implican<strong>do</strong> em uma necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> profissional criar novasestratégias <strong>de</strong> intervenção, adaptan<strong>do</strong> seu fazer àquilo que é possível naquele momento,naquele contexto (RIBEIRO, 2012).Diante <strong>de</strong>ste cenário, acreditamos que <strong>Winnicott</strong> foi um psicanalista cujas i<strong>de</strong>iasmuito têm a contribuir na atualida<strong>de</strong>. Sua prática que se inicia na Medicina, com umaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>45


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseespecialização no campo da pediatria e atuação em serviços públicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,colaborou para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um olhar <strong>do</strong> psicanalista que po<strong>de</strong> fazer outracoisa que não a psicanálise orto<strong>do</strong>xa.Valorizou o conhecimento da Psicanálise que po<strong>de</strong> fomentar práticas quepromovam o <strong>de</strong>senvolvimento humano, por meio, por exemplo, <strong>de</strong> palestras a pais eprofissionais, <strong>de</strong> contatos com a família <strong>de</strong> entes a<strong>do</strong>eci<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> consultas terapêuticassem ocorrer necessariamente o seguimento <strong>de</strong> uma análise. Em relação às últimas<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u que “se houver um tipo <strong>de</strong> caso que po<strong>de</strong> ser ajuda<strong>do</strong> por uma ou três visitas aum psicanalista isso amplia imensamente o valor social <strong>do</strong> analista” (WINNICOTT,1965/1994, p. 244). Ressalta, entretanto, que na base <strong>do</strong> encontro terapêutico está acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> brincar <strong>do</strong> analista e sua atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> favorecer o brincar <strong>de</strong> seu paciente.No caso das consultas terapêuticas realizadas com crianças, que possuem formasdiferentes <strong>do</strong> adulto para se comunicar, <strong>Winnicott</strong> criou um meio para facilitar osprimeiros encontros com este público – o “Jogo <strong>do</strong> Rabisco”. De acor<strong>do</strong> com ele, este“é simplesmente um méto<strong>do</strong> para estabelecer contato com um paciente infantil”(WINNICOTT, 1964-1968/1994, p. 231).<strong>Winnicott</strong> não <strong>de</strong>sejava <strong>de</strong>screver os procedimentos <strong>de</strong>sta técnica, com temor <strong>do</strong>uso que po<strong>de</strong>ria ser feito <strong>de</strong>sta exposição no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> se indicar caminhos estreitosque <strong>de</strong>veriam ser rigidamente trilha<strong>do</strong>s pelos segui<strong>do</strong>res. Apesar <strong>de</strong> ter posterga<strong>do</strong> a<strong>de</strong>scrição <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong> Rabisco”, <strong>Winnicott</strong> contou um pouco sobre esta técnica,sinalizan<strong>do</strong> que convida a criança a jogar um jogo, no qual um <strong>do</strong>s participantes inicia o<strong>de</strong>senho por meio <strong>de</strong> um rabisco que será finaliza<strong>do</strong> pelo outro. Após este primeiro<strong>de</strong>senho, os papéis se invertem e aquele que começou o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong>verá terminarsegun<strong>do</strong> o rabisco produzi<strong>do</strong>. A ativida<strong>de</strong> segue ao longo <strong>do</strong> tempo disponível quepossuem para a Consulta Terapêutica. De acor<strong>do</strong> com <strong>Winnicott</strong> (1964-1968/1994, p.232), “no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> uma hora, fizemos juntos 20 a 30 <strong>de</strong>senhos e, gradualmente asignificância <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>senhos conjuntos tornou-se cada vez mais profunda e é sentidapela criança como fazen<strong>do</strong> parte <strong>de</strong> uma comunicação <strong>de</strong> importância”.Compreen<strong>de</strong>-se que esta é uma técnica simples e <strong>de</strong> baixo custo quanto aosrecursos materiais necessários, fato que contribui para o emprego em serviços públicos<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Por outro la<strong>do</strong>, <strong>de</strong>manda um amplo conhecimento teórico <strong>do</strong> profissional quese propõe a utilizá-la, <strong>de</strong> maneira que ele possa compreen<strong>de</strong>r a linguagem simbólicatrazida por meio <strong>do</strong>s <strong>de</strong>senhos produzi<strong>do</strong>s conjuntamente. A<strong>de</strong>mais, <strong>de</strong>ve ser umUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>46


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseprofissional capaz <strong>de</strong> brincar com o outro e a<strong>de</strong>ntrar neste jogo on<strong>de</strong> ambos se mostrame se relacionam por meio da linguagem gráfica, nem sempre familiar a to<strong>do</strong>s.Adaptações e criações a partir <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong> Rabisco”A partir <strong>de</strong> uma contextualização inicial acerca <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong> Rabisco”, tal comoproposto por D.W. <strong>Winnicott</strong>, <strong>de</strong>sejamos discorrer sobre adaptações e criaçõesposteriormente realizadas. Neste senti<strong>do</strong>, em breve levantamento junto à literaturacientífica nacional acerca da temática, foi possível encontrar variadas referências aotema <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong> Rabisco”.Há autores que indicaram o emprego <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong> Rabisco” enquanto uma dasestratégias utilizadas para realização <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> processo <strong>de</strong> diagnóstico e avaliaçãopsicológica (ARAÚJO, 2007). Outros autores sinalizam que o “Jogo <strong>do</strong> Rabisco”passou a ser utiliza<strong>do</strong> como recurso que compõe o processo <strong>de</strong> diagnóstico na áreapsicopedagógica (SILVEIRA, 2010). Nestes casos, pensamos que a técnica mantém-sepróxima da inicialmente formulada por <strong>Winnicott</strong>, inclusive a partir da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> recursopertinente para utilização nas entrevistas iniciais com a criança.Diferentemente, outros autores propuseram adaptações na técnica inicial. Nestassituações, é pertinente retomar o apontamento <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> sobre a apresentação feitasobre o “Jogo <strong>do</strong> Rabisco”,hesitei em <strong>de</strong>screver esta técnica, que utilizei muito no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> umcerto número <strong>de</strong> anos, não apenas por ser um jogo natural que duaspessoas quaisquer po<strong>de</strong>m jogar, mas também porque se começar a<strong>de</strong>screver o que faço, é provável que alguém comece a reescrever o que<strong>de</strong>screvo como se fosse uma técnica estabelecida, com regras eregulamentos. Aí, to<strong>do</strong> valor <strong>do</strong> procedimento se per<strong>de</strong>ria.(WINNICOTT, 1964-1968/1994, p. 231)Enten<strong>de</strong>mos que, por meio <strong>de</strong>ste apontamento, <strong>Winnicott</strong> autoriza osprofissionais a se inspirarem em suas propostas, mas com possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> agircriativamente e construir seus próprios mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> trabalharem no contexto clínico. Deforma geral, ao se atuar a partir <strong>de</strong> um referencial winnicottiano, compreen<strong>de</strong>mos que, a<strong>de</strong>speito das adaptações na técnica proposta, <strong>de</strong>ve-se sempre embasar a atuação <strong>do</strong>profissional a partir da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> um ambiente suficientemente bom. Buscamos,então, ofertar um ambiente aberto ao lúdico e facilita<strong>do</strong>r da emergência <strong>do</strong> gestoespontâneo <strong>do</strong> paciente. De acor<strong>do</strong> com <strong>Winnicott</strong> (1964-1968/1994, p. 243),Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>47


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseIria contra a minha intenção que o Jogo <strong>do</strong> Rabisco se tornassepadroniza<strong>do</strong> ou <strong>de</strong>scrito <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> <strong>de</strong>masiadamente claro. O princípio éque a psicoterapia é feita em uma sobreposição parcial da área <strong>de</strong>brinque<strong>do</strong> da criança e da área <strong>de</strong> brinque<strong>do</strong> <strong>do</strong> adulto ou terapeuta. OJogo <strong>do</strong> Rabisco é um <strong>do</strong>s exemplos da maneira pela qual uma interação<strong>de</strong>sse tipo po<strong>de</strong> ser facilitada.No que concerne a estas adaptações, po<strong>de</strong>mos citar o trabalho <strong>de</strong> Claman (2005),que reúne procedimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho a partir da proposta <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong> Rabisco” e <strong>de</strong>criação <strong>de</strong> histórias constituin<strong>do</strong> um “Jogo <strong>do</strong> Rabisco com história”. Desta maneira,o jogo envolve criar um <strong>de</strong>senho a partir <strong>de</strong> um rabisco, contar umahistória, questionar e ser questiona<strong>do</strong>, <strong>de</strong> forma alternada. (...) Oterapeuta inicia o jogo <strong>de</strong>senhan<strong>do</strong> o primeiro rabisco, a partir <strong>do</strong> qualespera que a criança se baseie. É <strong>de</strong>sejável que a criança <strong>de</strong>senvolva aprimeira história, pois, <strong>de</strong>ssa forma, o terapeuta encontra-se mais apto a<strong>de</strong>cidir a respeito <strong>do</strong> tema que usará na sua própria vez. Se a criança nãocompreen<strong>de</strong>r os procedimentos, a or<strong>de</strong>m po<strong>de</strong> ser revertida, e a criança<strong>de</strong>senha o primeiro rabisco. Uma vez inicia<strong>do</strong>, o jogo continua enquantohouver uma interação produtiva e divertida. (CLAMAN, 2005, p. 393)A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> associar <strong>de</strong>senhos e histórias não é nova, com outros autores ten<strong>do</strong><strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> propostas que se tornaram testes psicológicos com a consigna <strong>de</strong> se criarhistórias a partir da apresentação <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos ou também com a proposta <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senharlivremente e, por meio <strong>do</strong> <strong>de</strong>senho feito, inventar uma história e dar-lhe um título,procedimento <strong>de</strong>ste cria<strong>do</strong> pelo psicanalista Walter Trinca (1987, 1997) e <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong><strong>de</strong> “Desenho-Estória”. Contu<strong>do</strong>, Claman (2005) propõe que o <strong>de</strong>senho seja feito peladupla terapêutica, pelo terapeuta e paciente em conjunto, fato que marca uma diferençaentre estas propostas. A<strong>de</strong>mais, enquanto o procedimento <strong>de</strong> Desenho-Estória seconfigurou como uma estratégia <strong>de</strong> investigação da personalida<strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> hojereconheci<strong>do</strong> como um teste psicológico, o “Jogo <strong>do</strong> Rabisco com história” mostra-semais como uma ferramenta para comunicação no setting terapêutico infantil. Assim, emrelação ao “Jogo <strong>do</strong> Rabisco com história” inseri<strong>do</strong> no processo psicoterapêutico dacriança, Claman (2005) argumenta que “o terapeuta é guia<strong>do</strong> pelo conteú<strong>do</strong> e pelaestrutura <strong>do</strong>s <strong>de</strong>senhos e das histórias da criança para ajudá-la a expressar seuspensamentos, sentimentos e inquietações, em uma forma temática indireta” (p. 395).Outra adaptação <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong> Rabisco” dá-se no campo da Arteterapia, com otrabalho <strong>de</strong> Marien Liebmann (2000). Tem-se uma alteração da proposta inicial on<strong>de</strong>Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>48


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseterapeuta e paciente interagiam por meio da imagem, passan<strong>do</strong> a incluir outrosparticipantes por meio da realização <strong>de</strong> um “Jogo <strong>do</strong> Rabisco Coletivo” em contextos <strong>de</strong>intervenção arteterapêutica grupal.A partir <strong>de</strong>sta proposta <strong>de</strong> Liebmann (2000), pensamos a utilização <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong>Rabisco Coletivo” junto a famílias e <strong>de</strong>mais grupos no setting arteterapêutico. Nestassituações, o “Jogo <strong>do</strong> Rabisco coletivo” po<strong>de</strong> se iniciar por meio da consigna <strong>de</strong> que afamília ou grupo em questão <strong>de</strong>ve realizar um <strong>de</strong>senho em conjunto (SEI, 2011). Po<strong>de</strong>sedar um tema para a realização <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>senho ou <strong>de</strong>ixar que os participantes fiquemlivres para <strong>de</strong>senhar aquilo que <strong>de</strong>sejam. Propomos que o grupo fique em silêncioenquanto faz a produção para que a linguagem pre<strong>do</strong>minante seja a gráfica,estabelecen<strong>do</strong> efetivamente outro tipo <strong>de</strong> comunicação que não a verbal,tradicionalmente utilizada. Desta maneira, não é possível fazer acertos anteriores,combinações sobre o que será <strong>de</strong>senha<strong>do</strong>, com a imagem se <strong>de</strong>linean<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong>próprio fazer.Cabe apontar que fazemos uma a<strong>de</strong>quação não apenas na proposta, mas tambémnos materiais disponibiliza<strong>do</strong>s. Com isso, ao invés <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> papel e lápis grafite,optamos por fornecer uma cor diferente <strong>de</strong> caneta, giz <strong>de</strong> cera, lápis <strong>de</strong> cor para cadaparticipante <strong>de</strong> maneira que seja possível reconhecer a contribuição <strong>de</strong> cada indivíduona construção da produção final. Assim, os participantes permanecem com materiais <strong>de</strong>cores variadas e, ao inserirem sua marca no papel, diferenciam-se <strong>do</strong>s traços inseri<strong>do</strong>spelos <strong>de</strong>mais.Ao longo da experiência <strong>do</strong> “Jogo <strong>do</strong> Rabisco coletivo” com famílias e <strong>de</strong>maisgrupos, percebeu-se que esta proposta facilita a emergência <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>s inconscientese favorece a observação <strong>de</strong> dinâmicas <strong>de</strong> funcionamento grupal. Po<strong>de</strong>mos notar quaispersonagens são mais incisivos em suas contribuições quan<strong>do</strong>, por exemplo, a corutilizada pela pessoa pre<strong>do</strong>mina na imagem produzida, quais se colocam <strong>de</strong> maneiramais tímida nos casos, por exemplo, em que a cor escolhida mal po<strong>de</strong> ser observada no<strong>de</strong>senho final. Estas são analogias que po<strong>de</strong>m ser tecidas entre aspectos registra<strong>do</strong>s pelaimagem <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong>ste “Jogo <strong>do</strong> Rabisco coletivo” e as formas <strong>de</strong> se relacionar <strong>de</strong>cada indivíduo.Consi<strong>de</strong>rações finaisDe forma geral, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>ram que o conjunto da teoria <strong>de</strong> D.W. <strong>Winnicott</strong>contribuiu para uma ampliação da compreensão acerca <strong>do</strong> ser humano. Para esteUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>49


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisetrabalho, focamos o “Jogo <strong>do</strong> Rabisco” e, a partir <strong>de</strong>le, os apontamentos sobre o valorda criativida<strong>de</strong> para o viver humano e saudável, o papel <strong>do</strong> terapeuta enquanto aqueleque oferta um ambiente suficientemente bom ao paciente e o brincar como um aspectoque permeia o encontro terapêutico. Também se valorizou os assinalamentos <strong>de</strong><strong>Winnicott</strong> quanto à possibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s profissionais liga<strong>do</strong>s à psicanálise adaptarem suatécnica conforme a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s contextos nos quais estão inseri<strong>do</strong>s, ou seja, ser umpsicanalista que faz outra coisa mais a<strong>de</strong>quada àquele momento.No que se refere ao “Jogo <strong>do</strong> Rabisco” especificamente, enten<strong>de</strong>mos que o uso<strong>de</strong>sta técnica e as adaptações <strong>de</strong>ste recurso são interessantes. Entretanto, acreditamosque as adaptações técnicas propostas <strong>de</strong>vem ser sempre estudadas, <strong>de</strong> maneira a sepropor uma prática ética, cuida<strong>do</strong>sa e que, efetivamente, favoreçam a emergência <strong>do</strong>gesto espontâneo <strong>do</strong> paciente e contribuam para seu <strong>de</strong>senvolvimento emocional esaú<strong>de</strong>.ReferênciasARAÚJO, M. F. Estratégias <strong>de</strong> diagnóstico e avaliação psicológica. <strong>Psicologia</strong>: Teoriae Prática, v. 9, n. 2, p. 126-141, 2007.BAUMAN, Z. Amor líqui<strong>do</strong>: sobre a fragilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s laços humanos. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Jorge Zahar Ed., 2004.CLAMAN, L. O Jogo <strong>do</strong> Rabisco com histórias na psicoterapia <strong>de</strong> crianças. Mudanças:<strong>Psicologia</strong> da Saú<strong>de</strong>, v. 13, n. 2, p. 389-405, 2005.LIEBMANN, M. Exercícios <strong>de</strong> arte para grupos: um manual <strong>de</strong> temas, jogos eexercícios. São Paulo: Summus, 2000.LUFT, L. Pensar é transgredir. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Record, 2004.RIBEIRO, D. P. S. A. O trabalho <strong>do</strong> psicanalista <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a <strong>de</strong>manda. <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong>Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. <strong>Londrina</strong>: UEL, 2012.SEI, M. B. Arteterapia e psicanálise. São Paulo: Editora Zago<strong>do</strong>ni, 2011.SILVEIRA, F. V. A arte <strong>de</strong> contar histórias: um enfoque Psicopedagógico. ConstruçãoPsicopedagógica, v. 18, n.17, p. 106-127, 2010.TRINCA, W. Investigação clínica da personalida<strong>de</strong>: o <strong>de</strong>senho livre como estímulo <strong>de</strong>apercepção temática. São Paulo: EPU, 1987.TRINCA, W. (org.) Formas <strong>de</strong> investigação clínica em psicologia: procedimento <strong>de</strong><strong>de</strong>senhos-estórias, procedimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> família com estórias. São Paulo: Vetor,1997.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>50


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseWINNICOTT, D. W. (1964) Transtorno [disor<strong>de</strong>r] Psicossomático. Em: WINNICOTT,C., SHEPHERD, R. e DAVIS, M. (orgs.) Explorações psicanalíticas: D. W. <strong>Winnicott</strong>.Porto Alegre: Artmed, 1994. p. 82-93.WINNICOTT, D. W. (1964-1968) O jogo <strong>do</strong> rabisco [Squiggle Game]. Em:WINNICOTT, C., SHEPHERD, R. e DAVIS, M. (orgs.) Explorações psicanalíticas: D.W. <strong>Winnicott</strong>. Porto Alegre: Artmed, 1994. p. 230-243.WINNICOTT, D. W. (1965) O valor da consulta terapêutica. Em: WINNICOTT, C.,SHEPHERD, R. e DAVIS, M. (orgs.) Explorações psicanalíticas: D. W. <strong>Winnicott</strong>.Porto Alegre: Artmed, 1994. p. 244-248.WINNICOTT, D. W. (1971) Consultas terapêuticas em psiquiatria infantil. Rio <strong>de</strong>Janeiro: Imago, 1984.WINNICOTT, D. W. (1971) O brincar e a realida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1975.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>51


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseConsultas terapêuticas: algumas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atuação 20Therapeutic Consultations: some possibilities for actionMaria Ângela Fávero-Nunes 21Resumo<strong>Winnicott</strong> criou as consultas terapêuticas como uma forma <strong>de</strong> melhor utilizar aentrevista clínica. Ele não experimentou os atuais entraves contemporâneosconcernentes ao atendimento terapêutico, como a <strong>de</strong>manda crescente por intervençõesbreves, o número <strong>de</strong> analistas insuficiente para os casos que necessitam <strong>de</strong> ajuda e,ainda, o valor das sessões que habitualmente são altos. Contu<strong>do</strong>, alguns <strong>de</strong>ssesempecilhos e outras barreiras foram vivencia<strong>do</strong>s em seu tempo. A consulta terapêuticatrata <strong>de</strong> oferecer um encontro essencialmente humano, em que o psicoterapeuta secoloca em tempo, espaço e disponibilida<strong>de</strong> pessoal (e mental) ao próprio movimento <strong>de</strong>busca <strong>de</strong> auxílio <strong>do</strong> paciente. Essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento foi oferecida a pais <strong>de</strong>crianças recentemente diagnosticadas com autismo. No encontro com cada casal é quese produziu a <strong>de</strong>manda <strong>do</strong>s pais, sen<strong>do</strong> que se buscou acompanhá-los em seuspensamentos mostran<strong>do</strong> compreensão pelos conflitos vivencia<strong>do</strong>s. A escolha peloembasamento na “consulta terapêutica” se mostrou a<strong>de</strong>quada, pela continência queencerra, pela criativida<strong>de</strong> e liberda<strong>de</strong> intrínsecas, permitin<strong>do</strong> aos casais aproveitarem, <strong>de</strong>acor<strong>do</strong> com seus ritmos, e não por um enquadre rígi<strong>do</strong> proposto pelo terapeuta ouinstituição. Neste senti<strong>do</strong>, <strong>de</strong>monstrou ser um espaço <strong>de</strong> holding aos pais, diante daexperiência <strong>de</strong> sofrimento vivenciada.Palavras-chave: autismo, consulta terapêutica, pais, Psicanálise, relações conjugais.Abstract<strong>Winnicott</strong> created the therapeutic consultations as a way to better use the clinicalinterview. He has not experienced the current barriers pertaining to contemporary20 Este trabalho apresenta um recorte <strong>de</strong> minha Tese <strong>de</strong> Doutora<strong>do</strong> <strong>de</strong>fendida no ano <strong>de</strong> 2010, junto aoDepartamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> Clínica <strong>do</strong> Instituto <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – IPUSP,intitulada “Consulta terapêutica com pais <strong>de</strong> crianças autistas: a interface entre a parentalida<strong>de</strong> e aconjugalida<strong>de</strong>” que foi orientada pela Profa. Livre Docente Isabel Cristina Gomes.21 Psicóloga Clínica, Professora Doutora <strong>do</strong> Depto <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise da UEL, graduada em<strong>Psicologia</strong> pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> Ribeirão Preto da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo- FFCLRP-USP, com mestra<strong>do</strong> em <strong>Psicologia</strong> pelo Programa <strong>de</strong> Pós Graduação em <strong>Psicologia</strong> daFFCLRP-USP e <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em <strong>Psicologia</strong> Clínica pelo Instituto <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> – IPUSP, com estágioCAPES/PDEE (bolsa-sanduíche) na Université Paris V, França. Estagiou na Ecole Expérimentale <strong>de</strong>Bonneuil-sur-Marne <strong>do</strong> Centre d'Etu<strong>de</strong> et <strong>de</strong> Recherches Pédagogiques et Psychanalytique, França.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>52


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisetherapeutic care, such as increasing <strong>de</strong>mand for brief interventions, the number of casesinsufficient to analysts who need help, and also the value of the sessions which areusually high. However, some of these roadblocks and other barriers were experienced inhis time. The query is to provi<strong>de</strong> a therapeutic against human essentially wherein thetherapist is placed on space, time and personnel availability (and mental) to the ownmotion search aid of the patient. This type of service is offered to parents of childrenrecently diagnosed with autism. At the meeting with each couple is that produced theparental <strong>de</strong>mand, and sought to accompany them in their thoughts by showingun<strong>de</strong>rstanding current conflicts. The choice for the basement in the "therapeuticconsultation" proved a<strong>de</strong>quate for continence terminating, by creativity and free<strong>do</strong>mintrinsic, allowing couples enjoy, according to its rhythms and not by a rigid frameproposed by the therapist or agency. In this sense, proved a holding space for parents,given the experience of suffering experienced.Keywords: autism, therapeutic consultation, parents, psychoanalysis, conjugalrelationships.O trabalho que relato brevemente nesse <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>:<strong>Winnicott</strong> na história da psicanálise foi contruí<strong>do</strong> com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> realizar um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>Doutora<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, revela também uma trajetória <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s acerca <strong>de</strong> um temaespecífico (FAVERO, 2002; FAVERO, 2005). Os primeiros contatos com a teoriawinnicottiana ocorreram quan<strong>do</strong> eu fazia minha graduação na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia,Ciências e Letras <strong>de</strong> Ribeirão Preto da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, em um estágio <strong>de</strong>atendimento lu<strong>do</strong>terápico <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes vitimiza<strong>do</strong>s, mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> umabrigo. Houve um contato mais próximo com os aspectos teóricos e técnicos da teoria<strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> em uma disciplina que versava sobre Técnicas <strong>de</strong> Investigação daPersonalida<strong>de</strong>. Naquele momento, lembro-me que foi geral o interesse <strong>do</strong>s alunos pelaobra <strong>de</strong>sse psicanalista inglês, por sua maneira livre <strong>de</strong> falar com e sobre pacientes tãodifíceis em situações tão complicadas <strong>de</strong> atendimento.Em paralelo, eu havia realiza<strong>do</strong> um estágio em uma instituição especializadapara crianças autistas que seguia uma meto<strong>do</strong>logia diferente da Psicanálise. Aos poucos,comecei a interessar-me pelas leituras <strong>de</strong> trabalhos psicodinâmicos relaciona<strong>do</strong>s àpsicopatologia e à compreensão das áreas primitivas da mente mesmo em pacientesneuróticos. Desse mo<strong>do</strong>, emergiram interrogações a respeito <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>53


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisenormal e das enfermida<strong>de</strong>s, das diferenças e semelhanças entre aqueles e outrospacientes, bem como indagações acerca da dinâmica familiar. Ampliar o olhar daproblemática <strong>do</strong> autismo para além <strong>do</strong>s sintomas da criança pareceu imprescindível paraum avanço nas pesquisas acerca <strong>de</strong>sse tema. Verifiquei que necessita-se olhar tanto paraos filhos autistas como para os irmãos e seus pais (MARTÃO, 2002). Não se po<strong>de</strong>negligenciar a preocupação com o paciente, porém, o familiar é peça essencial paraconseguir avanços no tratamento da criança.Apesar <strong>de</strong> a preocupação com o casal parental ser recente, compreen<strong>de</strong>mos quepais e mães mais esclareci<strong>do</strong>s, com menos dúvidas, sen<strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>s no seu sofrimento,proporcionam aos seus filhos, autistas e não-autistas, circunstâncias favorece<strong>do</strong>ras <strong>de</strong>crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento emocional. Investin<strong>do</strong> na saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> entorno, a criançatambém acaba sen<strong>do</strong> ajudada, pois as pessoas da família se sentem mais preparadas econfiantes para lidar com as dificulda<strong>de</strong>s cotidianas. É nesse senti<strong>do</strong> que trabalhei naminha Tese <strong>de</strong> Doutora<strong>do</strong> (FAVERO-NUNES, 2010) <strong>de</strong>fendida junto ao Departamento<strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> Clínica <strong>do</strong> Instituto <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – IPUSP,buscan<strong>do</strong> uma compreensão das vivências e no oferecimento <strong>de</strong> um ambiente favorávelpara a escuta das queixas <strong>do</strong> casal <strong>de</strong> pais <strong>de</strong> crianças recentemente diagnosticadas comautismo, traazen<strong>do</strong> a hipótese <strong>de</strong> que esse encontro colaboraria na prevenção <strong>de</strong> futuros<strong>de</strong>sajustes que po<strong>de</strong>m ocorrer, após o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> busca diagnóstica.A questão meto<strong>do</strong>lógicaOs casais passam por momentos <strong>de</strong> sofrimento intenso, quan<strong>do</strong> a criançacomeça a manifestar seus sintomas. Muitas famílias <strong>de</strong>moram a procurar ajuda,contan<strong>do</strong> que os problemas apresenta<strong>do</strong>s pela criança serão supera<strong>do</strong>s com o tempo.Alguns profissionais <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> intervir, também por esse mesmo motivo. A literaturainforma que, para os pais, receber o diagnóstico <strong>de</strong> autismo <strong>do</strong> filho po<strong>de</strong> sertraumático, e programas <strong>de</strong> tratamento com foco somente no diagnóstico po<strong>de</strong>m nãoperceber o impacto que tal notícia po<strong>de</strong> ter, quan<strong>do</strong> a família não tem oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>retornar ao serviço (REID, 1999).Assim, buscamos, nessa pesquisa, trabalhar com encontros basea<strong>do</strong>s na técnicacriada por <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>nominada “consulta terapêutica”. O manejo clínico daconsulta terapêutica nasceu da expansão da Psicanálise tradicional para novosenquadres e settings terapêuticos (GOMES, 2007). Estamos to<strong>do</strong>s inseri<strong>do</strong>s em umacontemporaneida<strong>de</strong> que prima por resulta<strong>do</strong>s imediatos, tolera cada vez menos viverUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>54


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisesofrimentos e frustrações. A consulta terapêutica po<strong>de</strong> se inserir como alternativa àsresoluções urgentes das angústias humanas mo<strong>de</strong>rnas, a fim <strong>de</strong> favorecer, além datomada <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s, um espaço <strong>de</strong> comunicação e <strong>de</strong> pensamento cabível frente ao ritmo<strong>de</strong>senfrea<strong>do</strong> atual.<strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>senvolveu o procedimento da consulta terapêuticas (1984[1971]),na busca <strong>de</strong> usar o espaço terapêutico “da forma mais produtiva e obter os melhoresresulta<strong>do</strong>s terapêuticos possíveis” (OUTEIRAL, 2005, p. 8), no atendimento <strong>de</strong>crianças e a<strong>do</strong>lescentes. Ele não fez uma proposição <strong>de</strong> pesquisa e sim <strong>de</strong> atendimentoterapêutico. Não obstante, classificava essa prática como uma forma <strong>de</strong> entrevista. Oprocedimento da consulta terapêutica po<strong>de</strong> ainda servir <strong>de</strong> um prelúdio para umapsicoterapia mais <strong>de</strong>morada ou mais intensa, mas po<strong>de</strong> facilmente ocorrer que umpaciente esteja prepara<strong>do</strong> para um tratamento mais longo e profun<strong>do</strong>, “apósexperimentar o entendimento concernente a essa espécie <strong>de</strong> entrevista” (1984[1971]), p.13, grifo <strong>do</strong> autor).Pon<strong>de</strong>ramos que a técnica <strong>de</strong> entrevista não-dirigida <strong>de</strong>ixava aberto um espaçopara exploração <strong>de</strong> temas, <strong>de</strong> vivências, proporcionan<strong>do</strong> uma abertura para a expressão<strong>de</strong> sentimentos. Portanto, a entrevista foi sustentada por uma postura investigativa e, aomesmo tempo, <strong>de</strong> ajuda, ten<strong>do</strong>-se em vista a complexida<strong>de</strong> que envolveu a situação <strong>do</strong>casal com to<strong>do</strong> o sofrimento emergente. A consulta terapêutica, com seu caráter <strong>de</strong>apoio psicológico, emprega a proposta <strong>de</strong> um atendimento por <strong>de</strong>manda, o qualpossibilita maior flexibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação e a<strong>de</strong>quação às possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses pais.Falar da relação com a criança po<strong>de</strong>ria mobilizar angústias, sen<strong>do</strong> necessária acompreensão, num movimento <strong>de</strong> empatia com os participantes. Minha direção foi nosenti<strong>do</strong> <strong>de</strong> propiciar um ambiente que favorecesse a narrativa das histórias vivenciadaspelo casal com esse filho, assim como da dinâmica conjugal, <strong>de</strong> maneira que essemovimento <strong>de</strong> re-contar a própria história pu<strong>de</strong>sse, ao final, trazer benefícios <strong>de</strong> algumamaneira.Construção da <strong>de</strong>manda e enquadreNo encontro com cada casal é que se produziu a <strong>de</strong>manda <strong>do</strong>s pais. Almejeiengajar-me com disponibilida<strong>de</strong> mental, emocional e empatia, acompanhan<strong>do</strong> ospensamentos <strong>do</strong>s pais e mostran<strong>do</strong> compreensão pelos conflitos vivencia<strong>do</strong>s. Nareleitura <strong>do</strong> material coleta<strong>do</strong>, utilizei elementos não-verbais e a atitu<strong>de</strong>Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>55


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisecontratransferencial, para a conscientização <strong>do</strong> que foi senti<strong>do</strong> no momento <strong>de</strong> cadaentrevista, toman<strong>do</strong>-os como elementos <strong>de</strong> análise.Os cinco casais entrevista<strong>do</strong>s cooperaram nos encontros. Percebi que havia um<strong>de</strong>sconforto inicial vin<strong>do</strong> da própria situação familiar alterada, em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong>diagnóstico e da entrada da criança na instituição <strong>de</strong> atendimento especializa<strong>do</strong>. Através<strong>do</strong>s fragmentos das entrevistas foi possível observar que fui implica<strong>do</strong> em meu duplopapel <strong>de</strong> pesquisa<strong>do</strong>ra e clínica. Essa maneira <strong>de</strong> fazer pesquisa solicita constantementea participação ativa <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r em todas as fases <strong>do</strong> processo e o envolvimento <strong>de</strong>sua própria subjetivida<strong>de</strong> no encontro com os participantes que colaboraram com asentrevistas e com o material clínico coleta<strong>do</strong>. A dinâmica das entrevistas permitiu entrarem contato com os fenômenos transferecenciais e contratransferenciais que <strong>de</strong>correm daexistência <strong>do</strong> inconsciente.Sentia-me envolvida no universo das famílias, buscan<strong>do</strong> oferecer um espaço <strong>de</strong>holding às angústias <strong>do</strong>s casais, para que eles pu<strong>de</strong>ssem se dar conta <strong>do</strong> sofrimentovivi<strong>do</strong>. A confiança estabelecida com o clínico que trabalha com a consulta terapêuticabusca <strong>de</strong>spertar a esperança <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s, peça chave para um caminho <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Nocaso da pesquisa que estou narran<strong>do</strong>, esse foi um ponto fundamental, pois percebi, aolongo das entrevistas, o <strong>de</strong>sânimo vivencia<strong>do</strong> pelo casal que luta para encontrar sinais<strong>de</strong> que estão toman<strong>do</strong> atitu<strong>de</strong>s a<strong>de</strong>quadas na melhora <strong>do</strong> filho.O casal 1 manifestou suas angústias concernentes ao comportamento <strong>do</strong> filho.O mari<strong>do</strong>, que muitas vezes parecia sem vigor enquanto figura <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>,fragiliza<strong>do</strong> diante da condição da criança e também da figura forte e crítica da esposa,expressou sentimentos, no espaço da entrevista, os quais não tinham si<strong>do</strong> possíveisexprimir, na relação <strong>de</strong> ambos:Até é uma coisa que eu não tinha fala<strong>do</strong> pra ela ainda... àsvezes, eu evito <strong>de</strong> tirar ele <strong>de</strong> perto <strong>de</strong>la, porque ele não gosta...aí ele começa a bater a cabeça no chão... às vezes, ele bate... ese bate... mas isso não é muito, não... às vezes, ele bate umavez... aí eu já <strong>de</strong>ixo pra lá (João, casal 1)Com isso, surgiu também um espaço para a emergência <strong>do</strong> não-dito no casal,que po<strong>de</strong> ser fundamental para favorecer reflexões sobre as situações vivenciadas,aliviar as angústias <strong>de</strong> cada um, clarifican<strong>do</strong> para o outro e para si mesmo o que sesente, e fortalecer os papéis <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong>s por cada membro, na dinâmica familiar.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>56


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseCom o casal 2, emergiram as ansieda<strong>de</strong>s persecutórias que busquei nãosustentar. Diversas preocupações foram relatadas especialmente concernentes à escolaregular, on<strong>de</strong> a criança passava por um processo <strong>de</strong> inclusão. Ao mesmo tempo em queo pai salientava as qualida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> menino, a inteligência, a mãe <strong>de</strong>sejava que o filhosaísse <strong>de</strong>ssa escola para frequentar apenas a instituição especializada. Essa família tinhavivencia<strong>do</strong> um evento traumático, com a morte <strong>de</strong> um filho anterior à criança autista.Ao final, o pai perguntou se sua esposa po<strong>de</strong>ria estar <strong>de</strong>primida tanto tempo <strong>de</strong>pois damorte daquele filho, <strong>de</strong>mandan<strong>do</strong> um aconselhamento. As questões associadas ao vazio<strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> por esse filho faleci<strong>do</strong> ainda estavam reprimidas, interferin<strong>do</strong> nos cuida<strong>do</strong>s como filho autista, por exemplo, culminan<strong>do</strong> com a proteção excessiva da mãe e pelascríticas <strong>do</strong> pai à conduta da esposa. A consulta oportunizou que ambos entrassem emuma conversa que parecia não ocorrer na residênciaNo que se refere ao casal 3, falaram sobre os sintomas <strong>do</strong> filho e asdificulda<strong>de</strong>s cotidianas com uma criança agitada e que quebra objetos constantemente.Sentiam-se impedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> viver outras relações que não aquela com a criança. Tratou-se<strong>de</strong> um menino que mobilizava muitas ansieda<strong>de</strong>s no casal e a complexida<strong>de</strong> da situaçãonão <strong>de</strong>ixava espaço para a relação homem/mulher.O casal 4 <strong>de</strong>monstrava intensa ansieda<strong>de</strong>, no momento da entrevista. Contaramsobre acontecimentos que prece<strong>de</strong>ram a gravi<strong>de</strong>z da filha autista, mostran<strong>do</strong> que sequestionavam sobre o que teria provoca<strong>do</strong> as <strong>de</strong>ficiências e o autismo. A mãe aludiu aossintomas da filha e como isso a angustiava, como ela a percebia <strong>de</strong>svitalizada. Porém,tentou enfatizar para o mari<strong>do</strong> as qualida<strong>de</strong>s da menina, quan<strong>do</strong> estabeleceu umacomparação com outras crianças da instituição. Frequentemente, eu tentava chamar <strong>de</strong>volta ao diálogo um pai que parecia distante da conversa que estava sen<strong>do</strong> estabelecidasobre sua filha. Esse casal <strong>de</strong>man<strong>do</strong>u que eu tivesse mais diretivida<strong>de</strong>, pois, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> àtensão daquele dia, não traziam muitas associações espontaneamente.O encontro com o casal 5 se <strong>de</strong>u permea<strong>do</strong> pela ansieda<strong>de</strong> e agitação <strong>do</strong> pai, eum semblante triste e <strong>de</strong>sanima<strong>do</strong> da mãe. Naquele momento, emergiram dúvidas <strong>de</strong>ssecasal relacionadas ao diagnóstico da criança, bem como à medicação prescrita pelopsiquiatra da instituição. Contu<strong>do</strong>, a queixa manifesta contra o remédio <strong>de</strong>svelou oinconformismo diante da condição da criança, uma rejeição ao diagnóstico notifica<strong>do</strong>.Os pais, principalmente a mãe, sentiam-se indaga<strong>do</strong>s com relação à educação queprovi<strong>de</strong>nciavam à filha. Tal questionamento vinha tanto por parte <strong>de</strong> profissionais eeduca<strong>do</strong>res quanto pelos familiares e amigos, o que po<strong>de</strong>ria provocar um afastamentoUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>57


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseda vida social. Concomitantemente, a mãe se enfurecia com tais questões, mas pareciatambém se interrogar se ela mesma po<strong>de</strong>ria ter prejudica<strong>do</strong> a própria filha.Desempenhei uma função <strong>de</strong> facilita<strong>do</strong>ra <strong>de</strong>ssa comunicação, evitan<strong>do</strong> emitir opiniões emostran<strong>do</strong>-me presente com esses pais nas suas incertezas, na aflição <strong>do</strong> pai e nasinúmeras dúvidas da mãe, reconhecen<strong>do</strong> que algumas perguntas ainda não podiam serrespondidas. A entrevista parece ter funciona<strong>do</strong> como um momento <strong>de</strong> catarse,especialmente para a mulher, que evocou, reviveu e <strong>de</strong>scarregou afetos liga<strong>do</strong>s asituações recentemente vivenciadas ao autismo, o que não <strong>de</strong>ixou espaço para oconjugal.Um espaço <strong>de</strong> holdingDessa maneira, trabalhamos com o conceito <strong>de</strong> holding que permeou osencontros com os casais. Esperava-se que, através <strong>do</strong> holding ofereci<strong>do</strong>, o casal pu<strong>de</strong>ssecomeçar a se <strong>de</strong>parar com as próprias dúvidas, com a <strong>de</strong>manda construída nessesencontros e, talvez, entrar em um movimento <strong>de</strong> criação. A hipótese inicial era <strong>de</strong> queesse espaço pu<strong>de</strong>sse acolher o casal e oferecer possibilida<strong>de</strong>s para compreensão <strong>de</strong>conflitos, o que consi<strong>de</strong>ramos ter ocorri<strong>do</strong>. O holding é a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sustentaçãoemocional da mãe com seu bebê, vivência que buscamos oferecer, pelo suportepsicológico (MARQUES; ARRUDA, 2007), disponibiliza<strong>do</strong> na entrevista, ancorada nométo<strong>do</strong> da consulta terapêutica, com os casais, acolhen<strong>do</strong> as experiências afetivas.Enfim, chegamos a consi<strong>de</strong>rar que a entrevista permitiu refletir sobre algumasmudanças necessárias: houve troca <strong>de</strong> informações entre os membros <strong>do</strong> casal, quefuncionou como um espaço <strong>de</strong> comunicação das angústias ou conflitos oriun<strong>do</strong>s dacondição <strong>do</strong> filho. Observaram-se alguns aspectos importantes: o espaço da entrevistateve seu efeito terapêutico quan<strong>do</strong> os pais recontaram a história familiar e assimrefletiram brevemente sobre ela; funcionou para comunicações particulares que aindanão tinham ocorri<strong>do</strong> entre os membros <strong>do</strong> casal; falaram sobre situações angustiantesvivenciadas por cada um na sua subjetivida<strong>de</strong>, relacionadas à condição da criança.Pensamos que a entrevista aten<strong>de</strong>u tanto ao propósito <strong>de</strong> investigação sobre oque a condição da criança gera no casal, quanto a servir <strong>de</strong> ambiente acolhe<strong>do</strong>r paraoutros temas emergirem. Apesar <strong>de</strong> termos conserva<strong>do</strong> certa homogeneida<strong>de</strong>, em nossaamostra, notamos que cada casal tem sua singularida<strong>de</strong>. A intimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada sujeito semanifesta <strong>de</strong> formas particulares, na escolha <strong>do</strong>s parceiros, na constituição <strong>do</strong>s casais.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>58


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseFinalmente, observamos esse fator <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma situação específica <strong>de</strong> sofrimentofamiliar com o filho.Referências bibliográficasFÁVERO, M. A. B. Autismo infantil e estresse familiar: um levantamento bibliográficomediante uma revisão sistemática da literatura. 2002. 81 f. Monografia (Trabalho <strong>de</strong>Conclusão <strong>de</strong> Curso) – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> Ribeirão Preto,Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, Ribeirão Preto, 2002.FÁVERO, M. A. B. Trajetória e sobrecarga emocional da família <strong>de</strong> crianças autistas:relatos maternos. 2005. 174 p. Dissertação (Mestra<strong>do</strong>) – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia,Ciências e Letras <strong>de</strong> Ribeirão Preto, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, Ribeirão Preto, 2005.FÁVERO-NUNES, M. A. Consulta terapêutica com pais <strong>de</strong> crianças autistas: ainterface entre a parentalida<strong>de</strong> e a conjugalida<strong>de</strong>. 2010. 198 f. Tese (Doutora<strong>do</strong>) -Instituto <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo, 2010.GOMES, I. C. Uma clínica específica com casais: contribuições teóricas e técnicas. SãoPaulo: Escuta/FAPESP, 2007.MARQUES, C. F. F. C. e ARRUDA, S. L. S. Autismo infantil e vínculo terapêutico.Estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> (Campinas), v. 24, n. 1, p. 115-124, 2007.MARTÃO, M. I. S. Encontro com pais <strong>de</strong> filhos com traços autistas: compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> aexperiência emocional. 2009. 353 f. Tese (Doutora<strong>do</strong>) - Instituto <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>,Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo, 2009.OUTEIRAL, J. D. W. <strong>Winnicott</strong>: o homem e a obra. Revista Viver: mente e cérebro.Scientific American, São Paulo, 2005, v. 5, p. 6-15, 2005. (Coleção Memória daPsicanálise).WINNICOTT, D. W. O brincar e a realida<strong>de</strong>. Tradução J. O. A. Abreu e V. Nobre. Rio<strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1975 (1971).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>59


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>60


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseComunicações OraisUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>61


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseA família vem para o divã: o que <strong>Winnicott</strong> tem a dizer sobre isso?The family comes to the divan: what <strong>Winnicott</strong> has to say about it?Ana Carolina Zuanazzi Fernan<strong>de</strong>s 22Júlia Archangelo Guimarães 23Maíra Bonafé Sei 24ResumoApesar das diversas transformações que ocorreram na instituição familiar quanto à suaforma <strong>de</strong> constituição e papéis simbólicos atribuí<strong>do</strong>s a cada membro, esta sempre será abase para a construção <strong>do</strong> psiquismo e da subjetivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> indivíduo que dali iráemergir. Contu<strong>do</strong>, a família nem sempre <strong>de</strong>sempenha bem seu papel na promoção <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong>senvolvimento. Objetiva-se, então, apresentar material clínico advin<strong>do</strong> <strong>de</strong>atendimentos com famílias realiza<strong>do</strong>s na clínica psicológica da UEL basea<strong>do</strong>s na teoriawinnicottiana e que ilustram esta temática. Observa-se que novas experiências eacolhimento <strong>do</strong>s impulsos criativos são viabiliza<strong>do</strong>s por este tipo <strong>de</strong> atendimento.Conteú<strong>do</strong>s da história e constituição da família não ditos ou mal ditos, nega<strong>do</strong>s ouomiti<strong>do</strong>s, faltantes no relacionamento com o ambiente, po<strong>de</strong>m ser expostos, trabalha<strong>do</strong>se ressignifica<strong>do</strong>s pelos indivíduos, abrin<strong>do</strong>-se uma porta para melhor comunicação entreos familiares e novas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> papéis e espaços para cada um.Palavras-chave: <strong>Winnicott</strong>, família, psicanálise.SummaryDespite the various changes that have occurred in the family institution in hersformation and symbolic roles assigned to each member, family will always be the basisfor the construction of subjectivity and the psyche of the individual who will emergefrom her. However, the family <strong>do</strong>es not always play well her role in promoting healthand <strong>de</strong>velopment. The objective of this work is then to present clinical material arising22 Graduanda em <strong>Psicologia</strong> – junto à Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>-UEL, integrante <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong>Extensão 01619 – “Atendimento a famílias por meio <strong>do</strong>s recursos artístico-expressivos com base noreferencial winnicottiano”. E-mail: anacarolina.zf@hotmail.com.23 Graduanda em <strong>Psicologia</strong>, junto à UEL, integrante <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão 01619 – “Atendimento afamílias por meio <strong>do</strong>s recursos artístico-expressivos com base no referencial winnicottiano”. E-mail:julia.a.g@bol.com.br24 Psicóloga, Mestre Doutora em <strong>Psicologia</strong> Clínica – IP-USP, Docente <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> ePsicanálise – CCB-UEL. Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão 01619 – “Atendimento a famílias pormeio <strong>do</strong>s recursos artístico-expressivos com base no referencial winnicottiano”. E-mail:mairabonafe@gmail.comUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>62


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisefrom consultations held with families in clinical psychology at UEL based on<strong>Winnicott</strong>’s theory that illustrates this theme. It is noticed that new experiences andreception of creative impulses are ma<strong>de</strong> possible by this type of care. Contents ofhistory and family formation unspoken or poorly told, <strong>de</strong>nied or omitted, missing in therelationship with the environment may be exposed, worked and signified by individuals,opening up a <strong>do</strong>or for better communication between family and new opportunities ofroles and spaces for each member.Keywords: <strong>Winnicott</strong>, family, psychoanalysis.O papel da famíliaA família e sua forma <strong>de</strong> organização e composição têm sofri<strong>do</strong> diversastransformações <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muitas décadas atrás. Do começo da década <strong>de</strong> 40 em diante,houve o início da passagem da família patriarcal para a família nuclear, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>,principalmente, ao forte processo <strong>de</strong> urbanização ocorri<strong>do</strong> nesta época. A saída damulher para o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, também promoveu gran<strong>de</strong>s modificações nocontexto e na organização familiar. Novas configurações estão sen<strong>do</strong> estabelecidas, enovas relações <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> com o bebê e com a criança então surgin<strong>do</strong>.Essa nova família, mais restrita e mais fechada foi se alteran<strong>do</strong> em suaconfiguração. Foram surgin<strong>do</strong>, principalmente na década <strong>de</strong> 80, famílias constituídas <strong>de</strong>diferentes indivíduos: famílias reconstituídas (união <strong>de</strong> um homem que po<strong>de</strong> ou não játer filhos e uma mulher que também po<strong>de</strong> ou não já ter filhos, e que eventualmentegeram seus próprios filhos), famílias monoparentais (seja por afastamento voluntário ounão <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s parceiros, por a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> um filho, por escolha da produçãoin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte), famílias homoparentais, famílias on<strong>de</strong> os principais (quan<strong>do</strong> não únicos)cuida<strong>do</strong>res são os avós, ou patentes próximos, etc. (OUTEIRAL, 2007). Essasconfigurações po<strong>de</strong>m trazer novos conflitos a serem resolvi<strong>do</strong>s pelos seus membros,principalmente pelos filhos <strong>de</strong>ssa família, uma vez que muitas funções exercidas pelafamília estão sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixadas <strong>de</strong> la<strong>do</strong>, acarretan<strong>do</strong> em um ambiente <strong>de</strong>sfavorece<strong>do</strong>r parao <strong>de</strong>senvolvimento saudável <strong>de</strong>ssa criança.Neste senti<strong>do</strong>, ao se refletir sobre a família, sua configuração e função para o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seus membros, po<strong>de</strong>-se lembrar <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> D. W. <strong>Winnicott</strong>.Este autor foi um pediatra e psicanalista que estu<strong>do</strong>u, entre outras coisas, o ambienteon<strong>de</strong> o bebê/criança se <strong>de</strong>senvolvia. Durante esses estu<strong>do</strong>s, notou a importância da mãee da família como prove<strong>do</strong>res <strong>de</strong> um ambiente facilita<strong>do</strong>r para o <strong>de</strong>senvolvimentoUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>63


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisesaudável da criança. A observação <strong>do</strong> papel <strong>de</strong>stes na promoção da saú<strong>de</strong> foi facilitadapor sua atuação enquanto pediatra, que permitia o contato com indivíduos saudáveis quechegavam ao médico para o acompanhamento <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Destaforma, ele se diferencia <strong>de</strong> psicanalistas que trabalharam com indivíduos queapresentavam já um a<strong>do</strong>ecimento psíquico.O olhar <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> para as famílias, especialmente no que concerne os paresmãe-bebê esteve presente durante seu percurso como pediatra e posteriormente comopsicanalista. Contu<strong>do</strong>, durante a segunda Guerra Mundial sua compreensão sobrefamílias pô<strong>de</strong> ser ampliada a partir das experiências <strong>de</strong> retirada das crianças <strong>de</strong> suascasas localizadas nos gran<strong>de</strong>s centros, alvos <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>ios, e colocação <strong>de</strong>stas emabrigos. Neste senti<strong>do</strong>, foi possível notar a importância da função <strong>de</strong>sta como“sustenta<strong>do</strong>ra emocional” para um <strong>de</strong>senvolvimento psíquico e subjetivo a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> dacriança (FERREIRA e AIELLO-VAISBERG, 2006).Na constituição da família, cada membro <strong>de</strong>sempenha um papel. Os papéis nãoestão localiza<strong>do</strong>s em figuras específicas, sen<strong>do</strong> que as funções ligadas a estes papéispo<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>sempenhadas por varia<strong>do</strong>s membros da família, aspecto importante ao sepensar nas novas configurações familiares.Por sua vez, caberia à mãe (ou sua representante) vivenciar o estágio <strong>de</strong>preocupação materna primária, que é um perío<strong>do</strong> vivencia<strong>do</strong> pela mulher entre oúltimo mês <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z até os primeiros meses após o nascimento <strong>do</strong> bebê. Nesseestágio a mãe e seu filho mantém uma relação intensa e física, on<strong>de</strong> passam a ser apenasum, comunican<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> inconsciente para inconsciente, principalmente. Posteriormente,caberá ao pai a separação <strong>de</strong>ssa relação simbiótica da mãe com seu bebê. Nessesentin<strong>do</strong>, a mãe será suficientemente boa se o pai também for suficientemente bom.Como exposto, o ambiente familiar será sempre a base para o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>do</strong> psiquismo e da subjetivida<strong>de</strong> da criança. É através da promoção das funções <strong>de</strong>handling, holding e apresentação <strong>de</strong> objeto que a família será capaz <strong>de</strong> manter esseambiente facilita<strong>do</strong>r e necessário para o <strong>de</strong>senvolvimento psíquico e subjetivo dacriança. A mãe <strong>de</strong>ve então, além <strong>de</strong> prover os cuida<strong>do</strong>s necessários à sobrevivência dacriança (como o amamentar e o trocar), promover a apresentação <strong>de</strong> objetos, ter umarotina, olhar para a criança, tocá-la, <strong>de</strong>ntre outros. Desta forma evita-se que este bebêtenha a sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedaçamento e vazio, e posteriormente venha <strong>de</strong>senvolver umapsicopatia ou tendência antissocial.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>64


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseÉ por meio <strong>de</strong> um ambiente suficientemente bom, promovi<strong>do</strong> por uma famíliaque consegue pon<strong>de</strong>rar a<strong>de</strong>quadamente a presença e a ausência, que a criançaconseguirá brincar. O brincar é uma importante tarefa a ser realizada pela criança, umavez que o brincar configura-se como um fenômeno transicional, que fica no espaçoentre aquilo que é interno e o que é externo. Compreen<strong>de</strong>-se que a capacida<strong>de</strong> dacriança brincar é um indicativo <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento saudável, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que oobjetivo da psicoterapia para <strong>Winnicott</strong> (1975) po<strong>de</strong> ser contribuir para que o pacientesaia <strong>de</strong> um esta<strong>do</strong> em que este não po<strong>de</strong> brincar para outro em que passa a ser capaz <strong>de</strong>fazê-lo.O atendimento às famíliasPartin<strong>do</strong> <strong>do</strong> atendimento <strong>de</strong> pacientes esquizofrênicos e suas famílias, aPsicanálise <strong>de</strong> Família e Casal se iniciou por volta da década <strong>de</strong> 40 e teve como base atécnica da psicanálise individual. Diversos autores, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, têm se <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> aoestu<strong>do</strong> da técnica que ao longo <strong>do</strong> tempo foi toman<strong>do</strong> um olhar diferencia<strong>do</strong> da técnicapsicanalítica individual. Po<strong>de</strong>-se mencionar alguns <strong>de</strong>sses autores, tais como Box,Meyer, Berenstein, Moguillansky, Käes, Eiguer, entre outros (GOMES e LEVY, 2009).No que concerne a técnica <strong>de</strong> atendimento a famílias, há autores que, a partir <strong>de</strong> umreferencial psicanalítico, propõem alterações na técnica <strong>de</strong> atendimento, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ainserção <strong>de</strong> recursos artístico-expressivos para mediação <strong>do</strong> contato e da comunicaçãono setting família (SEI, 2009; SEI, 2011).Existem diversos campos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro da Psicanálise <strong>de</strong> Família e Casal,com estu<strong>do</strong>s próximos aos pressupostos da psicanálise inglesa, outros, representa<strong>do</strong>spor autores franceses, discutem fortemente o fenômeno da transmissão psíquicageracional, enquanto que na América Latina, tem-se um grupo <strong>de</strong> argentinos queabordam o conceito <strong>de</strong> vínculo, cujos estu<strong>do</strong>s contribuíram para a formação daPsicanálise das Configurações Vinculares (GOMES e LEVY, 2009).Segun<strong>do</strong> Ramos (1998), é muito comum que a família seja encaminhada para oatendimento psicológico. Nesse encaminhamento, muitas vezes, vem <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> àenfermida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um membro específico. A família como um to<strong>do</strong> dificilmente sei<strong>de</strong>ntifica como enferma, ela nomeia um membro, um representante <strong>de</strong> sua enfermida<strong>de</strong>.Cabe relembrar que <strong>Winnicott</strong> (1984) afirma ser possível verificar que os sintomaspsicológicos da criança refletem alguma enfermida<strong>de</strong> da família toda ou em parte <strong>de</strong>la.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>65


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseNestes casos <strong>de</strong>ver-se-ia focar a família enquanto paciente da intervenção e não acriança que foi levada para o atendimento.Ainda segun<strong>do</strong> Ramos (1998), em alguns casos, é muito difícil para a família seassumir como enferma. Nem sempre os membros estão dispostos ou interessa<strong>do</strong>s emver suas próprias dificulda<strong>de</strong>s e suas dificulda<strong>de</strong>s em relação à família. Nesse momento,há uma divisão da família entre os “sadios” e os “enfermos”. Nessa divisão, os “sadios”assumem o papel <strong>de</strong> ajudantes, <strong>de</strong> observa<strong>do</strong>res e os “enfermos” são entendi<strong>do</strong>s (pelafamília) como aqueles para os quais a ajuda <strong>de</strong>ve se dirigir. A autora ressalta que nessescasos é bastante comum que o la<strong>do</strong> aponta<strong>do</strong> pela família como <strong>do</strong>s “sadios” se unam etentem formar uma aliança com o terapeuta.Vale ressaltar que a família nem sempre é a única causa<strong>do</strong>ra da enfermida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>termina<strong>do</strong> membro e nem sempre a enfermida<strong>de</strong> em si é um <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>do</strong>r <strong>de</strong><strong>de</strong>sequilíbrio familiar. Essas duas variáveis <strong>de</strong>vem ser analisadas e <strong>de</strong>ve-se verificarcomo compõem a dinâmica da família naquele momento. Outro ponto importante é quecada caso é único, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> se tratar <strong>de</strong> um atendimento familiar, conjugalou individual. É necessário se aproximar <strong>de</strong> cada família a fim <strong>de</strong> visualizar suaspeculiarida<strong>de</strong>s. A dinâmica <strong>de</strong> uma família é compreendida aos poucos, através <strong>de</strong> suafala e <strong>de</strong> suas produções no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s atendimentos.Especificida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> atendimento psicológico no contexto institucionalTen<strong>do</strong> em vista que este trabalho almeja discutir o atendimento a famílias, comilustração clínica <strong>de</strong> um caso atendi<strong>do</strong> pela clínica psicológica da UEL, compreen<strong>de</strong>-seser importante apontar brevemente algumas especificida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> atendimento psicológicono contexto institucional. Este tipo <strong>de</strong> atendimento, realiza<strong>do</strong> em clínicas-escolas <strong>de</strong><strong>Psicologia</strong>, tem algumas características diferentes <strong>do</strong> atendimento realiza<strong>do</strong> emconsultório priva<strong>do</strong>. Um <strong>de</strong>les é a imprevisibilida<strong>de</strong>, por parte <strong>do</strong> paciente, em saber ouescolher quem será seu terapeuta. Nesse sentin<strong>do</strong>, nota-se que a relação transferencial émantida com a instituição e não com um terapeuta específico.Outra característica presente neste contexto é o alto índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>sistência daterapia, tanto individual como familiar ou conjugal. Esse fato po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> àinexperiência <strong>do</strong> terapeuta ou expectativas <strong>do</strong> paciente.No caso <strong>de</strong> atendimento familiar tem-se outra variável que também colaborapara esta <strong>de</strong>sistência, a saber, o foco que a família <strong>de</strong>posita em um <strong>de</strong> seus membros e o<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> uma mudança rápida nos sintomas apresenta<strong>do</strong>s pelo paciente i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>66


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise(RAMOS, 2006). Assim, essas expectativas criadas em torno da rápida melhora <strong>do</strong> filhoou <strong>do</strong> membro “<strong>do</strong>ente” po<strong>de</strong>m facilmente serem frustradas ao longo das sessões. Apartir <strong>de</strong> um referencial psicanalítico, compreen<strong>de</strong>-se que o papel <strong>do</strong> terapeuta será <strong>de</strong>propiciar uma reflexão a partir <strong>do</strong> material trazi<strong>do</strong> nos atendimentos, sem uma posturadiretiva, sen<strong>do</strong> que muitas vezes a família po<strong>de</strong> procurar (ou ser encaminhada) paraatendimento esperan<strong>do</strong>, na verda<strong>de</strong>, receber instruções <strong>de</strong> como “ajudar” o membro amelhorar, aspecto que acirra ainda mais as resistências no contexto terapêutico.Caso ilustrativoA seguir será exposta a síntese <strong>de</strong> atendimento familiar realiza<strong>do</strong> na clínicapsicológica da UEL.Vieram para atendimento psicológico F1, na faixa <strong>do</strong>s 30 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, solteirae mãe <strong>de</strong> F2, com aproximadamente 7 anos. Resi<strong>de</strong> junto com a filha, que estuda emperío<strong>do</strong> integral, em seu local <strong>de</strong> trabalho, on<strong>de</strong> também moram a patroa e o filho <strong>de</strong>sta.Compareceram também F3 e F4, casa<strong>do</strong>s, avó e avô respectivamente paternos <strong>de</strong> F2,ambos com na faixa <strong>do</strong>s 60 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.O pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> consulta foi feito por intermédio da patroa <strong>de</strong> F1. Segun<strong>do</strong> F1, aprofessora <strong>de</strong> F2 sugeriu que ela procurasse atendimento psicológico para a filha <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>aos maus comportamentos da menina em sala <strong>de</strong> aula.F1 e o pai <strong>de</strong> F2 (pai <strong>de</strong> F2 mora com F3 e F4) tiveram um relacionamento <strong>de</strong>alguns anos. Estão separa<strong>do</strong>s há 2 anos pois, segun<strong>do</strong> F1, houveram muitos casos <strong>de</strong>traição por parte <strong>do</strong> pai <strong>de</strong> F2. No perío<strong>do</strong> em que se relacionaram, F1 continuavamoran<strong>do</strong> com sua patroa e visitava o pai <strong>de</strong> F2 sempre que possível.A queixa principal apresentada pela família na triagem e primeiras sessões foique F2 era “impossível”, palavra utilizada pela família para <strong>de</strong>finir F2. Segun<strong>do</strong> F1, afilha se comportava muito mal, indican<strong>do</strong> que a menina sempre xingava e brigava com amãe. Os avós concordam com essa afirmação, acrescentan<strong>do</strong> que F2 nunca tratou malos avós, apenas a mãe e o pai.Segun<strong>do</strong> os membros da família, o que os levou a procurarem um atendimentofamiliar foi que eles (os quatro) sempre estavam presentes quan<strong>do</strong> o assunto era F2.Sempre que F2 estava com algum problema, os três a acompanhavam. Nota-se aqui, queos membros da família <strong>de</strong>ixam claro seu posicionamento frente ao atendimentopsicológico. Eles estavam ali apenas para ajudar F2 a melhorar seus comportamentosina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s. Quan<strong>do</strong> pergunta<strong>do</strong> qual era o objetivo a ser atingi<strong>do</strong> com o atendimentoUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>67


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisepsicológico, mais uma vez foi nota<strong>do</strong> que os membros colocavam F2 na posição <strong>de</strong>“<strong>do</strong>ente” e eles na posição <strong>de</strong> “ajudantes”.O interessante <strong>do</strong> atendimento a famílias é que os membros reproduzem, <strong>de</strong>ntro<strong>do</strong> consultório, os papéis que cada um exerce <strong>de</strong>ntro da configuração familiar e umpouco sobre a dinâmica da família. O que foi possível observar neste caso foi a posiçãoque a família tentava, a to<strong>do</strong> o momento, colocar F2. A partir <strong>de</strong> perguntas da terapeuta,quan<strong>do</strong> direcionada para outros membros ou outras ativida<strong>de</strong>s que não fossem a respeitoda queixa, os membros da família <strong>de</strong>sviavam o assunto e retornavam para a queixa <strong>do</strong>scomportamentos ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s <strong>de</strong> F2. Quan<strong>do</strong> a terapeuta direcionava a pergunta paraF2, prontamente alguém da família respondia por ela. Isto levou a terapeuta a concluirque provavelmente F2 não tinha um espaço próprio <strong>de</strong>ntro da família que ela pu<strong>de</strong>sseconstruir que não fosse o <strong>de</strong> “<strong>do</strong>ente”.Outro aspecto que contribuiu para essa conclusão da terapeuta foi que F2também não tinha um lugar físico que pu<strong>de</strong>sse ocupar e chamar <strong>de</strong> seu, pois na rotina damenina ela ficava boa parte <strong>do</strong> tempo na casa <strong>do</strong>s avós. Na casa em que residia tambémnão possuía um espaço individual seu. A configuração familiar e o <strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong>spapéis apresentavam-se como algo confuso, já que, por exemplo, a criança parecia nãocontar com uma figura que <strong>de</strong>sempenhasse claramente a função paterna, apontan<strong>do</strong> paraaspectos que po<strong>de</strong>riam ser trabalha<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong> atendimento familiar. A partir <strong>de</strong> umreferencial winnicottiano, ao se observar o grupo familiar no setting terapêutico,enten<strong>de</strong>-se que este não conseguia ofertar o ambiente suficientemente bom necessárioao <strong>de</strong>senvolvimento saudável, com a queixa em relação à criança apontan<strong>do</strong> para umaligação com esta dinâmica familiar.Consi<strong>de</strong>rações finaisAo se retomar os conceitos teóricos pertinentes à experiência aqui apresentada ediscutida, po<strong>de</strong>-se afirmar que <strong>Winnicott</strong> enfatizou, ao longo <strong>de</strong> sua obra, a importância<strong>do</strong>s primeiros vínculos estabeleci<strong>do</strong>s no contato mãe-bebê para uma construçãosaudável <strong>do</strong> psiquismo infantil assim como seu <strong>de</strong>senvolvimento enquanto serautônomo. No início <strong>de</strong> sua vida o bebê passa por um processo <strong>de</strong> simbiose com a mãe,no qual não i<strong>de</strong>ntifica quais os limites entre o seu corpo e o <strong>de</strong>la. Segun<strong>do</strong> <strong>Winnicott</strong>, éapenas com um ambiente propício para seu <strong>de</strong>senvolvimento, que o bebê terápossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver e se diferenciar da mãe, crian<strong>do</strong> sua própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>(CHAVES, 2002).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>68


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseO ambiente proporciona<strong>do</strong> pela família para acolher a criança <strong>de</strong>ve estar seapresentar propício à emergência e <strong>de</strong>senvolvimento daquilo que é inato na criança. Amãe, o pai e a família têm o papel <strong>de</strong> espelho para esta criança, tratan<strong>do</strong>-a enquantosujeito (mesmo que ela ainda seja um sujeito em construção), pois só assim ela po<strong>de</strong>ráser e sentir-se existente. Com a <strong>de</strong>pendência relativa, momento em que ocorre o inícioda <strong>de</strong>silusão, a criança po<strong>de</strong> usar objetos transicionais, porém isto só ocorre se a mãeesteve bastante presente <strong>de</strong> forma significativa. A criança então encontrará um pilarpara se sustentar e encontrar/criar ela própria seu espaço, que possibilitará ocrescimento psiquicamente saudável ou não <strong>de</strong>ste sujeito.O que po<strong>de</strong>mos observar hoje em dia é que muitas famílias falham em suafunção <strong>de</strong> promover um ambiente suficientemente bom favorece<strong>do</strong>r <strong>de</strong> um<strong>de</strong>senvolvimento saudável e a <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>stas dificulda<strong>de</strong>s se dá por meio <strong>do</strong>sintoma localiza<strong>do</strong>, por vezes, na criança. Em situações como estas, o tratamento dafamília com um to<strong>do</strong> po<strong>de</strong> se configurar como uma ferramenta importante, tal comoilustra<strong>do</strong> por meio <strong>do</strong> caso clínico.O objetivo <strong>do</strong> atendimento às famílias é, então, <strong>de</strong> proporcionar um novo espaço,novas experiências, diferentes formas <strong>de</strong> relação. Po<strong>de</strong> contribuir para o acolhimento<strong>do</strong>s impulsos criativos quan<strong>do</strong> o setting terapêutico se apresenta como um espaço lúdicoe aberto à criativida<strong>de</strong> e emergência <strong>do</strong> gesto espontâneo <strong>do</strong>s participantes. Po<strong>de</strong>-seabrir uma porta para uma melhor comunicação entre os familiares, além <strong>de</strong> novasoportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> papéis e espaços para cada um.ReferênciasCHAVES, V. P. A Interação Mãe-Criança em Famílias A<strong>do</strong>tivas: Um Estu<strong>do</strong>Comparativo. 2002. 109 f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em <strong>Psicologia</strong>). Instituto <strong>de</strong><strong>Psicologia</strong>, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, 2002.FERREIRA, M. C. e AIELLO-VAISBERG, T. M. J. O pai suficientemente bom:algumas consi<strong>de</strong>rações sobre o cuida<strong>do</strong> na psicanálise winnicottiana. Mudanças –psicologia da Saú<strong>de</strong>, v. 14, n. 2, p. 136-142, 2006.GOMES, I. C. e LEVY, L. Psicanálise <strong>de</strong> família e casal: principais referenciais teóricose perspectivas brasileiras. Aletheia (ULBRA), v. 29, p. 151-160, 2009.OUTEIRAL, J. Família e contemporaneida<strong>de</strong>. Jornal <strong>de</strong> Psicanálise, v. 40, n. 42, p. 63-73, 2007.RAMOS, M. (Org.) Terapia <strong>de</strong> Casal e Família: o lugar <strong>do</strong> terapeuta. São Paulo:Editora Brasiliense, 1998.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>69


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseRAMOS, M. Introdução à terapia familiar. Editora Clarida<strong>de</strong>. 2006.SEI, M. B. Arteterapia com famílias e psicanálise winnicottiana: uma proposta <strong>de</strong>intervenção em instituição <strong>de</strong> atendimento à violência familiar. Tese (Doutora<strong>do</strong> em<strong>Psicologia</strong> Clínica). Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo - Instituto <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>, São Paulo,2009.SEI, M. B. Arteterapia e psicanálise. São Paulo: Zago<strong>do</strong>ni, 2011.WINNICOTT, D. W. Consultas terapêuticas em psiquiatria infantil. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Imago, 1984.WINNICOTT, D. W. O brincar e a realida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1975.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>70


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseA figura paterna <strong>de</strong> Freud a <strong>Winnicott</strong>André Masao Peres Tokuda 25Diana Pancini <strong>de</strong> Sá Antunes Ribeiro 26ResumoPreten<strong>de</strong>mos problematizar sobre a figura paterna no amadurecimento pessoal em <strong>do</strong>iscasos clínicos com crianças e, ainda, buscar compreensão sobre aproximações eafastamentos entre Freud e <strong>Winnicott</strong> no que se refere à figura paterna na constituição<strong>do</strong> sujeito. Enten<strong>de</strong>mos que para <strong>Winnicott</strong> o pai está presente na constituição <strong>do</strong>infante <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a gestação. Já para Freud este aparece como mais significativo a partir <strong>do</strong>Complexo <strong>de</strong> Édipo. Consi<strong>de</strong>ramos que o paradigma edípico se <strong>de</strong>frontou comproblemas, tais como o relacionamento pré-edípico e das meninas com suas mães. Para<strong>Winnicott</strong> é o ambiente facilita<strong>do</strong>r que dará apoio para que o infante cresça, constitua abase para continuar existin<strong>do</strong> e integrar-se numa unida<strong>de</strong>. Ele apresenta duas teses sobrea etiologia <strong>do</strong>s distúrbios psíquicos, primeiro que o processo fundamental perturba<strong>do</strong>não é o <strong>de</strong>senvolvimento sexual, mas o amadurecimento emocional, e segun<strong>do</strong> que oambiente facilita<strong>do</strong>r tem uma importância <strong>de</strong>cisiva na psicopatologia <strong>do</strong>s distúrbios<strong>de</strong>sta natureza.Palavras-chave: <strong>Winnicott</strong>; Psicanálise com crianças; Pai.25 Graduan<strong>do</strong> <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> da Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho” -Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências e Letras <strong>de</strong> Assis. Realiza estágios nas Ênfases <strong>de</strong> Processos Clínicos e Saú<strong>de</strong>Mental, e Políticas Públicas e Clínica Crítica. Participa <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão Universitária “EnquadresClínicos <strong>Winnicott</strong>ianos na Saú<strong>de</strong> Pública”. E-mail: andremasao@hotmail.com26 Professora Assistente Doutora <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> Clínica <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> daUNESP/Assis. Mestre em <strong>Psicologia</strong> Clínica pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Doutora em <strong>Psicologia</strong>como Profissão e Ciência pela PUC-Campinas. Pesquisa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong> Pesquisa (CNPq) Figuras emo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> subjetivação no contemporâneo.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>71


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseA função da mãe, uma leitura winnicottiana <strong>de</strong> alguns casos clínicosThe role of the mother, a winnicottian’s reading of some clinical casesAndréa Sátira Peixoto Lima 27Luciana Maria Filgueiras 28Caroline Garcia <strong>do</strong>s Santos 29Carla Maria Lima Braga 30ResumoEsse trabalho é apresentação <strong>de</strong> três casos clínicos, realizada na Clínica EscolaPsicológica da UEL, como ativida<strong>de</strong> acadêmica proposta pela disciplina <strong>de</strong> estágioobrigatório em clínica, com base teórica da psicanalítica winnicottiana. Para o autor, acriança nasce in<strong>de</strong>fesa não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> existir sozinho, é um ser <strong>de</strong>sintegra<strong>do</strong> que percebeo ambiente <strong>de</strong> maneira <strong>de</strong>sorganizada. O papel da mãe é intrínseco e fundamental nosprimeiros anos <strong>de</strong> vida, pois esta mãe po<strong>de</strong> oferecer um suporte a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para que ascondições inatas <strong>do</strong> bebê alcancem e caminhem para o <strong>de</strong>senvolvimento saudável.<strong>Winnicott</strong> constatou que boa parte <strong>do</strong>s problemas emocionais <strong>de</strong> um adulto, pareciaencontrar sua origem nas etapas mais precoces <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Para o autor a base<strong>de</strong> uma boa saú<strong>de</strong> mental, para qualquer individuo, provém <strong>de</strong> uma boa relação mãebebê.Portanto, os bebês só começam a ser no início, a partir da <strong>de</strong>pendência absoluta,precisan<strong>do</strong> assim <strong>de</strong> uma mãe que esteja i<strong>de</strong>ntificada com este bebê sen<strong>do</strong> capaz <strong>de</strong>aten<strong>de</strong>r prontamente suas necessida<strong>de</strong>s. A falha materna prolongada ou condiçõesambientais não a<strong>de</strong>quadas po<strong>de</strong>m acarretar em uma falta <strong>de</strong> confiança no mun<strong>do</strong> e umamá integração <strong>de</strong> seu ego rudimentar, interrompen<strong>do</strong> assim a continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ser e oenfraquecimento <strong>do</strong> ego. O fracasso <strong>do</strong> contato inicial po<strong>de</strong> remeter o sujeito a umacondição patológica que segue a vida adulta, como a psicose.Palavras-chave: Maternagem, Relação mãe-bebê, Preocupação materna primária, selfAbstractThis work is presentation of three clinical cases performed at the Clinical SchoolPsychology at UEL, aca<strong>de</strong>mic activity as proposed by the discipline of mandatory27 Graduação <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> – Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.28 Graduação <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> – Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>29 Graduação <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> – Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>30 Docente <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise – Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Mestre emEducação, Doutora em <strong>Psicologia</strong> pela PUC Campinas.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>72


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseinternship in clinical, theoretical basis of psychoanalytic <strong>Winnicott</strong>. For the author, thechild is born helpless and cannot exist alone, is a being that perceives the environmentdisintegrated so disorganized. The mother's role is intrinsic and fundamental in the earlyyears of life, because this mother can offer a<strong>de</strong>quate support for conditions to reachinnate baby and walk for healthy <strong>de</strong>velopment. <strong>Winnicott</strong> found that many of theemotional problems of an adult, seemed to find its origin in the early stages of<strong>de</strong>velopmentKey-words: Maternal care, Infant-mother relationship, Primary MaternalPreoccupation, self.O relacionamento entre mãe e bebê é <strong>de</strong> fundamental importância para que o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> ego <strong>do</strong> ser humano ocorra. <strong>Winnicott</strong> (1960) diz que para que umego seja forte o par mãe-filho <strong>de</strong>ve funcionar muito bem. Para isto são fundamentais asinterações que esta mãe tem com o filho e o processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação que estespossuem.<strong>Winnicott</strong> (1999), afirma que as interações naturais se dão <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com umpadrão hereditário <strong>do</strong> indivíduo, que vem a ser o processo <strong>de</strong> amadurecimento <strong>do</strong>mesmo. Desta forma, se o ambiente não dispõe interações suficientemente boas para umamadurecimento, a integração psicossomática não po<strong>de</strong> ser satisfatória. Segun<strong>do</strong> o autor“existe uma constante já visível na criança e que persiste até o fim, assim como o rosto<strong>de</strong> uma pessoa permanece reconhecível ao longo <strong>de</strong> toda a sua vida.” (WINNICOTT,1988, p. 25).É essencial, portanto, os estágios iniciais para que se possa enten<strong>de</strong>r a integraçãopsicossomática durante o processo <strong>de</strong> amadurecimento <strong>do</strong> indivíduo. Se nos estágiosiniciais a função materna não esteve presente, ou esteve <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> parcial, a criança teráuma quebra no seu processo <strong>de</strong> maturação e também no seu processo <strong>de</strong> experiências,pois não possui um ambiente propicia<strong>do</strong>r para que o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seu selfocorra. Sen<strong>do</strong> assim, o transtorno psicossomático po<strong>de</strong> ser visto como uma forma <strong>de</strong><strong>de</strong>fesa por parte <strong>do</strong> indivíduo “em que há uma cisão ou dissociação persistente naorganização <strong>do</strong> ego <strong>do</strong> paciente, sen<strong>do</strong> isso o que configura [...] a verda<strong>de</strong>iraenfermida<strong>de</strong>.” (WINNICOTT, 1966, p. 82, apud FERREIRA, 2010, p. 26). Há acompreensão <strong>de</strong> que o individuo segue uma tendência que o conduz no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> comoUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>73


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseo corpo funciona e é a partir disso que se <strong>de</strong>senvolve uma personalida<strong>de</strong> que funciona,com <strong>de</strong>fesas contra a ansieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o tipo.A estruturação <strong>do</strong> self se dá através <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> integração <strong>do</strong> indivíduo, quepor sua vez, ocorre <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à interação <strong>de</strong>ste com o ambiente. <strong>Winnicott</strong> fala que se amaternagem não for suficientemente boa o self verda<strong>de</strong>iro não consegue e não po<strong>de</strong> seformar ou permanece escondi<strong>do</strong> atrás <strong>de</strong> um falso self que compactua e evita ao mesmotempo as frustrações externas. Ten<strong>do</strong> isto em vista, o papel <strong>de</strong> apoio da mãe faz-sefundamental para a construção <strong>do</strong> ego da criança, é este contato com o materno que<strong>de</strong>terminará a construção <strong>de</strong> um ego forte ou fraco.Aqueles que possuem um ego fraco o possuem em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>sta relação quenão foi suficientemente boa e por este motivo não conseguem progredir e serem elesmesmos. E isto persiste na vida adulta, na forma <strong>de</strong> regressão, e são estes casos quemuitas vezes vem parar nas mãos <strong>do</strong> terapeuta e é <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> processo terapêutico que oindivíduo po<strong>de</strong>rá viver ou reviver situações que não pu<strong>de</strong>ram ser resolvidas para que o<strong>de</strong>senvolvimento possa continuar.Em nossa ativida<strong>de</strong> terapêutica, reiteradamente nos envolvemos compacientes; atravessamos uma fase em que ficamos vulneráveis (como amãe) por causa <strong>de</strong> nosso envolvimento; i<strong>de</strong>ntificamo-nos com a criança,que por algum tempo permanece <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> nós a um grau extremo;assistimos à queda <strong>do</strong> falso self ou <strong>do</strong>s falsos selves da criança;assistimos ao novo nascimento <strong>de</strong> um self verda<strong>de</strong>iro, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> um egoque é forte porque nós, assim como a mãe ao seu filho, fomos capazes<strong>de</strong> dar apoio. (WINNICOTT, 1960, p. 28).É através <strong>de</strong>sse processo terapêutico que o indivíduo tem uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolver o seu self verda<strong>de</strong>iro e <strong>de</strong> ter contato realmente com outros ambientes quelhe propiciem um <strong>de</strong>senvolvimento. A terapia trás uma possibilida<strong>de</strong> que anteriormentelhe foi negada ou negligenciada e po<strong>de</strong> ser através <strong>de</strong>la que o indivíduo saia <strong>de</strong> umprocesso <strong>de</strong> estagnação, on<strong>de</strong> se encontra por não saber agir e viver a vida <strong>de</strong> formaefetiva. Através da terapia o cliente transfere para o mun<strong>do</strong> externo as novas vivênciasou a resolução <strong>de</strong> vivências que foram repetidas <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> setting terapêutico.O terapeuta trás à tona a possibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ser Eu. Porém para que isso ocorra, arelação terapeuta-cliente <strong>de</strong>ve ser baseada na transferência entre estes, ou seja, narelação que é construída <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> setting terapêutico.Nos casos clínicos apresenta<strong>do</strong>s, a história <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s pacientes aqui expostos,quan<strong>do</strong> bebês tiveram experiências um pouco menos afortunadas ten<strong>do</strong> comprometi<strong>do</strong> oUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>74


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisecontato com a realida<strong>de</strong> externa. Para esses sujeitos, na vida adulta, pesa o tempo to<strong>do</strong> aameaça <strong>de</strong> perda da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se relacionar, ou em um caso mais grave <strong>de</strong>monstrama fragilida<strong>de</strong> em momentos <strong>de</strong> frustração, dan<strong>do</strong> margem ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma<strong>do</strong>ença esquizói<strong>de</strong>. Os casos que aqui apresentamos, falam, se alguma forma da relaçãomaterna, o que nos remetia a pensar sobre a premissa mãe-bebê winnicottiano.Caso 1A paciente CR foi criada pelos avós maternos até os 13 anos, <strong>de</strong>pois disso teve aoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conviver com a mãe biológica, menciona que esta época foi muitosofrida pois se sentia rejeitada pela mãe, que já tinha outros filhos <strong>de</strong> um outrocasamento.A mãe <strong>de</strong> CR tinha um relacionamento com um médico, muito conheci<strong>do</strong> nacida<strong>de</strong> e este era casa<strong>do</strong>. Mantiveram este relacionamento ao longo <strong>de</strong> anos, até que amãe da paciente engravi<strong>do</strong>u <strong>de</strong>ste amante e este quan<strong>do</strong> soube a aban<strong>do</strong>nou.A mãe <strong>de</strong> CR, segun<strong>do</strong> a <strong>de</strong>scrição da paciente, era uma mulher jovem e quegostava <strong>de</strong> viver bem a vida e que não se via pronta para aquela gravi<strong>de</strong>z. Logo que <strong>de</strong>ua luz a CR, a mulher pediu ao pai e a irmã que cuidassem da criança, pois a mesma iriatentar a vida na cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.E assim foi a vida <strong>de</strong> CR, criada pelo avô e a tia até os 13 anos, durante estetempo o contato que tinha com esta mãe era apenas por telefone.Hipóteses e consi<strong>de</strong>rações teóricas <strong>do</strong> casoAs coisas começam quan<strong>do</strong> a mãe introduz na situação mãe-bebê, a capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> amadurecimento. A preocupação materna primária, <strong>de</strong>scrito por <strong>Winnicott</strong>, mostra-se<strong>de</strong> fundamental importância para que se inicie o <strong>de</strong>senvolvimento fisiológico epsicológico <strong>do</strong> bebê. Seria a capacida<strong>de</strong> da mãe suficientemente boa, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sviar ointeresse <strong>do</strong> seu próprio, self para o bebê.Embora a paciente <strong>de</strong>scrita aqui, tenha recebi<strong>do</strong> os cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> um avô e umatia, só a mãe é conferida uma capacida<strong>de</strong> especial <strong>de</strong> fazer a coisa certa. Esta mãe sabecomo, o bebê esta se sentin<strong>do</strong>, e só a ela é dada a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação com essebebê, e a ele <strong>de</strong>dicar-se prontamente as suas necessida<strong>de</strong>s.O processo <strong>de</strong> acalento, amamentação, a forma <strong>de</strong> segurá-lo e o tempo que seexecutam tais tarefas, dão a este pequeno ser a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu ser contribuin<strong>do</strong>Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>75


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisepara seu <strong>de</strong>senvolvimento e amadurecimento, lhe dan<strong>do</strong> condições <strong>de</strong> superar algumasfalhas no ambiente.No caso <strong>de</strong> CR, o processo <strong>de</strong> amamentação foi realiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma que imitasseo processo natural. Seu avô a amamentava com uma mama<strong>de</strong>ira, usan<strong>do</strong> leite <strong>de</strong> umapequena criação <strong>de</strong> cabras, que tinha em seu quintal.CR se quer passou pelo processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>smame, porque esta nunca o teve <strong>de</strong> fatopara si. Haven<strong>do</strong> assim em seu passa<strong>do</strong>, um processo e um relacionamentoinsatisfatório.E é exatamente nesta primeira vivência não satisfatória ou insuficiente, quepo<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar alguns padrões <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong> ou comportamentos ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s navida adulta.CR, no processo terapêutico, apresentou quadros <strong>de</strong> apatia, inibição e ansieda<strong>de</strong>sque são geralmente classificadas como psicóticas.A paciente apresentou quadros <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> como, nervosismo, inquietu<strong>de</strong>,tensão e usava sempre como <strong>de</strong>fesa uma “ansieda<strong>de</strong> antecipatória”: sempre seantecipan<strong>do</strong>, perante situações cotidianas, com finais trágicos e que sempre tinha um<strong>de</strong>sfecho dramático ou esboçava uma situação negativa.A paciente chegou à terapia, fazen<strong>do</strong> uso <strong>de</strong> psicofármacos para combater ainsônia, irritabilida<strong>de</strong> e ansieda<strong>de</strong>.E neste perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> terapia, embora a queixa inicial fosse como saber lhe dar comos filhos, aos poucos revivia e regredia os relacionamentos primeiros que não foramsatisfatórios e lhes traziam muito sofrimento. Aos poucos CR reconheceu um pouco <strong>de</strong>sua realida<strong>de</strong> subjetiva, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer uma simples negação da realida<strong>de</strong> externa ouo reconhecimento <strong>de</strong>sta. Fato este, ressaltasse a fala <strong>de</strong>sta paciente, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algunsmeses <strong>de</strong> terapia:“... sei que sou ansiosa e que tem muito me<strong>do</strong> <strong>do</strong> que vaiacontecer, sou muito nervosa e falo o que lhe vem a cabeça nahora das discussões em casa, e que isso acaba por magoar meusfilhos e mari<strong>do</strong>, tornan<strong>do</strong> nossa relação cada vez mais distante.”“... tenho me<strong>do</strong> <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o equilíbrio e ficar <strong>do</strong>ente e não tercontrole sobre o temor <strong>de</strong> pensamentos sobre o que po<strong>de</strong>ráacontecer, tenho me<strong>do</strong> <strong>do</strong> que vai acontecer.”Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>76


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseA teoria winnicottiana ainda <strong>de</strong>staca <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> distúrbios maternos, a qual<strong>de</strong>staca a mãe cujos interesses próprios são tão intrusivos que são incapazes <strong>de</strong> seremaban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s, e o segun<strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> mãe seria a que estaria sempre preocupada, tornan<strong>do</strong>seassim uma preocupação patológica. Esta mãe patologicamente preocupadapermanece i<strong>de</strong>ntificada por um longo tempo com este bebê, não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> este caminharpara <strong>de</strong>pendência relativa.Vem-se a constatar, como na teoria, que quan<strong>do</strong> o “par mãe-filho” funcionabem, o ego da criança é capaz <strong>de</strong> organizar <strong>de</strong>fesas suportan<strong>do</strong> as reações <strong>de</strong> possíveisfalhas ambientais. Se este apoio é fraco ou intermitente, receben<strong>do</strong> um apoio egóicoina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> ou patológico, estes ten<strong>de</strong>m a apresentar padrões <strong>de</strong> comportamentossemelhantes aos <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas psicóticas, como menciona <strong>Winnicott</strong>(1958, p. 36).Na situação terapêutica o que se faz é imitar este processo natural “mãe-filho”,nesta ativida<strong>de</strong> encontramos fatos análogos como, o exame <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>pendênciaabsoluta por parte <strong>do</strong> paciente, que caminha para uma <strong>de</strong>pendência relativa com oobjetivo da conquista a in<strong>de</strong>pendência, por fim.Caso 2A paciente apresentou queixa quanto a relacionamento familiar, ela é umamulher <strong>de</strong> 30 anos, porém sua aparência mais jovem nos indica uma pessoa regredida emuito frágil.Os problemas <strong>de</strong> relacionamento da cliente são <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> uma<strong>de</strong>sestruturação familiar, que é <strong>de</strong>vida ao abuso sofri<strong>do</strong> por ela e uma irmã mais novapor parte <strong>do</strong> pai.V. relata que este abuso acontecia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua infância e que se manteve por parteda a<strong>do</strong>lescência, até o dia em que sua irmã resolveu revelar a mãe o que acontecia<strong>de</strong>ntro da casa e Valéria teve que falar sobre o que acontecia com ela para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r airmã da violência <strong>do</strong> pai, que bateu na irmã por contar tu<strong>do</strong> à mãe.Algumas vezes ela culpa a mãe por não ter percebi<strong>do</strong> o que ocorria, pois ela dizque sua mãe cuidava muito bem <strong>de</strong>las, menos quanto a este caso, Valéria diz ter feitoalgumas manifestações <strong>de</strong> que as coisas não estavam bem para ela <strong>de</strong>ntro da casa e quesua mãe não percebeu essas manifestações.Sen<strong>do</strong> assim, V. percebe que o ambiente ficou lhe <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> algo e per<strong>de</strong> tambéma confiança no ambiente e por este processo traumático; o emocional <strong>de</strong>sta fica abala<strong>do</strong>Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>77


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisee não se <strong>de</strong>senvolve normalmente. Após a saída <strong>do</strong> pai <strong>de</strong> casa a cliente faz um retorno aeste ambiente mãe e o processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação entre elas é tão gran<strong>de</strong> que chega a seruma simbiose.To<strong>do</strong> o processo traumático sofri<strong>do</strong> na infância e parte da a<strong>do</strong>lescência <strong>de</strong> V. évisto como uma invasão no seu processo <strong>de</strong> integração, pois por mais que já houvesseum EU ali presente este eu se <strong>de</strong>spedaça e um falso EU como mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> proteção surgeem seu lugar neste processo simbiótico com a mãe.V. não teve um contexto para a construção <strong>do</strong> seu eu, e a relação com o mun<strong>do</strong>,foi traumática pela invasão feita pelo seu pai. Por conta <strong>do</strong>s conflitos vivi<strong>do</strong>s por V. elaé confusa e não sabe distinguir quan<strong>do</strong> os gestos são seus e quan<strong>do</strong> eles são <strong>de</strong> outro.Como, por exemplo, em relação ao seu relacionamento sexual apresentaimaturida<strong>de</strong> V. diz “eu não queria ter feito sexo e não sei porque fiz, sempre disse paraminha mãe que realizaria o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>la <strong>de</strong> casar virgem”(sic.)O processo simbiótico entre as duas é tão forte que esta tem as mesmas <strong>do</strong>ençasque a mãe, <strong>do</strong>enças essas que não são <strong>de</strong> origem genética.Até pouco tempo atrás V. ainda <strong>do</strong>rmia com a mãe na mesma cama, penso euque esta atitu<strong>de</strong> era regredida, uma atitu<strong>de</strong> como tentativa <strong>de</strong> retorno a questões <strong>do</strong>passa<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> não po<strong>de</strong> ser protegida e este ato <strong>de</strong> <strong>do</strong>rmir com a mãe agora erasenti<strong>do</strong> por V. como proteção.V. apesar <strong>de</strong> ter um corpo <strong>de</strong> mulher não tem uma relação consigo <strong>de</strong> adulta é<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sta mãe e <strong>do</strong>s pensamentos <strong>de</strong>ssa para agir. Desta forma, po<strong>de</strong>-se dizerque V. não é uma pessoa que têm integra<strong>do</strong> o amadurecimento da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e oamadurecimento instintual.Pois no caso <strong>de</strong> V. fica claro que o não amadurecimento da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> fez comque esta não pu<strong>de</strong>sse ter um amadurecimento instintual, ten<strong>do</strong> assim, sérios problemascom sua sexualida<strong>de</strong>, pois por mais que tenha relações sexuais não po<strong>de</strong> sentir estacomo prazerosa, além <strong>de</strong> isso fortalecer o processo simbiótico com sua mãe.Caso 3C. possui 21 anos, e mora somente com sua mãe. O pai vive em uma cida<strong>de</strong> há500 km <strong>de</strong> distância. C. apresenta uma relação <strong>de</strong> simbiose com a mãe, talvez por teremmora<strong>do</strong> apenas as duas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ela tinha <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Este relacionamento évisto como algo perfeito na visão <strong>de</strong> C. que afirma ser muito diferente <strong>do</strong>relacionamento <strong>de</strong> suas amigas com as mães, porque estas brigam, e ela e sua mãeUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>78


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseraramente discutem por algo. A mãe <strong>de</strong> C. interfere ativamente em sua vida, toman<strong>do</strong>várias <strong>de</strong>cisões por ela, interferin<strong>do</strong> até em suas escolhas amorosas. A mãe sempre quisque ela conseguisse um namora<strong>do</strong> rico e “bom parti<strong>do</strong>”, chegan<strong>do</strong> até fazer C. terminaro relacionamento com um rapaz que gostava muito por afirmar que ele não serianinguém na vida por não ter concluí<strong>do</strong> os estu<strong>do</strong>s. A hipótese estabelecida foi <strong>de</strong> que amãe <strong>de</strong> C. gostaria que esta encontrasse um namora<strong>do</strong> que protegesse as duas, tanto mãecomo filha. Além <strong>de</strong>sta relação simbiótica atrapalhar os relacionamentos <strong>de</strong> C. tambématrapalhava os relacionamentos <strong>de</strong> sua mãe, como foi visto quan<strong>do</strong> C. disse que sentepelos relacionamentos da mãe não terem da<strong>do</strong> certo, e que acredita que isto aconteceuporque a mãe na época tinha uma filha pequena e os homens não a aceitaram. Mãe efilha nunca permitiram a inserção <strong>de</strong> um terceiro elemento neste relacionamento portalvez acreditarem que isso abalaria a relação, e alguma das duas se sentiria excluída oumenos amada.A simbiose das duas sempre se mostrou muito forte, e inicialmente, com umainiciativa da mãe <strong>de</strong> tentar separá-la <strong>de</strong> seu pai. C. relatava que quan<strong>do</strong> criança a mãepensava que ela fosse morrer, por conta das <strong>do</strong>enças respiratórias que apresentava, e aafastava <strong>de</strong> todas as pessoas, inclusive <strong>de</strong> seu pai. Por este fato, C. pensava que o painão gostasse <strong>de</strong>la, mas <strong>de</strong>pois percebeu que foi a mãe que o havia afasta<strong>do</strong>.Por conta da simbiose apresentada com a mãe, C. apresentava algunscomportamentos regredi<strong>do</strong>s, tais como procurar sempre o colo da mãe e pedir carinho, eficar na cama da mãe até a hora que o sono aparecesse. Para <strong>Winnicott</strong> (1954/1978) aregressão é o oposto da progressão e se refere à fase em que a criança <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>absolutamente <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s maternos, mas não os reconhece como advin<strong>do</strong>s <strong>do</strong>exterior. Ele <strong>de</strong>nomina isso <strong>de</strong> dupla <strong>de</strong>pendência, pelo fato <strong>de</strong> o bebê <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>do</strong>scuida<strong>do</strong>s maternos e <strong>de</strong>sconhecer a origem <strong>de</strong>les. Mais tar<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> o self está mais<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> e o ego fortaleci<strong>do</strong>, ocorre a fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência relativa, rumo ain<strong>de</strong>pendência, e então os cuida<strong>do</strong>s maternos serão gradativamente retira<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong>com a tolerância <strong>do</strong> bebê. C. se mostrava uma pessoa regredida a essa <strong>de</strong>pendência damãe. <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>fine regressão como a volta <strong>do</strong> ponto em que o amadurecimento <strong>do</strong>self foi interrompi<strong>do</strong>, num estágio anterior ao estabelecimento <strong>de</strong> si mesmo comoentida<strong>de</strong>. No passa<strong>do</strong> ocorreu a falha materna, que assumiu o caráter <strong>de</strong> invasão emobiliou a reação <strong>do</strong> bebê para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> ameaças <strong>de</strong> aniquilamento. Este fato levaa dissociação <strong>do</strong> núcleo <strong>do</strong> self <strong>do</strong>s elementos <strong>de</strong>fensivos e o leva a se tornar um falsoself submisso ao ambiente, interrompen<strong>do</strong> o processo natural <strong>de</strong> “vir a ser” <strong>do</strong> bebê.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>79


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseNos três casos clínicos, aqui apresenta<strong>do</strong>s, vemos a importância <strong>do</strong> meioambiente para o bebê nos primeiros estágios da vida; por trás <strong>de</strong> um sujeito está a mãe eas condições ambientais em que viveu, o que aludiu na história <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s três sujeito,<strong>do</strong> sexo feminino, aqui apresenta<strong>do</strong>s.ReferênciasFERREIRA, F. B. G. Uma compreensão winnicottiana sobre as noções <strong>de</strong> soma, psiquee mente como referência para atendimento da integração psicossomática. Dissertação(Mestra<strong>do</strong> em <strong>Psicologia</strong>). Campinas: Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Campinas,2010. Disponível em:< http://www.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br/t<strong>de</strong>_arquivos/6/TDE-2010-03-24T072415Z-1592/Publico/Fernanda%20Belluzzo%20Gue<strong>de</strong>s%20Ferreira.pdf> Data <strong>de</strong> acesso:10/11/2012.FREUD, S. Obras Completas. Volume X<strong>II</strong> - Introdução à Psicanálise Tomo I. Rio <strong>de</strong>Janeiro: Editora Delta S.A., 1974.WINNICOTT, D. W. Natureza Humana. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora Imago, 1990.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>80


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseA importância da função materna na construção <strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo infantilAn<strong>de</strong>rson Souza <strong>de</strong> Oliveira 31Paula Hisa P. GottoResumoAtualmente as discussões sobre A importância da função materna na construção <strong>do</strong><strong>de</strong>sejo infantil têm si<strong>do</strong> intensas no campo da psicanálise, assim, dada a diversida<strong>de</strong>teórica e conceitual, o foco <strong>de</strong>ste trabalho está em i<strong>de</strong>ntificar e compreen<strong>de</strong>r Aimportância da função materna na construção <strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo infantil. Para tanto, optou-sepela pesquisa <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m bibliográfica, cujos resulta<strong>do</strong>s possibilitaram a discussão arespeito <strong>do</strong>s vínculos parentais através da função materna que permite o processo <strong>de</strong>constituição <strong>do</strong> bebê.Palavras-chave: Função Materna, Relação Mãe-Bebê, Psicanálise.31 E-mail: coopan<strong>de</strong>rson@gmail.comUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>81


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseAcompanhamento Terapêutico: possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção da subjetivida<strong>de</strong>através <strong>de</strong> uma intervenção na famíliaVivian Marques 32Claire SquiresEste artigo propõe discutir através da teoria psicanalítica, um caso <strong>de</strong> acompanhamentoterapêutico <strong>de</strong> uma criança <strong>de</strong> nove anos que não fala, mas não apresenta qualquerdisfunção física. Apresentar as nuanças <strong>do</strong> trabalho psicanalítico que é feito em lugarespúblicos e na casa. Buscou-se proporcionar um espaço potencial para que a criançapu<strong>de</strong>sse ser subjetivada, o trabalho era anterior a socialização. Oferecer-se comoespelho, no qual a criança pu<strong>de</strong>sse se reconhecer. Conforme <strong>Winnicott</strong>, é essencialsentir-se real, o objetivo era <strong>de</strong> lhe permitir <strong>de</strong>scobrir seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> existência.Paralelamente foi feito um trabalho com a família, especialmente com a mãe, para queela pu<strong>de</strong>sse exercer seu papel e investir em seu filho. O trabalho <strong>de</strong> acompanhanteterapêutica se consistiu também em dar um mo<strong>de</strong>lo das funções parentais. Este artigo éum recorte da tese <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong>, este caso foi atendi<strong>do</strong> na França, assim é possíveldiscutir a questão cultural no atendimento psicanalítico.Palavras-chave: acompanhamento terapêutico, subjetivação, intervenção familiar.32 Psicóloga, mestre pela Paris 7 – Di<strong>de</strong>rot em Psychanalyse et Psychopathologie. Graduada pelaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, com aprimoramento em Intervenção Precoce na relação pais-bebêspelo Instituto Se<strong>de</strong>s Sapientae. Especialista em psicologia da infância pela UNIFESP e em dinâmica <strong>de</strong>grupo pela Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Dinâmica <strong>de</strong> Grupo. Atua na área clínica com atendimentopsicoterapêutico <strong>de</strong> crianças, a<strong>do</strong>lescentes e adultos, em contexto individual <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2008, e com grupospsicoterapêuticos/psicoprofiláticos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2003. Membro da Ong Habitare <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2008.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>82


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseA<strong>do</strong>lescência: <strong>do</strong> imaginário ao realA<strong>do</strong>lescence: from the imaginary to the realRosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 33Marcia Caroline Portela Amaro 34ResumoA a<strong>do</strong>lescência é uma fase particularmente complexa <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano,marcada por questões biológicas, culturais e psíquicas específicas. O a<strong>do</strong>lescente viveentre o real e o imaginário, uma vez que o simbólico ainda não está presente. O aspectotransicional é marcante e é o precursor <strong>do</strong> simbólico. O transicional se dá no espaçopotencial entre o a<strong>do</strong>lescente e o outro, e necessitam <strong>de</strong> objetos, espaços e relaçõestransicionais, como as que se dão no grupo e por meio da fantasia. Assim, configura-sea chamada Síndrome Normal da A<strong>do</strong>lescência, na qual o sujeito <strong>de</strong>senvolvecaracterísticas que, fora <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescencial po<strong>de</strong>riam ser consi<strong>de</strong>radas anormais.Neste contexto, o a<strong>do</strong>lescente vive importantes lutos, <strong>de</strong>correntes da perda <strong>do</strong> corpoinfantil, da bissexualida<strong>de</strong> e <strong>do</strong>s pais da infância. A escolha profissional constitui aomesmo tempo em luto e em da<strong>do</strong> <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> temporal, remeten<strong>do</strong> o a<strong>do</strong>lescente para aassunção <strong>de</strong> papéis futuros.Palavras-chave: A<strong>do</strong>lescente, Desenvolvimento <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente, <strong>Psicologia</strong> <strong>do</strong>A<strong>do</strong>lescente.AbstractA<strong>do</strong>lescence is a particularly complex phase of human <strong>de</strong>velopment, marked by issuesbiological, psychological and cultural specific. The teenager lives between the real andthe imaginary, since the symbolic is not yet present. The transitional aspect is strikingand is the precursor of the symbolic. The transitional occurs in the potential spacebetween the teenager and the other, and requires objects, spaces and transitionalrelationships, such as those that occur in the group and through fantasy. Thus sets up the33 Prof.ª. Dr.ª Adjunta <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise - UEL/PR. Doutora em <strong>Psicologia</strong>como Profissão e Ciência – PUCCAMP, área Clinica; Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão “OrientaçãoVocacional e Profissional <strong>de</strong> A<strong>do</strong>lescentes na Comunida<strong>de</strong>” <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise- UEL/PR.34 Enfermeira, Mestre em Saú<strong>de</strong> Coletiva pela UEL/PR, Acadêmica <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> – UEL/PR,estagiária <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão “Orientação Vocacional e Profissional <strong>de</strong> A<strong>do</strong>lescentes naComunida<strong>de</strong>” <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise - UEL/PR.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>83


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisecall Normal A<strong>do</strong>lescent Syndrome, in which the subject <strong>de</strong>velops characteristics thata<strong>do</strong>lescence off period could be consi<strong>de</strong>red abnormal. In this context, the importanta<strong>do</strong>lescent experiences grief resulting from the loss of the child's body, bisexuality andparents of children. The professional choice is simultaneously mourning and giventemporal reality, leaving the teenager to the assumption of future roles.Key Words: A<strong>do</strong>lescent, A<strong>do</strong>lescent Development, A<strong>do</strong>lescent Psychology.A a<strong>do</strong>lescência se circunscreve em um meio familiar <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> sócioculturalmente e se <strong>de</strong>senvolve num processo psicossocial, haja vista que cada socieda<strong>de</strong>e cada cultura têm parâmetros que a distinguem.A dupla origem etimológica da palavra a<strong>do</strong>lescência, que significa ao mesmotempo crescer (latim ad = a, para e olescer = crescer) e a<strong>do</strong>ecer (latim a<strong>do</strong>lescere =a<strong>do</strong>ecer ou enfermar), é sintomática das características que marcam esta fase da vida.A socieda<strong>de</strong> brasileira, segun<strong>do</strong> Outeiral (1997) e Outeiral, Hisada e Gabria<strong>de</strong>s(2001), consi<strong>de</strong>ra que a a<strong>do</strong>lescência é <strong>de</strong>limitada por três fases: fase inicial (10 a 14anos), perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> transformações corporais e alterações psíquicas <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong>steprocesso; fase média (14 a 16/17 anos), caracterizada pelas questões sexuais quan<strong>do</strong>ocorre a passagem da bissexualida<strong>de</strong> para a heterossexualida<strong>de</strong> ou homossexualida<strong>de</strong> ea fase final (16/17 anos a 20/25anos), on<strong>de</strong> há várias modificações em relação aosvínculos com os pais, a questão profissional associada ao término <strong>do</strong> ensino médio, aaceitação <strong>do</strong> novo corpo e <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> relação com o mun<strong>do</strong>.Uma análise psicossocial po<strong>de</strong> levar em consi<strong>de</strong>ração a existência <strong>de</strong>a<strong>do</strong>lescentes antes <strong>do</strong>s 10 anos, assim como após os 20/25 anos, a<strong>do</strong>lescentes precoces etardios, sob o ponto <strong>de</strong> vista histórico-genético e psicofuncional, com prováveisaspectos <strong>de</strong> <strong>de</strong>tenção ou fixação parcial <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.Ressaltam-se na fase inicial por volta <strong>de</strong> 10 a14 anos, as transformaçõescorporais intensas vividas neste perío<strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescência, originadas pelo processo puberal,que é o surgimento biológico <strong>do</strong>s caracteres sexuais secundários, com extraordináriaativida<strong>de</strong> hormonal. Então nesse primeiro luto que o a<strong>do</strong>lescente precisa enfrentar <strong>do</strong>mesmo mo<strong>do</strong> que o ego corporal é o primeiro substrato da formação psíquica <strong>do</strong> afetoprazer e <strong>do</strong> afeto <strong>de</strong>sprazer, na entrada <strong>de</strong>sta fase reatualiza-se o primeiro luto narcísico(corpo infantil), e todas as intensas motivações inconscientes associadas a essemovimento psíquico (ALMEIDA, 1999).Na fase média em torno <strong>de</strong> 14 a 17 anos, que po<strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r-se até a fase final daUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>84


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisea<strong>do</strong>lescência; outro importante luto vivencia<strong>do</strong> pelo a<strong>do</strong>lescente, o da bissexualida<strong>de</strong>,enfatiza<strong>do</strong> pelos autores que estudam esta fase <strong>do</strong> amadurecimento, e o sofrimentopsicológico intenso gera<strong>do</strong> por uma capacida<strong>de</strong> real sexual, para<strong>do</strong>xal à imaginária. Poisassumir a genitalida<strong>de</strong>, “pós” edípica significa metaforicamente “<strong>de</strong>sistir” <strong>do</strong> amorparental.Nesta fase <strong>do</strong> amadurecimento, Dias (2003) vai tratar esta questão como sen<strong>do</strong>parte <strong>de</strong> “angústias típicas da a<strong>do</strong>lescência, que repetem a <strong>do</strong>s estágios primitivos: oa<strong>do</strong>lescente é, tal como o bebê, essencialmente isola<strong>do</strong>. E, tal como no bebê, é apenas apartir <strong>de</strong>ste isolamento que ele po<strong>de</strong> se lançar e vir a estabelecer alguma relação sentidacomo real” (p. 293).Ao assinalar este isolamento também o associa “a um traço da sexualida<strong>de</strong> maisprecisamente da in<strong>de</strong>finição sexual: o menino ou menina não sabe ainda, a não ser quepadrões ambientais forcem a <strong>de</strong>finição, se será heterossexual ou homossexual” (DIAS,2003, p. 293).Então as experiências masturbatórias, <strong>do</strong> brincar hetero ou homossexual queocorrem em relação a uma sexualida<strong>de</strong> ainda parcial, acontecem como uma <strong>de</strong>fesa aprópria ansieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> certa forma negação frente à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização <strong>do</strong> atogenital.Rubinstein (2005), ao fazer um aporte sobre reflexões acerca da praticapsicanalítica com a<strong>do</strong>lescentes <strong>de</strong>nomina a saída da latência e puberda<strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> há asubstituição <strong>do</strong>s pais pelo grupo (como um “espaço” temporal “transicional”) como umafase isossexual para evitar a conotação <strong>do</strong> termo homossexual, num movimento <strong>de</strong>rejeição da perda <strong>de</strong> relações mais soltas, sem a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> papéis sexuais.Aqui se insere ainda um terceiro luto vivencia<strong>do</strong> pelos a<strong>do</strong>lescentes: o <strong>do</strong>s paisda infância, bem como <strong>de</strong> toda a dinâmica relacional estabelecida com eles. Énecessário ao a<strong>do</strong>lescente “assassinar” os pais da infância, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que precisaseparar-se da dinâmica relacional infantil e a posteriori construir novas relações maismaduras com ambas as figuras parentais (OUTEIRAL e GRAÑA, 1991).A escolha profissional surge na a<strong>do</strong>lescência como outro importante luto,relaciona<strong>do</strong> agora à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se buscar um papel a ser <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> peloa<strong>do</strong>lescente na socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> o lugar <strong>de</strong> “<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte”, quanto também comoda<strong>do</strong> <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong>, uma vez que é uma tarefa que remete ao futuro e ajuda oa<strong>do</strong>lescente, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong>s peculiares e muitas vezes confusas, a se situardiante da passagem <strong>do</strong> tempo, o que po<strong>de</strong> causar muitos conflitos.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>85


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseHaja vista que segun<strong>do</strong> Arias (1998), “a concepção da temporalida<strong>de</strong>” e o“limite temporal” <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, <strong>do</strong>s pais estão situa<strong>do</strong>s num contexto social<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> no tempo, visto que a “a a<strong>do</strong>lescência como etapa, processo ou passagem<strong>de</strong>fine-se também em função <strong>de</strong> uma variável temporal que a atravessa, e porque todaa<strong>do</strong>lescência implica um encontro <strong>do</strong> sujeito com a temporalida<strong>de</strong>” (p. 144).Faz-se necessário retomar aqui algumas clássicas questões sobre a a<strong>do</strong>lescência,posto que são atuais em pleno século XXI.Na a<strong>do</strong>lescência a dimensão temporal adquire características especiais. Oa<strong>do</strong>lescente apresenta dificulda<strong>de</strong> para distinguir presente, passa<strong>do</strong> e futuro, diferenciara realida<strong>de</strong> externa-interna; po<strong>de</strong> unir o passa<strong>do</strong> e o futuro num “<strong>de</strong>vora<strong>do</strong>r presente”,presente que tem características não discriminadas e que portanto implicaria umatemporalida<strong>de</strong> diferente.Knobel (1981 apud ABREU, 1999), trata esta questão como uma <strong>de</strong>slocalizaçãotemporal, on<strong>de</strong> o pensamento adquire as características <strong>de</strong> pensamento primário:converte o tempo em presente e ativo, numa tentativa <strong>de</strong> manejá-lo. As urgências sãoenormes e as postergações são aparentemente irracionais.Outras características que integram a “Síndrome Normal da A<strong>do</strong>lescência”(ABERASTURY e KNOBEL, 1986): Busca <strong>de</strong> si mesmo e da I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: a infância e a a<strong>do</strong>lescência não po<strong>de</strong>m serencaradas apenas como uma preparação para a ida<strong>de</strong> adulta, mas <strong>de</strong>vem sim serenfocadas como uma etapa a ser vivida em um da<strong>do</strong> momento evolutivo. Necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intelectualizar e fantasiar: são mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. A realida<strong>de</strong>impõem várias renúncias (ao corpo, ao papel infantil, aos pais da infância, abissexualida<strong>de</strong>) que o a<strong>do</strong>lescente enfrenta com um sentimento <strong>de</strong> fracasso ou <strong>de</strong>impotência frente à realida<strong>de</strong> externa. Isso obriga o a<strong>do</strong>lescente a recorrer aopensamento para compensar as perdas <strong>do</strong>lorosas que ocorrem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si mesmo eque não po<strong>de</strong> evitar. Crises religiosas, que po<strong>de</strong>m ir <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ateísmo mais intransigente até o misticismomais fervoroso: a presença da religião apresenta-se numa tentativa <strong>de</strong> soluçõesfrente à ansieda<strong>de</strong> que vive o ego na sua busca <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação positiva e <strong>do</strong>confronto com o fenômeno da “morte” <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong> uma parte <strong>do</strong> seu ego corporal. Tendência grupal: é um comportamento <strong>de</strong>fensivo que vai em busca <strong>de</strong> umaaparente uniformida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> proporcionar segurança e estima pessoal. O grupo eUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>86


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseseus integrantes representam a oposição às figuras parentais e uma maneira ativa <strong>de</strong><strong>de</strong>terminar uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> diferente a <strong>do</strong> meio familiar. Transfere-se ao grupogran<strong>de</strong> parte da <strong>de</strong>pendência que anteriormente se mantinha com a estruturafamiliar, especialmente com os pais. Ativida<strong>de</strong> social reivindicatória com tendências anti ou associais <strong>de</strong> diversasintensida<strong>de</strong>s: o a<strong>do</strong>lescente cristaliza na realida<strong>de</strong> externa o que já aconteceu no seupsiquismo; na busca <strong>de</strong> sua própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, ele necessita tornar-se diferente edistanciar-se <strong>do</strong>s pais, para construir sua suposta autonomia. Evolução sexual manifesta que vai <strong>do</strong> autoerotismo até a heterossexualida<strong>de</strong> genitaladulta: a aceitação da genitalida<strong>de</strong> surge na a<strong>do</strong>lescência, imposta pela sexualida<strong>de</strong> epelo sêmen. Têm início com ativida<strong>de</strong>s masturbatórias, que visam à exploração eaprendizagem para uma futura genitalida<strong>de</strong> procriativa. Po<strong>de</strong> passar por umahomossexualida<strong>de</strong> normal, visto que é um perío<strong>do</strong> on<strong>de</strong> se elabora a perda dabissexualida<strong>de</strong> infantil, chegan<strong>do</strong> então ao nível genital com outro indivíduo <strong>do</strong>sexo oposto e com vias a procriação, se possível. Contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta, <strong>do</strong>minada pela ação,que constitui a forma <strong>de</strong> expressão conceitual mais típica <strong>de</strong>ste perío<strong>do</strong> da vida.Assim, são frequentes, intensos e variáveis os mecanismos <strong>de</strong> projeção e introjeçãoque facilitam a elaboração <strong>do</strong>s lutos típicos <strong>de</strong>sta ida<strong>de</strong>. A personalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>a<strong>do</strong>lescente é permeável: recebe e projeta muito. Separação progressiva <strong>do</strong>s pais: é o aparecimento da capacida<strong>de</strong> executora dagenitalida<strong>de</strong> que impõe a separação <strong>do</strong>s mesmos ao reativar os aspectos genitais quetinham começa<strong>do</strong> na fase genital prévia. Constantes flutuações <strong>do</strong> humor e <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> ânimo: Os fenômenos da <strong>de</strong>pressão eluto acompanham o processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação e construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong>a<strong>do</strong>lescente. É preciso enten<strong>de</strong>r as mudanças <strong>de</strong> humor sobre a base <strong>do</strong>smecanismos <strong>de</strong> projeção e <strong>de</strong> luto pela perda <strong>do</strong>s objetos.Um bom mun<strong>do</strong> interior é constituí<strong>do</strong> e surge <strong>de</strong> uma relação satisfatória com ospais internaliza<strong>do</strong>s e da capacida<strong>de</strong> criativa mostrada e proporcionada por eles, comoassinala Aberastury (1983). Destaca que esse mun<strong>do</strong> interno é que possibilita uma boaconexão interior, uma fuga <strong>de</strong>fensiva na qual o a<strong>do</strong>lescente “mantém e reforça a suarelação com os objetos internos e evita os externos”, e é o que facilita um bom ajusteemocional no estabelecimento da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>87


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseDes<strong>de</strong> que o indivíduo nasce, vai se diferencian<strong>do</strong> progressivamente. Inicia coma <strong>de</strong>pendência absoluta da mãe, e chega num meio social com características culturais<strong>de</strong>terminadas. É um processo <strong>de</strong> construção gradual em busca <strong>de</strong> uma autonomiarelativa, perpassa<strong>do</strong> <strong>de</strong> progressos e retrocessos, um “vai e vem” na a<strong>do</strong>lescência.<strong>Winnicott</strong> utiliza o termo experiência cultural como um <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramento <strong>de</strong> suasi<strong>de</strong>ias sobre o brincar e o fenômeno transicional. Então neste senti<strong>do</strong> o a<strong>do</strong>lescente aoenfrentar uma história e elaboração <strong>do</strong> vivi<strong>do</strong>, <strong>de</strong> forma ainda confusa ao sair <strong>de</strong> umasituação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência quase absoluta para uma in<strong>de</strong>pendência relativa, na construção<strong>de</strong> uma posição <strong>de</strong> crescimento e <strong>de</strong> sua própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.Portanto, o a<strong>do</strong>lescente busca o grupo como precursor <strong>do</strong> objeto transicional dainfância, facilitan<strong>do</strong> a passagem da vida infantil para a vida adulta. No espaço temporaltransicional, oferta<strong>do</strong> pelo grupo <strong>de</strong> pares, o a<strong>do</strong>lescente po<strong>de</strong> viver o “imaginário comoreal” (AYRES, 1998, p. 345).Tais premissas são <strong>de</strong> suma importância para a área <strong>de</strong> Orientação Vocacional eProfissional, para atendimentos que são realiza<strong>do</strong>s em grupos <strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes que estãoà maioria na fase media da a<strong>do</strong>lescência (16 a 18/19 anos), e que já cursam o ensinomédio.Estes grupos têm como objetivo estreitar os laços entre o sujeito e o objeto <strong>de</strong>sua escolha (profissão), através <strong>do</strong> holding oferta<strong>do</strong> pelo grupo <strong>de</strong> pares e manti<strong>do</strong> pelosetting grupal <strong>de</strong> um espaço temporal transicional intermediário entre o simbólico e oreal, <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> (“como se fosse”) o imaginário.É nesta dinâmica que trabalha o Projeto <strong>de</strong> Orientação Vocacional e Profissional<strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.Sintetizan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s: primeiramente é realizada uma palestrapara estudantes <strong>do</strong>s 2º e 3º anos <strong>do</strong> Ensino Médio em Escolas Estaduais, versan<strong>do</strong> sobrea a<strong>do</strong>lescência em geral e a escolha profissional em específico.Em seguida, é aberta uma lista para que os interessa<strong>do</strong>s em participar <strong>do</strong>sencontros <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> OVP na Clínica Psicológica da Universida<strong>de</strong> que escrevam seusnomes, telefones e disponibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> horário. Procura-se criar pelo menos <strong>do</strong>is grupos,um funcionan<strong>do</strong> à tar<strong>de</strong> e outro à noite, para aten<strong>de</strong>r à <strong>de</strong>manda daqueles que játrabalham ou têm outros compromissos.São realiza<strong>do</strong>s 10 encontros sustenta<strong>do</strong>s pelo setting (holding) grupal, nos quaisse fazem conversas que “brincam com o” imaginário ao real”. Aplicam-se técnicasprojetivas (<strong>de</strong>senhos, colagens, etc.) e testes psicológicos. A décima sessão é <strong>de</strong>stinadaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>88


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisepara uma <strong>de</strong>volutiva individual e a oferta <strong>de</strong> psicoterapia individual para aqueles quetenham <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> necessida<strong>de</strong> e/ou interesse.Assim, procura-se utilizar o grupo enquanto dispositivo transicional,<strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se que a a<strong>do</strong>lescência é fase em que o espaço potencial está presente e nestese necessita <strong>de</strong> objetos transicionais para se construir “pontes” com a realida<strong>de</strong>(GROLNICK, 1993).Num <strong>do</strong>s casos atendi<strong>do</strong>s (a partir <strong>do</strong> grupo) no Projeto <strong>de</strong> OrientaçãoVocacional e Profissional (OVP) <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise daUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, uma a<strong>do</strong>lescente <strong>de</strong> 17 anos encaminhada parapsicoterapia individual, referia o sofrimento por não conseguir esquecer umrelacionamento que tivera com um a<strong>do</strong>lescente com comportamentos bissexuais. Aindaquan<strong>do</strong> estava no setting grupal, foi interessante observar o incentivo <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o grupo <strong>de</strong>a<strong>do</strong>lescentes amigos <strong>de</strong>la para que ela não “<strong>de</strong>sistisse daquele amor”, numa crença <strong>de</strong>que foram “feitos um para o outro”. O que revela conteú<strong>do</strong>s edípicos importantes emecanismos <strong>de</strong>fensivos por parte da a<strong>do</strong>lescente diante <strong>do</strong>s lutos próprios da fase, bemcomo <strong>do</strong>s seus pares.Nos seu tratamento, esta jovem T., 17 anos, afirma ter uma relação fria e distantecom o pai, e relata que ele “sempre foi assim”. Conta que a mãe disse certo dia, se sentir“viúva <strong>de</strong> mari<strong>do</strong> vivo”, o que ela confirma, pela observação da relação <strong>do</strong>s pais. A<strong>de</strong>manda trazida por ela é a <strong>de</strong> que não consegue esquecer aquele ex-namora<strong>do</strong>, o qualjá não se interessa mais por ela, não buscan<strong>do</strong> manter contato ou valorizan<strong>do</strong> suasaproximações. Ela insiste na relação, crian<strong>do</strong> estratégias para vê-lo, relatan<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>s<strong>de</strong> sonhos com ele, e recusan<strong>do</strong> se relacionar com outros jovens interessa<strong>do</strong>s nela.Quan<strong>do</strong> ainda num <strong>do</strong>s encontros <strong>do</strong> grupo, foi pedi<strong>do</strong> aos a<strong>do</strong>lescentes queconfeccionassem por meio <strong>de</strong> colagens <strong>de</strong> figuras <strong>de</strong> revistas três cartazes: um sobre opassa<strong>do</strong>, outro sobre o presente e outro sobre o futuro. Esta jovem, no cartaz sobre opassa<strong>do</strong>, não adicionou nenhuma figura representativa <strong>de</strong> afeto familiar infantil, massim apenas uma imagem <strong>de</strong> duas mãos unidas, uma masculina e outra feminina. Foiexplica<strong>do</strong> que o passa<strong>do</strong> estaria relaciona<strong>do</strong> com a infância. Na apresentação <strong>de</strong> seucartaz, esta jovem contou que aquela imagem era representativa <strong>de</strong> uma relação“perdida” que ela havia vivi<strong>do</strong>, mas da qual não havia <strong>de</strong>sisti<strong>do</strong>.Mais recentemente, numa das sessões <strong>de</strong> psicoterapia, ela relacionou(in)conscientemente a personalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> pai, frio e distante, com a <strong>do</strong> ex-namora<strong>do</strong>,dizen<strong>do</strong>: “Ele também é bem distante.” Num momento posterior, afirmou que “quan<strong>do</strong>Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>89


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseestá perto <strong>de</strong>le, não tem olhos para mais ninguém, é como se as outras pessoas<strong>de</strong>saparecessem” tal qual o retrata<strong>do</strong> em seu cartaz sobre o passa<strong>do</strong>, vazio <strong>de</strong> outrasrepresentações afetivas humanas, a não serem as duas “mãos”.Aqui se po<strong>de</strong> constatar que a a<strong>do</strong>lescente está fazen<strong>do</strong> um movimento <strong>de</strong> escolha<strong>de</strong>fensiva diante da “perda <strong>do</strong> pai”, recusan<strong>do</strong>-se a abrir mão daquele que se enquadrounos clichês estereotípicos recebi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s pais na infância e frente à própria sexualida<strong>de</strong>.A figura paterna, fria e distante, “ditou” a escolha <strong>de</strong> alguém que a ele se assemelhasse,bem como a figura materna, “viúva <strong>de</strong> mari<strong>do</strong> vivo” também serve <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>loi<strong>de</strong>ntificatório para a a<strong>do</strong>lescente, que optou inconscientemente por permanecer viúva<strong>de</strong> um ex-namora<strong>do</strong> existente, mas não mais aberto para a relação com ela.Subjaz aqui na realida<strong>de</strong> um resquício <strong>de</strong> teorias infantis bissexuais, on<strong>de</strong> o<strong>de</strong>sistir <strong>do</strong> amor bissexual seria lidar com a perda objetal edípica, per<strong>de</strong>r uma espécie <strong>de</strong>suporte simbólico para a <strong>de</strong>sistência da própria bissexualida<strong>de</strong>, ou seja, <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>rmais ter tanto o amor <strong>do</strong> pai quanto o da mãe. Ir ao encontro <strong>do</strong> seu próprio amorgenital e enfrentar os revezes <strong>de</strong> tal feito.Faz-se necessário ressaltar que tratar das questões transicionais <strong>do</strong> “luto pelabissexualida<strong>de</strong>”, a partir da própria temporalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sujeito, <strong>de</strong>ntro da temporalida<strong>de</strong>transicional <strong>do</strong> grupo <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes em processo <strong>de</strong> escolha profissional, é po<strong>de</strong>rconfirmar neste processo que os a<strong>do</strong>lescentes po<strong>de</strong>m experienciar todas ascaracterísticas e nuances daquelas <strong>de</strong>nominadas como da “Síndrome Normal daA<strong>do</strong>lescência”.E que o mesmo torna-se o mote da questão nesta ida<strong>de</strong>, como via <strong>de</strong>aproximação ao real. Ainda que o “paradigma” <strong>do</strong> ir e vir a<strong>do</strong>lescencial coexista comto<strong>do</strong>s os lutos <strong>de</strong>sta fase da existência, são perpassa<strong>do</strong>s pela flui<strong>de</strong>z da dinâmicaedípica, e não <strong>de</strong> uma rígida estrutura edípica. Assim, o grupo constitui e se constróicomo o Espaço Temporal Transicional (conceito novo que tem si<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>incluin<strong>do</strong> a questão <strong>do</strong> tempo (ou da temporalida<strong>de</strong>) no espaço transicional), para umanecessária transição ao mun<strong>do</strong> externo, para o alcance <strong>de</strong> um “suposto e autêntico Selfadulto” (ALMEIDA e AMARO, prelo).ReferênciasABERASTURY, A. e cols. A<strong>do</strong>lescência. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>90


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseABERASTURY, A., KNOBEL, M. A<strong>do</strong>lescência normal: um enfoque psicanalítico.Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.ABREU, R. E. S. Influência da Família, da Escola e da Escolha profissional naDeterminação <strong>do</strong> Perfil Psicossocial <strong>do</strong>s A<strong>do</strong>lescentes. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> emEducação). <strong>Londrina</strong>: Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, 1999.ALMEIDA, R. E. S. Os Caminhos da Depressão e sua Cartografia na A<strong>do</strong>lescência eInício da Adultez. Tese (Doutora<strong>do</strong> em <strong>Psicologia</strong>). Campinas: PUCCAMP, 2006.ALMEIDA, R. E. S.; AMARO, M. C. P. O grupo como espaço transicional para jovensfrente à questão da escolha vocacional e profissional. (Capítulo <strong>de</strong> livro) No prelo.ARIAS, J. A. Concepções <strong>de</strong> Temporalida<strong>de</strong> e Suicídio na A<strong>do</strong>lescência. In:OUTEIRAL, J. (org.). Clínica psicanalítica <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Revinter, 1998.AYRES, M. P. O Grupo Como Espaço Transicional no Processo a<strong>do</strong>lescente -Abordagem a partir <strong>de</strong> Um Caso Clínico. In: OUTEIRAL, J. O. (Org.) ClínicaPsicanalítica <strong>de</strong> Crianças e A<strong>do</strong>lescentes. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Revinter, 1998.DIAS, E. O. A Teoria <strong>do</strong> Amadurecimento <strong>de</strong> D.W.<strong>Winnicott</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago,2003.GROLNICK, S. A. <strong>Winnicott</strong> - o trabalho e o brinque<strong>do</strong>: uma leitura introdutória. PortoAlegre: Artes Médicas, 1993.OUTEIRAL, J. O. A<strong>do</strong>lescer: estu<strong>do</strong>s sobre a a<strong>do</strong>lescência. Porto Alegre: ArtesMédicas, 1997.OUTEIRAL, J. L. e GRAÑA; R. Donald W. <strong>Winnicott</strong>: Estu<strong>do</strong>s. Porto Alegre, ArtesMédicas, 1991.OUTEIRAL, J. O. e HISADA, S. e GABRIADES, R. <strong>Winnicott</strong> - Seminários Paulistas.São Paulo: Casa <strong>do</strong> Psicólogo, 2001.RUBINSTEIN, G. H. Reflexões acerca da Prática Psicanalítica com PacientesA<strong>do</strong>lescentes. In: Outeiral, J. Clínica Psicanalítica <strong>de</strong> Crianças e A<strong>do</strong>lescentes. Rio <strong>de</strong>Janeiro: Revinter, 2005.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>91


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseAgressivida<strong>de</strong> infantil, ambientes (in) suficientemente bons e as práticas clínicas nacontemporaneida<strong>de</strong>Irene Kill Dias 35Ana Vitória Salimon C. <strong>do</strong>s Santos 36ResumoO presente trabalho analisa as estratégias clínicas utilizadas para o atendimento <strong>de</strong> umacriança, <strong>de</strong> 9 anos, <strong>do</strong> sexo masculino, com queixa <strong>de</strong> agressivida<strong>de</strong>, comcomportamento <strong>de</strong> risco para os colegas e para si mesma, encaminhada pelo ConselhoTutelar, para uma Clínica-Escola <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>. O referencial utiliza<strong>do</strong> foi psicanalíticowinnicottiano, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se a teoria <strong>do</strong> amadurecimento humano, as raízes da agressãoe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> provisão ambiental. Nos atendimentos constatou-se que o meiofamiliar no qual está inseri<strong>do</strong> não se caracteriza como um ambiente suficientementebom, o qual se esten<strong>de</strong> a seu meio social mais amplo, apresentan<strong>do</strong> dificulda<strong>de</strong>s paraauxiliá-lo na organização <strong>de</strong> seus impulsos e <strong>de</strong>senvolvimento criativo. Conclui-se pelainsuficiência das técnicas tradicionais, pela importância <strong>de</strong> setting terapêuticodiferencia<strong>do</strong>, conforme proposição winnicottiana.Palavras-chave: Agressivida<strong>de</strong>, Psicoterapia Infantil, <strong>Winnicott</strong>35 Aluna <strong>do</strong> 10º termo <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> das Faculda<strong>de</strong>s Adamantinenses Integradas - FAI,Adamantina/SP, estagiária curricular <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> Clínica no Núcleo <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> da FAI-SP.36 Doutoranda em Ciências da Saú<strong>de</strong> na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> São José <strong>do</strong> Rio Preto - FAMERP-SP,Mestre em <strong>Psicologia</strong> pela Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista - UNESP/Assis-SP, Psicóloga pelaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - UEL- Pr. Professora, supervisora <strong>de</strong> estágio e Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>Núcleo <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> das Faculda<strong>de</strong>s Adamantinenses Integradas – FAI - Adamantina/SP, Especialistaem <strong>Psicologia</strong> Clínica e <strong>Psicologia</strong> Jurídica pelo Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> – CFP.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>92


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseAgressivida<strong>de</strong> infantil no ambiente escolarTamires GazolaAndréa Fernan<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Araújo GasquesResumoAo abordar a Agressivida<strong>de</strong> Infantil procurou-se aprofundar os conhecimentos, com aintenção <strong>de</strong> analisar as concepções quanto a manifestações consi<strong>de</strong>radas agressivas,bem como as estratégias a<strong>do</strong>tadas para manejar os conflitos. Realizou-se uma pesquisaqualitativa, com entrevistas individuais semi-dirigidas com professores <strong>de</strong> ensinofundamental. Partin<strong>do</strong> das teorias psicanalíticas, a agressivida<strong>de</strong> infantil po<strong>de</strong> sermanifestada em diversas fases <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da criança e <strong>de</strong> vários mo<strong>do</strong>s. Sen<strong>do</strong>assim, tais manifestações po<strong>de</strong>m ocorrer <strong>de</strong> forma psicopatológica ou sen<strong>do</strong> parteconstitutiva <strong>do</strong> indivíduo. A análise parcial <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s aponta que as atitu<strong>de</strong>s maiscitadas como agressivas envolvem rebeldia, agressão física e verbal. Em relação àsestratégias <strong>de</strong> manejo, pre<strong>do</strong>minam os encaminhamentos para a Direção e o diálogo. Asinformações apresentadas são ilustrativas <strong>de</strong> uma amostra, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ainda ser ampliadaspara então ser realizada uma análise mais complexa.Palavras-chave: Agressivida<strong>de</strong> Infantil, Relação Professor-Aluno, Violência EscolarUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>93


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseAs implicações <strong>de</strong> um ambiente que po<strong>de</strong> não ter si<strong>do</strong> suficientemente bomThe implications of an ambient that may not have been good sufficientlyCinthia Cavalcante 37Carla Maria Lima Braga 38ResumoTen<strong>do</strong> como base a Teoria <strong>do</strong> Amadurecimento Pessoal <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>, o presentetrabalho preten<strong>de</strong> apresentar um caso clínico que está em atendimento. É levada emconta a questão da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um ambiente suficientemente bom que propicie umsatisfatório <strong>de</strong>senvolvimento ao indivíduo, estan<strong>do</strong> este ainda na fase da infância ou naa<strong>do</strong>lescência. Não ten<strong>do</strong> cresci<strong>do</strong> num ambiente suficientemente bom, como porexemplo, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> priva<strong>do</strong> <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s vin<strong>do</strong>s da mãe, ou <strong>de</strong> alguém que fizesse essepapel, o indivíduo po<strong>de</strong> vir a sofrer dificulda<strong>de</strong>s na a<strong>do</strong>lescência e vida adulta, inclusiveapresentar tendências antissociais, entre outros fatores. Assim, nessa trajetória <strong>do</strong> vir aser <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, ele precisa da imaturida<strong>de</strong>, que é inerente e não po<strong>de</strong> ser separada<strong>de</strong>ssa fase e também necessita <strong>de</strong> suporte advin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>res, dadas as diversastransformações que perpassam esta fase, necessitan<strong>do</strong> então ser ampara<strong>do</strong> por umambiente facilita<strong>do</strong>r.Palavras-chave: <strong>Winnicott</strong>, A<strong>do</strong>lescente, Ambiente facilita<strong>do</strong>r, Tendência antissocial.AbstractBased on the <strong>Winnicott</strong>´s Theory of the Maturation Personnel, this paper intends topresent case that is in attendance. It is taken into account the question of the need for anambient good sufficiently that provi<strong>de</strong>s a satisfactory <strong>de</strong>velopment to the individual stillin its infancy or a<strong>do</strong>lescence. Not having grown up in an ambient good sufficiently, forexample, having been <strong>de</strong>prived from of care coming from the mother, or someone whodid this role, the individual might suffer difficulties in a<strong>do</strong>lescence and adult life,including antisocial ten<strong>de</strong>ncies, among other factors. So, this path of coming to be of the37 Aluna <strong>do</strong> quarto ano <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, participante <strong>do</strong>s projetos “Aclínica <strong>Winnicott</strong>iana: um estu<strong>do</strong> sobre a teoria <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento pessoal e o manejo clínico” e“Assistência neuropsicológica para crianças com transtornos <strong>de</strong> aprendizagem” e estagiária no CAPS <strong>II</strong>I<strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.38Docente <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise da Uel. Mestre em Educação, Doutora em<strong>Psicologia</strong> PUC – Campinas. Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Pesquisa “A clínica <strong>Winnicott</strong>iana: um estu<strong>do</strong>sobre a teoria <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento pessoal e o manejo clínico”.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>94


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisea<strong>do</strong>lescent, he needs immaturity, which is inherent and can´t be separated this phase andneed support of the caregiver because of many transformations that permeate this phaseand need therefore be backed by a facilitating ambient.Keywords: <strong>Winnicott</strong>, A<strong>do</strong>lescent, Facilitating Ambient, Antisocial ten<strong>de</strong>ncy.Ten<strong>do</strong> como base a Teoria <strong>do</strong> Amadurecimento Pessoal proposta por Donald W.<strong>Winnicott</strong>, autor cujas i<strong>de</strong>ias perpassam to<strong>do</strong> o presente trabalho, acredita-se que oambiente no qual o indivíduo está inseri<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fase da infância, exerce gran<strong>de</strong>influência sobre o seu <strong>de</strong>senvolvimento. Então, é necessário que esse ambiente sejafacilita<strong>do</strong>r e dê suporte à criança. Para <strong>Winnicott</strong> (1975), um ambiente suficientementebom constitui um sine qua non no início <strong>do</strong> crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>sindivíduos. Assim, o potencial herda<strong>do</strong> que a criança possui para crescer e alcançar amaturida<strong>de</strong> ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> um crescimento emocional, só po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneiraeficiente e satisfatória se forem dadas a este indivíduo as condições necessárias, ou seja,que lhe seja ofertada a provisão <strong>de</strong> um ambiente que seja suficientemente bom. Esseambiente, no caso, é principalmente a mãe, ou quem possa fazer seu papel. Portanto, acriança precisa ter uma mãe que ao mesmo tempo em que frustra, acolhe. Um ambienteprecisa dar a oportunida<strong>de</strong> para a criança crescer, e algumas frustrações acabam sen<strong>do</strong>necessárias, pois a imperfeição faz parte <strong>do</strong> ambiente mesmo que seja atento efacilita<strong>do</strong>r.O presente trabalho tem como referencia o atendimento clínico <strong>de</strong> um pacientea<strong>do</strong>lescente atendi<strong>do</strong> na Clínica Escola da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.O caso clínico que falaremos é o <strong>de</strong> Marcos (nome fictício), um a<strong>do</strong>lescente <strong>de</strong>16 anos. No início da sua vida, Marcos aparentemente teve os cuida<strong>do</strong>s maternos, poismorou com a mãe até a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 11 anos. Quan<strong>do</strong> ele contava com 5 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, ospais se separaram, porém ele continuou a morar com a mãe, apesar <strong>de</strong> passar algunsperío<strong>do</strong>s com o pai, o que com o passar <strong>do</strong>s anos se tornou mais frequente, como porexemplo, permanecer por uma semana com a mãe e por uma semana com o pai, masainda com a sua guarda no nome da mãe. Com então 11 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, acompanhou opai em uma viagem para a Europa (mestra<strong>do</strong> <strong>do</strong> pai), e <strong>de</strong>pois da viagem se <strong>de</strong>cidiu pormorar com o pai, o que a mãe aceitou <strong>de</strong> forma tranquila. Hoje, com 16 anos, estápassan<strong>do</strong> por um processo <strong>de</strong> mudança da sua guarda para o nome <strong>do</strong> pai. Marcosafirma esse <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ter o pai como seu único cuida<strong>do</strong>r (em termos legais), dizen<strong>do</strong> queUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>95


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseé o pai a pessoa que sempre lhe <strong>de</strong>u mais atenção, ou seja, quem sempre dispensoucuida<strong>do</strong> para com ele.É um a<strong>do</strong>lescente que mostra muita mágoa com relação à mãe, afirman<strong>do</strong> queela negligencia carinho e cuida<strong>do</strong>s para com ele, dizen<strong>do</strong> que ela nunca se preocupoucom ele, nunca lhe <strong>de</strong>dicou atenção, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> ele era ainda criança. Essa fala <strong>de</strong>lese referin<strong>do</strong> à negligência da mãe quan<strong>do</strong> pequeno mostra ser muito parecida com odiscurso <strong>do</strong> pai, pois esse pai é quem afirma que a mãe foi negligente em relação ao seufilho (Marcos). Assim, percebe-se a semelhança entre os discursos, ou seja, a fala cheia<strong>de</strong> mágoa que Marcos traz na sessão <strong>de</strong> terapia po<strong>de</strong> estar também influenciada peloque o pai sempre disse e que continua dizen<strong>do</strong>. Então, por gostar tanto <strong>do</strong> pai, por tê-loinclusive como mo<strong>de</strong>lo e referência, acaba por emprestar <strong>de</strong>ste o seu discurso.Po<strong>de</strong>-se pensar em relação ao caso <strong>de</strong> Marcos, que ele conseguiu passar <strong>de</strong>forma um tanto tranquila a fase em que era ainda um bebê, até mesmo porque ele nãoparece ser alguém que seria i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> como um psicótico, que é o queprovavelmente teria aconteci<strong>do</strong> caso a mãe não tivesse dispensa<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> para comele nessa fase. Inclusive, ele aparenta ter uma estrutura da neurose, até mesmomostran<strong>do</strong> várias características <strong>de</strong> um neurótico obsessivo, dadas as diversashesitações antes das ações, ou seja, um árduo conflito entre fazer o certo e o erra<strong>do</strong>, aponto <strong>de</strong> sair prejudica<strong>do</strong>. Tem muito me<strong>do</strong> <strong>de</strong> cometer um ato erra<strong>do</strong>, e quan<strong>do</strong>comete algum erro, algo que para ele não está certo, sente muita culpa, o que o <strong>de</strong>ixa<strong>de</strong>pressivo, crian<strong>do</strong> a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que ninguém o merece, que não faz senti<strong>do</strong> existir, poisnão acrescenta nada <strong>de</strong> bom para a vida das pessoas que o cercam.Quan<strong>do</strong> ele <strong>de</strong>monstra e fala sobre esses sentimentos <strong>de</strong> que ninguém merecealguém tão ruim quanto ele, Marcos mostra (verbaliza) estar se i<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong> com amãe, pois para ele, é ela quem comete erros sempre, e que as pessoas não recebem nada<strong>de</strong> bom vin<strong>do</strong> <strong>de</strong>la. Sempre que fala da mãe, inclusive, mostra o quanto é gran<strong>de</strong> suamágoa, não conseguin<strong>do</strong> mais enxergar algo bom na mãe, e diz não conseguir maisconfiar nela, mesmo quan<strong>do</strong> ela tenta se aproximar <strong>de</strong>le, pois sente que a qualquermomento ela po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixá-lo <strong>de</strong> la<strong>do</strong>, se esquecer <strong>de</strong>le.Com esses pensamentos, ele evi<strong>de</strong>ncia o sofrimento como consequência <strong>de</strong> nãoter recebi<strong>do</strong> o holding necessário, mostran<strong>do</strong>, com o me<strong>do</strong> <strong>de</strong> que ela se esqueça <strong>de</strong>le,que isso já aconteceu na infância, ou seja, que já houve momentos em que ela o <strong>de</strong>ixou<strong>de</strong> la<strong>do</strong>. Assim, é notório o quanto esse fato lhe <strong>de</strong>ixou marcas, influencian<strong>do</strong> seu mo<strong>do</strong><strong>de</strong> pensar e sentir no presente.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>96


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseA última vez que disse ter fica<strong>do</strong> muito magoa<strong>do</strong> com a mãe foi quan<strong>do</strong> ele dissea ela que iria morar com o pai, e então ela aceitou tranquilamente, o que o <strong>de</strong>ixouextremamente triste, sentin<strong>do</strong> isso como uma rejeição (esse fato aconteceu háaproximadamente um ano). Uma rejeição que, mesmo antes não sen<strong>do</strong> através <strong>de</strong>palavras, sempre sentiu. E, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>, no que diz respeito aoambiente facilita<strong>do</strong>r anteriormente comenta<strong>do</strong>, a mãe tem papel fundamental no senti<strong>do</strong><strong>de</strong> ser suficientemente boa, dan<strong>do</strong> o suporte a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> à criança, não somente quan<strong>do</strong>bebê, mas também durante toda a fase da infância e, posteriormente, na a<strong>do</strong>lescência.Porém, na infância a <strong>de</strong>pendência que a criança tem da presença da mãe é muito gran<strong>de</strong>e, diga-se <strong>de</strong> passagem, muito visível. Como <strong>Winnicott</strong> (1975) afirma, o bebê precisaver-se nos olhos da mãe. E a criança, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alguns anos, ainda precisa <strong>de</strong>ssa<strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> afeto, <strong>de</strong> preocupação, <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>, ou seja, <strong>de</strong>ssa função <strong>de</strong>maternagem, o holding que esse indivíduo precisa receber. Assim, po<strong>de</strong>m-se percebernesse a<strong>do</strong>lescente, as marcas que uma falta <strong>de</strong> atenção dispensada pela mãe <strong>de</strong>ixou.Po<strong>de</strong>-se dizer, portanto, que se o indivíduo não teve, na infância, um ambienteque lhe <strong>de</strong>sse um suporte eficaz, conten<strong>do</strong> suas angústias, que o acolhesse, lheproporcionan<strong>do</strong> o cuida<strong>do</strong> necessário, ou seja, um ambiente facilita<strong>do</strong>r, seu<strong>de</strong>senvolvimento enquanto indivíduo saudável po<strong>de</strong> ficar então comprometi<strong>do</strong>. Issoporque, como já anteriormente afirma<strong>do</strong>, um ambiente suficientemente bom é acondição necessária para que esse <strong>de</strong>senvolvimento emocional ocorra <strong>de</strong> formaa<strong>de</strong>quada e satisfatória.Marcos mostra <strong>de</strong> várias maneiras a necessida<strong>de</strong> que sente <strong>de</strong> ter ti<strong>do</strong> esseambiente que lhe amparasse quan<strong>do</strong> criança, ou seja, <strong>de</strong> ter uma mãe que fossesuficientemente boa. Além <strong>do</strong> sofrimento visível <strong>de</strong>sse indivíduo, algumas <strong>de</strong> suasações mostram o quanto ele gostaria <strong>de</strong> “algo da mãe” por perto. Um episódio conta<strong>do</strong>por ele explica a situação: há alguns anos, Marcos “roubou” dinheiro da mãe, umaquantia <strong>de</strong> R$200,00. Questiona<strong>do</strong> na terapia sobre se ele precisava <strong>do</strong> dinheiro,afirmou que não, e que não gastou o dinheiro, algo que inclusive foi <strong>de</strong>volvi<strong>do</strong> à mãepor ele, quan<strong>do</strong> o pai <strong>de</strong>scobriu o fato. Esse acontecimento mostra, claramente, que elequeria algo da mãe. Algo que, na fala <strong>de</strong>le, é explícito: o cuida<strong>do</strong> que ele não recebeu <strong>de</strong>forma a<strong>de</strong>quada, a preocupação que ele acha que merecia. Portanto, como são coisasmais difíceis <strong>de</strong> “pegar da mãe”, ou até mesmo por ser algo difícil <strong>de</strong> pedir a ela agora,já na a<strong>do</strong>lescência, o a<strong>do</strong>lescente achou outra via, e acabou por agir através <strong>de</strong> um atosimbólico, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> que queria algo que ela não lhe <strong>de</strong>u. Queria,Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>97


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseinconscientemente, através <strong>de</strong>sse comportamento, mostrar que estava reivindican<strong>do</strong> umpagamento da dívida <strong>de</strong>la para com ele (WINNICOTT, 1997). O ato simbólico ficaevi<strong>de</strong>nte principalmente por ele não ter ti<strong>do</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> gastar o dinheiro, somente <strong>de</strong>“pegar”, ou, em outros termos, trazer para perto <strong>de</strong> si.Como se po<strong>de</strong> perceber, o ato <strong>de</strong> Marcos foi algo que é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> antissocial.Além <strong>de</strong>sse episódio <strong>do</strong> “roubo” da mãe, o a<strong>do</strong>lescente ultimamente está dizen<strong>do</strong> muitasmentiras, a várias pessoas. Toda vez que ele não consegue sair <strong>de</strong> uma situação, algoque para ele é ou po<strong>de</strong> se tornar aversivo, ele “escapa” com uma mentira. Seja parasimplesmente agradar a pessoa com quem conversa, seja para se livrar <strong>de</strong> uma bronca.Estes atos, por pequenos que possam ser, também po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>scomportamentos antissociais, ou seja, no mínimo não é a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para as relações queele estabelece.Como afirma <strong>Winnicott</strong>,a tendência antissocial está inerentemente ligada à privação [...] po<strong>de</strong>-sedizer que as coisas iam bem, mas, <strong>de</strong> repente, começaram a não ir tãobem assim. Ocorre uma modificação que altera a vida inteira da criança,e essa modificação ambiental acontece quan<strong>do</strong> a criança já tem ida<strong>de</strong>suficiente para enten<strong>de</strong>r as coisas. (WINNICOTT, 1989, p. 82)Po<strong>de</strong>-se dizer, a respeito <strong>de</strong>ssas palavras <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>, que os da<strong>do</strong>s da história<strong>de</strong> Marcos mostram que ele viveu com pai e mãe até a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 5 anos,aproximadamente, ida<strong>de</strong> que, pensan<strong>do</strong> nas palavras <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>, ele já começava aenten<strong>de</strong>r as coisas. A partir <strong>de</strong>ssa ida<strong>de</strong>, ocorreu <strong>de</strong> o pai ter i<strong>do</strong> embora <strong>de</strong> casa, e entãoele passou a ficar, como já foi explicita<strong>do</strong>, ora com a mãe, ora com o pai. A partir <strong>de</strong>ssafase é que ele conta, hoje, que não tinha muito mais os cuida<strong>do</strong>s da mãe, nem mesmosua atenção. Conta que a mãe saía com as amigas e o <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> la<strong>do</strong>, ou que mesmoquan<strong>do</strong> estava em casa, não parecia ter tempo para ele, sempre encontran<strong>do</strong> outrasativida<strong>de</strong>s, como usar o computa<strong>do</strong>r, entre outras ocupações. Esse ambiente, que paraele era um tanto fragmenta<strong>do</strong>, acabava por nem sempre ser suficientemente bom, sen<strong>do</strong>então essa criança às vezes privada <strong>de</strong> atenção, carinho e cuida<strong>do</strong>s, provavelmente (<strong>de</strong>acor<strong>do</strong> com os da<strong>do</strong>s referentes à sua história). Assim, po<strong>de</strong>-se repetir o que <strong>Winnicott</strong>afirmou: “po<strong>de</strong>-se dizer que as coisas iam bem, mas, <strong>de</strong> repente, começaram a não irtão bem assim” e argumentar que, a partir <strong>de</strong> então, o ambiente não lhe dava mais osuporte tão necessário para seu <strong>de</strong>senvolvimento emocional.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>98


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseEntão, nesse caso, se aplica totalmente o que o autor afirmou: “A tendênciaantissocial não se relaciona com uma carência, mas sim com uma privação”.(WINNICOTT, 1989, p. 83) Essa privação, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com <strong>Winnicott</strong>, po<strong>de</strong> ser o caso<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>pressão vivida pela mãe, ou sua ausência, ocorren<strong>do</strong> num momento crítico ou<strong>de</strong> dissolução da família. No caso em questão, po<strong>de</strong>-se dizer que é uma ausência damãe, mesmo que não seja total. Porém, qualquer ausência da mãe é percebida pelo filho,e po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar nele marcas, como já comenta<strong>do</strong>. Como afirma <strong>Winnicott</strong>:Mesmo uma privação menos violenta, ocorren<strong>do</strong> num momento <strong>de</strong>dificulda<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong> acarretar resulta<strong>do</strong>s persistentes, sobrecarregan<strong>do</strong>as <strong>de</strong>fesas disponíveis. Por trás <strong>de</strong> uma tendência antissocial hásempre uma fase <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> seguida <strong>de</strong> uma ruptura, após a qual ascoisas nunca mais foram as mesmas. (WINNICOTT, 1997, p. 125)E, no caso <strong>de</strong> Marcos, também houve essa dissolução da família, com aseparação <strong>do</strong>s pais. Ou seja, uma ruptura que já seria por si só algo que traria algumaconsequência para a criança, mas que além <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, ainda foi seguida <strong>de</strong> constantesausências da mãe, que <strong>de</strong>ixava o filho com sua mãe (avó materna <strong>de</strong> Marcos) para sair,ou não lhe dava atenção quan<strong>do</strong> estava em casa, momentos em que teria a oportunida<strong>de</strong><strong>de</strong> lhe dar carinho, cuida<strong>do</strong>, sustentação, enfim, holding.De acor<strong>do</strong> com <strong>Winnicott</strong> (1997), várias dificulda<strong>de</strong>s passadas pelosa<strong>do</strong>lescentes, casos que requerem o auxílio e intervenção <strong>de</strong> um profissional, sãoprodutos <strong>de</strong> condições ambientais ina<strong>de</strong>quadas, ou seja, é a reação <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescenteperante a falha <strong>do</strong> ambiente. Então, po<strong>de</strong>-se dizer, segun<strong>do</strong> este autor, que o ambienteque cerca o a<strong>do</strong>lescente é um fator <strong>de</strong> suma importância.Em vários casos, se ouve o discurso <strong>de</strong> pais sobre o quanto esse processo (oa<strong>do</strong>lescer <strong>do</strong>s filhos) lhes causa muitas “<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cabeça”, porém, esses pais <strong>de</strong>vemestar atentos para o fato <strong>de</strong> que são em gran<strong>de</strong> parte responsáveis por auxiliar estea<strong>do</strong>lescente a chegar à maturida<strong>de</strong> da fase adulta. Assim, acredita-se no quão importanteé o suporte parental ofereci<strong>do</strong> pelos cuida<strong>do</strong>res, nessa fase <strong>de</strong> várias transformações navida <strong>de</strong>sse indivíduo, que está num contínuo processo <strong>de</strong> vir a ser.Po<strong>de</strong>-se então pensar o processo analítico. Marcos precisa ou precisou <strong>de</strong> umambiente holding, para que pu<strong>de</strong>sse expressar todas estas dificulda<strong>de</strong>s com os pais. Deum la<strong>do</strong> uma pressão paterna para que seja aquilo que Marcos não é. E outra pressãopor parte materna <strong>de</strong> ser livre ao ponto <strong>de</strong> não contribuir ou não conseguir sustentarUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>99


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisepsiquicamente o filho a<strong>do</strong>lescente. O espaço terapêutico permitiu que ele visse que nãoprecisa ser o correto e buscou mudanças em sua vida.Mesmo sen<strong>do</strong> um a<strong>do</strong>lescente, ele mostrou-se alguém com dificulda<strong>de</strong>s para sedivertir, para ser às vezes imaturo, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a toda a culpa que sentia. Alguém sério, quenão se dava a oportunida<strong>de</strong> <strong>do</strong> brincar, algo tão necessário, como já dizia <strong>Winnicott</strong>. Aimaturida<strong>de</strong>, então, não po<strong>de</strong> estar separada da fase pela qual ele está passan<strong>do</strong>, porém,Marcos era alguém que não se permitia ser imaturo, ten<strong>do</strong> assim um sofrimento comoconsequência <strong>de</strong>ssa rigi<strong>de</strong>z consigo mesmo.Refletin<strong>do</strong> em terapia, então, sobre a maneira como ele se comporta eprincipalmente analisan<strong>do</strong> a culpa que sentia pelo que faz ou <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> fazer, Marcospassou a perceber o quanto ele se preocupava com tu<strong>do</strong> o que fazia, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer,muitas vezes, coisas das quais gostava, que sentia prazer, simplesmente pelo me<strong>do</strong> <strong>de</strong>aquilo ser erra<strong>do</strong>, por estar <strong>de</strong>sagradan<strong>do</strong> alguém. Ele sempre sentiu que precisava fazero que era manda<strong>do</strong> que ele fizesse, e quan<strong>do</strong> não obe<strong>de</strong>cia a uma “or<strong>de</strong>m” <strong>de</strong>sse tipo,sentia-se totalmente culpa<strong>do</strong> e <strong>de</strong>primi<strong>do</strong>, como já foi afirma<strong>do</strong> no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> texto <strong>do</strong>presente trabalho.A partir <strong>de</strong> então, passou a experienciar momentos novos, se sentir mais livre,mesmo o pai não lhe conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> essa liberda<strong>de</strong>, ou seja, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong> que opai achava que ele <strong>de</strong>veria ser, ele começou a atuar no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> satisfazer suasvonta<strong>de</strong>s mesmo sem a aprovação e consentimento <strong>do</strong> pai, pois essas ações faziam parte<strong>de</strong> quem ele era, e não <strong>de</strong> quem o pai queria que ele fosse.Nesse ambiente que lhe é ofereci<strong>do</strong> agora, ou seja, no ambiente terapêutico, eletem liberda<strong>de</strong> para ser ele mesmo, sem passar por julgamentos <strong>de</strong> valor, aos quais eleestá familiariza<strong>do</strong> por causa <strong>de</strong> seu pai. Nesse espaço que é <strong>de</strong>le, Marcos percebe quenão precisa <strong>de</strong> uma máscara para escon<strong>de</strong>r suas vonta<strong>de</strong>s e frustrações, pois lhe foioferta<strong>do</strong> um ambiente no qual não existe certo ou erra<strong>do</strong>, um lugar que lhe auxilia aorganizar seus pensamentos sem lhe julgar. Esse ambiente preza exatamente que eleexpresse o que sente e pensa, sem precisar se preocupar, ou seja, sem ter me<strong>do</strong> <strong>do</strong> que ooutro em sua frente possa pensar sobre o que ele relata, sem tantos me<strong>do</strong>s e culpas, queeram algo que lhe traziam tanto sofrimento.Esse espaço da terapia tenta suprir, então, o que ele po<strong>de</strong> não ter ti<strong>do</strong> na infância,e que ainda necessita: um ambiente suficientemente bom e facilita<strong>do</strong>r. Então essarelação terapêutica que foi estabelecida <strong>de</strong>sempenha uma função <strong>de</strong> holding, para queesse indivíduo possa continuar a se <strong>de</strong>senvolver, porém <strong>de</strong> forma mais tranquila, vistoUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>100


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseque ele ainda está numa fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, passan<strong>do</strong> por essa zona <strong>de</strong> transição(a a<strong>do</strong>lescência). Assim, o ambiente da terapia se torna um ambiente que lhe serve <strong>de</strong>amparo quan<strong>do</strong> precisa e que proporciona a este a<strong>do</strong>lescente a sustentação necessária,nesse complexo caminho cheio <strong>de</strong> mudanças que ele precisa percorrer até chegar aoamadurecimento da vida adulta.Referências Bibliográficas:WINNICOTT, D. W. A família e o <strong>de</strong>senvolvimento individual. São Paulo: MartinsFontes, 1997.WINNICOTT, D. W. O brincar & a realida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1975.WINNICOTT, D. W. Tu<strong>do</strong> começa em casa. São Paulo: Martins Fontes, 1989.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>101


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseClínica da transicionalida<strong>de</strong> e a tendência anti-social: uma análise <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescenteem conflito com a leiTransitionality clinic and anti-social trends: an analysis of teen in conflict with thelawJosiane Santos Costa Martins 39Karina Anshau 40Lincoln Silva Borges 41Marco Antonio <strong>do</strong> Carmo 42Mérylin Janazze Garcia 43Natalia Zanuto <strong>de</strong> Oliviera 44Orienta<strong>do</strong>rasProfª Ms Silvia <strong>do</strong> Carmo Pattarelli 45Profª Ms Patricia Martins Castelo Branco 46ResumoEste estu<strong>do</strong> tem como características principais relatar a teoria sobre a Clínica daTransiocionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> D. W <strong>Winnicott</strong>. Citan<strong>do</strong> suas contribuições no que se refere aconstrução subjetiva da criança, e quais as consequências das falhas ambientaiscometidas pela mãe. Estas falhas afetam o <strong>de</strong>senvolvimento da criança e po<strong>de</strong>m chegarao que <strong>Winnicott</strong> nomeia <strong>de</strong> Tendência anti-social. Além disso, será relaciona<strong>do</strong> à teoriacom a prática <strong>do</strong> projeto “A Subjetivação <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente contemporâneo: uma clínicapsicanalítica diferenciada”, que aten<strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes em conflito com a lei que cumpremmedida sócio-educativa <strong>de</strong> Semi-liberda<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> – PR. O projeto érealiza<strong>do</strong> na Casa Semi-liberda<strong>de</strong> e tem como objetivo principal proporcionar umespaço terapêutico ao jovem, o que possibilita que seus conteú<strong>do</strong>s psíquicos sejam39 Discente <strong>do</strong> 2º ano <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>- UniFil e Esp. Gestão Estratégica <strong>de</strong> Pessoas - UNOPAR40 Discente <strong>do</strong> 3º ano <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> - UniFil41 Discente <strong>do</strong> 4º ano <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> – UniFil42 Discente <strong>do</strong> 2º ano <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> – UniFil43 Discente <strong>do</strong> 5º ano <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> – UniFil44 Discente <strong>do</strong> 5º ano <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> – UniFil45 Professora curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> – UniFil – Mestre em Educação46 Professora <strong>Psicologia</strong> – UniFil – Mestre em HistóriaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>102


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseexpressos por meio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s lúdicas e <strong>do</strong> vinculo terapêutico estabeleci<strong>do</strong> com osestagiários através da confiança.Palavras-Chave: Clínica da Transicionalida<strong>de</strong>, Semi-Liberda<strong>de</strong>, A<strong>do</strong>lescente.AbstractThis study is to report the main features of the theory of Clinical Transiocionalida<strong>de</strong> D.W <strong>Winnicott</strong>, citing his contributions regarding the subjective construction of the child,and what the consequences of environmental failures committed by the mother. Theseflaws affect a child's <strong>de</strong>velopment and can get to what <strong>Winnicott</strong> appoints Trendantisocial. Furthermore, the theory will be related to the practice of the project "TheSubjectivity of contemporary a<strong>do</strong>lescent: a psychoanalytic differentiated" in servinga<strong>do</strong>lescents in conflict with the law who fulfill a socio-educational semi-liberty in<strong>Londrina</strong> - PR. The project is un<strong>de</strong>rtaken in House Semi-free<strong>do</strong>m and its main objectiveis to provi<strong>de</strong> a therapeutic space to the young, which enables its psychic contents areexpressed through leisure activities and the therapeutic bond established with thetrainees through trust. With activities a<strong>do</strong>lescents have access to information aboutdrugs, and other topics chosen by them as part of your reality.Keywords: Transitionality clinict, semi-liberty and a<strong>do</strong>lescent.Donalds Woods <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>senvolveu uma forma <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o ser humanobasea<strong>do</strong> em suas observações da relação entre as mães e seus bebês. A partir <strong>de</strong>ssasobservações chegou à conclusão <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>senvolvimento só po<strong>de</strong> ocorrer na relaçãocom o outro, ou seja, uma constante troca entre a criança e a mãe. Des<strong>do</strong>bra seupensamento e organiza os conceitos como objeto transicional e espaço transicional quese tornam essenciais para o entendimento <strong>de</strong> sua forma <strong>de</strong> trabalho conhecida como aClínica da Transicionalida<strong>de</strong> (WINNICOTT, 2000).<strong>Winnicott</strong> observou a partir das experiências com o primeiro objeto <strong>do</strong> bebêque existe um espaço intermediário entre o mun<strong>do</strong> externo e interno. Percebe que ascrianças utilizam objetos <strong>de</strong> uma maneira diferente <strong>do</strong> adulto, sen<strong>do</strong> que esta relação<strong>de</strong>monstra a formação <strong>de</strong> sua subjetivida<strong>de</strong>. Portanto, primeiras relações <strong>do</strong> bebê estãorelacionadas entre a sua realida<strong>de</strong> psiquica e o meio externo o que po<strong>de</strong> se enten<strong>de</strong>r pelaausência e presença da figura materna (ABADI, 1998). Com esta <strong>de</strong>scoberta estesobjetos passaram a ser importantes no <strong>de</strong>senvolvimento infantil, no qual foramnomea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> “objetos transicionais”. Estes objetos são <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s a partir <strong>de</strong> umUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>103


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseespaço chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> “fenômenos transicionais”. A partir <strong>de</strong>stes fenomenos é possivel<strong>de</strong>tectar a origem da concepção <strong>do</strong> bebê <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> interno e <strong>de</strong> suas relações com ooutro e com a sua realida<strong>de</strong> (ABADI, 1998).Desta forma, o projeto “A Subjetivação <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente Contemporâneo: umaclínica psicanalítica diferenciada” utiliza-se <strong>de</strong>ste referencial teórico como méto<strong>do</strong> <strong>de</strong>trabalho, sen<strong>do</strong> que esse estu<strong>do</strong> é <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> na casa semiliberda<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>Londrina</strong>-PR. A casa aten<strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes que estão cumprin<strong>do</strong> medida sócio-educativa<strong>de</strong> semiliberda<strong>de</strong> e o projeto tem como objetivo possibilitar um espaço <strong>de</strong> escuta e gerara capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> subjetivação; para tanto o entendimento <strong>do</strong>s conceitos winnicottianossão cruciais para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> trabalho.Os a<strong>do</strong>lescentes em conflito com a lei são atendi<strong>do</strong>s durante encontrossemanais com uma hora e meia <strong>de</strong> duração cada, entre os <strong>de</strong>litos encontra<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>moscitar alguns, como furto, roubo, tráfico <strong>de</strong> drogas, etc. No entendimento <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>,tais manifestações são <strong>de</strong>scritas como tendências anti-sociais. Desse mo<strong>do</strong>, o presenteartigo tem por objetivo discutir <strong>de</strong> forma breve esses conceitos winnicottianos e qual aimportância e relevância <strong>de</strong>stes para o trabalho com os a<strong>do</strong>lescentes no regime <strong>de</strong> semiliberda<strong>de</strong>.Para <strong>Winnicott</strong> (2000), é importante dar atenção às primeiras experiências <strong>de</strong>possessão <strong>do</strong> bebê, por exemplo, sugar o punho e o polegar, e mais à frente aosprimeiros brinque<strong>do</strong>s. Esta relação está ligada tanto ao objeto externo (seio materno)quanto aos objetos internos (seio introjeta<strong>do</strong>). É a partir <strong>de</strong>ssas primeiras experiênciasque surgirá o objeto transicional. Tais objetos e fenômenos transicionais fazem parte <strong>do</strong><strong>do</strong>mínio da ilusão que está na base <strong>do</strong> inicio da experiência, através <strong>do</strong> sentimento <strong>de</strong>onipotência (KHAN, 2000).Os objetos transicionais e os fenômenos transicionais se localizam em umaárea intermediária <strong>de</strong> experiência, está entre a manipulação <strong>do</strong> polegar e o objeto, entreo erotismo oral e a verda<strong>de</strong>ira relação com um objeto externo. Constitui-se em uma áreaintermediária <strong>de</strong> experimentação, em que se consegue manter distinta a realida<strong>de</strong>externa e interna <strong>do</strong> ser (WINNICOTT, 1975).Portanto, o objeto transacional é algo que não está <strong>de</strong>ntro nem fora da criança,o mesmo servirá para que o sujeito possa experimentar situações internas e externas eassim ira <strong>de</strong>marcar seus processos mentais e seus limites com a relação ao mun<strong>do</strong>interno e externo (WINNICOTT, 2000).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>104


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseEsses fenômenos surgem a partir <strong>do</strong>s quatro meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e estão vincula<strong>do</strong>sà forma <strong>de</strong> pensar e fantasiar <strong>do</strong> bebê. Quan<strong>do</strong> a criança elege um objeto, esse se torna oobjeto transicional, normalmente os pais reconhecem o valor <strong>de</strong>sse objeto e passam alevá-lo aon<strong>de</strong> a criança vai. A mãe permite que ele fique sujo, pois sabe que todas ascaracterísticas – cheiro, textura – são importantes para o sentimento <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> naexperiência <strong>do</strong> bebê. Po<strong>de</strong>m ser um paninho, boneco, uma palavra (balbuciar), umgesto, algo que se torna essencial ao bebê, principalmente no momento <strong>de</strong> <strong>do</strong>rmir.Constitui uma importante <strong>de</strong>fesa contra a ansieda<strong>de</strong> (WINNICOTT, 1975).O objeto normalmente é apresenta<strong>do</strong> pela mãe e a criança o elege como sen<strong>do</strong>seu o objeto que a representa, porém o mais importante <strong>de</strong>ssa experiência não é acriança saber que o objeto representa sua mãe, mas sim que a criança saiba que o objetonão é sua mãe e a partir daí consiga construir formas <strong>de</strong> lidar com a falta. Nessemomento o bebê já é capaz <strong>de</strong> distinguir fantasia da realida<strong>de</strong>, objetos internos <strong>de</strong>objetos externos. Torna-se capaz <strong>de</strong> aceitar diferenças e similarida<strong>de</strong>s das relações que ocercam (WINNICOTT, 1975).Algumas características são inerentes ao objeto transicional: no início o objetoé acaricia<strong>do</strong>, mas <strong>de</strong>ve também sobreviver às mutilações a que for exposto; só <strong>de</strong>ve sermuda<strong>do</strong> pela manipulação <strong>do</strong> bebê, dan<strong>do</strong> a ele a impressão <strong>de</strong> ter vida e realida<strong>de</strong>própria; <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong> bebê este fenômeno não está situa<strong>do</strong> em seu interior e nemno exterior (KHAN, 2000).O objeto que é transicional representa a transição da criança <strong>de</strong> um esta<strong>do</strong> emque está “fundi<strong>do</strong>” com a mãe para um esta<strong>do</strong> que se relaciona a algo externo esepara<strong>do</strong> <strong>de</strong>le. Com o tempo o objeto transicional é naturalmente “<strong>de</strong>sinvesti<strong>do</strong>”, per<strong>de</strong>seu senti<strong>do</strong> e é <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> ao limbo. O objeto transicional auxilia a criança a sustentar suarealida<strong>de</strong> interna e ajuda no processo <strong>de</strong> diferenciação <strong>do</strong> eu (KHAN, 2000).Khan apud <strong>Winnicott</strong> (2000) ressalta a importância da diferenciação entre orelacionamento com o objeto e seu uso, em que a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar o objeto é maissofisticada <strong>do</strong> que a <strong>de</strong> relacionar-se com ele; uma vez que essa relação é estabelecidacom objetos subjetivos enten<strong>de</strong>-se que este objeto se torna algo externo, ou seja,separa<strong>do</strong> da criança.Para <strong>Winnicott</strong> (2000), o objeto está em constate <strong>de</strong>struição e isso faz com queele se torne a base <strong>do</strong> amor inconsciente pelo objeto real, pois este objeto está fora <strong>do</strong>controle onipotente <strong>do</strong> sujeito. O valor positivo da <strong>de</strong>strutivida<strong>de</strong> é a sobrevivência <strong>do</strong>Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>105


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseobjeto, com isso as fantasias <strong>de</strong>strutivas são minimizadas e projetadas no objeto o quepossibilita uma abertura da realida<strong>de</strong> compartilhada que o sujeito po<strong>de</strong> usar.No contexto analítico esse novo pensamento muda a forma <strong>de</strong> se enten<strong>de</strong>r atransferência, o não relacionar-se <strong>do</strong> paciente não é mais visto como se ele estivessenegan<strong>do</strong> se relacionar, na verda<strong>de</strong> ele está procuran<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> relacionar-se com oobjeto, e usa o analista como objeto <strong>de</strong> relação. O autor ainda coloca que analista epaciente estão em um processo ativo <strong>de</strong> troca constante em que estão sen<strong>do</strong> “cria<strong>do</strong>s” e“encontra<strong>do</strong>s” uns pelos outros (KHAN, 2000).A regressão à <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>ve ser entendida pelas manifestaçõesinconscientes que buscam uma retomada oportuna ao processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoacometi<strong>do</strong> anteriormente por uma falha ambiental. Acredita-se que o indivíduonecessita regredir à <strong>de</strong>pendência, pois não é capaz <strong>de</strong> criar esta condição por si só nemtão pouco consegue solicitar a outros para que o façam, produz, entretanto atos antisociaiscomo uma das possíveis formas <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>manda (KHAN, 2000).Na clínica da transicionalida<strong>de</strong> o analista se propõe a aten<strong>de</strong>r ao <strong>de</strong>sejo <strong>do</strong>paciente, ou melhor, à sua necessida<strong>de</strong>, termo mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> ao indivíduo regredi<strong>do</strong> à<strong>de</strong>pendência. Caso a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> paciente não seja preenchida há uma repetição dafalha ambiental que interferiu no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> eu anteriormente. Por meio <strong>do</strong>ambiente prove<strong>do</strong>r <strong>de</strong> confiança efetiva-se a regressão, assim o paciente tem contatocom a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um novo senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> eu, retoma-se um processo individualinterrompi<strong>do</strong>, segui<strong>do</strong> por uma progressão organizada à in<strong>de</strong>pendência (KHAN, 2000).Outeiral (s/d) lembra que foi a partir da observação que <strong>Winnicott</strong> fez darelação entre a mãe e seu filho, uma vivência on<strong>de</strong> se cria um momento <strong>de</strong> ilusão e apartir daí a introdução <strong>do</strong> objeto transicional, quan<strong>do</strong> há cuida<strong>do</strong>s maternossuficientemente bons, como já foi dito. Sen<strong>do</strong> assim, o “setting” analítico torna-se umametáfora <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s maternos, e assim as falhas da mãe ou <strong>do</strong> analista se<strong>de</strong>senvolverão a partir da ansieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> separação.A mãe consi<strong>de</strong>rada suficientemente boa é aquela que proporciona ao seu filho ailusão <strong>de</strong> que o mun<strong>do</strong> é cria<strong>do</strong> por ele, conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> lhe a experiência da onipotênciaprimária, base <strong>do</strong> fazer criativo, assim trazen<strong>do</strong> a percepção da realida<strong>de</strong>, a mãe boa estasempre presente auxilian<strong>do</strong> e suprin<strong>do</strong> as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> bebê (WINNICOTT, 2000).Outeiral (s/d) lembra ainda que a partir <strong>de</strong>sta experiência <strong>de</strong> ilusão-<strong>de</strong>silusão,sustentada pela mãe, é que a criança tem uma vivência <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> e é importanteUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>106


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseque esse para<strong>do</strong>xo seja respeita<strong>do</strong>, caso contrário, as falhas no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>objeto e espaço transicionais terão consequências caras à saú<strong>de</strong> mental <strong>do</strong> individuo.Nesse senti<strong>do</strong> <strong>Winnicott</strong> consi<strong>de</strong>rava um grupo diferencia<strong>do</strong> <strong>de</strong> pacientes,aqueles que experimentaram falhas ambientais em fases muito iniciais <strong>de</strong> seu<strong>de</strong>senvolvimento, ocorren<strong>do</strong> assim o congelamento da situação <strong>de</strong> trauma. Assim, paraque possam “<strong>de</strong>scongelar” essa falha, necessitam <strong>de</strong> um “setting” a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>, cuja ênfaseseja dada ao holding e as <strong>de</strong>mais funções <strong>de</strong> uma mãe suficientemente boa. Para que talprocesso ocorra é preciso que o paciente mantenha a esperança <strong>de</strong> que uma nova relaçãopossa fazer retomar o fluxo <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento (OUTEIRAL, s/d).No projeto “A subjetivação <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente contemporâneo: uma clínicapsicanalítica diferenciada” há uma tentativa em reparar estas falhas ambientais citadasacima, o propósito <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> é proporcionar ao a<strong>do</strong>lescente em conflito com a lei umespaço on<strong>de</strong> possa ressignificar seus conteú<strong>do</strong>s psíquicos através da confiançaestabelecida a partir <strong>do</strong> vínculo terapêutico com os estagiários.Os indivíduos que sofreram falhas ambientais importantes, na tentativa <strong>de</strong>buscar uma reparação <strong>de</strong>stas falhas, po<strong>de</strong>m manifestar comportamentos <strong>de</strong> tendênciaanti-social, como no caso <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, assisti<strong>do</strong>s por esse projeto, que cometeramatos <strong>de</strong> roubo, tráfico <strong>de</strong> drogas, furto.Durante os encontros realiza<strong>do</strong>s na casa Semi-liberda<strong>de</strong> preten<strong>de</strong>-se promovere facilitar a criação <strong>de</strong> um vínculo <strong>de</strong> confiança com os a<strong>do</strong>lescentes por meio <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong>s sugeridas pelos próprios meninos. Nas oficinas discute-se sobre drogas,sexualida<strong>de</strong>, o conflito com a lei e toda a vivência <strong>do</strong>s jovens com a violência. Além<strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s, há discussões <strong>de</strong> filmes, oficinas <strong>de</strong> culinária e jogos lúdicos. Dessaforma é possível a realizar o trabalho em razão <strong>do</strong> vínculo <strong>de</strong> confiança que éestabeleci<strong>do</strong> pouco a pouco.A capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> analista em perceber e preencher as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> pacientecorrespon<strong>de</strong> aos cuida<strong>do</strong>s da “mãe <strong>de</strong>votada comum”, primordial para se estabelecer acontratransferência no processo terapêutico. A prática clínica com pacientes regredi<strong>do</strong>sà <strong>de</strong>pendência preconiza a inevitável habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manejo <strong>do</strong> analista mais <strong>do</strong> que ainterpretação. O manejo oferece à pessoa um ambiente adapta<strong>do</strong>, que não ocorreudurante seu processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. A partir <strong>de</strong> um manejo eficaz, portanto, ainterpretação po<strong>de</strong> gerar um senti<strong>do</strong> terapêutico, muito embora, ocorramsimultaneamente e atribuam senti<strong>do</strong> um ao outro (KHAN apud WINNICOTT, 2000)Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>107


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise<strong>Winnicott</strong>, em 1956, atribui a tendência anti-social às dificulda<strong>de</strong>s no<strong>de</strong>senvolvimento emocional <strong>de</strong> crianças normais ou quase normais, não se limitan<strong>do</strong>,portanto, às estruturas neuróticas ou psicóticas, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> também ser encontrada emtodas as ida<strong>de</strong>s. A etiologia <strong>de</strong>sta tendência segun<strong>do</strong> o autor encontra-se no fato <strong>de</strong> acriança ter passa<strong>do</strong> por uma experiência <strong>de</strong> “<strong>de</strong>-privação” em sua vida, ou seja, houve aperda <strong>de</strong> algo que foi bom até um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> momento, e que <strong>de</strong>sapareceu por umperío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo em que a criança seria incapaz <strong>de</strong> conservar viva sua memória. Estafalha ocorre no ambiente familiar, em aspectos que lhe são essenciais.Um aspecto fundamental da privação, segun<strong>do</strong> <strong>Winnicott</strong>, é que a falha ocorraem um perío<strong>do</strong> em que o bebê já seja capaz <strong>de</strong> perceber que esta se <strong>de</strong>u no ambiente, ouseja, a falha é externa e não interna. Este grau <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ego, o qual permite talpercepção, é que <strong>de</strong>termina o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma tendência anti-social e não uma<strong>do</strong>ença psicótica. A percepção correta da causa ambiental da falha provoca também adistorção da personalida<strong>de</strong> e o impulso <strong>de</strong> buscar a cura numa nova provisão ambiental(WINNICOTT, 2005).A tendência anti-social não <strong>de</strong>ve ser tratada como um diagnóstico, sen<strong>do</strong> queela po<strong>de</strong> aparecer em indivíduos normais, neuróticos ou psicóticos, também po<strong>de</strong>rá serencontrada em qualquer ida<strong>de</strong> não somente na criança. O comportamento anti-socialpo<strong>de</strong> aparecer em qualquer contexto, sen<strong>do</strong> que a criança, por exemplo, é vista como<strong>de</strong>sajustada e até levada aos tribunais como alguém “fora <strong>do</strong> controle”. No contextoclínico o indivíduo que apresenta características anti-sociais é trata<strong>do</strong> como alguém embusca <strong>de</strong> esperança, pois ao realizar o atendimento com este tipo especifico <strong>de</strong> pacienteso terapeuta irá <strong>de</strong> encontro ao momento <strong>de</strong>ssa esperança e irá correspon<strong>de</strong>r a ela(WINNICOTT, 2000).Existem duas vertentes na tendência anti-social, as quais são <strong>de</strong>scritas peloautor, como uma busca pela experiência perdida. De um la<strong>do</strong> aparece o furto,representan<strong>do</strong> a procura por algo - a mãe - que não sen<strong>do</strong> encontra<strong>do</strong>, continuará sen<strong>do</strong>procura<strong>do</strong> em outro lugar. Do outro la<strong>do</strong> aparece a <strong>de</strong>strutivida<strong>de</strong>, representan<strong>do</strong> abusca pela estabilida<strong>de</strong> ambiental perdida, que suporte às pressões <strong>de</strong> seucomportamento instintivo. Com esta segunda vertente, o que a criança quer na verda<strong>de</strong>,é provocar reações <strong>do</strong> ambiente como um to<strong>do</strong>, como se buscasse um <strong>de</strong>limita<strong>do</strong>ramplo, a começar pelo corpo da mãe, os braços da mãe, o lar, a família, a escola, obairro com sua <strong>de</strong>legacia <strong>de</strong> polícia, o país e suas leis (WINNICOTT, 2000).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>108


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanálisePara exemplificar po<strong>de</strong>mos citar que durante as oficinas, é possível perceberatravés <strong>do</strong> retato <strong>de</strong> alguns a<strong>do</strong>lescentes algumas das características da tendência antisocial.<strong>Winnicott</strong> (1999) diz que uma criança sofre privação quan<strong>do</strong> passa a lhe faltaralgumas características essenciais da vida familiar, manifestan<strong>do</strong> um complexo <strong>de</strong>privação. Po<strong>de</strong>mos perceber que gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes que estão ou jáestiveram cumprin<strong>do</strong> a medida <strong>de</strong> semi-liberda<strong>de</strong> tem um histórico <strong>de</strong> famílias<strong>de</strong>sestruturadas, monoparentais e vulneráveis socialmente. Sen<strong>do</strong> assim, o a<strong>do</strong>lescente<strong>de</strong>ixa a cargo <strong>de</strong> outro que se encarregue <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong>le <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o proposto por<strong>Winnicott</strong> (1999), e que já foi <strong>de</strong>scrito anteriormente, buscan<strong>do</strong> assim, no atoinfracional a mãe que falhou.Para <strong>Winnicott</strong> (2005, p. 412):[...] A manifestação da tendência anti-social inclui o roubo e amentira, a incontinência e a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m generalizada. Ainda que cadasintoma tenha o seu significa<strong>do</strong> especifico e o seu valor, o<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>r comum, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a minha intenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver atendência anti-social, é o caráter perturba<strong>do</strong>r <strong>do</strong> sintoma. Esse caráterperturba<strong>do</strong>r é explora<strong>do</strong> pela criança, e nada tem <strong>de</strong> casual. Umagran<strong>de</strong> parte da motivação é inconsciente, mas não necessariamentetoda ela.É possível perceber sinais <strong>de</strong> uma tendência anti-social em uma criança,quan<strong>do</strong> ocorre um exagero nos transtornos que, normalmente elas causam. Suamanifestação se dá em geral pelo furto, mentira, incontinência e criação <strong>de</strong> caos.Embora cada sintoma possui valor e significa<strong>do</strong> próprios, possuem um elemento emcomum: “o transtorno causa<strong>do</strong> pela criança”. Uma característica importante datendência anti-social é que <strong>de</strong> forma inconsciente, o sujeito encarrega alguém <strong>de</strong> cuidar<strong>de</strong>le, tornan<strong>do</strong> assim <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância o ambiente. Este ambiente, traduzi<strong>do</strong> poruma atitu<strong>de</strong> humana confiável, torna-se alvo <strong>de</strong> uma busca, e ao ser encontra<strong>do</strong>proporcionará a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mover-se, agir e excitar-se (KHAN, 2000).Ao se tratar pacientes que apresentam tendência anti-social, é importanteproporcionar um ambiente que cuida e fornece suporte para experimentar novamente osimpulsos <strong>do</strong>s primeiros anos <strong>de</strong> vida, on<strong>de</strong> ocorreu a “<strong>de</strong>-privação”, ou seja, aestabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste ambiente terapêutico possibilita a realização <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> análise.Com isso, o terapeuta precisa aceitar esta tendência anti-social no contexto analítico eUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>109


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise<strong>de</strong>ve estar prepara<strong>do</strong> para suportar o impacto que ela po<strong>de</strong>rá causar (WINNICOTT,2005).Em vista <strong>do</strong>s fatos apresenta<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>-se concluir que é possível proporcionaraos a<strong>do</strong>lescentes em conflito com a lei um espaço <strong>de</strong> confiança, em que os conteú<strong>do</strong>sparticulares <strong>de</strong> cada jovem possa ser dito ou expressa<strong>do</strong> através das ativida<strong>de</strong>s lúdicasproporcionadas pelos estagiários. Percebem-se pelo relato <strong>do</strong>s jovens as falhasambientais recorrentes da <strong>de</strong>sestrutura familiar ou o aban<strong>do</strong>no, por parte da mãe ou <strong>de</strong>qualquer cuida<strong>do</strong>r.A criança ou o a<strong>do</strong>lescente em conflito com a lei po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada umindividuo com tendências anti-sociais, como foi dito no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> texto. Assim cabeao projeto tentar compreen<strong>de</strong>r e auxiliar através <strong>do</strong> olhar da Transicionalida<strong>de</strong> parapossibilitar o crescimento e principalmente o cuidar para estes a<strong>do</strong>lescentes.Referências BibliográficasABADI, S. Transições: o mo<strong>de</strong>lo terapêutico <strong>de</strong> D. W <strong>Winnicott</strong>. São Paulo: Casa <strong>do</strong>Psicólogo, 1998.KHAN, M. Introdução. In: WINNICOTT, D. W. Textos Seleciona<strong>do</strong>s: Da pediatria àpsicanálise. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 2000. p. 11-54.OUTEIRAL, J. O a<strong>do</strong>lescente bor<strong>de</strong>rline e a clínica da transicionalida<strong>de</strong>. Disponívelem: . Acesso em: 20 ago. 2012.WINNICOTT, D. W. O brincar e a realida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1975.WINNICOTT, D. W. Privação e <strong>de</strong>linquência. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.WINNICOTT, D. W. Textos Seleciona<strong>do</strong>s: Da pediatria à psicanálise. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Imago, 2000.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>110


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseConstruin<strong>do</strong> o <strong>de</strong>sconstruí<strong>do</strong>: a família <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> settingExplaining the family structure: the family into the settingAlessandra Elisa Gromowski 47Angela Maria Zechim Luziano da Silva 48Carla Maria Lima Braga 49Mariana Grassi <strong>do</strong> Nascimento 50ResumoO presente trabalho tem como objetivo realizar uma breve análise <strong>do</strong>s atendimentos <strong>de</strong>três membros da mesma família: filho e filha a<strong>do</strong>lescentes e a mãe. Atendimentos essesrealiza<strong>do</strong>s semanalmente, <strong>de</strong> forma individual, na Clínica-escola da Universida<strong>de</strong>Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, guia<strong>do</strong>s pelo embasamento teórico <strong>de</strong> D. W. <strong>Winnicott</strong>. Por meio<strong>do</strong>s atendimentos foi possível fazer a configuração da família, com a caracterização <strong>de</strong>cada membro <strong>do</strong> núcleo e a reafirmação da importância da família na construção e<strong>de</strong>senvolvimento das estruturas psíquicas <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s, juntamente com avisualização das possíveis consequências <strong>de</strong> quan<strong>do</strong> essa família falha. Para tanto,<strong>de</strong>monstra-se que o processo <strong>de</strong> psicoterapia tenta estabelecer a reconstituição <strong>do</strong> seratravés <strong>de</strong> um ambiente facilita<strong>do</strong>r.Palavras-chave: Teoria <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>, família, <strong>de</strong>senvolvimento psíquico, setting.AbstractThe following abstract has the purpose to achieve a brief study about the taking care ofthree members from the same family: young son and daughter and their mother. Theseregardings were ma<strong>de</strong> weekly by individual way in the UEL's School-Clinic, instructedby D.W. <strong>Winnicott</strong>'s theoretical <strong>do</strong>ctrine. By these regardings was possible to make afamily aspect with a characterization from each member of the family and confirmagain the importance of the family in the composition and <strong>de</strong>velopment of the psychicstructure of the involved ones; adjoining with a visualization of the possibleconsequences from where this family fails. Therefore, it <strong>de</strong>monstrates that the process47 Graduanda <strong>do</strong> quinto ano <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> na Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> – UEL48 Graduanda <strong>do</strong> quinto ano <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> na Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> – UEL49 Doutora em <strong>Psicologia</strong> PUC – Campinas. Professora Adjunta <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> ePsicanálise UEL50 Graduanda <strong>do</strong> quinto ano <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> na Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> – UELUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>111


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseof psychotherapy tries to establish the reconstitution of the human being by a protecte<strong>de</strong>nvironment.Key-words: <strong>Winnicott</strong>'s teory, family, psychic <strong>de</strong>velopment, setting.O trabalho com crianças no âmbito clínico leva a construção <strong>de</strong> uma análise, dafamília na qual esta se insere uma vez que não há como <strong>de</strong>svincular a estrutura psíquicada criança, que está em construção, <strong>do</strong> meio familiar em que ela vive. A partir disso,po<strong>de</strong>mos trazer algumas reflexões a respeito <strong>de</strong> como a estrutura <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminadafamília é apresentada na clínica pelas vivências no setting com três pacientes <strong>do</strong> mesmonúcleo familiar, e mais especificamente como esta família é caracterizada.É importante salientar a participação da família na boa estruturação psíquica dacriança, mas somente a existência da família não basta por si só no asseguramento <strong>do</strong><strong>de</strong>senvolvimento saudável da criança, pois esta também sofre influências <strong>de</strong> outrosfatores, que irão <strong>de</strong>terminar o mo<strong>do</strong> como ela vai fazer uso <strong>do</strong>s recursos disponíveis.Dessa maneira, o ambiente <strong>de</strong>ve ser facilita<strong>do</strong>r <strong>do</strong> amadurecimento <strong>de</strong> seus membros, <strong>de</strong>forma a oferecer estabilida<strong>de</strong> e confiança para que crianças e a<strong>do</strong>lescentes possam<strong>de</strong>senvolver seu eu (self).Neste senti<strong>do</strong>, vale ressaltar que, segun<strong>do</strong> De Cicco, Gomes e Paiva (2005) “asaú<strong>de</strong> da família e sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> seus membros<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da qualida<strong>de</strong> da relação estabelecida pelo casal parental” (p. 54).Porém Orsi (2003) afirma que:A família se modifica através <strong>do</strong>s tempos, mas em termos conceituais,é um sistema <strong>de</strong> vínculos afetivos on<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá ocorrer o processo <strong>de</strong>humanização. A transformação histórica <strong>do</strong> contexto socioculturalresulta <strong>de</strong> um processo em constante evolução ao qual a estruturafamiliar vai se moldan<strong>do</strong>. No entanto, é importante consi<strong>de</strong>rar que pormaiores que sejam as modificações na configuração familiar, essainstituição ‘permanece como unida<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> crescimento eexperiência, <strong>de</strong>sempenho ou falha’ (ACKERMAN, 1980 p.29),contribuin<strong>do</strong> assim, tanto para o <strong>de</strong>senvolvimento saudável quantopatológico <strong>de</strong> seus componentes. (p. 68)A partir <strong>de</strong> tais consi<strong>de</strong>rações apresentaremos atendimentos <strong>de</strong> duas crianças damesma família e da mãe <strong>do</strong>s mesmos, <strong>de</strong> forma a po<strong>de</strong>r trazer uma discussão <strong>do</strong> papelda família como ambiente facilita<strong>do</strong>r <strong>de</strong> um amadurecimento saudável.Os atendimentos são realiza<strong>do</strong>s semanalmente, <strong>de</strong> forma individual, na Clínicaescolada Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> com <strong>do</strong>is irmãos, Fábio <strong>de</strong> 11 anos e RitaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>112


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise<strong>de</strong> 13 anos, e com a mãe, Lara <strong>de</strong> 41 anos. Utilizamos nomes fictícios <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à éticarequisitada para a preservação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s pacientes.<strong>Winnicott</strong> (1982) diz que a relação entre os pais, sen<strong>do</strong> harmoniosa, faz com queos filhos se tornem pessoas estruturadas, ou seja, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre as crianças percebem otipo <strong>de</strong> envolvimento <strong>do</strong>s pais, sen<strong>do</strong> que esse relacionamento positivo ou negativo,repercutirá na sensação que os filhos terão no que diz respeito a segurança no lar.Vejamos como está construída a relação entre Lara e seu mari<strong>do</strong>, para enten<strong>de</strong>rmoscomo está se dan<strong>do</strong> o amadurecimento <strong>do</strong>s filhos.Rita começou o atendimento aos 12 anos, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao diagnóstico <strong>de</strong> TDAH, quejá havia diagnostica<strong>do</strong> aos 2 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Portanto, a menina já havia feito tratamentopsicológico anteriormente e fazia uso <strong>de</strong> medicamentos (Ritalina e Risperi<strong>do</strong>na).Fábio iniciou o atendimento aos 10 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, por <strong>de</strong>manda da mãe queestava preocupada com as falas <strong>de</strong> suicídio <strong>do</strong> filho. Na primeira entrevista com a mãe,ela trouxe questões como crise <strong>de</strong> choro constante <strong>do</strong> filho, brigas com os irmãos,agressão aos colegas da escola, ciúmes da mãe, ameaças <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> casa, cometersuicídio e falas nas quais acreditava ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>.Nos atendimentos, inicialmente, Fábio fez <strong>de</strong>senhos pobres, escuros e um emespecífico com as letras S.O.S. <strong>de</strong>senhadas. Depois foram realizadas brinca<strong>de</strong>iras ejogos, como xadrez, <strong>do</strong>minó, e outros, para conseguir realizar um trabalho sobre atransferência positiva e proporcionar um ambiente confiável para as suas <strong>de</strong>mandas.Quanto a Rita, <strong>de</strong> início também foram utiliza<strong>do</strong>s alguns jogos, porém, com o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> tratamento a terapeuta passou a trabalhar mais com a parteprojetiva, por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos, <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> palavras, frases, jogo <strong>do</strong> rabisco, paraassim fazer com que a a<strong>do</strong>lescente conseguisse sustentar as sessões por meio das falas,projeções e <strong>de</strong> associações livres.Lara iniciou o tratamento através <strong>de</strong> indicação das terapeutas <strong>do</strong>s filhos. Elatrouxe as sessões que se sente muito cansada por ser a responsável por to<strong>do</strong>s em casa.Por Fábio e Rita brigarem excessivamente, pelo filho mais velho estar sempre nocomputa<strong>do</strong>r e não participar ativamente <strong>do</strong>s acontecimentos familiares. Ainda, o mari<strong>do</strong>a responsabiliza, segun<strong>do</strong> a paciente, por todas as dificulda<strong>de</strong>s econômicas que a famíliapassa e/ou pela maneira como os filhos se comportam.Até aqui, já percebemos que como diz <strong>Winnicott</strong> o holding tem gran<strong>de</strong>importância, ou seja, a sustentação necessária, o suporte da família para que o indivíduoconsiga se relacionar, além da própria família, com outros círculos sociais, o que éUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>113


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise<strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> como uma dificulda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s filhos <strong>de</strong> Lara; por isso as terapeutas <strong>de</strong>vemrecriar o holding no atendimento com seus pacientes, proporcionan<strong>do</strong> um local seguropara que eles possam se expressar (GOMES e PAIVA, 2003).Por meio <strong>do</strong>s atendimentos, foi possível fazer uma breve configuração da família<strong>do</strong>s respectivos pacientes, família esta, formada por um casal, homem e mulher, e trêsfilhos.O pai aparece nas falas <strong>do</strong>s pacientes como a figura <strong>de</strong> um pai ausente, que estápresente <strong>de</strong> corpo, porém sem representação paterna, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser caracteriza<strong>do</strong> comoum pai “morto”, ou seja, não é um pai que participa positiva ou negativamente nadinâmica da família, não é um pai que apóia, menos ainda um pai que impõe limites.Este pai, além <strong>de</strong> ausente é também usuário <strong>de</strong> drogas (maconha e cocaína),porém, é ele quem sustenta a casa financeiramente. A mãe assume essa figura paterna,no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> tentar colocar or<strong>de</strong>m na casa, estabelecer uma lei. Porém, Lara apresentamuitas dificulda<strong>de</strong>s em trabalhar a sexualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> filho mais novo. A mãe afirma queaos 6 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, Fábio ficou excita<strong>do</strong> em seu colo e há outras ocasiões, nas quaispe<strong>de</strong> para tomar banho junto com ela, mas, algumas vezes como saída a mãe usa amentira <strong>de</strong> estar menstruada para que o banho com ela não ocorra.De acor<strong>do</strong> com essa <strong>de</strong>scrição, utilizamos Gomes e Paiva (2003), para traçar umparalelo sobre a relação entre mari<strong>do</strong> e esposa, já que <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as autoras,<strong>Winnicott</strong> consi<strong>de</strong>ra que na fase adulta os indivíduos continuam seu processo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento, e o casamento, juntamente com a constituição <strong>de</strong> família, é umaoportunida<strong>de</strong> a mais <strong>de</strong> crescimento, tanto para o casal quanto para os filhos. Porém,como visto na família atendida, isso não está ocorren<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma satisfatória, pois a<strong>de</strong>sestabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> casal po<strong>de</strong> levar a <strong>de</strong>sintegração da família, o que gerará másconsequências aos filhos; é necessário que os pais possam se sacrificar pelos filhos, oque não se vê nesta família, já que o pai, por mais que estejam passan<strong>do</strong> sériasdificulda<strong>de</strong>s financeiras, não consegue <strong>de</strong>ixar beber ou comprar drogas, para comprar oque a família necessita, por vezes, até alimentos.A sexualida<strong>de</strong> é um ponto que precisa ser bem trabalha<strong>do</strong> com a mãe, pois estanão consi<strong>de</strong>ra excessiva a maneira como o assunto é vivi<strong>do</strong> em sua casa. Elacostumeiramente fica em casa, usan<strong>do</strong> camisola e sem calcinha; e em certa ocasião, emque foi para o motel com o mari<strong>do</strong>, expôs a situação abertamente em casa. Contouainda, que Fábio tem ciúmes <strong>de</strong>la com o mari<strong>do</strong>, que chega a brigar com o pai quan<strong>do</strong>Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>114


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseeste está abraçan<strong>do</strong> a mãe, dizen<strong>do</strong> ‘ela é minha’, e já chegou até mesmo a entrar noquarto <strong>do</strong> casal enquanto eles estavam em um momento íntimo.Neste ponto vemos que há rivalida<strong>de</strong> entre pai e filho, na disputa da mãe, o quenão seria negativo, segun<strong>do</strong> <strong>Winnicott</strong> (1982), se esta soubesse impor o limite e se arelação <strong>do</strong> casal fosse saudável e feliz. Então, Lara foi questionada e estimulada a falare pensar sobre o espaço que cada um precisa ter <strong>de</strong>ntro da casa, e que ela precisa <strong>de</strong>ixarisso claro, pois, muitas vezes, os filhos disputam a cama com o pai, para <strong>do</strong>rmir com amãe.No que diz respeita a Rita, esta incomoda a to<strong>do</strong>s com sua vivacida<strong>de</strong>, tanto queprecisa tomar os remédios para ficar mais calma, ou seja, para que fique “morta” comoo resto da casa. A menina reluta em ser medicada, em “morrer”, e então a mandam parafora <strong>de</strong> casa, para que assim não perturbe o pai e os irmãos. Neste senti<strong>do</strong> <strong>de</strong>sfruta <strong>de</strong>liberda<strong>de</strong> excessiva, fican<strong>do</strong> fora <strong>de</strong> casa na parte da noite, no perío<strong>do</strong> em que a mãeestá estudan<strong>do</strong> na faculda<strong>de</strong>, da 19h00 às 23h00, aproximadamente. Nesses momentos,relaciona-se com jovens bem mais velhos que ela, <strong>de</strong> até 25 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> alguns<strong>de</strong>les usuários <strong>de</strong> drogas. Tanto nos trabalhos projetivos quanto na livre-associação daa<strong>do</strong>lescente, aparece constantemente o me<strong>do</strong> que ela tem da morte.A mãe foi questionada quanto ao fato <strong>de</strong> Rita ficar pelo con<strong>do</strong>mínio a noite, commeninos mais velhos, e alguns usuários <strong>de</strong> drogas. Porém, ela disse que não sepreocupa, já que ela e o mari<strong>do</strong> já conversaram com esses garotos e os instruíram a não<strong>de</strong>ixar Rita fumar narguile, fato que já ocorreu.O pai, só é nota<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> chega droga<strong>do</strong> em casa, fato esse percebi<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>sda casa, e a mãe, por assumir as duas funções <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa (função materna e paterna),está sobrecarregada e já não encontra forças nem para ajudar os filhos a se fortalecerempsiquicamente, nem para continuar a se sustentar como suporte da casa, encontran<strong>do</strong>como válvula <strong>de</strong> escape, os estu<strong>do</strong>s na faculda<strong>de</strong>. Ela vê isto como uma forma <strong>de</strong> umdia po<strong>de</strong>r dar melhores condições aos filhos, livran<strong>do</strong>-se da <strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, oqual, segun<strong>do</strong> Lara, faz <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> para não <strong>de</strong>ixá-la estudar, pois vê nisso, concretamenteuma forma da esposa se libertar <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>pendência.Há outros fatos relevantes, que a mãe trouxe durante nas sessões, relaciona<strong>do</strong>s afilha, um diz respeito a certa vez, durante uma festa no con<strong>do</strong>mínio que moravam, <strong>de</strong>que um senhor (zela<strong>do</strong>r <strong>do</strong> con<strong>do</strong>mínio), ter assedia<strong>do</strong> a menina, fazen<strong>do</strong> com que ela sesentasse em seu colo, e beijan<strong>do</strong> seu pescoço. Rita, na época com 10 anos, contou aospais o ocorri<strong>do</strong>; a mãe a apoiou, disse que iriam processar o homem, porém, o mari<strong>do</strong>Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>115


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisenão acreditou na filha e disse que um processo apenas iria expor a família. A partir <strong>de</strong>então, Rita disse que não respeitava mais o pai.Um <strong>do</strong>s papéis principais <strong>de</strong> um pai, é <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com <strong>Winnicott</strong> (1982) daqueleque apóia a mãe nas <strong>de</strong>cisões e regras que esta estabelece e posteriormente, na fase <strong>de</strong>a<strong>do</strong>lescência <strong>do</strong>s filhos, cerca-os, dan<strong>do</strong> proteção, porém, isso não é visto na família emquestão, pois os filhos não respeitam o pai e este sobrecarrega e culpabiliza Lara pelosproblemas familiares e, ainda, os filhos não consi<strong>de</strong>ram o pai como um “ser vivo e real”como aponta o autor cita<strong>do</strong>. Ao que parece, como consequência <strong>do</strong> abuso, Rita foi pegaalgumas vezes cheiran<strong>do</strong> gasolina; contou a mãe que gostava <strong>do</strong> cheiro, que isso a<strong>de</strong>ixava “zonza” (sic), com seus senti<strong>do</strong>s levemente altera<strong>do</strong>s. Lara concluiu que a filhaestava tentan<strong>do</strong> fugir da realida<strong>de</strong>.Outro fato preocupante que vem sen<strong>do</strong> aborda<strong>do</strong> na terapia, é que o mari<strong>do</strong>levou um menino que o ajuda no trabalho e na chácara para morar com eles. Um moço<strong>de</strong> 19 anos o qual ficou muito próximo <strong>de</strong> Rita, fazen<strong>do</strong> com que a terapeuta <strong>de</strong> Laraquestionasse se essa proximida<strong>de</strong> seria boa para uma garota <strong>de</strong> 13 anos, e se,novamente, ela não ficava com receio em <strong>de</strong>ixar a filha com um estranho <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suacasa. Após algumas sessões, a mãe trouxe a espantosa notícia <strong>de</strong> que o moço que estavamoran<strong>do</strong> em sua casa já havia mata<strong>do</strong> uma pessoa, em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> gangue. Notíciaessa que fez com a terapeuta questionasse novamente a presença <strong>de</strong>sse menino próximoa seus filhos a<strong>do</strong>lescentes.Lara, certa vez relatou que sentiu vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> bater o carro contra uma árvore eacabar com sua vida, pois como disse “eu carrego to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, mas ninguém mecarrega” (sic). A respeito <strong>de</strong> sua história <strong>de</strong> vida, Lara contou que tem 3 irmãs maisnovas, (e uma que já é falecida), conta que quan<strong>do</strong> eram pequenas, os pais se separaram,a mãe per<strong>de</strong>u a guarda <strong>de</strong>las e foi embora com outro homem, retornan<strong>do</strong> muitos anos<strong>de</strong>pois, porém, sem conseguir firmar contato com suas filhas, apenas com Lara, que dizgostar muito da mãe, e fazer tu<strong>do</strong> para ajudá-la. Quan<strong>do</strong> era criança, a mãe lhe contouque não era filha <strong>do</strong> homem que consi<strong>de</strong>rava ser seu pai, fato que retornou em suaa<strong>do</strong>lescência, fazen<strong>do</strong> com que ela procurasse seu pai biológico, porém, sempreconsi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o pai <strong>de</strong> criação como seu pai.O atendimento da mãe se faz <strong>de</strong> extrema importância, para que ela possa reviverexperiências <strong>de</strong> sua vida, para que consiga organizar-se psiquicamente e enten<strong>de</strong>r asconseqüências <strong>de</strong> suas condutas, como a <strong>de</strong> expor excessivamente a sexualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>la e<strong>do</strong> mari<strong>do</strong> para os filhos, culminan<strong>do</strong> no fato <strong>de</strong> tomar banho com Fábio; e tambémUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>116


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseapontar para ela a gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma garota a<strong>do</strong>lescente ficar fora <strong>de</strong> casa com adultosaté tar<strong>de</strong> da noite, sem que se sabia o que po<strong>de</strong> acontecer com ela, para que possa, assimse fortalecer, apresentan<strong>do</strong> um ambiente seguro para seus filhos.Por meio <strong>do</strong>s atendimentos é possível analisar quão gran<strong>de</strong> é o peso da famíliana formação e no <strong>de</strong>senvolvimento saudável <strong>de</strong> to<strong>do</strong> homem. De acor<strong>do</strong> com Gomes(cita<strong>do</strong> por DE CICCO, GOMES e PAIVA, 2005):Uma das formas <strong>de</strong> o casal entrar em contato com seus conflitos éatravés <strong>do</strong> sintoma <strong>de</strong> seus filhos, que <strong>de</strong>nuncia a dinâmica <strong>do</strong> casal.Tal sintoma constitui um meio auxiliar para os pais chegarem à clínicae se voltarem para o entendimento da dinâmica conjugal. Em muitoscasos, o sintoma <strong>de</strong> um filho po<strong>de</strong> expressar um conflito conjugal e/oufamiliar ou ainda uma <strong>de</strong>sestruturação <strong>de</strong>stas relações (p. 55).Isto fica explícito no presente trabalho, já que o próprio <strong>de</strong>sequilíbrio vivi<strong>do</strong>pelos pais <strong>de</strong> Rita e Fábio, que <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as palavras da mãe, já passaram por umaseparação, interfere no <strong>de</strong>senvolvimento psíquico e emocional <strong>do</strong>s pacientes.A partir <strong>do</strong> exposto po<strong>de</strong>mos pensar que a família apresenta gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong><strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> seus filhos. As crianças respon<strong>de</strong>m ao ambiente <strong>de</strong> forma insegura. Fábio<strong>de</strong>monstra toda a sua fragilida<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> afirma ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> e apresenta um sentimento<strong>de</strong> exclusão <strong>de</strong> não pertencimento, assim como Rita quan<strong>do</strong> se vê diferenciada <strong>do</strong>s<strong>de</strong>mais membros, ela está viva e busca situações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação com membros fora <strong>de</strong>casa.A família apresenta uma <strong>de</strong>sorganização, uma falta <strong>de</strong> estrutura evi<strong>de</strong>nte; sen<strong>do</strong>a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> se pensar em um trabalho específico com cada membro; não apenas com osque já estão em tratamento, mas também com o filho mais velho e com o pai, para quese possa construir ou reconstruir os laços familiares.Sen<strong>do</strong> assim, po<strong>de</strong>mos concluir que, com base na teoria <strong>de</strong> D. W. <strong>Winnicott</strong>, afamília analisada é falha, o que influencia no <strong>de</strong>senvolvimento psíquico <strong>do</strong>s pacientesatendi<strong>do</strong>s. As crianças, como não possuem a tranquilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um ambiente acolhe<strong>do</strong>r,precisam preocupar-se com esta mãe fragilizada e com o pai morto. As crianças per<strong>de</strong>ma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescer sem se preocupar com o ambiente. Por isso, o processo <strong>de</strong>psicoterapia tenta resgatar um espaço para que as crianças brinquem, joguem, <strong>de</strong>senheme estabeleçam com as terapeutas uma relação <strong>de</strong> reconstituição <strong>do</strong> ser através <strong>de</strong> umambiente facilita<strong>do</strong>r.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>117


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseReferências BibliográficasDE CICCO, M. F., GOMES, I. C. e PAIVA, M. L. S. C. Família e Conjugalida<strong>de</strong>: Osintoma <strong>do</strong>s filhos frente à imaturida<strong>de</strong> <strong>do</strong> casal parental. <strong>Psicologia</strong> Clínica, Rio <strong>de</strong>Janeiro, v. 17, n. 2, p. 53-63, 2005.GOMES, I. C. e PAIVA, M. L. S. C. Casamento e família no século XXI: possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> holding? <strong>Psicologia</strong> em Estu<strong>do</strong>, v. 8, num.esp., p. 3-9, 2003.ORSI, M. J. S. Família: Reflexos da Contemporaneida<strong>de</strong> na Aprendizagem Escolar. IEncontro Paranaense <strong>de</strong> Psicopedagogia. ABPppr, p. 67-74, nov./2003.WINNICOTT, D. W. (1982). A criança e seu mun<strong>do</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>118


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseConsi<strong>de</strong>rações a respeito da transferência na perspectiva winnicottianaAna Lúcia Volpato 51Jorge Luís Ferreira Abrão 52Diana Pancini <strong>de</strong> Sá Antunes Ribeiro 53ResumoEsse trabalho é resulta<strong>do</strong> parcial <strong>de</strong> nossa dissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong>. O objetivo é <strong>de</strong>conceituar a transferência na perspectiva <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>. Utilizamos como meto<strong>do</strong>logia oresgate bibliográfico, enfatizan<strong>do</strong> o conceito <strong>de</strong> objeto subjetivo. Freud percebeu ofenômeno da transferência e a <strong>de</strong>finiu enquanto uma reedição, <strong>de</strong>ntro da sessãoanalítica, <strong>de</strong> relações já vivenciadas, através <strong>de</strong> uma <strong>do</strong> <strong>de</strong>slocamento <strong>do</strong> afeto <strong>de</strong> umarepresentação à figura <strong>do</strong> analista. Comumente a transferência é associada ao conceitofreudiano. No entanto, <strong>Winnicott</strong> amplia essa noção. Para ele, o individuo em análiseestá em busca <strong>de</strong> reparar falhas ambientais ocorridas em seu processo <strong>de</strong>amadurecimento. Assim, está em busca <strong>do</strong> objeto subjetivo. Dentro <strong>de</strong>ssa perspectiva, oanalista <strong>de</strong>ve estar no lugar <strong>do</strong> objeto subjetivamente percebi<strong>do</strong> e se adaptar àsnecessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> paciente para fornecer aquilo que faltou ao paciente. Dessa forma,temos que a transferência po<strong>de</strong> ser uma possibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sujeito realizar o nãoaconteci<strong>do</strong>.Palavras-chave: Transferência; Objeto subjetivo; Amadurecimento.51 Psicóloga formada pela Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Maringá (UEM). Especialização em <strong>Psicologia</strong>Clínica Psicanalítica, pela Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (UEL). Atualmente participa <strong>do</strong> programa<strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> pela Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho (UNESP – Assis). Pesquisasobre a Psicossomática através da teoria winnicottiana. Participa <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão UniversitáriaEnquadres Clínicos <strong>Winnicott</strong>ianos na Saú<strong>de</strong> Pública.52 Possui graduação em <strong>Psicologia</strong> pela Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho (1994),mestra<strong>do</strong> em <strong>Psicologia</strong> e Socieda<strong>de</strong> pela Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho (1999)e <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em <strong>Psicologia</strong> Escolar e <strong>do</strong> Desenvolvimento Humano pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo(2004). Atualmente é professor assistente <strong>do</strong>utor da Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista Júlio <strong>de</strong> MesquitaFilho. Tem experiência na área <strong>de</strong> psicologia, atuan<strong>do</strong> principalmente nos seguintes temas: história eepistemologia da psicanálise, psicanálise <strong>de</strong> crianças e relação mãe-bebê.53 Licenciatura em <strong>Psicologia</strong> pela Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho (1980),Formação <strong>de</strong> Psicólogos pela Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho (1981), Mestra<strong>do</strong>em <strong>Psicologia</strong> Clínica pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (1999) e Doutora<strong>do</strong> em <strong>Psicologia</strong> como Profissãoe Ciência, tese em <strong>Psicologia</strong> Clínica, pela Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Campinas (2008).Atualmente é Professor Assistente Doutor junto ao Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> Clínica na Universida<strong>de</strong>Estadual Paulista Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho. Tem experiência na área <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> com ênfase emPsicanálise. Atua principalmente nos seguintes temas: infância, psicanálise winnicottiana, psicoterapia eenquadres clínicos diferencia<strong>do</strong>s, além <strong>de</strong> pesquisar sobre estresse ocupacional, notadamente emprofissionais da saú<strong>de</strong> pública.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>119


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>120


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseDa gestação ao nascimento: encontros e <strong>de</strong>sencontrosFrom pregnancy to birth: encounters and disencountersAna Paula MarsonAna Carolina MassaroAmanda Bernar<strong>do</strong> GuimarãesElizângela <strong>de</strong> Freitas SilvaJuliana Fiorim da EncarnaçãoResumoO presente trabalho expõe através da pratica <strong>de</strong> estágio realiza<strong>do</strong> em uma maternida<strong>de</strong> eUTI Neonatal uma reflexão sobre o nascimento prematuro e suas implicações para amãe. O nascimento <strong>de</strong> um filho prematuro é muito complica<strong>do</strong>, geralmente após o partoo bebê é encaminha<strong>do</strong> para UTI Neonatal, o que torna esse momento muito difícil e<strong>do</strong>loroso para mãe, principalmente quan<strong>do</strong> não po<strong>de</strong> levar o bebê para a casa após a altahospitalar da mesma. A mãe vivencia as mais diversas emoções: fantasias, me<strong>do</strong>, raiva,tristeza, preocupação, ansieda<strong>de</strong>, angústia, culpa, <strong>de</strong>ntre outras. Durante a gestação compassar <strong>do</strong>s meses, o bebê passa <strong>do</strong> imaginário simbólico da mãe para o real, pois há umcrescimento da barriga e também os movimentos fetais ficam mais intensos, e o bebêcomeça a ser cada vez mais real para mãe. Os nove meses <strong>de</strong> gestação são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>sfundamentais para a organização fisiológica <strong>do</strong> bebê, bem como a organização psíquicada mãe, Ammanniti (apud CUNHA, 2004) afirma que é entre o 4º e 7º mês <strong>de</strong> gestaçãoque as fantasias que a mãe tem em relação ao seu bebê vão aumentan<strong>do</strong> e nos <strong>do</strong>isúltimos meses o ritmo vai se tornan<strong>do</strong> mais lento e a mãe vai aceitan<strong>do</strong> o seu bebê real.<strong>Winnicott</strong> afirma que a mulher precisa <strong>de</strong>senvolver um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> “Preocupação MaternaPrimária”, essa fase é marcada por uma sensibilida<strong>de</strong> aumentada da mãe, fazen<strong>do</strong> comque ela se adapte as primeiras necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> filho, nessa fase, a puérpera se preocupae se i<strong>de</strong>ntifica com seu filho, aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> temporariamente outros interesses, essa fasecomeça a ser <strong>de</strong>senvolvida nos últimos meses <strong>de</strong> gestação e perdura até um tempo apóso nascimento. Quan<strong>do</strong> o nascimento é prematuro, a mãe ainda está fixada no bebêimaginário, por isso, algumas vezes, é difícil a sincronização <strong>de</strong>ssa mãe com seu bebêreal, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> também ainda não ter <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> “Preocupação MaternaPrimária”.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>121


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanálisePalavras-chaves: Gestação, Prematurida<strong>de</strong> e Sofrimento Psíquico.AbstractThis paper exposes through practice internship conducted in a maternity and NICUreflection on preterm birth and its implications for the mother. The birth of a prematurechild is very complicated, usually after <strong>de</strong>livery the baby is taken to the NICU, whichmakes this time very difficult and painful for the mother, especially when you cannottake the baby home from the hospital discharge same. The mother experiences manydifferent emotions: fantasies, fear, anger, sadness, worry, anxiety, guilt, and others.During pregnancy and months passed, the baby passes the symbolic imagery of themother for real, because there is a growing belly and also fetal movements are moreintense, the baby begins to be increasingly real mother. The nine months of pregnancyare consi<strong>de</strong>red fundamental to the physiological organization of the baby as well as theorganization's psychic mother, Ammanniti (apud CUNHA, 2004) states that it isbetween the 4th and 7th month of pregnancy that the fantasies that the mother has inrelation to your baby are growing and in the last two months the pace becomes slowerand the mother will accept their real baby. <strong>Winnicott</strong> says that women need to <strong>de</strong>velop astate of "Primary Maternal Preoccupation", this phase is marked by an increasedsensitivity of the mother, making her the first suits needs of the child at that stage, topostpartum care and i<strong>de</strong>ntifies with his son, temporarily aban<strong>do</strong>ning other interests, thisphase begins to be <strong>de</strong>veloped in the last months of pregnancy and lasts until some timeafter birth. When the birth is premature, the mother is still set in imaginary baby, sosometimes it's hard to sync this mother with her real baby, and may also have not yet<strong>de</strong>veloped the status of “Primary Maternal Preoccupation”.Keywords: Pregnancy, Prematurity and Psychic Suffering.Maternida<strong>de</strong>: a espera <strong>de</strong> um sonho?A maternida<strong>de</strong> é um ambiente rico em aprendizagem para o psicólogo, po<strong>de</strong>-seobservar que a vinda <strong>de</strong> um filho, todas as fantasias geradas durante a espera <strong>de</strong>ste etambém os me<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>sejos advin<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sta nova experiência, proporciona para opsicólogo particularida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> trabalho analítico.Neste contexto especifico, é possível observar que o perío<strong>do</strong> da gestaçãoproporciona à mulher a vivência e revivência <strong>de</strong> experiências, assim como afirma SternUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>122


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise(1997) “A gestação traz a tona aspectos <strong>do</strong> complexo <strong>de</strong> Édipo da mulher que ficaramno passa<strong>do</strong>, mas que são revivi<strong>do</strong>s com toda intensida<strong>de</strong> neste momento.” (p. 08)É importante ressaltar que o perío<strong>do</strong> da gestação caracteriza-se como uma etapa<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> transformação, física e psíquica, tanto para a mulher quanto para o bebê.Durante a espera <strong>do</strong> filho, a futura mãe irá fazer uma reorganização da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>forma que, a mulher agora não será apenas filha e/ou esposa, mas também se tornaramãe.Esta nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> tem um gran<strong>de</strong> peso social e, este recai sobre a futura mãesen<strong>do</strong> o gera<strong>do</strong>r <strong>de</strong> muitas dúvidas, como por exemplo, se terá capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidarfísica e psiquicamente <strong>do</strong> bebê, e também a preocupação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar-se com este filhoque ira nascer. To<strong>do</strong>s estes receios são inconscientes, mas, revolucionam os sentimentosda futura mãe.Observa-se também que além <strong>de</strong>stes receios e fantasias, é comum que asgestantes nutram pensamentos em torno <strong>do</strong> me<strong>do</strong> diante da possibilida<strong>de</strong> daprematurida<strong>de</strong> e/ou malformação, bem como que o bebê nasça morto ou que não seja obebê i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong>. Po<strong>de</strong>-se observar que o papel <strong>do</strong> psicólogo é escutar os anseiosmaternos para assim po<strong>de</strong>r proporcionar á gestante uma gradativa elaboração <strong>de</strong>stesconflitos.Como exemplo <strong>do</strong> que foi <strong>de</strong>scrito acima, vejamos o caso <strong>de</strong> uma gestante E.A.P36 anos, primeira gestação, diagnóstico <strong>de</strong> miomatose uterina. A gestante relata seusme<strong>do</strong>s diante da possibilida<strong>de</strong> da malformação fetal, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos micromiomas presentesem seu útero, dizen<strong>do</strong>: “quero ver se ele tem algum problema físico, se os miomasfizeram alguma coisa com ele” (sic). Tais fantasias tem origem a partir das explicaçõesmédicas, que haviam lhe explica<strong>do</strong> que o mioma “suga” o útero, dificultan<strong>do</strong> assim ocrescimento normal <strong>do</strong> útero necessário para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> bebê, a mesmaimaginava “o que os miomas estão fazen<strong>do</strong> com meu menino” (sic).Essa paciente contava que nas primeiras ultrassonografias não conseguia ver obebê, visualizan<strong>do</strong> apenas os miomas, mas ao longo da gestação foi possível ver o bebêe já quase no final da gestação ela dizia que ele estava na frente <strong>do</strong>s miomas e ficavamuito feliz, ressaltan<strong>do</strong> “meu menino é muito valente, está conquistan<strong>do</strong> o seu espaçono útero, tá mostran<strong>do</strong> para os miomas que quem manda ali é ele” (sic). Caron (p. 124)afirma “a capacida<strong>de</strong> procria<strong>do</strong>ra dá à mulher um sentimento <strong>de</strong> força, po<strong>de</strong>r e posse e ocontrole sobre a vida e a morte <strong>de</strong> um ser cuja existência <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> estreitamente <strong>de</strong>la.”Vemos então que a gestação traz para a mulher um sentimento <strong>de</strong> “po<strong>de</strong>r” diante àUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>123


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisesocieda<strong>de</strong>. Em termos psicanalíticos, a gravi<strong>de</strong>z é o falo, muito <strong>de</strong>seja<strong>do</strong> quan<strong>do</strong>criança, e que agora traz sensações <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong>.O perío<strong>do</strong> gestacional também traz a tona aspectos narcísico, que po<strong>de</strong>m serobserva<strong>do</strong>s na i<strong>de</strong>alização da futura mãe sobre: como serão os aspectos físicos, ascaracterísticas da personalida<strong>de</strong> e, se o bebê se parecerá com a figura materna oupaterna. Dessa maneira, sobre o narcisismo Freud (apud FELICE, 2000) também temsua contribuição em relação à maternida<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> afirma que:[...] o narcisismo primário <strong>do</strong>s pais, já aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, é revivi<strong>do</strong> ereproduzi<strong>do</strong> em seu amor ao filho. A atitu<strong>de</strong> emocional <strong>do</strong>s pais será<strong>do</strong>minada pela supervalorização, o que revela o caráter narcísico <strong>de</strong>steafeto, sen<strong>do</strong> ao filho atribuídas todas/ as perfeições e ocultadas todasas suas <strong>de</strong>ficiências. A criança concretizará os sonhos que os pais nãorealizaram e terá os privilégios que eles não tiveram. (p. 20).A concretu<strong>de</strong> <strong>do</strong> filho se dá com o passar <strong>do</strong>s meses, com o crescimento dabarriga, e com o início <strong>do</strong>s movimentos fetais, o bebê começa a ser cada vez mais realpara mãe, passan<strong>do</strong> <strong>do</strong> simbólico para o real. Os nove meses <strong>de</strong> gestação sãoconsi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s fundamentais para a organização fisiológica <strong>do</strong> bebê, bem como aorganização psíquica da mãe.Com isso após o nascimento, muitas vezes esta mãe precisará suportar a feridanarcísica <strong>de</strong> possuir um filho que não era o seu i<strong>de</strong>al. Isso po<strong>de</strong> acontecer porquedurante a gestação a mãe tem uma imagem fantasiosa <strong>de</strong> seu filho, ou seja, ela pensa emseu “bebê imaginário”, após o parto ela precisa lidar com o “bebê real”, o que po<strong>de</strong>acontecer como uma <strong>de</strong>cepção para a mãe.Isso ocorre pela distância que existe entre o “bebê real” e o “bebê imaginário”,no entanto, apesar <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>cepção, o contato da mãe com seu filho na maioria das vezestrará um sentimento <strong>de</strong> alívio diante <strong>de</strong> um bebê saudável, já que durante a gravi<strong>de</strong>zexistem fantasias <strong>de</strong> estar geran<strong>do</strong> um bebê malforma<strong>do</strong>.Entretanto, ver que o bebê nasceu “saudável” proporciona um sentimento <strong>de</strong>alívio e tranquilida<strong>de</strong> na puérpera, já nas mães que tiveram uma gestação <strong>de</strong> “alto risco”frequentemente os bebês nascem prematuros e com baixo peso, o que gera na mãe muitaansieda<strong>de</strong>, tal como dito por Carvalho (2006):Nesse contexto, o nascimento <strong>de</strong> um bebê <strong>do</strong>ente ou prematuro é umevento <strong>de</strong> proporções catastróficas, cujo impacto faz-se sentir não sóna vida <strong>do</strong>s pais, como também em to<strong>do</strong> seio familiar. E o impacto éUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>124


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisetão maior quanto mais distante for o bebê real <strong>do</strong> imagina<strong>do</strong> pela mãe.(p. 9).Durante o perío<strong>do</strong> puerperal, segun<strong>do</strong> <strong>Winnicott</strong>, é importante que a mulher<strong>de</strong>senvolva a “Preocupação Materna Primária”, essa fase é marcada por umasensibilida<strong>de</strong> aumentada da mãe, fazen<strong>do</strong> com que ela se adapte as primeirasnecessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> filho, nessa fase, a puérpera se preocupa e se i<strong>de</strong>ntifica com seu filho,aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> temporariamente outros interesses (WINNICOTT, 1956).Através da consignação <strong>de</strong>sta “Preocupação Materna Primária”, a mãeproporcionará o estabelecimento <strong>de</strong> vínculos afetivos <strong>de</strong>la para com o bebê e <strong>do</strong> bebêpara com ela, inserin<strong>do</strong> o bebê no mun<strong>do</strong>. Sen<strong>do</strong> assim, i<strong>de</strong>ntificar-se com o filho é umfator fundamental para o bom <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste.Devi<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s estes aspectos cita<strong>do</strong>s e observa<strong>do</strong>s durante a prática, a escutarealizada neste contexto nos possibilitou a percepção <strong>de</strong> como a relação que a gestanteteve com sua mãe na infância influencia nas fantasias <strong>de</strong>ste perío<strong>do</strong>. Desta forma emalguns casos, á <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r das condições psíquicas da mãe e <strong>de</strong> sua relação com a própriamãe, o investimento no bebê po<strong>de</strong> ser afeta<strong>do</strong>.Portanto, a atitu<strong>de</strong> da mãe para com seus filhos baseia-se em suasprimitivas relações objetais. Segun<strong>do</strong> o sexo <strong>do</strong> bebê, a mãe repetirá,em maior ou menor grau, as relações afetivas da primeira infância queteve com o pai, os tios e irmãos, ou com a mãe, as tias e irmãs.(FELICE, 2000, p. 21).Com a situação <strong>de</strong> hospitalização, a angústia das gestantes diante da privação <strong>de</strong>liberda<strong>de</strong> e da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar ativida<strong>de</strong>s antes consi<strong>de</strong>radas rotineirasassim, reduzin<strong>do</strong> a autonomia <strong>de</strong>sta, pu<strong>de</strong>ram ser facilmente verificadas durante aescuta analítica.No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s atendimentos também pô<strong>de</strong> ser observa<strong>do</strong> que a gestantehospitalizada, fica impedida <strong>de</strong> cuidar <strong>do</strong>s outros filhos e isso lhe causa muitapreocupação e angústia, além disso, muitas vezes esta não realiza os preparativosexternos para a chegada <strong>do</strong> bebê - como preparação <strong>do</strong> quarto, enxoval, chá <strong>de</strong> bebê.Exemplifican<strong>do</strong> esta situação uma gestante verbalizou em atendimento que apesar <strong>de</strong>alguns itens já estarem prepara<strong>do</strong>s para a chegada <strong>do</strong> bebê, para ela ainda faltava algunsitens importantes a serem provi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong>s, que a seu ver <strong>de</strong>veriam ser organiza<strong>do</strong>s pelaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>125


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisemesma, mas precisou ser internada, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a esta situação <strong>de</strong>signou esta tarefa á suamãe e irmã, a contra gosto.É necessário que a gestante hospitalizada receba; se assim ela <strong>de</strong>sejar,atendimento psicológico, com o objetivo <strong>de</strong> trabalhar suas angústias, me<strong>do</strong>s, etc,vivencia<strong>do</strong>s durante sua hospitalização e com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> parto prematuro; após oparto, caso tenha necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu bebê ir para a UTI neonatal o trabalho <strong>do</strong> psicólogohospitalar continuará sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>.Um nascer diferente: a UTI neonatalA gestação e a passagem <strong>do</strong> bebê imagina<strong>do</strong> para o bebê real ten<strong>de</strong>m aser interrompidas por uma realida<strong>de</strong> em que ‘o bebê i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> dagravi<strong>de</strong>z não correspon<strong>de</strong> em nada ao bebê da incuba<strong>do</strong>ra’(DRUON,op.cit., p. 37). (p.193).É consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> prematuro to<strong>do</strong> bebê que nasce antes <strong>de</strong> 37 semanas completas <strong>de</strong>gestação, pois nesta etapa da ida<strong>de</strong> gestacional os órgãos e to<strong>do</strong> sistema <strong>do</strong>s bebês aindanão estão maduros ou forma<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> assim quanto menor for o número <strong>de</strong> semanasgestacionais maior é o risco <strong>de</strong> vida fora <strong>do</strong> útero para o neonato.Vejamos <strong>de</strong>sta forma: <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> útero, quem faz as trocas gasosas e proporcionao oxigênio para o bebê é a placenta; já <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong> fora, o responsável por esta função é opróprio pulmão <strong>do</strong> bebê, estes, por sua vez, estavam cheios <strong>de</strong> líqui<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> útero;fora <strong>do</strong> ambiente uterino, enche-se <strong>de</strong> ar para po<strong>de</strong>r levar o oxigênio até o sangue.Todas estas e outras adaptações irão ocorrer para to<strong>do</strong>s os recém-nasci<strong>do</strong>s, porém osbebês prematuros <strong>de</strong>mandam <strong>de</strong> um tempo maior e contam com o auxilio <strong>de</strong> aparatostécnicos.Este nascer diferente é muito complica<strong>do</strong>. Após o parto, geralmente nestes casosatravés <strong>de</strong> cesariana, quan<strong>do</strong> há risco <strong>de</strong> complicação gestacional tanto para mãe quantopara o bebê, este é encaminha<strong>do</strong> <strong>de</strong> imediato para uma Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> TratamentoIntensivo Neonatal (UTIN). Este momento é extremamente difícil e <strong>do</strong>loroso para amãe, principalmente quan<strong>do</strong> não se po<strong>de</strong> levar o bebê para a casa após a alta hospitalarda mesma. A mãe vivencia as mais diversas emoções: fantasias, me<strong>do</strong>, raiva, tristeza,preocupação, ansieda<strong>de</strong>, angústia, culpa, <strong>de</strong>ntre outras.Dentro <strong>de</strong> uma UTI Neonatal encontramos uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aparelhos,ruí<strong>do</strong>s <strong>de</strong> alarmes e apressa<strong>do</strong>s profissionais que fazem uso <strong>de</strong> palavras estranhas eUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>126


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise<strong>de</strong>sconhecidas para os pais. No meio disto encontramos famílias angustiadas eassustadas, po<strong>de</strong>mos então perceber que algumas <strong>de</strong>stas conseguem <strong>de</strong>positar e investirtoda a sua energia psíquica na recuperação <strong>de</strong> seu bebê, enquanto algumas <strong>de</strong>monstrammaior dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> vinculação e i<strong>de</strong>ntificação com o bebê real já que este nãocorrespon<strong>de</strong> ao bebê imaginário, Ammanniti (apud CUNHA, 2004) afirma que “se onascimento ocorre antes <strong>do</strong> tempo, ela estaria ainda fixada no bebê imaginário,reforçan<strong>do</strong> a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> sincronizar-se com o real. Trata-se, portanto, <strong>de</strong> umasituação <strong>de</strong> dupla prematurida<strong>de</strong>.” (p. 220).A elaboração da perda <strong>de</strong>ste bebê imaginário para a aceitação <strong>do</strong> bebê real é umprocesso lento e gradual. O perío<strong>do</strong> pós-parto, ou perío<strong>do</strong> puerperal, é <strong>de</strong>scrito porSoifer (1986, p. 63) como uma etapa <strong>de</strong> “<strong>de</strong>limitação entre o perdi<strong>do</strong> – a gravi<strong>de</strong>z – e oadquiri<strong>do</strong> – o filho. Também <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação entre <strong>de</strong>vaneio, fantasia inconsciente erealida<strong>de</strong>”.Deste mo<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>mos observar que o parto assume um significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> umaseparação entre <strong>do</strong>is seres que até então viviam juntos, sen<strong>do</strong> assim <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> àhospitalização prolongada <strong>do</strong> bebê, a relação da dupla mãe-bebê é interrompida, écomum no discurso <strong>de</strong> algumas mães a sensação <strong>de</strong> incompletu<strong>de</strong>, <strong>de</strong> serem tomadaspelo sentimento <strong>de</strong> ainda não terem se torna<strong>do</strong> mães e ao retornarem to<strong>do</strong>s os dias parasuas casas esta angustia se intensifica, pois ao olharem para o berço tem a sensação <strong>de</strong>que o “ninho está vazio”, assim para as mães, segun<strong>do</strong> Cunha (2004, p. 219), “oreconhecimento social da maternida<strong>de</strong> lhe é nega<strong>do</strong>. Deve, isso sim, elaborar ossentimentos <strong>de</strong> duplo aban<strong>do</strong>no: o <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> o bebê sair <strong>do</strong> ventre antes <strong>do</strong> tempo elogo <strong>de</strong>ixá-lo no hospital”.Ao longo <strong>de</strong>ste processo, as mães vivem um intenso sentimento <strong>de</strong> culpa emrelação à condição clínica <strong>de</strong> seus bebês, está culpa po<strong>de</strong> perdurar por alguns meses atéque elas consigam elaborar e assumir enfim seu papel <strong>de</strong> mãe.Observa-se que um bebê prematuro não consegue respon<strong>de</strong>r a estímulos (visuais,sonoros, tátil...) tão rápi<strong>do</strong> quanto um bebê nasci<strong>do</strong> em tempo normal, é extremamentegratificante para as mães quan<strong>do</strong> seu bebê respon<strong>de</strong> a um estímulo realiza<strong>do</strong> por elas,portanto, quan<strong>do</strong> o seu bebê não respon<strong>de</strong> ou <strong>de</strong>mora a respon<strong>de</strong>r ao seu toque, porexemplo, isto traz um sofrimento intenso provocan<strong>do</strong> angústia e ansieda<strong>de</strong>.Mathelin (apud BRAGA e MORSH, 2006) afirma que, “como sentir-se mãe<strong>de</strong>sse bebê que não dá sinal, que não mama no seio, que não olha, que não sen<strong>do</strong> emmomento algum tranquilizante, não fabrica mãe?” (p. 52). Assim, como po<strong>de</strong> serUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>127


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseobserva<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> ambiente da UTI Neo, a mulher geralmente se apropria <strong>do</strong>sentimento <strong>de</strong> ser mãe, após ser possibilita<strong>do</strong> pela equipe o espaço para que esta,mesmo em quadros clínicos graves, realize pequenos cuida<strong>do</strong>s, ou seja, proporciona<strong>do</strong>para dupla mãe-bebê o méto<strong>do</strong> canguru.Os outros personagens: a equipePo<strong>de</strong> parecer fácil para uma equipe <strong>de</strong> UTI Neonatal lidar com bebês prematurosto<strong>do</strong>s os dias, estes acompanham integralmente to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> internação eevolução <strong>do</strong> diagnóstico <strong>do</strong> neonato até a alta hospitalar ou, em alguns casos maisgraves, ate o óbito. Entretanto, estes profissionais sofrem juntamente com os pais asperdas e compartilham os ganhos que está unida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> trazer em apenas alguns diasou meses <strong>de</strong> internação. Cada progresso <strong>do</strong> bebê é senti<strong>do</strong> com alegria e ar<strong>do</strong>r; cadadano é senti<strong>do</strong> com tristeza e pesar.Assim a equipe multidisciplinar compartilha os mesmos sentimentos epensamentos que atravessam a mente da família: me<strong>do</strong>, ansieda<strong>de</strong>, preocupação, raiva,tristeza, culpa, entre outros. A equipe <strong>de</strong> enfermagem e os auxiliares <strong>de</strong> enfermagem sãoos profissionais que ficam a maior parte <strong>do</strong> tempo com os bebês, pois eles trabalham emvários turnos e também plantões. Durante a troca <strong>de</strong> plantão, existem instruçõesespecíficas em diferentes serviços, neste momento os pais ficam impossibilita<strong>do</strong>s <strong>de</strong>entrarem na unida<strong>de</strong>, fato este que é gera<strong>do</strong>r <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s conflitos entre equipe e família.Como po<strong>de</strong>mos ver o trabalho <strong>de</strong>stes profissionais exige além <strong>de</strong> conhecimentostécnicos específicos - em relação à <strong>de</strong>dicação e atenção total a estes bebês-, tambémexige tato e compreensão <strong>de</strong>stes em relação aos pais.Ao observar este relacionamento entre pais e equipe presentes na UTI Neo,alguns pontos foram visualiza<strong>do</strong>s tais como a questão da frustração e da culpa que surgequan<strong>do</strong> o quadro clínico <strong>do</strong> bebê piora; neste momento a equipe por me<strong>do</strong> <strong>de</strong> seremreprova<strong>do</strong>s e/ou julga<strong>do</strong>s como profissionais, às vezes omitem algumas informações aospais. Bem como, o fato <strong>de</strong> alguns membros da equipe assumirem a responsabilida<strong>de</strong> quelhe é <strong>de</strong>signada <strong>de</strong> tal maneira que as mesmas se apropriam <strong>do</strong>s bebês sentin<strong>do</strong>-se mãe<strong>de</strong>ste, não permitin<strong>do</strong> que a verda<strong>de</strong>ira mãe realize cuida<strong>do</strong>s básicos como dar banho etrocar as fraldas, mesmo que o bebê e a mãe tenham condições para a realização <strong>de</strong>stasfunções. Vemos que a realização <strong>do</strong>s pequenos cuida<strong>do</strong>s em seus bebês, para as mães,são <strong>de</strong> suma importância, pois possibilita a vinculação entre mãe-bebê.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>128


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseUm último ponto a ser coloca<strong>do</strong> em evidência, é o fato <strong>do</strong>s questionamentos dafamília entorno da atuação profissional da equipe, este fato <strong>de</strong>sorganiza os profissionaisda unida<strong>de</strong>, a ponto <strong>de</strong>stes diminuírem a atenção dada aos pais, não respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a seusquestionamentos, provocan<strong>do</strong> na mãe mais angústias e fantasias.Referências BibliográficasALMEIDA, M. L. D. V. Grupo criar-te: a criativida<strong>de</strong> em UTI neonatal. In: ARAGÃO,R.O. (org.) O bebê, o corpo e a linguagem. São Paulo: Casa <strong>do</strong> Psicólogo, 2004.BARTILOTTI, M. R. M. B. Obstetrícia e Ginecologia: urgências psicológicas. SãoPaulo: Pioneira, 1998.BRAGA, N. A. e MORSH, D. S. Os primeiros dias na UTI. In: BRAGA, N. A.,MOREIRA, M. E. L e MORSH, D.S (Org.). Quan<strong>do</strong> a vida começa diferente: O bebê esua família na UTI Neonatal. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed. FIOCRUZ, 2006.CARON, N.A. O Ambiente Intra-Uterino e a Relação Materno-Fetal. In: N.A.Caron(Org) A relação pais-bebê: da observação à clínica. São Paulo: Casa <strong>do</strong> Psicólogo,2002.CARVALHO, M. Prefácio. In: BRAGA, N. A., MOREIRA, M. E. L e MORSH, D. S(Org.). Quan<strong>do</strong> a vida começa diferente: O bebê e sua família na UTI Neonatal. Rio <strong>de</strong>Janeiro: Ed. FIOCRUZ, 2006.CUNHA, I. A mãe, o recém-nasci<strong>do</strong> <strong>de</strong> muito baixo peso e a interação: uma novaperspectiva para os cuida<strong>do</strong>res da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tratamento Intensivo Neonatal. In:ARAGÃO, R. O. (org.). O bebê, o corpo e a linguagem. São Paulo: Casa <strong>do</strong> Psicólogo,2004.FELICE, E. M. A Psicodinâmica <strong>do</strong> Puerpério. São Paulo, Editora: Vetor, 2000.SOIFER, R. <strong>Psicologia</strong> da Gravi<strong>de</strong>z, Parto e Puerpério. 4ª Ed. Porto Alegre: ArtesMédicas, 1986.STERN, D. A constelação da maternida<strong>de</strong>: O panorama da psicoterapia pais/bebê.Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1997.WINNICOTT, D. W. A Preocupação Materna Primária In: Da Pediatria à Psicanálise.Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1978.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>129


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseDireito como realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ErosCésar Bessa 54Aldacy CoutinhoResumoDiante <strong>de</strong> um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> tensão é comum o sujeito ter duas cognições para<strong>do</strong>xaisenleadas com a imagem construída com a tendência <strong>de</strong> autoavaliação positiva; mas, aoagir com erro, ele <strong>de</strong>monstra o impulso <strong>de</strong> justificação para evitar quaisquerresponsabilida<strong>de</strong>s pelas ações praticadas. Esta falta <strong>de</strong> questionamentos resulta <strong>de</strong> uminvestimento pessoal que passa a se constituir numa crença muitas vezes irracional:dissonância cognitiva. E isto se coaduna com o funcionamento <strong>do</strong>s processos mentais,no plano primário e no plano secundário. Há forte relação entre princípio <strong>de</strong> prazer e <strong>de</strong>realida<strong>de</strong> com a teoria da dissonância cognitiva. E este mecanismo está presente noinconsciente e pré-consciente <strong>do</strong>s sujeitos da relação contratual <strong>de</strong> emprego, naformação jurídica <strong>do</strong>s institutos seus legais e na sua interpretação e aplicação.Palavras Chaves: dissonância cognitiva, prazer, realida<strong>de</strong>, direito.54 Doutoran<strong>do</strong> da UFPR em Direito e Professor da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>130


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseEi mãe, me <strong>de</strong>ixa ser a<strong>do</strong>lescente!Mayara Barros 55Carla Maria Lima Braga 56ResumoA partir das experiências em atendimentos clínicos com a<strong>do</strong>lescentes, po<strong>de</strong>mos pensarna dificulda<strong>de</strong> que o ambiente apresenta ao lidar com indivíduos que estão nesta etapa<strong>do</strong> amadurecimento, tanto no que se refere aos pais ou mesmo aos analistas. Aa<strong>do</strong>lescência tratada por D. W. <strong>Winnicott</strong>, traz a compreensão <strong>de</strong> que além <strong>de</strong> ser umaquestão <strong>de</strong> amadurecimento, é também um perío<strong>do</strong> em que o jovem necessita <strong>de</strong> seencontrar e isto leva tempo. Esta fase precisa ser vivenciada pelo a<strong>do</strong>lescente em meioàs inúmeras mudanças físicas e psíquicas que ocorrem e o ambiente <strong>de</strong>ve oferecer umespaço no qual este a<strong>do</strong>lescente possa também <strong>de</strong>safiá-lo. Os adultos que não tiveram aexperiência <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescer <strong>de</strong> forma satisfatória ficam externamente assusta<strong>do</strong>s, e umadas soluções é não permitir que o a<strong>do</strong>lescente vivencie a sua a imaturida<strong>de</strong>. Estetrabalho apresentará um caso clínico, nos quais permitirá pensar característicasimportantes que envolvem a a<strong>do</strong>lescência, sob o olhar <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>, e refletir aparticipação efetiva <strong>do</strong> ambiente, como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> facilitar ou não oamadurecimento <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes.Palavras-chave: A<strong>do</strong>lescência; Amadurecimento.55 Psicóloga. Aluna <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação em Clínica Psicanalítica/UEL.56 Profa. Dra. <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.Docente da graduação em <strong>Psicologia</strong>, Especialização em <strong>Psicologia</strong> Clínica Psicanalítica/UEL.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>131


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise“Espelho, espelho meu, existe mulher mais <strong>do</strong>ente <strong>do</strong> que eu?”: Quan<strong>do</strong> Narcisatem um filho com <strong>de</strong>ficiência visualBruno Aurélio da Silva Finoto 57ResumoO presente trabalho busca enten<strong>de</strong>r e analisar o papel da função especular, <strong>de</strong>scrita por<strong>Winnicott</strong>, no <strong>de</strong>senvolvimento emocional <strong>do</strong> indivíduo, utilizan<strong>do</strong> como exemplo, umcaso atendi<strong>do</strong> pelo psicólogo na instituição <strong>de</strong> ensino em que trabalha. <strong>Winnicott</strong>, emsua teoria, enten<strong>de</strong> por função especular aquela em que a mãe é espelho para seu bebê,ou, em outras palavras, quan<strong>do</strong> o bebê, ao olhar para a mãe, se vê enquanto self. O casorelata<strong>do</strong> é <strong>de</strong> uma mãe que falhou nessa função, pois ao invés <strong>de</strong> ser o espelho para ofilho, este se tornou espelho para ela. Nesse senti<strong>do</strong>, há inexistência <strong>de</strong>sse filhoenquanto ser real, pois essa mãe não proporciona um ambiente facilita<strong>do</strong>r, somente umambiente <strong>do</strong>ente, tal como ela. Além disso, o presente trabalho ainda busca explanar otrabalho realiza<strong>do</strong> com a mãe e com o filho e os possíveis caminhos a serem percorri<strong>do</strong>sdurante o processo.Palavras-chave: Função Especular - <strong>Winnicott</strong>; Psicopatologia – Psicoses; Pessoa comDeficiência e Desenvolvimento Emocional57 Psicólogo, forma<strong>do</strong> pela Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, atua na área <strong>de</strong> Educação, com ênfase emEducação Especial. Atualmente, participa <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>, ministra<strong>do</strong> pela Profª Dra.Carla Maria Braga na Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Interessa<strong>do</strong> nos temas: Psicanálise e Educação,Psicanálise e Desenvolvimento Emocional, Psicanálise e Cultura.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>132


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseFalso Self: A <strong>de</strong>fesa contra o verda<strong>de</strong>iro self a partir <strong>do</strong> referencial winnicottianoFalse Self: The <strong>de</strong>fense against the true self based on the winnicottian’s referencesCarla Maria Lima Braga 58Flávia Angelo Verceze 59 Se os adultos abdicam, os a<strong>do</strong>lescentes tornam-se adultosprematuramente, mas através <strong>de</strong> um processo falso. (WINNICOTT,1989, p. 158)ResumoDonald W. <strong>Winnicott</strong> consi<strong>de</strong>rou o ambiente como fator primordial para o<strong>de</strong>senvolvimento saudável e para a continuação <strong>do</strong> ser em todas as etapas da vida. Naa<strong>do</strong>lescência ele <strong>de</strong>staca que o ambiente <strong>de</strong>ve sobreviver aos ataques <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente,que apresenta como características a imaturida<strong>de</strong>. Pois se este é força<strong>do</strong> à maturida<strong>de</strong>precoce, ele o faz por meio <strong>de</strong> um processo falso, chegan<strong>do</strong> a um falso-self. O presentetrabalho tem como objetivo <strong>de</strong>monstrar através <strong>de</strong> um caso clínico um amadurecimentoprecoce e suas implicações no psíquico da paciente. Foi realiza<strong>do</strong> atendimentoindividual com uma paciente <strong>de</strong> 16 anos. Tal amadurecimento precoce levou a ter seuprocesso <strong>de</strong> procura <strong>de</strong> si mesmo interrompi<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong> a constituição <strong>de</strong> um falso self,que ocasiona uma falta <strong>de</strong> reconhecimento <strong>do</strong> que ela mesma é.Palavras-chaves: Amadurecimento, falso self, a<strong>do</strong>lescência.AbstractDonald W. <strong>Winnicott</strong> consi<strong>de</strong>red the environment as a key factor for healthy<strong>de</strong>velopment and to be continued in all stages of life. In a<strong>do</strong>lescence he emphasizes thatthe environment must survive the onslaught of teenage-like, features immaturity. For ifit is forced to mature early, he <strong>do</strong>es so through a process false, reaching a false self. Thispaper aims to <strong>de</strong>monstrate through a case a maturing early and its implications on themental patient. We conducted individual sessions with a patient 16. This led to early58 Psicóloga Clínica. Doutora pela PUCCamp, Mestre em Educação pela UEL. Docente <strong>do</strong> Departamento<strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Projeto “A Clínica<strong>Winnicott</strong>iana: um estu<strong>do</strong> sobre a Teoria <strong>do</strong> Amadurecimento Pessoal e o Manejo Clínico” <strong>do</strong>Departamento <strong>de</strong> Psicanálise da UEL.59 Flávia Angelo Verceze. Graduanda <strong>de</strong> psicologia na Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Estagiária <strong>do</strong>Projeto “A Clínica <strong>Winnicott</strong>iana: um estu<strong>do</strong> sobre a Teoria <strong>do</strong> Amadurecimento Pessoal e o ManejoClínico” <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Psicanálise da UEL.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>133


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseripening have your process of finding himself interrupted, leading to formation of afalse self, which causes a lack of recognition of what she is.Key- words: Aging, false self, a<strong>do</strong>lescence.Donald W. <strong>Winnicott</strong> foi médico pediatra e psicanalista que se preocupou com o<strong>de</strong>senvolvimento humano, principalmente, na fase inicial da vida. Consi<strong>de</strong>rou oambiente como fator primordial para o <strong>de</strong>senvolvimento saudável. Ambiente para oautor se referia às condições psicológicas ou emocionais e/ou físicas ou concretas, comoa presença real <strong>de</strong> pessoas necessárias ao amadurecimento emocional <strong>do</strong> bebê.(ARAÚJO, 2005). Desta forma o autor se refere ao ambiente, como além <strong>de</strong> necessário,<strong>de</strong>ve ser suficientemente bom para levar o indivíduo ao amadurecimento. Araujo (2005,apud BRAGA, 2012) <strong>de</strong>staca que para que esse ambiente seja assim consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> ele<strong>de</strong>ve ser um processo dinâmico, ou seja, <strong>de</strong>ve-se adaptar às necessida<strong>de</strong>s mutáveis dacriança à medida que esta amadurece. Inicialmente esse ambiente é a mãe, que tempapel vital tanto para a sobrevivência <strong>do</strong> bebê quanto para seu amadurecimentoemocional, que nesta fase <strong>de</strong>ve se adaptar as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> bebê, lhe conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong>certa medida <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>dignida<strong>de</strong>. De acor<strong>do</strong> com <strong>Winnicott</strong> (1975) “On<strong>de</strong> há confiança efi<strong>de</strong>dignida<strong>de</strong> há também um espaço potencial, espaço que po<strong>de</strong> tornar-se uma áreainfinita <strong>de</strong> separação, e o bebê, a criança, o a<strong>do</strong>lescente e o adulto po<strong>de</strong>m preenchê-lacriativamente com o brincar” (p.150).Todavia, <strong>Winnicott</strong> também <strong>de</strong>staca a importância <strong>do</strong> ambiente para acontinuação <strong>do</strong> ser, ou seja, em outras etapas da vida. Assim estu<strong>do</strong>u e escreveu temasrelaciona<strong>do</strong>s à a<strong>do</strong>lescência, que trazem como marca uma originalida<strong>de</strong>, pois apresentacaracterísticas novas como sen<strong>do</strong> essenciais da a<strong>do</strong>lescência.Para este autor, a fase da a<strong>do</strong>lescência está ligada a questões <strong>de</strong> sua existência nomun<strong>do</strong>, isto é, é nesta que o a<strong>do</strong>lescente está à procura <strong>de</strong> si mesmo, apresentan<strong>do</strong>necessida<strong>de</strong>s essenciais <strong>do</strong> ambiente que o cerca. Pois crescer não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas <strong>de</strong>tendências herdadas, mas também <strong>de</strong> um entrelaçamento complexo com o ambientefacilita<strong>do</strong>r. Assim para <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>ve-se esperar “problemas” nesta fase, pois crescer éum ato agressivo, existe na a<strong>do</strong>lescência a fantasia <strong>do</strong> assassinato, crescer significatomar o lugar <strong>do</strong>s pais. Por conseguinte os pais enquanto ambiente nada po<strong>de</strong>m fazeralém <strong>de</strong> sobreviver a esta fase <strong>do</strong>s filhos, aos ataques da juventu<strong>de</strong> e ás suas fantasiasinconscientes referentes ao assassinato, o que com certeza <strong>de</strong>ixa uma situação difícil,mas que também o é para os próprios a<strong>do</strong>lescentes. (WINNICOTT, 1975).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>134


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseTal aspecto <strong>de</strong>sta fase nos conduz a principal característica <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente: Aimaturida<strong>de</strong>, elemento essencial da saú<strong>de</strong> durante a a<strong>do</strong>lescência, pois ela contém ascaracterísticas <strong>do</strong> pensamento criativo, <strong>de</strong> sentimentos novos e <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>s, i<strong>de</strong>iaspara um mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida diferente. Porém não se po<strong>de</strong> esperar que o a<strong>do</strong>lescente estejaconsciente <strong>de</strong> sua própria imaturida<strong>de</strong>, nem é necessário. O importante é que os <strong>de</strong>safiosda a<strong>do</strong>lescência sejam enfrenta<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> a mudança sexual apenas um <strong>de</strong>les. Amaturida<strong>de</strong> sexual não é alcançada na relação sexual ou em uma gravi<strong>de</strong>z, ela <strong>de</strong>veincluir toda fantasia sexual inconsciente, que o indivíduo precisa ser capaz <strong>de</strong> aceitar.Assim gastam-se anos para o <strong>de</strong>senvolvimento, no indivíduo, da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>scobrir no self o equilíbrio. <strong>Winnicott</strong> se refere a esta maturida<strong>de</strong> sexual inconscientequan<strong>do</strong> afirma:Às vezes se assume que meninos e meninas que, como se diz, “pulam<strong>de</strong> cama em cama” e que mantém relações sexuais (e talvez tenham umagravi<strong>de</strong>z ou duas) alcançaram a maturida<strong>de</strong> sexual. Eles mesmos sabemque isso não é verda<strong>de</strong>, e começam a <strong>de</strong>sprezar o sexo como tal. É fácil<strong>de</strong>mais. (WINNICOTT, 1989)Assim <strong>Winnicott</strong> se refere a esta fase como uma que <strong>de</strong>ve efetivamente servivida em seu tempo certo, ou seja, seus processos não po<strong>de</strong>m nem ser atrasa<strong>do</strong>s nemadianta<strong>do</strong>s. A imaturida<strong>de</strong> é parte preciosa da a<strong>do</strong>lescência, sen<strong>do</strong> sua “cura” apenas apassagem <strong>do</strong> tempo e o crescimento para a maturida<strong>de</strong>. Se os adultos abdicam, osa<strong>do</strong>lescentes tornam-se adultos prematuramente, e o fazem através <strong>de</strong> um processofalso. O ambiente, os pais, não po<strong>de</strong>m fazer muita coisa, o melhor que tem a fazer ésobreviver. A imaturida<strong>de</strong> constitui uma proprieda<strong>de</strong> que tem que ser perdida por cadaindivíduo, quan<strong>do</strong> a maturida<strong>de</strong> é alcançada. Não se <strong>de</strong>vem adiantar etapas levan<strong>do</strong> amaturida<strong>de</strong> falsa através da transferência <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s que não sãocaracterísticas da a<strong>do</strong>lescência. <strong>Winnicott</strong> nos mostra tal importância quan<strong>do</strong> fala: “[...]A partir <strong>do</strong> ser, vem o fazer, mas não po<strong>de</strong> ter o haver o fazer antes <strong>do</strong> ser- eis amensagem que os a<strong>do</strong>lescentes nos ensinam” <strong>Winnicott</strong>, (1989 apud BRAGA, 2012).Quan<strong>do</strong> o a<strong>do</strong>lescente se torna adulto antes da hora, ele envelhece <strong>de</strong> maneiraprematura, per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o impulso criativo, a espontaneida<strong>de</strong> e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> brincar, elese torna um a<strong>do</strong>lescente que vence ce<strong>do</strong> <strong>de</strong>mais, fican<strong>do</strong> a espera <strong>de</strong> ser morto(BRAGA, 2012). A responsabilida<strong>de</strong> tem <strong>de</strong> ser assumida pelas figuras parentais, seestas abdicam então os a<strong>do</strong>lescentes têm <strong>de</strong> passar para uma falsa maturida<strong>de</strong> e per<strong>de</strong>rUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>135


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisesua maior vantagem: a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter i<strong>de</strong>ias e <strong>de</strong> agir segun<strong>do</strong> o impulso.(WINNICOTT, 1989).Per<strong>de</strong>r o impulso criativo e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> brincar segun<strong>do</strong> a teoria <strong>de</strong><strong>Winnicott</strong> é per<strong>de</strong>r a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver, criativida<strong>de</strong> é o fazer que, gera<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> ser,indica que aquele que é está vivo. Para ele a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> brincar é igualada a umaqualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> viver, não apenas a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> brincar propriamente dita, mas acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> operar na área intermediária sem limites, em que a realida<strong>de</strong> interna eexterna se compõe na experiência <strong>de</strong> viver, operar na área chamada por <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>Transicional, ou seja, na área intermediária entre a experiência exterior e a interior, área<strong>de</strong> conforto, que proporciona ao indivíduo a saú<strong>de</strong> e a felicida<strong>de</strong>.Para o autor o indivíduo que per<strong>de</strong> tal capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> brincar, per<strong>de</strong> a qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida e organiza inconscientemente uma fachada, um falso self para lidar com omun<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> essa fachada se transforma<strong>do</strong> numa <strong>de</strong>fesa contra o verda<strong>de</strong>iro self, quefoi traumatiza<strong>do</strong> e não po<strong>de</strong> mais ser encontra<strong>do</strong>, pelo risco <strong>de</strong> ser novamente feri<strong>do</strong>.Embora tal organização falsa seja uma <strong>de</strong>fesa eficaz, não é um componente da saú<strong>de</strong>.Diante <strong>de</strong>ste entendimento a respeito <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento na a<strong>do</strong>lescência naTeoria <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>, o presente trabalho tem como objetivo <strong>de</strong>monstrar através <strong>de</strong> umcaso clínico um amadurecimento precoce por meio <strong>de</strong> um processo falso, suasimplicações no psíquico e na vida <strong>do</strong> paciente e atitu<strong>de</strong>s <strong>do</strong> psicoterapeuta diante <strong>de</strong> talcaso.Foi realiza<strong>do</strong> atendimento individual com uma paciente (sexo feminino) <strong>de</strong> 16anos na Clínica Escola da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma vez porsemana e <strong>de</strong> abordagem psicanalítica. Além <strong>do</strong>s atendimentos, utilizou-se oProcedimento <strong>de</strong> Desenhos-Estórias com tema (D-E) por ser um instrumento <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>à investigação clínica da personalida<strong>de</strong>, que consiste em pedir que o examinan<strong>do</strong> realizeum <strong>de</strong>senho com um tema <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>. Em seguida, pe<strong>de</strong>-se ao examinan<strong>do</strong> que conteuma estória dizen<strong>do</strong> o que acontece no <strong>de</strong>senho. No presente trabalho o tema era ”O queé a<strong>do</strong>lescência?” Além <strong>de</strong> outros recursos utiliza<strong>do</strong>s em psicoterapias <strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes,como por exemplo, o jogo <strong>do</strong> rabisco, entre outros.Como a paciente Júlia (nome fictício) já tinha passa<strong>do</strong> por um atendimento naClínica Escola da Universida<strong>de</strong>, alguns da<strong>do</strong>s já eram <strong>do</strong> conhecimento da terapeutaantes <strong>de</strong> iniciar a terapia. Júlia tinha 16 anos, morava com os avós <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança por tersi<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>nada pela mãe, conheceu o pai biológico aos 14 anos, que a rejeitou e tinha<strong>do</strong>is filhos, um menino <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e uma menina <strong>de</strong> 10 meses.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>136


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseAssim por meio <strong>de</strong>stes da<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> sua fala nas primeiras sessões foi possívelperceber que se tratava <strong>de</strong> uma paciente que não teve em sua fase inicial um ambientefacilita<strong>do</strong>r, ou seja, uma mãe suficientemente boa, o que a leva a apresentar um intensosofrimento e uma falta <strong>de</strong> confiança nas pessoas que a cercam. Pois segun<strong>do</strong> o relato <strong>de</strong>Júlia, sua mãe biológica a aban<strong>do</strong>nou logo após o nascimento passan<strong>do</strong> a função para asua avó materna, que embora tenha cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> Júlia proven<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>s necessáriospara seu crescimento e certo amadurecimento, não assumiu a função <strong>de</strong> to<strong>do</strong>, já quesegun<strong>do</strong> a fala <strong>de</strong> Júlia “sua avó a consi<strong>de</strong>ra filha, mas uma filha diferente das outras,que é tratada <strong>de</strong> maneira diferente e não recebe o mesmo apoio e carinho que as outrasfilhas”. (SIC). Segun<strong>do</strong> a teoria <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> um ambiente suficientemente bom, não éapenas aquele que supre as necessida<strong>de</strong>s físicas <strong>de</strong> um bebê, mas aquele que se adapta atodas as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste, sen<strong>do</strong> elas físicas e emocionais, o protegen<strong>do</strong> e permitin<strong>do</strong>seu movimento espontâneo sem a perda <strong>de</strong> seu ser. Pois, caso contrário, acontece umaintrusão <strong>do</strong> ambiente sobre a criança, levan<strong>do</strong>-a a reagir e per<strong>de</strong>r a sensação <strong>do</strong> ser.(BRAGA, 2012).Braga (2012) revela a importância <strong>do</strong> ambiente, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r como afalha <strong>de</strong>ste po<strong>de</strong> provocar uma perda da sensação <strong>de</strong> ser, que é a busca <strong>do</strong>s indivíduos,principalmente na época da a<strong>do</strong>lescência. Esta perda da sensação <strong>de</strong> ser é encontrada nafala <strong>de</strong> Júlia, que relata não saber quem é. Se sente como sen<strong>do</strong> duas pessoas diferentes:“Eu sou a<strong>do</strong>lescente na escola, que é meu refúgio, lá eu posso rir <strong>de</strong> coisas bobas. Emcasa sou adulta, pois tenho que cuidar <strong>do</strong>s meus filhos e minha família não aceita meula<strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente”. (SIC)Esta perda da sensação <strong>de</strong> ser afasta Júlia <strong>de</strong> seu verda<strong>de</strong>iro self, viven<strong>do</strong> através<strong>de</strong> uma fachada, isto é, para lidar com seu ambiente Júlia se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> com um falso self,isto é, a paciente se esforça para ser uma boa mãe, pois este é o <strong>de</strong>sejo daqueles que aro<strong>de</strong>iam, porém isto parece ir contra um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser criança, <strong>de</strong> viver a a<strong>do</strong>lescênciaperdida, <strong>de</strong>sejo que <strong>de</strong>ve ser escondi<strong>do</strong>, para não correr o risco <strong>de</strong> seu verda<strong>de</strong>iro selfser novamente feri<strong>do</strong> e interrompi<strong>do</strong>.No procedimento Desenho-história aparece uma mulher grávida em oposição(versus) a uma criança que está muito feliz, com os braços estendi<strong>do</strong>s para cima, os <strong>do</strong>is<strong>de</strong>senhos parecem não ter olhos. O <strong>de</strong>senho também nos remete um falo que sai <strong>do</strong>peito na figura da mulher. Diante <strong>de</strong> tal <strong>de</strong>senho é possível perceber o conflito <strong>de</strong> Júliaentre seu <strong>de</strong>sejo e a exigência externa. Também se po<strong>de</strong> pensar em referência ao faloque sai <strong>do</strong> peito na figura da mulher, da invasão que Júlia sofreu em sua a<strong>do</strong>lescência,Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>137


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseten<strong>do</strong> um contato muito ce<strong>do</strong> com a relação sexual (12 anos), sem ter alcança<strong>do</strong> overda<strong>de</strong>iro amadurecimento sexual. Pois <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com <strong>Winnicott</strong> a maturida<strong>de</strong> sexualnão está apenas ligada ao ato sexual (WINNICOTT, 1989).Na história ela fala <strong>de</strong> uma a<strong>do</strong>lescência <strong>de</strong> hoje, que é na verda<strong>de</strong> sua própriahistória <strong>de</strong> vida: “Na a<strong>do</strong>lescência <strong>de</strong> hoje em dia, a maioria das garotas estãoengravidan<strong>do</strong>, ou seja, amadurecen<strong>do</strong> muito mais <strong>do</strong> que o espera<strong>do</strong>. A partir daí elasper<strong>de</strong>m muitos benefícios e oportunida<strong>de</strong>s que a vida nos proporciona. No <strong>de</strong>senhoexpressei que em vez <strong>de</strong> amadurecermos tão rápidas <strong>de</strong>veríamos curtir mais; mas atéeu perceber isso já tinha me apressa<strong>do</strong> <strong>de</strong> mais, e hoje como “quase” mulherreconheço que o mun<strong>do</strong> nunca <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> nos oferecer oportunida<strong>de</strong>s, só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> nósagarra-las. Não me arrepen<strong>do</strong> nem se quer um momento <strong>de</strong> ter ti<strong>do</strong> os meus filhos, poishoje sou o que sou por causa <strong>de</strong>les e me resumo como uma responsabilida<strong>de</strong>, pois fuitotalmente o contrário daqueles que me julgaram. Hoje estu<strong>do</strong> e me esforço o máximoque posso para ser bem estruturada, ou seja, alguém na vida, bem sucedida” (SIC).Assim no <strong>de</strong>correr das sessões e através <strong>do</strong> <strong>de</strong>senho história foi possívelperceber que Júlia apresenta um intenso sofrimento <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> tanto as suas constantesfrustrações (aban<strong>do</strong>no da mãe, rejeição <strong>do</strong> pai, problemas familiares, problemas com onamora<strong>do</strong>) quanto por ter como obrigação a maturida<strong>de</strong> em uma fase da vida em que aimaturida<strong>de</strong> é característica e essencial, o que a leva sentir culpa por <strong>de</strong>sejar ser imaturae por manifestar uma raiva (inconsciente) <strong>de</strong> seus filhos, já que foram eles que lheroubaram a a<strong>do</strong>lescência. Este conflito fica evi<strong>de</strong>nte em suas falas e no <strong>de</strong>senho história,pois quan<strong>do</strong> foi pedi<strong>do</strong> a ela que <strong>de</strong>senhasse o que é a<strong>do</strong>lescência, ela faz a seguintepergunta: “É pra <strong>de</strong>senhar minha a<strong>do</strong>lescência ou a que <strong>de</strong>veria ser?”.Deste mo<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>-se pensar em um amadurecimento precoce por meio <strong>de</strong> umprocesso falso <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a uma falha ambiental, que ocorre <strong>de</strong>s<strong>de</strong> início da vida <strong>de</strong> Júlia(aban<strong>do</strong>no da mãe, rejeição <strong>do</strong> pai, maus-tratos), não oferecen<strong>do</strong> holding e nãosobreviven<strong>do</strong> aos seus ataques. Seu ambiente não enxergou suas atitu<strong>de</strong>s como umpedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> socorro o que a levou a engravidar ce<strong>do</strong> <strong>de</strong>mais, repetin<strong>do</strong> a história <strong>de</strong> suamãe biológica. Assim Júlia teve <strong>de</strong> ter o fazer antes <strong>do</strong> ser, isto é, teve seu processo <strong>de</strong>procura <strong>de</strong> si mesmo interrompi<strong>do</strong> e se tornou adulta antes da hora, que ocasiona umgran<strong>de</strong> sofrimento psíquico e uma falta <strong>de</strong> reconhecimento <strong>do</strong> que ela mesma é. Talfalta <strong>de</strong> reconhecimento é muito presente na terapia <strong>de</strong> Júlia, pois apresenta gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber o que é verda<strong>de</strong>iramente seu e o que lhe foi imposto pelo ambiente.Muitas vezes quan<strong>do</strong> indagada pela terapeuta, sobre quem é a Júlia, <strong>de</strong>monstra umUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>138


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisediscurso externo, vin<strong>do</strong> principalmente <strong>de</strong> sua família. “To<strong>do</strong>s falam que souvagabunda, pois tenho 16 anos e <strong>do</strong>is filhos. Que me faz às vezes ficar com vergonha <strong>de</strong>contar para as pessoas que já sou mãe”. (SIC).Tal discurso externo característico <strong>do</strong> falso self foi evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma claraem uma das sessões, em que a terapeuta pe<strong>de</strong> para Júlia escrever em um cartaz tu<strong>do</strong>aquilo que se refere a ela, palavras que a <strong>de</strong>finem. Júlia <strong>de</strong>monstra gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>,<strong>de</strong>moran<strong>do</strong> muito tempo para realizar a ativida<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong> consegue, poucas palavrassão escritas, sen<strong>do</strong> elas: Família, confiança, amiza<strong>de</strong>, simpatia. Palavras que nãocorroboram com sua história e parecem mais com um i<strong>de</strong>al. No final da proposta Júliapergunta a terapeuta se o que tinha escrito estava certo, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> novamente anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma afirmação externa sobre que ela é.Tal fato reafirma a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> um falso self, se transforman<strong>do</strong> numa <strong>de</strong>fesa contra overda<strong>de</strong>iro. Trazen<strong>do</strong> gran<strong>de</strong>s implicações para a vida psíquica e para a realida<strong>de</strong>externa <strong>de</strong> Júlia. Que no <strong>de</strong>correr das sessões tem <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> uma necessida<strong>de</strong> cadavez maior <strong>de</strong> suporte por parte da terapeuta. Portanto sua terapia consiste emprovi<strong>de</strong>nciar para ela um ambiente que a permita ser. Um ambiente que suporte suasidas e vindas, permitin<strong>do</strong> que faça suas <strong>de</strong>scobertas, que se encontre <strong>de</strong> forma que apermita amadurecer por meio <strong>de</strong> um processo não falso até o verda<strong>de</strong>iro self, suportan<strong>do</strong>o risco <strong>de</strong> ser novamente feri<strong>do</strong>.ReferênciasARAÚJO, C. A. S. O ambiente em <strong>Winnicott</strong>. <strong>Winnicott</strong>. e-Prints electronic version, 4,n.1, p. 21-34, 2005.BRAGA, C. M. L. Comunicação e isolamento na a<strong>do</strong>lescência: compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o uso<strong>de</strong> blogs pelos jovens na atualida<strong>de</strong>. São Paulo: Zago<strong>do</strong>ni Editora, 2012.WINNICOTT, D. W. Tu<strong>do</strong> começa em casa. São Paulo: Martins Fontes, 2005. (trabalhooriginal publica<strong>do</strong> em 1989).WINNICOTT, D. W. O Brincar e a Realida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago Editora, 1975.(trabalho original publica<strong>do</strong> em 1971).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>139


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseHeiegger e a FenomenologiaE<strong>de</strong>r Soares SantosMário Reinal<strong>do</strong> da SilvaResumoPartin<strong>do</strong> <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> fenomenológico <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>gger, intenta-se neste trabalho aplicá-losobre o conceito <strong>de</strong> “Filosofia”. A razão <strong>de</strong>ste intento é a <strong>de</strong> fazer com que transpareça,no referi<strong>do</strong> conceito, o fundamento único que o constitui, a saber, o ser-aí. Apresentá-locomo base <strong>do</strong> termo Filosofia irá resgatá-la <strong>de</strong> uma interpretação ôntica para umainterpretação ontológica, e, portanto, mais genuína, uma vez que a palavra Filosofiaestaria em correspondência com o ser que guarda o ente. De mo<strong>do</strong> geral, o méto<strong>do</strong>fenomenológico <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>gger consiste em três pontos principais: a redução, a<strong>de</strong>struição e, por fim, o <strong>de</strong>ixar que as coisas apareçam por si mesmas. A redução sobre otermo Filosofia tem como propósito avaliá-lo em seu senti<strong>do</strong> originário, ou seja, avaliartal conceito <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o uso antigo, em especial, na acepção pré-socrática(philosophia). Avaliá-lo segun<strong>do</strong> este mo<strong>do</strong>, leva-o a uma <strong>de</strong>struição (revisão) sobre amaneira como ele é usa<strong>do</strong> atualmente (Filosofia).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>140


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseLar, <strong>do</strong>ce lar: reflexos <strong>do</strong> aban<strong>do</strong>no parentalAna Claudia Petryszyn Assis 60Carla Maria Lima Braga 61Este trabalho tem por objetivo expor e partilhar, à luz <strong>do</strong> referencial teórico <strong>de</strong> D.W.<strong>Winnicott</strong>, algumas consi<strong>de</strong>rações sobre a atual configuração <strong>do</strong> aban<strong>do</strong>no afetivoparental. <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>positava a importância da família como 'sustenta<strong>do</strong>ra emocional'<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento saudável das crianças e da continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste no a<strong>do</strong>lescente.Dessa forma, mesmo que haja um ambiente favorável, um bom lar, provi<strong>do</strong> pelos paisou pais a<strong>do</strong>tivos ou cuida<strong>do</strong>res, o essencial estará faltan<strong>do</strong> se estes omitirem aos seusfilhos afeto e acolhimento. O a<strong>do</strong>lescente quer ser cuida<strong>do</strong>, acolhi<strong>do</strong>, pertencer a algumlugar, entretanto, o que po<strong>de</strong> acontecer se isto não está presente em sua vida? Assim,nesse trabalho, serão levantadas hipóteses sobre esses novos ambientes que osa<strong>do</strong>lescentes estão inseri<strong>do</strong>s e quais as consequências da <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> mesmo,exemplifican<strong>do</strong> com um caso atendi<strong>do</strong> na clínica-escola da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong><strong>Londrina</strong>, pelo Projeto Integra<strong>do</strong> A Clínica <strong>Winnicott</strong>ina: um estu<strong>do</strong> sobre a teoria <strong>do</strong>amadurecimento pessoal e o manejo clínico.Palavras-chave: ambiente; aban<strong>do</strong>no; lar.60 Discente <strong>do</strong> 5º ano <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>-Paraná.61 Docente <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Mestreem Educação/Uel, Doutora em <strong>Psicologia</strong> PUCCamp.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>141


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseNovo paradigma na Psicanálise: vida e trajetória teórico-prática <strong>de</strong> Donald Woods<strong>Winnicott</strong>Gabrieli Franciscatti DiasCíntia MarsonDiana Pancini <strong>de</strong> Sá Antunes RibeiroOs caminhos teóricos trilha<strong>do</strong>s por Donald Woods <strong>Winnicott</strong> po<strong>de</strong>m ser analisa<strong>do</strong>s pormeio <strong>de</strong> suas escolhas e encontros profissionais e pessoais. Pediatra que <strong>de</strong>scobre apsicanálise freudiana e se torna membro da Socieda<strong>de</strong> Britânica <strong>de</strong> Psicanálise, mantémcontatos com Klein, entre outros psicanalistas da época. O percurso histórico traça<strong>do</strong>por <strong>Winnicott</strong> o leva a evi<strong>de</strong>nciar uma mudança paradigmática na Psicanálise seguin<strong>do</strong>um critério maturacional, e não mais sintomatológica, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser observa<strong>do</strong>s emestu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Loparic e Dias. Com enfoque nesta mudança paradigmática, preten<strong>de</strong>-seanalisar sua importância histórica e <strong>de</strong>cisiva para o tratamento <strong>de</strong> pacientesconsi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s difíceis na clínica psicanalítica. A atualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu pensamento inova<strong>do</strong>ré objeto <strong>de</strong> reflexões sobre práticas clínicas em instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública.Palavras-Chave: Pediatria; Psicanálise; Mudança Paradigmática.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>142


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseO conceito <strong>de</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> hesitação aplica<strong>do</strong> à clínica winnicottiana com criançasna saú<strong>de</strong> públicaFlávia Moraes 62Lídia Pereira da SilvaDiana Pancini <strong>de</strong> Sá Antunes RibeiroResumoEste trabalho provém das experiências clínicas <strong>de</strong> duas alunas/terapeutas iniciantes noserviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> um município <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Preten<strong>de</strong>seexplanar a respeito das <strong>de</strong>sistências <strong>de</strong> pacientes crianças no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s processospsicodiagnósticos. Para tanto, utilizou-se como meto<strong>do</strong>logia fragmentos <strong>de</strong> relato <strong>de</strong>caso clínico vivencia<strong>do</strong> por aluna em formação psicanalítica, analisa<strong>do</strong> em supervisãoteórico-prática, sob a perspectiva da Teoria <strong>do</strong> Amadurecimento Pessoal <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>.A análise parte <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> hesitação, que se dá a partir <strong>do</strong> Jogo da Espátula, quepossibilitou a observação <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> hesitação <strong>do</strong> bebê em relação ao manuseio damesma, até os <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos <strong>de</strong>ste processo na prática clínica atual. O caso analisa<strong>do</strong>se refere a uma família que após a entrevista inicial recusou-se a dar continuida<strong>de</strong> aoprocesso, porém após certo perío<strong>do</strong>, que se consi<strong>de</strong>ra <strong>de</strong> hesitação, retornou à procura<strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> psicologia.Palavras-chave: <strong>Winnicott</strong>; Hesitação na Clínica; Saú<strong>de</strong> Pública.62 Graduanda <strong>do</strong> 4º ano <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> pela Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho”Campus <strong>de</strong> Assis (UNESP – Assis). Participou <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> extensão “A Universida<strong>de</strong> nos ProgramasSociais <strong>do</strong> Município” por <strong>do</strong>is anos, sen<strong>do</strong> o ultimo bolsista PROEX, atuan<strong>do</strong> junto ao CRAS comcrianças no “Projeto ABC” e a<strong>do</strong>lescentes no “Programa Ação Jovem”. Atualmente é bolsista <strong>de</strong>Iniciação Científica CNPQ com o projeto “Escalas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> traços autísticos e as impressões <strong>de</strong>seus familiares”. Também participa <strong>do</strong>s projetos <strong>de</strong> extensão “Enquadres winnicottianos na saú<strong>de</strong> mentalpública”. E-mail: moraesfla@hotmail.comUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>143


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseO cuidar <strong>do</strong> sofrimento humano: a que se presta a terapia winnicottiana?The treatment of human suffering: what are the purposes of the <strong>Winnicott</strong>Psychoanalytical therapy?Manuela Campos PérgolaResumoA tarefa <strong>de</strong> viver e se manter vivo constitui-se em uma batalha que vai <strong>do</strong> início ao fimda vida <strong>de</strong> to<strong>do</strong> ser humano. Enfrentamos dificulda<strong>de</strong>s que são intrínsecas ao processo<strong>de</strong> amadurecimento e à própria condição <strong>de</strong> estar vivo. Frente a isso, os seres humanosbuscam caminhos para lidar com a dificulda<strong>de</strong> que é viver, e uma <strong>de</strong>ssas buscas po<strong>de</strong>ser a análise pessoal. Quan<strong>do</strong> falamos em análise, falamos <strong>de</strong> um méto<strong>do</strong> que consistena interpretação <strong>do</strong>s conflitos reprimi<strong>do</strong>s inconscientes, que po<strong>de</strong> curar sintomas. Masaté que ponto a cura <strong>do</strong>s sintomas também impulsiona para um crescimento <strong>do</strong>indivíduo? Na perspectiva <strong>de</strong> D. W. <strong>Winnicott</strong>, enxerga-se a análise como uma porta <strong>de</strong>entrada para a retomada <strong>do</strong> amadurecimento <strong>do</strong> ponto em que este, possivelmente, foiinterrompi<strong>do</strong>. Assim, neste trabalho, explora-se como a terapia winnicottiana lida com osofrimento humano que bate em sua porta.Palavras-chave: amadurecimento, <strong>Winnicott</strong>, análise, cura.AbstractThe task of living and staying alive is a battle that goes from the beginning to the end ofevery human being’s life. Difficulties are within the process of maturing and the actualcondition of being alive. Because of this, humans seek ways to <strong>de</strong>al with the difficultyof being alive, and one of these searches can be the personal analysis. When we talkabout analysis, we talk about a method that consists in interpreting the unconsciousrepressed conflicts, which can cure symptoms. But how far the cure of symptoms alsodrives to a personal growth? From the perspective of D. W. <strong>Winnicott</strong>, we see theanalysis as a way of going back to the point where the maturation process possiblystopped. Thus, this paper explores how the <strong>Winnicott</strong> Psychoanalytical therapy <strong>de</strong>alswith the human suffering that knocks on its <strong>do</strong>or.Keywords: maturation, <strong>Winnicott</strong>, analysis, healing.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>144


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseAo praticar psicanálise, tenho o propósito <strong>de</strong>:me manter vivo;me manter bem;me manter <strong>de</strong>sperto.(D. W. <strong>Winnicott</strong>)On<strong>de</strong> estou? E on<strong>de</strong> me acho? Lispector nos disse que “to<strong>do</strong> momento <strong>de</strong> acharé um per<strong>de</strong>r-se a si próprio”. Então, se quan<strong>do</strong> tento me encontrar, me perco, quemsou? E se nada encontrar, a não ser o vazio? E se o vazio for <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> gran<strong>de</strong> paracaber no encontro? Com o quê fico? Temos me<strong>do</strong> <strong>de</strong> cair, <strong>de</strong> cair e nunca maisconseguir encontrar a nós mesmos. Encontrar po<strong>de</strong> ser encontrar o fio, o pequeno fiofino e tênue que nos liga a nós mesmos. É por esse fio que clamamos! É esse o fim quequeremos para a nossa história. Nas palavras <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>, “que possamos estar vivosno momento <strong>de</strong> nossa morte.” Estar vivo e po<strong>de</strong>r viver. Viver, e não sobreviver. Viver esentir, com tu<strong>do</strong> o que isso po<strong>de</strong> causar. Estar vivo significa morrer a cada dia, e acada dia encontrar o fio tênue que dá senti<strong>do</strong> a nossa existência. Sen<strong>do</strong> assim, cada diaé um encontro. Um encontro com nós mesmos, com o inespera<strong>do</strong>, com o vazio e com oque po<strong>de</strong> emergir <strong>de</strong>sse mar tão escuro. Pura água e escuridão. Procurar análise po<strong>de</strong>estar aí incumbi<strong>do</strong>: na tarefa <strong>de</strong> nos mantermos vivos, <strong>de</strong>spertos, bem. Felizes, talvez.Talvez felicida<strong>de</strong> possa ser encontrar o verda<strong>de</strong>iro senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> estar vivo, <strong>de</strong> ter forçaspara batalhar pela guerra da existência to<strong>do</strong>s os dias. E precisamos <strong>de</strong> ajuda para isto,pois a guerra da existência é dura, e sempre será, e o ser humano, nas palavras <strong>de</strong>Hei<strong>de</strong>gger, “é essencialmente necessita<strong>do</strong> <strong>de</strong> ajuda, por estar sempre em perigo <strong>de</strong> seper<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> não conseguir dar conta <strong>de</strong> si mesmo” (HEIDEGGER apud DIAS, 2002, p.350).A análise, em seus primórdios freudianos, se constitui no méto<strong>do</strong> que, porexcelência, é a interpretação <strong>do</strong> conflito reprimi<strong>do</strong> inconsciente. Sen<strong>do</strong> o conflitointerpreta<strong>do</strong>, o indivíduo po<strong>de</strong> sentir-se cura<strong>do</strong>, pois, ao falar e receber a interpretação<strong>do</strong> analista, o conflito – que antes era inconsciente – torna-se consciente e assim, po<strong>de</strong>ser trabalha<strong>do</strong>. Mas até que ponto a cura também impulsiona para um crescimento? Atéque ponto o conflito inconsciente interpreta<strong>do</strong> traz o sentimento <strong>de</strong> que somos reais?Até que ponto po<strong>de</strong>mos ser sustenta<strong>do</strong>s pelo analista, no lugar da mãe suficientementeboa que não tivemos, ou que tivemos e per<strong>de</strong>mos?O analista não é apenas o ouvi<strong>do</strong> que escuta, mas a mão que toca, os braços queabraçam, os olhos que se enchem <strong>de</strong> expressão e a boca, que sorri e fala. O analista estávivo, e, estan<strong>do</strong> vivo, se faz presente, não apenas com as interpretações, mas com oambiente favorável que po<strong>de</strong> proporcionar que o paciente sinta-se acolhi<strong>do</strong> e possa,então, falar daquilo que angustia e sufoca. O analista é aquele que, treina<strong>do</strong> para ouvir,ouve. Mas também é aquele que, não ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> treina<strong>do</strong> para ter sensibilida<strong>de</strong>, ésensível. O analista é aquele que se interessa <strong>de</strong>sinteressan<strong>do</strong>-se, que mantém o olhar,Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>145


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseque suporta o choro e a <strong>do</strong>r <strong>de</strong> outro ser humano. Essa é a verda<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>mos suportar a<strong>do</strong>r <strong>de</strong> outro ser humano, mas temos que apren<strong>de</strong>r a sustentar a nós mesmos, comnossos - não distintos <strong>do</strong>s trazi<strong>do</strong>s pelos pacientes – conflitos, traumas, sofrimentos e<strong>de</strong>samparos.O traço central <strong>do</strong> ambiente facilita<strong>do</strong>r é ele ser confiável. Aconfiabilida<strong>de</strong> é um atributo <strong>do</strong>s humanos, que erram, e não dasmáquinas. Confiabilida<strong>de</strong> não significa ser imune ao erro; ao contrário,exatamente porque falível, a pessoa humana po<strong>de</strong> ser confiável. O fatoé que mães e analistas permanentemente falham em sua adaptação àsnecessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> bebê ou <strong>do</strong> paciente. O problema não é esse; eleconsiste bem mais no reconhecimento e na atitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> ambiente comrelação à falha. Por outro la<strong>do</strong>, o que se exige é presença verda<strong>de</strong>ira,interesse genuíno e atenção plena (DIAS, 2002, p. 344).Neste senti<strong>do</strong>, o terapeuta winnicottiano é aquele que está atento às forças <strong>do</strong>ego <strong>do</strong> paciente, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a po<strong>de</strong>r trabalhar a partir da posição em que a neurose (oupsicose) <strong>de</strong> transferência o coloca. Assim, ao mesmo tempo em que representa oprincípio da realida<strong>de</strong>, o analista é aquele que exerce o papel <strong>de</strong> objeto subjetivo para opaciente, que está ali - às vezes silencioso -, sem julgar. À medida que o ambiente vai setornan<strong>do</strong> confiável para o paciente, as <strong>de</strong>fesas se afrouxam, e dali po<strong>de</strong> emergir muito<strong>do</strong> que antes estava nas profun<strong>de</strong>zas da água e da escuridão <strong>de</strong> seu inconsciente; tu<strong>do</strong> oque antes não pô<strong>de</strong> ser sustenta<strong>do</strong>.A força <strong>do</strong> ego resulta em uma mudança clínica no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong>relaxamento das <strong>de</strong>fesas, que são mais economicamente empregadas ealinhadas, sentin<strong>do</strong>-se o paciente não mais preso à sua <strong>do</strong>ença, comoresulta<strong>do</strong>, mas livre, mesmo que não esteja livre <strong>de</strong> sintomas. Em suma,observamos crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento emocional que tinha fica<strong>do</strong>em suspenso na situação original (WINNICOTT, 1962, p. 154).De acor<strong>do</strong> com a teoria <strong>do</strong> amadurecimento humano, to<strong>do</strong>s os seres humanosnascem com um potencial herda<strong>do</strong> para um <strong>de</strong>senvolvimento saudável. Para que issoaconteça, entretanto, é necessário um ambiente facilita<strong>do</strong>r. É importante, porém,ressaltar que não é o ambiente o responsável pelo fracasso <strong>do</strong> indivíduo, mas aquelepo<strong>de</strong> servir como um facilita<strong>do</strong>r ou “dificultante” para o <strong>de</strong>senvolvimento saudável<strong>de</strong>ste.A terapia na perspectiva winnicottiana, nesse senti<strong>do</strong>, preten<strong>de</strong> localizar omomento em que o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> indivíduo estancou, o ponto em que o ambiente<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser previsível e suficientemente bom para que o indivíduo continuasse suaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>146


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisecaminhada. Deste mo<strong>do</strong>, o analista po<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar a natureza <strong>do</strong> distúrbio psíquico,pois esta é relacionada com o ponto <strong>de</strong> origem <strong>do</strong> mesmo, na linha <strong>de</strong> amadurecimento.A <strong>do</strong>ença, segun<strong>do</strong> <strong>Winnicott</strong>, refere-se ao “sentimento <strong>de</strong> segurança” que “não chegoua tempo na vida da criança para que fosse incorpora<strong>do</strong> às suas crenças” (WINNICOTTapud DIAS, 2007, p. 7).Assim, <strong>Winnicott</strong> nos propõe a pensar, ao iniciar uma análise: “quão pouco énecessário ser feito?”, ao invés <strong>de</strong> “quanto se <strong>de</strong>ve fazer?”, justamente por se tratar dareconstrução <strong>de</strong> um ambiente confiável para que haja uma retomada <strong>do</strong> ponto em que oamadurecimento foi interrompi<strong>do</strong>. A teoria winnicottiana é maturacional, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong>que cabe ao analista consertar a falha ambiental sofrida pelo paciente. Os distúrbios -que não são mais interpreta<strong>do</strong>s como interpsíquicos, como são para Freud e Klein - sãoambientais. O paciente pa<strong>de</strong>ce <strong>de</strong> uma perturbação da existência, e não mais <strong>de</strong> reaçõesa conflitos entre <strong>de</strong>sejo e objeto. A <strong>do</strong>ença é a imaturida<strong>de</strong>, uma vez que saú<strong>de</strong> significater a ida<strong>de</strong> emocional compatível à ida<strong>de</strong> biológica. Apesar <strong>de</strong> parecer simples, estatarefa se constitui em uma das mais difíceis para o analista: a <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir a ida<strong>de</strong>emocional <strong>do</strong> seu paciente em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> momento, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a linha <strong>do</strong>amadurecimento pessoal.Isto posto, fica a questão: E o analista, o que po<strong>de</strong> fazer? Penso que, emprimeiro lugar, cabe ao analista enten<strong>de</strong>r a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> paciente. Aquilo <strong>de</strong> que elenecessitava e não teve, para que assim possa restituir a confiança no ambiente. Alémdisso, é preciso que o analista esteja atento para as mutações que esta necessida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>sofrer. Somente <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong> o objetivo da terapia po<strong>de</strong> ser possível: ajudar o paciente atornar-se si-mesmo, se relacionar com os outros através <strong>de</strong> um si-mesmo e po<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>ecer assim, compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> que o sentimento <strong>de</strong> si-mesmo é uma conquista. “Écerto que a capacida<strong>de</strong> terapêutica <strong>do</strong> analista – cujo paradigma é a mãe suficientementeboa – não repousa em um saber puramente intelectual, mas sobretu<strong>do</strong> em suasensibilida<strong>de</strong> pessoal e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se i<strong>de</strong>ntificar com o paciente e compreen<strong>de</strong>r assuas necessida<strong>de</strong>s” (DIAS, 2003, p. 48).Para enten<strong>de</strong>r a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> paciente em um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> momento, oanalista precisa se nortear através da força <strong>do</strong> ego que o paciente apresenta. O analistaprecisa <strong>de</strong> empatia. Empatia com o sofrimento alheio. Reporto-me à Cecília Meireles,que tão bem escreveu, para fazer uma comparação com o papel <strong>do</strong> analista:Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>147


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseDesamparoDigo-te que po<strong>de</strong>s ficar <strong>de</strong> olhos fecha<strong>do</strong>s sobre o[meu peito,porque uma ondulação maternal <strong>de</strong> onda eternate levará na exata direção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> humano.Mas no equilíbrio <strong>do</strong> silêncio,no tempo sem cor e sem número,pergunta a mim mesmo o lábio <strong>do</strong> meupensamento:quem é que me leva a mim,que peito nutre a duração <strong>de</strong>sta presença,que música embala a minha música que te embala,a que oceano se pren<strong>de</strong> e <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>a onda da minha vida, em que estás como rosa ou[barco...?O poema retrata o paciente que chega à terapia, <strong>de</strong>sampara<strong>do</strong>; também diz dapresença <strong>do</strong> analista, como alguém que está vivo e <strong>de</strong>sperto para ouvi-lo. Aos poucos, oanalista acolherá o seu ego frágil e, ao mesmo tempo “terá que lidar com ambos osaspectos (saudáveis e <strong>do</strong>entes) simultaneamente, e estar atento ao fato <strong>de</strong> que, se há umaspecto <strong>do</strong>ente, este é tão <strong>do</strong>ente quanto possível, e não se po<strong>de</strong> afrouxar o cuida<strong>do</strong>,imaginan<strong>do</strong> contar com a parte <strong>de</strong>senvolvida da personalida<strong>de</strong>” (DIAS, 2007, p. 2). Écomo se o analista dissesseDigo-te que po<strong>de</strong>s ficar <strong>de</strong> olhos fecha<strong>do</strong>s sobre o[meu peito,porque uma ondulação maternal <strong>de</strong> onda eternate levará na exata direção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> humano.Para que o paciente possa “ficar <strong>de</strong> olhos fecha<strong>do</strong>s” e entregar-se à “ondulaçãomaternal <strong>de</strong> onda eterna”, é estritamente necessário um ambiente confiável. Esteambiente é o correlato direto <strong>do</strong> ambiente suficientemente bom que a mãe oferece aobebê, on<strong>de</strong> ele po<strong>de</strong> sentir que o mun<strong>do</strong> é “encontrável”, sentir-se seguro e, assim,alcançar o sentimento <strong>de</strong> si-mesmo. Neste ponto, a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> setting analítico se faz<strong>de</strong> extrema importância, uma vez que se constitui no ambiente favorece<strong>do</strong>r <strong>de</strong> condiçõespara um ambiente que falhou.<strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong>staca a importância <strong>do</strong> setting: o analista é pontual e respira, estáalerta e preocupa<strong>do</strong> com o paciente, expressa seu amor em um interesse positivo, massabe que o ódio existe (nas formas <strong>de</strong> pagamento, resistência e faltas <strong>do</strong> paciente); <strong>de</strong>ixaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>148


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseseu julgamento moral afasta<strong>do</strong>, o cômo<strong>do</strong> em que acontece a análise não tem tantaquietu<strong>de</strong> que lembre a morte, mas os ruí<strong>do</strong>s inerentes a uma casa, e, por último, e talvezo <strong>de</strong> maior importância: o analista sobrevive.No que compete àquele que cuida, sobreviver significa manter-se porconta própria, dar continuida<strong>de</strong> ao que se inicia; é fazer perdurar,preservan<strong>do</strong> incólumes a qualida<strong>de</strong> da relação e <strong>do</strong> ambiente; é,sobretu<strong>do</strong>, não sucumbir às turbulências próprias <strong>do</strong> estar vivo e <strong>do</strong>amadurecimento – inclusive as que incluem <strong>de</strong>struição – <strong>de</strong> quem estásen<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, ou seja, é permanecer consistentemente a mesmapessoa, com a mesma atitu<strong>de</strong>, sem retaliação; significa não <strong>de</strong>sanimar,não <strong>de</strong>sistir da tarefa, não se vitimizar, não se tornar sentimental;manter, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> seus próprios esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ânimo, os cuida<strong>do</strong>s como bebê, ou com o paciente, orienta<strong>do</strong>s pelas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>les e nãopor suas próprias necessida<strong>de</strong>s. (DIAS, 2002, p. 349)É essencial o <strong>de</strong>senvolvimento da confiança, para que o paciente possa informarao analista “tu<strong>do</strong> o que lhe vêm à mente”, sen<strong>do</strong> isto o “que constitui o requisito préviopara a eficácia <strong>de</strong> uma interpretação clássica e correta”. É bom que se diga, ainda, quenão há nenhuma mística ou po<strong>de</strong>r extranatural na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercer os cuida<strong>do</strong>ssatisfatórios que levam uma outra pessoa à transformação e ao amadurecimento: o queexiste é apenas uma disponibilida<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira e humana, acrescida da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>apren<strong>de</strong>r com o bebê ou paciente, além <strong>de</strong> muito estu<strong>do</strong> sobre o amadurecimentopessoal (DIAS, 2002, p. 344).Na medida em que o ambiente acolhe<strong>do</strong>r se constrói na relação analistapaciente,este último vai re-crian<strong>do</strong> sua confiança no ambiente que uma vez falhou. Paraalguns, a confiabilida<strong>de</strong> inerente ao setting, po<strong>de</strong> até ser comparada à amiza<strong>de</strong>. Certavez, uma paciente me disse: “Isso aqui que é amiza<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira”, referin<strong>do</strong>-se aos seus“<strong>de</strong>sabafos” comigo, os quais tinha certeza que não sairiam dali, espalhan<strong>do</strong>-se em“fofocas” que estava acostumada a ser alvo. A sobrevivência diz respeito ao analista,que não estan<strong>do</strong> <strong>de</strong>primi<strong>do</strong>, permite que “o paciente encontre a si mesmo” e possa“avançar em seu próprio ritmo [...] sen<strong>do</strong>-lhe da<strong>do</strong> tempo e algo como um lugar seguro”(WINNICOTT apud DIAS p. 355).<strong>Winnicott</strong> diz que há um tipo <strong>de</strong> crescimento que é “para baixo” (growing<strong>do</strong>wnwards). Este crescimento para baixo “começa já em vida e significa a capacida<strong>de</strong>crescente <strong>de</strong> <strong>de</strong>purar o que é essencial, embora se trate, muitas vezes, <strong>de</strong> algotremendamente simples, mas sem o qual to<strong>do</strong> o resto fica sem senti<strong>do</strong>” (DIAS, 2002, p.345). Para que possamos, como analistas, realizar a tarefa da sobrevivência, é necessáriaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>149


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseuma crença no processo <strong>de</strong> amadurecimento humano. Essa crença está, certamente,incluída no crescimento para menor.Ao crescer para menor, o analista começa a ter claro que, tal comodisse <strong>Winnicott</strong>, existe algo em psicoterapia que não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scritoem termos <strong>de</strong> interpretação certa no momento certo. Ele estará atentopara reconhecer os casos em que será necessário <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> la<strong>do</strong> osofistica<strong>do</strong> saber que presidiu a sua formação, abdican<strong>do</strong> da esperteza,<strong>do</strong> brilhantismo ou da rapi<strong>de</strong>z com que ele é capaz <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r, e<strong>de</strong>volver, para o paciente, os sofistica<strong>do</strong>s nexos <strong>do</strong> inconscientereprimi<strong>do</strong>; limitar-se-á a acompanhá-lo, real e pessoalmente, ciente <strong>de</strong>que não há nada a fazer, a não ser facilitar um processo <strong>de</strong>amadurecimento que pertence ao paciente (2002, p. 358).Sabemos que, assim como os pacientes, também pa<strong>de</strong>cemos <strong>do</strong> cansaço que, àsvezes, a luta para continuar viven<strong>do</strong> nos impõe. Porém, apesar <strong>de</strong> estarmos cientes <strong>de</strong>nossa condição humana, falível e precária, se somos chama<strong>do</strong>s ao lugar <strong>de</strong> quem cuida,[...] Somos chama<strong>do</strong>s a sobreviver e dar prosseguimento à tarefa queassumimos. [...] Precisamos <strong>de</strong>ixar o outro ser como é e como po<strong>de</strong> ser,seja o que for que isso represente, e acompanhá-lo enquanto perdureessa possibilida<strong>de</strong>, por estreita que seja, sobreviven<strong>do</strong> aos esta<strong>do</strong>s quelhe são inerentes (DIAS, 2002, p. 355).Minha ex-analista, lacaniana, me disse, certa vez, que eu havia encontra<strong>do</strong> a mãeque perdi na teoria winnicottiana, assim como alguns haviam encontra<strong>do</strong> a lei e o limite<strong>do</strong> pai na teoria lacaniana. Talvez ela esteja certa. Talvez o meu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> conduzir oscasos nesta perspectiva - que enxerga tão essencialmente a relação mãe-bebê - e a buscapor uma terapeuta winnicottiana, me façam encontrar a mãe boa que perdi, e me dê,finalmente, esperanças para enfrentar a batalha <strong>do</strong> amadurecimento. Afinal, “A relaçãoterapêutica é uma forma especializada <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> uma outra pessoa que tem a mesmanatureza que eu. Seja qual for o problema que aflige o paciente, estamos ambos nomesmo barco, lança<strong>do</strong>s, sem fundamento, na incumbência <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> continuar sen<strong>do</strong>”(DIAS, 2002, p. 354).A terapia winnicottiana nos proporciona esse resgate: ao ponto em que fomos<strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s à mercê da vida, à mãe suficientemente boa, agora na figura <strong>do</strong> analista, queestá atento às necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> paciente e interessa<strong>do</strong> em seu progresso rumo ao simesmo.Oferecemos o peito, o colo, o leite e o banho nas temperaturas i<strong>de</strong>ais, aconversa, o sustento, a interpretação e o manejo. Se não é possível fazer análiseUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>150


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisetradicional, como diria <strong>Winnicott</strong>, seremos analistas fazen<strong>do</strong> qualquer outra coisa quenão seja psicanálise.Referências BibliográficasDIAS, E. O. A teoria <strong>do</strong> amadurecimento humano <strong>de</strong> D. W. <strong>Winnicott</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Imago, 2003.DIAS, E. O. A teoria winnicottiana <strong>do</strong> amadurecimento como guia da prática clínica.Natureza Humana [online], vol.10, n.1, p. 29-46, 2008. Disponível em:http://pepsic.bvsalud.org/pdf/nh/v10n1/v10n1a02.pdf. Data <strong>de</strong> acesso:10/Novembro/2012.DIAS, E. O. Da sobrevivência <strong>do</strong> analista. Natureza Humana: Revista Internacional <strong>de</strong>Filosofia e Psicanálise, v. 4, n.2, p. 341-362, 2002.MEIRELES, C. Viagem. São Paulo: Global, 2012.WINNICOTT, D. W. O ambiente e os processos <strong>de</strong> maturação. Porto Alegre: ArtesMédicas, 1983.WINNICOTT, D. W. Diferentes tipos <strong>de</strong> material psicoterápico. In: WINNICOTT, D.W. Natureza Humana. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1990.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>151


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseO impacto <strong>de</strong> um suicídio materno no <strong>de</strong>senvolvimento infantil e a re-construção<strong>de</strong> um ambiente suficientemente bom com auxílio da psicoterapiaLidiane G. Ran<strong>do</strong> 63Ana Vitória Salimon C. <strong>do</strong>s Santos 64ResumoCamus afirmou que só haveria um problema filosófico realmente sério: o suicídio,julgar se a vida vale a pena ser vivida. Mas, e psicologicamente como (sobre) vivem ese <strong>de</strong>senvolvem os filhos <strong>de</strong> suicidas? Este trabalho analisa o <strong>de</strong>senvolvimento e oprocesso psicoterápico numa abordagem winnicottiana <strong>de</strong> uma menina <strong>de</strong> 9 anos,atendida numa Clínica-Escola <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>, com queixas <strong>de</strong> apatia, baixa auto-estima epequenos furtos, cuja mãe se suicidara 2 anos antes. Verificou-se os impactos da trágicaperda materna e <strong>do</strong> ambiente instável, antes e após o suicídio, promoven<strong>do</strong> a criação <strong>de</strong>um falso self protetor <strong>de</strong> angústias e dificulta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento criativo esaudável. A partir <strong>de</strong> seus sinais <strong>de</strong> esperança, a psicoterapia, com a utilização <strong>de</strong> settingdiferencia<strong>do</strong>, envolven<strong>do</strong> familiares e escola, estão favorecen<strong>do</strong> a organização <strong>de</strong>ambientes com maior capacida<strong>de</strong> prove<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s e segurança, objetivan<strong>do</strong> umambiente suficientemente bom e a retomada <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.Palavras-chave: Suicídio, Falso-Self, <strong>Winnicott</strong>, Desenvolvimento Humano63 Aluna <strong>do</strong> 10º termo <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> das Faculda<strong>de</strong>s Adamantinenses Integradas - FAI,Adamantina/SP, estagiária curricular <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> Clínica no Núcleo <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> da FAI-SP.64 Doutoranda em Ciências da Saú<strong>de</strong> na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> São José <strong>do</strong> Rio Preto - FAMERP-SP,Mestre em <strong>Psicologia</strong> pela Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista - UNESP/Assis-SP, Psicóloga pelaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - UEL- Pr. Professora, supervisora <strong>de</strong> estágio e Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>Núcleo <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> das Faculda<strong>de</strong>s Adamantinenses Integradas – FAI - Adamantina/SP, Especialistaem <strong>Psicologia</strong> Clínica e <strong>Psicologia</strong> Jurídica pelo Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> – CFP.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>152


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseO jogo e o lúdico na construção subjetiva, um olhar psicopedagógicoThe game and the playful in the subjective construction, a psychopedagogical lookGuilherme Afonso Pereira Palacios 65Nilce da Silva 66ResumoO brincar como processo media<strong>do</strong>r da aprendizagem <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentestransfere a partir <strong>do</strong> lúdico uma construção <strong>do</strong> espaço potencial no imaginário: o <strong>de</strong>projetar seu inconsciente via corporal e textual como linguagem nas brinca<strong>de</strong>iras. Capaz<strong>de</strong> transformar-se em diversos contextos, estimula o <strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>abstração da criança subjetivada na interação com o Outro. Partin<strong>do</strong> da fundamentaçãopsicanalítica <strong>de</strong> D.W.<strong>Winnicott</strong> para compreen<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong> amadurecimento dacriança e importância <strong>do</strong> lúdico para o <strong>de</strong>senvolvimento da construção <strong>do</strong> self. Nocampo educacional o espaço <strong>de</strong> aprendizagem é um lugar privilegia<strong>do</strong> nessa perspectiva<strong>de</strong> construção da autoria <strong>do</strong> pensamento e autonomia, ao qual <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da subjetivida<strong>de</strong>e objetivida<strong>de</strong> criada ou iniciada na Educação Infantil e primeiros anos <strong>do</strong> EnsinoFundamental. Entretanto, sem substituir os enlaces da família e sim contribuin<strong>do</strong> para oseu amadurecimento.Palavras chave: Aprendizagem, Criativida<strong>de</strong>, Lúdico, Teoria <strong>do</strong> amadurecimentoAbstractPlaying as a mediator of the learning process of children and a<strong>do</strong>lescents transfers fromthe playful construction of potential space in the imagination: the paths to <strong>de</strong>sign yourunconscious body language and textual as in play. Able to transform into differentcontexts, stimulates the <strong>de</strong>velopment of the child's capacity for abstraction subjectivizedinteraction with the Other. From the foundation of psychoanalytic D.W. <strong>Winnicott</strong> toun<strong>de</strong>rstand the maturation process of the child and the importance of play for the65 Graduação em Tecnologia da Construção Civil pela Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista Júlio <strong>de</strong> MesquitaFilho (1999), especialização em Docência <strong>do</strong> Ensino Superior pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong>Janeiro (2002), licencia<strong>do</strong> em Matemática pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo IME-USP (2004),especialização em Psicopedagogia Institucional pela Universida<strong>de</strong> da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (2011) elicenciatura em Pedagogia pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo FEUSP (2012). Atualmente é <strong>do</strong>cente daEducação Básica da Secretaria <strong>de</strong> Educação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo e Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Barueri.Mestran<strong>do</strong> <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Pós-graduação em Educação, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> SãoPaulo, FEUSP, área temática: <strong>Psicologia</strong> e Educação (2012).66 Orienta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> presente trabalho.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>153


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise<strong>de</strong>velopment of the construction of self. In the educational field the learning space is aprivileged place in this perspective construction of authorship and autonomy of thought,which <strong>de</strong>pends on the subjectivity and objectivity created or started in kin<strong>de</strong>rgarten andfirst years of elementary school. However, without replacing the bonds of family andyet contributing to their maturation.Keywords: Learning, Creativity, Playful, Theory of maturation.IntroduçãoPara controlar o que está fora, há que fazer coisas, não simplesmentepensar ou <strong>de</strong>sejar, e fazer coisas toma tempo. Brincar é fazer.(WINNICOTT, 1975, p.63)O presente artigo foi elabora<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> pesquisa <strong>do</strong> Mestra<strong>do</strong> emEducação para compreen<strong>de</strong>rmos os processos <strong>de</strong> aprendizagem envolvi<strong>do</strong>s naconstrução subjetiva lúdica <strong>de</strong> crianças da Educação Infantil e a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssasconstruções no primeiro ano <strong>do</strong> Ensino Fundamental. Buscaremos i<strong>de</strong>ntificar aspossíveis causas <strong>de</strong> fracassos na aprendizagem partin<strong>do</strong> <strong>de</strong> um olhar Psicopedagógicopara um olhar próprio da Pedagogia.A meto<strong>do</strong>logia científica para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta pesquisa partirá <strong>de</strong> umarevisão bibliográfica sobre a infância e juventu<strong>de</strong>. Posteriormente, em pesquisa <strong>de</strong>campo, observaremos para interagir <strong>de</strong> forma sistematizada e espontânea sobre oenvolvimento da criança com a Educação Infantil e séries iniciais, contrastan<strong>do</strong> coma<strong>do</strong>lescentes das séries finais <strong>do</strong> ensino fundamental e ensino médio em diferenteslugares e ambientes.Para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta pesquisa e sua fundamentação, inspiraremos nateoria <strong>de</strong> D.W.<strong>Winnicott</strong> 67 . Algumas posturas da psicanálise serão necessárias como uminstrumental para a compreensão e interpretação <strong>de</strong> situações vivenciadas em algummomento da pesquisa. Por outro la<strong>do</strong>, há uma preocupação com a aprendizagem e suasimplicações pedagógicas numa perspectiva criativa. Amplian<strong>do</strong> a discussão sobre ofazer pedagógico no intuito <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>rmos e <strong>de</strong>ixarmos as crianças viverem seusmomentos <strong>de</strong> imaturida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma forma criativa.67 É interessante esta discussão, ao mesmo tempo em que precisamos <strong>de</strong> fundamentações para<strong>de</strong>senvolver uma pesquisa, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar que as torne um objeto subjetivo (DIAS, 2003, p.30).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>154


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanálisePara po<strong>de</strong>rmos encontrar, como nos diz <strong>Winnicott</strong> (1975, p.74), “uma criançainteiramente sadia, feliz, inteligente e amistosa, que gostava <strong>de</strong> brincar, e liberta dasansieda<strong>de</strong>s comuns”.As reflexões que irei apresentar sobre o “Jogo e o lúdico na construçãosubjetiva, um olhar psico-pedagógico”, partiram <strong>do</strong> convívio com alunos, crianças,a<strong>do</strong>lescentes e adultos ao longo <strong>de</strong> minha carreira profissional como <strong>do</strong>cente em re<strong>de</strong>spúblicas e privadas. Para a compreensão <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> formação <strong>do</strong> eu (self) eamadurecimento, a fundamentação psicanalítica <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong> sobre o brincar apresentaperspectivas para a compreensão <strong>do</strong> papel da família e escola.Sem dúvida, a influência da família, principalmente da mãe em relação aobebê, tem contribuições para a formação <strong>de</strong> uma pessoa sadia ou <strong>do</strong>ente. O ambientefamiliar é externaliza<strong>do</strong> pelas crianças em suas brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> forma sutil ou passível<strong>de</strong> interpretação sobre muitos aspectos da formação <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong>. Nãoestaremos atentos à categorização das múltiplas ou possíveis personalida<strong>de</strong>s queeventualmente surjam perante o nosso trabalho, por não ser este o foco das atenções,<strong>de</strong>ixe assim para os psicólogos, psicanalistas, médicos pediatras e psiquiatras estecampo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> que necessita um olhar clínico.Entretanto, não po<strong>de</strong>remos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> analisar o seu pensamento psicanalíticosobre a escola e socieda<strong>de</strong>, apesar <strong>de</strong> não ter <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> muitos trabalhos a respeito <strong>do</strong>assunto em relação à totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua obra. De forma provocativa para a reflexão sobrea escola afirmamos que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a educação infantil até o Ensino Médio, aquele é umlugar, segun<strong>do</strong> <strong>Winnicott</strong> (1977, p. 234), aon<strong>de</strong> “as crianças vão para a escola para quese adicione algo à sua vida; querem apren<strong>de</strong>r lições.”. No entanto, também, há criançasque “não vão à escola para apren<strong>de</strong>r, mas para encontrar um lar fora <strong>do</strong> lar.”.A escola e o brincarComo professor, percebo que há o fluxo <strong>de</strong> alunos na Educação Básica comoutros interesses diferentes <strong>do</strong>s cita<strong>do</strong>s por <strong>Winnicott</strong>, coloca a escola numa situação <strong>de</strong>perda <strong>de</strong> forças para dar uma sustentação satisfatória <strong>do</strong> seu papel como transforma<strong>do</strong>ra<strong>de</strong> pessoas e da própria socieda<strong>de</strong>. A escola pública brasileira é um palco das políticasfe<strong>de</strong>rais, estaduais e municipais. São as políticas educacionais as responsáveis pelosinteresses e avanços reais no campo da aprendizagem. Muitas surgem com tempo finito<strong>de</strong> gestão educacional e atreladas a um parti<strong>do</strong> político ou personificadas pelas vonta<strong>de</strong>s<strong>de</strong> um político gestor nas escolas públicas.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>155


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanálisePor outro la<strong>do</strong>, o meio ambiente sen<strong>do</strong> um lugar em que vivemoshistoricamente, culturalmente e socialmente, é percebi<strong>do</strong> subjetivamente eobjetivamente conforme o mun<strong>do</strong> construí<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong> amadurecimento singular: sãoexperiências lúdicas tecidas pelas brinca<strong>de</strong>iras e jogos da vida. A imaginação se fazrealida<strong>de</strong> assumin<strong>do</strong> uma ilusão <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> interpreta<strong>do</strong> e compreendi<strong>do</strong> pelas regras enormas <strong>do</strong> eu (self) e não–eu, <strong>de</strong>struídas e reconstruídas ao longo da vida. Um processocriativo que necessita da <strong>de</strong>struição para surgir o novo, necessita <strong>do</strong> ódio para ter acoragem <strong>de</strong> se rebelar e <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser submissa às vonta<strong>de</strong>s primitivas e <strong>de</strong> possessão <strong>de</strong>objetos transicionais.É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, crianças ouadulto, po<strong>de</strong> ser criativo e utilizar sua personalida<strong>de</strong> integral: e ésomente sen<strong>do</strong> criativo que o indivíduo <strong>de</strong>scobre o eu (self).(WINNICOTT, 1975, p. 80)O brincar, como processo media<strong>do</strong>r da aprendizagem <strong>de</strong> crianças ea<strong>do</strong>lescentes, transfere a partir <strong>do</strong> lúdico uma construção <strong>do</strong> espaço potencial noimaginário, o <strong>de</strong> projetar seu inconsciente via corporal e textual como linguagem nasbrinca<strong>de</strong>iras, capaz <strong>de</strong> transformar-se em diversos contextos, estimulan<strong>do</strong> o<strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abstração da criança subjetivada na interação com oOutro.Uma proposta pedagógica e a realida<strong>de</strong>Neste momento irei sucintamente explorar algo que não faz parte <strong>do</strong> trabalho<strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>. Ao contrário <strong>do</strong> autor, pensamos que há elementos da Psicanálisepossíveis <strong>de</strong> serem utiliza<strong>do</strong>s na escola. É evi<strong>de</strong>nte que não estamos procuran<strong>do</strong> serpsicoterapeutas ou terapeutas e nem ocupar um espaço da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental.Pensamos numa escola que represente perante a comunida<strong>de</strong> um espaço acolhe<strong>do</strong>r,criativo e pedagógico 68 .Para existir esse lugar diferente, precisamos consi<strong>de</strong>rar, no campo educacional,que ele seja o espaço <strong>de</strong> aprendizagem, lugar privilegia<strong>do</strong> na perspectiva <strong>de</strong> construçãoda autoria <strong>do</strong> pensamento e autonomia, ao qual <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da subjetivida<strong>de</strong> e objetivida<strong>de</strong>68 Segun<strong>do</strong> Nilce da Silva (2003, p. 75): “espaço <strong>de</strong> acolhimento” (ponto <strong>de</strong> vista da necessida<strong>de</strong> daassistência, material ou psicológica, <strong>do</strong>s nossos sujeitos); “espaço <strong>de</strong> criação” (<strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista dapsicanálise, da psicologia, na medida em que tal espaço, ao permitir criação, tem característicasterapêuticas); “espaço pedagógico” (<strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista das ciências da educação, já que os processosensino-aprendizagem estarão presentes no referi<strong>do</strong> espaço).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>156


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisecriada ou iniciada na Educação Infantil e se esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong>s anos no EnsinoFundamental.Quan<strong>do</strong> pensamos em espaço acolhe<strong>do</strong>r, queremos dizer que seja um lugar <strong>de</strong>confiança entre as pessoas para refletirmos e tomarmos <strong>de</strong>cisões coletivas que atendamas especificida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong> a qual ofereça projetos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> mun<strong>do</strong>s esuas relações alternativas <strong>de</strong> forma a complementar a extensão familiar, sem substituiros enlaces da família e sim contribuin<strong>do</strong> para o seu amadurecimento.A criativida<strong>de</strong> surge das brinca<strong>de</strong>iras, da arte espontânea, das danças, músicase teatralizações <strong>de</strong> diversos gêneros <strong>de</strong> peças. Ser um lugar para que to<strong>do</strong>s possamrepresentar seus espaços potenciais, oferecer oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> participação das criançase a<strong>do</strong>lescentes como atores e não como meros expecta<strong>do</strong>res da plateia.O fazer pedagógico é a parte que <strong>de</strong>veria aten<strong>de</strong>r os alunos conforme suaspotencialida<strong>de</strong>s, não no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> excluir ou rotular (estigmatizar), mas o <strong>de</strong> ofereceroportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem. Neste ponto, assim como na psicanálise, temos aimpressão <strong>de</strong> estarmos cometen<strong>do</strong> um trabalho sem resulta<strong>do</strong>s a curto, médio ou longoprazo. Há falhas no processo da aprendizagem que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da relação <strong>do</strong> professor ealuno, <strong>do</strong> aluno com o conhecimento e <strong>do</strong> aluno em relação a si mesmo. A imersão nouniverso das letras <strong>de</strong> forma prazerosa, na interdisciplinarida<strong>de</strong> <strong>do</strong> apresentar asespecificida<strong>de</strong>s das diversas disciplinas, ou <strong>de</strong> oferecer uma seqüência didática sobreum tema. São meios para se encontrar a alegria em pertencer à escola pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><strong>de</strong>scobrir e não pelo ato da obrigação submissa <strong>de</strong> estar na sala <strong>de</strong> aula.Por outro la<strong>do</strong>, há a agressivida<strong>de</strong> em relação à escola: crianças e a<strong>do</strong>lescentesper<strong>de</strong>ram o respeito pelos pais, enfrentam com ódio os professores 69 ou oconhecimento 70 objetivamente mais elabora<strong>do</strong> que requer um processo da escolarização.As palavras em seus diálogos são explicitamente erotizadas, os pais <strong>de</strong>positam seus69 Qual a representação social <strong>do</strong> professor? Uma representação social <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprestigio e <strong>de</strong>svalorizaçãoperante a socieda<strong>de</strong>? Um não reconhecimento como profissão? Atuação semelhante ao sacerdócio?Admira<strong>do</strong> e odia<strong>do</strong> ao mesmo tempo?70 Segun<strong>do</strong> Gorz (2005), o conhecimento nas atuais relações <strong>de</strong> trabalho vem substituin<strong>do</strong> o capital fixomaterial pelo capital humano, o “imaterial” imensurável é agrega<strong>do</strong> ao produto final na socieda<strong>de</strong> dainformação. Por não ser i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> como custo <strong>de</strong> produção, o conhecimento não po<strong>de</strong> ser umagran<strong>de</strong>za incorporada no valor final da merca<strong>do</strong>ria assume um esta<strong>do</strong> da arte, seu valor <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à escassez<strong>de</strong>ste conhecimento atinge patamares eleva<strong>do</strong>s na criação <strong>de</strong> produtos exclusivos pelas corporaçõestecnológicas em áreas como as: farmacêuticas, <strong>de</strong> softwares, agropecuárias e <strong>de</strong> consultorias.Por outro la<strong>do</strong>, o conhecimento utiliza<strong>do</strong> na “economia <strong>do</strong> conhecimento” é incorpora<strong>do</strong> e trata<strong>do</strong> comoproprieda<strong>de</strong> intangível exclusiva da empresa. É uma bolha financeira o capital imaterial, assim que aten<strong>de</strong>as necessida<strong>de</strong>s produtivas esse conhecimento po<strong>de</strong> ser converti<strong>do</strong> em franquias, à publicida<strong>de</strong> assumeum papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstrução <strong>do</strong> interesse coletivo. Um novo ser humano esta sen<strong>do</strong> gera<strong>do</strong> a partir daspropagandas vinculadas na mídia, há o apelo pelo consumo <strong>de</strong> tecnologia, mas pouca qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidafica em evi<strong>de</strong>ncia e a escassez <strong>de</strong> serviços favorece as privatizações numa lógica da globalização.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>157


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisefilhos nas escolas e não assume suas responsabilida<strong>de</strong>s os tornan<strong>do</strong> uma mãe-má. Há abanalização <strong>do</strong> sexo. Uma vonta<strong>de</strong> incontrolável em ser consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong> produtos da eradigital ou <strong>de</strong> futilida<strong>de</strong>s apresentadas como necessárias para a vida.A insatisfação em relação à escola 71 , principalmente sobre o conhecimentoofereci<strong>do</strong>, é externaliza<strong>do</strong> por perguntas irônicas e muitas vezes porta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> ódio:- Profe, para que serve isso?- Não tem um jeito fácil <strong>de</strong> fazer?- É para nota?- Copia no ca<strong>de</strong>rno?- Por que você veio para a escola?Muitas outras perguntas, <strong>de</strong> formas <strong>de</strong>safia<strong>do</strong>ras ou <strong>de</strong> confrontação com osistema escolar surgem quan<strong>do</strong> há um diálogo entre professor e aluno. Neste momentoprecisamos ser pessoas compreensivas e atentas para conseguir respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> formaconfiante o que <strong>de</strong>sejamos <strong>de</strong> suas pessoas e <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong> amadurecimentonecessário para a sua formação como pessoas inseridas num mun<strong>do</strong> cheio <strong>de</strong> incertezas.E, para aqueles que ficaram na escola, apren<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a copiar 72 ou permanecen<strong>do</strong>submissos ao sistema escolar, <strong>de</strong> certa forma estão sen<strong>do</strong> molda<strong>do</strong>s para não atrapalharou questionar a socieda<strong>de</strong> a qual pertencem.ConclusãoO lúdico é um viver em brinca<strong>de</strong>iras muito importante para o <strong>de</strong>senvolvimentocriativo e cognitivo da criança, o qual assume valores diferentes em <strong>de</strong>terminadas fases<strong>de</strong> sua vida, sobrepon<strong>do</strong> ou interrelacionan<strong>do</strong> com o aprendiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> que nosujeito vai-se tecen<strong>do</strong> a sua subjetivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma individualizada e singular seorganiza no movimento construtivo intrapsíquico e interpsíquico, entre o <strong>de</strong>ntro e ofora, forman<strong>do</strong> o seu espaço potencial num equilíbrio ou <strong>de</strong>sequilíbrio <strong>do</strong> seu eu (self).71 Para Leny Mrech (2003, p.35-36): O que emerge na Educação a nosso ver é, muitas vezes, uma açãosem sujeito. Ou um sujeito sem saber porque age <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada forma, um sujeito que age por impulsosem pensar, ou sob o impacto <strong>de</strong> uma emocionalida<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong>.De alguma forma o que percebemos é que a conexão ato e pensamento em nossas escolas encontra-sefragilizada. Sem falar em um contexto emocional que se apresenta <strong>de</strong> uma tal or<strong>de</strong>m que muitas vezes oseduca<strong>do</strong>res, os alunos, os funcionários, os familiares, etc. se sentem sem um <strong>de</strong>lineamento claro e precisodas suas emoções. Há uma tristeza ou cansaço constante, uma alegria <strong>de</strong>smotivada e uma <strong>de</strong>struição quetransparece muitas vezes nas escolas através <strong>do</strong>s atos <strong>de</strong> vandalismo.72 Não estamos dizen<strong>do</strong> que a imitação como simulação <strong>de</strong> aprendizagem é <strong>de</strong>snecessária, mas a cópia noca<strong>de</strong>rno sem um senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> criar mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> raciocínio os condiciona como alunos copistas.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>158


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseA forma como o professor trabalha as ativida<strong>de</strong>s lúdicas, jogos e brinca<strong>de</strong>irascom regra é <strong>de</strong> fundamental importância para ajudar a criança na construção da suaafetivida<strong>de</strong>, ampliar sua linguagem, seus conhecimentos, suas competênciaspsicomotoras e, enfim, seu <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo e sócio-relacional para aconstrução <strong>de</strong> uma subjetivida<strong>de</strong> para a objetivida<strong>de</strong>, ocorren<strong>do</strong> assim umaaprendizagem significativa.No mun<strong>do</strong> imaginário e fantasioso proporciona<strong>do</strong> pelas brinca<strong>de</strong>iras e nos jogos,no qual a criança apren<strong>de</strong> a formular regras, no brincar se observa que há uma ativida<strong>de</strong>grupal operativa dramatizada pelo convívio ambiental das crianças sem ser umacaracterística inata, mas construída na ativida<strong>de</strong> social e humana que sobrepõeinconscientemente os diversos contextos sociais diversos, transforman<strong>do</strong> a fantasia emrealida<strong>de</strong> imaginária estruturada em uma nova realida<strong>de</strong>, real ou não, se envolve emnovas normas e novas regras próprias <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> amadurecimento da pessoa.Os jogos e brinca<strong>de</strong>iras são usa<strong>do</strong>s nos mais diversos segmentos da convivênciahumana. São usa<strong>do</strong>s por famílias para estimularem suas crianças; em psicologia nalu<strong>do</strong>terapia e na psicopedagogia como recursos terapêuticos <strong>de</strong> aprendizagem eestratégia <strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong>cente.Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a proposta pedagógica para a Educação Infantil e EnsinoFundamental, para crianças <strong>de</strong> quatro a cinco anos e para <strong>de</strong> seis a onze anos, voltada asua educação para a cidadania e a sua gradativa autonomia como pessoa a estar numprocesso <strong>de</strong> amadurecimento, envolven<strong>do</strong> aspectos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns diversas e multifacetadas,permean<strong>do</strong> entre a moral religiosa, familiar e social até construir a sua cognição epercepção <strong>de</strong> mun<strong>do</strong>. A autonomia e a construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> para a sua singuralida<strong>de</strong>e inserção social ao mun<strong>do</strong> que percorre entre a ilusão e <strong>de</strong>silusão, chega a criança naa<strong>do</strong>lescência portan<strong>do</strong> múltiplos espelhos <strong>de</strong> mun<strong>do</strong>s. O trabalho escolar <strong>de</strong>ve serentendi<strong>do</strong> como garantia <strong>de</strong> acesso aos conhecimentos produzi<strong>do</strong>s historicamente pelahumanida<strong>de</strong> e formar, concomitantemente, indivíduos críticos, criativos e autônomos,capazes <strong>de</strong> agir e modificar o meio on<strong>de</strong> vivem e <strong>de</strong> se <strong>de</strong>scobrirem como pessoas.Encontramos aproximação entre a Educação Infantil com o primeiro ano <strong>do</strong>Ensino Fundamental, como na gran<strong>de</strong> maioria das escolas públicas, convive com osmais varia<strong>do</strong>s problemas enfrenta<strong>do</strong>s em sala <strong>de</strong> aula, um reflexo da comunida<strong>de</strong> ou <strong>do</strong>amadurecimento humano? No que se refere à agressivida<strong>de</strong>, bulling, carência afetiva,família, incertezas, marginalida<strong>de</strong>, sexualida<strong>de</strong>, violência simbólica ou real on<strong>de</strong> estãoUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>159


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseas raízes <strong>do</strong> mal-estar <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>? Será a natureza humana uma alterida<strong>de</strong> na relação<strong>de</strong>strutiva e criativa consigo mesmo?Entretanto, a escola assume um papel não bem <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma explicita eclara na família que se faz necessário para a construção da socieda<strong>de</strong>. O papel dasituação <strong>de</strong> repressora para po<strong>de</strong>r transferir valores <strong>de</strong>seja<strong>do</strong>s pela socieda<strong>de</strong>. Valorestais como: agilida<strong>de</strong>, concentração, disciplina e outros requisitos necessários para seaproximar das competências leitoras e escritoras utilizadas como ferramentas na suainteração e ambientação na socieda<strong>de</strong> da informação e globalizada. Por outro la<strong>do</strong>, o seupapel <strong>de</strong> transferir uma cultura cientifica e tecnológica se per<strong>de</strong> nesses momentos <strong>de</strong>conflitos gera<strong>do</strong>s pelos alunos na recusa em querer apren<strong>de</strong>r ou aceitar novos valores <strong>de</strong>uma cultura letrada a qual não pertencem causan<strong>do</strong> resistências.Assim, a esperança numa escola transforma<strong>do</strong>ra por parte <strong>do</strong>s professores,gestão e família encontra a resistência <strong>do</strong>s alunos em aceitar essa outra possibilida<strong>de</strong>que a escola oferece, poucos alunos tomam para si este po<strong>de</strong>r ofereci<strong>do</strong> como meio <strong>de</strong>mobilida<strong>de</strong> social ou <strong>de</strong> encontro consigo mesmo.Dentro <strong>de</strong> tantas contradições na busca <strong>de</strong> soluções aos problemas <strong>do</strong> cotidianoescolar, <strong>do</strong>s quais são <strong>de</strong> outras esferas <strong>de</strong> atuação, a escola tem sua qualida<strong>de</strong> e senti<strong>do</strong>para muitos alunos, estão em processo <strong>de</strong> alfabetização imersos no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>letramento, estimula<strong>do</strong>s pelos professores numa batalha diária para a aceitação econstrução <strong>de</strong>sses conhecimentos transforma<strong>do</strong>res e forma<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cidadãos.No processo <strong>de</strong> alfabetização talvez a rotina organizada crie obstáculos a alunosque estão em sua singularida<strong>de</strong> afasta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s processos <strong>de</strong> letrismo necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong>uma intervenção paralela por parte <strong>do</strong> professor. Nesta situação seria interessanteorganizar um material <strong>de</strong> apoio específico as suas necessida<strong>de</strong>s para sistematicamentepromover a capacida<strong>de</strong> leitora e aproximar esses alunos aos <strong>de</strong>mais.Por outro la<strong>do</strong>, fica claro que ao <strong>de</strong>senvolver uma ativida<strong>de</strong> lúdica, o professoroferece ao aluno a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuar como sujeito no seu processo <strong>de</strong> aprendizagemsignificativa e <strong>de</strong> construção da autonomia. O que o jogo e o lúdico proporcionam nasinterações sócio-educativas entre professor e crianças, algo muito relevante no processo<strong>de</strong> tecer o discurso necessário para a compreensão <strong>do</strong> problema <strong>de</strong> aprendizagem econstrução da subjetivida<strong>de</strong>.Nesta perspectiva, to<strong>do</strong>s estão envolvi<strong>do</strong>s no processo <strong>de</strong> aprendizagem. Por isso<strong>de</strong>ixamos à proposta que reforça o pensamento que <strong>de</strong>vemos exercer uma prática<strong>do</strong>cente em parceria, em equipe, on<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s <strong>de</strong>verão ter “olhar” e “escuta” para o sujeitoUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>160


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseda aprendizagem, um olhar <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o outro, sua história e inquietações, paraprepará-los para o jogo da vida.ReferênciasDIAS, E. O. A teoria <strong>do</strong> amadurecimento <strong>de</strong> D. W. <strong>Winnicott</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago,2003. 344 p.GORZ, A. O imaterial: conhecimento, valor e capital. Tradução <strong>de</strong> Celso Azzan Júnior.São Paulo: Annablume, 2005. 107 p.MRECH, L. M (1999). Psicanálise e educação: novos opera<strong>do</strong>res <strong>de</strong> leitura. São Paulo:Pioneira Thomson Learning, 2003. 144 p.SILVA, N. Exclusão social: espaço <strong>de</strong> criação como alternativa educacional. São Paulo:Ieditora, 2003. 119 p.WINNICOTT, D. W. (1957). A criança e seu mun<strong>do</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar Editores,1977. 270 p.WINNICOTT, D. W. (1971). O brincar e a realida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1975. 208p.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>161


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseO médico e o monstro: reflexões a cerca <strong>de</strong> um bor<strong>de</strong>rlineTatiane Kelli Rodrigues 73Carla Maria Lima Braga 74ResumoNa vida adulta, o verda<strong>de</strong>iro self, teoricamente, já está constituí<strong>do</strong>, no entanto, segun<strong>do</strong>a teoria <strong>Winnicott</strong>iana, por mais que algumas pessoas apresentem comportamentossocialmente aceitos para um adulto, e sejam adultos, elas po<strong>de</strong>m ainda, não possuir umverda<strong>de</strong>iro self, o que ocasiona em sentimentos <strong>de</strong> uma não completu<strong>de</strong>, ou <strong>de</strong> nãoexistência, causan<strong>do</strong> ainda um sentimento <strong>de</strong> vazio, e também <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> parasua vida. A falta <strong>de</strong> um ambiente seguro inicial e também perturbações neste, po<strong>de</strong>macarretar em distorções da personalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> indivíduo, inclusive psicose, no entanto asdistorções por ele produzidas po<strong>de</strong>m resultar em algo que socialmente é aceito. No caso<strong>de</strong> Douglas um jovem adulto <strong>de</strong> 25 anos, o sentimento <strong>de</strong> não pertença, torna-seevi<strong>de</strong>nte através <strong>de</strong> seus discursos e produções, durante suas sessões, pois <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muitoce<strong>do</strong> ele teria cria<strong>do</strong> um falso self, que ocasionou em uma estrutura psicótica organizada<strong>de</strong> maneira rígida, ocasionan<strong>do</strong> em uma personalida<strong>de</strong> obsessiva, que viria paracompensar, sob forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, uma ameaça <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scompensação psicóticaeminente, e será através da teoria winnicottiana, que pensaremos a cerca <strong>de</strong> seu caso.Palavras chave: falso self; personalida<strong>de</strong>; psicose.73 Estudante <strong>do</strong> quinto ano <strong>de</strong> graduação em <strong>Psicologia</strong>, pela Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>;Colabora<strong>do</strong>ra no projeto <strong>de</strong> pesquisa: A Clínica <strong>Winnicott</strong>iana: Um estu<strong>do</strong> sobre a teoria <strong>do</strong>amadurecimento pessoal e o manejo clínico; também pela Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.74 Graduada em <strong>Psicologia</strong> pela Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> , Mestra<strong>do</strong> em Educação pelaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> , Doutora<strong>do</strong> em <strong>Psicologia</strong> PUC/Campinas. Docente <strong>do</strong> curso <strong>de</strong><strong>Psicologia</strong>, <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> psicologia e psicanálise, da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>162


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseO passa<strong>do</strong> não reconhece o seu lugar: está sempre presente - um estu<strong>do</strong> sobreabuso sexual à luz da teoria winnicottianaThe past <strong>do</strong>es not recognize its place: it is always present – a review about sexabuse based on <strong>Winnicott</strong>’s theoryBruna Maria <strong>de</strong> Souza 75Carla Maria Lima Braga 76ResumoO presente trabalho tem como objetivo versar a respeito da maneira pela qual umaa<strong>do</strong>lescente po<strong>de</strong> elaborar uma tentativa <strong>de</strong> abuso sexual na infância. Geralmente, aoviver um abuso na infância, será apenas na a<strong>do</strong>lescência que o indivíduo terá oconhecimento da situação vivida como intrusiva. No entanto, é também nesse momentoda vida <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente que é possível perceber reflexos da relação estabelecida com oabusa<strong>do</strong>r também em outras relações <strong>do</strong> indivíduo. Desse mo<strong>do</strong>, para que o a<strong>do</strong>lescentepossa usufruir <strong>do</strong> momento presente <strong>de</strong> sua vida, torna-se necessário trabalhar a questão<strong>de</strong> distinguir um relacionamento <strong>do</strong> outro para que seja possível evitar que uma vivência<strong>de</strong>ste tipo que <strong>de</strong>ixa tamanhas marcas psíquicas não comprometa os outros tipos <strong>de</strong>relacionamentos que o a<strong>do</strong>lescente venha a <strong>de</strong>senvolver. A intervenção psicoterápica<strong>de</strong>ve ser com base <strong>de</strong> uma relação confiável, em um ambiente facilita<strong>do</strong>r para que aa<strong>do</strong>lescente possa reconstruir um ambiente familiar e social confiável, novamente.Palavras-chave: a<strong>do</strong>lescente; infância; <strong>Winnicott</strong>.AbstractThe present review aims to <strong>de</strong>bate about how an a<strong>do</strong>lescent can elaborate an attempt ofsex abuse on her childhood. Generally, when a person suffered a sex abuse on hischildhood, he will know the consequences of that invasive event only on hisa<strong>do</strong>lescence. However, on his a<strong>do</strong>lescence, it is possible to i<strong>de</strong>ntify some effects of therelation between the a<strong>do</strong>lescent with the abuser in others relations with other people.Therefore, it is necessary that the a<strong>do</strong>lescent discover how to differentiate all hisrelations from the relation with the abuser so that he can live his a<strong>do</strong>lescence in a health75 Discente <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.76 Docente <strong>do</strong> <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Mestre emEducação. Doutora em <strong>Psicologia</strong> – PUCCamp.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>163


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseway. If the a<strong>do</strong>lescent can <strong>do</strong> that, it will be possible to avoid that psychic consequencesdisturb the others relations. The psychotherapeutic intervention must be based on atrusted relationship, in a holding environment so that the a<strong>do</strong>lescent can rebuild atrusted familiar and social environment again.Key words: a<strong>do</strong>lescent; childhood; <strong>Winnicott</strong>.O abuso sexual ou violência sexual é entendi<strong>do</strong> pela Organização Mundial <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> como “qualquer ato sexual ou tentativa <strong>de</strong> obter um ato sexual, por meio <strong>do</strong> uso<strong>de</strong> força ou <strong>de</strong> coerção, ameaças <strong>de</strong> danos por qualquer pessoa, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> grau <strong>de</strong>relação com a vítima e <strong>do</strong> ambiente no qual a violência ocorre” (BOARATI et al, 2009,p. 427).Desse mo<strong>do</strong>, tal ato ou tentativa po<strong>de</strong> ocasionar efeitos tanto no campo físicoquanto no campo emocional, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser também a curto ou a longo prazo. Assim, umacriança que sofreu uma tentativa <strong>de</strong> abuso po<strong>de</strong> experienciar os efeitos <strong>de</strong> talacontecimento <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento que ocorreu ou tão somente na fase da a<strong>do</strong>lescência ouda ida<strong>de</strong> adulta. Já quanto à natureza <strong>do</strong>s efeitos, estes po<strong>de</strong>m ser físicos comomachuca<strong>do</strong>s e ferimentos em partes <strong>do</strong> corpo, como também <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m emocional.Quan<strong>do</strong> são <strong>de</strong>sta natureza, po<strong>de</strong> acontecer <strong>de</strong> o abusa<strong>do</strong> se fascinar pelo ato <strong>do</strong> abusopor consi<strong>de</strong>ra-lo como uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> carinho, também po<strong>de</strong> se sentiragredi<strong>do</strong> por, muitas vezes, ser força<strong>do</strong> a realizar o ato.De qualquer forma, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da forma como o indivíduo vive a experiênciada tentativa <strong>do</strong> abuso sexual ou <strong>de</strong>ste em si mesmo, é comum que para que o indivíduoelabore tal experiência, esta seja repetida em outros relacionamentos, indican<strong>do</strong> umprovável ciclo <strong>de</strong> repetição <strong>do</strong> fenômeno. Assim, o que se percebe é a reproduçãomesmo que sutil <strong>do</strong> fenômeno em outros relacionamentos <strong>do</strong> indivíduo como, porexemplo, através <strong>de</strong> comportamentos relaciona<strong>do</strong>s ao isolamento e indisponibilida<strong>de</strong>para se relacionar com outras pessoas.A experiência com o abuso sexual, portanto, interfere <strong>de</strong> qualquer forma noprocesso <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> indivíduo, fazen<strong>do</strong> com que este tenha que lidar comos novos elementos trazi<strong>do</strong>s por tal experiência e que a partir disso, seja capaz <strong>de</strong>assimilar as novas vivências para conseguir dar seguimento ao seu <strong>de</strong>senvolvimento.Segun<strong>do</strong> <strong>Winnicott</strong> (1996),Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>164


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseNo início, a totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento ocorre <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> atendências herdadas tremendamente vitais em direção ao<strong>de</strong>senvolvimento – à integração, ao crescimento: a coisa que um dia faza criança querer andar e assim por diante. Se houver uma provisãoambiental satisfatória, essas coisas ocorrem com a criança. Porém, se oambiente facilita<strong>do</strong>r não for satisfatório, rompe-se a linha da vida e astendências herdadas, muito po<strong>de</strong>rosas, não po<strong>de</strong>m levar a criança àplenitu<strong>de</strong> pessoal (1996, p. 113).Para <strong>Winnicott</strong>, a maneira como se dá o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>indivíduo é <strong>de</strong>terminada pelo tipo <strong>de</strong> ambiente no qual se está inseri<strong>do</strong> e aspossibilida<strong>de</strong>s que este oferece ao indivíduo para lidar com possíveis dificulda<strong>de</strong>s aolongo <strong>do</strong> processo. No caso <strong>de</strong> uma tentativa <strong>de</strong> abuso sexual, a linha <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento é seguramente comprometida ou até mesmo interrompida. Isso se dáuma vez que o cenário <strong>do</strong> abuso sexual serve como indicativo <strong>de</strong> que algo nesteambiente falhou e o indivíduo acabou sen<strong>do</strong> exposto a este tipo <strong>de</strong> experiência namaioria das vezes vivida como agressiva e invasiva.Diante <strong>de</strong>sta situação, é pertinente resgatar a noção <strong>de</strong> trauma para <strong>Winnicott</strong>que se remete exatamente a esse tipo <strong>de</strong> vivência <strong>do</strong> indivíduo, uma vez que mediantesuas observações clínicas, <strong>Winnicott</strong> pô<strong>de</strong> perceber que o trauma seria como umaruptura na linha da vida.Um trauma é aquilo contra o que um indivíduo não possui<strong>de</strong>fesa organizada, <strong>de</strong> maneira que um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> confusãosobrevém, segui<strong>do</strong> talvez por uma reorganização <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas,<strong>de</strong>fesas <strong>de</strong> um tipo mais primitivo <strong>do</strong> que as que eramsuficientemente boas antes da ocorrência <strong>do</strong> trauma.(FULGENCIO, 2004, p. 264)Assim, diante da experiência traumática, o indivíduo se vê obriga<strong>do</strong> a lidar comum fenômeno que até então não estava prepara<strong>do</strong>, pois seu ambiente provia suasnecessida<strong>de</strong>s. Como consequência tem-se tanto a preservação quanto a continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong>si mesmo comprometida.O trauma po<strong>de</strong> ser entendi<strong>do</strong> no cenário <strong>do</strong> abuso sexual como se o ambientehouvesse falha<strong>do</strong> e, <strong>de</strong>sse mo<strong>do</strong>, per<strong>de</strong> a confiabilida<strong>de</strong> que antes o indivíduo tinhaneste ambiente. Assim, “esse tipo <strong>de</strong> falha po<strong>de</strong> levar a criança, por exemplo, a exigirque o ambiente volte a ser confiável, atacan<strong>do</strong> esse ambiente na esperança <strong>de</strong> que este asustente ou ainda, [...] uma perda quase que <strong>de</strong>finitiva da confiança e da esperança,perda da “fé em ...” (FULGENCIO, 2004).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>165


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseA<strong>de</strong>mais, o abuso sexual também po<strong>de</strong> representar ao indivíduo um tipo <strong>de</strong><strong>de</strong>struição da pureza da experiência individual resultante <strong>de</strong> uma invasão súbita <strong>de</strong> fatosreais, ou seja, a falha <strong>do</strong> ambiente o inva<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma maneira a <strong>de</strong>sconstituir suaexperiência como indivíduo, uma vez que fatos da realida<strong>de</strong> o pegaram <strong>de</strong>spreveni<strong>do</strong>,<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a forçá-lo a improvisar <strong>de</strong>fesas e mecanismos para sobreviver diante daameaça <strong>do</strong> fenômeno <strong>do</strong> abuso sexual.Portanto, como já menciona<strong>do</strong>, os efeitos emocionais <strong>do</strong> abuso sexual po<strong>de</strong>m servários, <strong>de</strong>ntre eles: fracasso no <strong>de</strong>senvolvimento, comportamento abaixo <strong>do</strong> espera<strong>do</strong>para a ida<strong>de</strong>, me<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>rmir sozinha, me<strong>do</strong> e ansieda<strong>de</strong> associa<strong>do</strong>s, sentimentos <strong>de</strong>traição (<strong>de</strong>sconfiança, hostilida<strong>de</strong> e raiva nos relacionamentos), crises que aparentamepilepsia, dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem, irritabilida<strong>de</strong>, ansieda<strong>de</strong> e transtornos <strong>de</strong>alimentação. Sen<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os efeitos maneiras variadas que o indivíduo po<strong>de</strong> encontrarpara lidar com o que se apresenta a ele como uma falha ambiental.Neste trabalho, objetiva-se discorrer a respeito <strong>de</strong> um caso clínico <strong>de</strong> umaa<strong>do</strong>lescente <strong>de</strong> 16 anos e que foi encaminhada ao atendimento psicológico <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> àqueixa <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> abuso sexual por parte <strong>do</strong> tio materno, dificulda<strong>de</strong>s na escola eansieda<strong>de</strong> seguida <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontrole na alimentação.De acor<strong>do</strong> com sua história <strong>de</strong> vida, a a<strong>do</strong>lescente per<strong>de</strong>u o pai aos 5 anos, o tiomaterno tentou abusar <strong>de</strong>la sexualmente e sempre apresentou dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>aprendizagem em geral durante toda sua vida escolar. Ao longo <strong>do</strong>s atendimentosrealiza<strong>do</strong>s, percebe-se que a a<strong>do</strong>lescente no momento com 16 anos, apresenta to<strong>do</strong>s osefeitos emocionais cita<strong>do</strong>s acima sen<strong>do</strong> a questão <strong>de</strong> relacionamentos muito discutidanas sessões. A a<strong>do</strong>lescente traz diversas vezes que não consegue dar seguimento arelações com garotos da sua ida<strong>de</strong>, pois acredita que to<strong>do</strong>s a magoarão, brincarão comseus sentimentos e que, portanto, namoros servem apenas para fazer sofrer até quefinalmente, será traí<strong>do</strong> ou troca<strong>do</strong> por outra pessoa.Assim, a a<strong>do</strong>lescente afirma que quase to<strong>do</strong>s os seus amigos <strong>de</strong>monstraminteresse por ela, mas ela os trata com indiferença por acreditar que to<strong>do</strong>s a farão sofrer.Nota-se, portanto, que a a<strong>do</strong>lescente tem dificulda<strong>de</strong> em travar um relacionamento comuma pessoa <strong>do</strong> sexo oposto sem consi<strong>de</strong>rar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estarem interessa<strong>do</strong>s nelacomo namora<strong>do</strong>s em potencial.Além disso, a a<strong>do</strong>lescente já apresentou episódios <strong>de</strong> epilepsia durante suainfância, não ten<strong>do</strong> mais ocorri<strong>do</strong> por conta <strong>do</strong> uso contínuo <strong>de</strong> medicamentos. Noentanto, mesmo também fazen<strong>do</strong> uso <strong>de</strong> medicamentos relaciona<strong>do</strong>s ao apetite eUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>166


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseansieda<strong>de</strong>, a a<strong>do</strong>lescente se mostra sempre muito apreensiva e irritada com as cobranças<strong>de</strong> seu meio familiar e escolar e como solução para tal cenário, ela <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> por comerexcessivamente, resultan<strong>do</strong> em um quadro <strong>de</strong> obesida<strong>de</strong>.A<strong>de</strong>mais, como já dito, ela também apresenta muitas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>aprendizagem, não conseguin<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s típicas <strong>de</strong> pessoas da sua ida<strong>de</strong>como, por exemplo, saber ver as horas em um relógio, fazer contas matemáticas e ternoção temporal.Diante <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>sta a<strong>do</strong>lescente e à luz <strong>do</strong> lega<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>, épossível estabelecer certas relações com sua história <strong>de</strong> vida e a maneira como lida comseus impasses e dificulda<strong>de</strong>s típicas da a<strong>do</strong>lescência. Pelo que ela nos conta, percebe-seque após a morte <strong>de</strong> seu pai, ela se aproximou <strong>do</strong> tio como se este tivesse se torna<strong>do</strong> seusegun<strong>do</strong> pai. No entanto, diante da tentativa <strong>do</strong> tio, ela passou a se mostrar mais retraídasocialmente e segun<strong>do</strong> a mãe da a<strong>do</strong>lescente, passou a apresentar dificulda<strong>de</strong>s na escola.Assim, é possível verificar que a partir da experiência possivelmente traumáticavivenciada pela a<strong>do</strong>lescente, seu processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento foi altera<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong>incluí<strong>do</strong>s, portanto, episódios <strong>de</strong> epilepsia, me<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>rmir sozinha e ansieda<strong>de</strong> eirritabilida<strong>de</strong> intensas. Esse foi o mo<strong>do</strong> que a a<strong>do</strong>lescente encontrou para elaborar umaexperiência que talvez nem tenha ti<strong>do</strong> condições ainda <strong>de</strong> torná-la consciente.<strong>Winnicott</strong>, além <strong>de</strong> contribuir com questões acerca <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento eamadurecimento, também nos ajuda a pensar a clínica psicanalítica e o papel <strong>do</strong>psicoterapeuta neste cenário da tentativa <strong>de</strong> abuso sexual na história <strong>de</strong> umaa<strong>do</strong>lescente.Primeiramente, <strong>de</strong>ve-se partir <strong>do</strong> pressuposto <strong>de</strong> que o abuso sexual representapara quem o vive, uma situação <strong>de</strong> intrusão e que influencia negativamente no processo<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da criança. Além disso, tal caráter intrusivo representa umadistorção <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento normal <strong>do</strong> indivíduo, representan<strong>do</strong> tal experiênciatraumática uma falha ambiental. É pertinente ressaltar também que a relação com oabusa<strong>do</strong>r também é totalmente abalada em termos <strong>de</strong> confiança e segurança que foram<strong>de</strong>positadas na relação com um outro sujeito.Portanto, diante <strong>de</strong>ste quadro, cabe ao psicoterapeuta lançar mão <strong>do</strong> conceitowinnicottiano holding, para que seja possível que o psicoterapeuta se faça presente nosetting com o indivíduo <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a não julgar suas atitu<strong>de</strong>s e servin<strong>do</strong> comosustentáculo para suas angústias, sofrimentos, ansieda<strong>de</strong>s e dúvidas assim como fariauma mãe suficientemente boa.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>167


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseAo conseguir estabelecer tal relação, o psicoterapeuta <strong>de</strong>ve permitir ao indivíduoque este recupere sua confiança nas relações possibilitan<strong>do</strong> ao indivíduo reviver assituações traumáticas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com suas condições, fornecen<strong>do</strong> uma sustentaçãoemocional mediante o manejo clínico da relação terapêutica.O analista basea<strong>do</strong> na relação <strong>de</strong> holding favorecerá o analisa<strong>do</strong> reviveros esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento primitivo, buscan<strong>do</strong> a criação <strong>de</strong> umreferencial <strong>de</strong> confiança que incite a in<strong>de</strong>pendência e fortalecimento <strong>do</strong>ego <strong>do</strong> sujeito. Do mesmo jeito que agiria a “mãe suficientemente boa”sustentan<strong>do</strong> o seu filho, o analista sobreviverá aos ataques <strong>de</strong> ódio <strong>do</strong>seu analisa<strong>do</strong> e com estabilida<strong>de</strong> emocional aceitará as falhas que lheforem apontadas; somente assim o falso self é enfraqueci<strong>do</strong> e reapareceo sujeito integra<strong>do</strong> (SILVA, 2011).Ao se <strong>de</strong>parar com a falta <strong>de</strong> uma mãe suficientemente boa e <strong>de</strong> um ambientefacilita<strong>do</strong>r, o indivíduo po<strong>de</strong> lançar mão <strong>do</strong> recurso <strong>de</strong> criar um falso self como tentativa<strong>de</strong> se proteger da realida<strong>de</strong> externa causa<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> angústias e <strong>de</strong>sconfiança e que lhecausou a experiência traumática. Vai cabe ao psicoterapeuta proporcionar um ambientefacilita<strong>do</strong>r durante as sessões para que o indivíduo perceba a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se mostrarno setting com todas suas angústias e aflições e, consequentemente, gradativamente<strong>de</strong>sconstruir o falso self que por muito tempo o protegeu das frustações e sofrimentosadvin<strong>do</strong>s <strong>de</strong> um ambiente que falhou diante <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s.Ao <strong>de</strong>sconstruir esse falso self, o indivíduo estará possibilita<strong>do</strong> <strong>de</strong> assumir suascaracterísticas verda<strong>de</strong>iras como sujeito, assim como qualquer tipo <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>emocional. Ao ter acesso a esses conteú<strong>do</strong>s, o indivíduo po<strong>de</strong>rá reagir ao queexperienciou odian<strong>do</strong>, se revoltan<strong>do</strong>, agredin<strong>do</strong>, etc. A vivência <strong>de</strong>stes conteú<strong>do</strong>s atéentão nega<strong>do</strong>s pelo falso self auxiliarão o indivíduo a retomar a linha <strong>de</strong> seu<strong>de</strong>senvolvimento e a viver como um sujeito integra<strong>do</strong> e consciente <strong>de</strong> suas experiênciase possibilida<strong>de</strong>s para lidar com elas.A respeito ainda, das possibilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> analista winnicottiano, quan<strong>do</strong> estecomeça a ter maior conhecimento acerca <strong>do</strong> falso self <strong>do</strong> indivíduo,O terapeuta consegue representar <strong>de</strong> maneira satisfatória um bomambiente para adaptação das necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> paciente, além <strong>de</strong>possibilitar ao paciente <strong>de</strong>monstrar o seu verda<strong>de</strong>iro eu (self), tornan<strong>do</strong>viável a este a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> correr o risco <strong>de</strong> experienciar novasvivências (WINNICOTT apud GARCIA et al, 2007, p.124).Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>168


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseAssim, cabe ao psicoterapeuta promover um ambiente facilita<strong>do</strong>r como setting,on<strong>de</strong> haja confiança e segurança suficientes para que o indivíduo possa acessarexperiências traumáticas até então não elaboradas <strong>de</strong> um mo<strong>do</strong> em que tenha o suporteemocional da<strong>do</strong> pelo psicoterapeuta. Apenas com esse apoio profissional que oindivíduo tem mais possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reagir ao ambiente que falhou e darprosseguimento ao seu <strong>de</strong>senvolvimento.Deve-se, no entanto, ressaltar que para que este ambiente facilita<strong>do</strong>r sejapossível no setting, são necessários alguns cuida<strong>do</strong>s quanto à postura <strong>do</strong> profissional.Segun<strong>do</strong> Garcia et al (2007),Ao terapeuta cabe a paciência necessária para a reelaboração <strong>do</strong>sprocessos primários <strong>de</strong>sse paciente. O tempo, não cronológico, é otempo da reconstrução, o tempo interno das novas experimentações eludicida<strong>de</strong>s. O reinventar das percepções <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> com suas falhas ounão, é um momento laborioso que cabe ao paciente, com a sutilpresença <strong>do</strong> terapeuta. Porém, quan<strong>do</strong> esse espaço também é invadi<strong>do</strong>pela pressa, pela urgência causada pela ansieda<strong>de</strong> terapêutica,novamente remonta-se a falha ambiental primária (p. 126).Portanto, assim como há a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o analista conseguir reproduzir opapel <strong>de</strong> mãe suficientemente boa para auxiliar na retomada <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> indivíduo, também há a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o analista agir <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> arepresentar mais uma falha ambiental na história <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> indivíduo. Por isso, anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sustentar a função <strong>de</strong> holding para que o indivíduo reviva suasexperiências <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com suas condições psíquicas e no tempo que lhe for necessário.A imposição <strong>de</strong> evolução por parte <strong>do</strong> analista só será mais um evento invasivo que oindivíduo terá que lidar com os poucos recursos que foi capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver ao longo<strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento.No caso da a<strong>do</strong>lescente discuti<strong>do</strong> neste trabalho, cabe ao analista proporcionarum ambiente facilita<strong>do</strong>r o suficiente para que ela consiga falar sobre o assunto datentativa <strong>de</strong> abuso, assim como expressar o que sente em relação ao ocorri<strong>do</strong>, uma vezque até então, a informação <strong>do</strong> abuso sexual foi trazida apenas pela mãe, ten<strong>do</strong> aa<strong>do</strong>lescente nunca menciona<strong>do</strong>. Assim, o trabalho com a a<strong>do</strong>lescente <strong>de</strong>ve visar àconstrução <strong>de</strong> um ambiente em que ela se sinta segura em reviver tal experiência e queencontre dispositivos para lidar com esse conteú<strong>do</strong>.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>169


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseReferênciasBEZERRA, M. M. <strong>de</strong> S. Abuso sexual infantil – criança X abuso sexual. Disponívelem: www.psicologia.com.pt. Acesso em: 26 set. 2012.BLEICHMAR, N. M. e BLEICHMAR, C. L. <strong>de</strong>. A psicanálise <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Freud. PortoAlegre: Artes Médicas, 1992.BOARATTI, M. C. B., SEI, M. B e ARRUDA, S. L. S. Abuso sexual na infância: avivência em um ambulatório <strong>de</strong> psicoterapia <strong>de</strong> crianças. Rev. Bras. CrescimentoDesenvolvimento Hum., v. 19, n. 3, p. 426-434, 2009.FULGENCIO, L. A noção <strong>de</strong> trauma em Freud e <strong>Winnicott</strong>. Natureza Humana, v. 6, n.2, p. 255-270, jul.-<strong>de</strong>z. 2004.GARCIA JUNIOR, C. A. S. et al. As falhas <strong>do</strong> terapeuta: construções clínicas compacientes <strong>de</strong> funcionamento mental regressivo. Mudanças – <strong>Psicologia</strong> da Saú<strong>de</strong>, v. 15,n. 3, p.121-127, jul-<strong>de</strong>z, 2007.SILVA, K. M. Holding e Formação da Personalida<strong>de</strong>. Disponível em:http://artigos.psicologa<strong>do</strong>.com/abordagens/psicanalise/holding-e-formacao-dapersonalida<strong>de</strong>-em-d-w-winnicott.Acesso em: 7 nov. 2012.WINNICOTT, D. W. Tu<strong>do</strong> começa em casa. São Paulo: Martins Fontes, 1996.ZIMERMAN, D. E. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, Técnica e Clínica. PortoAlegre: Artes Médicas, 1998.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>170


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseO uso da consulta terapêutica em crianças vítimas <strong>de</strong> abuso sexual: a experiênciano contexto institucionalCristina Fukumori WataraiResumoA inserção <strong>do</strong> psicólogo em instituições públicas tem si<strong>do</strong> cada vez mais frequente emnossa contemporaneida<strong>de</strong>. Entretanto, a alta <strong>de</strong>manda, as diretrizes das políticaspúblicas que orientam o trabalho, na maioria das vezes, interdisciplinar e, acomplexida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s casos, nos coloca diante <strong>de</strong> uma preocupação acerca <strong>do</strong> papel <strong>de</strong>steprofissional. Este presente trabalho visa refletir sobre o uso das consultas terapêuticasenquanto um méto<strong>do</strong> eficaz no atendimento a crianças e a<strong>do</strong>lescentes vítimas <strong>de</strong> abusosexual no contexto institucional. A consulta terapêutica tem ênfase nas primeirasentrevistas, possibilitan<strong>do</strong> algo diferente da análise. No momento em que a vítimaexternaliza (verbalmente ou por outras formas) como o abuso ocorreu e quem foi operpetra<strong>do</strong>r, há uma confiança e também um pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> ajuda, o mínimo e o necessárioque se precisa fazer é oferecer o apoio, o holding, para que a vítima tenha certacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acreditar na obtenção <strong>de</strong>sse auxílio. Durante a primeira entrevista, háuma i<strong>de</strong>ia preconcebida <strong>do</strong> psicólogo, tanto como aquele que compreen<strong>de</strong>rá sua história<strong>de</strong> abuso, ajudan<strong>do</strong>-o, quanto o que representa uma ameaça, que po<strong>de</strong>rá punirseveramente o agressor, com o qual a criança po<strong>de</strong> ter um forte vínculo. Essas crençasiniciais também são compartilhadas pelos pais ou responsáveis, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ainda serrealiza<strong>do</strong> um trabalho paralelo com eles. Em <strong>Winnicott</strong>, é possível encontrar a base paraeste trabalho ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> em uma instituição pública, pois há maior flexibilida<strong>de</strong>em suas i<strong>de</strong>ias e conceitos, possibilitan<strong>do</strong> muito mais o exercício da capacida<strong>de</strong> criativa<strong>do</strong> terapeuta no atendimento <strong>do</strong>s casos. Consi<strong>de</strong>ra-se uma forma eficaz e imediata, nocontexto institucional, <strong>de</strong> atendimento a vítimas <strong>de</strong> abuso sexual, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> alcançar uma<strong>de</strong>manda maior, evitan<strong>do</strong> longas filas <strong>de</strong> espera e ainda favorecen<strong>do</strong> uma mudançasintomática rápida, a qual é, em alguns <strong>de</strong>sses casos, preferível a uma cura psicanalítica.Palavras-chave: abuso sexual, consultas terapêuticas, contexto institucional.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>171


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseOs componentes ontológicos da Psicanálise <strong>Winnicott</strong>ianaFabrício Ramos <strong>de</strong> Oliveira 77É<strong>de</strong>r Soares SantosResumoEsse estu<strong>do</strong> faz parte <strong>de</strong> um projeto maior intitula<strong>do</strong> “Fenomenologia <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>:investigação sobre o conceito <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> em Hei<strong>de</strong>gger e <strong>Winnicott</strong>” e preten<strong>de</strong> tratarsobre o caminho gradativo que o bebê percorre para sentir-se real. Nesse contexto,verifica-se que existir relaciona-se a conquista <strong>do</strong> tempo, <strong>do</strong> espaço e da realida<strong>de</strong>, fatopossível pela sustentação (holding), manejo (handling) e apresentação <strong>de</strong> objetosproporciona<strong>do</strong>s pela relação (<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>) da mãe com seu filho. Desse mo<strong>do</strong>,po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar tais conquistas como essenciais para o infante existir, visto que, osimples nascer não garante o predica<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser e nem <strong>de</strong> continuar-a-ser. Assim, <strong>de</strong>acor<strong>do</strong> com a fenomenologia existencial <strong>de</strong> Martin Hei<strong>de</strong>gger – a apropriação <strong>do</strong> tempo,<strong>do</strong> espaço e da realida<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong> a componentes ontológicos na psicanálise <strong>de</strong><strong>Winnicott</strong> e mostra-se fundamental para colocar em movimento o potencial inato <strong>de</strong>amadurecer <strong>do</strong> próprio bebê. Diante disso, verifica-se em <strong>Winnicott</strong> a importância darelação dual como mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> garantir ao bebê o sentimento <strong>de</strong> existir e colocar emmovimento sua existência no mun<strong>do</strong>.Palavras-chave: <strong>Winnicott</strong>, componentes ontológicos, Hei<strong>de</strong>gger, amadurecimento.77 Bolsista PIBIC/CNPQUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>172


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseOs traços <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescer: Desenho-Estória e a construção <strong>do</strong> olhar <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescentesobre si mesmoDaniela Cristina Oliveira 78Carla Maria Lima Braga 79O presente estu<strong>do</strong> realizou uma investigação clínica <strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes que procuraram àClínica Psicológica da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> e que foram atendi<strong>do</strong>s peloProjeto Integra<strong>do</strong> A Clínica <strong>Winnicott</strong>iana: um estu<strong>do</strong> sobre a Teoria <strong>do</strong>Amadurecimento Pessoal e o Manejo Clínico, durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2011 a abril<strong>de</strong> 2012. A investigação vem <strong>de</strong> encontro à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aperfeiçoar o processo <strong>de</strong>diagnóstico <strong>do</strong>s pacientes, assim como permitir uma melhor compreensão <strong>de</strong> como osa<strong>do</strong>lescentes vêem a si mesmo no contexto atual, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a facilitar a comunicação noprocesso analítico ou em outros ambientes. O estu<strong>do</strong> utilizou o Procedimento <strong>de</strong>Desenhos-Estórias <strong>de</strong> Walter Trinca <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> referencial teórico psicanalíticowinnicottiano. Os resulta<strong>do</strong>s mostram recorrência <strong>de</strong> vários temas, entre eles:agressivida<strong>de</strong>, comunicação e isolamento, as mudanças físicas <strong>de</strong>sse perío<strong>do</strong>, a busca <strong>de</strong>um verda<strong>de</strong>iro eu e a falta <strong>de</strong> compreensão <strong>do</strong>s adultos e/ou cuida<strong>do</strong>res. Essas sãoquestões que marcam esse perío<strong>do</strong> da vida e que apontam para o sofrimento que éfortemente vivencia<strong>do</strong> pelos a<strong>do</strong>lescentes, causa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s e, até mesmo,a<strong>do</strong>ecimento <strong>de</strong>ssa população.Palavras-chave: psicanálise; <strong>de</strong>senho-estória; a<strong>do</strong>lescência.78 Daniela Cristina Oliveira: Aluna <strong>de</strong> psicologia da UEL, participante <strong>do</strong> projeto integra<strong>do</strong> A Clínica<strong>Winnicott</strong>iana: um estu<strong>do</strong> sobre a Teoria <strong>do</strong> Amadurecimento Pessoal e o Manejo Clínico.79 Professora adjunta <strong>do</strong> <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> psicologia e psicanálise da UEL e orienta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> projetointegra<strong>do</strong> A Clínica <strong>Winnicott</strong>iana: um estu<strong>do</strong> sobre a Teoria <strong>do</strong> Amadurecimento Pessoal e o ManejoClínico.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>173


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseRumo à in<strong>de</strong>pendência: um estu<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> um atendimento clínicoElizângela <strong>de</strong> Freitas Silva 80Carla Maria Lima Braga 81ResumoO presente trabalho propõe uma reflexão sobre o percurso da <strong>de</strong>pendência ain<strong>de</strong>pendência, através <strong>de</strong> um atendimento clínico <strong>de</strong> uma criança <strong>de</strong> cinco anos.<strong>Winnicott</strong> (1983), ao <strong>de</strong>screver sobre as fases <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, discorreu sobre trêsconceitos separadamente: <strong>de</strong>pendência absoluta, <strong>de</strong>pendência relativa e rumo àin<strong>de</strong>pendência. A fase da <strong>de</strong>pendência absoluta ocorre no estágio inicial <strong>do</strong><strong>de</strong>senvolvimento emocional, no qual a criança é totalmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da mãe, nessaetapa a mãe é consi<strong>de</strong>rada o ambiente favorável <strong>do</strong> bebê, ela precisa <strong>do</strong> apoio <strong>do</strong> pai dacriança e <strong>de</strong> sua família para conseguir exercer essa função. A fase da <strong>de</strong>pendênciarelativa consiste em uma falha gradual <strong>de</strong>ssa mesma adaptação, pois a mãe ten<strong>de</strong> aproporcionar uma <strong>de</strong>sadaptação gradualmente, nessa fase à criança começa a conseguiresperar um pouco pelo atendimento da mãe. A última fase <strong>de</strong>scrita por <strong>Winnicott</strong> érumo à in<strong>de</strong>pendência, a criança começa a se i<strong>de</strong>ntificar, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> mais abrangente, coma socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> a in<strong>de</strong>pendência. Quan<strong>do</strong> se torna adulto, ainda continua oprocesso <strong>de</strong> amadurecimento, pois mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> conquistar um lugar na socieda<strong>de</strong>através <strong>de</strong> um emprego ou <strong>de</strong> ter constituí<strong>do</strong> uma família, não se atinge a in<strong>de</strong>pendênciacompleta.Palavras-chave: Desenvolvimento emocional, <strong>de</strong>pendência e rumo à in<strong>de</strong>pendência.80 Graduada em <strong>Psicologia</strong> pela Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (2011), pós-graduanda em clínicapsicanalítica pela Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, ex-aluna <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> HospitalarHU/UEL (2010). Psicóloga clínica <strong>de</strong> crianças, a<strong>do</strong>lescentes e adultos (2012 – Atual); Psicóloga nasecretaria da educação <strong>de</strong> Alvorada <strong>do</strong> Sul – PR (2012 – Atual).81 Graduada em <strong>Psicologia</strong> pela Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (1992), Mestra<strong>do</strong> em Educação pelaUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> (1998), Doutora<strong>do</strong> em <strong>Psicologia</strong> PUC/Campinas. Docente <strong>do</strong> curso<strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>, <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> psicologia e psicanálise, da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>174


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseTransferência na perspectiva psicanalítica winnicottiana: estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso comcriançaBruna Isabella Russo 82Mariana Paschoal Martins 83Diana Pancini <strong>de</strong> Sá Antunes Ribeiro 84Resumo<strong>Winnicott</strong> afirma uma concepção <strong>de</strong> transferência que se baseia não só na repetição <strong>de</strong>vivências da infância na análise, mas também na realização <strong>de</strong> experiênciasfundamentais para a estruturação <strong>do</strong> self e que não foram possíveis <strong>de</strong> acontecer nasprimeiras experiências objetais. Ambas as situações só po<strong>de</strong>m ocorrer no espaçopotencial, pois é nele que há a comunicação transforma<strong>do</strong>ra. Sen<strong>do</strong> assim, o presentetrabalho tem como objetivo analisar o atendimento psicoterápico <strong>de</strong> uma criança <strong>de</strong> <strong>do</strong>isanos que, em nossa compreensão, encontra o objeto <strong>de</strong> sua necessida<strong>de</strong> na figura <strong>do</strong>terapeuta, iludin<strong>do</strong> que este tenha si<strong>do</strong> por ela cria<strong>do</strong>, <strong>de</strong> maneira semelhante ao que obebê faz com sua mãe. Esta questão indica a importância da presença sensível <strong>do</strong>analista agin<strong>do</strong> como facilita<strong>do</strong>r na criação <strong>do</strong> espaço potencial, para que possa sertoma<strong>do</strong> como objeto subjetivo, possibilitan<strong>do</strong> assim a retomada <strong>do</strong> curso normal <strong>do</strong>amadurecimento <strong>do</strong> paciente.Palavras-chave: <strong>Winnicott</strong>; Psicanálise com crianças; Transferência.82 Graduanda <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> da Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho” -Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências e Letras <strong>de</strong> Assis. Realiza estágios nas Ênfases <strong>de</strong> Processos Clínicos e Saú<strong>de</strong>Mental, e Políticas Públicas e Clínica Crítica. Participa <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão Universitária “EnquadresClínicos <strong>Winnicott</strong>ianos na Saú<strong>de</strong> Pública”.83 Possui especialização em <strong>Psicologia</strong> em Hospital Geral pelo Hospital das Clínicas da FMUSP-SP. Temexperiência na área <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> Clínica, com ênfase em <strong>Psicologia</strong> Hospitalar e da Saú<strong>de</strong>. Atualmentecom atuação na área <strong>de</strong> psico-oncologia, na Fundação Pio X<strong>II</strong> – Hospital <strong>de</strong> Câncer <strong>de</strong> Barretos.Mestra<strong>do</strong> em andamento na Escola <strong>de</strong> Enfermagem da USP <strong>de</strong> Ribeirão Preto na área <strong>de</strong> EnfermagemPsiquiátrica.84 Professora Assistente Doutora <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> Clínica <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> daUNESP/Assis. Mestre em <strong>Psicologia</strong> Clínica pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Doutora em <strong>Psicologia</strong>como Profissão e Ciência pela PUC-Campinas. Pesquisa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong> Pesquisa (CNPq) Figuras emo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> subjetivação no contemporâneo.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>175


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseUm holding pros meus fantasmasA holding to my ghostsDébora Kalwana <strong>de</strong> Martini Lopes <strong>do</strong>s Santos 85Carla Maria Lima Braga 86ResumoA partir <strong>de</strong> um referencial psicanalítico, mais especificamente, da clínica winnicottiana,buscamos pontuar, por meio <strong>de</strong> um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso, o papel e a importância <strong>do</strong> holdingno atendimento <strong>de</strong> um a<strong>do</strong>lescente com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se integrar, ou seja, <strong>de</strong> ser. Emprincípio, buscamos relatar qual é o papel <strong>do</strong> holding na sessão terapêutica emcontraponto com os indícios <strong>de</strong> uma maternagem <strong>de</strong>fasada nos primeiros anos <strong>de</strong> vida<strong>do</strong> paciente. Em um segun<strong>do</strong> momento, nos atentamos em olhar para os sintomas:dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, comportamento regredi<strong>do</strong>, eleva<strong>do</strong> temor <strong>de</strong> morte,insegurança e alucinações visuais, e suas relações com um possível não atendimento dasnecessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> bebê no estágio <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência absoluta. Assim, preten<strong>de</strong>-se mostrar aimportância <strong>do</strong> holding para a integração <strong>do</strong> ser bebê, bem como da promoção <strong>de</strong> um<strong>de</strong>senvolvimento pessoal e <strong>de</strong> um existir enquanto pessoa.Palavras-chave: Holding, alucinação visual, clínica winnicottianaAbstractFrom psychoanalysis, more specifically, the <strong>Winnicott</strong>ian clinic, through a case studywe aim to punctuate the role and importance of holding in clinical care of a teenagerstruggling to integrate himself, i.e., in search to being. In principle, we aim to relatewhich is the role of holding in the therapeutic session in opposition to the therapeuticindications of a mothering lagged early in the patient's life. In a second step, we focuse<strong>do</strong>n symptoms: learning difficulties, regressive behavior, high fear of <strong>de</strong>ath, insecurityand visual hallucinations, and their relationship with possible unmet needs in the babystage of absolute <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce. Thus, it is inten<strong>de</strong>d to show the importance of holding forthe integration of the being of the baby, as well as promoting personal <strong>de</strong>velopment andthe being as person.85 Discente <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>.86 Docente <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e Psicanálise da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>. Mestreem Educação e Doutora em <strong>Psicologia</strong> PUC-Campinas.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>176


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseKeywords: Holding, visual hallucination, <strong>Winnicott</strong>ian clinic.IntroduçãoEu trago um caso que ainda está em andamento, e justamente por isso não falareiaqui nem <strong>de</strong> diagnósticos fecha<strong>do</strong>s, mas sim <strong>de</strong> um atendimento semanal na clínicaescolada Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>, que já dura mais <strong>de</strong> vinte sessões. Tratase<strong>do</strong> caso <strong>do</strong> <strong>de</strong> um a<strong>do</strong>lescente <strong>de</strong> 16 anos, que chamarei <strong>de</strong> Douglas. Ele cursa asétima série e foi diagnostica<strong>do</strong> com dislexia entre outros distúrbios da aprendizagem.Douglas foi encaminha<strong>do</strong> para o atendimento individual por queixas como mentira epequeno furto à mãe, vin<strong>do</strong> a ser o meu primeiro paciente. Apesar <strong>de</strong> seus 16 anos,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nosso primeiro encontro, ele me passou a imagem <strong>de</strong> um menino maisregredi<strong>do</strong>.Vin<strong>do</strong> “por mandato”, ele nunca me apresentou uma queixa propriamente “sua”,digamos, “autêntica”. Nossos encontros diziam <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong> atendimento<strong>de</strong>mandada por ele logo nos primeiros encontros: a proposta <strong>do</strong> holding. Holding: eua<strong>do</strong>to a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>. A princípio, a cargo <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong>, fui buscar a<strong>de</strong>finição da palavra, <strong>de</strong> origem inglesa. O que eu encontrei foram palavras como:manter, segurar, conter, reter, sustentar, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, pegar, entre muitas outras. A meu ver,elas todas fazem jus à <strong>de</strong>finição winnicottiana, que, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> geral, diz respeito a umapreocupação materna primária, na qual a mãe se i<strong>de</strong>ntifica com as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seubebê, sem que haja gran<strong>de</strong>s falhas.Este esta<strong>do</strong> em que a mãe está extremamente ligada a seu bebê permite que elapossa ser capaz <strong>de</strong> compreendê-lo e, assim, capaz <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r as suas necessida<strong>de</strong>s.Neste senti<strong>do</strong>, a mãe, então i<strong>de</strong>ntificada com seu bebê, po<strong>de</strong> dar contornos aos seusgestos, acolher as suas angústias, aten<strong>de</strong>r à necessida<strong>de</strong> absoluta <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s por parte<strong>do</strong> bebê, nomeadamente as necessida<strong>de</strong>s fisiológicas <strong>do</strong> bebê. O holding, portanto, éentendi<strong>do</strong> como esse conjunto <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s maternos iniciais: é uma das funções da“mãe suficientemente boa”, que auxilia na edificação <strong>de</strong> uma personalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> bebê epermite que ele possa vir a se integrar e se constituir como ser. Além disso, é condiçãodas relações que ele virá a estabelecer com outras pessoas – basicamente, com o mun<strong>do</strong>(PEREIRA; BERLINCK, 2006). Acho oportuno, ainda, neste momento, lembrarmo-nos<strong>de</strong> algumas palavras <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>, que dizem respeito ao holding:Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>177


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da PsicanáliseÉ especialmente no início que as mães são vitalmente importantes e <strong>de</strong>fato é tarefa da mãe proteger o seu bebê <strong>de</strong> complicações que ele aindanão po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r, dan<strong>do</strong>-lhe continuamente aquele pedacinhosimplifica<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que ele, através <strong>de</strong>la passa a conhecer(WINNICOTT, 1984, p. 227).Portanto, a partir da teoria <strong>de</strong> <strong>Winnicott</strong>, po<strong>de</strong>mos conceber que quan<strong>do</strong>, porqualquer motivo, a mãe não consegue aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu bebê nas fasesiniciais, este último acaba por per<strong>de</strong>r a sua trajetória rumo à integração. Há, pois, umainterrupção na continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu ser, que acarreta uma perda da sensação <strong>de</strong>existência, já que não houve um suporte egóico por parte da mãe, com relação àproteção <strong>do</strong> self <strong>do</strong> bebê.O caso Douglas: consequências das falhas <strong>de</strong> um holding maternoE é neste ponto que eu acho oportuno convidar à reflexão o casosupramenciona<strong>do</strong>. Entre atendimentos, entre muitos “vamos brincar!”, entre um ououtro problema na escola, sonhos sobre assassinatos, mortes reais e um gran<strong>de</strong> temor <strong>de</strong>morte ro<strong>de</strong>a<strong>do</strong> por fantasmas, realizei – orientada por minha supervisora – umaconversa com a mãe <strong>de</strong> Douglas, com o fim <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r como se havia constituí<strong>do</strong>a vida <strong>de</strong>le <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a gravi<strong>de</strong>z.Devi<strong>do</strong> ao fato <strong>de</strong> a mãe <strong>de</strong> Douglas ter me apresenta<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> início, uma falarelativamente <strong>de</strong>sorganizada, a nossa comunicação se estabeleceu <strong>de</strong> uma maneiraproblemática. Quan<strong>do</strong> eu a questionei sobre a gestação <strong>de</strong> Douglas, a sua respostaimediata foi: “traumatizante”. Ao longo <strong>de</strong> nossa conversa, ela me relata que foi pega <strong>de</strong>surpresa com a gravi<strong>de</strong>z: ainda tinha uma filha <strong>de</strong> colo, <strong>de</strong> aproximadamente oitomeses, quan<strong>do</strong> soube que estava esperan<strong>do</strong> mais um filho. Relata que a gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong>stafilha, a única irmã <strong>de</strong> meu paciente, foi muito difícil para ela, a mãe, e que a suasegunda gravi<strong>de</strong>z, a <strong>de</strong> Douglas, foi um trauma, um gran<strong>de</strong> sofrimento.Des<strong>de</strong> o começo da gravi<strong>de</strong>z a mãe teve <strong>de</strong> ficar <strong>de</strong> repouso, por conta <strong>de</strong> umsangramento logo nos primeiros meses. Sem o repouso, provavelmente per<strong>de</strong>ria o bebê.Ela conta que logo que ganhou o bebê ficou muito <strong>do</strong>ente e acamada, por um gran<strong>de</strong>perío<strong>do</strong>, quase chegan<strong>do</strong> a morrer. Neste momento, eu me pergunto a cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> quemficou Douglas, nesses momentos iniciais tão importantes? Enten<strong>do</strong>, então, que,<strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s maternos, Douglas teve um movimento <strong>de</strong> ter <strong>de</strong> preocupar-seconsigo, teve <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se e não po<strong>de</strong> viver as suas experiências corporais. Com isto,relaciono a este momento o gran<strong>de</strong> me<strong>do</strong> que Douglas tem da morte. Des<strong>de</strong> os nossosUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>178


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseprimeiros encontros, ele, sem perceber, relata sobre seu gran<strong>de</strong> temor da morte. Porvezes, ele me dizia o quanto queria po<strong>de</strong>r constituir uma família, ter seus filhos e umacasa com um gran<strong>de</strong> aquário; dizia, também, como se achava novo para morrer; quetinha muito ainda que viver. Douglas me relatou, ainda, <strong>do</strong> me<strong>do</strong> que tinha em serassalta<strong>do</strong> e <strong>de</strong> que o ladrão, ao a<strong>de</strong>ntrar em sua casa, pu<strong>de</strong>sse, ao final <strong>do</strong> roubotambém, matá-lo – algo que, no entanto, ele não tem trazi<strong>do</strong> mais em sessão. Ele tinhame<strong>do</strong> <strong>de</strong> lugares escuros, <strong>de</strong> vielas que não conhecia: suspeitava que ali estariaescondi<strong>do</strong> um ladrão que po<strong>de</strong>ria atentar contra sua vida. Em momentos posteriores, fui<strong>de</strong>scobrir que essa fantasia também era nutrida por sua mãe, que sempre lhe dizia <strong>do</strong>risco que tinha <strong>de</strong> ele ser assalta<strong>do</strong> e, também, <strong>de</strong> vir a ser morto pelo ladrão.Douglas não pô<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver, pois sua mãe não teve condições <strong>de</strong> lhe darholding. Por isto ele sentia-se persegui<strong>do</strong> pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> morte. Se não bastasse,Douglas me relata um episódio com sua irmã, aproximadamente um ano mais velha <strong>do</strong>que ele: ela o ataca com uma faca, supostamente por ele ter <strong>de</strong>struí<strong>do</strong> os seus esmaltes.Neste dia, Douglas se levanta, aproxima-se <strong>de</strong> mim e levanta a blusa, mostran<strong>do</strong>-me amarca <strong>de</strong>ixada em sua barriga pela facada da irmã.As falhas da mãe para com seu bebê – e por que não o conjunto <strong>de</strong> falhas eintrusões a que meu paciente foi submeti<strong>do</strong> ao longo <strong>de</strong> sua vida? – impediram oamadurecimento pessoal <strong>de</strong> seu filho. Ao contrário, em seu processo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento emocional, principalmente nos momentos emocionais, nomeadamenteno perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência absoluta, Douglas foi leva<strong>do</strong> a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o seu self dasansieda<strong>de</strong>s e angústias, por conta da intrusão <strong>do</strong> ambiente e da falta <strong>de</strong> holding, <strong>de</strong>mo<strong>do</strong> a criar um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> funcionamento que impedisse uma intrusão ambiental(PEREIRA e BERLINCK, 2006). Assim, Douglas po<strong>de</strong>ria ser entendi<strong>do</strong> como um bebêque possivelmente viveu permanentemente em seu próprio mun<strong>do</strong> interno, o queimpossibilitou a sua integração. Portanto, a incapacida<strong>de</strong> da mãe <strong>de</strong> prover ao seu bebêum ambiente facilita<strong>do</strong>r surge como um risco <strong>de</strong> interferência no próprio processo <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento saudável <strong>do</strong> bebê.As alucinações visuaisAinda, po<strong>de</strong>mos pensar em outro sintoma <strong>de</strong> Douglas: a alucinação visual.Segun<strong>do</strong> seu relato, ele vê <strong>do</strong>is homens, um <strong>de</strong> branco e outro <strong>de</strong> preto, quepermanecem ao seu re<strong>do</strong>r na escola. Com isto, po<strong>de</strong>mos inferir um fracasso nas relaçõesobjetais <strong>do</strong> indivíduo, nas quais ele <strong>de</strong>senvolve um outro tipo <strong>de</strong> relação com a ilusão,Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>179


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseque não aquela vivida com os objetos transicionais. Se pensarmos, ainda, em termos <strong>de</strong>psicose, na qual a criança se relaciona com o mun<strong>do</strong> subjetivo ou com um objeto fora<strong>do</strong> self, o que po<strong>de</strong>mos constatar é uma realida<strong>de</strong> subjetiva: as organizações psíquicasinternas passam a ser compartilhadas com a realida<strong>de</strong> externa (PEREIRA eBERLINCK, 2006).Aos poucos, Douglas trouxe-me esse seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> funcionamento. Fomosconversan<strong>do</strong>, jogan<strong>do</strong>, até que um dia senti que podia pedir que ele <strong>de</strong>senhasse o que elevia na escola. Senta<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>is no chão, eu lhe <strong>de</strong>i um gran<strong>de</strong> papel craft, tintas epincéis, para que pudéssemos nos comunicar melhor. A princípio, ele se mostrouresistente por conta <strong>de</strong> seu sonho anterior à sessão, o <strong>de</strong> que ele estava pintan<strong>do</strong> a suacasa e que havia feito muita bagunça para pintar, mas logo se pôs a fazer. Douglas<strong>de</strong>senhou um “homem” branco e um “homem” preto. Eu pedi, então, que ele retratassecomo se sentia com tu<strong>do</strong> aquilo. Assim, no meio <strong>do</strong>s “homens”, ele <strong>de</strong>senhou, com aminha ajuda, um coração cindi<strong>do</strong>. Ele me disse que se sentia mal, que o seu coração erato<strong>do</strong> preto, mas que agora, aos poucos, ele estaria fican<strong>do</strong> vermelho.Na sessão seguinte, orientada por minha supervisora, levei novamente o <strong>de</strong>senhoe então fiz algumas consi<strong>de</strong>rações sobre ele. Abri-o e fui aos poucos dizen<strong>do</strong> sobrecomo me parecia que era difícil aceitar que não somos apenas bons, que temos o nossola<strong>do</strong> mal também. E que talvez estivesse muito difícil <strong>de</strong> suportar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le esses <strong>do</strong>isla<strong>do</strong>s. Essa sessão foi muito difícil para Douglas, que permaneceu praticamente to<strong>do</strong> oencontro sem manter contato visual ou verbal comigo. Quan<strong>do</strong> eu o questiono se euestava falan<strong>do</strong> ali alguma besteira, ele acena com a cabeça dizen<strong>do</strong> que não, e, emseguida, me diz que tem algo preso <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si e que não sabia o que fazer com aquilo.Eu então digo que talvez isso que estava preso <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le não <strong>de</strong>ixava que elecontinuasse a viver, que isso o mantinha preso na sétima série, preso nas suasdificulda<strong>de</strong>s.Hoje, Douglas relata não ver mais os <strong>do</strong>is “homens”. Penso que, neste caso, oholding tem si<strong>do</strong> fundamental <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, mas que há, é claro, muito a ser cuida<strong>do</strong>,há muito a se dar suporte. Há muito ainda a ser conquista<strong>do</strong>. E continuo ten<strong>do</strong> tenhomuito a apren<strong>de</strong>r com Douglas. Acredito que o holding ainda continuará sen<strong>do</strong> a melhorestratégia nesse caso, e que é preciso, também, ficar atenta quanto aos contornos <strong>de</strong> umaprovável psicose. Conforme afirma <strong>Winnicott</strong>: “A psicose representa uma organizaçãodas <strong>de</strong>fesas, e por trás <strong>de</strong> toda <strong>de</strong>fesa organizada há a ameaça <strong>de</strong> confusão, que constituiUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>180


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisena verda<strong>de</strong> uma ruptura da integração.” (WINNICOTT, 2001, p. 90 apud PEREIRA eBERLINCK, 2006).Há, portanto, uma tendência <strong>de</strong> apresentar <strong>de</strong>fesas: através da cisão, a perda <strong>do</strong>sentimento <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> contato com a realida<strong>de</strong> externa. É uma característica dacriança psicótica o isolamento e estabelecimento <strong>de</strong> relacionamentos <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com osseus próprios termos. A criança cria uma vida interior secreta, falsa, incomunicável àrealida<strong>de</strong> externa; ela constrói um falso self com base na submissão, não chegan<strong>do</strong> àin<strong>de</strong>pendência, à maturida<strong>de</strong>. O falso self parece ser autossuficiente aos olhos <strong>de</strong>qualquer observa<strong>do</strong>r, mas a esquizofrenia encontra-se latente e irá requerer atenção(PEREIRA e BERLINCK, 2006).A psicose segun<strong>do</strong> <strong>Winnicott</strong><strong>Winnicott</strong>, <strong>de</strong> certa forma, assinala que durante o processo <strong>de</strong> amadurecimento a<strong>do</strong>ença mental po<strong>de</strong> emergir sem ser percebida, sem que se possa diferenciá-la dasdificulda<strong>de</strong>s corriqueiras provenientes <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento normal.Contu<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> o ambiente não consegue ocultar ou solucionar os conflitosemocionais durante o <strong>de</strong>senvolvimento da criança, a mesma passa a organizar-se <strong>de</strong>maneira <strong>de</strong>fensiva, com isso tornan<strong>do</strong>-se mais claro o diagnóstico (PEREIRA eBERLINCK, 2006).Evi<strong>de</strong>ncia-se, enfim, que a psicose constitui-se nos estágios iniciais da vida eprossegue por fases que vão da primeira infância até um esta<strong>do</strong> adulto. No início, acriança é o conjunto mãe-bebê e é <strong>de</strong>ssa inter-relação que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá a saú<strong>de</strong> mental <strong>do</strong>indivíduo. O bebê, nas etapas iniciais, precisará <strong>de</strong> um ambiente sustenta<strong>do</strong>r, que seadapte às suas necessida<strong>de</strong>s e que seja capaz <strong>de</strong> fornecer uma continuida<strong>de</strong> no seuexistir, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> se sentir real, integra<strong>do</strong>. Entretanto, se o bebê sofrer umainterrupção em sua continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser, quan<strong>do</strong> há a intrusão violenta <strong>do</strong> ambiente efalha na adaptação às suas necessida<strong>de</strong>s, a esquizofrenia surgirá (PEREIRA eBERLINCK, 2006).Ao falar <strong>de</strong> psicose, <strong>Winnicott</strong> parte <strong>do</strong> princípio <strong>de</strong> que a saú<strong>de</strong> mental ésustentada a partir <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s e da preocupação com o bebê na primeira infância.Cuida<strong>do</strong>s propicia<strong>do</strong>s por um “ambiente suficientemente bom” e instituí<strong>do</strong>s pela mãedurante os vários estágios da infância. Esses cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vem ser incessantes a fim <strong>de</strong>possibilitar uma continuida<strong>de</strong> no crescimento emocional da criança. Em outras palavras,para que haja uma evolução no processo rumo ao amadurecimento emocional, faz-seUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>181


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálisenecessário um ambiente prove<strong>do</strong>r que torne possível à criança afirmar seu potencial.(PEREIRA e BERLINCK, 2006). O processo <strong>de</strong> maturação, termo utiliza<strong>do</strong> pelo autor,“se refere à evolução <strong>do</strong> ego e <strong>do</strong> self, inclui a história completa <strong>do</strong> id, <strong>do</strong>s instintos esuas vicissitu<strong>de</strong>s, e das <strong>de</strong>fesas <strong>do</strong> ego relativas ao instinto”. (WINNICOTT, 1983, p.81apud PEREIRA e BERLINCK, 2006). Essa maturida<strong>de</strong> a ser adquirida pelo ser humanoimplica numa trajetória que nos leva a pensar em saú<strong>de</strong> como uma maturida<strong>de</strong>emocional, que se inicia antes <strong>do</strong> nascimento e prolonga-se até a fase adulta, durante umprocesso <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento particular da criança, a qual passará por váriasexperiências saudáveis e mesmo ruins, proporcionadas por um ambiente que envolvetanto os pais, como a família ou o ambiente social presente.De acor<strong>do</strong> com a teoria winnicottiana <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento emocional primitivo(PEREIRA e BERLINCK, 2006), essa trajetória <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>self inicia-se com a <strong>de</strong>pendência absoluta, passa para o estágio da <strong>de</strong>pendência relativa,in<strong>do</strong> rumo à in<strong>de</strong>pendência, e não ten<strong>do</strong> seu percurso encerra<strong>do</strong>, visto que o ser humanocontinua na busca <strong>de</strong> seu próprio eu, na busca <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existir e sentir-sereal.A <strong>de</strong>pendência absoluta é a fase em que a criança está totalmente à mercê <strong>de</strong>cuida<strong>do</strong>s físicos da mãe, tanto no útero, quanto após o primeiro dia <strong>do</strong> nascimento. No<strong>de</strong>senvolvimento normal, acontece neste momento um envolvimento intenso entre mãee bebê, fazen<strong>do</strong> com que ambos tornem-se uma só pessoa. A mãe i<strong>de</strong>ntifica-se com obebê a fim <strong>de</strong> conhecer suas necessida<strong>de</strong>s biológicas e psicológicas, constituin<strong>do</strong>-se emum ambiente sustenta<strong>do</strong>r a partir <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>voção e cuida<strong>do</strong>s suficientemente bons. Issoé possível se a mãe entrar em um esta<strong>do</strong> psicológico especial, chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> “preocupaçãomaterna primária”. Este esta<strong>do</strong> ocorre gradualmente durante e no final da gravi<strong>de</strong>zelevan<strong>do</strong> a sensibilida<strong>de</strong> da mulher e permitin<strong>do</strong>-lhe <strong>de</strong>senvolver uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>dispensar atenção plena à criança (PEREIRA e BERLINCK, 2006).A mãe, que <strong>de</strong>senvolve um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> “preocupação materna primária”, fornece àcriança condições para que a sua constituição, na fase inicial da vida, se manifeste apartir <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma integração da personalida<strong>de</strong>. Constituição esta queestá atrelada às condições ambientais favoráveis. É a mãe que, proporcionan<strong>do</strong> umambiente adapta<strong>do</strong> às necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> bebê, capacita-o a começar a existir, a terexperiências e, a partir <strong>de</strong>las, constituir um ego pessoal. O bebê passa a ter noção <strong>de</strong>espaço e <strong>do</strong> próprio corpo, começa a ter um senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser no espaço (PEREIRA eBERLINCK, 2006). Assim sen<strong>do</strong>, o bebê que está <strong>de</strong>scobrin<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> torna-seUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>182


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanáliseprepara<strong>do</strong> para receber as surpresas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> externo. A mãe por sua vez, será zelosa epo<strong>de</strong>rá evitar que invasores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> exterior ocorram ao bebê antes que esse o<strong>de</strong>scubra <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> natural e sereno. Para a realização <strong>de</strong>sse processo, o bebê precisaráda capacida<strong>de</strong> da mãe <strong>de</strong> prover, e <strong>de</strong> adaptar-se às suas necessida<strong>de</strong>s. Pela i<strong>de</strong>ntificaçãocom a criança, em uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção, a mãe permite que o bebê se mantenhaisola<strong>do</strong> sem ser perturba<strong>do</strong>, ou seja, somente por meio <strong>de</strong> movimentos espontâneos eleexperimentará reações à falha ambiental, <strong>de</strong>scobrin<strong>do</strong> o ambiente sem sofrer uma perdada sensação <strong>de</strong> ser. A partir daí, vai aceitan<strong>do</strong> a intrusão <strong>de</strong>sse ambiente, o qualculminará na instauração <strong>de</strong> um sentimento <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> e continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> self, a fim<strong>de</strong> atingir um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental. É neste ponto <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoemocional que po<strong>de</strong>mos evi<strong>de</strong>nciar a personalização como característica <strong>do</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> ego: “O ego se baseia em um ego corporal, mas só quan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> vaibem é que a pessoa <strong>do</strong> bebê começa a ser relacionada com o corpo e suas funções”.(WINNICOTT, 1999, p. 58 apud PEREIRA e BERLINCK, 2006).Quan<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> externo for apresenta<strong>do</strong> à criança <strong>de</strong> forma consciente, o bebêcomeça a tornar consciente <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>pendência para com a mãe. Esse processo contínuoconsiste numa relação <strong>de</strong> um com o outro, nas boas condições ambientais e noscuida<strong>do</strong>s com o bebê, estimulan<strong>do</strong> uma sensação <strong>de</strong> segurança e controle.Entretanto, quan<strong>do</strong> a adaptação <strong>do</strong> ambiente falha, e o bebê no seu isolamentofor perturba<strong>do</strong> pela intrusão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, ele apresentará respostas reativas. Segun<strong>do</strong>Pereira e Berlinck (2006), <strong>Winnicott</strong> afirma que essas reações geram distúrbios <strong>de</strong>natureza psicótica. A esquizofrenia surgirá neste primeiro estágio <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, apartir <strong>de</strong> organizações psicológicas tais como: adiamentos, distorções, regressões econflitos durante os estágios iniciais, na relação mãe-bebê. Isso nos leva a pensar nobebê como uma subjetivida<strong>de</strong> e uma <strong>de</strong>pendência absoluta <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s. Haven<strong>do</strong>problemas nessa adaptação, o bebê ten<strong>de</strong> a uma cisão, permanecen<strong>do</strong> em seu própriomun<strong>do</strong> interno, não constituin<strong>do</strong> um ego organiza<strong>do</strong> – o bebê atém-se à <strong>de</strong>pendênciaabsoluta e à <strong>de</strong>pendência relativa. Um fracasso da <strong>de</strong>voção materna <strong>de</strong> cuidar <strong>do</strong> bebêpredispõe ao <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento da esquizofrenia infantil. E é exatamente este fracassoque nós encontramos no caso <strong>de</strong> Douglas.ReferênciasPEREIRA, C. A. e BERLINCK, L. C. Pensamento winnicottiano acerca daesquizofrenia infantil. Psicología para América Latina, n. 8, nov. 2006. DisponívelUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>183


<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> <strong>II</strong> Simpósio <strong>Winnicott</strong> <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong> - <strong>Winnicott</strong> na história da Psicanálise. Acesso em 01 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong>2012.WINNICOTT, D. W. Consultas terapêuticas em psiquiatria infantil. Trad. JosetiMarques Xisto Cunha. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1984.Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>Londrina</strong>184

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