Igreja Solidária e Transformadora
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3ª<br />
34<br />
OFICINA DE<br />
SENSIBILIZAÇÃO<br />
ANEXO 2 (continuação)<br />
DIREITOS PARA SER<br />
Para muitas pessoa, as distintas abordagens sobre a Aids encontram-se relacionadas,<br />
prioritariamente, com a área da saúde. Análises primárias apontam para percepções sociais<br />
ligadas a assistência médica permanente, à distribuição de medicamentos, ao melhoramento da<br />
rede hospitalar, ao atendimento profissional com qualidade, a quebra de patentes e à inclusão<br />
das Pessoas que Vivem com HIV, na abrangência do Sistema Único de Saúde. Tais referenciais<br />
parecem indicar que devemos olhar para a Aids como um desafio à saúde mundial. E, de fato,<br />
é.<br />
Entretanto, um olhar mais criterioso favorecerá a compreensão de que a luta contra a<br />
doença extrapola o âmbito da saúde física. Pela natureza excludente imposta pela sociedade,<br />
alicerçada em alguns conceitos de “moralidade”, pelo interesse econômico das indústrias da<br />
saúde e conivência dos governos, a Aids debilita outros setores da condição humana, pois revela<br />
o preconceito, a discriminação, o desconhecimento e a exploração social, promotores da transgressão<br />
fundamental dos direitos do ser humano em suas distinções intrínsecas, entre elas, a<br />
orientação sexual e o direito à vida.<br />
Ainda que a sociedade, através dos permanentes esforços de setores do poder público,<br />
de profissionais de saúde e pesquisa, de organizações não-governamentais e, principalmente,<br />
de Pessoas que Vivem com HIV, tenha avançado numa importante compreensão técnico-científica<br />
e mobilização pela implementação de políticas públicas, é perceptível, ainda, a forte resistência<br />
à garantia de direitos.<br />
Neste cenário, o atual embate entre o governo brasileiro e o norte-americano (aliado às<br />
empresas de medicamentos) sobre políticas de prevenção à Aids e a quebra de patentes de<br />
medicamentos, ambos fundamentais ao respeito e atendimento de milhares de pessoas e ao<br />
cuidado de milhões de cidadãos e cidadãs brasileiros, requer de todos nós uma postura clara e<br />
evangélica.<br />
É cada vez mais explícito que os interesses econômicos de empresas transnacionais<br />
continuam prevalecendo sobre a vida e a dignidade humanas. Há uma opção intencional pela<br />
preservação do ganho e do mercado. Esta é a lógica que visa a preservar, aparentemente, os<br />
direitos à pesquisa e ao desenvolvimento, mas destrói as pessoas.<br />
Os cristãos optam pela vida e insistem que quando há um conflito ético entre os direitos<br />
comerciais e a saúde das pessoas, estamos sempre ao lado das pessoas. Importa, em primeiro<br />
lugar, o direito e a justiça a serviço do ser humano. Precisamos abrir os ouvidos para a exortação<br />
do profeta Isaías: “Ai dos que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão, para<br />
negarem justiça aos pobres....” (cap. 10.1 e 2). Não temos dúvidas: a quebra de patentes não é<br />
apenas uma questão de saúde. É uma questão de justiça!<br />
Nestes tempos conturbados e caracterizados pelo egoísmo pessoal e coletivo, quando o<br />
mercado - entre eles o mercado da saúde - apresenta-se com roupagens “quase humanas”, pois<br />
revela-se “nervoso, apreensivo, cuidadoso ou inquieto”, pressionando governos e sociedades<br />
para que estes se coloquem sob os interesses econômicos, precisamos reconhecer e dizer que<br />
humanos são os homens e as mulheres que lutam não só pelas suas próprias condições pessoais,<br />
mas que se abrem para incluir outras nações e gerações futuras.<br />
O ganho de milhares promove a perda de milhões. Não estamos falando de dinheiro,<br />
mas de pessoas.<br />
Gleizy Gueiros e Sérgio Andrade fazem parte da equipe da Diaconia