Literatura Brasileira dos anos 1940 aos anos 1950 - marcelo::frizon
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Em sua trajetória rumo à cidade, o sertanejo encontra os irmãos das<br />
almas que conduzem um cadáver. Severino acaba tomando o lugar de<br />
um deles na condução de um defunto. Pouco a pouco, vai percebendo<br />
que apenas os que fazem da morte “ofício ou bazar” conseguem trabalho:<br />
rezadeiras, farmacêuticos, coveiros, etc. Na continuação de sua<br />
caminhada, assiste a um enterro de um trabalhador. Ouve, então, o que<br />
os amigos do morto dizem no cemitério:<br />
- Essa cova em que estás,<br />
com palmos medida,<br />
é a conta menor<br />
que tiraste em vida.<br />
- É de bom tamanho,<br />
nem largo nem fundo,<br />
É a parte que te cabe<br />
deste latifúndio.<br />
- Não é cova grande,<br />
é cova medida,<br />
é a terra que querias<br />
ver dividida.<br />
- É uma cova grande<br />
para teu pouco defunto,<br />
mas estarás mais ancho<br />
que estavas no mundo.<br />
- É uma cova grande<br />
para teu defunto parco,<br />
porém mais que no mundo<br />
te sentirás largo.<br />
- É uma cova grande<br />
para tua carne pouca,<br />
mas a terra dada<br />
não se abre a boca. (...)<br />
Chico Buarque musicou<br />
Morte e Vida Severina,<br />
inclusive o poema ao lado.