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Para um pensamento do sul : diálogos com Edgar Morin - BVS-Psi

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Merece destaque a produção de políticas públicas voltadas para a<br />

inclusão social de minorias sociológicas e o reconhecimento da plura-<br />

lidade cultural e étnica. Por esse caminho, chama atenção também a<br />

configuração progressiva de <strong>um</strong> <strong>pensamento</strong> que insta o trabalho <strong>com</strong>o<br />

princípio pedagógico e a pesquisa <strong>com</strong>o princípio educativo. Tal <strong>pensamento</strong><br />

sugere o desenvolvimento <strong>do</strong> ato criativo e inventivo no processo<br />

de ensino aprendizagem, além da inegável promoção <strong>do</strong>s ambientes<br />

formais de educação ao posto de produtores de conhecimento e não<br />

somente de transmissores de saberes.<br />

Não podemos deixar de mencionar o conceito de democracia <strong>com</strong>o<br />

valor unânime dentro <strong>do</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>do</strong> Sul; única maneira de garantir<br />

a reforma da ética em busca de <strong>um</strong>a verdade para a existência h<strong>um</strong>ana,<br />

<strong>com</strong>o nos ensina <strong>Morin</strong>.<br />

A despeito <strong>do</strong>s avanços menciona<strong>do</strong>s, há, contu<strong>do</strong>, questões que precisam<br />

ser problematizadas pelo olhar <strong>do</strong> Sul. Está claro que, historicamente,<br />

o Norte dedicou <strong>um</strong>a quase cegueira às dinâmicas sociais e culturais<br />

<strong>do</strong> Sul, que, por sua vez, aceitou essa condição marginalizada ao<br />

longo de vários séculos. Sen<strong>do</strong> assim, volta<strong>do</strong>s agora para <strong>um</strong>a nova lógica,<br />

que valoriza o <strong>pensamento</strong> <strong>do</strong> Sul, poderíamos dizer que a grande<br />

missão de tal olhar seria religar os indivíduos em torno <strong>do</strong>s desafios que<br />

são de fato coletivos: a má distribuição de renda, a preservação ambiental,<br />

a escassez de recursos naturais não renováveis, o preconceito. Enfim,<br />

cabe ao espírito h<strong>um</strong>ano lançar <strong>um</strong> novo olhar para o Sul, destituí<strong>do</strong> da<br />

cegueira histórica, <strong>com</strong>o forma de religar esses <strong>do</strong>is lugares, antes antagônicos,<br />

crian<strong>do</strong> a harmonia necessária para a vida. Transforman<strong>do</strong>-a<br />

em poesia para a existência na Terra.<br />

O <strong>pensamento</strong> <strong>do</strong> Sul, por tu<strong>do</strong> isso, reforça a urgência da conciliação<br />

entre polos que, no fun<strong>do</strong>, são <strong>com</strong>plementares e não excludentes. Essa é<br />

a essência da troca: o objeto troca<strong>do</strong> é talvez menos importante <strong>do</strong> que<br />

o próprio contrato h<strong>um</strong>ano estabeleci<strong>do</strong> em parceria. Não são os bens<br />

intercambia<strong>do</strong>s que importam; o ato recíproco é que reforça laços de<br />

h<strong>um</strong>anidade. Como nos diz Marcel Mauss em seu sensível Ensaio sobre a<br />

dádiva: "No fun<strong>do</strong>, são misturas. Misturam-se as almas nas coisas; misturam-se<br />

as coisas nas almas. Misturam-se as vidas e eis <strong>com</strong>o as pessoas<br />

e as coisas misturadas saem, cada <strong>um</strong>a, das suas esferas e se misturam:<br />

o que é precisamente o contrato e a troca". 3<br />

3. MAUSS, Marcel. "Ensaio sobre a dádiva — Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas". In : _____. Sociologia e Antropologia.<br />

v. II. São Paulo: Edusp, 1974.<br />

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