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A Arte de Pesquisar – Mirian Goldenberg - Universidade Federal de ...

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58 / <strong>Mirian</strong> Gol<strong>de</strong>nberg<br />

mente explicitada pelo pesquisador para que outros<br />

pesquisadores analisem as conclusões obtidas. A escolha<br />

do objeto está relacionada a um problema central<br />

<strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> abordagem: a questão da representativida<strong>de</strong><br />

do caso escolhido. Ao contrário das<br />

pesquisas quantitativas, em que a representativida<strong>de</strong><br />

se estabelece através <strong>de</strong> procedimentos claros, não<br />

existem regras precisas para a escolha <strong>de</strong> um caso a<br />

ser estudado <strong>de</strong> forma aprofundada pelo cientista social.<br />

A exemplarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um indivíduo ou grupo, a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> explorar um problema em profundida<strong>de</strong><br />

em uma instituição ou família, são alguns dos<br />

motivos que levam à escolha do objeto <strong>de</strong> estudo.<br />

Esta escolha <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, fortemente, da sensibilida<strong>de</strong> e<br />

experiência do pesquisador e não apenas <strong>de</strong> características<br />

objetivas do grupo estudado. O pesquisador<br />

<strong>de</strong>ve, então, apresentar claramente as características<br />

do indivíduo, organização ou grupo, que foram<br />

<strong>de</strong>terminantes para sua escolha, <strong>de</strong> tal forma que o<br />

leitor possa tirar suas próprias conclusões sobre os<br />

resultados e a sua possível aplicação em outros grupos<br />

ou indivíduos em situações similares. O pesquisador<br />

<strong>de</strong>ve precisar as dificulda<strong>de</strong>s e os limites da<br />

pesquisa, as pessoas que lhe ajudaram em sua entrada<br />

no campo (que são <strong>de</strong>terminantes para a construção<br />

da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do pesquisador pelo grupo estudado),<br />

as pessoas que se recusaram a dar entrevistas,<br />

as perguntas que não foram respondidas pelos<br />

pesquisados, as contradições apresentadas, a (in)consistência<br />

das respostas, possibilitando uma visão<br />

ampla do estudo, e não apenas dos aspectos que "<strong>de</strong>ram<br />

certo".<br />

Um dos principais problemas da pesquisa qualitativa<br />

está relacionado à certeza do próprio pesquisador<br />

A <strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisar</strong> / 59<br />

com relação aos seus dados. A sensação <strong>de</strong> dominar<br />

profundamente o seu objeto <strong>de</strong> estudo o faz esquecer<br />

que somente uma parte bem reduzida da totalida<strong>de</strong> está<br />

representada nos dados. A consequência é a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> tentar generalizar dados que se baseiam em<br />

análises <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados casos particulares. O pesquisador<br />

corre o risco <strong>de</strong> usar mais suas intuições do que<br />

um quadro <strong>de</strong> referência teórico apropriado para analisar<br />

seus dados.<br />

O fato <strong>de</strong> ter uma convivência profunda com o grupo<br />

estudado po<strong>de</strong> contribuir para que o pesquisador "naturalize"<br />

<strong>de</strong>terminadas práticas e comportamentos que<br />

<strong>de</strong>veria "estranhar" para compreen<strong>de</strong>r. Malinowski chama<br />

atenção para a "explosão <strong>de</strong> significados" no momento<br />

<strong>de</strong> entrada no campo, em que cada fato observado<br />

na cultura nativa é significativo para o pesquisador. O<br />

olhar que "estranha", em um primeiro momento, passa<br />

a "naturalizar" em seguida e torna-se "cego" para dados<br />

valiosos.<br />

E comum que pesquisadores se vejam em situações<br />

<strong>de</strong>licadas com o indivíduo ou grupo pesquisado que<br />

extrapolam os limites da pesquisa, como pedido <strong>de</strong> dinheiro<br />

ou <strong>de</strong> favores, convites inapropriados, telefonemas<br />

após o término da pesquisa etc. Todos estes problemas,<br />

<strong>de</strong>correntes do envolvimento intenso com o objeto<br />

<strong>de</strong> estudo, precisam ser administrados pelo pesquisador<br />

<strong>de</strong> tal forma que sua pesquisa não fique comprometida.<br />

Quanto mais intensa a relação, maior a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um "distanciamento" do pesquisador, que<br />

torne possível que ele reflita sobre cada dificulda<strong>de</strong> que,<br />

com certeza, terá <strong>de</strong> enfrentar. A questão do relacionamento<br />

entre pesquisador e objeto, da possível <strong>de</strong>pendência<br />

ou disputa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, é um dos maiores problemas<br />

que <strong>de</strong>vem ser enfrentados. Como não existem ré-

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