Literatura Brasileira dos anos 1940 aos anos 1950 - marcelo::frizon
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- O resultado do ambicioso projeto de Antônio Callado, todavia, é<br />
problemático. Há no romance um tal acúmulo de ações, muitas das<br />
quais inúteis ou inverossímeis, uma tal profusão de caracteres mal<br />
trabalha<strong>dos</strong>, a começar pela própria psicologia do padre Nando – que<br />
passa da castidade ao furor orgíaco com a maior naturalidade e sem<br />
nenhum drama interior – que a impressão final do leitor é de<br />
perplexidade. Como numa montanha-russa, Quarup alterna<br />
vertiginosamente altos e baixos, acertos esplêndi<strong>dos</strong> (algumas cenas<br />
eróticas, as passagens em que os brancos representam o apocalipse<br />
para os indígenas e a construção dramática do impasse do sertanista<br />
Fontoura ao se dar conta que “contatar” os índios era necessariamente<br />
destruí-los), e passagens menores, quase ridículas (Nando assumindo a<br />
condição de professor de sexo, a cosmopolita Sônia fugindo da<br />
civilização e embrenhando-se nos confins da floresta com um índio,<br />
etc).<br />
- Outro aspecto questionável em Quarup é a tentativa do autor de<br />
mesclar um estilo real-naturalista com freqüentes monólogos interiores<br />
e certos delírios verbais que hoje parecem gratuitos. O resultado desta<br />
mistura nem sempre é literariamente equilibrado e convincente.