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BH, um canteiro de obras BH, um canteiro de obras - Fato Relevante

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37 mineiros que fizeram a<br />

diferença na década. Página 14<br />

SEGUNDA-FEIRA, 28 DE DEZEMBRO DE 2009 · ANO 1 · Nº 6 · R$ 5,00<br />

Automóveis coreanos a nova<br />

sensação do mercado Página 36<br />

<strong>BH</strong>, <strong>um</strong><br />

<strong>canteiro</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>obras</strong><br />

No primeiro ano <strong>de</strong> sua<br />

gestão, Marcio Lacerda foi o<br />

prefeito das capitais que mais<br />

investiu em <strong>obras</strong> públicas.<br />

Mas o gran<strong>de</strong> programa <strong>de</strong><br />

construção começa agora em<br />

2010, visando a Copa do<br />

Mundo. Página 10<br />

ÉLCIO PARAÍSO


Cartaaosleitores<br />

Boas notícias, otimismo,<br />

mérito - a década gloriosa<br />

4<br />

Enquanto outras partes do mundo ainda<br />

se encontram patinando na crise financeira<br />

do ano passado, o Brasil emerge <strong>de</strong>sse<br />

cenário como <strong>um</strong> paraíso <strong>de</strong> boas notícias.<br />

Por toda parte, só se ouve falar sobre a<strong>um</strong>ento<br />

<strong>de</strong> produção e do número <strong>de</strong> empregos.<br />

Um fato que ilustra bem esse otimismo<br />

é a iniciativa das si<strong>de</strong>rúrgicas e mineradoras<br />

da região do Alto Paraopeba, no entorno<br />

<strong>de</strong> Congonhas. As indústrias assinaram<br />

<strong>um</strong> acordo para evitar <strong>um</strong>a fatricida disputa<br />

pela mão <strong>de</strong> obra exigida pelos novos empreendimentos<br />

industriais que se implantam<br />

naquela região.<br />

Segundo estimativas da Fiemg, mais <strong>de</strong><br />

40 mil vagas serão oferecidas ali para<br />

movimentar as <strong>obras</strong> <strong>de</strong> duas si<strong>de</strong>rúrgicas,<br />

<strong>de</strong> duas usinas <strong>de</strong> pelotização e da expansão<br />

<strong>de</strong> várias minerações. Entre outras indústrias<br />

ouvidas por <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>, todas<br />

elas têm previsão <strong>de</strong> crescimento acima <strong>de</strong><br />

5% neste ano. A po<strong>de</strong>rosa Itambé ainda é<br />

mais otimista e espera crescer pelo menos<br />

12%: “O nosso setor sempre cresce o dobro<br />

do PIB brasileiro”, explica o seu presi<strong>de</strong>nte,<br />

Jacques Gontijo.<br />

Po<strong>de</strong>ria existir <strong>um</strong> cenário melhor que<br />

esse? Não po<strong>de</strong>mos nos esquecer que, em<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008, os empresários estavam<br />

prostrados diante <strong>de</strong> <strong>um</strong>a crise que, diziase,<br />

seria bem mais <strong>de</strong>sastrosa que a <strong>de</strong><br />

1929. São essas as reflexões sobre Minas e<br />

o Brasil que nos autorizam a <strong>de</strong>sejar <strong>um</strong><br />

Feliz Ano Novo para todos, publicando esta<br />

6ª edição da <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>.<br />

Adicionalmente, apresentamos nesta<br />

edição a lista dos 37 mineiros que fizeram<br />

a diferença na década encerrada em 31 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009. Saber reconhecer e valorizar<br />

o mérito alheio não é apenas <strong>um</strong><br />

gesto <strong>de</strong> h<strong>um</strong>ilda<strong>de</strong>, mas <strong>um</strong>a atitu<strong>de</strong> indispensável<br />

neste mundo atual, on<strong>de</strong> o egocentrismo<br />

e o individualismo atingem níveis<br />

intoleráveis <strong>de</strong> saturação e perversida<strong>de</strong>.<br />

Os editores<br />

S<strong>um</strong>ário<br />

LEIATAMBÉM:<br />

Veículos<br />

Coreanos inva<strong>de</strong>m o mercado<br />

brasileiro ..................................... 36<br />

Conta corrente<br />

Os números positivos<br />

<strong>de</strong> 2010 ....................................... 32<br />

Muito barulho por dígitos ........ 34<br />

Gestão<br />

As lições tiradas do<br />

ano <strong>de</strong> 2009 ................................ 40<br />

Negócios<br />

A arte <strong>de</strong> pechinchar...................42<br />

ENTREVISTA<br />

Em seu primeiro ano <strong>de</strong> governo,<br />

Marcio Lacerda preparou o terreno<br />

para gran<strong>de</strong>s <strong>obras</strong> públicas<br />

já visando a Copa do Mundo<br />

Página 10<br />

ESPECIAL<br />

37 mineiros que mais se<br />

<strong>de</strong>stacaram na primeira década<br />

do século. Artistas, empresários,<br />

políticos e esportistas figuram na<br />

lista<br />

Página 14<br />

POLÍTICA<br />

O PT mineiro balança entre Fernando<br />

Pimentel e Patrus Ananias<br />

para concorrer ao Palácio da<br />

Liberda<strong>de</strong>. Veja as armas <strong>de</strong> cada<br />

<strong>um</strong> para o embate<br />

Página 36<br />

PERFIL<br />

O homem que popularizou o<br />

terno e a gravata. Saiba mais<br />

sobre Pedro Paulo Dr<strong>um</strong>ond e sua<br />

Cia. do Terno, empresa que<br />

rompe as fronteiras <strong>de</strong> Minas<br />

Página 46<br />

Longe dos holofotes<br />

Gil César, o construtor do<br />

Mineirão .......................................48<br />

Almanaque<br />

O guia do cavalheiro.................. 50<br />

Colunas<br />

Carta <strong>de</strong> São Paulo..................... 30<br />

Durval Guimarães ...................... 31<br />

Mário Ribeiro............................... 44<br />

Márcio Rubens Prado................ 58<br />

DEZEMBRO DE 2009


Cartasetc...<br />

O Legislativo não toma vergonha?<br />

Entra ano e sai ano, o Po<strong>de</strong>r Legislativo<br />

e, em especial, os <strong>de</strong>putados mineiros,<br />

continuam matando a população <strong>de</strong> vergonha.<br />

Está claro que o problema é maior<br />

que a simples substituição dos parlamentares<br />

a cada eleição, pois o dinheiro continua<br />

lá para eles manipularem livremente,<br />

<strong>de</strong> acordo com suas ambições. O orçamento<br />

exagerado, acima das necessida<strong>de</strong>s<br />

reais do parlamento, aliado ao fato<br />

<strong>de</strong> que o mandato pertence a cada parlamentar<br />

(ele investiu seus recursos pessoais<br />

em campanhas e até comprou os<br />

votos), resulta nessas distorções que se<br />

perpetuam ao longo <strong>de</strong> décadas. Está na<br />

hora <strong>de</strong> implantarmos o voto distrital.<br />

Flávio Moreira - <strong>BH</strong><br />

Mancha no Po<strong>de</strong>r Legislativo<br />

É inegável a importância do Po<strong>de</strong>r Legislativo<br />

n<strong>um</strong>a <strong>de</strong>mocracia. Ele é <strong>um</strong> estuário<br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ságuam todas as <strong>de</strong>mandas<br />

da socieda<strong>de</strong>. É <strong>um</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sarmado, que<br />

acolhe todas as manifestações sociais. Na<br />

prática, se <strong>um</strong> cidadão quiser falar com o<br />

<strong>de</strong>putado mineiro, ele tem acesso imediato<br />

ao parlamentar, pois o Legislativo é <strong>um</strong> po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> portas abertas. O mesmo não ocorre<br />

no Executivo, on<strong>de</strong> o cidadão não passa<br />

da portaria. São po<strong>de</strong>res inacessíveis, <strong>de</strong><br />

portas fechadas. Infelizmente a ganância<br />

<strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>putados <strong>de</strong>smoraliza a força<br />

moral e a beleza do Legislativo. Teremos a<br />

chance <strong>de</strong> substituí-los agora em 2010.<br />

Ana Rita Morais – <strong>BH</strong><br />

Congratulações<br />

Prezados Valter Cruz e Durval Guimarães,<br />

parabenizo a iniciativa <strong>de</strong> editarem a<br />

revista <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>, revista bonita e mo<strong>de</strong>rna,<br />

que nos dá o prazer <strong>de</strong> ler nomes como<br />

Klaus Kleber, Márcio Rubens Prado,<br />

Ângelo Prazeres, Téo Scalioni (que está<br />

brilhante), entre outros. Minas está orgulhosa,<br />

parabéns. Continuem, sucessos.<br />

Marco Aurélio Garcia<br />

Economista, <strong>BH</strong><br />

N.R.: Coloco economista e <strong>BH</strong> para<br />

não confundir com o xará o PT (que não é<br />

economista nem mineiro, o que não <strong>de</strong>põe<br />

contra ele).<br />

Cinco i<strong>de</strong>ias para se sobreviver<br />

n<strong>um</strong> local infeliz <strong>de</strong> trabalho.<br />

“C<strong>um</strong>primento a <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> pelos<br />

conselhos apresentados na última edição<br />

aos milhares <strong>de</strong> candidatos a empregos<br />

que estão se abrindo por toda parte no estado<br />

e no país. Vocês apresentaram também<br />

várias razões pelas quais <strong>um</strong>a pessoa<br />

não <strong>de</strong>ve mudar <strong>de</strong> emprego, mesmo que<br />

esteja diante <strong>de</strong> <strong>um</strong>a proposta <strong>de</strong> polpudo<br />

a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> salário. Pois acrescento à<br />

matéria cinco iniciativas que, acho, a pessoa<br />

<strong>de</strong>veria tomar para sobreviver no seu<br />

atual emprego. Ainda que esteja ralando<br />

n<strong>um</strong> inóspito e infeliz local <strong>de</strong> trabalho.<br />

Quando a gente não gosta do local e do<br />

ambiente do nosso trabalho, ir ao serviço<br />

todos os dias é <strong>um</strong> suplício <strong>de</strong> comover o<br />

mais cavernoso dos carrascos. Assim, os<br />

seus problemas nesse ambiente <strong>de</strong> masmorra<br />

e sufoco po<strong>de</strong>m ser:<br />

· o chefe, elemento incompetente, estressado<br />

ou mau caráter<br />

· o salário minguado, bem menor que<br />

suas pretensões e mais ainda que suas necessida<strong>de</strong>s<br />

· os colegas “ruins <strong>de</strong> serviço”, invejosos<br />

e fofoqueiros<br />

· o trabalho em si, absolutamente contrário<br />

às coisas que você sabe e gosta <strong>de</strong><br />

fazer.<br />

Mas você não po<strong>de</strong> fugir do emprego.<br />

É obrigado a trabalhar para sobreviver e<br />

garantir o seu sustento e o <strong>de</strong> sua família<br />

(claro, se tiver alg<strong>um</strong>a, o que jogará nas<br />

suas costas o contingente obrigatório <strong>de</strong><br />

sogros, genros, noras, cunhados, e belzebu<br />

a quatro).<br />

Diante disso, não me furto ao prazer <strong>de</strong><br />

encaminhar aos leitores <strong>de</strong>ssa revista os<br />

seguintes conselhos:<br />

1. Você é o problema? - o primeiro<br />

passo: olhe para si mesmo e veja se você<br />

não é o próprio problema. Ou seja, seu<br />

comportamento é rancoroso, resmungão,<br />

anticooperativo. Nesse caso, seja criativo.<br />

Arranje <strong>um</strong> estoque <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>, tente<br />

transformar o suplício diário n<strong>um</strong>a tarefa<br />

pelo menos tolerável. É a melhor maneira<br />

<strong>de</strong> se sofrer menos e viver melhor.<br />

2. Ass<strong>um</strong>a o seu trabalho - enquanto<br />

não aparece <strong>um</strong>a boa oportunida<strong>de</strong>, ass<strong>um</strong>a<br />

claramente sua obrigação <strong>de</strong> trabalhar<br />

no miserável lugar. Faça o melhor possível.<br />

Mesmo que esteja se preparando para dar<br />

no pé. Arranje-se que nem <strong>um</strong>a vara <strong>de</strong> porcos<br />

quando amontoada n<strong>um</strong>a carroceria <strong>de</strong><br />

caminhão: fuce daqui, trombe dali, tropece<br />

acolá... no final, você se ajeitará e a vida<br />

seguirá <strong>de</strong> maneira razoavelmente cômoda.<br />

3. Faça <strong>um</strong> plano, seja pró-ativo -<br />

converse longamente com seus amigos e a<br />

família. Calce a cara, procure seu irritante<br />

chefe e lhe apresente <strong>um</strong>a sugestão para<br />

FATO RELEVANTE<br />

Diretor executivo Valter Cruz Editor Geral Durval Guimarães Editor <strong>de</strong> Texto Márcio Rubens Prado Editor <strong>de</strong> Arte Fábio Pompeu Editor<br />

<strong>de</strong> Fotografia Élcio Paraíso Redação Fábio Doyle, Klaus Kleber,Teo Scalioni Publicida<strong>de</strong> Mário Carvalho Secretária <strong>de</strong> Redação Maria<br />

Cecília Cardoso FATO RELEVANTE é <strong>um</strong>a publicação da Pró-Ativa - Planejamento e Assessoria <strong>de</strong> Mídia Ltda. Redação, Administração<br />

e Publicida<strong>de</strong> Avenida Pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Morais, 287, sala 1301 - CEP 30350-093 - Belo Horizonte/MG Telefone (31) 3071-9193 E-mail<br />

fatorelevante@yahoo.com.br Impressão Eskenazi Indústria Gráfica Distribuição VIP <strong>BH</strong><br />

DEZEMBRO DE 2009 5


Cartasetc...<br />

melhorar o serviço. Diga claramente o que<br />

você pensa, mas <strong>de</strong> maneira civilizada, informando<br />

<strong>de</strong>talhadamente que seu intuito é<br />

melhorar o ambiente <strong>de</strong> trabalho. Em caso<br />

extremo <strong>de</strong> intolerância, procure o setor <strong>de</strong><br />

recursos h<strong>um</strong>anos e tente mudar <strong>de</strong> área.<br />

4. Aprenda <strong>um</strong>a nova habilida<strong>de</strong> - ninguém<br />

é obrigado a ir diretamente do trabalho<br />

para casa, para o boteco da esquina ou para<br />

o terreiro <strong>de</strong> mac<strong>um</strong>ba. Nem gastar as duas<br />

horas <strong>de</strong> almoço mastigando a gororoba dos<br />

self services. Tente <strong>de</strong>senvolver <strong>um</strong>a nova<br />

habilida<strong>de</strong>. Por exemplo, fazer <strong>um</strong> curso <strong>de</strong><br />

inglês; informática avançada; ou qualquer<br />

outra coisa que possa ser útil n<strong>um</strong> futuro novo<br />

emprego. Uma pergunta; “Como você<br />

aproveita suas folgas <strong>de</strong> fim-<strong>de</strong>-semana?”.<br />

Pare <strong>de</strong> se autoflagelar e ficar r<strong>um</strong>inando <strong>de</strong>sejos<br />

vis, como o <strong>de</strong> ver seu chefe se transformar<br />

n<strong>um</strong> homem-bomba no Afeganistão.<br />

Encare a vida. E fique certo: muito pior que<br />

o seu emprego atual é o <strong>de</strong>semprego, que,<br />

n<strong>um</strong> extremo <strong>de</strong> infelicida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> levar o<br />

<strong>de</strong>mitido a cometer todo tipo <strong>de</strong> besteiras.<br />

5. Encontre o lado positivo – Faça<br />

<strong>um</strong>a lista das coisas positivas no seu trabalho.<br />

Tipo pagamento em dia, plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

funcionárias belíssimas, vale-refeição e<br />

colegas solidários. Isso po<strong>de</strong> clarear o lado<br />

bom do seu emprego, o que é fundamental<br />

para tornar o trabalho suportável. Você <strong>de</strong>scobrirá<br />

que tem até o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mudar e<br />

melhorar o ambiente. Logo, tente fazê-lo.<br />

Espero, com essas sugestões, colaborar com<br />

os leitores <strong>de</strong>ssa oportuna revista para o<br />

bem-estar nos seus locais <strong>de</strong> trabalho.<br />

Lucas da Rocha Gonçalves,<br />

professor universitário, <strong>BH</strong><br />

Coragem editorial<br />

Caro Durval, quem é gran<strong>de</strong> é gran<strong>de</strong><br />

mesmo. Parabéns pela revista <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong><br />

e, em particular, por ter levado o Teo (Scalioni)<br />

junto <strong>de</strong>ssa sua coragem editorial e publicitária.<br />

Parabéns econômicos, ecológicos<br />

e sustentáveis. Longa vida a tudo que é fato<br />

e é relevante nas montanhas <strong>de</strong> Minas.<br />

Hiram Firmino<br />

Editor do JB Ecológico<br />

“Minas é fantástica”<br />

Senhor editor-chefe, na entrevista com<br />

o empresário Wilson Br<strong>um</strong>mer, ele disse<br />

que as estradas aqui em Minas estão ruins<br />

e têm muita coisa para melhorar. Concordo<br />

com ele, mas acho bom fazer <strong>um</strong>a<br />

ressalva: é evi<strong>de</strong>nte a melhoria que se observa<br />

na malha rodoviária do Estado.<br />

Afora aqueles pontos críticos e crônicos,<br />

que vão sendo atacados <strong>de</strong> maneira <strong>um</strong><br />

tanto lenta - parece até que é coisa do<br />

po<strong>de</strong>r judiciário -, a situação geral melhorou.<br />

As estradas estão bem melhores.<br />

Criticar é sempre bom e saudável, mas reconhecer<br />

as melhorias é também <strong>um</strong> justo<br />

exercício <strong>de</strong> cidadania.<br />

Francisco Guimarães Ribeiro,<br />

viajante comercial, <strong>BH</strong><br />

Trabalho em Congonhas<br />

Senhores, gostei <strong>de</strong> ver minha Congonhas<br />

focalizada nessa revista. E mais<br />

ainda com o futuro risonho que vocês <strong>de</strong>senharam<br />

para os habitantes da cida<strong>de</strong>.<br />

Espero até que as empresas que estão expandindo<br />

as ativida<strong>de</strong>s ou que vão se instalar<br />

lá <strong>de</strong>em <strong>um</strong> jeito <strong>de</strong> patrocinar a<br />

preservação e a manutenção dos fabulosos<br />

tesouros artísticos que, orgulhosamente,<br />

temos em nossa adorada cida<strong>de</strong>.<br />

Dejair Tristao do Nascimento,<br />

Técnico em Eletrônica, Contagem-MG<br />

Explosão <strong>de</strong> Sete Lagoas<br />

Senhor Redator, a reportagem sobre<br />

as nove cida<strong>de</strong>s mineiras para se arranjar<br />

<strong>um</strong> bom emprego foi mesmo bem animadora.<br />

Mas, confesso, na minha<br />

ignorância <strong>de</strong> funcionário público estadual,<br />

que tive medo <strong>de</strong> muitas <strong>de</strong>las não<br />

possuírem a infraestrutura mínima para<br />

receber o progresso prometido. Será que<br />

os prefeitos, empolgados com as futuras<br />

gordas arrecadações, tiveram tempo para<br />

meditar sobre o assunto? Qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida, embora seja expressão vulgarizada<br />

pela chusma <strong>de</strong> palpiteiros que nos assola,<br />

é coisa séria.<br />

Manoel Aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Souza,<br />

técnico ambiental, Vespasiano-MG<br />

Se você vai falhar, falhe<br />

rapidamente<br />

Por mais <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vez vi repórteres <strong>de</strong><br />

<strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> lamentando que mais <strong>de</strong><br />

90% das novas empresas <strong>de</strong>saparecem no<br />

primeiro ano <strong>de</strong> vida. Na verda<strong>de</strong>, é bom que<br />

isso aconteça. Nada pior que <strong>um</strong>a longa agonia,<br />

como acontece, sobretudo com os<br />

jornais brasileiros. Se não está dando certo,<br />

busquem <strong>um</strong> novo caminho, reconheçam a<br />

queda e tentem dar a volta por cima.<br />

Luís Antonio Aleixo<br />

Nota da redação: Nossos leitores<br />

estão hoje especialmente malvados e intolerantes<br />

com o fracasso. Mas temos <strong>de</strong> admitir<br />

que insistir na falha é gastar mais<br />

energias e recursos financeiros que o<br />

necessário.<br />

Quem quebrou, já foi tar<strong>de</strong><br />

Muita gente fica chorando o <strong>de</strong>saparecimento<br />

<strong>de</strong> empresas durante a crise.<br />

Isso é bobagem. O famoso economista<br />

Joseph Sch<strong>um</strong>peter articulou o conceito <strong>de</strong><br />

“<strong>de</strong>struição criativa”, no rescaldo da<br />

Gran<strong>de</strong> Depressão. É <strong>um</strong>a teoria que consi<strong>de</strong>ra<br />

até agradável a morte <strong>de</strong> empresas,<br />

que suc<strong>um</strong>biram na crise, pois elas serão<br />

substituídas por outras melhores, mais<br />

mo<strong>de</strong>rnas e mais criativas. Não po<strong>de</strong>mos<br />

nos esquecer que durante a recessão dos<br />

anos 30 foram fundadas empresas que,<br />

mais tar<strong>de</strong>, se tornaram potências, como a<br />

Hewlett Packard e a Revlon. Outras empresas,<br />

como a IBM e a RCA, cresceram na<br />

Gran<strong>de</strong> Depressão. Na verda<strong>de</strong>, essas gran<strong>de</strong>s<br />

empresas que quebram já vão tar<strong>de</strong> e<br />

não farão falta. Que falta, por exemplo,<br />

fará a General Motors, n<strong>um</strong> mundo com<br />

tantas marcas <strong>de</strong> automóveis e todas <strong>de</strong> boa<br />

qualida<strong>de</strong>?<br />

Marcos Macedo-<strong>BH</strong><br />

Nota da redação: Falar que <strong>um</strong>a empresa<br />

ou alguém já vai tar<strong>de</strong> é muito agressivo<br />

e <strong>de</strong>s<strong>um</strong>ano. Mas nós estamos<br />

convencidos <strong>de</strong> que <strong>um</strong> atributo típico<br />

daqueles que têm sucesso em tempos difíceis<br />

é <strong>um</strong>a aguda compreensão das mudanças<br />

que ocorrem à sua volta. Eles<br />

sabem que as coisas não voltarão ao normal<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cada crise, mas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

forma que po<strong>de</strong> ser totalmente diferente.<br />

De qualquer modo, é doloroso viver a<br />

”<strong>de</strong>struição criativa” no momento em que<br />

ela ocorre, com o fechamento <strong>de</strong> empresas<br />

e corte <strong>de</strong> empregos Para quem per<strong>de</strong>u seu<br />

negócio ou emprego, a <strong>de</strong>struição é apenas<br />

<strong>de</strong>strutiva.<br />

6 DEZEMBRO DE 2009


Nomes&Notas<br />

COMO SER FELIZ COM 75% A MENOS NO CONTRACHEQUE<br />

Um leitor nos<br />

escreveu para criticar<br />

<strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>. Disse<br />

que a revista apenas<br />

trata dos bons<br />

negócios e das<br />

empresas <strong>de</strong> sucesso<br />

e se esquece <strong>de</strong><br />

oferecer <strong>um</strong>a palavra<br />

<strong>de</strong> apoio a<br />

empresários em<br />

dificulda<strong>de</strong>s, como<br />

ele. Ou a executivos<br />

que per<strong>de</strong>ram o<br />

emprego. Ora, pois,<br />

nós temos essa<br />

palavra <strong>de</strong><br />

aconselhamento.<br />

Aliás, são muitas, que<br />

dividimos nos itens<br />

abaixo:<br />

Não se <strong>de</strong>ixe<br />

h<strong>um</strong>ilhar – A<br />

primeira coisa é não<br />

se sentir h<strong>um</strong>ilhado<br />

com a crise pessoal<br />

que, temos certeza,<br />

será passageira. Você<br />

<strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar<br />

como <strong>um</strong>a<br />

circunstância da vida<br />

a sua queda na<br />

receita e, por<br />

extensão, sua<br />

exclusão <strong>de</strong> alguns<br />

círculos sociais. Você<br />

mesmo já <strong>de</strong>ve ter<br />

ouvido que a vida é<br />

<strong>um</strong>a roda gigante. Sei que a crise parece<br />

interminável, mas não será.<br />

Aperte o cinto – Como sua empresa já<br />

fechou as portas ou você per<strong>de</strong>u seu<br />

magnífico emprego, aja como <strong>um</strong><br />

<strong>de</strong>sempregado ou ex-empresário.<br />

Aprenda a viver com o mínimo <strong>de</strong><br />

conforto e sem o <strong>de</strong>sperdício da vida<br />

anterior. Não resista aos cortes nas<br />

<strong>de</strong>spesas. Seja h<strong>um</strong>il<strong>de</strong> o suficiente para<br />

aceitar serviços temporários. Venda <strong>um</strong><br />

dos seus carros e, se possível, todos eles.<br />

Corte jantares em restaurantes –<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

Mesmo em casa, coma menos. É<br />

provável que emagreça e subitamente<br />

você possa a caber <strong>de</strong>ntro daquelas<br />

roupas encostadas. Olha que maravilha:<br />

você po<strong>de</strong>rá usar roupas <strong>de</strong> três anos<br />

atrás e se <strong>de</strong>para com <strong>um</strong> guarda-roupa<br />

quase inteiramente novo à sua<br />

disposição<br />

Prepare-se para viver sozinho –<br />

Quando a crise é brava, é provável até<br />

que sua mulher o abandone. Na primeira<br />

aula <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> Família, os professores<br />

cost<strong>um</strong>am lembrar que, quando o<br />

infortúnio bate à porta, o amor foge pela<br />

ACIR GALVÃO<br />

janela. Mas talvez<br />

seja melhor assim.<br />

Nem todas as<br />

mulheres são como<br />

Amélia. Uma boa<br />

parte gosta mesmo é<br />

<strong>de</strong> luxo e riqueza.<br />

Isso, no momento,<br />

você não po<strong>de</strong><br />

oferecer.<br />

O bom e o barato<br />

andam juntos –<br />

Tudo na vida é<br />

passageiro, e quando<br />

a brisa da<br />

prosperida<strong>de</strong> soprar<br />

novamente em seu<br />

caminho, você<br />

perceberá que<br />

precisava <strong>de</strong> quase<br />

nada da ostentação<br />

do passado.<br />

Recentemente, o<br />

empresário Pedro<br />

Paulo Dr<strong>um</strong>ond,<br />

proprietário da re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> lojas Cia. do<br />

Terno, lembrou que<br />

o barato nem sempre<br />

é <strong>um</strong> produto ruim.<br />

Ele ven<strong>de</strong> bons<br />

ternos a menos <strong>de</strong><br />

R$ 100,00. Suas<br />

camisas sociais<br />

custam R$ 34,00. Sua<br />

empresa está há mais<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos no<br />

mercado. O segredo:<br />

as roupas são confeccionadas na China,<br />

on<strong>de</strong> os impostos são baixos e os<br />

salários mais baixos ainda. Pedro sempre<br />

diz que os melhores carros brasileiros<br />

são os mais baratos, citando o Gol, o<br />

Pálio e o Uno que são, também, os<br />

preferidos dos brasileiros. Em res<strong>um</strong>o, o<br />

barato não é <strong>um</strong>a coisa naturalmente<br />

ruim ou vergonhosa. Po<strong>de</strong> ser, na<br />

verda<strong>de</strong>, a solução inteligente.<br />

Trabalhe muito – Trabalhe e mantenha<br />

a esperança <strong>de</strong> que a prosperida<strong>de</strong> salte<br />

do seu escon<strong>de</strong>rijo e grite para você: “Ei!<br />

Eu estou <strong>de</strong> volta!”.<br />

7


Nomes&Notas<br />

BRASÍLIA BOICOTA RODOVIAS DE AÉCIO<br />

Des<strong>de</strong> o início do seu governo, há sete anos, Aécio Neves executa <strong>um</strong> fantástico<br />

programa rodoviário que consiste em levar estrada asfaltada a 225 municípios mineiros<br />

que ainda viviam na ida<strong>de</strong> da pedra no setor <strong>de</strong> rodovias. Somente quem mora nesses<br />

lugarejos, alguns a mais <strong>de</strong> mil quilômetros <strong>de</strong> distância da capital, conhece o tormento<br />

<strong>de</strong> trafegar, ano após ano, naquelas rodovias que, quando não estão enlameadas, são<br />

poeira pura. Após muito esforço e investimento, o programa po<strong>de</strong>ria estar<br />

integralmente concluído em janeiro <strong>de</strong> 2010 e a promessa c<strong>um</strong>prida.<br />

Mas a obra não ficará totalmente pronta, por causa do <strong>de</strong>scaso fe<strong>de</strong>ral. Seis<br />

municípios continuarão sem ligação com o asfalto. É que eles são servidos por supostas<br />

rodovias fe<strong>de</strong>rais, que só existem na imaginação dos<br />

incompetentes dirigentes do DNIT, em Brasília.<br />

Apesar disso, aquelas s<strong>um</strong>ida<strong>de</strong>s não transferem<br />

a administração das estradas para o governo<br />

estadual. No entanto, se os homens do DNIT não<br />

fossem tão obtusos ou mal intencionados, as<br />

cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Jacinto e Salto da Divisa não<br />

apenas teriam rodovias pavimentadas, mas<br />

permitiriam que a alta burocracia <strong>de</strong><br />

Brasília e suas ilustres famílias<br />

pu<strong>de</strong>ssem ir por estradas asfaltadas<br />

até as belíssimas praias <strong>de</strong> Porto<br />

Seguro e Ajuda.<br />

Aquelas duas sofridas cida<strong>de</strong>s<br />

estão no caminho entre a maciota<br />

fe<strong>de</strong>ral e as belas praias do litoral. É claro<br />

que os moradores <strong>de</strong> Jacinto e do Salto<br />

da Divisa irão se lembrar <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>scaso<br />

nas próximas eleições, castigando os<br />

que fizeram <strong>de</strong> tudo para prejudicar a<br />

gran<strong>de</strong> obra rodoviária fe<strong>de</strong>ral do<br />

governador mineiro.<br />

QUEM GOSTA DE<br />

DINHEIRO,<br />

GUARDA<br />

SEIS PESSOAS QUE VOCÊ DEVE ESCALAR NO SEU TIME<br />

Outro leitor nos indaga po<strong>de</strong>r on<strong>de</strong><br />

passa a estrada do sucesso. Temos esta<br />

resposta (que nos foi passada por três<br />

consultores <strong>de</strong> confiança): O sucesso<br />

não é <strong>um</strong> esporte individual. Você<br />

precisa <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong> muitas pessoas ao<br />

longo da sua vida. Gente com quem<br />

tabelar ou <strong>de</strong> quem receber <strong>um</strong><br />

lançamento que o colocará na cara do<br />

gol. Aqui, alg<strong>um</strong>as pessoas<br />

absolutamente indispensáveis no time<br />

<strong>de</strong> sucesso que você irá montar na sua<br />

ativida<strong>de</strong> empresarial:<br />

O pessimista positivo – é alguém<br />

que o alerta para os perigos e as<br />

armadilhas da vida e dos negócios.<br />

Mas nunca o <strong>de</strong>sanima. Ele mostra<br />

os obstáculos a serem superados e<br />

os problemas a serem resolvidos.<br />

Mas nunca trata problemas como<br />

dificulda<strong>de</strong>s impossíveis <strong>de</strong> serem<br />

vencidas.<br />

O visionário – Todo mundo precisa<br />

<strong>de</strong> alguém que aponte seus olhos para<br />

as estrelas. É inspirador estar próximo<br />

<strong>de</strong> pessoas que enxergam o potencial e<br />

O inesquecível fazen<strong>de</strong>iro e poeta<br />

Emanuel Campos, da perdida cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Jacinto, no Vale do<br />

Jequitinhonha, lamentou durante<br />

toda a vida que seus filhos não<br />

gostassem <strong>de</strong> dinheiro. A cada <strong>um</strong><br />

da sua n<strong>um</strong>erosa prole que ia lhe<br />

pedir a mesada, ele aconselhava a<br />

gostar <strong>de</strong> dinheiro. “Quem gosta <strong>de</strong><br />

dinheiro, guarda”, dizia, sabiamente.<br />

Ele, sim, sabia da importância do<br />

dinheiro: levava <strong>um</strong>a vida frugal,<br />

mas dispunha <strong>de</strong> tudo o que<br />

necessitou durante toda a vida.<br />

Comprava apenas os sapatos e<br />

roupas que iria usar e quase sempre<br />

até o fim da vida útil <strong>de</strong> cada <strong>um</strong>a<br />

<strong>de</strong>ssas peças. Nada lhe faltou.<br />

Deixou muitas terras, que<br />

<strong>de</strong>sapareceram rapidamente nas<br />

mãos dos muitos her<strong>de</strong>iros.<br />

Infelizmente, eles nunca se<br />

lembraram do gran<strong>de</strong> ensinamento:<br />

“Ninguém precisa <strong>de</strong> muito para ser<br />

feliz. A poupança leva à liberda<strong>de</strong>. A<br />

dívida é o caminho para a<br />

escravidão”, dizia, acertadamente.<br />

8 DEZEMBRO DE 2009<br />

OMAR FREIRE/IMPRENSA MG


Nomes&Notas<br />

LATICÍNIOS ITAMBÉ CRIAM REVISTA<br />

PARA FALAR COM FAZENDEIROS<br />

A Cooperativa Central dos Produtores Rurais, que<br />

industrializa, com a marca Itambé, o leite e seus <strong>de</strong>rivados,<br />

vai <strong>de</strong>flagrar agora em fevereiro <strong>um</strong>a ampla campanha<br />

educativa junto aos seus milhares <strong>de</strong> cooperados. O<br />

<strong>de</strong>staque para a campanha será a edição <strong>de</strong> <strong>um</strong>a revista,<br />

iniciativa que parece mo<strong>de</strong>sta, mas não<br />

é. A Cooperativa contratou <strong>um</strong>a equipe<br />

<strong>de</strong> pesquisas, chefiada pelo renomado<br />

técnico Sebastião Teixeira, da<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Viçosa, que ouviu<br />

mais <strong>de</strong> cinco mil fazen<strong>de</strong>iros e chegou<br />

a <strong>um</strong>a conclusão surpreen<strong>de</strong>nte: a<br />

principal fonte <strong>de</strong> informação do<br />

fazen<strong>de</strong>iro é o vizinho; em segundo<br />

lugar aparece o programa <strong>de</strong> televisão<br />

Globo Rural. Somente em terceiro lugar<br />

surgem as informações técnicas <strong>de</strong><br />

agrônomos, tanto do governo, quanto<br />

da própria cooperativa.<br />

Segundo a direção da Itambé, o<br />

resultado da pesquisa mostra que o<br />

fazen<strong>de</strong>iro se orienta pela informação<br />

mais próxima, como a televisão, que<br />

fica na sua sala ou até mesmo nos<br />

aposentos íntimos. Mas ele é também<br />

absolutamente favorável à adoção <strong>de</strong><br />

novas técnicas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sejam<br />

mostradas <strong>de</strong> forma clara e inteligível,<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

acreditam no futuro. Ele vão estimular os<br />

seus sonhos e valorizar suas i<strong>de</strong>ias<br />

O especialista em implementação –<br />

Todos os sonhos nada significam se você<br />

não souber fazê-los acontecer. Esse tipo <strong>de</strong><br />

gente o ajuda a tornar a caminhada mais<br />

fácil.<br />

O torcedor emocional – Este está<br />

sempre do seu lado no momento das<br />

gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s. Ele lhe oferece apoio<br />

e o ajuda a perseverar na caminhada, sem<br />

nunca <strong>de</strong>sistir. O apoio emocional po<strong>de</strong> vir<br />

<strong>de</strong> mil maneiras. Às vezes é apenas o<br />

ouvido para escutar as suas dúvidas.<br />

pois a sua utilização repercute sempre em acréscimo <strong>de</strong><br />

receita pelo leite fornecido. Hoje, segundo o presi<strong>de</strong>nte da<br />

Itambé, Jacques Gontijo, a totalida<strong>de</strong> dos fazen<strong>de</strong>iros que<br />

fornecem mais <strong>de</strong> 500 litros por dia tem or<strong>de</strong>nha mecânica<br />

em suas proprieda<strong>de</strong>s. Além disso, mesmos os pequenos<br />

produtores dispõem <strong>de</strong> refrigerador <strong>de</strong><br />

leite junto aos estábulos.<br />

Segundo Gontijo, a Itambé sempre<br />

cresceu o dobro da expansão do PIB<br />

brasileiro e, em <strong>de</strong>corrência do fato,<br />

sua expectativa é a <strong>de</strong> que a CCPR<br />

cresça pelo menos 12% em 2010. No<br />

plano externo, ele acredita que as<br />

exportações serão retomadas. Por<br />

conta da crise internacional, o leite em<br />

pó, que era exportado por US$<br />

5.600,00 a tonelada, teve seu preço<br />

reduzido para US$ 1.700,00. “Mas os<br />

pedidos estão voltando” afirmou.<br />

A Itambé é a maior indústria <strong>de</strong><br />

laticínios com capital nacional, conta<br />

com 31 cooperativas, sendo 29<br />

associadas, 8.000 fornecedores <strong>de</strong> leite<br />

e capta aproximadamente cem milhões<br />

<strong>de</strong> litros <strong>de</strong> leite por mês. Emprega<br />

3.500 pessoas. Suas receitas anuais são<br />

superiores a R$ 2 bilhões.<br />

ITAMBÉ/DIVULGAÇÃO<br />

O perito no assunto – Seja qual for o seu<br />

caminho, há pessoas que sabem mais do<br />

que você sobre o assunto do seu interesse.<br />

Elas, provavelmente, apenas não têm<br />

coragem <strong>de</strong> buscar o próprio negócio.<br />

I<strong>de</strong>ntifique essas pessoas e busque seu<br />

aconselhamento.<br />

Os experientes – Nunca tente reinventar<br />

a roda. Dedique-se a outro tema pois a<br />

roda já existe. Procure pessoas que<br />

trilharam o caminho que você <strong>de</strong>seja<br />

seguir. É provável que tenham aprendido<br />

muita coisa com o sofrimento. E você<br />

evitará esse drama, caso as informações<br />

lhe mostrem o caminho das pedras.<br />

SXC<br />

9


ENTREVISTA Marcio Lacerda/Prefeito <strong>de</strong> Belo Horizonte<br />

O primeiro ano <strong>de</strong> governo<br />

do socialista Márcio Lacerda<br />

Prefeito preparou o terreno, em 2009,<br />

para gran<strong>de</strong>s investimentos na cida<strong>de</strong>,<br />

a partir <strong>de</strong>ste ano<br />

DURVAL GUIMARÃES<br />

N<strong>um</strong>a época em que se leem e se ou -<br />

vem tantas notícias <strong>de</strong>vastadoras<br />

so bre a administração do dinheiro<br />

público, Belo Horizonte se revela <strong>um</strong>a ci da -<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> sorte. Dos prefeitos <strong>de</strong> todas as ci da -<br />

<strong>de</strong>s brasileiras, Lacerda é, pessoalmente o<br />

mais rico. Basta <strong>um</strong> exame nas <strong>de</strong>clarações<br />

<strong>de</strong> bens que os can di datos apresentaram na<br />

época elei to ral. Mais ainda: apesar <strong>de</strong> dono<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fortuna, sempre revelou <strong>um</strong><br />

imenso <strong>de</strong>sa pego pelos bens materiais. É o<br />

que dizem seus ex-companheiros <strong>de</strong> luta armada.<br />

Segundo os seus quase cem compa nhei -<br />

ros <strong>de</strong> prisão, encarcerados no período da<br />

ditadura, Márcio Lacerda (PSB) jamais se<br />

esqueceu <strong>de</strong>les. Principalmente <strong>de</strong>pois que<br />

fo ram jogados na rua, sem trabalho ou<br />

qual quer fonte <strong>de</strong> renda. A uns <strong>de</strong>u empre -<br />

go; e a outros emprestou dinheiro, que jamais<br />

recebeu <strong>de</strong> volta. Para <strong>um</strong> terceiro<br />

gru po, que incluía o ex-prefeito Fernando<br />

Pi mentel, assinou a carteira profissional,<br />

com o propósito <strong>de</strong> iludir os entrevistadores<br />

das empresas on<strong>de</strong> eles iam buscar <strong>um</strong>a co -<br />

lo cação <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>.<br />

Quando saiu da prisão, com todas as<br />

por tas fechadas para ele, Márcio Lacerda<br />

foi obrigado a montar sua própria empresa.<br />

Com sucesso total: pouco tempo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

cria da, sua empresa <strong>de</strong> instalação <strong>de</strong> linhas<br />

te lefônicas, a Construtel, chegou a faturar<br />

US$ 500 milhões anuais. Por conta da capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> trabalho e da criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Márcio. Mais ainda, tornou-se <strong>um</strong>a multina<br />

cional, com negócios em vários países da<br />

América do Sul.<br />

É justo lembrar a prisão daqueles jovens<br />

estudantes que, como ele, pegaram em ar -<br />

mas e arriscaram a vida (muitos morreram<br />

sob tortura ou tiro) em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> <strong>um</strong> i<strong>de</strong>al.<br />

Consi<strong>de</strong>rados elementos <strong>de</strong> alta periculosida<strong>de</strong>,<br />

foram isolados na penitenciária <strong>de</strong><br />

Linhares, em Juiz <strong>de</strong> Fora, inteiramente<br />

reservada para eles. Por qualquer ato consi<strong>de</strong>rado<br />

indisciplinar, eram colocados na<br />

solitária, privados até <strong>de</strong> ver a luz do dia.<br />

Muitos <strong>de</strong>sses jovens, hoje respeitáveis<br />

senhores <strong>de</strong> cabelos brancos, são seus companheiros<br />

na Prefeitura. E, pelas ironias da<br />

História, chegaram ao po<strong>de</strong>r não pelo terror<br />

da armas, mas pela força <strong>de</strong>mocrática dos<br />

votos. Então, chega a ser bizarro dizer que<br />

Márcio não tem experiência política. Logo<br />

ele, que teve tanta militância na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>.<br />

Pouca gente sabe, mas Márcio, durante<br />

toda a vida <strong>de</strong> empresário, foi o<br />

si lencioso mantenedor do Partido Popular<br />

Socialista, sucessor do velho Partido Comunista<br />

Braseiro. Na Construtel, distribuía,<br />

anualmente, os lucros entre os seus funcio -<br />

nários. E, quando a ven<strong>de</strong>u, repartiu 20%<br />

do dinheiro com todos os empregados. As<br />

faxineiras mais mo<strong>de</strong>stas, por exemplo, ga -<br />

nharam pelo menos US$ 20 mil cada <strong>um</strong>a,<br />

n<strong>um</strong>a doação até hoje sem similar no país.<br />

Uma coisa é alguém <strong>de</strong>dicar sua vida à<br />

luta política. Outra, bem diferente, é admi -<br />

nis trar <strong>um</strong>a cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> todas as correntes<br />

políticas e interesses <strong>de</strong>vem conviver civilizadamente.<br />

Isso, sim, é <strong>um</strong>a experiência<br />

que Márcio vivencia pela primeira vez na<br />

vida, aos 60 anos.<br />

No seu primeiro dia <strong>de</strong> administração,<br />

não houve <strong>um</strong> batismo <strong>de</strong> fogo. Mas <strong>um</strong><br />

dilúvio das águas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a tempesta<strong>de</strong> que<br />

inundou a cida<strong>de</strong>, atingiu milhares <strong>de</strong> casas<br />

e levou famílias ao <strong>de</strong>sespero. Terá sido <strong>um</strong><br />

bom começo do trabalho <strong>de</strong> Márcio para<br />

ad ministrar a complexa, inquieta e galopante<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte?<br />

“<br />

Temos <strong>um</strong> gran<strong>de</strong><br />

programa <strong>de</strong> <strong>obras</strong>,<br />

ÉLCIO<br />

que será <strong>de</strong>flagrado após<br />

as chuvas <strong>de</strong> verão. Já<br />

contratamos muitos<br />

projetos executivos para<br />

novas <strong>obras</strong>”.<br />

<strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> - O senhor ass<strong>um</strong>iu a pre -<br />

fei tura <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> chuva. E elas se re pe ti -<br />

ram fortemente várias vezes no ano. Como<br />

é governar sob as águas?<br />

Na noite do meu primeiro dia <strong>de</strong> gover -<br />

no, houve <strong>um</strong>a chuva <strong>de</strong>vastadora. Mais <strong>de</strong><br />

três mil residências foram invadidas pelas<br />

águas ou sofreram alg<strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> dano. Foi<br />

<strong>um</strong> sofrimento enorme para a população.<br />

Mas, reagimos, no ato. O resultado é que ho -<br />

je temos <strong>um</strong> mapa <strong>de</strong>talhado e seguro das<br />

áreas <strong>de</strong> inundação. Sabia que aqui em Belo<br />

Horizonte são mais <strong>de</strong> 80? Esse mapa é no -<br />

vida<strong>de</strong>, original. Nem São Paulo, castigada<br />

in tensamente com inundações quase crônicas,<br />

tem esse diagnóstico.Na verda<strong>de</strong>, estamos<br />

dando continuida<strong>de</strong> a <strong>um</strong> trabalho <strong>de</strong><br />

prevenção <strong>de</strong> riscos: já retiramos <strong>de</strong>z mil<br />

famílias <strong>de</strong> áreas sujeitas a <strong>de</strong>sabamento.<br />

Claro que, em quatro anos, não resolveremos<br />

todos esses problemas, por falta <strong>de</strong> recur<br />

sos financeiros. Mas, com certeza, o<br />

pro blema daquela área da Avenida Teresa<br />

Cristina, que tinha inundações frequentes,<br />

se rá resolvido em menos <strong>de</strong> dois anos.<br />

Qual a marca do seu primeiro ano <strong>de</strong> ad mi -<br />

nistração?<br />

Nós colocamos em marcha o nosso plano<br />

<strong>de</strong> governo, divulgado durante a campanha<br />

e lei toral. Conseguimos formatar <strong>um</strong> plano estratégico,<br />

com visão <strong>de</strong> longo prazo. Esta be -<br />

lecemos <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão, que consis te<br />

no acompanhamento <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong> cada obra,<br />

<strong>de</strong> cada ação. Criamos 12 áreas <strong>de</strong> resultados<br />

10 DEZEMBRO DE 2009<br />

PARAÍSO


DEZEMBRO DE 2009 11


“<br />

Estamos procurando<br />

alternativas <strong>de</strong><br />

investimento privado,<br />

sobretudo em concessões.<br />

Lançamos consultas ao<br />

mercado. Vamos ver se<br />

aparecem interessados na<br />

construção <strong>de</strong> garagem e<br />

<strong>de</strong> estacionamentos<br />

subterrâneos”.<br />

e, em cada <strong>um</strong>a <strong>de</strong>las, <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> nú mero <strong>de</strong><br />

ações. Eu me reúno <strong>um</strong>a vez por mês com os<br />

gerentes e <strong>de</strong>mais profissionais envolvidos<br />

em cada projeto. Acompanho no computador<br />

<strong>de</strong> meu gabinete projeto a projeto, incluindo<br />

os recursos já aplicados e o estágio dos<br />

serviços. Não consigo me imaginar na chefia<br />

da cida<strong>de</strong> sem <strong>um</strong> plano, sem <strong>um</strong> r<strong>um</strong>o.<br />

Mas em termos <strong>de</strong> <strong>obras</strong>, o que efe ti va -<br />

men te foi colocado em marcha?<br />

Eu ass<strong>um</strong>i o governo em plena crise e co -<br />

nô mica internacional e n<strong>um</strong> momento <strong>de</strong> inse<br />

gurança. Havia cerca <strong>de</strong> 200 <strong>obras</strong> em<br />

an damento ou se iniciando. Obras gran<strong>de</strong>s<br />

ou pequenas. Nós não paralisamos nenh<strong>um</strong>a<br />

<strong>de</strong> las, nem reduzimos o ritmo. O que fizemos<br />

foi não iniciar nenh<strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> obra.<br />

Só as <strong>de</strong> emergência, pois não adianta co -<br />

me çar obra alg<strong>um</strong>a sem garantir recursos<br />

pa ra as que já existem. Ao mesmo tempo,<br />

<strong>de</strong>senvol vemos <strong>um</strong> rigoroso programa <strong>de</strong><br />

controle das receitas e <strong>de</strong>spesas. Já no segundo<br />

semes tre <strong>de</strong>ste ano, nos sentimos em<br />

con di ções <strong>de</strong> atacar novas <strong>obras</strong>. O resultado<br />

é que mantivemos praticamente os mesmos<br />

cus tos <strong>de</strong> 2008, conseguindo investir 22%<br />

da nossa receita corrente líquida. Belo Ho ri -<br />

zon te foi a capital brasileira que mais inves -<br />

tiu – mais <strong>de</strong> R$ 686 milhões, retirados <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a receita corrente <strong>de</strong> R$ 3 bilhões. Em<br />

seguida, veio Campo Gran<strong>de</strong>, no Mato Gros -<br />

so do Sul, com 18% da receita corrente. O<br />

Rio investiu apenas 3%. Investimos R$ 670<br />

mi lhões <strong>de</strong> receitas próprias em <strong>obras</strong>.<br />

O senhor conseguirá repetir esse <strong>de</strong> sem -<br />

pe nho em 2010?<br />

Investiremos ainda mais, pois, como dis -<br />

se anteriormente, em 2009 apenas pre pa ra -<br />

mos nossa caminhada. Temos <strong>um</strong> gran<strong>de</strong><br />

pro grama <strong>de</strong> <strong>obras</strong> que será <strong>de</strong>flagrado após<br />

12<br />

as chuvas <strong>de</strong> verão. Já contratamos muitos<br />

pro jetos executivos para novas <strong>obras</strong>. Vamos<br />

lançar licitações no primeiro trimestre para<br />

<strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> <strong>obras</strong> maiores e significativas,<br />

como o Hospital Metropolitano, que<br />

será erguido no Barreiro. Iremos duplicar a<br />

avenida Pedro I (após a Lagoa da Pampulha,<br />

em direção ao aeroporto <strong>de</strong> Confins). Também<br />

construiremos a primeira rota do Transpor<br />

te Rápido por ônibus, seguindo os<br />

mo <strong>de</strong>los <strong>de</strong> Curitiba e Bogotá. Há ainda ou -<br />

tro gran<strong>de</strong> conjunto <strong>de</strong> <strong>obras</strong>, como o proje -<br />

to Vila Viva, no Aglomerado Santa Lú cia.<br />

Para essas <strong>obras</strong>, estamos com R$ 550 mi lhões<br />

em caixa <strong>de</strong> recursos provenientes <strong>de</strong><br />

financiamentos liberados ao lon go <strong>de</strong> 2009.<br />

Estamos <strong>de</strong>talhando os projetos, preparando<br />

as licitações. Felizmente, nos sas receitas<br />

próprias não foram atingidas pe la crise, embora<br />

houvesse sensíveis reduções nos<br />

repasses dos governos fe<strong>de</strong>ral e estadual.<br />

A prefeitura preten<strong>de</strong> atrair investidores<br />

pri vados para <strong>obras</strong> públicas?<br />

Estamos procurando alternativas <strong>de</strong> investimento<br />

privado, sobretudo em concessões.<br />

Lançamos consultas ao mercado,<br />

por meio dos Procedimentos <strong>de</strong> Manifestações<br />

<strong>de</strong> Interesse (PMI), previstos na lei<br />

que instituiu as Parcerias Público-Privadas<br />

(PPP). Vamos ver se aparecem interessados<br />

na construção e na exploração <strong>de</strong> edifíciosgaragem,<br />

<strong>de</strong> estacionamentos subterrâneos<br />

em <strong>BH</strong>. Vamos ver quem apresentará i<strong>de</strong>ias<br />

para, com base nelas, prepararmos os editais.<br />

Lançamos também consultas para a<br />

construção <strong>de</strong> complexos comerciais subterrâneos<br />

para pe<strong>de</strong>stres, como já existem na<br />

Europa. Abriremos também, nesses locais,<br />

a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> estacionamentos.<br />

Uma das áreas previstas será em<br />

frente ao Palácio da Liberda<strong>de</strong>.<br />

Como a prefeitura vai gerenciar os pro je tos?<br />

Os empresários sugeriram muitas i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong><br />

concessões. Como não temos recursos h<strong>um</strong>anos<br />

para examinar <strong>de</strong>talhadamente cada<br />

proposta, assinamos, em 1º <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

2009, convênio com o Banco Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Econômico e Social (BNDES),<br />

que conta com parceiros privados para isso. Os<br />

projetos serão sem custos para a prefeitura e incluirão<br />

até estudos <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> eco nô mica.<br />

Até a proposta <strong>de</strong> edital será apresenta da pelo<br />

banco. Entre os projetos que o banco es tatal<br />

formata para nós, estão incluídos o Centro <strong>de</strong><br />

Convenções, <strong>um</strong>a nova rodoviária, <strong>obras</strong><br />

viárias e o mercado distrital do Cru zeiro.<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

“<br />

Pelo menos doze<br />

novos hotéis <strong>de</strong>verão<br />

ter suas <strong>obras</strong> iniciadas<br />

nos próximos meses,<br />

a<strong>um</strong>entando em mais <strong>de</strong><br />

1.500 leitos novos a<br />

capacida<strong>de</strong> da re<strong>de</strong><br />

hoteleira da cida<strong>de</strong>”.<br />

DEZEMBRO DE 2009


A direção do BNDES me informou que há<br />

muitos bancos privados interessados em participar<br />

do financiamento <strong>de</strong> <strong>obras</strong> públicas,<br />

mas ainda não existem projetos prontos para<br />

serem executados e financiados. A proposta do<br />

banco estatal é viabilizar esses financiamentos.<br />

Então, o BNDES e esses bancos privados<br />

criaram <strong>um</strong>a empresa <strong>de</strong>nominada Estruturadora<br />

Brasileira <strong>de</strong> Projetos (EBP), que assinou<br />

o convênio com a Prefeitura. Da nossa<br />

parte, quem vai tocar o convênio, incluído<br />

n<strong>um</strong>a área que gerencia as Parcerias Público-<br />

Privadas, será o Hy pé ri<strong>de</strong>s Atheniense.<br />

O BNDES financiará, então, não apenas a<br />

obra, mas também os projetos?<br />

Sim. Quando <strong>um</strong> banco estuda e financia<br />

<strong>um</strong> projeto, con si <strong>de</strong> ran do-o viável, o<br />

financiamen to da o bra inteira ficará<br />

mui to mais fá cil. Eles<br />

estão cui dando do centro<br />

<strong>de</strong> conven ções,<br />

que pre ten <strong>de</strong> mos<br />

cons truir na<br />

Cris tiano Ma -<br />

cha do, e da<br />

nova ro do -<br />

viária. As<br />

alternativas<br />

<strong>de</strong> ne -<br />

g ó c i o s<br />

são mui -<br />

tas. No<br />

caso do<br />

hospitalmetro<br />

po litano<br />

do Bar reiro,<br />

por exemplo,<br />

há a<br />

hipótese <strong>de</strong><br />

a iniciativa<br />

privada construir<br />

o prédio<br />

e alu gálo<br />

pa ra a pre -<br />

fei tura. De<br />

qual quer for -<br />

ma, <strong>um</strong> edi tal<br />

<strong>de</strong>verá ser pu -<br />

blicado nos próximos<br />

meses.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

O metrô está in -<br />

cluído nesses<br />

pro jetos?<br />

“<br />

Esperamos que o<br />

metrô seja incluído<br />

nas <strong>obras</strong> do próximo PAC,<br />

que o governo fe<strong>de</strong>ral vai<br />

anunciar no próximo mês<br />

<strong>de</strong> fevereiro. O BNDES já<br />

está avaliando o projeto”.<br />

Esperamos que o metrô seja incluído nas<br />

<strong>obras</strong> do próximo PAC, que o governo fe <strong>de</strong> -<br />

ral vai anunciar no próximo mês <strong>de</strong><br />

fevereiro. O BNDES já está avaliando o proje<br />

to. Nós preten<strong>de</strong>mos criar a alternativa <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a parceria público-privada.<br />

Mas a Pre fei tura não pen sa na a tra ção <strong>de</strong><br />

gran <strong>de</strong>s pro je tos industriais pa ra a cida<strong>de</strong>?<br />

Infelizmente, não temos áreas dis po níveis<br />

no muni cípio. Te mos espaço, sim, pa ra empre<br />

endimentos <strong>de</strong> ser viços <strong>de</strong> alta tec nologia;<br />

pa ra projetos nas áreas <strong>de</strong> saú <strong>de</strong> e <strong>de</strong> en genharia;<br />

ou para se -<br />

<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gran -<br />

<strong>de</strong>s grupos,<br />

<strong>de</strong> gran <strong>de</strong>s<br />

empresas.<br />

Não há espaço<br />

para gran<strong>de</strong>s in dústrias,<br />

por isso estamos nos<br />

articulando com nove cida<strong>de</strong>s vi zi -<br />

nhas e criamos a Re<strong>de</strong> Dez. Uma gran<strong>de</strong> indústria,<br />

que se instale n<strong>um</strong>a cida<strong>de</strong> vi zi nha,<br />

também traz gran<strong>de</strong>s benefícios para Belo<br />

Horizonte. O que é até bom para a <strong>de</strong>s -<br />

concentração populacional. Com isso, cria mos<br />

<strong>um</strong> clima <strong>de</strong> cooperação e harmonia com as<br />

cida<strong>de</strong>s vizinhas, ajudando-as, até, na implantação<br />

da nota fiscal e le trônica (nas notas<br />

<strong>de</strong> serviços) e também na extensão da nossa<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Internet gratuita sem fio para vilas e<br />

aglomerados das cida<strong>de</strong>s vizinhas. Estes são<br />

exemplos <strong>de</strong>ssa cooperação, fundamental<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento e a melhoria da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida da população.<br />

Há outras ações no campo econômico?<br />

Sim. Reativamos o Conselho <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Econômico. E aprovamos incentivos<br />

fiscais na área do ISS que irão<br />

aten<strong>de</strong>r, sobretudo, aos novos hotéis que<br />

estão chegando. Pelo menos doze novos<br />

hotéis <strong>de</strong>verão ter suas <strong>obras</strong> iniciadas nos<br />

próximos meses, a<strong>um</strong>entando em mais <strong>de</strong><br />

1.500 leitos novos a capacida<strong>de</strong> da re<strong>de</strong><br />

hoteleira da cida<strong>de</strong>.<br />

Finalmente, será resolvido o problema da<br />

travessia ferroviária <strong>de</strong> Belo Horizonte?<br />

Há mais <strong>de</strong> 40 anos, a população da região<br />

do Horto vive o tormento <strong>de</strong> ver as composições<br />

ferroviárias passando nas portas e nos<br />

quintais <strong>de</strong> suas casas. Há passagens <strong>de</strong> nível<br />

perigosíssimas, sempre causando aci<strong>de</strong>ntes e<br />

mortes. Finalmente, esse drama está com data<br />

marcada para acabar.<br />

Depois <strong>de</strong> muita luta, a prefeitura articulou<br />

<strong>um</strong> acordo da Ferrovia Centro Atlântica<br />

(FCA) com o governo fe<strong>de</strong>ral, que permitirá a<br />

realização das <strong>obras</strong>. Serão investidos mais <strong>de</strong><br />

R$200 milhões na construção <strong>de</strong> viadutos e na<br />

retificação das linhas, n<strong>um</strong>a extensão <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> oito quilômetros. Centenas <strong>de</strong><br />

casas serão <strong>de</strong>sapropriadas<br />

e seus mo -<br />

ra doras receberão residências<br />

no vas, ao mesmo tempo em que<br />

serão construídos parques e áreas<br />

<strong>de</strong> lazer. Será <strong>um</strong>a obra realmente<br />

grandiosa, que será iniciada agora em<br />

2010. A Prefeitura vai participar principalmente<br />

como negociadora <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

empreendimento que parecia impossível<br />

<strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>sentendimento e intransigência<br />

das partes envolvidas.<br />

13


MATÉRIA DE CAPA<br />

37 mineiros que<br />

fizeram diferença<br />

na década<br />

Relação presta homenagem aos mineiros ou resi<strong>de</strong>ntes<br />

em Minas que contribuíram, com seu trabalho e<br />

generosida<strong>de</strong>, para o progresso da socieda<strong>de</strong><br />

DURVAL GUIMARÃES *<br />

Saber reconhecer e valorizar o mérito alheio não é apenas<br />

<strong>um</strong> gesto <strong>de</strong> h<strong>um</strong>ilda<strong>de</strong> n<strong>um</strong> mundo em que as pessoas só<br />

têm olhos para as suas próprias qualida<strong>de</strong>s e acertos. É <strong>um</strong><br />

modo <strong>de</strong> aplaudir aqueles que se tornaram merecedores da nossa<br />

admiração pelo bem que fizeram.<br />

Este é o propósito da iniciativa <strong>de</strong> <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>. Trata-se <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> pretensão esta a <strong>de</strong> selecionar aqueles que mais se<br />

<strong>de</strong>stacaram em toda <strong>um</strong>a década. Por isso, cabe esclarecer que não<br />

se trata <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar todos os que honraram nosso Estado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />

recuados tempos em que os ban<strong>de</strong>irantes subiram as montanhas<br />

em busca do ouro. Nesse caso, a lista teria <strong>de</strong> contemplar o Alferes,<br />

os poetas Inconfi<strong>de</strong>ntes e Santos D<strong>um</strong>ont, entre outros. Toda a<br />

edição, da primeira à última página, seria insuficiente<br />

Decidimos focalizar apenas a década. Ainda assim, temos a<br />

José Salvador Silva<br />

Médico, criador do Hospital Mater<br />

Dei, em Belo Horizonte, que é <strong>um</strong> dos<br />

mais completos e melhores <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais. O médico persegue,<br />

incansavelmente, o objetivo <strong>de</strong><br />

transformá-lo n<strong>um</strong>a referência nacional.<br />

José Israel Vargas<br />

Ex-Ministro da Ciência e<br />

Tecnologia e ex-embaixador<br />

do Brasil na UNESCO.<br />

convicção <strong>de</strong> que cometeremos injustiças. Aos injustiçados, as nossas<br />

<strong>de</strong>sculpas: o erro é a gran<strong>de</strong> marca da espécie h<strong>um</strong>ana. Aos esquecidos<br />

pedimos, h<strong>um</strong>il<strong>de</strong>mente, que se consolem com Catão, o<br />

gran<strong>de</strong> romano que não teve estátua no Capitólio.<br />

Iam os estrangeiros a Roma, viam as estátuas <strong>de</strong> varões<br />

famosos e perguntavam pela <strong>de</strong> Catão. A resposta era a maior estátua<br />

<strong>de</strong> todas. Aos outros, o Senado colocou <strong>um</strong>a estátua: a Catão,<br />

o mundo. Essa pergunta e essa admiração são o maior entre todos<br />

os prêmios, segundo o Padre Vieira, que se lembrou do episódio<br />

em <strong>um</strong> dos seus belíssimos sermões.<br />

A lista dos contemplados é <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> da redação <strong>de</strong><br />

<strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>, que foi auxiliada por <strong>um</strong> grupo <strong>de</strong> especialistas,<br />

cuja relação se encontra abaixo. Em seguida, os homenageados,<br />

dispostos aleatoriamente na lista a seguir.<br />

(* Colaboração: Cyro Cunha Melo, José Luís Rocha, José Domingos<br />

Fabris, Valério Fabris, Geraldo Gue<strong>de</strong>s, Olavo Machado Júnior e<br />

Paulo Ângelo <strong>de</strong> Carvalho)<br />

MATER DEI/DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO<br />

14 DEZEMBRO DE 2009


ÉLCIO PARAÍSO<br />

Berthier Ribeiro Neto<br />

Diretor <strong>de</strong> engenharia da<br />

Google no Brasil. Sob o seu<br />

comando, em Belo Horizonte,<br />

<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> pesquisadores se<br />

<strong>de</strong>dicam a aperfeiçoar esse site<br />

<strong>de</strong> buscas para ações em todo<br />

o mundo.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Nélson Freire<br />

Os Irmãos Perrela<br />

Pianista. Começou a tocar piano aos<br />

três anos, surpreen<strong>de</strong>ndo a todos com a<br />

apresentação, <strong>de</strong> memória, <strong>de</strong> músicas<br />

que eram tocadas por sua irmã,<br />

igualmente pianista. Premiado nos<br />

principais concursos do mundo.<br />

Des<strong>de</strong> que ass<strong>um</strong>iram a direção do Cruzeiro, Zezé e Alvimar<br />

Perrela fizeram do Cruzeiro <strong>um</strong> clube absolutamente vitorioso. Em<br />

2003, o time foi o vencedor, sucessivamente, do campeonato<br />

mineiro, da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro, n<strong>um</strong>a<br />

inédita tríplice coroa.<br />

15<br />

CRUZEIRO/DIVULGAÇÃO


Irmãos Pe<strong>de</strong>rneiras<br />

Criadores do Grupo Corpo, <strong>um</strong> dos mais importantes e<br />

criativos grupos <strong>de</strong> dança do mundo.<br />

Bernardo Paz<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Apaixonado pelo mundo das artes,<br />

este minerador e industrial criou o<br />

Inhotim, que é <strong>um</strong> dos mais importantes<br />

e completos centros internacionais <strong>de</strong><br />

arte contemporânea.<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Gustavo Penna<br />

Um dos mais importantes arquitetos<br />

mineiros. Deixou sua marca na<br />

reurbanização da Lagoa da Pampulha, na<br />

Escola Guignard e no Expominas, entre<br />

outras <strong>obras</strong>.<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

DIVULGAÇÃO<br />

DIVULGAÇÃO<br />

16 DEZEMBRO DE 2009


DIVULGAÇÃO<br />

Jacob Palis Júnior<br />

Matemático, natural <strong>de</strong> Uberaba. É<br />

presi<strong>de</strong>nte da Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong><br />

Ciências e da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Ciências<br />

para o Desenvolvimento do Mundo.<br />

Vitório Medioli<br />

Presi<strong>de</strong>nte da Sempre<br />

Editora, que publica o<br />

SuperNotícia. Este jornal <strong>de</strong>tém<br />

a maior tiragem do país, com<br />

340 mil exemplares diários.<br />

Edita também o jornal O<br />

Tempo, com 40 mil exemplares,<br />

e o semanário Pampulha. Suas<br />

principais ativida<strong>de</strong>s<br />

empresariais, porém, estão no<br />

ramo <strong>de</strong> transportes e na<br />

produção <strong>de</strong> etanol. Todos os<br />

seus empreendimentos são em<br />

Minas, mas o empresário<br />

nasceu em Parma, Itália.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

DIVULGAÇÃO<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Cláudio<br />

Moura Castro<br />

Educador<br />

com trabalho no<br />

Banco<br />

Interamericano<br />

<strong>de</strong><br />

Desenvolviment<br />

o e na<br />

Organização<br />

Internacional do<br />

Trabalho, on<strong>de</strong><br />

foi chefe da<br />

Divisão das<br />

Políticas <strong>de</strong><br />

Formação.<br />

17


Alair Martins<br />

do Nascimento<br />

Fundador do Grupo Martins, com<br />

se<strong>de</strong> em Uberlândia, que é o maior<br />

atacadista do país.<br />

ANTÔNIO CRUZ/ABR<br />

Dilma Roussef<br />

A Ministra Chefe da Casa Civil nasceu<br />

e viveu a infância e a juventu<strong>de</strong> em Belo<br />

Horizonte. Foi aluna da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Ciências Econômicas da UFMG até<br />

mergulhar na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> da luta<br />

armada, no final dos anos 60. Ganhou<br />

notorieda<strong>de</strong> ao compor o ministério <strong>de</strong><br />

Lula.<br />

ÉLCIO PARAÍSO DIVULGAÇÃO<br />

José Salim<br />

Mattar Júnior<br />

Lí<strong>de</strong>r da maior empresa brasileira<br />

<strong>de</strong> locação <strong>de</strong> veículos, a Localiza,<br />

presente em oito países e 361<br />

cida<strong>de</strong>s.<br />

18 DEZEMBRO DE 2009


DIVULGAÇÃO<br />

Gilberto Silva<br />

Jogador <strong>de</strong> futebol da seleção<br />

brasileira, foi campeão na Copa do Mundo<br />

<strong>de</strong> 2002, torneio no qual foi consi<strong>de</strong>rado o<br />

melhor volante apoiador do mundo.<br />

Iniciou sua carreira no América e ganhou<br />

notorieda<strong>de</strong> no Atlético.<br />

Mario Borges Neto<br />

Doutor em Inteligência Artificial<br />

Aplicada à Educação. Na sua<br />

gestão, primeiro como diretor<br />

científico e <strong>de</strong>pois com presi<strong>de</strong>nte,<br />

a Fundação <strong>de</strong> Amparo à Pesquisa<br />

em Minas (Fapemig) multiplicou<br />

por <strong>de</strong>z os seus recursos<br />

<strong>de</strong>stinados à pesquisa e à<br />

inovação no Estado. A Fapemig é<br />

instituição pública.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

Skank<br />

Em 17 anos <strong>de</strong><br />

carreira e 5,5<br />

milhões <strong>de</strong> CDs e<br />

DVDs vendidos, o<br />

grupo musical se<br />

consolida como<br />

<strong>um</strong> dos mais<br />

criativos e<br />

populares do<br />

país.<br />

DIVULGAÇÃO<br />

19<br />

DIVULGAÇÃO


FIAT/DIVULGAÇÃO<br />

DANIEL DE CERQUEIRA/O TEMPO<br />

Cledorvino Belini<br />

Primeiro profissional brasileiro a<br />

integrar a alta direção mundial do Grupo<br />

Fiat. Comanda <strong>um</strong>a equipe <strong>de</strong> 40 mil<br />

funcionários e a empresa li<strong>de</strong>ra, há<br />

vários anos, a produção e a venda <strong>de</strong><br />

automóveis no Brasil.<br />

Ivo Faria<br />

O gastrônomo <strong>de</strong>scobriu<br />

cedo sua vocação para a<br />

culinária. Aos 14 anos, foi<br />

aluno do Senac. Publicações<br />

especializadas o<br />

consagraram como <strong>um</strong> dos<br />

maiores chefs do Brasil. O<br />

leitor po<strong>de</strong> saborear sua<br />

imensa criativida<strong>de</strong> no<br />

restaurante Vecchio Sogno,<br />

<strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong>. A casa<br />

está localizada anexa ao<br />

prédio da Assembleia<br />

Legislativa.<br />

20 DEZEMBRO DE 2009


Ivan Moura Campos<br />

Um dos mais importantes nomes da<br />

ciência da computação e <strong>um</strong> dos<br />

responsáveis pela implantação da<br />

internet no país.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

Sheilla Tavares <strong>de</strong> Castro<br />

Principal atleta da seleção brasileira<br />

feminina <strong>de</strong> vôlei, campeã olímpica em<br />

Pequim. Começou sua vitoriosa carreira<br />

no Mackenzie Esporte <strong>de</strong> Clube, na<br />

Savassi, em Belo Horizonte.<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Tereza Guimarães Paes<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Presi<strong>de</strong>nte do Hospital da Baleia,<br />

instituição <strong>de</strong> benemerência voltada ao<br />

atendimento às camadas mais<br />

<strong>de</strong>samparadas da socieda<strong>de</strong>. Faz 500 mil<br />

atendimentos por ano, 94% pelo SUS.<br />

Mantida pela Fundação Benjamim<br />

Guimarães, criada pelo avô da<br />

homenageada.<br />

21


Aécio Neves<br />

Governou os<br />

mineiros durante<br />

quase toda a<br />

década. Na sua<br />

reeleição, obteve<br />

mais <strong>de</strong> 70% dos<br />

votos, n<strong>um</strong>a vitória<br />

absolutamente<br />

consagradora.<br />

Rubem Menin<br />

Engenheiro,<br />

empresário e<br />

banqueiro. Sua<br />

Construtora MRV<br />

Engenharia é <strong>um</strong>a das<br />

maiores do país.<br />

ÉLCIO PARAÍSO DIVULGAÇÃO<br />

Vicente Falconi<br />

<strong>de</strong> Campos<br />

Fundador do Instituto <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Gerencial<br />

(INDG), que se <strong>de</strong>dica ao<br />

aperfeiçoamento da gestão<br />

das empresas. É <strong>um</strong> dos<br />

mais influentes especialistas<br />

do país na gestão <strong>de</strong><br />

empresas e governos.<br />

DIVULGAÇÃO<br />

22 DEZEMBRO DE 2009


Andrea Neves<br />

Presi<strong>de</strong>nte do<br />

Serviço Voluntário <strong>de</strong><br />

Assistência Social<br />

(Servas). Destacou-se<br />

à frente <strong>de</strong><br />

importantes trabalhos<br />

<strong>de</strong> inclusão social.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

José Alencar<br />

Gomes da Silva<br />

Vice - presi<strong>de</strong>nte da<br />

República durante quase toda a<br />

década. A luta pela vida <strong>de</strong>u<br />

gran<strong>de</strong> dimensão h<strong>um</strong>ana à<br />

sua trajetória política.<br />

JOSÉ CARLOS PAIVA/DIVULGAÇÃO<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

23


Eliseu Alves<br />

Um dos criadores da Embrapa,<br />

empresa reconhecida<br />

mundialmente na pesquisa<br />

agrícola. Graças ao trabalho da<br />

instituição, o Brasil mudou <strong>de</strong> lado<br />

no balcão: <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> importar<br />

alimentos para exportá-los.<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Estevam Duarte<br />

<strong>de</strong> Assis<br />

Presi<strong>de</strong>nte dos<br />

Supermercados Bretas é<br />

<strong>um</strong>a das maiores re<strong>de</strong>s<br />

do país, com<br />

faturamento acima <strong>de</strong><br />

R$ 2 bi. A <strong>de</strong>speito do<br />

po<strong>de</strong>r, Assis tem sólida<br />

formação religiosa,<br />

mantém voto <strong>de</strong> pobreza<br />

e tudo que recebe como<br />

pessoa física é doado<br />

para <strong>obras</strong> sociais.<br />

WILSON DIAS/ABR<br />

24 DEZEMBRO DE 2009


O Galpão<br />

O grupo teatral<br />

foi criado há 25<br />

anos, mas seu<br />

trabalho e<br />

criativida<strong>de</strong> são<br />

permanentes.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

EUGÊNIO SÁVIO/DIVULGAÇÃO<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

Emerson <strong>de</strong><br />

Almeida<br />

Presi<strong>de</strong>nte da<br />

Fundação Dom Cabral.<br />

Transformou <strong>um</strong><br />

simples curso <strong>de</strong><br />

extensão universitária<br />

n<strong>um</strong>a das mais<br />

respeitadas escolas<br />

mundiais <strong>de</strong><br />

treinamento e<br />

aperfeiçoamento <strong>de</strong><br />

executivos. É a 12ª<br />

escola da lista do jornal<br />

Financial Times.<br />

Eduardo<br />

Borges <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong><br />

Presi<strong>de</strong>nte do grupo<br />

Andra<strong>de</strong> Gutierrez. À<br />

frente dos negócios do<br />

conglomerado e mais<br />

especificamente da CR –<br />

Concessões Rodoviárias<br />

– exerceu sua li<strong>de</strong>rança<br />

no sentido <strong>de</strong><br />

transformá-lo n<strong>um</strong>a<br />

corporação<br />

multinacional.<br />

25


EDUARDO ROCHA/DIVULGAÇÃO<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

Marco Antônio Castello Branco<br />

Atual presi<strong>de</strong>nte do Grupo Usiminas. Ainda<br />

como presi<strong>de</strong>nte da Vallourec (ex-Mannesman),<br />

convenceu o grupo a implantar <strong>um</strong>a si<strong>de</strong>rúrgica em<br />

Minas (em Jeceaba). Des<strong>de</strong> a Açominas, ainda nos<br />

anos 70, não se construía <strong>um</strong>a usina no Estado.<br />

Robson Andra<strong>de</strong><br />

Presi<strong>de</strong>nte da Fiemg por seis anos. O<br />

industrial se prepara para disputar a<br />

presidência da Confe<strong>de</strong>ração Nacional<br />

da Indústria, até agora como candidato<br />

único. Des<strong>de</strong> os anos 50, nenh<strong>um</strong><br />

mineiro dirigiu a entida<strong>de</strong> principal dos<br />

industriais brasileiros.<br />

Ricardo Nunes<br />

Comerciante, proprietário da<br />

Ricardo Eletro, <strong>um</strong>a das maiores<br />

re<strong>de</strong>s nacionais <strong>de</strong> venda <strong>de</strong><br />

eletrodomésticos. Começou com<br />

<strong>um</strong>a lojinha <strong>de</strong> 20 metros<br />

quadrados, em Divinópolis.<br />

26 DEZEMBRO DE 2009<br />

DIVULGAÇÃO


DEZEMBRO DE 2009<br />

Natália<br />

Guimarães<br />

Mineira <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong><br />

Fora, conquistou o<br />

mundo com a sua<br />

beleza. Foi Miss Brasil e<br />

se classificou em 2º<br />

lugar no concurso Miss<br />

Universo <strong>de</strong> 2007.<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Sérgio Danilo Pena<br />

Geneticista <strong>de</strong> renome internacional.<br />

É autor do livro “Igualmente diferentes”,<br />

que propõe a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

socieda<strong>de</strong> na qual a singularida<strong>de</strong> do<br />

indivíduo seja valorizada e celebrada.<br />

Esse sonho se harmoniza com o fato<br />

<strong>de</strong>monstrado pela genética mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong><br />

que cada <strong>um</strong> <strong>de</strong> nós tem <strong>um</strong>a<br />

individualida<strong>de</strong> genômica absoluta, que<br />

interage com o ambiente para moldar<br />

<strong>um</strong>a trajetória <strong>de</strong> vida exclusiva.<br />

DIVULGAÇÃO<br />

27


CARTA DE SÃO PAULO<br />

Quem acredita<br />

em trem-bala no Brasil?<br />

Seria muito mais<br />

sensato que fosse<br />

aprovado <strong>um</strong> projeto<br />

mais mo<strong>de</strong>sto,<br />

resolvendo o<br />

congestionamento das<br />

vias <strong>de</strong> acesso aos<br />

principais aeroportos<br />

paulistas, que são<br />

e continuarão sendo<br />

os mais movimentados<br />

do país<br />

KLAUS KLEBER<br />

Já houve quem dissesse que ninguém<br />

po <strong>de</strong> ser contra <strong>um</strong>a estrada no Brasil,<br />

<strong>um</strong> país ainda sub<strong>de</strong>senvolvido, e<br />

mui to, em matéria <strong>de</strong> transporte. Agora, há<br />

am bientalistas que fazem tenebrosas previsões<br />

sobre estradas cortando a Amazônia.<br />

Bem, mas ninguém que eu saiba é contra<br />

transporte em massa sobre trilhos. Mas nes -<br />

se pós-campeonato <strong>de</strong> 2009 – ganho pelo<br />

Flamengo na série A, pelo Vasco na série B<br />

e, não nos esqueçamos, vencido pelo glorio -<br />

so América Futebol Clube, o Deca, na série<br />

C – trem-bala é como <strong>um</strong> sonho <strong>de</strong> <strong>um</strong>a noi -<br />

te <strong>de</strong> chuva torrencial <strong>de</strong> verão. O custo é <strong>de</strong><br />

na da menos <strong>de</strong> R$ 24 bilhões, isto é, o custo<br />

orçado, pois, como já é parte do nosso folclo<br />

re político, <strong>um</strong>a obra <strong>de</strong>sse porte não sai<br />

sem <strong>um</strong> acréscimo <strong>de</strong> 80% a 100%, sem le -<br />

var em conta a inflação e pres<strong>um</strong>indo - o<br />

que é <strong>um</strong>a presunção temerária - que haja<br />

<strong>um</strong> mínimo <strong>de</strong> corrupção.<br />

E quem vai bancar esse Trem <strong>de</strong> Alta Velo<br />

cida<strong>de</strong> (TVA)? O governo, claro, preven -<br />

do-se <strong>um</strong> financiamento <strong>de</strong> R$ 20,9 bilhões<br />

do BNDES, que é a verda<strong>de</strong>ira mãe nacio -<br />

nal. Se será necessário <strong>um</strong> financiamento<br />

pú blico <strong>de</strong>ssa proporção, por que realizar li -<br />

ci tação para a seleção <strong>de</strong> investidores privados<br />

interessados no projeto? Por que o<br />

go verno não banca sozinho a empreitada,<br />

mesmo porque, como mostra a experiência<br />

internacional, esses TVA cost<strong>um</strong>am dar<br />

anos <strong>de</strong> prejuízos ou apresentar baixíssimos<br />

lu cros antes <strong>de</strong> proporcionar <strong>um</strong>a boa remu -<br />

ne ração para os investidores.<br />

Um bom exemplo é o trem-bala sob o<br />

Ca nal da Mancha - o Eurostar -, consi<strong>de</strong>ra -<br />

do <strong>um</strong> péssimo investimento. Até agora, a<br />

<strong>de</strong> manda pelo trem ligando Londres e Paris<br />

em 2 horas e 35 minutos, por terra e pelo<br />

Eu rotúnel, não é compatível com o investimento<br />

feito e, para salvar alg<strong>um</strong>a coisa,<br />

pensa-se em estendê-lo nas pontas inglesa e<br />

francesa.<br />

Turistas estrangeiros, ingleses, franceses<br />

e belgas (há ramal também para Bruxelas)<br />

têm preferido o avião, que faz o percurso <strong>de</strong><br />

Londres a Paris em <strong>um</strong>a hora. E o bra -<br />

sileiros, que vão e vêm <strong>de</strong> São Paulo e Rio,<br />

mui tas vezes em <strong>um</strong> dia só, po<strong>de</strong>riam<br />

preferir a via aérea, se, principalmente, os<br />

ae roportos fossem mais acessíveis.<br />

Já estaria muito bom se tivéssemos <strong>um</strong><br />

metrô que levasse os sofridos viajantes<br />

brasileiros ao aeroporto <strong>de</strong> Guarulhos, evitando<br />

o trânsito nas sempre engarrafada<br />

Marginal do Tietê, que foi feita mesmo para<br />

ser <strong>um</strong>a garrafa. E seria excelente que o<br />

transporte sobre trilhos se esten<strong>de</strong>sse ao<br />

aeroporto <strong>de</strong> Viracopos, alternativa para o<br />

<strong>de</strong> Guarulhos, ou mesmo até Campinas, que<br />

fica a pertinho. Agora, fazer <strong>um</strong> trem-bala<br />

<strong>de</strong> São Paulo até o Rio, gastando bilhões<br />

para fazer <strong>de</strong>sapropriações e remover montanhas,<br />

para ficar pronto até as Olimpíadas<br />

<strong>de</strong> 2016, é aquele tipo <strong>de</strong> obra que fica para<br />

o próximo governo e daí para o próximo e<br />

daí para São Nunca, santo da especial <strong>de</strong>voção<br />

dos nossos homens no po<strong>de</strong>r.<br />

Seria muito mais sensato que fosse apro -<br />

vado <strong>um</strong> projeto mais mo<strong>de</strong>sto, resolvendo<br />

o congestionamento das vias <strong>de</strong> acesso aos<br />

principais aeroportos paulistas, que são e<br />

continuarão sendo os mais movimentados<br />

do país. E que, com o dinheiro que s<strong>obras</strong>se<br />

(se s<strong>obras</strong>se), o governo <strong>de</strong>stinasse os recursos<br />

ao combate das enchentes. Quando<br />

se fala nos problemas <strong>de</strong>ste país abençoado<br />

por Deus, não merecem menção as cheias anuais,<br />

as chamadas catástrofes naturais, que<br />

<strong>de</strong>rrubam encostas, matam muita gente dormindo<br />

e acordada, causam enormes pre jui -<br />

zos aos mais pobres, levam carros na<br />

en xur rada e provocam centenas <strong>de</strong> qui lô me -<br />

tros <strong>de</strong> congestionamento nas me tró po les.<br />

Não estou falando da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Paulo. Mas também <strong>de</strong> Belo Horizonte, Por -<br />

to Alegre, Florianópolis, Salvador. E não<br />

estou falando só <strong>de</strong> capitais, mas <strong>de</strong> inú -<br />

meras cida<strong>de</strong>s do interior à margem <strong>de</strong> rios<br />

e <strong>de</strong> lagoas. É <strong>um</strong>a questão séria <strong>de</strong> ha bi ta -<br />

ção e uso do solo que o programa Minha<br />

Casa, Minha Vida não se propõe a resolver.<br />

Parece que o Brasil se esqueceu que é<br />

“<strong>um</strong> país tropical e chuvoso”, como dizia<br />

Tom Jobim. E tome tempesta<strong>de</strong>, e tome <strong>de</strong>sas<br />

tre, <strong>de</strong>ngue, tifo, diarreia e, quem sabe,<br />

febre terçã.<br />

30 DEZEMBRO DE 2009


DURVAL GUIMARÃES<br />

A primeira passeata<br />

gente não esquece<br />

Assim eu via o FMI,<br />

sempre roubando dos<br />

brasileiros e <strong>de</strong> todos os<br />

países in<strong>de</strong>fesos do<br />

mundo. Com o tempo,<br />

percebi que era <strong>um</strong>a<br />

instituição financeira<br />

como outra qualquer e<br />

que os seus <strong>de</strong>vedores<br />

não passavam, quase<br />

sempre, <strong>de</strong> governos<br />

incompetentes, que<br />

recorriam ao seu<br />

dinheiro para cobrir<br />

rombos <strong>de</strong>snecessários<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

Com menos <strong>de</strong> três semanas <strong>de</strong> aulas, eu<br />

ainda não sabia o nome sequer <strong>de</strong> cinco<br />

colegas <strong>de</strong> sala, na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito<br />

da UFMG. Mas estava ali na Avenida Afonso<br />

Pena, a principal <strong>de</strong> Belo Horizonte, gritando<br />

contra a ditadura militar e contra <strong>um</strong> quinteto <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mônios, dos quais ainda me lembro <strong>de</strong> alguns.<br />

Era <strong>um</strong>a passeata imensa, com a participação <strong>de</strong><br />

milhares <strong>de</strong> estudantes, além <strong>de</strong> funcionários<br />

públicos e sindicalistas, como sempre. Não sou<br />

<strong>um</strong>a pessoa <strong>de</strong>smemoriada, ou atingida pelosas<br />

achaques naturais nas pessoas <strong>de</strong> cabelos brancos.<br />

Mas é que faz muito tempo. Mais <strong>de</strong> 40<br />

anos se passaram, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1967.<br />

Entre aqueles odiados fariseus contra os<br />

quais gritávamos, lembro-me <strong>de</strong> <strong>um</strong>a si<strong>de</strong>rúrgica<br />

norte-americana, <strong>de</strong> nome Bethlehem Ste -<br />

el, que li<strong>de</strong>rava <strong>um</strong> suposto cartel in dus -<br />

trial-militar, que mantinha a dominação do<br />

mundo pela força das armas e do aço. Hoje, por<br />

mais que me esforce, nunca consigo ler o nome<br />

<strong>de</strong>ssa usina nas páginas dos jornais. As únicas<br />

si<strong>de</strong>rúrgicas americanas citadas pela imprensa<br />

são aquelas <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> da Gerdau, que é <strong>um</strong><br />

grupo brasileiríssimo. Havia também <strong>um</strong> misterioso<br />

acordo educacional, <strong>de</strong> nome MEC-<br />

Usaid, que, segundo os panfletos da época,<br />

pretendia <strong>de</strong>ixar os brasileiros ainda mais analfabetos.<br />

Ironicamente, hoje o Brasil é o país dos<br />

cursos superiores e universida<strong>de</strong>s sem que<br />

aquele convênio fosse <strong>de</strong>rrotado.<br />

O maior inimigo, porém, era o Fundo Mo ne -<br />

tário Internacional (FMI), <strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong> agiota<br />

impiedoso, que emprestava dinheiro com o<br />

único propósito <strong>de</strong> nos escravizar. Durante<br />

muitos anos, quando me falavam em FMI, eu<br />

sempre me lembrava <strong>de</strong> “seu” Bernardão, <strong>um</strong><br />

vizinho gordo e displicente em suas roupas, que<br />

emprestava dinheiro na sua oficina mecânica.<br />

Seu escritório era bem nos fundos do terreno,<br />

on<strong>de</strong> fazia orçamentos <strong>de</strong> reparos em automóveis<br />

em qualquer papel e mantinha <strong>um</strong><br />

cofre atrás da sua ca<strong>de</strong>ira.<br />

Sei <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>talhes porque era lá que meu pai<br />

<strong>de</strong>ixava a Rural Willys para <strong>um</strong>a revisão<br />

mecânica, quando vinha do interior para visitar<br />

este seu filho no colégio. Quando a porta do seu<br />

confuso gabinete se mantinha fechada, era sinal<br />

<strong>de</strong> alguém tomando <strong>um</strong> <strong>de</strong>sesperado empréstimo.<br />

Consta que muita gente, que não honrou<br />

os pagamentos, foi ao <strong>de</strong>sespero e até ao suicídio,<br />

temendo perseguições e maltratos por parte dos<br />

guarda-costas do “seu” Bernardão, que nada<br />

faziam na oficina, exceto atemorizar a freguesia.<br />

Assim eu via o FMI, sempre roubando dos<br />

brasileiros e <strong>de</strong> todos os países in<strong>de</strong>fesos do<br />

mundo. Com o tempo, percebi que era <strong>um</strong>a ins -<br />

tituição financeira como outra qualquer e que os<br />

seus <strong>de</strong>vedores não passavam, quase sempre, <strong>de</strong><br />

governos incompetentes, que recorriam ao seu<br />

dinheiro para cobrir rombos absurdos. Por exemplo:<br />

o FMI nunca exigiu que se pagassem<br />

salários <strong>de</strong> R$90 mil aos <strong>de</strong>putados estaduais<br />

mineiros, como ocorreu até recentemente. Ou que<br />

a Assembleia Legislativa mineira tenha tantos<br />

funcionários quanto <strong>um</strong>a usina si<strong>de</strong>rúrgica. De<br />

qualquer forma, era h<strong>um</strong>ilhante, para nós jorna -<br />

lis tas, cobrir os passos dos técnicos daquele ór gão,<br />

que <strong>de</strong>sembarcavam no Galeão para fis calizar,<br />

com suas lupas, a maneira como os brasileiros gastavam<br />

o dinheiro que nos forneciam.<br />

Em Brasília, os gringos eram recebidos por<br />

ministros e presi<strong>de</strong>ntes aflitos, que tudo lhes exi -<br />

biam e se mostravam ansiosos, tentando adivinhar<br />

o significado <strong>de</strong> suas expressões faciais ou gru -<br />

nhidos. Em 2002, empinamos o último papagaio<br />

no FMI. Sacamos US$ 30 bilhões, n<strong>um</strong><br />

tipo <strong>de</strong> acordo, com o aportuguesado (?) nome<br />

<strong>de</strong> stand-by, <strong>de</strong> 15 meses, com valida<strong>de</strong> até<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2003. Faz tanto tempo essa<br />

história que nem me lembrava <strong>de</strong> <strong>um</strong> importante<br />

<strong>de</strong>talhe: na renovação <strong>de</strong>sse acordo, foi<br />

dado ao país o direito <strong>de</strong> sacar mais US$14<br />

bi lhões. O Brasil recusou a oferta.<br />

As coisas estavam melhorando. Em 2005, o<br />

Brasil <strong>de</strong>cidiu não mais renovar o acordo e<br />

muita gente achou que se tratava apenas <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

arroubo ufanista do presi<strong>de</strong>nte Lula. Finalmente,<br />

agora em 2009, o país emprestou<br />

US$10 bilhões ao mesmo FMI, que infernizou<br />

nossas vidas por quase <strong>um</strong> século. Sim, nós<br />

fazemos parte daquele círculo chique que empresta<br />

di nheiro para a impiedosa instituição financeira<br />

da minha juventu<strong>de</strong>. Já não<br />

pre cisamos mais do dinheiro do “seu” Ber -<br />

nardão para enfrentar nossas <strong>de</strong>spesas tri viais.<br />

Mais que isso, vamos contribuir para aliviar o<br />

<strong>de</strong>sespero <strong>de</strong> outros governos, que enfrentam<br />

os nossos tormentos do passado. Passam pela<br />

minha memória todos os fatos <strong>de</strong>sse finado<br />

2009. Acho que já vi tudo na vida. Nada mais<br />

me surpreen<strong>de</strong>rá. De qualquer forma, encerrada<br />

a passeata, tive a sorte <strong>de</strong> não acre di tar<br />

naquelas bobagens. Ainda bem.<br />

31


CONTA CORRENTE<br />

Os números positivos<br />

aguardados para 2010<br />

Previsões indicam que a economia brasileira irá<br />

crescer 5% neste ano, o que traria mais<br />

investimentos, geração <strong>de</strong> emprego e renda<br />

IEDA MARIA PEREIRA VASCONCELOS (*)<br />

Acrise internacional e o seu gran<strong>de</strong><br />

ápice em setembro <strong>de</strong> 2008<br />

mostraram que fazer previsões é<br />

mesmo <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> muito arriscada e que<br />

po<strong>de</strong> ser comparada a chuvas e trovoadas.<br />

Apesar <strong>de</strong> esperadas, elas sempre po<strong>de</strong>m<br />

surpreen<strong>de</strong>r pela intensida<strong>de</strong>. A maioria das<br />

estimativas caiu por terra com o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sarranjo<br />

observado na economia mundial no<br />

último trimestre <strong>de</strong> 2008. Aquelas que dizem<br />

respeito ao Brasil não foram dife rentes e o<br />

ano 2009 comprova isso. Depois <strong>de</strong> <strong>um</strong> início<br />

difícil, com a recessão técnica confirmada<br />

ao final do primeiro trimestre, eram<br />

aguardadas cicatrizes profundas na economia,<br />

mas não foi isso que aconteceu. O país<br />

surpreen<strong>de</strong>u, venceu a luta contra a crise,<br />

adquiriu mais luz (e brilho) no cenário internacional<br />

e acabou ganhando <strong>um</strong> pouco<br />

mais <strong>de</strong> espaço na agenda global e, com<br />

isso, a chegada <strong>de</strong> 2010 realmente traz <strong>um</strong>a<br />

perspectiva (agora mais concreta) <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

novo tempo.<br />

De 2009, <strong>um</strong>a lembrança positiva po<strong>de</strong><br />

ser a geração <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho formal.<br />

De acordo com os dados do Cadastro Geral<br />

Os mais diversos<br />

analistas projetam nova<br />

expansão no mercado<br />

<strong>de</strong> trabalho formal, com<br />

a criação <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />

dois milhões <strong>de</strong> vagas<br />

(quase o dobro do<br />

observado em 2009).<br />

<strong>de</strong> Empregados e Desempregados (Caged),<br />

divulgados pelo Ministério do Trabalho e<br />

Emprego (MTE), nos primeiros onze meses<br />

do ano o país contabilizou a geração <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> 1,410 milhão <strong>de</strong> novas vagas. Somente<br />

em Minas Gerais, que foi o segundo Estado<br />

que mais criou vagas no país nesse período,<br />

foram mais <strong>de</strong> 140 mil novos postos <strong>de</strong> trabalho.<br />

Sem dúvida, as medidas anticíclicas<br />

foram fundamentais para reativar o motor da<br />

economia: a redução da taxa <strong>de</strong> juros, redução<br />

do IPI para automóveis, linha branca<br />

<strong>de</strong> eletrodomésticos, materiais <strong>de</strong> construção<br />

e redução do compulsório contribuíram para<br />

acelerar o cons<strong>um</strong>o e mostraram a força do<br />

mercado interno.<br />

Os dados existentes atualmente possibilitam<br />

maior chance <strong>de</strong> acerto para as projeções<br />

nacionais e, por isso, quase todas<br />

convergem para o mesmo cenário: crescimento<br />

superior a 5%. Economicamente falando,<br />

espera-se que 2010 realmente seja o<br />

início <strong>de</strong> <strong>um</strong> ciclo virtuoso <strong>de</strong> crescimento<br />

para o país. Isso significa números positivos<br />

na geração <strong>de</strong> emprego e no <strong>de</strong>sempenho<br />

dos diversos setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>. Existem<br />

vários motivos que sinalizam que as estimativas<br />

po<strong>de</strong>m ser confirmadas. As <strong>obras</strong> <strong>de</strong> infraestrutura<br />

que serão necessárias para a<br />

realização da Copa do Mundo em 2014 e<br />

para as Olimpíadas em 2016, o Programa<br />

Minha Casa, Minha Vida e a marca <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

milhão <strong>de</strong> novas moradias, o ano eleitoral, o<br />

esperado crescimento nacional n<strong>um</strong> ritmo<br />

mais acelerado do que a economia mundial,<br />

a retomada dos investimentos industriais e o<br />

Pré-sal são somente alguns exemplos. Como<br />

se vê, existem várias janelas <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s<br />

abertas e, portanto, as projeções<br />

sinalizam a reação do país a todas elas.<br />

Espera-se, ainda, inflação <strong>de</strong>ntro da<br />

meta. Conforme a pesquisa Focus, realizada<br />

pelo Banco Central e divulgada em<br />

28/12/09, os analistas do mercado financeiro<br />

projetam que a inflação ficará no centro da<br />

meta em 2010 (4,5%) o que, caso confirmado,<br />

é <strong>um</strong> resultado bastante positivo. No<br />

rol das boas notícias espera-se, também,<br />

crescimento do vol<strong>um</strong>e <strong>de</strong> crédito. Nesse<br />

contexto, <strong>de</strong>staca-se o crédito imobiliário,<br />

que <strong>de</strong>verá registrar expansão, beneficiando<br />

inúmeras famílias que ainda não conseguiram<br />

realizar o sonho da casa própria.<br />

Recursos do Sistema Brasileiro <strong>de</strong> Poupança<br />

e Empréstimo (SBPE), além do FGTS e do<br />

Programa Minha Casa, Minha Vida, fortalecem<br />

essa estimativa.<br />

Os mais diversos analistas projetam nova<br />

expansão no mercado <strong>de</strong> trabalho formal,<br />

com a criação <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> dois milhões <strong>de</strong><br />

vagas (quase o dobro do observado em<br />

2009). Claro que esse cenário consi<strong>de</strong>ra que<br />

não ocorrerá sobressalto na economia (o que<br />

não é esperado, mas o fôlego nacional<br />

po<strong>de</strong>rá ser reduzido, caso ocorra <strong>um</strong>a piora<br />

no cenário internacional). Aliada a esse<br />

número, também se projeta expansão da<br />

massa salarial.<br />

Estudos realizados pela Comissão<br />

Econômica para América Latina e Caribe<br />

(Cepal) <strong>de</strong>monstram que, em 2010, consi<strong>de</strong>rando<br />

as economias da América Latina,<br />

o Brasil será o país on<strong>de</strong> se observará a<br />

maior taxa <strong>de</strong> crescimento (5,5%).<br />

De acordo com o Relatório <strong>de</strong> Inflação,<br />

divulgado pelo Banco Central em <strong>de</strong>zembro<br />

<strong>de</strong> 2009, a economia nacional <strong>de</strong>verá crescer<br />

5,8% em 2010. Esse <strong>de</strong>sempenho será reflexo<br />

do resultado positivo aguardado para<br />

todos os setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, principalmente<br />

para a indústria que, <strong>de</strong>pois do impacto da<br />

crise mundial, que levou a <strong>um</strong>a forte redução<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s em 2009 (a queda é <strong>de</strong><br />

8,6% no ac<strong>um</strong>ulado dos três primeiros<br />

trimestres do ano, frente a igual período <strong>de</strong><br />

2008), apresentará o maior crescimento<br />

entre os gran<strong>de</strong>s setores. A expansão<br />

aguardada para a agropecuária é <strong>de</strong> 3,7%,<br />

32 DEZEMBRO DE 2009


PIB<br />

Projeção 2010<br />

Por setor<br />

ATIVIDADE<br />

%<br />

AGROPECUÁRIA 3,7<br />

INDÚSTRIA - TOTAL 7,6<br />

Extrativa mineral 6,6<br />

Transformação 8,8<br />

Construção civil 6,4<br />

Eletricida<strong>de</strong>, gás e água 4,8<br />

SERVIÇOS - TOTAL 5,0<br />

Comércio 6,5<br />

Transporte e correio 6,4<br />

Serviços <strong>de</strong> informação 7,6<br />

Intermediação financeira* 7,2<br />

Outros serviços 6,5<br />

Ativida<strong>de</strong>s imobiliárias 1,8<br />

Serviços públicos** 2,2<br />

Variação por componente da <strong>de</strong>manda<br />

Em %<br />

CONSUMO DAS FAMÍLIAS<br />

CONSUMO DO GOVERNO<br />

CONSUMO TOTAL<br />

FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO<br />

EXPORTAÇÕES<br />

IMPORTAÇÕES<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

Valor adicionado<br />

a preços básicos<br />

5,7%<br />

Impostos sobre<br />

produtos<br />

6,3%<br />

PIB a preços<br />

<strong>de</strong> mercado<br />

5,8%<br />

* INCLUI SEGUROS, PREVIDÊNCIA<br />

COMPLEMENTAR E SERVIÇOS RELATIVOS<br />

**ADMINISTRAÇÃO, SAÚDE E EDUCAÇÃO<br />

enquanto o setor industrial <strong>de</strong>verá registrar<br />

incremento <strong>de</strong> 7,6% em suas ativida<strong>de</strong>s (ancorado<br />

pelo esperado crescimento <strong>de</strong> 8,8%<br />

para a indústria <strong>de</strong> transformação, 6,6% para<br />

indústria extrativa mineral, e 6,4% para a indústria<br />

da construção). Para o setor <strong>de</strong><br />

serviços, a expansão estimada é <strong>de</strong> 5% em<br />

função das projeções <strong>de</strong> crescimento para<br />

todos os segmentos componentes (comércio,<br />

transporte, armazenagem, correio, ser -<br />

viços <strong>de</strong> informação, intermediação<br />

financeira, ativida<strong>de</strong>s imobiliárias e aluguel,<br />

administração, saú<strong>de</strong> e educação públicas e<br />

outros serviços).<br />

Pela ótica da <strong>de</strong>manda, o cons<strong>um</strong>o das<br />

famílias <strong>de</strong>verá apresentar alta <strong>de</strong> 6,1%, estimativa<br />

fundamentada na continuida<strong>de</strong> da<br />

geração <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho formal e pelas<br />

condições <strong>de</strong> crédito. Os investimentos<br />

<strong>de</strong>vem apresentar recuperação, crescendo<br />

15,8%. Já para o cons<strong>um</strong>o do governo, é estimado<br />

<strong>um</strong> crescimento <strong>de</strong> 2,9%. Esses<br />

números também fazem parte das projeções<br />

realizadas pelo Banco Central. Destaca-se<br />

que a expansão dos investimentos, ancorada<br />

no a<strong>um</strong>ento do nível <strong>de</strong> confiança dos empresários,<br />

está sedimentada no esperado retorno<br />

das inversões na construção civil e em<br />

máquinas e equipamentos.<br />

Um número que os setores produtivos<br />

não querem ver crescer em 2010 é o da taxa<br />

<strong>de</strong> juros. Sem dúvida, o seu incremento<br />

po<strong>de</strong>rá inibir <strong>um</strong>a parcela dos investimentos<br />

tão necessários para o crescimento do país.<br />

Uma das justificativas para esse a<strong>um</strong>ento é a<br />

preocupação com a inflação. Entretanto,<br />

apesar <strong>de</strong> já ter começado a discussão sobre<br />

esse assunto, a gran<strong>de</strong> maioria das estimativas<br />

realizadas pelos analistas financeiros<br />

<strong>de</strong>monstram que a inflação não ultrapassará<br />

o centro da meta em 2010 (4,5%). Isso<br />

6,1<br />

2,9<br />

5,3<br />

12<br />

15,8<br />

20,5<br />

FONTE: RELATÓRIO DE INFLAÇÃO - BANCO CENTRA CENTRAL L - DEZEMBRO/2009<br />

De toda forma, o que<br />

2010 traz <strong>de</strong> mais forte<br />

(sem chance <strong>de</strong> erros)<br />

não está relacionado a<br />

nenh<strong>um</strong> número. O que<br />

novamente chega, com<br />

<strong>um</strong> imenso brilho, é a<br />

esperança. Ela renasce<br />

mais pujante a cada<br />

ano. Esperança que<br />

volta para il<strong>um</strong>inar<br />

novos projetos,<br />

impulsionar a luta em<br />

novos <strong>de</strong>safios e ser <strong>um</strong><br />

gran<strong>de</strong> alicerce para o<br />

sucesso.<br />

porque, mesmo consi<strong>de</strong>rando a <strong>de</strong>manda, o<br />

câmbio estável e os preços administrados<br />

sob controle po<strong>de</strong>rão segurar os índices <strong>de</strong><br />

preços. Portanto, essa discussão é prematura<br />

e totalmente ina<strong>de</strong>quada. Deve-se lembrar<br />

que a taxa <strong>de</strong> investimentos no país, que<br />

levou <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> tombo em 2009, precisa se<br />

fortalecer e certamente a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> juros será<br />

<strong>um</strong>a força inibidora para que isso aconteça.<br />

De toda forma, o que <strong>de</strong> 2010 traz <strong>de</strong> mais<br />

forte (sem chance <strong>de</strong> erros) não está relacionado<br />

a nenh<strong>um</strong> número. O que novamente<br />

chega, com <strong>um</strong> imenso brilho, é a esperança.<br />

Ela renasce mais pujante a cada ano. Espe -<br />

ran ça que volta para il<strong>um</strong>inar novos projetos,<br />

impulsionar a luta em novos <strong>de</strong>safios e ser <strong>um</strong><br />

gran<strong>de</strong> alicerce para o sucesso. E na economia<br />

não po<strong>de</strong>ria ser diferente. Com o novo<br />

ano renasce a espe rança, <strong>de</strong> forma transpa -<br />

rente e dominante, <strong>de</strong> que o país efetivamente<br />

possa alcançar a estrada do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e caminhar por ela, superando cada obstáculo<br />

que encontrará. E, certamente, a esperança é<br />

<strong>um</strong>a estrela que muito il<strong>um</strong>ina esse caminho<br />

e, assim, 2010 começa…<br />

(*) Ieda Maria Pereira Vasconcelos é<br />

Assessora Econômica do Sindicato da<br />

Indústria da Construção Civil no Estado <strong>de</strong><br />

Minas Gerais (Sinduscon-MG). Texto<br />

produzido a partir <strong>de</strong> palestra na Câmara da<br />

Indústria da Construção (CIC- FIEMG).<br />

33


Muito barulho por dígitos<br />

Apostas, acertos, erros. O PIB <strong>de</strong> 2009 teve várias<br />

previsões, mas <strong>de</strong>ve mostrar mesmo que o Brasil está<br />

hoje em condições melhores do que muitos países<br />

KLAUS KLEBER<br />

Causou muito alvoroço no início <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro a divulgação pelo IBGE<br />

<strong>de</strong> que a economia brasileira no terceiro<br />

trimestre cresceu “apenas” 1,3%. Hou -<br />

ve <strong>de</strong>cepção <strong>de</strong> muita gente, mesmo porque,<br />

no dia anterior à divulgação, o ministro da<br />

Fa zenda, Guido Mantega, havia <strong>de</strong>clarado<br />

que o PIB no terceiro trimestre cresceria 2%.<br />

É compreensível que o ministro tenha ficado<br />

“indignado” com o IBGE, como se noticiou,<br />

mas, na realida<strong>de</strong>, saber se a economia cres -<br />

ceu 1,3% já é, em si, <strong>um</strong>a boa notícia. Signi<br />

fica que o Brasil livrou-se da estatística<br />

re cessiva, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> dois trimestres negros.<br />

Se a taxa não chegou a 2%, não interessa<br />

mui to. Os sabichões do mercado, que erram<br />

mais que acertam, já estão projetando <strong>um</strong>a<br />

queda do PIB, em todo ano <strong>de</strong> 2009, <strong>de</strong><br />

0,26%. É pessimismo <strong>de</strong>mais. Po<strong>de</strong>-se apostar<br />

que se rá <strong>um</strong>a taxa diferente <strong>de</strong> zero, mas<br />

positiva, o que já está muito bom e não<br />

muda em nada as perspectivas para 2010.<br />

Se quiserem olhar pelo retrovisor, o país<br />

está muito bem, comparativamente. Segun -<br />

do projeções da abalizada revista The Eco -<br />

no mist (12/12), o PIB dos Estados Unidos,<br />

em 2009, po<strong>de</strong> ter <strong>um</strong>a variação <strong>de</strong> -2,5%; o<br />

do Japão, -5,4%; o da Grã-Bretanha, - 4,5%;<br />

Canadá, - 2,5; área do Euro, - 3,8%; a Rússia,<br />

- 7,0; e Coréia do Sul, - 1,0.<br />

E como vão nossos vizinhos? Bem rui nzi -<br />

nhos também: a previsão da revista para o PIB<br />

da Argentina é <strong>de</strong> -0,5; do Chile, -1,2%; do<br />

México, -7,1%; e da Venezuela, -3,0. Salvase<br />

a Colômbia, com <strong>um</strong>a taxa positiva <strong>de</strong><br />

0,2%, mais ou menos igual à que <strong>de</strong>ve a pre -<br />

sentar o Brasil. Por sinal, a revista bri tâ nica<br />

prevê para o Brasil <strong>um</strong> crescimento nu lo<br />

(dado calculado antes da recente divulga ção<br />

do crescimento no trimestre pelo IBGE).<br />

Claro, per<strong>de</strong>mos feio da China (expan são<br />

fantástica <strong>de</strong> 8,2%) e da Índia (5,5%), como<br />

tem sido o padrão nos últimos anos.<br />

Nesta altura, o que vale é olhar para frente.<br />

Depois <strong>de</strong> tudo o que foi dito, da gozação<br />

sobre o “pibinho”, brasleiro, etc., a análise<br />

mais sensata parece ser a do economista<br />

Edmar Bacha, em entrevista publicada pela<br />

Folha <strong>de</strong> S. Paulo (11/12). Bacha, <strong>um</strong> dos<br />

pais do Plano Real, disse que vai rever a sua<br />

previsão do PIB para 2009, que era <strong>de</strong> alta <strong>de</strong><br />

0,3%. Mas “a economia, vai estar nu ma trejetória<br />

mais forte do que aquilo que a gen te<br />

estima que seja o potencial <strong>de</strong> crescimento”,<br />

observou. E, por isso, continua cravan do <strong>um</strong>a<br />

expansão <strong>de</strong> 6% do PIB brasileiro em 2010.<br />

Dizem - e, a meu ver, não provam - que o<br />

crescimento potencial da economia bra si leira<br />

é <strong>de</strong> 5%. Sou vacinado contra a euforia <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o tempo do “Brasil Gran<strong>de</strong>”, mas fi xar potencial<br />

<strong>de</strong> crescimento me parece <strong>um</strong>a grossa<br />

asneira. É claro que é <strong>um</strong>a missão quase impossível<br />

manter as contas públicas em or<strong>de</strong>m<br />

ou, pelo menos, impedir que os gastos correntes<br />

avancem em termos reais, es pecialmente<br />

em <strong>um</strong> ano eleitoral, como 2010. A<br />

infraestrutura do país é reconhecida mente<br />

precária. Mas é exagero pensar que, se as<br />

vendas no mercado interno seguirem em e le -<br />

vação, se exportarmos bem mais produtos<br />

manufa turados e se os preços das commo di ties<br />

subirem, teremos problemas intransponíveis.<br />

Dizer que, se a economia brasileira se expandir<br />

mais <strong>de</strong> 5% ao ano, pontes vão cair,<br />

não aguentando o peso dos caminhões,<br />

estradas vão <strong>de</strong>sbarrancar ainda mais, teremos<br />

apagões generalizados, só haverá lugar<br />

nos portos para as ratazanas, é coisa <strong>de</strong><br />

economistas ortodoxos trancados nas salas<br />

<strong>de</strong> aula e que não permitem abrir as janelas.<br />

Problemas do crescimento dão origem a<br />

soluções, muito mais rapidamente do que<br />

eles pensam. E <strong>um</strong>a coisa que os empresários<br />

brasileiros sabem fazer é se virar.<br />

Sim, os juros, mantidos pelo Banco Central<br />

(BC) em 8,75% a.a., embora a inflação<br />

projetada para os próximos 12 meses seja <strong>de</strong><br />

4,2%, po<strong>de</strong>m subir. Pressão <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda,<br />

apesar <strong>de</strong> ela po<strong>de</strong>r ser atendida pela produção<br />

interna e pelo a<strong>um</strong>ento das impor-<br />

tações, sempre apavora o Comitê <strong>de</strong> Política<br />

Monetária (Copom). Sob esse aspecto, é até<br />

bom que a expansão da economia tenha sido<br />

só <strong>de</strong> 1,3% no terceiro trimestre. Isso po<strong>de</strong><br />

acalmar aquela turminha danada do BC.<br />

Por falar nisso, noticia-se agora que as importações<br />

superaram em US$ 4 bilhões as exportações<br />

na segunda semana <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />

Certamente, é por efeito da <strong>de</strong>manda sazonal<br />

e este Natal já está sendo chamado <strong>de</strong> “Natal<br />

dos importados”, com a taxa <strong>de</strong> câmbio do<br />

jeito que está. Este, sem dúvida, é mais <strong>um</strong> indicador<br />

daquela trajetória mais forte, mencionada<br />

por Bacha. Com a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong> semprego<br />

caindo, com a capacida<strong>de</strong> ociosa da indústria<br />

se reduzindo, com o setor <strong>de</strong> serviços à toda e<br />

<strong>um</strong>a agricultura mais animada com as cotações<br />

internacionais, a economia tem tudo<br />

para <strong>de</strong>slanchar em 2010. Principalmente se a<br />

taxa <strong>de</strong> câmbio <strong>de</strong>sencalhar.<br />

Como se viu, não é <strong>um</strong> solavanco externo,<br />

como o provocado pela doi<strong>de</strong>ira das aplicações<br />

imobiliárias no Emirado <strong>de</strong> Dubai, que<br />

vai perturbar a soli<strong>de</strong>z dos bancos brasileiros,<br />

cuja regulação serve hoje <strong>de</strong> parâmetro internacional.<br />

Não por outra razão o Banco Central<br />

do Brasil passou a integrar, como membro<br />

efetivo, os Comitês <strong>de</strong> Sistema Financeiro<br />

Global e <strong>de</strong> Mercados do Banco para Compensações<br />

Internacionais (BIS), o banco central<br />

dos bancos centrais. com se<strong>de</strong> em<br />

Basiléia, na Suíça. No BIS, o Brasil só aparecia,<br />

há alguns anos, encolhidinho e <strong>de</strong> cabeça<br />

baixa, como <strong>de</strong>vedor relapso. Hoje, não é respeitado<br />

apenas pelo montante <strong>de</strong> suas reservas,<br />

que já emplacaram US$ 240 bilhões, mas<br />

porque apren<strong>de</strong>mos, com a inflação endêmica<br />

que nos vitimava, que nos fazia trocar <strong>de</strong><br />

moeda como mulher troca <strong>de</strong> roupa, a regular<br />

as nossas instituições financeiras.<br />

Em síntese, o Brasil só não crescerá<br />

5,5% ou 6% em 2010 se pintar outra crise<br />

internacional muito forte e se os seus empresários<br />

não forem dominados pelo sentimento<br />

do medo. Que Deus os poupe <strong>de</strong>sse<br />

sentimento, como <strong>de</strong>le poupou a JK.<br />

34 DEZEMBRO DE 2009


AUTOMÓVEIS<br />

Na onda dos coreanos<br />

Hyundai, Kia e Ssangyong ganham mercado no Brasil<br />

competindo com preço e carros mais equipados<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

TÉO SCALIONI<br />

No Brasil, primeiro foram os tradicionais<br />

veículos alemães e norteamericanos,<br />

com a Volkswagen, a<br />

Ford e GM. Depois, vieram os italianos com<br />

a Fiat. Mais tar<strong>de</strong> os franceses, com a Peugeot,<br />

Renault e Citroen e, em seguida, os<br />

japoneses, com a Honda, Toyota e Nissan.<br />

Agora, basta ficar atento nas ruas para observar<br />

que a bola da vez são os carros coreanos.<br />

Empresas como Hyundai, Kia e<br />

Ssangyong têm conquistado o público<br />

brasileiro e observam suas vendas crescerem<br />

a cada dia. O segredo: qualida<strong>de</strong> por <strong>um</strong><br />

preço menor e torcer para que essa onda não<br />

seja apenas <strong>um</strong>a marolinha que possa ser atropelada<br />

pelo tsunami, que, segundo especialistas<br />

do segmento, chegará em <strong>um</strong> futuro<br />

próximo com os carros chineses e indianos.<br />

Essa tática <strong>de</strong> unir preço e qualida<strong>de</strong>, utilizada<br />

pelas montadoras coreanas, é a mes -<br />

ma usada pelos japoneses quando chegaram<br />

ao Brasil em busca do <strong>um</strong> novo mercado.<br />

Um exemplo é do recém-lançado I-30 da<br />

Hyundai, que entrou para competir no mercado<br />

dos hatches médios. A estratégia da<br />

montadora coreana foi utilizar <strong>um</strong> preço<br />

médio da categoria, com <strong>um</strong> conteúdo bem<br />

acima. Com preços a partir <strong>de</strong> R$ 54 mil<br />

(manual) e R$ 58 mil (automático) o I-30<br />

possui controle <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>, seis airbags,<br />

sensor <strong>de</strong> estacionamento, retrovisores externos<br />

com rebatimento elétrico e freios<br />

‘ABS’, itens dignos <strong>de</strong> <strong>um</strong> carro <strong>de</strong> luxo.<br />

Tanto que em <strong>um</strong> teste-drive feito pela revista<br />

especializada Quatro Rodas, ela comparou<br />

o I-30 com a BMW 118I. A diferença<br />

é que o alemão custa cerca <strong>de</strong> R$ 95 mil.<br />

Uma outra estratégia que as montadoras<br />

coreanas também utilizam é a penetração<br />

em <strong>um</strong> segmento <strong>de</strong> automóveis ainda<br />

pouco explorado. É o caso do Tucson, também<br />

da Hyundai, e do Sportage, da Kia.<br />

Ambos foram lançados com vários utensílios<br />

<strong>de</strong> série em <strong>um</strong> nicho em que não possuem<br />

concorrentes em seus preços. Pois,<br />

enquanto <strong>um</strong> Tucson po<strong>de</strong> ser adquirido a<br />

partir <strong>de</strong> R$ 67 mil, veículos como Land<br />

Hover, Pajero ou a Hilux não custam menos<br />

<strong>de</strong> R$ 100 mil. Tanto que, atualmente, das<br />

vendas <strong>de</strong> SUVs (veículos fabricados a partir<br />

<strong>de</strong> chassis <strong>de</strong> caminhonetes) no Brasil,<br />

aproximadamente 30% correspon<strong>de</strong>m a carros<br />

coreanos.<br />

A comprovação da invasão dos coreanos<br />

po<strong>de</strong> ser verificada pelo a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> suas<br />

importações, que foi <strong>de</strong> 820% em novembro,<br />

se comparado com o mesmo mês <strong>de</strong><br />

2008. E, em 2009, segundos dados da Fe <strong>de</strong> -<br />

ração Nacional da Distribuição <strong>de</strong> Veículos<br />

Automotores (Fenabrave), até novembro<br />

apenas a Hyundai tinha vendido cerca <strong>de</strong> 55<br />

mil automóveis, e a previsão era <strong>de</strong> fechar<br />

2009 com cerca <strong>de</strong> 70 mil.<br />

Segundo o gerente <strong>de</strong> vendas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a das<br />

concessionárias Hyundai, em Belo Horizonte,<br />

a Pacific Motors, Renato Bittencourt,<br />

o crescimento pela procura dos carros coreanos<br />

é explícito. Ele cita como exemplo os<br />

primeiros anos da Pacific (2006 e 2007)<br />

quando a média <strong>de</strong> vendas variava <strong>de</strong> 15 a<br />

30 carros por mês e hoje são cerca <strong>de</strong> 120.<br />

“Acredito que esse a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong>ve-se a consolidação<br />

das marca tanto lá fora quanto no<br />

Brasil. Quem viaja ao exterior confere a<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hyundai que tem por lá e logo<br />

pensa que esse carro <strong>de</strong>ve ser bom”, observa.<br />

Bittencourt salienta também a propa-<br />

HYUNDAI/DIVULGAÇÃO<br />

Mo<strong>de</strong>los coreanos se encaixaram bem no perfil do cons<strong>um</strong>idor brasileiro<br />

As importações <strong>de</strong><br />

carros coreanos<br />

cresceu<br />

820%<br />

em novembro <strong>de</strong><br />

2009, comparadas<br />

com o mesmo mês<br />

<strong>de</strong> 2008<br />

ganda boca a boca. “As pessoas vão falando<br />

<strong>um</strong>as às outras sobre a qualida<strong>de</strong> dos nossos<br />

carros”, orgulha-se.<br />

Sobre a dificulda<strong>de</strong> em se conseguir assistência<br />

técnica especializada no Brasil, por<br />

se tratar <strong>de</strong> carros importados, o gerente <strong>de</strong><br />

vendas garante que isso é coisa do passado.<br />

Ele observa que a Hyundai, está há 17 anos<br />

no Brasil, possui toda sua logística formada.<br />

“Se por acaso não tiver <strong>um</strong>a peça aqui, no<br />

outro dia ela chega da central em São<br />

Paulo”, garante Bittencourt, salientando que<br />

agora também há <strong>um</strong>a fábrica da Hyundai<br />

em Anápolis (GO), on<strong>de</strong> já se monta o mo -<br />

<strong>de</strong> lo Tucson.<br />

35


POLÍTICA<br />

A luta continua.<br />

Pimentel e<br />

Patrus, entre os<br />

dois o PT balança<br />

Legenda vive <strong>um</strong> dilema em Minas<br />

para escolher entre dois fortes<br />

candidatos ao Palácio da Liberda<strong>de</strong><br />

JOÃO GUALBERTO<br />

Para chegar, pela primeira vez em sua<br />

história, ao Palácio da Liberda<strong>de</strong>, o<br />

Partido dos Trabalhadores <strong>de</strong> Minas<br />

tem, primeiramente, que transpor a encru zi -<br />

lhada com a qual se <strong>de</strong>para. O PT precisa<br />

optar entre dois pré-candidatos a go verna -<br />

dor: <strong>um</strong>, prestigiado ex-prefeito, que chegou<br />

a figurar na oitava posição entre os melhores<br />

gestores municipais do mundo; outro, o<br />

ministro responsável pelo principal progra -<br />

ma <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> renda do país, proje -<br />

to que também obteve reconhecimento<br />

in ternacional.<br />

Mas a situação não é propriamente idêntica<br />

à dúvida confortável que assalta os<br />

treinadores <strong>de</strong> futebol, quando têm dois<br />

craques geniais para escalar e apenas <strong>um</strong>a<br />

“<br />

A militância que<br />

está comigo é<br />

mais consistente, tem<br />

mais história. Basta<br />

comparar a minha<br />

biografia partidária com<br />

a do meu adversário”.<br />

Patrus Ananias,<br />

ministro <strong>de</strong> Desenvolvimento Social<br />

e Combate à Fome<br />

posição no time. Não é, pois, <strong>um</strong>a simples<br />

questão <strong>de</strong> escolha entre dois nomes experientes<br />

e conceituados. Trata-se <strong>de</strong> <strong>um</strong> dilema<br />

existencial, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, a<br />

serem solucionados em Minas, quando o<br />

partido completa 30 anos <strong>de</strong> fundação.<br />

O atual racha entre os petistas mineiros<br />

ficou explícito publicamente em 2008, durante<br />

a eleição para prefeito <strong>de</strong> Belo Horizonte.<br />

Pimentel, que <strong>de</strong>ixava o cargo, apoiou<br />

como sucessor o secretário <strong>de</strong> Estado Marcio<br />

Lacerda (PSB), em <strong>um</strong>a aliança po -<br />

lêmica e inédita com o tucano Aécio Neves,<br />

governador <strong>de</strong> Minas. Contrariada diante da<br />

aliança formal forjada pelos diretórios municipal<br />

e estadual da sigla, a ala <strong>de</strong> Patrus<br />

Ananias manteve-se neutra naquela disputa.<br />

Era o prenúncio da cisão que se seguiu até<br />

novembro último, no Processo <strong>de</strong> Eleição<br />

Direta (PED) do presi<strong>de</strong>nte estadual do partido;<br />

e a que se assistirá ao longo <strong>de</strong>ste ano,<br />

para a <strong>de</strong>finição do candidato a governador.<br />

E são justamente dos cabeças das duas<br />

correntes, que divi<strong>de</strong>m o PT-MG, as précandidaturas<br />

lançadas. E, em tom <strong>de</strong> précampanha,<br />

cada <strong>um</strong> (em coro com seus<br />

aliados) trata <strong>de</strong> expor suas próprias virtu<strong>de</strong>s<br />

como armas eficazes para levar o partido à<br />

vitória. Patrus exalta seu trabalho à frente do<br />

ministério e do Bolsa Família, do orçamento<br />

<strong>de</strong> R$ 33 bilhões que gerencia, segundo ele,<br />

balizado por princípios éticos. Além disso,<br />

recupera a boa avaliação <strong>de</strong> sua administração<br />

na prefeitura da capital, <strong>de</strong> 1993 a<br />

1996, afirmando ainda que o grupo que o<br />

Em terceiro<br />

Hélio Costa (PMDB) 32<br />

Antonio Anastasia 14<br />

Patrus Ananias (PT) 12<br />

Pesquisa Datafolha, <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

acompanha é o mais tradicional, o mais associado<br />

às causas fundamentais da legenda:<br />

“A militância que está comigo é mais consistente,<br />

tem mais história. Basta comparar a<br />

minha biografia partidária com a do meu adversário”.<br />

Pimentel e seus aliados também exaltam<br />

a competência administrativa como diferencial<br />

capaz <strong>de</strong> levar o PT ao governo. No entanto,<br />

partem do imediatismo dos números<br />

mais favoráveis das pesquisas <strong>de</strong> intenção<br />

<strong>de</strong> voto para arregimentar a candidatura.<br />

36 DEZEMBRO DE 2009


%<br />

%<br />

%<br />

2009<br />

“Neste momento, meu nome é melhor ava -<br />

lia do. Já foi diferente, mas hoje sou eu. Po -<br />

lí tica é o momento, é a contingência, não o<br />

que queremos”, rebate Pimentel.<br />

Nas pesquisas mais recentes para o go ver -<br />

no <strong>de</strong> Minas, Pimentel é o petista mais bem<br />

posicionado. Segundo o Datafolha, em<br />

<strong>de</strong>zembro ele figurava na segunda posição,<br />

com 19% das intenções <strong>de</strong> voto, atrás do<br />

ministro das Comunicações, Hélio Costa<br />

(PMDB), preferido <strong>de</strong> 31%; mas à frente do<br />

vice-governador Antonio Anastasia (PSDB),<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

candidato <strong>de</strong> Aécio, que recebia 10%. No<br />

levantamento do Instituto Datatempo/CP2,<br />

realizado em novembro, a disposição dos<br />

pré-candidatos era a mesma: Hélio Costa<br />

tinha 42,35% das intenções <strong>de</strong> voto; Pimentel,<br />

20,59%; e Anastasia, 12,27%.<br />

A projeção ass<strong>um</strong>ida pelo ministro <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Social foi menos <strong>de</strong>stacada<br />

nos dois levantamentos, mesmo mantendo<br />

a segunda colocação no quadro em<br />

que ele é o candidato do PT a governador.<br />

Segundo o Datafolha, Patrus per<strong>de</strong>ria <strong>de</strong> seu<br />

Patrus Ananias<br />

exalta seu trabalho<br />

à frente do<br />

Ministério do<br />

Desenvolvimento<br />

Social, do Bolsa<br />

Família e do<br />

orçamento <strong>de</strong><br />

R$ 33 bilhões que<br />

gerencia<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

colega <strong>de</strong> governo por 20 pontos <strong>de</strong> dife ren -<br />

ça: 32% <strong>de</strong> Costa contra 12%, com o vicegovernador<br />

aparecendo em segundo, com<br />

14%. Já <strong>de</strong> acordo com o Datatempo/CP2, o<br />

ministro das Comunicações obtinha 44,55%<br />

da preferência dos entrevistados. Patrus<br />

manteve-se em segundo, com 14,87%, mas<br />

empatado tecnicamente com os 13,74% <strong>de</strong><br />

Anastasia.<br />

O SOCIAL E O ADMINISTRATIVO.<br />

Pa ra Malco Camargos, cientista político da<br />

37


Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais (PUC Minas), por trás <strong>de</strong>ssa<br />

vantagem n<strong>um</strong>érica <strong>de</strong> Pimentel po<strong>de</strong> estar<br />

a lembrança mais viva do eleitorado: há<br />

apenas dois anos, ele ainda estava na<br />

prefeitura, enquanto recordar da gestão <strong>de</strong><br />

Patrus em Belo Horizonte requer <strong>um</strong><br />

esforço maior <strong>de</strong> memória. No entanto, o<br />

professor ressalta que os trunfos <strong>de</strong> cada <strong>um</strong><br />

estão nos perfis que ass<strong>um</strong>iram em suas<br />

trajetórias perante a opinião pública. “Patrus<br />

é muito mais fácil <strong>de</strong> se aproximar da<br />

questão social. Já Pimentel é associado à<br />

qualida<strong>de</strong> administrativa”, diferencia Ca -<br />

margos.<br />

Reeleito, em novembro, presi<strong>de</strong>nte esta -<br />

dual do PT, Reginaldo Lopes é hoje <strong>um</strong> dos<br />

principais aliados <strong>de</strong> Pimentel. O <strong>de</strong> pu tado<br />

fe<strong>de</strong>ral enten<strong>de</strong> que, não só pelo <strong>de</strong>sempenho<br />

nas pesquisas, o ex-prefeito <strong>de</strong>va ser o candidato<br />

por ser reconhecido como <strong>um</strong> “excelente<br />

técnico” e ainda por sua “ousadia<br />

política”. “Ele obteve à frente da prefeitura<br />

<strong>um</strong>a visibilida<strong>de</strong> que nenh<strong>um</strong> outro prefeito<br />

teve. Pimentel será mortal para Anastasia”,<br />

afirma Lopes. De acordo com o dirigente,<br />

<strong>um</strong> mérito da candidatura para convencer o<br />

eleitor seria concorrer com o PSDB sem acirrar<br />

<strong>de</strong>mais os ânimos, sem antagonismo, o<br />

que seria improvável com Patrus no páreo,<br />

que fustiga: “Minas quer mudança. E o<br />

PSDB tem vergonha <strong>de</strong> Minas, do resultado<br />

<strong>de</strong> seu período <strong>de</strong> gestão”.<br />

A MILITÂNCIA DECIDE. O <strong>de</strong>putado<br />

fe <strong>de</strong>ral Gilmar Machado, <strong>um</strong> dos mais <strong>de</strong>s -<br />

tacados membros da ala do ministro,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que Patrus tem mais po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

agregar aliados <strong>de</strong>ntro e fora do partido,<br />

com bom trânsito em outras siglas. Por isso,<br />

<strong>de</strong>veria ser o candidato petista em outubro.<br />

“<br />

Neste momento,<br />

meu nome é<br />

melhor avaliado. Já foi<br />

diferente, mas hoje sou<br />

eu. Política é o<br />

momento, é a<br />

contingência, não o que<br />

queremos”.<br />

Fernando Pimentel,<br />

ex-prefeito <strong>de</strong> Belo Horizonte<br />

Machado foi <strong>um</strong> dos candidatos à<br />

presidência do diretório estadual, <strong>de</strong>rrotado<br />

ainda no primeiro turno. A respeito do<br />

arg<strong>um</strong>ento da corrente rival, ele arg<strong>um</strong>enta<br />

que pesquisas são <strong>um</strong> retrato <strong>de</strong> momento,<br />

retrato que cost<strong>um</strong>a mudar: “Na hora em<br />

que o processo <strong>de</strong>slanchar, a militância do<br />

PT vai <strong>de</strong>finir e reverter a situação”.<br />

Um impasse como o que vive o PT<br />

mineiro, por guardar raízes em sua história,<br />

não <strong>de</strong>ve ser resolvido por meio <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

mero acordo <strong>de</strong> cavalheiros. O duelo entre<br />

Patrus e Pimentel ten<strong>de</strong> mesmo a <strong>um</strong> <strong>de</strong>sfecho<br />

com prévias internas. E também, diante<br />

<strong>de</strong>ssa possibilida<strong>de</strong>, as correntes dos dois<br />

pré-candidatos estão em divergência. A ala<br />

do ex-prefeito sustenta que o consenso seria<br />

a saída menos nociva, e que as eleições internas<br />

para a presidência da seção estadual<br />

do partido já serviram <strong>de</strong> prévias. Na outra<br />

ponta, porém, a frente <strong>de</strong> Patrus <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

que a margem <strong>de</strong> vitória <strong>de</strong> Reginaldo<br />

Lopes na eleição para a presidência do partido<br />

em Minas foi pequena, evi<strong>de</strong>nciando a<br />

divisão da sigla e a necessida<strong>de</strong> da realização<br />

<strong>de</strong> prévias.<br />

No dia 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, Lopes venceu o<br />

segundo turno do processo direto com<br />

52,4% dos votos válidos, contra 47,6% do<br />

secretário nacional <strong>de</strong> comunicação do PT,<br />

Gleber Naime, outro aliado <strong>de</strong> Patrus. Em<br />

termos absolutos, a diferença foi <strong>de</strong> aproximadamente<br />

2.000 votos, n<strong>um</strong> universo <strong>de</strong><br />

mais <strong>de</strong> 40 mil.<br />

PRÉVIAS X ENTENDIMENTO. O pre -<br />

si <strong>de</strong>nte reeleito, que tomará posse em<br />

fevereiro, responsabiliza os apoiadores <strong>de</strong><br />

Naime <strong>de</strong> terem conferido ao PED a<br />

importância <strong>de</strong> prévias eleitorais, mas<br />

enten<strong>de</strong> que o resultado já daria condições<br />

suficientes ao partido para a escolha <strong>de</strong> seu<br />

candidato a governador. Ele lamenta a<br />

iminência da realização <strong>de</strong> <strong>um</strong> novo embate<br />

<strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> tempo para sua<br />

organização. “O projeto <strong>de</strong> Patrus é pessoal.<br />

Se é coletivo, ele tem que enten<strong>de</strong>r a<br />

conjuntura. Se não enten<strong>de</strong>r, iremos para<br />

prévias, o que será muito penoso”.<br />

Pimentel, por diversas vezes, qualificou<br />

a tese das prévias como perda <strong>de</strong> tempo:<br />

“Minha posição é a mesma: a busca do entendimento.<br />

As prévias não são <strong>um</strong>a boa<br />

i<strong>de</strong>ia. Isso é prolongar a discussão enquanto<br />

os outros partidos estão avançando em suas<br />

pré-campanhas”.<br />

Mas o ministro e seu grupo não preten<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>sistir. Tanto é que formalizaram - por<br />

Para cientistas<br />

políticos, Fernando<br />

Pimentel está melhor<br />

nas pesquisas pela<br />

razão <strong>de</strong> estar mais<br />

presente na memória<br />

do eleitorad, <strong>de</strong>vido à<br />

sua recente gestão na<br />

prefeitura <strong>de</strong> Belo<br />

Horizonte<br />

meio <strong>de</strong> Padre João, <strong>de</strong>putado estadual e<br />

também candidato <strong>de</strong>rrotado a presi<strong>de</strong>nte<br />

estadual da legenda – o pedido ao Tribunal<br />

Regional Eleitoral (TRE) para a utilização<br />

<strong>de</strong> urnas eletrônicas no pleito, mesmo que<br />

sua data ainda não tenha sido marcada. O<br />

<strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Gilmar Machado encara<br />

com normalida<strong>de</strong> a necessida<strong>de</strong> das novas<br />

eleições internas: “Sem acordo, tem que<br />

haver prévias. São dois gran<strong>de</strong>s nomes.<br />

Farão <strong>um</strong> <strong>de</strong>bate em alto nível”.<br />

SEM MEDO DAS PRÉVIAS. Já o mi -<br />

nis tro Patrus enten<strong>de</strong> que a divisão faz parte<br />

38 DEZEMBRO DE 2009


da história do PT, que sempre buscou so -<br />

lucionar seus dilemas <strong>de</strong> forma <strong>de</strong> mo -<br />

crática. “Será algo sem conflito, com<br />

di ferença pelos canais éticos. Não temos<br />

que ter medo das prévias. É a resposta dos<br />

militantes, eles que sustentam o partido”.<br />

Em vez <strong>de</strong> <strong>um</strong> tonificante das diferenças<br />

internas, o embate eleitoral direto entre os<br />

pré-candidatos po<strong>de</strong> ser fundamental para<br />

unir e fortalecer o partido na disputa esta -<br />

dual <strong>de</strong> outubro. Essa é a aposta do cientista<br />

político Malco Camargos. Segundo ele, sem<br />

as prévias, que serão <strong>de</strong>sgastantes, o candi -<br />

dato escolhido não seria legitimado pelo par-<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

tido, que não iria unido para as eleições: “O<br />

resultado tem que ser acatado. A chance <strong>de</strong><br />

o PT ganhar é só com união. Patrus e Pimentel<br />

terão que se <strong>de</strong>sarmar e colocar suas<br />

bases para trabalhar pela candidatura, seja<br />

<strong>de</strong> quem for”.<br />

E Patrus, o maior <strong>de</strong>fensor da <strong>de</strong>cisão interna,<br />

já prometeu reconhecer seu resultado:<br />

“Se não houver pendências, se for <strong>um</strong> pro -<br />

ces so <strong>de</strong>mocrático, consensual, teremos o<br />

compromisso total. A <strong>de</strong>cisão será do parti -<br />

do, feita <strong>de</strong> baixo para cima”.<br />

Dessa forma cindida e apaixonada – habi<br />

tual em seus 30 anos <strong>de</strong> fundação – o PT<br />

Melhor colocado<br />

Hélio Costa (PMDB) 31%<br />

Fernando Pimentel (PT) 19%<br />

Antonio Anastásia (PSDB) 10%<br />

Pesquisa Datafolha, <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

<strong>de</strong> Minas promete dar fim a esse <strong>de</strong>safio <strong>de</strong><br />

a madurecimento. Suas li<strong>de</strong>ranças acreditam<br />

que não haverá a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a intervenção<br />

direta do presi<strong>de</strong>nte Luiz Inácio Lula<br />

da Silva no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição do candidato.<br />

E, em ambos os lados, não há predisposição<br />

em ass<strong>um</strong>ir <strong>um</strong>a terceira conduta<br />

diante da encruzilhada <strong>de</strong> momento: recuar<br />

e ce<strong>de</strong>r a candidatura ao PMDB do ministro<br />

Hélio Costa, o favorito nas pesquisas. Alguns<br />

petistas já dão como certa a divisão em<br />

Minas da base <strong>de</strong> apoio à ministra Dilma<br />

Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência.<br />

39


GESTÃO<br />

O que aprendi<br />

em 2009?<br />

Empresários e executivos falam das<br />

duras lições extraídas <strong>de</strong> <strong>um</strong> ano<br />

turbulento para os negócios<br />

DURVAL GUIMARÃES<br />

Agora que o ano finalmente acabou<br />

e, ao contrário do imaginávamos,<br />

sobrevivemos a ele, <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong><br />

<strong>de</strong>cidiu empreen<strong>de</strong>r <strong>um</strong>a pesquisa junto aos<br />

seus leitores sobre as lições que eles extraíram<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong> ano tão turbulento. A primeira<br />

resposta veio <strong>de</strong> <strong>um</strong> ex-usineiro do Triângulo<br />

Mineiro, on<strong>de</strong> inaugurou recentemente<br />

<strong>um</strong>a <strong>de</strong>stilaria <strong>de</strong> etanol: “O que eu aprendi<br />

não terá mais nenh<strong>um</strong> serventia, pois no momento,<br />

tenho alg<strong>um</strong> capital, mas não tenho<br />

negócios”.<br />

Po<strong>de</strong>ríamos consi<strong>de</strong>rar o entrevistado<br />

como ex-industrial, mas em nossa opinião,<br />

empresário é como o torcedor do Flamengo<br />

na música <strong>de</strong> Lamartine Babo: “<strong>um</strong>a vez<br />

Flamengo, sempre Flamengo”. Ele não <strong>de</strong>siste<br />

nunca. No caso específico, o entrevistado<br />

queixou-se <strong>de</strong> ter se apavorado com o<br />

cenário dos primeiros meses <strong>de</strong> 2009,<br />

quando a economia americana estava mergulhada<br />

na crise e as exportações do<br />

agronegócio se encontravam em queda.<br />

“Os preços do álcool e do açúcar também<br />

<strong>de</strong>sabavam. Então eu fiz o que não <strong>de</strong>veria<br />

ter feito, que foi me <strong>de</strong>sfazer do negócio<br />

ainda no meio da tormenta”, revelou.<br />

“Aprendi que a gente <strong>de</strong>ve preservar a<br />

cabeça quando todos os outros estão per<strong>de</strong>ndo<br />

as <strong>de</strong>les”.<br />

Há também os que se fortaleceram durante<br />

o ano. O vice-presi<strong>de</strong>nte comercial da<br />

Cooperativa <strong>de</strong> Leite Itambé, Valdinei Paulo<br />

<strong>de</strong> Oliveira, lembrou que a crise mundial fez<br />

<strong>um</strong>a reviravolta no dia-a-dia <strong>de</strong> muitas organizações:<br />

“O teste <strong>de</strong> fogo foi trabalhar no<br />

sentido <strong>de</strong> urgência para fazer da crise <strong>um</strong><br />

momento oportuno para novas conquistas <strong>de</strong><br />

mercado. Ter <strong>um</strong>a gestão focada e <strong>um</strong> olhar<br />

diferente sobre a crise nos permitiu crescer<br />

on<strong>de</strong> inicialmente não era nosso foco e<br />

“<br />

Aprendi que a crise é a<br />

melhor aliada do<br />

crescimento. Aprendi a não<br />

ter medo <strong>de</strong> investir, mesmo<br />

quando o mundo grita ‘não!’”<br />

Ricardo Carlini,<br />

proprietário da Carlini Cerimonial<br />

fechar o ano dividindo s<strong>obras</strong>. Surpresa ou,<br />

não a crise nos ajudou a superar nossos<br />

limi tes. Esse foi o meu aprendizado no ano<br />

2009”.<br />

O gerente geral <strong>de</strong> planejamento estratégico<br />

e gestão da Samarco, Eduardo Pessotti,<br />

revelou como foi o ano na mineradora:<br />

“Durante a crise, inúmeros planos se mos -<br />

traram completamente perecíveis, ge rando<br />

frustração tanto no plano emocional, pela incompetência<br />

<strong>de</strong> avaliação da situação,<br />

quanto no plano financeiro, que <strong>de</strong>mandou<br />

gestão <strong>de</strong> caixa, quase que diária, diante <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão que estava estruturado<br />

para o crescimento e criação <strong>de</strong> valor em<br />

longo prazo”.<br />

Segundo informou, ele apren<strong>de</strong>u também<br />

que os verda<strong>de</strong>iros lí<strong>de</strong>res sustentam<br />

suas convicções em seus valores pessoais.<br />

“No caso específico da Samarco, tive a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vivenciar as <strong>de</strong>cisões do<br />

nosso presi<strong>de</strong>nte, que mobilizou empregados<br />

para evolução do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> ações para redução <strong>de</strong><br />

custos, reconhecendo que as pessoas e seus<br />

conhecimentos são os alicerces da compe ti -<br />

tivida<strong>de</strong> e sustentabilida<strong>de</strong> do negócio.<br />

Como consequência positiva, conquistou os<br />

prêmios mineiro e capixaba <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>”,<br />

concluiu.<br />

O ex-secretário estadual <strong>de</strong> Desenvolvi-<br />

Wilson Br<strong>um</strong>er disse<br />

que a crise <strong>de</strong>ixou<br />

lições importantes<br />

para o empresariado,<br />

como melhorar<br />

técnicas <strong>de</strong> gestão e<br />

sustentabilida<strong>de</strong><br />

mento Econômico e hoje empresário no<br />

setor <strong>de</strong> Energia, Wilson Br<strong>um</strong>er, disse que<br />

a crise valorizou conceitos que haviam sido<br />

relegados a <strong>um</strong> plano inferior e que voltaram<br />

com força total nessa nova fase da economia.<br />

O empresário se refere a <strong>um</strong> conceito<br />

amplo <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, que não se limita<br />

a aspectos ambientais, mas também dá<br />

<strong>de</strong>staque para o conhecimento, a produtivida<strong>de</strong>,<br />

a eficiência e a valorização das pessoas.<br />

“Deve, como consequência ser valorizada,<br />

40 DEZEMBRO DE 2009


“<br />

O teste <strong>de</strong> fogo foi<br />

trabalhar no sentido <strong>de</strong><br />

urgência para fazer da crise<br />

<strong>um</strong> momento oportuno para<br />

novas conquistas <strong>de</strong><br />

mercado”.<br />

Valdinei Paulo <strong>de</strong> Oliveira,<br />

vice-presi<strong>de</strong>nte comercial da Cooperativa<br />

<strong>de</strong> Leite Itambé<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

a boa gestão, seja ela pública ou privada.<br />

Antes da crise, valia muito o conceito <strong>de</strong> excesso<br />

<strong>de</strong> alavancagem, ou seja, empresas se<br />

endividando mais que o normal. Volta agora<br />

o conceito <strong>de</strong> endividamento em patamares<br />

a<strong>de</strong>quados, on<strong>de</strong> prevalecerá outra máxima,<br />

que é preferível pagar divi<strong>de</strong>ndos que juros”,<br />

<strong>de</strong>clarou.<br />

Proprietário da Carlini Cerimonial, o jornalista<br />

Ricardo Carlini não se sentiu atingido<br />

pela crise. Isso foi fácil <strong>de</strong> perceber, pois ele<br />

se apresentou como o mestre <strong>de</strong> cerimônia<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

dos principais eventos empresariais, políticos<br />

e esportivos e sociais realizados na capi -<br />

tal mineira. Sua empresa é <strong>um</strong>a das<br />

re quisitadas do país no setor <strong>de</strong> organização<br />

<strong>de</strong> eventos e, em poucas frases, ele revela<br />

como enfrentou 2009. “Aprendi que a crise<br />

é a melhor aliada do crescimento. Aprendi a<br />

não ter medo <strong>de</strong> investir, mesmo quando o<br />

mundo grita ‘não!’ Na área específica <strong>de</strong> Cerimonial<br />

e Protocolo <strong>de</strong> Eventos, experimen<br />

tamos gran<strong>de</strong> crescimento no póscrise”.<br />

41


NEGÓCIOS<br />

Como ce<strong>de</strong>r à pechincha,<br />

sem entregar a loja<br />

Busca incansável por <strong>de</strong>scontos já ultrapassou o outro<br />

lado do balcão. Agora, até as empresas querem preços<br />

pequenos junto aos fornecedores<br />

PAULO MÁRIO DA SILVA<br />

Faz <strong>um</strong> <strong>de</strong>scontinho, vai! O abacaxi está<br />

lindo. Gostei do sapato. Quero levar o<br />

fo gão. Mas o preço, você sabe, me “que -<br />

bra as pernas”. Se for à vista, tem <strong>de</strong>s con to? E<br />

o preço a vista, dá pra fazer em três vezes?<br />

Vamos negociar por 30% a menos, fica le gal<br />

para você? Então está combinado, fe chamos<br />

em 20% <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto. Vou assinar o cheque<br />

imediatamente, assim que pegar o brin<strong>de</strong>.<br />

Pechinchar é <strong>um</strong>a arte, qualquer que seja<br />

seu estilo. Enquanto você lê esta repor -<br />

tagem, a pechincha está sen do ensinada<br />

em universida<strong>de</strong>s, estu dada por psi có logos<br />

e até in vestigada por es piões, que pe chin -<br />

cham em lojas concorren -<br />

tes. O melhor é que o<br />

cost<strong>um</strong>e <strong>de</strong> pe dir<br />

<strong>de</strong>sconto traz<br />

muito mais que<br />

<strong>um</strong> alívio pa ra<br />

o bolso. É <strong>um</strong><br />

modo <strong>de</strong> tornar<br />

relações <strong>de</strong> compra<br />

e ven da, em<br />

que ge ralmente cons<strong>um</strong>idor<br />

e ven<strong>de</strong>dor<br />

mal se olham nos olhos, em<br />

negócios mais h<strong>um</strong>anos, ami gáveis e menos<br />

automatizados.<br />

Mas a pechincha nem sempre é bem<br />

vista. Às vezes, vira doce na boca <strong>de</strong> muito<br />

chato por aí; e, muitas vezes, pancada no ouvido<br />

<strong>de</strong> ven<strong>de</strong>dores e balconistas. É <strong>de</strong> origem<br />

<strong>de</strong>s conhecida, <strong>de</strong> “etimologia incerta”, segundo<br />

Antônio Geraldo da Cunha, que a <strong>de</strong>fine,<br />

no Dicionário Etimológico Nova<br />

Fronteira, como “gran<strong>de</strong> conveniência ou vantagem”,<br />

“qualquer coisa muito barata”.<br />

Assim, pechinchar é fazer esforço para<br />

obter <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> conveniência ou vantagem.<br />

Serve também para tentar comprar algo por<br />

<strong>um</strong> preço muito baixo. Prática que muita gente<br />

tem vergonha <strong>de</strong> adotar e que alguns não se<br />

preocupam em exagerar, estando ambos os<br />

grupos equivocados nos seus hábitos. Quem<br />

exagera na pechincha, <strong>de</strong>s trata o ven<strong>de</strong>dor e<br />

<strong>de</strong>srespeita as boas regras <strong>de</strong> convivência.<br />

Quem, por outro lado, não consegue pe -<br />

chin char, por timi<strong>de</strong>z ou excesso <strong>de</strong> zelo,<br />

per<strong>de</strong> dinheiro.<br />

A dona <strong>de</strong> casa Maria A pa recida Soares é<br />

<strong>um</strong>a pe chin cheira ass<strong>um</strong>ida. “Gosto <strong>de</strong> pe -<br />

chinchar e <strong>de</strong> pesquisar. Quan do<br />

saio para comprar algo, já sei que<br />

isso vai me custar tempo e sola <strong>de</strong><br />

sapato. Mas, agora, que<br />

tenho internet, a pren -<br />

di a pesquisar os sites an -<br />

tes <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> casa. Já sei on<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>vo comprar, on<strong>de</strong> está mais<br />

em conta”, revelou.<br />

E essa não é <strong>um</strong>a prática<br />

que se res tringe às mulheres.<br />

Sidney Sampaio é comerciante<br />

e acha muito saudável a pe chin cha.<br />

“Gosto quando os meus clientes dão va lor ao<br />

dinheiro. A té eu adoro pe chin char”, brinca. Segundo<br />

ele, <strong>um</strong> preço no varejo sempre tem <strong>um</strong>a<br />

margem <strong>de</strong> negociação, pois nele es tão embutidos<br />

o valor que as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> car tão <strong>de</strong> crédito<br />

e débito cobram por venda ( que na sua loja<br />

gira em torno <strong>de</strong> 3,8%), os custos <strong>de</strong> inadimplência<br />

e <strong>de</strong>mais encargos, que sempre dá para<br />

retirar do preço final. Dinheiro a vista ou<br />

recebimento garantido são sempre bemvindos.<br />

Normalmente a pergunta<br />

“quan to você pagou no<br />

pro duto?”, sempre vai<br />

ser encarada como<br />

<strong>um</strong>a falta <strong>de</strong> ética<br />

pelo comerciante<br />

e invariavelmen -<br />

te acompanhada<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong>a resposta<br />

mentirosa que, afinal,<br />

<strong>de</strong>ixará o cliente<br />

satisfeito.<br />

Mas há os que exa -<br />

geram na dose e, muito vaidosos,<br />

chegam até a di mi nuir o preço<br />

que pagaram. De a cor do com<br />

o professor da Fa culda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Tecnologia do Co mércio<br />

(Fatec Comércio), instituição<br />

ligada à Câmara<br />

<strong>de</strong> Di-


igentes Lojistas <strong>de</strong> Belo Horizonte (CDL-<br />

<strong>BH</strong>), José Luciano S. Furtado, esse é o tipo <strong>de</strong><br />

cliente que dá prejuízo: “Pessoas com esse<br />

perfil só compram quando o estabelecimento<br />

es tá liquidando esto que, operando com a<br />

margem <strong>de</strong> lucro baixa ou até zerada. Sabem<br />

precisamente o ca len dário <strong>de</strong> remarcação <strong>de</strong><br />

todas as lojas, além <strong>de</strong> acompanharem as li -<br />

qui dações pelos meios <strong>de</strong> comunicação.<br />

É o tipo <strong>de</strong> cliente que<br />

nunca será seu. Ele se<br />

ven<strong>de</strong> para aquele que<br />

oferece o maior <strong>de</strong>s -<br />

conto”.<br />

Furtado alerta<br />

que a prática <strong>de</strong>senfreada<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> s -<br />

con tos ao pe chin -<br />

cheiro po<strong>de</strong> ser<br />

<strong>um</strong> “tiro no<br />

pé” do lojista.<br />

Quand o o comerciante<br />

quiser inverter<br />

essa jogada,<br />

observa, es se cliente<br />

vai ficar <strong>de</strong>sagradado<br />

com o corte dos <strong>de</strong>scontos, pois<br />

está viciado nesse tipo <strong>de</strong> negociação:<br />

“É o pior vício que existe, pois<br />

não tem cura. O pior é que foi o<br />

próprio lojista quem o viciou,<br />

com a sua inconsequente<br />

busca <strong>de</strong> fa tu -<br />

ramento em curto<br />

prazo. Não pensou nas<br />

consequências em longo<br />

prazo”.<br />

O especialista sugere<br />

transformar <strong>de</strong>scontos em<br />

benefícios. Isso quer dizer que,<br />

em vez <strong>de</strong> dar 10% <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto<br />

em <strong>um</strong> almoço, dar<br />

<strong>um</strong> almoço grátis, <strong>de</strong>pois do<br />

cliente carimbar 10 refeições<br />

cons<strong>um</strong>idas no seu restaurante.<br />

“Dessa forma você estará se relacionando<br />

com o cliente e fazendo<br />

com que ele fique frequente no seu<br />

estabelecimento. Normalmente<br />

essa técnica é bem aceita pelos<br />

clientes menos viciados, que encaram<br />

este tratamento sem<br />

perceber”, <strong>de</strong>staca.<br />

Furtado acredita que o<br />

cliente pechinchador só dá<br />

lucro para aquelas empresas<br />

que se posicionaram no<br />

mercado com estratégia <strong>de</strong> posicionamento focada<br />

em preço, ou seja: àquelas empresas que<br />

têm estrutura <strong>de</strong> custos baixa e elevada escala<br />

(alta rotativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estoque), o que confere a<br />

elas <strong>um</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra diferenciado. “Mas<br />

o que temos visto são empresas com estratégias<br />

focadas em especialização e di ferencia ção,<br />

entrando na bri ga por pre ços, o que fa talmente<br />

as levará a prejuízos e até à falência”.<br />

Já os mais pessi mis tas não pensam assim<br />

e, cada vez mais, se tornam a<strong>de</strong>ptos ao<br />

lema: “Nem sempre o cliente tem razão.<br />

Especialistas apontam que muitas empresas<br />

engros sam sua base <strong>de</strong> clientes<br />

e aca bam atraindo ina dimplentes e<br />

con quistando u su ários cujo custo <strong>de</strong><br />

transação é maior que o benefício<br />

gerado. Há empresas que<br />

dimi-nuem a rentabilida<strong>de</strong> à<br />

medida que a<strong>um</strong>entam o<br />

número <strong>de</strong> clientes.<br />

Pesquisas revelam<br />

que há pe -<br />

chin cheiros e<br />

pes soas que<br />

fa zem o lojis -<br />

ta per<strong>de</strong>r o<br />

tempo que<br />

p o d e r i a<br />

ser <strong>de</strong>di -<br />

cado a<br />

clientes<br />

mais sau -<br />

dáveis pa ra o<br />

futuro. “Alguns<br />

tratam o<br />

ven <strong>de</strong>dor como<br />

me ro fornecedor.<br />

Outros <strong>de</strong>ixam vo cê<br />

esperando <strong>um</strong> tempão<br />

e alguns nem<br />

valorizam o que<br />

você tem a oferecer.<br />

Quando se<br />

<strong>de</strong>frontar com<br />

clientes assim, e<br />

se você tiver outras<br />

opções, não<br />

he site: tente <strong>um</strong>a, duas ou<br />

até três vezes, mas não<br />

perca outras oportunida<strong>de</strong>s<br />

para tentar<br />

agradar a <strong>um</strong> cliente<br />

que não me rece seu<br />

esforço”, opina o<br />

consultor Nelson<br />

Ma cha do.<br />

A dica que<br />

Machado dá para o ven<strong>de</strong>dor é não estragar o<br />

dia por causa <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> cliente: “Concentre-se<br />

naqueles que valorizam o que você faz<br />

e que trazem retorno positivo para sua empresa.<br />

Não é só o cliente que tem <strong>de</strong> escolher<br />

a sua empresa. Empresas vencedoras são<br />

aquelas que também escolhem seus clientes e<br />

dão o melhor <strong>de</strong> si para os escolhidos”.<br />

O lojista também<br />

precisa pechinchar<br />

Do outro lado do balcão, também existe<br />

pechincha. Afinal o preço baixo para o cons<strong>um</strong>idor<br />

final exige <strong>um</strong>a negociação pelo <strong>de</strong>partamento<br />

<strong>de</strong> compra das empresas. Exemplo<br />

disso é a Ricardo Eletro, re<strong>de</strong> <strong>de</strong> varejo <strong>de</strong><br />

eletrodomésticos e móveis posicionada entre as<br />

cinco maiores do segmento, cujo slogan “Preço<br />

se faz assim” é <strong>um</strong>a verda<strong>de</strong>ira busca pela<br />

oferta do menor preço ao cons<strong>um</strong>idor final.<br />

A diretora <strong>de</strong> Compras e <strong>de</strong> Marketing da<br />

re<strong>de</strong> varejista, Sônia Trinda<strong>de</strong>, informa que no<br />

ato da compra já se pensa no cons<strong>um</strong>idor final.<br />

“A equipe sempre negocia com o fornecedor<br />

pensando em criar oportunida<strong>de</strong>s para os<br />

clientes. De cada <strong>de</strong>z produtos, cerca <strong>de</strong> dois<br />

ou três já são negociados pensando nos <strong>de</strong>s -<br />

contos”, revela.<br />

Há <strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong> profissionalização da<br />

compra. “Quando vamos contratar <strong>um</strong> ven<strong>de</strong>dor,<br />

avaliamos o perfil <strong>de</strong> <strong>um</strong> comprador. Já<br />

negociamos a promoção no ato da compra.<br />

Queremos <strong>um</strong> comprador ven<strong>de</strong>dor e não apenas<br />

repositor. A responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vendas<br />

está em comprar bem e garantir a venda do<br />

mês”, <strong>de</strong>talhou Sônia.<br />

A Ricardo Eletro possui <strong>um</strong>a “central do<br />

preço”, on<strong>de</strong> os preços do mercado e da concorrência<br />

são registrados. O preço praticado,<br />

conta Sônia, tem que ser ou igual ou menor.<br />

Prova disso é que a empresa oferece o preço<br />

protegido, consi<strong>de</strong>rada pela diretoria do grupo<br />

como a maior aposta para o Natal recente: <strong>de</strong>pois<br />

da compra, se a indústria ou a concorrência<br />

baixarem o preço, em ofertas divulgadas<br />

em anúncios, o cliente terá sete dias para levar<br />

a nota fiscal a qualquer loja, que o Ricardo <strong>de</strong>volve<br />

a diferença na hora. Mas a oferta é válida<br />

somente para as compras feitas à vista.<br />

O professor da Fatec Comércio, José Luciano<br />

S. Furtado, acredita que saber comprar<br />

também é <strong>um</strong>a ciência. Segundo ele, <strong>um</strong>a empresa<br />

que <strong>de</strong>seja se posicionar estrategicamente<br />

no mercado precisa negociar bem com<br />

as indústrias, a fim que o preço final para o<br />

cliente possa ser o mais baixo possível.<br />

ACIR GALVÃO


MÁRIO RIBEIRO<br />

Memórias vicentinas<br />

Antes <strong>de</strong> chegar ao novo<br />

século (ou ao novo<br />

milênio), a fábrica<br />

fechou: ela, que <strong>um</strong> dia<br />

re pre sentou evolução,<br />

cerrava as portas e<br />

calava seus velhos<br />

teares transformados<br />

em sucata, fenômeno<br />

ocorrido com gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> fábricas <strong>de</strong><br />

tecidos por todo o<br />

Brasil.<br />

Na história da minha terra natal, ocorreu<br />

durante décadas <strong>um</strong> paradoxo: o distrito<br />

<strong>de</strong> São Vicente sobrepunha, em<br />

po<strong>de</strong>r eco nô mico a se<strong>de</strong> do município, Baldim.<br />

Explica-se: São Vicente fora escolhido pela<br />

Cia. Cedro e Cachoeira para instalar ali <strong>um</strong>a uni -<br />

da<strong>de</strong> industrial <strong>de</strong> fiação e tecelagem, enquan to<br />

Baldim seguia o padrão agro pe cuá ria/co mér cio.<br />

Houve algo <strong>de</strong> heroico na implantação da<br />

fábrica <strong>de</strong> tecidos em São Vicente: os teares, importados<br />

da Inglaterra, <strong>de</strong> Belo Horizonte até a<br />

altura <strong>de</strong> Funilândia foram levados via balsas<br />

pelo rio das Velhas, até então navegável e livre<br />

da poluição que inspirou muitas décadas <strong>de</strong>pois<br />

o livro <strong>de</strong> Wan<strong>de</strong>r Pirolli sobre a questão ambiental,<br />

“Os rios morrem <strong>de</strong> se <strong>de</strong>”.<br />

Mais ainda: <strong>de</strong> Funilândia ao então arraial <strong>de</strong><br />

São Vicente, algo em torno <strong>de</strong> 20 quilômetros, as<br />

pe ças dos teares foram levadas em lombo <strong>de</strong> burros.<br />

Com evi<strong>de</strong>nte atraso, a revolução industrial<br />

inglesa se instalou ali e tocava <strong>um</strong>a fábrica que<br />

agrupava seiscentos ou mais funcionários em<br />

três turnos <strong>de</strong> trabalho.<br />

Meu avô, Tonico Ribeiro, tecelão respeitado<br />

por seu trabalho na Cedro, foi <strong>de</strong>slocado para<br />

São Vicente com a família. Entre seus méritos,<br />

além <strong>de</strong> administrador, trazia a fama <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>senvolvido<br />

<strong>um</strong>a trançagem também inovadora, a<br />

que <strong>de</strong>u o título <strong>de</strong> 3R. “R” <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> Ribeiro,<br />

mas não sei porque o “3”, talvez relativo à forma<br />

como o pano era feito, na verda<strong>de</strong>, a chamada<br />

“chita”, que fez sucesso estrondoso no país,<br />

principalmente no Nor<strong>de</strong>ste, certamente contribuindo<br />

para o crescimento da empresa.<br />

No seu entusiasmo, Tonico Ribeiro adquiriu<br />

terras n<strong>um</strong> lugar chamado “Varge do Capim” e<br />

cuidou ele também <strong>de</strong> importar <strong>um</strong>a máquina<br />

dos sonhos daquela época: o locomóvel, na verda<strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a locomotiva a vapor, estática, para<br />

fornecer e ner gia à pequena fazenda.<br />

Deixo para outra vez contar a epopeia do<br />

transporte e instalação do locomóvel, operações<br />

que me levam às lágrimas pela coragem e empreen<strong>de</strong>dorismo<br />

dos personagens.<br />

Personagens <strong>de</strong> <strong>um</strong>a época que a globalização<br />

já conseguiu praticamente apagar da história<br />

e que, muito em breve, apagará <strong>de</strong> vez. Esquecemo-nos<br />

que a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> sempre existiu em<br />

várias épocas da história da civilização, como<br />

escreveu Marshal Berman, no seu livro “Tudo<br />

que é sólido <strong>de</strong>smancha no ar”.<br />

Em 1998, quando escrevia <strong>um</strong> res<strong>um</strong>o do<br />

livro “As megatendências para o ano 2000”, <strong>de</strong>i<br />

<strong>um</strong>a paradinha para ver o “Jornal Nacional” e<br />

quase caí da ca<strong>de</strong>ira: Cid Moreira anunciava a<br />

queda do Muro <strong>de</strong> Berlim, visto também como<br />

símbolo do fim das i<strong>de</strong>ologias, tese que acabara<br />

<strong>de</strong> ler minutos antes no livro <strong>de</strong> John Naisbitt.<br />

É. Realmente, tudo que é sólido <strong>de</strong>smancha<br />

no ar, digo para reverenciar novamente Marshall<br />

Berman, citado anteriormente, quando contava a<br />

aventura da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> pela qual passou o<br />

mo<strong>de</strong>sto distrito <strong>de</strong> São Vicente com a implantação,<br />

ali, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a fábrica <strong>de</strong> tecidos no início do<br />

último século do milênio passado.<br />

Antes <strong>de</strong> chegar ao novo século (ou ao novo<br />

milênio), a fábrica fechou: ela, que <strong>um</strong> dia re pre<br />

sentou evolução, cerrava as portas e calava seus<br />

velhos teares transformados em sucata, fenômeno<br />

ocorrido com gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> fábricas<br />

<strong>de</strong> tecidos por todo o Brasil.<br />

A fábrica <strong>de</strong> tecidos era praticamente tudo<br />

para aquela comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> três mil<br />

pessoas. Seu fechamento significou terrível<br />

baque para as gerações que se seguiram ao início<br />

da fábrica. De longe, recordando os feitos <strong>de</strong><br />

meu avô Tonico Ribeiro e do meu pai Joãozito<br />

em torno da indústria, me vi absolutamente incapaz<br />

para oferecer i<strong>de</strong>ias e projetos para os que<br />

me procuraram pedindo ajuda.<br />

Mas os velhos operários juntaram as economias<br />

e montaram pequenas instalações quase<br />

domésticas, com os teares arrematados da companhia.<br />

Fazem, por exemplo, panos <strong>de</strong> prato. O<br />

marketing intuitivo lhes ensinou que <strong>de</strong>veriam<br />

grafar nos panos a palavra “açúcar”, porque as<br />

donas <strong>de</strong> casa da cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>ram que<br />

pano <strong>de</strong> prato bom é o que resulta <strong>de</strong> panos <strong>de</strong><br />

sacos <strong>de</strong> açúcar.<br />

Minha informante das coisas <strong>de</strong> São Vicente<br />

conta que, hoje, a maioria da população é formada<br />

por aposentados, como ocorre na maioria<br />

<strong>de</strong> pequenos municípios brasileiros. Os jovens<br />

saem cedo para tentar a vida em Belo Horizonte<br />

ou Sete Lagoas. A tradição tecelã possibilitou a<br />

criação <strong>de</strong> pequenas comunida<strong>de</strong>s familiares<br />

para a produção <strong>de</strong> tricô, croché e trabalhos<br />

manuais em linha, que o mundo novo acha que<br />

<strong>um</strong> dia as máquinas liquidarão também.<br />

É sabido que os panos <strong>de</strong> pratos produzidos<br />

em São Vicente sofrem ataques pesados <strong>de</strong><br />

novos produtos <strong>de</strong> limpeza. Mas o ataque pior,<br />

no enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> minha informante, é dos carros<br />

daqueles que chegam da Capital para passar o<br />

fim <strong>de</strong> semana e abrem o som nas noites <strong>de</strong> sá -<br />

bado para promover, nas ruas pacatas do arraial,<br />

baladas insuportáveis, que vão até o sol raiar.<br />

A mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> dos nossos ancestrais fazia mais<br />

sen tido. Pelo menos se fundamentava em valores<br />

mais nobres e, sobretudo, menos barulhentos.<br />

44 DEZEMBRO DE 2009


PERFIL<br />

A melhor companhia<br />

é a do terno<br />

Pedro Paulo Dr<strong>um</strong>mond comemora os nove<br />

anos <strong>de</strong> sua Cia. do Terno, que popularizou a<br />

ind<strong>um</strong>entária masculina mais clássica<br />

QUEILA ARIADNE<br />

Pimeiro, foram os tecidos. Depois, as roupas para mu -<br />

lheres. Então, vieram as roupas masculinas. E, mais<br />

tar<strong>de</strong>, os ternos, hoje vendidos em 15 estados<br />

brasileiros. A Cia. do Terno foi fundada há nove anos. Mas a<br />

história do negócio teve origem há pelo menos 20, marco da<br />

trajetória do seu fundador, o empresário mineiro Pedro Paulo<br />

Dr<strong>um</strong>mond. A empresa surgiu antes mesmo dos dois filhos,<br />

<strong>um</strong> rapaz <strong>de</strong> 18 e <strong>um</strong>a menina <strong>de</strong> 15, frutos <strong>de</strong> <strong>um</strong> casamento<br />

que também dura 20 anos.<br />

ARTE DE SER SIMPLES<br />

Pedro Paulo, aos 50 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, ainda trabalha muito. E<br />

gosta das coisas simples da vida: comer pizza em casa; ir ao<br />

boteco conversar lorotas com os amigos; jogar tênis; viajar; e,<br />

principalmente, ficar com a família. Até os 30 anos, trabalhava<br />

com tecidos: “Fui apren<strong>de</strong>ndo aos poucos e passei a conhecer<br />

bastante. Até que resolvi, junto com minha mulher e minhas<br />

duas irmãs, abrir <strong>um</strong>a loja <strong>de</strong> roupas femininas: a Raro Efeito,<br />

que fez 20 anos agora em novembro. Minha experiência com<br />

os tecidos ajudou muito, principalmente na hora <strong>de</strong> fabricar as<br />

peças”.<br />

Mesmo com os negócios indo bem, o empresário queria<br />

mais alg<strong>um</strong>a coisa. Tornou-se sócio da Art Man, especializada<br />

em moda masculina: “Foi lá que eu comecei a apren<strong>de</strong>r a lidar<br />

com roupas masculinas. Fui sócio por cinco anos e fizemos<br />

<strong>um</strong>a separação amigável, pois eu já pensava em <strong>de</strong>senvolver<br />

algo diferente, mais popular”.<br />

Naquela época, apareceram dois amigos para ajudar: o filho<br />

da ex-sócia e outro empresário, que acabara <strong>de</strong> fechar <strong>um</strong>a loja<br />

e se tornou gerente – e ainda é. Estava fundada a Cia. do Terno.<br />

“No início, éramos 90% preço e 10% propaganda. Hoje,<br />

somos 20% preço e 80% qualida<strong>de</strong> e pessoal, pois, no caminho<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong> negócio, seja ele qual for, nos relacionamos com muitas<br />

pessoas. Para dar certo, a equipe precisa ser coesa. Se ela trabalha<br />

bem, o negócio cresce”, <strong>de</strong>staca.<br />

A primeira loja, aberta no Minas Shopping, fez nove anos<br />

no dia 9 do 9 <strong>de</strong> 2009. Um mês <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ssa, veio a segunda,<br />

no Shopping Cida<strong>de</strong>. A primeira fora <strong>de</strong> Belo Horizonte foi<br />

inaugurada em Lavras, em fevereiro <strong>de</strong> 2001. Hoje, o empresário,<br />

que começou ven<strong>de</strong>ndo tecidos, administra 91 lojas,<br />

que geram 940 empregos diretos e mais <strong>de</strong> 6.000 indiretos.<br />

Abrir outras lojas não faz parte dos planos <strong>de</strong> curto prazo.<br />

“Não vemos motivos para correr, se aparecer <strong>um</strong>a boa oportunida<strong>de</strong>,<br />

vamos nos expandir sim, mas não vamos ficar igual<br />

maluco. Queremos <strong>um</strong> negócio sólido, que atenda bem nossos<br />

clientes”, ressalta Pedro Paulo Dr<strong>um</strong>mond.<br />

PRECONCEITOS FORA<br />

Dos ternos vendidos, 70% vêm da China. Há preconceito?<br />

“Ainda existe”, respon<strong>de</strong> Pedro Paulo, “mas não afeta nosso<br />

negócio. Prova disso é que temos ganhado mercado”.<br />

O empresário afirma que ainda persiste certo estigma <strong>de</strong><br />

que <strong>um</strong> terno da Cia. do Terno não é bom porque é mais barato:<br />

“Nós trabalhamos com alta qualida<strong>de</strong>. Nossos produtos têm<br />

gran<strong>de</strong> durabilida<strong>de</strong> e é isso que eu quero oferecer cada vez<br />

mais. Existe mercado para todo mundo: dinheiro vale tanto<br />

para quem ganha R$ 700, quanto para quem ganha R$ 100<br />

mil. Sinceramente, quem <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> comprar na nossa loja, para<br />

comprar <strong>um</strong> terno porque ele é mais caro, fica <strong>de</strong> bolso aberto,<br />

está jogando dinheiro pela lapela”.<br />

46 DEZEMBRO DE 2009


DEZEMBRO DE 2009<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

Pedro Paulo<br />

encarou o<br />

conceito <strong>de</strong> que<br />

terno e gravata<br />

cabem em vários<br />

bolsos e tornou<br />

acessível a<br />

tradicional<br />

ind<strong>um</strong>entária<br />

masculina<br />

47


LONGE DOS HOLOFOTES<br />

Plantou <strong>um</strong>a árvore,<br />

escreveu <strong>um</strong> livro e<br />

construiu estádios<br />

Aos 76 anos, Gil César Moreira <strong>de</strong> Abreu, o<br />

responsável pelo projeto <strong>de</strong> engenharia do<br />

Mineirão, continua trabalhando, acaba <strong>de</strong> lançar<br />

<strong>um</strong> livro e teve cinco filhos nos últimos seis anos<br />

ANTONIO CORTELETI<br />

Afoto emoldurada na pare<strong>de</strong> do escritório<br />

<strong>de</strong>nuncia a ligação estreita do<br />

seu dono com o futebol. Entretanto,<br />

no lugar do seu clube <strong>de</strong> coração, o Atlético,<br />

os tentando <strong>um</strong>a faixa <strong>de</strong> campeão, o que se<br />

vê é <strong>um</strong>a fotografia já esmaecida pe lo tempo<br />

do estádio do Mineirão recém-inaugurado,<br />

em 1965. Mais do que a paixão pe lo esporte<br />

mais popular do Brasil, o Gigan te da Pampu -<br />

lha representa o orgulho maior <strong>de</strong> Gil César Mo -<br />

reira <strong>de</strong> Abreu, o engenheiro responsável pe las<br />

<strong>obras</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> dos maiores estádios do mundo e<br />

que está pres tes a passar por <strong>um</strong>a refor mulação<br />

total para a Copa do Mundo <strong>de</strong> 2014.<br />

Aos 76 anos, Gil César segue traba lhan do e<br />

não pensa em se aposentar. No momen to, ele<br />

atua no projeto <strong>de</strong> <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> edifícios re -<br />

si<strong>de</strong>nciais e comerciais em La goa Santa,<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Região Metropolitana <strong>de</strong> Belo Ho rizon<br />

te, on<strong>de</strong> vive há 16 anos. Além <strong>de</strong> trabalhar<br />

na iniciativa priva da e em di versos órgãos públicos,<br />

Gil também atuou na política, tendo sido<br />

eleito ve reador, <strong>de</strong> pu tado estadual e fe<strong>de</strong>ral. No<br />

cur rículo como engenheiro, estão vários ou tros<br />

estádios construídos após o Mineirão, como as<br />

arenas <strong>de</strong> Teresina, João Pessoa, Campina Gran -<br />

<strong>de</strong>, São Luís e Uberlândia, entre outras.<br />

“Após a construção do Mineirão, João Ha -<br />

velange, que era presi<strong>de</strong>nte da Confe<strong>de</strong> ração<br />

Brasileira <strong>de</strong> Desporto (hoje CBF), cha mo<strong>um</strong>e<br />

e disse que pretendia criar <strong>um</strong> campeonato<br />

brasileiro forte, com times <strong>de</strong> todo o país.<br />

Mas, para ter equipes do Norte e Nor<strong>de</strong>ste, era<br />

preciso que essas regiões tivessem estádios<br />

gran<strong>de</strong>s, que motivassem os clubes e a torcida”,<br />

relembra Gil César.<br />

Segundo ele, o ex-presi<strong>de</strong>nte da Fifa também<br />

se comprometeu a apresentá-lo aos go -<br />

ver nadores, <strong>de</strong> modo a facilitar o contato do<br />

engenheiro com os políticos, o que <strong>de</strong> fa to<br />

aconteceu. “O meu maior problema era dissuadir<br />

alguns governadores que queriam cons -<br />

truir estádios <strong>de</strong> até 70 mil pessoas em cida<strong>de</strong>s<br />

como Teresina e João Pessoa, que na época,<br />

não contavam com 300 mil habitantes. Seria<br />

preciso esvaziar a cida<strong>de</strong> para encher o estádio”,<br />

ironiza.<br />

Mas, o maior <strong>de</strong>safio da carreira <strong>de</strong> Gil<br />

César foi, sem dúvida, o Mineirão. Apesar <strong>de</strong><br />

ter apenas 27 anos, o jovem engenheiro civil<br />

formado pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais (UFMG) não se assustou pe ran te o <strong>de</strong>safio<br />

colocado pelo governador Bias For te,<br />

que o convidou para comandar as <strong>obras</strong>. Diante<br />

<strong>de</strong> empreendimento <strong>de</strong> tal porte, Gil<br />

César não hesitou em procurar a referência<br />

para este tipo <strong>de</strong> obra: o professor Arthur Eugênio<br />

Jermann, do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Enge -<br />

nharia Mecânica da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro (UFRJ), responsável pelo projeto<br />

<strong>de</strong> engenharia do Maracanã, o maior estádio<br />

do mundo, inaugurado em 1950 para a<br />

Copa do Mundo.<br />

“O Jermann mostrou as dificulda<strong>de</strong>s que<br />

cost<strong>um</strong>am ocorrer em <strong>obras</strong> <strong>de</strong>sse porte, o que<br />

se <strong>de</strong>ve fazer para evitar trincas e rachaduras.<br />

Por isso, não houve muitas dificulda<strong>de</strong>s técnicas<br />

para construir o Mineirão. Na verda<strong>de</strong>,<br />

o pai da estrutura do Mineirão é o Jermann”,<br />

afirma, h<strong>um</strong>il<strong>de</strong>mente.<br />

Ex-jogador <strong>de</strong> basquete e ex-remador, Gil<br />

César relata que o projeto <strong>de</strong> construir <strong>um</strong> estádio<br />

vinha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1957, quando o <strong>de</strong> pu tado<br />

Jorge Carone Filho apresentou <strong>um</strong> pro jeto na<br />

“<br />

O meu maior problema<br />

era dissuadir alguns<br />

governadores, que queriam<br />

construir estádios <strong>de</strong> até 70<br />

mil pessoas em cida<strong>de</strong>s como<br />

Teresina e João Pessoa, que,<br />

na época, não contavam com<br />

<strong>um</strong>a população <strong>de</strong> 300 mil<br />

habitantes. Seria preciso<br />

esvaziar a cida<strong>de</strong> para encher<br />

o estádio.”<br />

48 DEZEMBRO DE 2009


Assembleia Legislativa que previa a cons -<br />

trução <strong>de</strong> <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> estádio em Mi nas Gerais.<br />

Na época, Gil era presi<strong>de</strong>nte da Fe <strong>de</strong> ração<br />

Universitária <strong>de</strong> Mineira <strong>de</strong> Esportes (FUME),<br />

entida<strong>de</strong> que também planejava cons truir <strong>um</strong><br />

estádio universitário, para 20 mil pessoas. Os<br />

interesses comuns confluíram para <strong>um</strong> único<br />

projeto, apresentado ao governador Bias For -<br />

tes, que prontamente o encampou.<br />

De acordo com o engenheiro, o Mineirão<br />

foi fundamental para o <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

povoamento da região da Pampulha. “Na quela<br />

época, a Pampulha era muito longe e o acesso<br />

era difícil. Ninguém queria ir traba lhar, nem estudar<br />

lá. O reitor da UFMG, Pedro Paulo<br />

Penido, <strong>de</strong>sejava reunir as unida<strong>de</strong>s, antes espalhadas<br />

pela região central, no campus da<br />

Pampulha e enfrentava a resistência dos professores.<br />

Com o projeto do Mineirão, o Penido<br />

<strong>de</strong>cidiu levar adiante a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> cons truir o Centro<br />

Esportivo Universitário (CEU), localizado<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

em frente ao hall principal do Mineirão, o que<br />

motivaria professores e alunos a irem para o<br />

campus”, recorda.<br />

O CEU, cujo projeto <strong>de</strong> engenharia também<br />

foi <strong>de</strong> Gil César, acabou sendo finalizado apenas<br />

em 1971, seis anos após a inauguração do estádio,<br />

que também motivou a abertura <strong>de</strong><br />

avenidas, como a Carlos Luz, construída especificamente<br />

para che gar até a arena e que facilitou<br />

a ocupação da região por em presas, como<br />

a se<strong>de</strong> da Usiminas, e por novos bairros.<br />

COPA DO MUNDO. Satisfeito por ver sua<br />

obra-prima tornar-se <strong>um</strong> dos principais pal -<br />

cos da Copa do Mundo <strong>de</strong> 2014, o cons trutor<br />

do Mineirão confessa não conhecer os<br />

<strong>de</strong>talhes da reforma do Gigante da Pam pulha,<br />

que será feita por <strong>um</strong> escritório <strong>de</strong> arquitetura<br />

<strong>de</strong> Belo Horizonte em as so cia ção com outro<br />

europeu. Na verda<strong>de</strong>, ele não sabe se será<br />

consultor das novas <strong>obras</strong>. “Até agora não<br />

Aos 76 anos, Gil César<br />

Moreira <strong>de</strong> Abreu, o<br />

responsável pelo projeto<br />

<strong>de</strong> engenharia do<br />

Mineirão, continua<br />

trabalhando, acaba <strong>de</strong><br />

lançar <strong>um</strong> livro e é pai <strong>de</strong><br />

cinco filhos nos últimos<br />

seis anos<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

recebi nenh<strong>um</strong> convite”.<br />

Esta aparente <strong>de</strong>cepção, porém, parece não<br />

fazer frente ao momento ímpar que o enge -<br />

nhei ro tem vivido nos últimos anos. Casado há<br />

15 anos com Tatiana, só aos 70 anos Gil César<br />

conseguiu realizar o sonho <strong>de</strong> ser pai, que veio<br />

em dose quíntupla, com dois casais <strong>de</strong> gêmeos<br />

(Cristal e Gil, <strong>de</strong> seis anos; Hilda e João César,<br />

<strong>de</strong> dois; e Augusto, com seis meses). Outro<br />

motivo <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> para ele foi o lançamento,<br />

há quatro meses, do seu livro <strong>de</strong> memórias “A<br />

construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vida”, no qual ele relata <strong>de</strong>talhes<br />

saborosos da construção do Mineirão e<br />

<strong>de</strong> outros aspectos profissionais e pessoais <strong>de</strong><br />

sua vida.<br />

“Pretendo ver meus filhos crescerem e se<br />

tornarem adultos. Afinal, hoje, muitas pessoas<br />

estão chegando aos cem anos”, diz. Para quem<br />

construiu <strong>obras</strong> eternas como o Mineirão,<br />

chegar a <strong>um</strong> século <strong>de</strong> vida não parece <strong>um</strong> <strong>de</strong>safio<br />

tão difícil assim <strong>de</strong> ser vencido.<br />

49


ALMANAQUE<br />

Guia <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> para<br />

LUÍS AUGUSTO SAMPAIO<br />

ato <strong>Relevante</strong> não recebe apenas cartas <strong>de</strong><br />

empresários e executivos. Mas também <strong>de</strong><br />

muitas leitoras. Destacamos a carta da<br />

gerente <strong>de</strong> <strong>um</strong>a imobiliária. Monique<br />

Stuart (pseudônimo) se mostra muito <strong>de</strong>cepcionada<br />

com os homens <strong>de</strong> negócios. Mineiros em especial,<br />

que se preocupam apenas com trabalho, negócios e<br />

lucros, tratando as mulheres como se fossem <strong>um</strong> nó<br />

<strong>de</strong> gravata ou <strong>um</strong>a meia com buraco no calcanhar.<br />

Ou seja, como simples commodity; no caso, <strong>um</strong>a<br />

comida perecível.<br />

Monique lamenta o <strong>de</strong>saparecimento dos bons<br />

tempos que ela não viveu, aqueles dos livros <strong>de</strong><br />

cavalaria. Entre eles, a história dos 12 cavaleiros da<br />

Távola Redonda. Destaque para o sedutor Sir<br />

Lancelot, o mais perfeito e admirado dos<br />

cavaleiros: “Um homem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s virtu<strong>de</strong>s<br />

pessoais e profissionais”, diz ela.<br />

Bom comportamento que pereceu na poeira dos<br />

séculos. Bons tempos, sim, do refinamento <strong>de</strong><br />

cost<strong>um</strong>es e da valorização das mulheres,<br />

incensadas como fonte inspiradora dos menestréis,<br />

poetas, trovadores e dos garbosos cavalheiros nas<br />

tar<strong>de</strong>s langorosas do amor cortês e dos afetos<br />

<strong>de</strong>senfreados. E tudo isso sem per<strong>de</strong>r o vigor e a<br />

masculinida<strong>de</strong>.<br />

De fato, discutimos o tema com as garotas aqui<br />

da redação e po<strong>de</strong>mos reconhecer, h<strong>um</strong>il<strong>de</strong>mente,<br />

que a competição exacerbada pela sobrevivência<br />

está tornando o homem muito ru<strong>de</strong>. Então<br />

<strong>de</strong>cidimos oferecer aos nossos aturdidos leitores<br />

algo maior que os tormentosos problemas da vida<br />

concreta, como a competição nos negócios ou o<br />

medo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o emprego. Nós todos<br />

necessitamos, isto sim, é <strong>de</strong> paixão, da aventura, da<br />

entrega, <strong>de</strong> abnegação e, sobretudo, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais<br />

irredutíveis e profundos.<br />

Em outras palavras, <strong>de</strong>cidimos criar o Guia <strong>Fato</strong><br />

<strong>Relevante</strong> para o Perfeito Cavalheiro que<br />

apresentaremos <strong>de</strong> forma res<strong>um</strong>ida neste texto.<br />

Claro que fomos buscar ajuda aos nossos colegas<br />

(e ídolos) da revista americana Esquire, eles que<br />

reconhecidamente são experientes PhDs no trato<br />

com as mulheres.<br />

50 DEZEMBRO DE 2009


DEZEMBRO DE 2009<br />

ANDRÉA VIANA/ILUSTRAÇÕES ACIR GALVÃO<br />

51


primeira coisa que<br />

recomendamos ao caro leitor é<br />

fazer <strong>um</strong> teste para saber o grau<br />

do seu cavalheirismo (se existir<br />

alg<strong>um</strong>, claro). Por isso,<br />

apresentamos alg<strong>um</strong>as situações<br />

complicadas, em que você, se não for<br />

<strong>um</strong> perfeito cavalheiro, cairá da escala<br />

<strong>de</strong> Príncipe Encantado para <strong>um</strong><br />

absoluto Zé Mané.<br />

Claro que o cavalheirismo hoje é<br />

mais ameno. As mulheres <strong>de</strong>sejam, no<br />

máximo, que você pague integralmente<br />

a conta do restaurante. Elas não têm o<br />

mínimo temor <strong>de</strong> que, n<strong>um</strong> repente,<br />

você lave a honra <strong>de</strong>la com sangue.<br />

Você não será mais obrigado a<br />

<strong>de</strong>sembainhar a espada para <strong>um</strong> duelo a<br />

cada insulto ou gracejo dirigido à sua<br />

dama. Mas <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> não <strong>de</strong>seja<br />

que você seja o imbecil que leva <strong>um</strong>a<br />

faca para o tiroteio, ou <strong>um</strong> estilingue<br />

para a briga das torcidas.<br />

Nos lhe oferecemos cinco<br />

pontos para dar início à<br />

partida. Adicione ou subtraia<br />

pontos a cada resposta.<br />

Vejamos o seu <strong>de</strong>sempenho<br />

Em <strong>um</strong>a data comemorativa:<br />

a) Você sempre paga o<br />

jantar (+10)<br />

b) Você propõe dividir a<br />

conta (-10)<br />

c) Você a obriga a pagar<br />

os beliscos que <strong>de</strong>u no seu<br />

prato (-10)<br />

d) Esquece (<strong>de</strong> propósito) a<br />

carteira em casa (-20)<br />

Você está na rua e <strong>um</strong>a mulher é<br />

atacada:<br />

a) Você enfrenta o agressor (+20)<br />

b) Olha em volta e busca ajuda <strong>de</strong><br />

alguém forte e corajoso (-5)<br />

c) Apenas grita “covar<strong>de</strong>!” e dá<br />

no pé (-15)<br />

d) Grita “mamãe!“ e dispara rua<br />

abaixo, até on<strong>de</strong> seu fôlego <strong>de</strong>r (-10)<br />

52 DEZEMBRO DE 2009


Quem, no seu modo <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r, sabe<br />

melhor tratar as mulheres:<br />

a) O lí<strong>de</strong>r talibã Mullah Mohammed<br />

Omar (-50)<br />

b) O rei inglês Henrique VIII (-15)<br />

c) Giovanni Casanova (5)<br />

d) Aquela cantora alta e <strong>de</strong> voz<br />

grossa (20)<br />

N<strong>um</strong> trem ou n<strong>um</strong> ônibus lotado,<br />

a quem você ce<strong>de</strong>ria seu lugar:<br />

a) Uma mulher grávida (2)<br />

b) Uma mulher idosa (5)<br />

c) A rainha da bateria da sua escola<br />

<strong>de</strong> samba (10)<br />

d) A nenh<strong>um</strong>a, você resmunga que está<br />

morto <strong>de</strong> cansado (-20).<br />

Alguém passa a mão na bunda da sua<br />

mulher em <strong>um</strong> boteco. Você:<br />

a) Puxa conversa com a pessoa do<br />

lado, para fingir que não viu (10)<br />

b) Espera para ver o que acontece<br />

(po<strong>de</strong> ser que ela goste) (5)<br />

c) Diz que foi <strong>um</strong> aci<strong>de</strong>nte e pra ela<br />

relaxar (-5)<br />

d) Pe<strong>de</strong> a conta e se manda, com<br />

a certeza <strong>de</strong> que a bunda <strong>de</strong>la não<br />

vale <strong>um</strong>a briga<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

Em seu aniversário, sua mulher <strong>de</strong>smaia<br />

e bate com a cabeça no chão. Você:<br />

a) Leva a dona correndo ao hospital<br />

e a <strong>de</strong>ixa lá, para não estragar sua<br />

festa (20)<br />

b) Coloca-a sobre <strong>um</strong>a montanha <strong>de</strong><br />

casacos e exige que ela durma alg<strong>um</strong>as<br />

horas (5)<br />

c) Pergunta para ela por que quer<br />

sempre ser o centro das atenções (-10)<br />

d) Deixa-a <strong>de</strong>itada no lugar on<strong>de</strong><br />

caiu e vai tomar <strong>um</strong>a dose <strong>de</strong> uísque<br />

caubói (10)<br />

Vocês estão n<strong>um</strong> camping e <strong>um</strong>a onça<br />

aparece. Você:<br />

a) Manda a mulher correr (20)<br />

b) Heroicamente, parte na frente,<br />

para limpar o caminho para ela (-20)<br />

c) Pe<strong>de</strong> a ela para ser gentil com a<br />

onça, enquanto você vai buscar<br />

socorro (-10)<br />

d) Escon<strong>de</strong>-se na barraca e pe<strong>de</strong> a<br />

ajuda <strong>de</strong> São Benedito. Ou São<br />

Judas Ta<strong>de</strong>u (-20)<br />

Quando o cavalheirismo está morto<br />

Você está disposto a abrir a<br />

porta, puxar <strong>um</strong>a ca<strong>de</strong>ira ou<br />

pagar a conta no restaurante<br />

para <strong>um</strong>a mulher. Mas está<br />

disposto a vingar a honra<br />

<strong>de</strong>la no caso <strong>de</strong> <strong>um</strong>a ofensa<br />

a <strong>um</strong>a mulher? A honra <strong>de</strong>la<br />

é <strong>um</strong>a extensão <strong>de</strong> você? Ou<br />

é mais importante que sua<br />

própria vida?<br />

Se sua mulher fosse <strong>um</strong> automóvel, ela<br />

seria:<br />

a) Uma Merce<strong>de</strong>s Benz, elegante,<br />

cujo capô lembra <strong>um</strong> leito nupcial (5)<br />

b) Um Aston Martin 1967, aquela<br />

máquina nervosa pilotada por James<br />

007 Bond (10)<br />

c) Um Shelby Cobra 1967 (ano pródigo),<br />

<strong>um</strong> dos carros mais <strong>de</strong>sejados do<br />

mundo (15)<br />

d) Um jipe utilitário, que enfrenta<br />

qualquer parada, sobretudo as compras<br />

<strong>de</strong> supermercado (-5)<br />

e) Uma minivã, utilitária, ótima para<br />

encher <strong>de</strong> crianças (-20)<br />

Mais <strong>de</strong> 100 pontos,<br />

parabéns, você está<br />

inscrito nas fileiras<br />

do Príncipe<br />

Encantado<br />

A maioria não se obriga a respon<strong>de</strong>r a essa questão<br />

pois não vivemos n<strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> baseada na<br />

honra. Mas há aqueles que escolhem viver sob<br />

códigos arcaicos e são obrigados a respon<strong>de</strong>r a<br />

cada insulto. Para eles, a mulher é proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong> homem. Se é insultada, ele também é insultado.<br />

Do tipo “Hei, ele me insultou“; ou,“Eu não gostei<br />

como você está olhando para minha namorada”.<br />

Como resolver? Lembrem-se do inocente que leva<br />

<strong>um</strong>a faca <strong>de</strong> ponta para <strong>um</strong> tiroteio.<br />

53


Quando é certo não pagar<br />

Sim, as mulheres são mais educadas<br />

e provavelmente sobreviverão a<br />

você. Mas, ainda assim, você terá<br />

que pagar quando sair com elas.<br />

Mas nunca:<br />

Em seu aniversário, ou qualquer<br />

outra data que estiver celebrando.<br />

Na compra <strong>de</strong> presente <strong>de</strong><br />

casamento para <strong>um</strong> amigo ou amiga.<br />

E muito menos para essas besteiras<br />

<strong>de</strong> chá <strong>de</strong> panela ou chá <strong>de</strong> solteira.<br />

Quando o pai <strong>de</strong>la estiver à mesa.<br />

Quando você estiver fisicamente<br />

“enfermo” o suficiente para<br />

movimentar o braço para tirar a<br />

carteira do bolso.<br />

s regras e os códigos da<br />

cavalaria são muito bons. Mas é<br />

preciso saber quando <strong>um</strong>a<br />

mulher está mesmo interessada<br />

em cavalaria, digo, cavalheirismo. O<br />

que ela realmente quer, hoje em dia?<br />

Fizemos a pesquisa abaixo com cinco<br />

mulheres. Veja o que respon<strong>de</strong>ram:<br />

O que ela realmente quer<br />

Quando ce<strong>de</strong> seu lugar, você <strong>de</strong>monstra<br />

respeito ou mostra o seu chauvinismo<br />

ultrapassado? Nós estamos entrando<br />

n<strong>um</strong> prédio. Po<strong>de</strong>mos manter a porta<br />

aberta para que você entre?<br />

Isso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>. Se estiver a <strong>um</strong> ou dois<br />

passos à minha frente, espero que você<br />

mantenha a porta abeta. Mas, se estiver<br />

mais à frente, a impressão é que você<br />

<strong>de</strong>seja que eu me apresse. Então,<br />

melhor você seguir seu caminho.<br />

Estamos sentados entre amigos no<br />

restaurante lotado <strong>de</strong> <strong>um</strong> trem. E você<br />

está em pé ao nosso lado. Temos <strong>de</strong><br />

ce<strong>de</strong>r o lugar?<br />

Eu acho que homens se levantarem<br />

para ce<strong>de</strong>r lugar a mulheres jovens e<br />

saudáveis é absolutamente ridículo.<br />

Não é <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> respeito, mas<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong> chauvinismo explicito. Eu sou<br />

perfeitamente capaz <strong>de</strong> ficar em pé.<br />

Não sou nenh<strong>um</strong>a flor <strong>de</strong>licada, que<br />

murchará se não se sentar.<br />

Mas nós po<strong>de</strong>mos achar que você esteja<br />

grávida. Ninguém sabe o que existe na<br />

cabeça nem no ventre <strong>de</strong> vocês.<br />

Nesse caso, é melhor ce<strong>de</strong>r o lugar e<br />

ponto. Sem nada perguntar ou comentar.<br />

Nada mais <strong>de</strong>sagradável que ouvir <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong> homem que está ce<strong>de</strong>ndo o lugar a<br />

<strong>um</strong>a mulher grávida. É como se fosse<br />

<strong>um</strong> <strong>de</strong>ver e, não, <strong>um</strong> gesto <strong>de</strong> gentileza.<br />

Uma mulher está carregando <strong>um</strong>a<br />

gran<strong>de</strong> mala no aeroporto. Não po<strong>de</strong>mos<br />

oferecer ajuda?<br />

Não há nenh<strong>um</strong>a razão para isso. Na<br />

verda<strong>de</strong>, você po<strong>de</strong> estar atrapalhando,<br />

impedindo que se aproxime <strong>de</strong>la alguém<br />

muito mais interessante que você.<br />

Passamos por <strong>um</strong>a mulher andando na<br />

rua e chorando. O que <strong>de</strong>vemos fazer?<br />

Já nos sentimos bastante<br />

<strong>de</strong>sconfortáveis quando estamos<br />

chorando. Nesse momento, o que a<br />

gente menos <strong>de</strong>seja é ser reconhecida<br />

ou enfrentar intromissões. A não ser,<br />

claro, se estivermos chorando porque<br />

o carro furou o pneu ou apresentou<br />

problemas<br />

Você está saindo <strong>de</strong> <strong>um</strong> bar<br />

razoavelmente bêbada, vacila e tropeça.<br />

Devemos ajudar?<br />

Apenas se for para chamar <strong>um</strong> táxi. Ou<br />

perguntar se ainda tenho alg<strong>um</strong> amigo<br />

<strong>de</strong>ntro do bar. Fora disso, vaze, você<br />

assustará até porteiro <strong>de</strong> cemitério.<br />

N<strong>um</strong> estacionamento <strong>de</strong> shopping,<br />

vemos <strong>um</strong>a mulher apanhando <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

homem alto, provavelmente seu<br />

namorado. Devemos fazer alg<strong>um</strong>a<br />

coisa?<br />

Claro que não. Se é briga, <strong>um</strong> dos dois<br />

<strong>de</strong>ve estar chateado. E ainda por cima<br />

vem alg<strong>um</strong> se intrometer. Respeite a<br />

privacida<strong>de</strong> das pessoas. Deixe para lá,<br />

vá cuidar <strong>de</strong> sua vidinha medíocre.<br />

Estamos n<strong>um</strong> bar e percebemos <strong>um</strong>a<br />

mulher sendo abordada <strong>de</strong> forma<br />

agressiva e pouco cavalheiresca.<br />

Po<strong>de</strong>mos entrar em cena?<br />

Você ficou doido? Nós somos mais do<br />

que capazes <strong>de</strong> dispensar qualquer<br />

idiota atrevido ou bicão.<br />

54 DEZEMBRO DE 2009


m cavalheiro nunca sabe<br />

quando será chamado para<br />

entrar em ação. Então, como <strong>um</strong><br />

cavalheiro mo<strong>de</strong>rno, an<strong>de</strong><br />

sempre com as armas indispensáveis<br />

para o exercício <strong>de</strong> suas virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

paladino da cortesia e da elegância:<br />

Caneta<br />

boa para escrever <strong>um</strong><br />

poema <strong>de</strong> amor do Pablo<br />

Neruda no guardanapo e<br />

oferecer para ela. Insinuar<br />

que é <strong>de</strong> sua autoria.Boa<br />

também para preencher o<br />

cheque (com fundos, por<br />

favor) na hora <strong>de</strong> pagar a<br />

conta do restaurante.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

Capa <strong>de</strong> chuva<br />

Lenço<br />

Boa protegê-la da garoa enquanto<br />

saem do carro até a porta da casa<br />

<strong>de</strong>la. Boa também para ser<br />

romântico, cobrindo <strong>um</strong>a poça <strong>de</strong><br />

água na rua com a capa, para que ela<br />

não molhe os pezinhos (não cometa<br />

a indignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ameaçar mandar a<br />

conta da lavan<strong>de</strong>ria para ela).<br />

bom, especialmente para<br />

dois momentos: quando<br />

ela <strong>de</strong>rrama a bebida na<br />

roupa; ou começa a<br />

chorar. Mulher chora por<br />

qualquer coisa, ate por<br />

<strong>um</strong>a nesga <strong>de</strong> anágua<br />

emergindo da saia. Falar<br />

nisso, ainda se usa<br />

anágua? Também bom<br />

para ser colocado <strong>de</strong><br />

forma elegante e discreta<br />

no paletó, naquele bolso<br />

que que fica ao lado do peito.<br />

Isqueiro<br />

bom para lhe<br />

acen<strong>de</strong>r o cigarro; ou<br />

velas coloridas e<br />

perf<strong>um</strong>adas em volta<br />

da banheira <strong>de</strong>la (se<br />

ela <strong>de</strong>ixar você entrar<br />

lá, óbvio). Bom<br />

também para<br />

acen<strong>de</strong>r seu próprio<br />

cigarro, no caso <strong>de</strong><br />

você f<strong>um</strong>ar.<br />

Guarda-chuva<br />

Bom para mantê-la seca<br />

durante <strong>um</strong>a tempesta<strong>de</strong>,<br />

chegando junto sob os<br />

panos e varetas.Bom<br />

também para improvisar<br />

números musicais em<br />

plena rua, como se fosse<br />

Gene Kelly no filme<br />

Singing’ in the rain<br />

(cuidado para não ser<br />

preso, eles po<strong>de</strong>m<br />

confundir você com a<br />

manada <strong>de</strong> doidões que<br />

prolifera na cida<strong>de</strong>).<br />

55


Revelar o quanto custou o seu carro.<br />

Limpar arma na frente <strong>de</strong>la, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong> diálogo ruim.<br />

Referir-se à sua própria mãe como sua<br />

melhor amiga.<br />

Esquecer-se <strong>de</strong> sair com dinheiro.<br />

Falar <strong>de</strong> suas façanhas anteriores com<br />

outras mulheres.<br />

Entrar na frente <strong>de</strong>la no restaurante.<br />

Tentar adivinhar a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>la.<br />

Nunca, jamais, em tempo alg<strong>um</strong>, falar<br />

<strong>de</strong> outros temas impublicáveis como<br />

peso, gorduras (localizadas ou não),<br />

pneuzinhos e outros perigosos<br />

substantivos.<br />

Nunca pergunte a <strong>um</strong>a mulher se ela<br />

está grávida. Pois po<strong>de</strong> estar apenas<br />

acima do peso.<br />

Saiba ouvir. Se ela estiver falando,<br />

cale-se. E pelo menos finja estar<br />

prestando absoluta atenção ao falatório.<br />

Nunca vasculhe a bolsa <strong>de</strong> <strong>um</strong>a mulher.<br />

Mesmo se convidado. Você po<strong>de</strong> sofrer<br />

<strong>de</strong>sagradáveis surpresas. Entre elas,<br />

achar <strong>um</strong> bilhete do Ricardão lá <strong>de</strong>ntro.<br />

Nunca dê or<strong>de</strong>ns a <strong>um</strong>a mulher. Mesmo<br />

no restaurante. Apenas pergunte o que<br />

ela <strong>de</strong>seja comer. E na<strong>de</strong> em felicida<strong>de</strong><br />

se conseguir ao menos <strong>um</strong> muxoxo<br />

como resposta.<br />

Como se comportar<br />

no primeiro encontro<br />

O primeiro dia po<strong>de</strong> ser <strong>um</strong> <strong>de</strong>sastre,<br />

se você se comportar erradamente.<br />

Aqui, sete lições para você fazer a<br />

coisa certa:<br />

Vista-se a<strong>de</strong>quadamente para a<br />

ocasião. Uma roupa discreta e<br />

mo<strong>de</strong>rna. Perf<strong>um</strong>e-se frugalmente.<br />

Não vá ficar cheirando mais que<br />

banca <strong>de</strong> flores no dia <strong>de</strong> finados.<br />

Na hora <strong>de</strong> buscá-la, seja pontual.<br />

Não se apresente bêbado. Dentes<br />

escovados. Vá até à porta. Não leve<br />

flores, ainda não é a hora. Se você<br />

quiser levar <strong>um</strong> presente, escolha<br />

<strong>um</strong> pequeno e aceitável. Nada <strong>de</strong><br />

lingerie (calcinhas e sutiãs,<br />

principalmente), cachorrinhos ou<br />

os esboços <strong>de</strong> suas memórias<br />

inéditas (Deus nos livre!).<br />

Se chamou <strong>um</strong> táxi, abra a porta para<br />

ela, diga o en<strong>de</strong>reço aon<strong>de</strong> estão<br />

indo. Pague o táxi no ato, sem dar a<br />

ela a menor chance <strong>de</strong> tentar pagar.<br />

Caso ela não goste <strong>de</strong> conversar,<br />

ligue o rádio do carro. Mas evite as<br />

emissoras que só falam <strong>de</strong> futebol<br />

ou emitem a gritaria <strong>de</strong> pastores<br />

evangélicos aloprados. Pergunte<br />

o que ela <strong>de</strong>seja ouvir.<br />

No restaurante, <strong>de</strong>ixe que ela entre<br />

primeiro. No final, pague a conta,<br />

sem tentar dividir as <strong>de</strong>spesas.<br />

Ao andar pela rua, caminhe pelo<br />

lado <strong>de</strong> fora da calçada para evitar<br />

que respingos dos carros atinjam o<br />

vestido <strong>de</strong>la. Ofereça seu braço. É<br />

cavalheiresco e é também <strong>um</strong>a<br />

maneira <strong>de</strong> iniciar <strong>um</strong> contato<br />

mais, digamos, epidérmico.<br />

Seja <strong>um</strong> homem, faça seu<br />

movimento. Que Deus esteja<br />

com você.<br />

Dê seqüência à história no<br />

dia seguinte. Ligue para<br />

ela. Se não pu<strong>de</strong>r, você<br />

tem mais 24 horas <strong>de</strong><br />

prazo. Se ela aten<strong>de</strong>r,<br />

agra<strong>de</strong>ça pela<br />

excelente noite e<br />

tente marcar <strong>um</strong><br />

segundo encontro.<br />

Se respon<strong>de</strong>r por<br />

correio <strong>de</strong> voz, peça<br />

a ela para retornar<br />

a ligação. Mas se<br />

ela aten<strong>de</strong>u dizendo<br />

que era da telepizza<br />

e que não se<br />

chama Priscila,<br />

você simplesmente<br />

dançou, está<br />

fora.<br />

56 DEZEMBRO DE 2009


BIANCA ALVES<br />

omens têm sua própria noção <strong>de</strong><br />

cavalheirismo, a qual,<br />

infelizmente para as damas,<br />

raramente condiz com a<br />

realida<strong>de</strong>. Por esse motivo, o Guia <strong>Fato</strong><br />

<strong>Relevante</strong> do Perfeito Cavalheiro<br />

merece <strong>um</strong> a<strong>de</strong>ndo: ao ser escrito por<br />

homens, merece <strong>um</strong> olhar feminino. De<br />

maneira a transformá-lo em <strong>um</strong><br />

instr<strong>um</strong>ento que realmente funcione<br />

com as mulheres. Com esse propósito,<br />

eu e minhas amigas nos reunimos tar<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ssas, no salão da Denise, para fazer as<br />

unhas e respon<strong>de</strong>r ao teste.<br />

Quanto a pagar contas<br />

Na hora <strong>de</strong> pagar a conta, vale apenas<br />

<strong>um</strong>a alternativa: paga quem tem<br />

dinheiro. Ou seja, se o cara está duro por<br />

qualquer razão, a moça tira o cartão <strong>de</strong><br />

débito do bolso. Se é o contrário, seja o<br />

moço. É bom lembrar que, nesta<br />

socieda<strong>de</strong> que ainda discrimina gênero,<br />

os salários das mulheres são menores<br />

que os dos homens, mesmo que<br />

exerçam a mesma função. Daí,<br />

chegamos a <strong>um</strong> <strong>de</strong>sdobramento óbvio:<br />

paga quem ganha mais. E é por essa<br />

razão, nenh<strong>um</strong>a a mais, que homens<br />

bem-sucedidos levam mais mulheres<br />

para jantar (ao restaurante, explique-se).<br />

Ataques na rua<br />

Diante <strong>de</strong> <strong>um</strong> agressor armado, <strong>um</strong> grito<br />

feminino em si bemol maior (?) vai fazer<br />

muito mais efeito do que quaisquer<br />

músculos <strong>de</strong>senvolvidos em aca<strong>de</strong>mia.<br />

Ou seja, não adianta dar <strong>um</strong>a <strong>de</strong><br />

super-herói, ou chamar o Batman da<br />

esquina. De maneira geral, quando <strong>um</strong><br />

casal é atacado, os dois <strong>de</strong>vem ficar<br />

quietinhos e não reagir, para segurança<br />

do casal. Qualquer policial vai dar esse<br />

conselho.<br />

Homens que conhecem as mulheres<br />

Existem homens tão sensacionais que,<br />

raras exceções anotadas, as próprias<br />

mulheres acham que eles merecem mais<br />

do que <strong>um</strong>a <strong>de</strong>las. O homem que melhor<br />

trata as mulheres é aqueles que as ouve,<br />

as ajuda, as respeita e... transa bem, é<br />

claro. Esse último quesito, se associado<br />

à estampa <strong>de</strong> <strong>um</strong> George Clooney ou<br />

Brad Pitt, dispensa os outros.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

Hora <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r o lugar<br />

Para começar, ninguém ce<strong>de</strong> lugar<br />

para ninguém em restaurante. Quem<br />

chegou primeiro, fica com a mesa.<br />

Quanto aos ônibus, trens e filas, pense<br />

bem: a mulher trabalhou o dia inteiro,<br />

normalmente em cima <strong>de</strong> <strong>um</strong> salto<br />

vertiginoso. Po<strong>de</strong> estar menstruada, o<br />

que não lhe dá licença <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas<br />

lhe ren<strong>de</strong> dores nas pernas e cólicas<br />

inimagináveis para os garotos que<br />

acreditam ser <strong>um</strong> chute no saco o ápice<br />

da dor (TPM explica). Seja gentil, quem<br />

sabe a gentileza não ren<strong>de</strong> <strong>um</strong> jantar<br />

<strong>de</strong>pois? Que você vai pagar, é claro.<br />

Quanto a grávidas e idosas, se você<br />

ainda não sabe que <strong>de</strong>ve ce<strong>de</strong>r o lugar<br />

para elas, você não <strong>de</strong>ve ter mãe.<br />

Sobre agarrar bundas<br />

Esse é <strong>um</strong> mandamento feminino:<br />

se alguém agarrar sua bunda perto<br />

do seu homem, disfarce e finja que<br />

nada aconteceu. Estique o vestido e<br />

relaxe, pois coisas assim não tiram<br />

pedaço. Se você contar, o mínimo<br />

que vai rolar é <strong>um</strong>a briga <strong>de</strong> voar<br />

ca<strong>de</strong>iras, o que vai acabar com sua<br />

noite. E se o “agressor” for mais forte,<br />

pior ainda: seu namorado vai acabar<br />

no hospital. O pior tipo <strong>de</strong> mulher é<br />

aquela que chega para seu homem<br />

e diz: “Beemmm, aquele cara<br />

pegou na minha bunda”. Tenha<br />

certeza, ela não te ama, só quer<br />

ver o circo pegar fogo.<br />

Sobre a mulher que <strong>de</strong>smaia em<br />

seu aniversário.<br />

Pelo amor <strong>de</strong> Deus, leve-a ao hospital!!!!<br />

Não existe mais nada que você possa<br />

fazer nesse caso. Se não levar, nem o<br />

George Clooney salva...<br />

Sobre onças que aparecem em<br />

acampamento<br />

Você <strong>de</strong>ve ser <strong>um</strong> péssimo namorado.<br />

Com tanto lugar legal para passear – que<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>um</strong>a tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> domingo<br />

pescando na Pampulha até <strong>um</strong> passeio<br />

<strong>de</strong> gôndola em Veneza – você a levou<br />

justamente para <strong>um</strong> acampamento<br />

nos confundós <strong>de</strong> Tocantins?<br />

Se sua mulher fosse <strong>um</strong> automóvel,<br />

ela seria:<br />

O que você pu<strong>de</strong>r comprar.<br />

Enfim, nunca se esqueça que coisas<br />

como pagar a conta ou ce<strong>de</strong>r o lugar têm<br />

a ver com cuidado e gentileza.<br />

Ingredientes fundamentais para <strong>um</strong>a boa<br />

amiza<strong>de</strong> e meta<strong>de</strong> do caminho andado<br />

para <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> amor.<br />

57


MÁRCIO RUBENS PRADO<br />

O menino vai nascer<br />

À medida em que eu vou<br />

batucando a memória e<br />

bebendo, vou-me<br />

sentindo incomodado. E<br />

com <strong>um</strong> gostinho <strong>de</strong><br />

frustração.<br />

Porque sinto você por<br />

perto.<br />

Claro, você não está.<br />

Não vai haver ruído <strong>de</strong><br />

campainha tocando.<br />

Nem telefone<br />

chamando.<br />

Talvez o interfone do<br />

prédio chame.<br />

Mas para dizer que a<br />

conta do telefone<br />

chegou.<br />

Ah, Blanquita, seria bom que você estivesse<br />

aqui.<br />

Para ver a fúria com que o povo se atira<br />

às compras.<br />

Até os tarados não mais dizem vou às<br />

mulheres.<br />

Monocórdios e repetitivos, em estado <strong>de</strong><br />

nítida ereção cons<strong>um</strong>itória, anunciam: “Vou<br />

às compras.<br />

O trânsito, se visto lá <strong>de</strong> cima, obrigaria<br />

Jeová a repensar à criação do mundo.<br />

Ou seja, em matéria <strong>de</strong> caos, o nosso<br />

trânsito dá <strong>de</strong> <strong>de</strong>z a zero naquele que prece<strong>de</strong>u<br />

a criação do paraíso e o momento<br />

proibido e gostoso que Adão e Eva viveram.<br />

Quanto ao gostoso, nem digo tanto. Os<br />

dois, certamente, pecaram pela inexperiência.<br />

O verbo pecar, ai, por favor, arr<strong>um</strong>e a<br />

semântica direitinho, para saber aon<strong>de</strong><br />

quero chegar.<br />

E chegar é o mais difícil nestes dias turbulentos.<br />

Mineiro, que já carrega o estigma <strong>de</strong><br />

chamar a gente e ir andando, neste <strong>de</strong>zembro<br />

bate todos os recor<strong>de</strong>s <strong>de</strong> impontualida<strong>de</strong>.<br />

Encontros, não os marque.<br />

Mesmo aquele por que se esperaram<br />

meses. Ou anos.<br />

Você, se reaparecesse <strong>de</strong> repente nesta<br />

galopante cida<strong>de</strong>, jamais me veria chegar<br />

como <strong>um</strong> Concor<strong>de</strong> em viagem inaugural.<br />

Ou como cavalo pampa <strong>de</strong> vovô Vicente,<br />

que arrasou com <strong>um</strong> cavalo alazão <strong>de</strong> Conceição<br />

<strong>de</strong> Mato Dentro, n<strong>um</strong>a corrida que<br />

inventaram em Carmésia, então chamada<br />

Viamão, ali pelos anos 20.<br />

Corria-se a cavalo, naquele tempo.<br />

Afora o ecológico esterco que produzem,<br />

os cavalos não provocavam engarrafamentos.<br />

Nem buzinas. Mal e mal alguns relinchos<br />

<strong>de</strong> satisfação, vez por outra. Então, a<br />

vida trotava em poesias.<br />

E tranquilida<strong>de</strong>.<br />

Foi só virar a esquina da memória e lembrar-me<br />

do cavalo <strong>de</strong> vovô e nasceu <strong>um</strong>a<br />

súbita paz no ar.<br />

Como aquele moço <strong>de</strong> Itabira, gran<strong>de</strong><br />

poeta, estou sozinho no quarto.<br />

E sozinhíssimo nas Américas.<br />

Eu, minha máquina <strong>de</strong> escrever, <strong>um</strong>as<br />

azeitonas que pesquei na gela<strong>de</strong>ira. E <strong>um</strong>a<br />

bebida n<strong>um</strong> cálice.<br />

Dizer verda<strong>de</strong>, nem sei qual seja. A bebida.<br />

Pus duas pedras <strong>de</strong> gelo n<strong>um</strong> copo, enfiei<br />

a mão no barzinho – aquele <strong>de</strong> vime, você<br />

conhece –, peguei o primeiro litro que achei,<br />

abri, fui pondo.<br />

Enchi o copo, até à borda. E vou to -<br />

mando. E escrevendo.<br />

Nunca menti para você. Assim, confesso<br />

que já estou no segundo cálice.<br />

Ou será o terceiro?<br />

Nem me lembro.<br />

À medida em que eu vou batucando a<br />

memória e bebendo, vou-me sentindo incomodado.<br />

E com <strong>um</strong> gostinho <strong>de</strong> frustração.<br />

Porque sinto você por perto.<br />

Claro, você não está.<br />

Não vai haver ruído <strong>de</strong> campainha tocando.<br />

Nem telefone chamando.<br />

Talvez o interfone do prédio chame.<br />

Mas para dizer que a guia do IPTU<br />

chegou.<br />

Ou da luz. Da água, não, já vem na taxa<br />

do condomínio.<br />

Não consigo ficar sentado.<br />

Chego à janela.<br />

Aqui da Serra vê-se quase toda a cida<strong>de</strong>.<br />

E as luzes, em forma <strong>de</strong> árvores, <strong>de</strong> flores<br />

ou do que seja, explo<strong>de</strong>m pelas encostas,<br />

pelas ilhargas dos edifícios, pelas esteiras <strong>de</strong><br />

fios espichados nos vãos das praças.<br />

Das bandas oeste da cida<strong>de</strong>, vem o ruído<br />

pesado do tráfego.<br />

Quase <strong>de</strong>z da noite.<br />

Os compradores estão voltando para<br />

casa.<br />

Não há como <strong>de</strong>smentir.<br />

É o Natal que está no ar.<br />

Volto da janela. Sento-me. É preciso terminar<br />

esta conversa.<br />

Pois que se acabe a crônica.<br />

O que não acaba é essa súbita vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

continuar bebendo.<br />

E fazer alg<strong>um</strong>a coisa. Chorar, talvez.<br />

58 DEZEMBRO DE 2009

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