Literatura Brasileira dos anos 1940 aos anos 1950 - marcelo::frizon
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CRÔNICAS MEMORIALISTAS<br />
É perceptível ao longo de toda a crônica rodrigueana uma constante<br />
nostalgia e uma saudade do Rio de Janeiro da época de Machado de<br />
Assis, pré-vacina obrigatória. Apesar do Nelson Rodrigues histórico<br />
não ter vivido nesse Rio, toda sua obra estará marcada pela visão do<br />
menino, que em suas próprias palavras “enxerga o mundo através do<br />
buraco da fechadura”.<br />
Em suas confissões e principalmente nas memórias de caráter<br />
extremamente pessoal, o resgate da infância é um tema recorrente:<br />
Em 1913, mesmo meu pai e minha mãe pareciam não ter nada a<br />
ver com a vida real. Vagavam, diáf<strong>anos</strong>, por entre as mesas e<br />
cadeiras. Depois, eu os vejo para<strong>dos</strong>, com uma pose meio espectral de<br />
retrato antigo. Mas nem meu pai, nem minha mãe falavam. Eu não<br />
os ouvia. O que me espanta é que essa primeira infância não tem<br />
palavras. Não me lembro de uma única voz. Não guardei um bomdia,<br />
um gemido, um grito. Não há um canto de galo no meu primeiro<br />
e segundo ano de vida. O próprio mar era silêncio. (A menina sem<br />
estrela)<br />
Suas memórias, algumas vezes, como no trecho seguinte, atingem<br />
um lirismo extraordinário: