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Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi

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de <strong>um</strong>a maneira extremamente diferenciada. Não há <strong>do</strong>is indivíduos que<br />

se assemelhem: mesmo gêmeos homozigotos se diferenciam <strong>um</strong> <strong>do</strong> outro.<br />

Acontece o mesmo <strong>com</strong> a cultura (isto é, tu<strong>do</strong> o que é aprendi<strong>do</strong>: saberes,<br />

fazeres, crenças, mitos etc.), marca universal na h<strong>um</strong>anidade que só existe<br />

por intermédio das culturas singulares — a música só existe por meio das<br />

músicas etc. — o que faz <strong>com</strong> que o tesouro da unidade h<strong>um</strong>ana seja a diversidade<br />

e o da diversidade h<strong>um</strong>ana, a unidade. Leibniz afirmava: "O uno<br />

conserva e salva o múltiplo". Essa re<strong>com</strong>endação fundamental poderia nos<br />

indicar <strong>um</strong> caminho para sair <strong>do</strong> antagonismo entre a diversidade fechada<br />

em si mesma e a unidade abstrata, <strong>um</strong> caminho que <strong>um</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>do</strong> <strong>sul</strong><br />

deveria conceber.<br />

Estamos confronta<strong>do</strong>s <strong>com</strong> a crise da h<strong>um</strong>anidade que não consegue<br />

atingir a h<strong>um</strong>anidade. Estamos confronta<strong>do</strong>s <strong>com</strong> <strong>um</strong> planeta que ao mesmo<br />

tempo em que dá continuidade ao dinamismo triunfante da técnica, da<br />

ciência e da economia coloca-se em situação perigosa. Com <strong>um</strong>a grande<br />

lucidez, heidegger afirmava que apesar de acreditarmos estar n<strong>um</strong>a nova<br />

era <strong>do</strong> Il<strong>um</strong>inismo, entramos na noite e na escuridão.<br />

O que é hegemônico no Norte produz agora a cegueira a respeito<br />

da globalização e da crise da h<strong>um</strong>anidade. é a cegueira <strong>do</strong> <strong>pensamento</strong><br />

funda<strong>do</strong> essencialmente no cálculo, cego para a existência, a alegria, o<br />

sofrimento, a infelicidade, a consciência, cego para o la<strong>do</strong> h<strong>um</strong>ano da<br />

h<strong>um</strong>anidade.<br />

A visão produtivista/quantitativista <strong>do</strong> Norte ignora as qualidades e,<br />

portanto, a qualidade de vida. Por isso, <strong>um</strong>a das mensagens <strong>do</strong> <strong>sul</strong> deveria<br />

ser: "Antes melhor <strong>do</strong> que mais" e por vezes até mesmo "menos, porém<br />

melhor!" Claramente, quan<strong>do</strong> se trata <strong>do</strong>s despossuí<strong>do</strong>s, o mais deve caminhar<br />

<strong>com</strong> o melhor. Mas quan<strong>do</strong> se observa o processo mundial de produção<br />

e cons<strong>um</strong>o de objetos, uns <strong>com</strong> qualidades ilusórias, que se tornam<br />

rapidamente outros, fican<strong>do</strong> obsoletos, a maioria deles descartáveis e não<br />

reparáveis; modas superficiais, desperdícios de energias, tempos, bens, devemos<br />

nos conscientizar de que nossa civilização suscita e sofre de inúmeras<br />

intoxicações cons<strong>um</strong>istas.<br />

O <strong>pensamento</strong> <strong>do</strong>minante <strong>do</strong> Norte é basea<strong>do</strong> na redução <strong>do</strong> <strong>com</strong>plexo<br />

ao simples e na disjunção, ou seja, na separação <strong>do</strong> que, na verdade, é inseparável.<br />

O espírito de redução permitiu isolar a célula, a molécula, o átomo,<br />

a partícula. O espírito de disjunção possibilitou os desenvolvimentos das<br />

disciplinas produtoras <strong>do</strong>s conhecimentos que nos levaram a rever inteiramente<br />

nossa visão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e da vida. A especialização das disciplinas<br />

fechadas, estranhas <strong>um</strong>as às outras, desemboca, porém, no prima<strong>do</strong> de <strong>um</strong><br />

<strong>pensamento</strong> que se torna míope, que isola os objetos de seus contextos e<br />

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