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A Arte de Pesquisar – Mirian Goldenberg - Universidade Federal de ...

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34 / <strong>Mirian</strong> Gol<strong>de</strong>nberg<br />

situação e <strong>de</strong>screver a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um caso concreto.<br />

Através <strong>de</strong> um mergulho profundo e exaustivo<br />

em um objeto <strong>de</strong>limitado, o estudo <strong>de</strong> caso possibilita a<br />

penetração na realida<strong>de</strong> social, não conseguida pela<br />

análise estatística.<br />

Diferente da "neutra" sociologia das médias estatísticas,<br />

em que as particularida<strong>de</strong>s são removidas<br />

para que se mostre apenas as tendências do grupo, no<br />

estudo <strong>de</strong> caso as diferenças internas e os comportamentos<br />

<strong>de</strong>sviantes da "média" são revelados, e não<br />

escondidos atrás <strong>de</strong> uma suposta homogeneida<strong>de</strong>.<br />

Moacir Palmeira 7 mostra que a pesquisa quantitativa<br />

pressupõe uma padronização e se ilu<strong>de</strong> com a i<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> que questões formalmente idênticas tenham o mesmo<br />

significado para indivíduos diferentes. A observação<br />

direta, diz o autor, apresenta a vantagem<br />

metodológica <strong>de</strong> permitir um acompanhamento mais<br />

prolongado e minucioso das situações. Essa técnica,<br />

complementada pelas técnicas <strong>de</strong> entrevista em profundida<strong>de</strong>,<br />

revela o significado daquelas situações<br />

para os indivíduos, que sempre é mais amplo do que<br />

aquilo que aparece em um questionário padronizado.<br />

O tipo' <strong>de</strong> dados e <strong>de</strong> procedimentos <strong>de</strong> pesquisa que<br />

normalmente se relacionam com o método <strong>de</strong> estudo<br />

<strong>de</strong> caso, como a observação participante e as entrevistas<br />

em profundida<strong>de</strong>, têm suas origens em uma tradição<br />

<strong>de</strong> pesquisa antropológica nas socieda<strong>de</strong>s "primitivas".<br />

Não é possível formular regras precisas sobre as<br />

técnicas utilizadas em um estudo <strong>de</strong> caso porque cada<br />

entrevista ou observação é única: <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do tema,<br />

do pesquisador e <strong>de</strong> seus pesquisados. Como os dados<br />

'Moacir Palmeira. "Emprego e mudança sócio-econômica no Nor<strong>de</strong>ste"<br />

em Anuário antropológico 76. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977.<br />

A <strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisar</strong> / 35<br />

não são padronizados e não existe nenhuma regra objetiva<br />

que estabeleça o tempo a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> pesquisa,<br />

um estudo <strong>de</strong> caso po<strong>de</strong> durar algumas semanas ou<br />

muitos anos. O pesquisador <strong>de</strong>ve estar preparado para<br />

lidar com uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> problemas teóricos<br />

e com <strong>de</strong>scobertas inesperadas, e, também, para<br />

reorientar seu estudo. E muito frequente que surjam<br />

novos problemas que não foram previstos no início<br />

da pesquisa e que se tornam mais relevantes do que<br />

as questões iniciais.<br />

Uma proposta <strong>de</strong> Pierre Bourdieu é "boa para pensar"<br />

a utilização do estudo <strong>de</strong> caso em ciências sociais.<br />

Bourdieu, em Introdução a uma sociologia reflexiva,<br />

explica a importância da "interrogação sistemática <strong>de</strong><br />

um caso particular" para retirar <strong>de</strong>le as proprieda<strong>de</strong>s<br />

gerais ou invariantes, ocultas "<strong>de</strong>baixo das aparências<br />

<strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>".<br />

"É ele [o raciocínio analógico] que permite mergulharmos<br />

completamente na particularida<strong>de</strong> do<br />

caso estudado sem que nela nos afoguemos, como faz<br />

a idiografia empirista, e realizarmos a intenção <strong>de</strong><br />

generalização, que é a própria ciência, não pela aplicação<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s construções formais e vazias, mas<br />

por essa maneira particular <strong>de</strong> pensar o caso particular<br />

que consiste em pensá-lo verda<strong>de</strong>iramente<br />

como tal. Este modo <strong>de</strong> pensamento realiza-se <strong>de</strong><br />

maneira perfeitamente lógica pelo recurso ao método<br />

comparativo, que permite pensar relacionalmente<br />

um caso particular constituído em caso particular<br />

do possível." 8<br />

8 Pierre Bourdieu. "Introdução a uma sociologia reflexiva" em O po<strong>de</strong>r<br />

simbólico. Lisboa: Difel, 1989. pp. 32-33 (grifos do autor).

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