40 anos de Vacina Sabin no Brasil - História da Poliomielite - Fiocruz
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Anais do Seminário <strong>40</strong> <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> <strong>Vacina</strong> <strong>Sabin</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />
na Câmara, a Assembléia a espera, então <strong>da</strong>remos priori<strong>da</strong><strong>de</strong> para ela falar e abriremos<br />
algumas questões para ela. Já que a Dra. Tânia não po<strong>de</strong>rá permanecer até o<br />
final <strong>da</strong> mesa, faremos essa inversão e <strong>de</strong>pois seguiremos com a programação.<br />
Tânia Rodrigues<br />
Bom dia a todos. Primeiro eu gostaria <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer o convite para fazer parte <strong>de</strong>ste<br />
projeto, que eu acho <strong>de</strong> suma importância não só para a população cientifica, mas<br />
para a população <strong>de</strong> um modo geral, para que tenha conhecimento do que aconteceu<br />
durante esses <strong>a<strong>no</strong>s</strong> todos, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> Pólio, que contami<strong>no</strong>u o <strong>no</strong>sso país.<br />
Vou falar <strong>da</strong> minha experiência como portadora <strong>de</strong> seqüela <strong>de</strong> poliomielite, que<br />
foi bastante difícil, principalmente para os meus pais. Eu tive pólio em 1954, aos três<br />
<strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>. O diagnóstico foi difícil <strong>de</strong> ser feito, não foi imediato. Eu tive os sintomas<br />
<strong>de</strong> um resfriado comum, a minha mãe me levou ao médico e ele falou que não<br />
tinha problema algum, que era um resfriado e que ela retornasse comigo para casa.<br />
Alguns dias <strong>de</strong>pois eu não conseguia ficar em pé. Quando ela foi me <strong>da</strong>r banho eu<br />
não conseguia ficar em pé, então minha mãe retor<strong>no</strong>u comigo para um médico, não<br />
mais para um médico particular, mas diretamente <strong>no</strong> hospital. Meu pai era funcionário<br />
público fe<strong>de</strong>ral e antigamente tinha essa divisão <strong>de</strong> institutos e eu fui para o<br />
Hospital dos Servidores do Estado. Eu residia, nessa época, em Niterói e quando nós<br />
chegamos aqui <strong>no</strong> Hospital dos Servidores, eu já tinha paralisia, praticamente completa,<br />
e já estava fazendo uma insuficiência respiratória. Fui transferi<strong>da</strong> para o Hospital<br />
Jesus e fiquei treze dias <strong>no</strong> pulmão <strong>de</strong> aço. Isso foi muito importante para mim.<br />
Recordo-me do tratamento que tive, <strong>no</strong> Hospital Jesus, que era assim: eu, <strong>no</strong> isolamento<br />
em um quarto, ninguém podia me ver, só tinha contato com o serviço <strong>de</strong> enfermagem.<br />
Existiam enfermeiras em titulação que, por exemplo, não tinham paciência<br />
comigo, <strong>de</strong> esperar eu mastigar a comi<strong>da</strong>, e simplesmente quando eu fechava a<br />
boca para po<strong>de</strong>r mastigar, elas iam embora e me <strong>de</strong>ixavam sem alimentação. E outro<br />
fato que também me marcou muito foi que colocaram todos os meus brinquedos em<br />
cima <strong>de</strong> mim e eu não podia mexer neles. Isso foi muito marcante para mim. Decidi<br />
fazer medicina. Eu tive pacientes em situações semelhantes à minha, e via quando a<br />
enfermeira não tinha paciência para <strong>da</strong>r uma injeção na criança. Ela falava “fica<br />
quieta, não chora”, eu dizia “não é bem assim”. E havia crianças paralisa<strong>da</strong>s que as<br />
enfermeiras também colocavam bolinhas e outros objetos sobre elas, e eu lembrava<br />
<strong>da</strong>quela questão que me marcou bastante, embora eu tivesse três <strong>a<strong>no</strong>s</strong> <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> apenas.<br />
A partir <strong>da</strong> poliomielite, a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> minha família mudou totalmente, porque eu<br />
residia em Niterói, e lá não havia mecanismo <strong>de</strong> reabilitação, naquela época. Então,<br />
meus pais tiveram que se mu<strong>da</strong>r para o Rio <strong>de</strong> Janeiro, por conta <strong>da</strong> ABBR e comecei<br />
a fazer tratamento. Foi extremamente difícil, porque a ABBR situava-se na Zona Sul<br />
e meu pai teve que residir próximo, já que não tinha como a minha mãe me carregar<br />
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