BH, um canteiro de obras BH, um canteiro de obras - Fato Relevante
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37 mineiros que fizeram a<br />
diferença na década. Página 14<br />
SEGUNDA-FEIRA, 28 DE DEZEMBRO DE 2009 · ANO 1 · Nº 6 · R$ 5,00<br />
Automóveis coreanos a nova<br />
sensação do mercado Página 36<br />
<strong>BH</strong>, <strong>um</strong><br />
<strong>canteiro</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>obras</strong><br />
No primeiro ano <strong>de</strong> sua<br />
gestão, Marcio Lacerda foi o<br />
prefeito das capitais que mais<br />
investiu em <strong>obras</strong> públicas.<br />
Mas o gran<strong>de</strong> programa <strong>de</strong><br />
construção começa agora em<br />
2010, visando a Copa do<br />
Mundo. Página 10<br />
ÉLCIO PARAÍSO
Cartaaosleitores<br />
Boas notícias, otimismo,<br />
mérito - a década gloriosa<br />
4<br />
Enquanto outras partes do mundo ainda<br />
se encontram patinando na crise financeira<br />
do ano passado, o Brasil emerge <strong>de</strong>sse<br />
cenário como <strong>um</strong> paraíso <strong>de</strong> boas notícias.<br />
Por toda parte, só se ouve falar sobre a<strong>um</strong>ento<br />
<strong>de</strong> produção e do número <strong>de</strong> empregos.<br />
Um fato que ilustra bem esse otimismo<br />
é a iniciativa das si<strong>de</strong>rúrgicas e mineradoras<br />
da região do Alto Paraopeba, no entorno<br />
<strong>de</strong> Congonhas. As indústrias assinaram<br />
<strong>um</strong> acordo para evitar <strong>um</strong>a fatricida disputa<br />
pela mão <strong>de</strong> obra exigida pelos novos empreendimentos<br />
industriais que se implantam<br />
naquela região.<br />
Segundo estimativas da Fiemg, mais <strong>de</strong><br />
40 mil vagas serão oferecidas ali para<br />
movimentar as <strong>obras</strong> <strong>de</strong> duas si<strong>de</strong>rúrgicas,<br />
<strong>de</strong> duas usinas <strong>de</strong> pelotização e da expansão<br />
<strong>de</strong> várias minerações. Entre outras indústrias<br />
ouvidas por <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>, todas<br />
elas têm previsão <strong>de</strong> crescimento acima <strong>de</strong><br />
5% neste ano. A po<strong>de</strong>rosa Itambé ainda é<br />
mais otimista e espera crescer pelo menos<br />
12%: “O nosso setor sempre cresce o dobro<br />
do PIB brasileiro”, explica o seu presi<strong>de</strong>nte,<br />
Jacques Gontijo.<br />
Po<strong>de</strong>ria existir <strong>um</strong> cenário melhor que<br />
esse? Não po<strong>de</strong>mos nos esquecer que, em<br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008, os empresários estavam<br />
prostrados diante <strong>de</strong> <strong>um</strong>a crise que, diziase,<br />
seria bem mais <strong>de</strong>sastrosa que a <strong>de</strong><br />
1929. São essas as reflexões sobre Minas e<br />
o Brasil que nos autorizam a <strong>de</strong>sejar <strong>um</strong><br />
Feliz Ano Novo para todos, publicando esta<br />
6ª edição da <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>.<br />
Adicionalmente, apresentamos nesta<br />
edição a lista dos 37 mineiros que fizeram<br />
a diferença na década encerrada em 31 <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009. Saber reconhecer e valorizar<br />
o mérito alheio não é apenas <strong>um</strong><br />
gesto <strong>de</strong> h<strong>um</strong>ilda<strong>de</strong>, mas <strong>um</strong>a atitu<strong>de</strong> indispensável<br />
neste mundo atual, on<strong>de</strong> o egocentrismo<br />
e o individualismo atingem níveis<br />
intoleráveis <strong>de</strong> saturação e perversida<strong>de</strong>.<br />
Os editores<br />
S<strong>um</strong>ário<br />
LEIATAMBÉM:<br />
Veículos<br />
Coreanos inva<strong>de</strong>m o mercado<br />
brasileiro ..................................... 36<br />
Conta corrente<br />
Os números positivos<br />
<strong>de</strong> 2010 ....................................... 32<br />
Muito barulho por dígitos ........ 34<br />
Gestão<br />
As lições tiradas do<br />
ano <strong>de</strong> 2009 ................................ 40<br />
Negócios<br />
A arte <strong>de</strong> pechinchar...................42<br />
ENTREVISTA<br />
Em seu primeiro ano <strong>de</strong> governo,<br />
Marcio Lacerda preparou o terreno<br />
para gran<strong>de</strong>s <strong>obras</strong> públicas<br />
já visando a Copa do Mundo<br />
Página 10<br />
ESPECIAL<br />
37 mineiros que mais se<br />
<strong>de</strong>stacaram na primeira década<br />
do século. Artistas, empresários,<br />
políticos e esportistas figuram na<br />
lista<br />
Página 14<br />
POLÍTICA<br />
O PT mineiro balança entre Fernando<br />
Pimentel e Patrus Ananias<br />
para concorrer ao Palácio da<br />
Liberda<strong>de</strong>. Veja as armas <strong>de</strong> cada<br />
<strong>um</strong> para o embate<br />
Página 36<br />
PERFIL<br />
O homem que popularizou o<br />
terno e a gravata. Saiba mais<br />
sobre Pedro Paulo Dr<strong>um</strong>ond e sua<br />
Cia. do Terno, empresa que<br />
rompe as fronteiras <strong>de</strong> Minas<br />
Página 46<br />
Longe dos holofotes<br />
Gil César, o construtor do<br />
Mineirão .......................................48<br />
Almanaque<br />
O guia do cavalheiro.................. 50<br />
Colunas<br />
Carta <strong>de</strong> São Paulo..................... 30<br />
Durval Guimarães ...................... 31<br />
Mário Ribeiro............................... 44<br />
Márcio Rubens Prado................ 58<br />
DEZEMBRO DE 2009
Cartasetc...<br />
O Legislativo não toma vergonha?<br />
Entra ano e sai ano, o Po<strong>de</strong>r Legislativo<br />
e, em especial, os <strong>de</strong>putados mineiros,<br />
continuam matando a população <strong>de</strong> vergonha.<br />
Está claro que o problema é maior<br />
que a simples substituição dos parlamentares<br />
a cada eleição, pois o dinheiro continua<br />
lá para eles manipularem livremente,<br />
<strong>de</strong> acordo com suas ambições. O orçamento<br />
exagerado, acima das necessida<strong>de</strong>s<br />
reais do parlamento, aliado ao fato<br />
<strong>de</strong> que o mandato pertence a cada parlamentar<br />
(ele investiu seus recursos pessoais<br />
em campanhas e até comprou os<br />
votos), resulta nessas distorções que se<br />
perpetuam ao longo <strong>de</strong> décadas. Está na<br />
hora <strong>de</strong> implantarmos o voto distrital.<br />
Flávio Moreira - <strong>BH</strong><br />
Mancha no Po<strong>de</strong>r Legislativo<br />
É inegável a importância do Po<strong>de</strong>r Legislativo<br />
n<strong>um</strong>a <strong>de</strong>mocracia. Ele é <strong>um</strong> estuário<br />
on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ságuam todas as <strong>de</strong>mandas<br />
da socieda<strong>de</strong>. É <strong>um</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sarmado, que<br />
acolhe todas as manifestações sociais. Na<br />
prática, se <strong>um</strong> cidadão quiser falar com o<br />
<strong>de</strong>putado mineiro, ele tem acesso imediato<br />
ao parlamentar, pois o Legislativo é <strong>um</strong> po<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> portas abertas. O mesmo não ocorre<br />
no Executivo, on<strong>de</strong> o cidadão não passa<br />
da portaria. São po<strong>de</strong>res inacessíveis, <strong>de</strong><br />
portas fechadas. Infelizmente a ganância<br />
<strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>putados <strong>de</strong>smoraliza a força<br />
moral e a beleza do Legislativo. Teremos a<br />
chance <strong>de</strong> substituí-los agora em 2010.<br />
Ana Rita Morais – <strong>BH</strong><br />
Congratulações<br />
Prezados Valter Cruz e Durval Guimarães,<br />
parabenizo a iniciativa <strong>de</strong> editarem a<br />
revista <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>, revista bonita e mo<strong>de</strong>rna,<br />
que nos dá o prazer <strong>de</strong> ler nomes como<br />
Klaus Kleber, Márcio Rubens Prado,<br />
Ângelo Prazeres, Téo Scalioni (que está<br />
brilhante), entre outros. Minas está orgulhosa,<br />
parabéns. Continuem, sucessos.<br />
Marco Aurélio Garcia<br />
Economista, <strong>BH</strong><br />
N.R.: Coloco economista e <strong>BH</strong> para<br />
não confundir com o xará o PT (que não é<br />
economista nem mineiro, o que não <strong>de</strong>põe<br />
contra ele).<br />
Cinco i<strong>de</strong>ias para se sobreviver<br />
n<strong>um</strong> local infeliz <strong>de</strong> trabalho.<br />
“C<strong>um</strong>primento a <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> pelos<br />
conselhos apresentados na última edição<br />
aos milhares <strong>de</strong> candidatos a empregos<br />
que estão se abrindo por toda parte no estado<br />
e no país. Vocês apresentaram também<br />
várias razões pelas quais <strong>um</strong>a pessoa<br />
não <strong>de</strong>ve mudar <strong>de</strong> emprego, mesmo que<br />
esteja diante <strong>de</strong> <strong>um</strong>a proposta <strong>de</strong> polpudo<br />
a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> salário. Pois acrescento à<br />
matéria cinco iniciativas que, acho, a pessoa<br />
<strong>de</strong>veria tomar para sobreviver no seu<br />
atual emprego. Ainda que esteja ralando<br />
n<strong>um</strong> inóspito e infeliz local <strong>de</strong> trabalho.<br />
Quando a gente não gosta do local e do<br />
ambiente do nosso trabalho, ir ao serviço<br />
todos os dias é <strong>um</strong> suplício <strong>de</strong> comover o<br />
mais cavernoso dos carrascos. Assim, os<br />
seus problemas nesse ambiente <strong>de</strong> masmorra<br />
e sufoco po<strong>de</strong>m ser:<br />
· o chefe, elemento incompetente, estressado<br />
ou mau caráter<br />
· o salário minguado, bem menor que<br />
suas pretensões e mais ainda que suas necessida<strong>de</strong>s<br />
· os colegas “ruins <strong>de</strong> serviço”, invejosos<br />
e fofoqueiros<br />
· o trabalho em si, absolutamente contrário<br />
às coisas que você sabe e gosta <strong>de</strong><br />
fazer.<br />
Mas você não po<strong>de</strong> fugir do emprego.<br />
É obrigado a trabalhar para sobreviver e<br />
garantir o seu sustento e o <strong>de</strong> sua família<br />
(claro, se tiver alg<strong>um</strong>a, o que jogará nas<br />
suas costas o contingente obrigatório <strong>de</strong><br />
sogros, genros, noras, cunhados, e belzebu<br />
a quatro).<br />
Diante disso, não me furto ao prazer <strong>de</strong><br />
encaminhar aos leitores <strong>de</strong>ssa revista os<br />
seguintes conselhos:<br />
1. Você é o problema? - o primeiro<br />
passo: olhe para si mesmo e veja se você<br />
não é o próprio problema. Ou seja, seu<br />
comportamento é rancoroso, resmungão,<br />
anticooperativo. Nesse caso, seja criativo.<br />
Arranje <strong>um</strong> estoque <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>, tente<br />
transformar o suplício diário n<strong>um</strong>a tarefa<br />
pelo menos tolerável. É a melhor maneira<br />
<strong>de</strong> se sofrer menos e viver melhor.<br />
2. Ass<strong>um</strong>a o seu trabalho - enquanto<br />
não aparece <strong>um</strong>a boa oportunida<strong>de</strong>, ass<strong>um</strong>a<br />
claramente sua obrigação <strong>de</strong> trabalhar<br />
no miserável lugar. Faça o melhor possível.<br />
Mesmo que esteja se preparando para dar<br />
no pé. Arranje-se que nem <strong>um</strong>a vara <strong>de</strong> porcos<br />
quando amontoada n<strong>um</strong>a carroceria <strong>de</strong><br />
caminhão: fuce daqui, trombe dali, tropece<br />
acolá... no final, você se ajeitará e a vida<br />
seguirá <strong>de</strong> maneira razoavelmente cômoda.<br />
3. Faça <strong>um</strong> plano, seja pró-ativo -<br />
converse longamente com seus amigos e a<br />
família. Calce a cara, procure seu irritante<br />
chefe e lhe apresente <strong>um</strong>a sugestão para<br />
FATO RELEVANTE<br />
Diretor executivo Valter Cruz Editor Geral Durval Guimarães Editor <strong>de</strong> Texto Márcio Rubens Prado Editor <strong>de</strong> Arte Fábio Pompeu Editor<br />
<strong>de</strong> Fotografia Élcio Paraíso Redação Fábio Doyle, Klaus Kleber,Teo Scalioni Publicida<strong>de</strong> Mário Carvalho Secretária <strong>de</strong> Redação Maria<br />
Cecília Cardoso FATO RELEVANTE é <strong>um</strong>a publicação da Pró-Ativa - Planejamento e Assessoria <strong>de</strong> Mídia Ltda. Redação, Administração<br />
e Publicida<strong>de</strong> Avenida Pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Morais, 287, sala 1301 - CEP 30350-093 - Belo Horizonte/MG Telefone (31) 3071-9193 E-mail<br />
fatorelevante@yahoo.com.br Impressão Eskenazi Indústria Gráfica Distribuição VIP <strong>BH</strong><br />
DEZEMBRO DE 2009 5
Cartasetc...<br />
melhorar o serviço. Diga claramente o que<br />
você pensa, mas <strong>de</strong> maneira civilizada, informando<br />
<strong>de</strong>talhadamente que seu intuito é<br />
melhorar o ambiente <strong>de</strong> trabalho. Em caso<br />
extremo <strong>de</strong> intolerância, procure o setor <strong>de</strong><br />
recursos h<strong>um</strong>anos e tente mudar <strong>de</strong> área.<br />
4. Aprenda <strong>um</strong>a nova habilida<strong>de</strong> - ninguém<br />
é obrigado a ir diretamente do trabalho<br />
para casa, para o boteco da esquina ou para<br />
o terreiro <strong>de</strong> mac<strong>um</strong>ba. Nem gastar as duas<br />
horas <strong>de</strong> almoço mastigando a gororoba dos<br />
self services. Tente <strong>de</strong>senvolver <strong>um</strong>a nova<br />
habilida<strong>de</strong>. Por exemplo, fazer <strong>um</strong> curso <strong>de</strong><br />
inglês; informática avançada; ou qualquer<br />
outra coisa que possa ser útil n<strong>um</strong> futuro novo<br />
emprego. Uma pergunta; “Como você<br />
aproveita suas folgas <strong>de</strong> fim-<strong>de</strong>-semana?”.<br />
Pare <strong>de</strong> se autoflagelar e ficar r<strong>um</strong>inando <strong>de</strong>sejos<br />
vis, como o <strong>de</strong> ver seu chefe se transformar<br />
n<strong>um</strong> homem-bomba no Afeganistão.<br />
Encare a vida. E fique certo: muito pior que<br />
o seu emprego atual é o <strong>de</strong>semprego, que,<br />
n<strong>um</strong> extremo <strong>de</strong> infelicida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> levar o<br />
<strong>de</strong>mitido a cometer todo tipo <strong>de</strong> besteiras.<br />
5. Encontre o lado positivo – Faça<br />
<strong>um</strong>a lista das coisas positivas no seu trabalho.<br />
Tipo pagamento em dia, plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
funcionárias belíssimas, vale-refeição e<br />
colegas solidários. Isso po<strong>de</strong> clarear o lado<br />
bom do seu emprego, o que é fundamental<br />
para tornar o trabalho suportável. Você <strong>de</strong>scobrirá<br />
que tem até o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mudar e<br />
melhorar o ambiente. Logo, tente fazê-lo.<br />
Espero, com essas sugestões, colaborar com<br />
os leitores <strong>de</strong>ssa oportuna revista para o<br />
bem-estar nos seus locais <strong>de</strong> trabalho.<br />
Lucas da Rocha Gonçalves,<br />
professor universitário, <strong>BH</strong><br />
Coragem editorial<br />
Caro Durval, quem é gran<strong>de</strong> é gran<strong>de</strong><br />
mesmo. Parabéns pela revista <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong><br />
e, em particular, por ter levado o Teo (Scalioni)<br />
junto <strong>de</strong>ssa sua coragem editorial e publicitária.<br />
Parabéns econômicos, ecológicos<br />
e sustentáveis. Longa vida a tudo que é fato<br />
e é relevante nas montanhas <strong>de</strong> Minas.<br />
Hiram Firmino<br />
Editor do JB Ecológico<br />
“Minas é fantástica”<br />
Senhor editor-chefe, na entrevista com<br />
o empresário Wilson Br<strong>um</strong>mer, ele disse<br />
que as estradas aqui em Minas estão ruins<br />
e têm muita coisa para melhorar. Concordo<br />
com ele, mas acho bom fazer <strong>um</strong>a<br />
ressalva: é evi<strong>de</strong>nte a melhoria que se observa<br />
na malha rodoviária do Estado.<br />
Afora aqueles pontos críticos e crônicos,<br />
que vão sendo atacados <strong>de</strong> maneira <strong>um</strong><br />
tanto lenta - parece até que é coisa do<br />
po<strong>de</strong>r judiciário -, a situação geral melhorou.<br />
As estradas estão bem melhores.<br />
Criticar é sempre bom e saudável, mas reconhecer<br />
as melhorias é também <strong>um</strong> justo<br />
exercício <strong>de</strong> cidadania.<br />
Francisco Guimarães Ribeiro,<br />
viajante comercial, <strong>BH</strong><br />
Trabalho em Congonhas<br />
Senhores, gostei <strong>de</strong> ver minha Congonhas<br />
focalizada nessa revista. E mais<br />
ainda com o futuro risonho que vocês <strong>de</strong>senharam<br />
para os habitantes da cida<strong>de</strong>.<br />
Espero até que as empresas que estão expandindo<br />
as ativida<strong>de</strong>s ou que vão se instalar<br />
lá <strong>de</strong>em <strong>um</strong> jeito <strong>de</strong> patrocinar a<br />
preservação e a manutenção dos fabulosos<br />
tesouros artísticos que, orgulhosamente,<br />
temos em nossa adorada cida<strong>de</strong>.<br />
Dejair Tristao do Nascimento,<br />
Técnico em Eletrônica, Contagem-MG<br />
Explosão <strong>de</strong> Sete Lagoas<br />
Senhor Redator, a reportagem sobre<br />
as nove cida<strong>de</strong>s mineiras para se arranjar<br />
<strong>um</strong> bom emprego foi mesmo bem animadora.<br />
Mas, confesso, na minha<br />
ignorância <strong>de</strong> funcionário público estadual,<br />
que tive medo <strong>de</strong> muitas <strong>de</strong>las não<br />
possuírem a infraestrutura mínima para<br />
receber o progresso prometido. Será que<br />
os prefeitos, empolgados com as futuras<br />
gordas arrecadações, tiveram tempo para<br />
meditar sobre o assunto? Qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
vida, embora seja expressão vulgarizada<br />
pela chusma <strong>de</strong> palpiteiros que nos assola,<br />
é coisa séria.<br />
Manoel Aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Souza,<br />
técnico ambiental, Vespasiano-MG<br />
Se você vai falhar, falhe<br />
rapidamente<br />
Por mais <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vez vi repórteres <strong>de</strong><br />
<strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> lamentando que mais <strong>de</strong><br />
90% das novas empresas <strong>de</strong>saparecem no<br />
primeiro ano <strong>de</strong> vida. Na verda<strong>de</strong>, é bom que<br />
isso aconteça. Nada pior que <strong>um</strong>a longa agonia,<br />
como acontece, sobretudo com os<br />
jornais brasileiros. Se não está dando certo,<br />
busquem <strong>um</strong> novo caminho, reconheçam a<br />
queda e tentem dar a volta por cima.<br />
Luís Antonio Aleixo<br />
Nota da redação: Nossos leitores<br />
estão hoje especialmente malvados e intolerantes<br />
com o fracasso. Mas temos <strong>de</strong> admitir<br />
que insistir na falha é gastar mais<br />
energias e recursos financeiros que o<br />
necessário.<br />
Quem quebrou, já foi tar<strong>de</strong><br />
Muita gente fica chorando o <strong>de</strong>saparecimento<br />
<strong>de</strong> empresas durante a crise.<br />
Isso é bobagem. O famoso economista<br />
Joseph Sch<strong>um</strong>peter articulou o conceito <strong>de</strong><br />
“<strong>de</strong>struição criativa”, no rescaldo da<br />
Gran<strong>de</strong> Depressão. É <strong>um</strong>a teoria que consi<strong>de</strong>ra<br />
até agradável a morte <strong>de</strong> empresas,<br />
que suc<strong>um</strong>biram na crise, pois elas serão<br />
substituídas por outras melhores, mais<br />
mo<strong>de</strong>rnas e mais criativas. Não po<strong>de</strong>mos<br />
nos esquecer que durante a recessão dos<br />
anos 30 foram fundadas empresas que,<br />
mais tar<strong>de</strong>, se tornaram potências, como a<br />
Hewlett Packard e a Revlon. Outras empresas,<br />
como a IBM e a RCA, cresceram na<br />
Gran<strong>de</strong> Depressão. Na verda<strong>de</strong>, essas gran<strong>de</strong>s<br />
empresas que quebram já vão tar<strong>de</strong> e<br />
não farão falta. Que falta, por exemplo,<br />
fará a General Motors, n<strong>um</strong> mundo com<br />
tantas marcas <strong>de</strong> automóveis e todas <strong>de</strong> boa<br />
qualida<strong>de</strong>?<br />
Marcos Macedo-<strong>BH</strong><br />
Nota da redação: Falar que <strong>um</strong>a empresa<br />
ou alguém já vai tar<strong>de</strong> é muito agressivo<br />
e <strong>de</strong>s<strong>um</strong>ano. Mas nós estamos<br />
convencidos <strong>de</strong> que <strong>um</strong> atributo típico<br />
daqueles que têm sucesso em tempos difíceis<br />
é <strong>um</strong>a aguda compreensão das mudanças<br />
que ocorrem à sua volta. Eles<br />
sabem que as coisas não voltarão ao normal<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cada crise, mas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />
forma que po<strong>de</strong> ser totalmente diferente.<br />
De qualquer modo, é doloroso viver a<br />
”<strong>de</strong>struição criativa” no momento em que<br />
ela ocorre, com o fechamento <strong>de</strong> empresas<br />
e corte <strong>de</strong> empregos Para quem per<strong>de</strong>u seu<br />
negócio ou emprego, a <strong>de</strong>struição é apenas<br />
<strong>de</strong>strutiva.<br />
6 DEZEMBRO DE 2009
Nomes&Notas<br />
COMO SER FELIZ COM 75% A MENOS NO CONTRACHEQUE<br />
Um leitor nos<br />
escreveu para criticar<br />
<strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>. Disse<br />
que a revista apenas<br />
trata dos bons<br />
negócios e das<br />
empresas <strong>de</strong> sucesso<br />
e se esquece <strong>de</strong><br />
oferecer <strong>um</strong>a palavra<br />
<strong>de</strong> apoio a<br />
empresários em<br />
dificulda<strong>de</strong>s, como<br />
ele. Ou a executivos<br />
que per<strong>de</strong>ram o<br />
emprego. Ora, pois,<br />
nós temos essa<br />
palavra <strong>de</strong><br />
aconselhamento.<br />
Aliás, são muitas, que<br />
dividimos nos itens<br />
abaixo:<br />
Não se <strong>de</strong>ixe<br />
h<strong>um</strong>ilhar – A<br />
primeira coisa é não<br />
se sentir h<strong>um</strong>ilhado<br />
com a crise pessoal<br />
que, temos certeza,<br />
será passageira. Você<br />
<strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar<br />
como <strong>um</strong>a<br />
circunstância da vida<br />
a sua queda na<br />
receita e, por<br />
extensão, sua<br />
exclusão <strong>de</strong> alguns<br />
círculos sociais. Você<br />
mesmo já <strong>de</strong>ve ter<br />
ouvido que a vida é<br />
<strong>um</strong>a roda gigante. Sei que a crise parece<br />
interminável, mas não será.<br />
Aperte o cinto – Como sua empresa já<br />
fechou as portas ou você per<strong>de</strong>u seu<br />
magnífico emprego, aja como <strong>um</strong><br />
<strong>de</strong>sempregado ou ex-empresário.<br />
Aprenda a viver com o mínimo <strong>de</strong><br />
conforto e sem o <strong>de</strong>sperdício da vida<br />
anterior. Não resista aos cortes nas<br />
<strong>de</strong>spesas. Seja h<strong>um</strong>il<strong>de</strong> o suficiente para<br />
aceitar serviços temporários. Venda <strong>um</strong><br />
dos seus carros e, se possível, todos eles.<br />
Corte jantares em restaurantes –<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
Mesmo em casa, coma menos. É<br />
provável que emagreça e subitamente<br />
você possa a caber <strong>de</strong>ntro daquelas<br />
roupas encostadas. Olha que maravilha:<br />
você po<strong>de</strong>rá usar roupas <strong>de</strong> três anos<br />
atrás e se <strong>de</strong>para com <strong>um</strong> guarda-roupa<br />
quase inteiramente novo à sua<br />
disposição<br />
Prepare-se para viver sozinho –<br />
Quando a crise é brava, é provável até<br />
que sua mulher o abandone. Na primeira<br />
aula <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> Família, os professores<br />
cost<strong>um</strong>am lembrar que, quando o<br />
infortúnio bate à porta, o amor foge pela<br />
ACIR GALVÃO<br />
janela. Mas talvez<br />
seja melhor assim.<br />
Nem todas as<br />
mulheres são como<br />
Amélia. Uma boa<br />
parte gosta mesmo é<br />
<strong>de</strong> luxo e riqueza.<br />
Isso, no momento,<br />
você não po<strong>de</strong><br />
oferecer.<br />
O bom e o barato<br />
andam juntos –<br />
Tudo na vida é<br />
passageiro, e quando<br />
a brisa da<br />
prosperida<strong>de</strong> soprar<br />
novamente em seu<br />
caminho, você<br />
perceberá que<br />
precisava <strong>de</strong> quase<br />
nada da ostentação<br />
do passado.<br />
Recentemente, o<br />
empresário Pedro<br />
Paulo Dr<strong>um</strong>ond,<br />
proprietário da re<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> lojas Cia. do<br />
Terno, lembrou que<br />
o barato nem sempre<br />
é <strong>um</strong> produto ruim.<br />
Ele ven<strong>de</strong> bons<br />
ternos a menos <strong>de</strong><br />
R$ 100,00. Suas<br />
camisas sociais<br />
custam R$ 34,00. Sua<br />
empresa está há mais<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos no<br />
mercado. O segredo:<br />
as roupas são confeccionadas na China,<br />
on<strong>de</strong> os impostos são baixos e os<br />
salários mais baixos ainda. Pedro sempre<br />
diz que os melhores carros brasileiros<br />
são os mais baratos, citando o Gol, o<br />
Pálio e o Uno que são, também, os<br />
preferidos dos brasileiros. Em res<strong>um</strong>o, o<br />
barato não é <strong>um</strong>a coisa naturalmente<br />
ruim ou vergonhosa. Po<strong>de</strong> ser, na<br />
verda<strong>de</strong>, a solução inteligente.<br />
Trabalhe muito – Trabalhe e mantenha<br />
a esperança <strong>de</strong> que a prosperida<strong>de</strong> salte<br />
do seu escon<strong>de</strong>rijo e grite para você: “Ei!<br />
Eu estou <strong>de</strong> volta!”.<br />
7
Nomes&Notas<br />
BRASÍLIA BOICOTA RODOVIAS DE AÉCIO<br />
Des<strong>de</strong> o início do seu governo, há sete anos, Aécio Neves executa <strong>um</strong> fantástico<br />
programa rodoviário que consiste em levar estrada asfaltada a 225 municípios mineiros<br />
que ainda viviam na ida<strong>de</strong> da pedra no setor <strong>de</strong> rodovias. Somente quem mora nesses<br />
lugarejos, alguns a mais <strong>de</strong> mil quilômetros <strong>de</strong> distância da capital, conhece o tormento<br />
<strong>de</strong> trafegar, ano após ano, naquelas rodovias que, quando não estão enlameadas, são<br />
poeira pura. Após muito esforço e investimento, o programa po<strong>de</strong>ria estar<br />
integralmente concluído em janeiro <strong>de</strong> 2010 e a promessa c<strong>um</strong>prida.<br />
Mas a obra não ficará totalmente pronta, por causa do <strong>de</strong>scaso fe<strong>de</strong>ral. Seis<br />
municípios continuarão sem ligação com o asfalto. É que eles são servidos por supostas<br />
rodovias fe<strong>de</strong>rais, que só existem na imaginação dos<br />
incompetentes dirigentes do DNIT, em Brasília.<br />
Apesar disso, aquelas s<strong>um</strong>ida<strong>de</strong>s não transferem<br />
a administração das estradas para o governo<br />
estadual. No entanto, se os homens do DNIT não<br />
fossem tão obtusos ou mal intencionados, as<br />
cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Jacinto e Salto da Divisa não<br />
apenas teriam rodovias pavimentadas, mas<br />
permitiriam que a alta burocracia <strong>de</strong><br />
Brasília e suas ilustres famílias<br />
pu<strong>de</strong>ssem ir por estradas asfaltadas<br />
até as belíssimas praias <strong>de</strong> Porto<br />
Seguro e Ajuda.<br />
Aquelas duas sofridas cida<strong>de</strong>s<br />
estão no caminho entre a maciota<br />
fe<strong>de</strong>ral e as belas praias do litoral. É claro<br />
que os moradores <strong>de</strong> Jacinto e do Salto<br />
da Divisa irão se lembrar <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>scaso<br />
nas próximas eleições, castigando os<br />
que fizeram <strong>de</strong> tudo para prejudicar a<br />
gran<strong>de</strong> obra rodoviária fe<strong>de</strong>ral do<br />
governador mineiro.<br />
QUEM GOSTA DE<br />
DINHEIRO,<br />
GUARDA<br />
SEIS PESSOAS QUE VOCÊ DEVE ESCALAR NO SEU TIME<br />
Outro leitor nos indaga po<strong>de</strong>r on<strong>de</strong><br />
passa a estrada do sucesso. Temos esta<br />
resposta (que nos foi passada por três<br />
consultores <strong>de</strong> confiança): O sucesso<br />
não é <strong>um</strong> esporte individual. Você<br />
precisa <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong> muitas pessoas ao<br />
longo da sua vida. Gente com quem<br />
tabelar ou <strong>de</strong> quem receber <strong>um</strong><br />
lançamento que o colocará na cara do<br />
gol. Aqui, alg<strong>um</strong>as pessoas<br />
absolutamente indispensáveis no time<br />
<strong>de</strong> sucesso que você irá montar na sua<br />
ativida<strong>de</strong> empresarial:<br />
O pessimista positivo – é alguém<br />
que o alerta para os perigos e as<br />
armadilhas da vida e dos negócios.<br />
Mas nunca o <strong>de</strong>sanima. Ele mostra<br />
os obstáculos a serem superados e<br />
os problemas a serem resolvidos.<br />
Mas nunca trata problemas como<br />
dificulda<strong>de</strong>s impossíveis <strong>de</strong> serem<br />
vencidas.<br />
O visionário – Todo mundo precisa<br />
<strong>de</strong> alguém que aponte seus olhos para<br />
as estrelas. É inspirador estar próximo<br />
<strong>de</strong> pessoas que enxergam o potencial e<br />
O inesquecível fazen<strong>de</strong>iro e poeta<br />
Emanuel Campos, da perdida cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Jacinto, no Vale do<br />
Jequitinhonha, lamentou durante<br />
toda a vida que seus filhos não<br />
gostassem <strong>de</strong> dinheiro. A cada <strong>um</strong><br />
da sua n<strong>um</strong>erosa prole que ia lhe<br />
pedir a mesada, ele aconselhava a<br />
gostar <strong>de</strong> dinheiro. “Quem gosta <strong>de</strong><br />
dinheiro, guarda”, dizia, sabiamente.<br />
Ele, sim, sabia da importância do<br />
dinheiro: levava <strong>um</strong>a vida frugal,<br />
mas dispunha <strong>de</strong> tudo o que<br />
necessitou durante toda a vida.<br />
Comprava apenas os sapatos e<br />
roupas que iria usar e quase sempre<br />
até o fim da vida útil <strong>de</strong> cada <strong>um</strong>a<br />
<strong>de</strong>ssas peças. Nada lhe faltou.<br />
Deixou muitas terras, que<br />
<strong>de</strong>sapareceram rapidamente nas<br />
mãos dos muitos her<strong>de</strong>iros.<br />
Infelizmente, eles nunca se<br />
lembraram do gran<strong>de</strong> ensinamento:<br />
“Ninguém precisa <strong>de</strong> muito para ser<br />
feliz. A poupança leva à liberda<strong>de</strong>. A<br />
dívida é o caminho para a<br />
escravidão”, dizia, acertadamente.<br />
8 DEZEMBRO DE 2009<br />
OMAR FREIRE/IMPRENSA MG
Nomes&Notas<br />
LATICÍNIOS ITAMBÉ CRIAM REVISTA<br />
PARA FALAR COM FAZENDEIROS<br />
A Cooperativa Central dos Produtores Rurais, que<br />
industrializa, com a marca Itambé, o leite e seus <strong>de</strong>rivados,<br />
vai <strong>de</strong>flagrar agora em fevereiro <strong>um</strong>a ampla campanha<br />
educativa junto aos seus milhares <strong>de</strong> cooperados. O<br />
<strong>de</strong>staque para a campanha será a edição <strong>de</strong> <strong>um</strong>a revista,<br />
iniciativa que parece mo<strong>de</strong>sta, mas não<br />
é. A Cooperativa contratou <strong>um</strong>a equipe<br />
<strong>de</strong> pesquisas, chefiada pelo renomado<br />
técnico Sebastião Teixeira, da<br />
Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Viçosa, que ouviu<br />
mais <strong>de</strong> cinco mil fazen<strong>de</strong>iros e chegou<br />
a <strong>um</strong>a conclusão surpreen<strong>de</strong>nte: a<br />
principal fonte <strong>de</strong> informação do<br />
fazen<strong>de</strong>iro é o vizinho; em segundo<br />
lugar aparece o programa <strong>de</strong> televisão<br />
Globo Rural. Somente em terceiro lugar<br />
surgem as informações técnicas <strong>de</strong><br />
agrônomos, tanto do governo, quanto<br />
da própria cooperativa.<br />
Segundo a direção da Itambé, o<br />
resultado da pesquisa mostra que o<br />
fazen<strong>de</strong>iro se orienta pela informação<br />
mais próxima, como a televisão, que<br />
fica na sua sala ou até mesmo nos<br />
aposentos íntimos. Mas ele é também<br />
absolutamente favorável à adoção <strong>de</strong><br />
novas técnicas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sejam<br />
mostradas <strong>de</strong> forma clara e inteligível,<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
acreditam no futuro. Ele vão estimular os<br />
seus sonhos e valorizar suas i<strong>de</strong>ias<br />
O especialista em implementação –<br />
Todos os sonhos nada significam se você<br />
não souber fazê-los acontecer. Esse tipo <strong>de</strong><br />
gente o ajuda a tornar a caminhada mais<br />
fácil.<br />
O torcedor emocional – Este está<br />
sempre do seu lado no momento das<br />
gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s. Ele lhe oferece apoio<br />
e o ajuda a perseverar na caminhada, sem<br />
nunca <strong>de</strong>sistir. O apoio emocional po<strong>de</strong> vir<br />
<strong>de</strong> mil maneiras. Às vezes é apenas o<br />
ouvido para escutar as suas dúvidas.<br />
pois a sua utilização repercute sempre em acréscimo <strong>de</strong><br />
receita pelo leite fornecido. Hoje, segundo o presi<strong>de</strong>nte da<br />
Itambé, Jacques Gontijo, a totalida<strong>de</strong> dos fazen<strong>de</strong>iros que<br />
fornecem mais <strong>de</strong> 500 litros por dia tem or<strong>de</strong>nha mecânica<br />
em suas proprieda<strong>de</strong>s. Além disso, mesmos os pequenos<br />
produtores dispõem <strong>de</strong> refrigerador <strong>de</strong><br />
leite junto aos estábulos.<br />
Segundo Gontijo, a Itambé sempre<br />
cresceu o dobro da expansão do PIB<br />
brasileiro e, em <strong>de</strong>corrência do fato,<br />
sua expectativa é a <strong>de</strong> que a CCPR<br />
cresça pelo menos 12% em 2010. No<br />
plano externo, ele acredita que as<br />
exportações serão retomadas. Por<br />
conta da crise internacional, o leite em<br />
pó, que era exportado por US$<br />
5.600,00 a tonelada, teve seu preço<br />
reduzido para US$ 1.700,00. “Mas os<br />
pedidos estão voltando” afirmou.<br />
A Itambé é a maior indústria <strong>de</strong><br />
laticínios com capital nacional, conta<br />
com 31 cooperativas, sendo 29<br />
associadas, 8.000 fornecedores <strong>de</strong> leite<br />
e capta aproximadamente cem milhões<br />
<strong>de</strong> litros <strong>de</strong> leite por mês. Emprega<br />
3.500 pessoas. Suas receitas anuais são<br />
superiores a R$ 2 bilhões.<br />
ITAMBÉ/DIVULGAÇÃO<br />
O perito no assunto – Seja qual for o seu<br />
caminho, há pessoas que sabem mais do<br />
que você sobre o assunto do seu interesse.<br />
Elas, provavelmente, apenas não têm<br />
coragem <strong>de</strong> buscar o próprio negócio.<br />
I<strong>de</strong>ntifique essas pessoas e busque seu<br />
aconselhamento.<br />
Os experientes – Nunca tente reinventar<br />
a roda. Dedique-se a outro tema pois a<br />
roda já existe. Procure pessoas que<br />
trilharam o caminho que você <strong>de</strong>seja<br />
seguir. É provável que tenham aprendido<br />
muita coisa com o sofrimento. E você<br />
evitará esse drama, caso as informações<br />
lhe mostrem o caminho das pedras.<br />
SXC<br />
9
ENTREVISTA Marcio Lacerda/Prefeito <strong>de</strong> Belo Horizonte<br />
O primeiro ano <strong>de</strong> governo<br />
do socialista Márcio Lacerda<br />
Prefeito preparou o terreno, em 2009,<br />
para gran<strong>de</strong>s investimentos na cida<strong>de</strong>,<br />
a partir <strong>de</strong>ste ano<br />
DURVAL GUIMARÃES<br />
N<strong>um</strong>a época em que se leem e se ou -<br />
vem tantas notícias <strong>de</strong>vastadoras<br />
so bre a administração do dinheiro<br />
público, Belo Horizonte se revela <strong>um</strong>a ci da -<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong> sorte. Dos prefeitos <strong>de</strong> todas as ci da -<br />
<strong>de</strong>s brasileiras, Lacerda é, pessoalmente o<br />
mais rico. Basta <strong>um</strong> exame nas <strong>de</strong>clarações<br />
<strong>de</strong> bens que os can di datos apresentaram na<br />
época elei to ral. Mais ainda: apesar <strong>de</strong> dono<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fortuna, sempre revelou <strong>um</strong><br />
imenso <strong>de</strong>sa pego pelos bens materiais. É o<br />
que dizem seus ex-companheiros <strong>de</strong> luta armada.<br />
Segundo os seus quase cem compa nhei -<br />
ros <strong>de</strong> prisão, encarcerados no período da<br />
ditadura, Márcio Lacerda (PSB) jamais se<br />
esqueceu <strong>de</strong>les. Principalmente <strong>de</strong>pois que<br />
fo ram jogados na rua, sem trabalho ou<br />
qual quer fonte <strong>de</strong> renda. A uns <strong>de</strong>u empre -<br />
go; e a outros emprestou dinheiro, que jamais<br />
recebeu <strong>de</strong> volta. Para <strong>um</strong> terceiro<br />
gru po, que incluía o ex-prefeito Fernando<br />
Pi mentel, assinou a carteira profissional,<br />
com o propósito <strong>de</strong> iludir os entrevistadores<br />
das empresas on<strong>de</strong> eles iam buscar <strong>um</strong>a co -<br />
lo cação <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>.<br />
Quando saiu da prisão, com todas as<br />
por tas fechadas para ele, Márcio Lacerda<br />
foi obrigado a montar sua própria empresa.<br />
Com sucesso total: pouco tempo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
cria da, sua empresa <strong>de</strong> instalação <strong>de</strong> linhas<br />
te lefônicas, a Construtel, chegou a faturar<br />
US$ 500 milhões anuais. Por conta da capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> trabalho e da criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Márcio. Mais ainda, tornou-se <strong>um</strong>a multina<br />
cional, com negócios em vários países da<br />
América do Sul.<br />
É justo lembrar a prisão daqueles jovens<br />
estudantes que, como ele, pegaram em ar -<br />
mas e arriscaram a vida (muitos morreram<br />
sob tortura ou tiro) em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> <strong>um</strong> i<strong>de</strong>al.<br />
Consi<strong>de</strong>rados elementos <strong>de</strong> alta periculosida<strong>de</strong>,<br />
foram isolados na penitenciária <strong>de</strong><br />
Linhares, em Juiz <strong>de</strong> Fora, inteiramente<br />
reservada para eles. Por qualquer ato consi<strong>de</strong>rado<br />
indisciplinar, eram colocados na<br />
solitária, privados até <strong>de</strong> ver a luz do dia.<br />
Muitos <strong>de</strong>sses jovens, hoje respeitáveis<br />
senhores <strong>de</strong> cabelos brancos, são seus companheiros<br />
na Prefeitura. E, pelas ironias da<br />
História, chegaram ao po<strong>de</strong>r não pelo terror<br />
da armas, mas pela força <strong>de</strong>mocrática dos<br />
votos. Então, chega a ser bizarro dizer que<br />
Márcio não tem experiência política. Logo<br />
ele, que teve tanta militância na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>.<br />
Pouca gente sabe, mas Márcio, durante<br />
toda a vida <strong>de</strong> empresário, foi o<br />
si lencioso mantenedor do Partido Popular<br />
Socialista, sucessor do velho Partido Comunista<br />
Braseiro. Na Construtel, distribuía,<br />
anualmente, os lucros entre os seus funcio -<br />
nários. E, quando a ven<strong>de</strong>u, repartiu 20%<br />
do dinheiro com todos os empregados. As<br />
faxineiras mais mo<strong>de</strong>stas, por exemplo, ga -<br />
nharam pelo menos US$ 20 mil cada <strong>um</strong>a,<br />
n<strong>um</strong>a doação até hoje sem similar no país.<br />
Uma coisa é alguém <strong>de</strong>dicar sua vida à<br />
luta política. Outra, bem diferente, é admi -<br />
nis trar <strong>um</strong>a cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> todas as correntes<br />
políticas e interesses <strong>de</strong>vem conviver civilizadamente.<br />
Isso, sim, é <strong>um</strong>a experiência<br />
que Márcio vivencia pela primeira vez na<br />
vida, aos 60 anos.<br />
No seu primeiro dia <strong>de</strong> administração,<br />
não houve <strong>um</strong> batismo <strong>de</strong> fogo. Mas <strong>um</strong><br />
dilúvio das águas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a tempesta<strong>de</strong> que<br />
inundou a cida<strong>de</strong>, atingiu milhares <strong>de</strong> casas<br />
e levou famílias ao <strong>de</strong>sespero. Terá sido <strong>um</strong><br />
bom começo do trabalho <strong>de</strong> Márcio para<br />
ad ministrar a complexa, inquieta e galopante<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte?<br />
“<br />
Temos <strong>um</strong> gran<strong>de</strong><br />
programa <strong>de</strong> <strong>obras</strong>,<br />
ÉLCIO<br />
que será <strong>de</strong>flagrado após<br />
as chuvas <strong>de</strong> verão. Já<br />
contratamos muitos<br />
projetos executivos para<br />
novas <strong>obras</strong>”.<br />
<strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> - O senhor ass<strong>um</strong>iu a pre -<br />
fei tura <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> chuva. E elas se re pe ti -<br />
ram fortemente várias vezes no ano. Como<br />
é governar sob as águas?<br />
Na noite do meu primeiro dia <strong>de</strong> gover -<br />
no, houve <strong>um</strong>a chuva <strong>de</strong>vastadora. Mais <strong>de</strong><br />
três mil residências foram invadidas pelas<br />
águas ou sofreram alg<strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> dano. Foi<br />
<strong>um</strong> sofrimento enorme para a população.<br />
Mas, reagimos, no ato. O resultado é que ho -<br />
je temos <strong>um</strong> mapa <strong>de</strong>talhado e seguro das<br />
áreas <strong>de</strong> inundação. Sabia que aqui em Belo<br />
Horizonte são mais <strong>de</strong> 80? Esse mapa é no -<br />
vida<strong>de</strong>, original. Nem São Paulo, castigada<br />
in tensamente com inundações quase crônicas,<br />
tem esse diagnóstico.Na verda<strong>de</strong>, estamos<br />
dando continuida<strong>de</strong> a <strong>um</strong> trabalho <strong>de</strong><br />
prevenção <strong>de</strong> riscos: já retiramos <strong>de</strong>z mil<br />
famílias <strong>de</strong> áreas sujeitas a <strong>de</strong>sabamento.<br />
Claro que, em quatro anos, não resolveremos<br />
todos esses problemas, por falta <strong>de</strong> recur<br />
sos financeiros. Mas, com certeza, o<br />
pro blema daquela área da Avenida Teresa<br />
Cristina, que tinha inundações frequentes,<br />
se rá resolvido em menos <strong>de</strong> dois anos.<br />
Qual a marca do seu primeiro ano <strong>de</strong> ad mi -<br />
nistração?<br />
Nós colocamos em marcha o nosso plano<br />
<strong>de</strong> governo, divulgado durante a campanha<br />
e lei toral. Conseguimos formatar <strong>um</strong> plano estratégico,<br />
com visão <strong>de</strong> longo prazo. Esta be -<br />
lecemos <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão, que consis te<br />
no acompanhamento <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong> cada obra,<br />
<strong>de</strong> cada ação. Criamos 12 áreas <strong>de</strong> resultados<br />
10 DEZEMBRO DE 2009<br />
PARAÍSO
DEZEMBRO DE 2009 11
“<br />
Estamos procurando<br />
alternativas <strong>de</strong><br />
investimento privado,<br />
sobretudo em concessões.<br />
Lançamos consultas ao<br />
mercado. Vamos ver se<br />
aparecem interessados na<br />
construção <strong>de</strong> garagem e<br />
<strong>de</strong> estacionamentos<br />
subterrâneos”.<br />
e, em cada <strong>um</strong>a <strong>de</strong>las, <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> nú mero <strong>de</strong><br />
ações. Eu me reúno <strong>um</strong>a vez por mês com os<br />
gerentes e <strong>de</strong>mais profissionais envolvidos<br />
em cada projeto. Acompanho no computador<br />
<strong>de</strong> meu gabinete projeto a projeto, incluindo<br />
os recursos já aplicados e o estágio dos<br />
serviços. Não consigo me imaginar na chefia<br />
da cida<strong>de</strong> sem <strong>um</strong> plano, sem <strong>um</strong> r<strong>um</strong>o.<br />
Mas em termos <strong>de</strong> <strong>obras</strong>, o que efe ti va -<br />
men te foi colocado em marcha?<br />
Eu ass<strong>um</strong>i o governo em plena crise e co -<br />
nô mica internacional e n<strong>um</strong> momento <strong>de</strong> inse<br />
gurança. Havia cerca <strong>de</strong> 200 <strong>obras</strong> em<br />
an damento ou se iniciando. Obras gran<strong>de</strong>s<br />
ou pequenas. Nós não paralisamos nenh<strong>um</strong>a<br />
<strong>de</strong> las, nem reduzimos o ritmo. O que fizemos<br />
foi não iniciar nenh<strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> obra.<br />
Só as <strong>de</strong> emergência, pois não adianta co -<br />
me çar obra alg<strong>um</strong>a sem garantir recursos<br />
pa ra as que já existem. Ao mesmo tempo,<br />
<strong>de</strong>senvol vemos <strong>um</strong> rigoroso programa <strong>de</strong><br />
controle das receitas e <strong>de</strong>spesas. Já no segundo<br />
semes tre <strong>de</strong>ste ano, nos sentimos em<br />
con di ções <strong>de</strong> atacar novas <strong>obras</strong>. O resultado<br />
é que mantivemos praticamente os mesmos<br />
cus tos <strong>de</strong> 2008, conseguindo investir 22%<br />
da nossa receita corrente líquida. Belo Ho ri -<br />
zon te foi a capital brasileira que mais inves -<br />
tiu – mais <strong>de</strong> R$ 686 milhões, retirados <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong>a receita corrente <strong>de</strong> R$ 3 bilhões. Em<br />
seguida, veio Campo Gran<strong>de</strong>, no Mato Gros -<br />
so do Sul, com 18% da receita corrente. O<br />
Rio investiu apenas 3%. Investimos R$ 670<br />
mi lhões <strong>de</strong> receitas próprias em <strong>obras</strong>.<br />
O senhor conseguirá repetir esse <strong>de</strong> sem -<br />
pe nho em 2010?<br />
Investiremos ainda mais, pois, como dis -<br />
se anteriormente, em 2009 apenas pre pa ra -<br />
mos nossa caminhada. Temos <strong>um</strong> gran<strong>de</strong><br />
pro grama <strong>de</strong> <strong>obras</strong> que será <strong>de</strong>flagrado após<br />
12<br />
as chuvas <strong>de</strong> verão. Já contratamos muitos<br />
pro jetos executivos para novas <strong>obras</strong>. Vamos<br />
lançar licitações no primeiro trimestre para<br />
<strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> <strong>obras</strong> maiores e significativas,<br />
como o Hospital Metropolitano, que<br />
será erguido no Barreiro. Iremos duplicar a<br />
avenida Pedro I (após a Lagoa da Pampulha,<br />
em direção ao aeroporto <strong>de</strong> Confins). Também<br />
construiremos a primeira rota do Transpor<br />
te Rápido por ônibus, seguindo os<br />
mo <strong>de</strong>los <strong>de</strong> Curitiba e Bogotá. Há ainda ou -<br />
tro gran<strong>de</strong> conjunto <strong>de</strong> <strong>obras</strong>, como o proje -<br />
to Vila Viva, no Aglomerado Santa Lú cia.<br />
Para essas <strong>obras</strong>, estamos com R$ 550 mi lhões<br />
em caixa <strong>de</strong> recursos provenientes <strong>de</strong><br />
financiamentos liberados ao lon go <strong>de</strong> 2009.<br />
Estamos <strong>de</strong>talhando os projetos, preparando<br />
as licitações. Felizmente, nos sas receitas<br />
próprias não foram atingidas pe la crise, embora<br />
houvesse sensíveis reduções nos<br />
repasses dos governos fe<strong>de</strong>ral e estadual.<br />
A prefeitura preten<strong>de</strong> atrair investidores<br />
pri vados para <strong>obras</strong> públicas?<br />
Estamos procurando alternativas <strong>de</strong> investimento<br />
privado, sobretudo em concessões.<br />
Lançamos consultas ao mercado,<br />
por meio dos Procedimentos <strong>de</strong> Manifestações<br />
<strong>de</strong> Interesse (PMI), previstos na lei<br />
que instituiu as Parcerias Público-Privadas<br />
(PPP). Vamos ver se aparecem interessados<br />
na construção e na exploração <strong>de</strong> edifíciosgaragem,<br />
<strong>de</strong> estacionamentos subterrâneos<br />
em <strong>BH</strong>. Vamos ver quem apresentará i<strong>de</strong>ias<br />
para, com base nelas, prepararmos os editais.<br />
Lançamos também consultas para a<br />
construção <strong>de</strong> complexos comerciais subterrâneos<br />
para pe<strong>de</strong>stres, como já existem na<br />
Europa. Abriremos também, nesses locais,<br />
a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> estacionamentos.<br />
Uma das áreas previstas será em<br />
frente ao Palácio da Liberda<strong>de</strong>.<br />
Como a prefeitura vai gerenciar os pro je tos?<br />
Os empresários sugeriram muitas i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong><br />
concessões. Como não temos recursos h<strong>um</strong>anos<br />
para examinar <strong>de</strong>talhadamente cada<br />
proposta, assinamos, em 1º <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
2009, convênio com o Banco Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />
Econômico e Social (BNDES),<br />
que conta com parceiros privados para isso. Os<br />
projetos serão sem custos para a prefeitura e incluirão<br />
até estudos <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> eco nô mica.<br />
Até a proposta <strong>de</strong> edital será apresenta da pelo<br />
banco. Entre os projetos que o banco es tatal<br />
formata para nós, estão incluídos o Centro <strong>de</strong><br />
Convenções, <strong>um</strong>a nova rodoviária, <strong>obras</strong><br />
viárias e o mercado distrital do Cru zeiro.<br />
ÉLCIO PARAÍSO<br />
“<br />
Pelo menos doze<br />
novos hotéis <strong>de</strong>verão<br />
ter suas <strong>obras</strong> iniciadas<br />
nos próximos meses,<br />
a<strong>um</strong>entando em mais <strong>de</strong><br />
1.500 leitos novos a<br />
capacida<strong>de</strong> da re<strong>de</strong><br />
hoteleira da cida<strong>de</strong>”.<br />
DEZEMBRO DE 2009
A direção do BNDES me informou que há<br />
muitos bancos privados interessados em participar<br />
do financiamento <strong>de</strong> <strong>obras</strong> públicas,<br />
mas ainda não existem projetos prontos para<br />
serem executados e financiados. A proposta do<br />
banco estatal é viabilizar esses financiamentos.<br />
Então, o BNDES e esses bancos privados<br />
criaram <strong>um</strong>a empresa <strong>de</strong>nominada Estruturadora<br />
Brasileira <strong>de</strong> Projetos (EBP), que assinou<br />
o convênio com a Prefeitura. Da nossa<br />
parte, quem vai tocar o convênio, incluído<br />
n<strong>um</strong>a área que gerencia as Parcerias Público-<br />
Privadas, será o Hy pé ri<strong>de</strong>s Atheniense.<br />
O BNDES financiará, então, não apenas a<br />
obra, mas também os projetos?<br />
Sim. Quando <strong>um</strong> banco estuda e financia<br />
<strong>um</strong> projeto, con si <strong>de</strong> ran do-o viável, o<br />
financiamen to da o bra inteira ficará<br />
mui to mais fá cil. Eles<br />
estão cui dando do centro<br />
<strong>de</strong> conven ções,<br />
que pre ten <strong>de</strong> mos<br />
cons truir na<br />
Cris tiano Ma -<br />
cha do, e da<br />
nova ro do -<br />
viária. As<br />
alternativas<br />
<strong>de</strong> ne -<br />
g ó c i o s<br />
são mui -<br />
tas. No<br />
caso do<br />
hospitalmetro<br />
po litano<br />
do Bar reiro,<br />
por exemplo,<br />
há a<br />
hipótese <strong>de</strong><br />
a iniciativa<br />
privada construir<br />
o prédio<br />
e alu gálo<br />
pa ra a pre -<br />
fei tura. De<br />
qual quer for -<br />
ma, <strong>um</strong> edi tal<br />
<strong>de</strong>verá ser pu -<br />
blicado nos próximos<br />
meses.<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
O metrô está in -<br />
cluído nesses<br />
pro jetos?<br />
“<br />
Esperamos que o<br />
metrô seja incluído<br />
nas <strong>obras</strong> do próximo PAC,<br />
que o governo fe<strong>de</strong>ral vai<br />
anunciar no próximo mês<br />
<strong>de</strong> fevereiro. O BNDES já<br />
está avaliando o projeto”.<br />
Esperamos que o metrô seja incluído nas<br />
<strong>obras</strong> do próximo PAC, que o governo fe <strong>de</strong> -<br />
ral vai anunciar no próximo mês <strong>de</strong><br />
fevereiro. O BNDES já está avaliando o proje<br />
to. Nós preten<strong>de</strong>mos criar a alternativa <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong>a parceria público-privada.<br />
Mas a Pre fei tura não pen sa na a tra ção <strong>de</strong><br />
gran <strong>de</strong>s pro je tos industriais pa ra a cida<strong>de</strong>?<br />
Infelizmente, não temos áreas dis po níveis<br />
no muni cípio. Te mos espaço, sim, pa ra empre<br />
endimentos <strong>de</strong> ser viços <strong>de</strong> alta tec nologia;<br />
pa ra projetos nas áreas <strong>de</strong> saú <strong>de</strong> e <strong>de</strong> en genharia;<br />
ou para se -<br />
<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gran -<br />
<strong>de</strong>s grupos,<br />
<strong>de</strong> gran <strong>de</strong>s<br />
empresas.<br />
Não há espaço<br />
para gran<strong>de</strong>s in dústrias,<br />
por isso estamos nos<br />
articulando com nove cida<strong>de</strong>s vi zi -<br />
nhas e criamos a Re<strong>de</strong> Dez. Uma gran<strong>de</strong> indústria,<br />
que se instale n<strong>um</strong>a cida<strong>de</strong> vi zi nha,<br />
também traz gran<strong>de</strong>s benefícios para Belo<br />
Horizonte. O que é até bom para a <strong>de</strong>s -<br />
concentração populacional. Com isso, cria mos<br />
<strong>um</strong> clima <strong>de</strong> cooperação e harmonia com as<br />
cida<strong>de</strong>s vizinhas, ajudando-as, até, na implantação<br />
da nota fiscal e le trônica (nas notas<br />
<strong>de</strong> serviços) e também na extensão da nossa<br />
re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Internet gratuita sem fio para vilas e<br />
aglomerados das cida<strong>de</strong>s vizinhas. Estes são<br />
exemplos <strong>de</strong>ssa cooperação, fundamental<br />
para o <strong>de</strong>senvolvimento e a melhoria da qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> vida da população.<br />
Há outras ações no campo econômico?<br />
Sim. Reativamos o Conselho <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />
Econômico. E aprovamos incentivos<br />
fiscais na área do ISS que irão<br />
aten<strong>de</strong>r, sobretudo, aos novos hotéis que<br />
estão chegando. Pelo menos doze novos<br />
hotéis <strong>de</strong>verão ter suas <strong>obras</strong> iniciadas nos<br />
próximos meses, a<strong>um</strong>entando em mais <strong>de</strong><br />
1.500 leitos novos a capacida<strong>de</strong> da re<strong>de</strong><br />
hoteleira da cida<strong>de</strong>.<br />
Finalmente, será resolvido o problema da<br />
travessia ferroviária <strong>de</strong> Belo Horizonte?<br />
Há mais <strong>de</strong> 40 anos, a população da região<br />
do Horto vive o tormento <strong>de</strong> ver as composições<br />
ferroviárias passando nas portas e nos<br />
quintais <strong>de</strong> suas casas. Há passagens <strong>de</strong> nível<br />
perigosíssimas, sempre causando aci<strong>de</strong>ntes e<br />
mortes. Finalmente, esse drama está com data<br />
marcada para acabar.<br />
Depois <strong>de</strong> muita luta, a prefeitura articulou<br />
<strong>um</strong> acordo da Ferrovia Centro Atlântica<br />
(FCA) com o governo fe<strong>de</strong>ral, que permitirá a<br />
realização das <strong>obras</strong>. Serão investidos mais <strong>de</strong><br />
R$200 milhões na construção <strong>de</strong> viadutos e na<br />
retificação das linhas, n<strong>um</strong>a extensão <strong>de</strong> mais<br />
<strong>de</strong> oito quilômetros. Centenas <strong>de</strong><br />
casas serão <strong>de</strong>sapropriadas<br />
e seus mo -<br />
ra doras receberão residências<br />
no vas, ao mesmo tempo em que<br />
serão construídos parques e áreas<br />
<strong>de</strong> lazer. Será <strong>um</strong>a obra realmente<br />
grandiosa, que será iniciada agora em<br />
2010. A Prefeitura vai participar principalmente<br />
como negociadora <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
empreendimento que parecia impossível<br />
<strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>sentendimento e intransigência<br />
das partes envolvidas.<br />
13
MATÉRIA DE CAPA<br />
37 mineiros que<br />
fizeram diferença<br />
na década<br />
Relação presta homenagem aos mineiros ou resi<strong>de</strong>ntes<br />
em Minas que contribuíram, com seu trabalho e<br />
generosida<strong>de</strong>, para o progresso da socieda<strong>de</strong><br />
DURVAL GUIMARÃES *<br />
Saber reconhecer e valorizar o mérito alheio não é apenas<br />
<strong>um</strong> gesto <strong>de</strong> h<strong>um</strong>ilda<strong>de</strong> n<strong>um</strong> mundo em que as pessoas só<br />
têm olhos para as suas próprias qualida<strong>de</strong>s e acertos. É <strong>um</strong><br />
modo <strong>de</strong> aplaudir aqueles que se tornaram merecedores da nossa<br />
admiração pelo bem que fizeram.<br />
Este é o propósito da iniciativa <strong>de</strong> <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>. Trata-se <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> pretensão esta a <strong>de</strong> selecionar aqueles que mais se<br />
<strong>de</strong>stacaram em toda <strong>um</strong>a década. Por isso, cabe esclarecer que não<br />
se trata <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar todos os que honraram nosso Estado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />
recuados tempos em que os ban<strong>de</strong>irantes subiram as montanhas<br />
em busca do ouro. Nesse caso, a lista teria <strong>de</strong> contemplar o Alferes,<br />
os poetas Inconfi<strong>de</strong>ntes e Santos D<strong>um</strong>ont, entre outros. Toda a<br />
edição, da primeira à última página, seria insuficiente<br />
Decidimos focalizar apenas a década. Ainda assim, temos a<br />
José Salvador Silva<br />
Médico, criador do Hospital Mater<br />
Dei, em Belo Horizonte, que é <strong>um</strong> dos<br />
mais completos e melhores <strong>de</strong> Minas<br />
Gerais. O médico persegue,<br />
incansavelmente, o objetivo <strong>de</strong><br />
transformá-lo n<strong>um</strong>a referência nacional.<br />
José Israel Vargas<br />
Ex-Ministro da Ciência e<br />
Tecnologia e ex-embaixador<br />
do Brasil na UNESCO.<br />
convicção <strong>de</strong> que cometeremos injustiças. Aos injustiçados, as nossas<br />
<strong>de</strong>sculpas: o erro é a gran<strong>de</strong> marca da espécie h<strong>um</strong>ana. Aos esquecidos<br />
pedimos, h<strong>um</strong>il<strong>de</strong>mente, que se consolem com Catão, o<br />
gran<strong>de</strong> romano que não teve estátua no Capitólio.<br />
Iam os estrangeiros a Roma, viam as estátuas <strong>de</strong> varões<br />
famosos e perguntavam pela <strong>de</strong> Catão. A resposta era a maior estátua<br />
<strong>de</strong> todas. Aos outros, o Senado colocou <strong>um</strong>a estátua: a Catão,<br />
o mundo. Essa pergunta e essa admiração são o maior entre todos<br />
os prêmios, segundo o Padre Vieira, que se lembrou do episódio<br />
em <strong>um</strong> dos seus belíssimos sermões.<br />
A lista dos contemplados é <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> da redação <strong>de</strong><br />
<strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>, que foi auxiliada por <strong>um</strong> grupo <strong>de</strong> especialistas,<br />
cuja relação se encontra abaixo. Em seguida, os homenageados,<br />
dispostos aleatoriamente na lista a seguir.<br />
(* Colaboração: Cyro Cunha Melo, José Luís Rocha, José Domingos<br />
Fabris, Valério Fabris, Geraldo Gue<strong>de</strong>s, Olavo Machado Júnior e<br />
Paulo Ângelo <strong>de</strong> Carvalho)<br />
MATER DEI/DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO<br />
14 DEZEMBRO DE 2009
ÉLCIO PARAÍSO<br />
Berthier Ribeiro Neto<br />
Diretor <strong>de</strong> engenharia da<br />
Google no Brasil. Sob o seu<br />
comando, em Belo Horizonte,<br />
<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> pesquisadores se<br />
<strong>de</strong>dicam a aperfeiçoar esse site<br />
<strong>de</strong> buscas para ações em todo<br />
o mundo.<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
DIVULGAÇÃO<br />
Nélson Freire<br />
Os Irmãos Perrela<br />
Pianista. Começou a tocar piano aos<br />
três anos, surpreen<strong>de</strong>ndo a todos com a<br />
apresentação, <strong>de</strong> memória, <strong>de</strong> músicas<br />
que eram tocadas por sua irmã,<br />
igualmente pianista. Premiado nos<br />
principais concursos do mundo.<br />
Des<strong>de</strong> que ass<strong>um</strong>iram a direção do Cruzeiro, Zezé e Alvimar<br />
Perrela fizeram do Cruzeiro <strong>um</strong> clube absolutamente vitorioso. Em<br />
2003, o time foi o vencedor, sucessivamente, do campeonato<br />
mineiro, da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro, n<strong>um</strong>a<br />
inédita tríplice coroa.<br />
15<br />
CRUZEIRO/DIVULGAÇÃO
Irmãos Pe<strong>de</strong>rneiras<br />
Criadores do Grupo Corpo, <strong>um</strong> dos mais importantes e<br />
criativos grupos <strong>de</strong> dança do mundo.<br />
Bernardo Paz<br />
DIVULGAÇÃO<br />
Apaixonado pelo mundo das artes,<br />
este minerador e industrial criou o<br />
Inhotim, que é <strong>um</strong> dos mais importantes<br />
e completos centros internacionais <strong>de</strong><br />
arte contemporânea.<br />
DIVULGAÇÃO<br />
Gustavo Penna<br />
Um dos mais importantes arquitetos<br />
mineiros. Deixou sua marca na<br />
reurbanização da Lagoa da Pampulha, na<br />
Escola Guignard e no Expominas, entre<br />
outras <strong>obras</strong>.<br />
ÉLCIO PARAÍSO<br />
DIVULGAÇÃO<br />
DIVULGAÇÃO<br />
16 DEZEMBRO DE 2009
DIVULGAÇÃO<br />
Jacob Palis Júnior<br />
Matemático, natural <strong>de</strong> Uberaba. É<br />
presi<strong>de</strong>nte da Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong><br />
Ciências e da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Ciências<br />
para o Desenvolvimento do Mundo.<br />
Vitório Medioli<br />
Presi<strong>de</strong>nte da Sempre<br />
Editora, que publica o<br />
SuperNotícia. Este jornal <strong>de</strong>tém<br />
a maior tiragem do país, com<br />
340 mil exemplares diários.<br />
Edita também o jornal O<br />
Tempo, com 40 mil exemplares,<br />
e o semanário Pampulha. Suas<br />
principais ativida<strong>de</strong>s<br />
empresariais, porém, estão no<br />
ramo <strong>de</strong> transportes e na<br />
produção <strong>de</strong> etanol. Todos os<br />
seus empreendimentos são em<br />
Minas, mas o empresário<br />
nasceu em Parma, Itália.<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
DIVULGAÇÃO<br />
DIVULGAÇÃO<br />
Cláudio<br />
Moura Castro<br />
Educador<br />
com trabalho no<br />
Banco<br />
Interamericano<br />
<strong>de</strong><br />
Desenvolviment<br />
o e na<br />
Organização<br />
Internacional do<br />
Trabalho, on<strong>de</strong><br />
foi chefe da<br />
Divisão das<br />
Políticas <strong>de</strong><br />
Formação.<br />
17
Alair Martins<br />
do Nascimento<br />
Fundador do Grupo Martins, com<br />
se<strong>de</strong> em Uberlândia, que é o maior<br />
atacadista do país.<br />
ANTÔNIO CRUZ/ABR<br />
Dilma Roussef<br />
A Ministra Chefe da Casa Civil nasceu<br />
e viveu a infância e a juventu<strong>de</strong> em Belo<br />
Horizonte. Foi aluna da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Ciências Econômicas da UFMG até<br />
mergulhar na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> da luta<br />
armada, no final dos anos 60. Ganhou<br />
notorieda<strong>de</strong> ao compor o ministério <strong>de</strong><br />
Lula.<br />
ÉLCIO PARAÍSO DIVULGAÇÃO<br />
José Salim<br />
Mattar Júnior<br />
Lí<strong>de</strong>r da maior empresa brasileira<br />
<strong>de</strong> locação <strong>de</strong> veículos, a Localiza,<br />
presente em oito países e 361<br />
cida<strong>de</strong>s.<br />
18 DEZEMBRO DE 2009
DIVULGAÇÃO<br />
Gilberto Silva<br />
Jogador <strong>de</strong> futebol da seleção<br />
brasileira, foi campeão na Copa do Mundo<br />
<strong>de</strong> 2002, torneio no qual foi consi<strong>de</strong>rado o<br />
melhor volante apoiador do mundo.<br />
Iniciou sua carreira no América e ganhou<br />
notorieda<strong>de</strong> no Atlético.<br />
Mario Borges Neto<br />
Doutor em Inteligência Artificial<br />
Aplicada à Educação. Na sua<br />
gestão, primeiro como diretor<br />
científico e <strong>de</strong>pois com presi<strong>de</strong>nte,<br />
a Fundação <strong>de</strong> Amparo à Pesquisa<br />
em Minas (Fapemig) multiplicou<br />
por <strong>de</strong>z os seus recursos<br />
<strong>de</strong>stinados à pesquisa e à<br />
inovação no Estado. A Fapemig é<br />
instituição pública.<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
Skank<br />
Em 17 anos <strong>de</strong><br />
carreira e 5,5<br />
milhões <strong>de</strong> CDs e<br />
DVDs vendidos, o<br />
grupo musical se<br />
consolida como<br />
<strong>um</strong> dos mais<br />
criativos e<br />
populares do<br />
país.<br />
DIVULGAÇÃO<br />
19<br />
DIVULGAÇÃO
FIAT/DIVULGAÇÃO<br />
DANIEL DE CERQUEIRA/O TEMPO<br />
Cledorvino Belini<br />
Primeiro profissional brasileiro a<br />
integrar a alta direção mundial do Grupo<br />
Fiat. Comanda <strong>um</strong>a equipe <strong>de</strong> 40 mil<br />
funcionários e a empresa li<strong>de</strong>ra, há<br />
vários anos, a produção e a venda <strong>de</strong><br />
automóveis no Brasil.<br />
Ivo Faria<br />
O gastrônomo <strong>de</strong>scobriu<br />
cedo sua vocação para a<br />
culinária. Aos 14 anos, foi<br />
aluno do Senac. Publicações<br />
especializadas o<br />
consagraram como <strong>um</strong> dos<br />
maiores chefs do Brasil. O<br />
leitor po<strong>de</strong> saborear sua<br />
imensa criativida<strong>de</strong> no<br />
restaurante Vecchio Sogno,<br />
<strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong>. A casa<br />
está localizada anexa ao<br />
prédio da Assembleia<br />
Legislativa.<br />
20 DEZEMBRO DE 2009
Ivan Moura Campos<br />
Um dos mais importantes nomes da<br />
ciência da computação e <strong>um</strong> dos<br />
responsáveis pela implantação da<br />
internet no país.<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
ÉLCIO PARAÍSO<br />
Sheilla Tavares <strong>de</strong> Castro<br />
Principal atleta da seleção brasileira<br />
feminina <strong>de</strong> vôlei, campeã olímpica em<br />
Pequim. Começou sua vitoriosa carreira<br />
no Mackenzie Esporte <strong>de</strong> Clube, na<br />
Savassi, em Belo Horizonte.<br />
DIVULGAÇÃO<br />
Tereza Guimarães Paes<br />
DIVULGAÇÃO<br />
Presi<strong>de</strong>nte do Hospital da Baleia,<br />
instituição <strong>de</strong> benemerência voltada ao<br />
atendimento às camadas mais<br />
<strong>de</strong>samparadas da socieda<strong>de</strong>. Faz 500 mil<br />
atendimentos por ano, 94% pelo SUS.<br />
Mantida pela Fundação Benjamim<br />
Guimarães, criada pelo avô da<br />
homenageada.<br />
21
Aécio Neves<br />
Governou os<br />
mineiros durante<br />
quase toda a<br />
década. Na sua<br />
reeleição, obteve<br />
mais <strong>de</strong> 70% dos<br />
votos, n<strong>um</strong>a vitória<br />
absolutamente<br />
consagradora.<br />
Rubem Menin<br />
Engenheiro,<br />
empresário e<br />
banqueiro. Sua<br />
Construtora MRV<br />
Engenharia é <strong>um</strong>a das<br />
maiores do país.<br />
ÉLCIO PARAÍSO DIVULGAÇÃO<br />
Vicente Falconi<br />
<strong>de</strong> Campos<br />
Fundador do Instituto <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Gerencial<br />
(INDG), que se <strong>de</strong>dica ao<br />
aperfeiçoamento da gestão<br />
das empresas. É <strong>um</strong> dos<br />
mais influentes especialistas<br />
do país na gestão <strong>de</strong><br />
empresas e governos.<br />
DIVULGAÇÃO<br />
22 DEZEMBRO DE 2009
Andrea Neves<br />
Presi<strong>de</strong>nte do<br />
Serviço Voluntário <strong>de</strong><br />
Assistência Social<br />
(Servas). Destacou-se<br />
à frente <strong>de</strong><br />
importantes trabalhos<br />
<strong>de</strong> inclusão social.<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
José Alencar<br />
Gomes da Silva<br />
Vice - presi<strong>de</strong>nte da<br />
República durante quase toda a<br />
década. A luta pela vida <strong>de</strong>u<br />
gran<strong>de</strong> dimensão h<strong>um</strong>ana à<br />
sua trajetória política.<br />
JOSÉ CARLOS PAIVA/DIVULGAÇÃO<br />
ÉLCIO PARAÍSO<br />
23
Eliseu Alves<br />
Um dos criadores da Embrapa,<br />
empresa reconhecida<br />
mundialmente na pesquisa<br />
agrícola. Graças ao trabalho da<br />
instituição, o Brasil mudou <strong>de</strong> lado<br />
no balcão: <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> importar<br />
alimentos para exportá-los.<br />
DIVULGAÇÃO<br />
Estevam Duarte<br />
<strong>de</strong> Assis<br />
Presi<strong>de</strong>nte dos<br />
Supermercados Bretas é<br />
<strong>um</strong>a das maiores re<strong>de</strong>s<br />
do país, com<br />
faturamento acima <strong>de</strong><br />
R$ 2 bi. A <strong>de</strong>speito do<br />
po<strong>de</strong>r, Assis tem sólida<br />
formação religiosa,<br />
mantém voto <strong>de</strong> pobreza<br />
e tudo que recebe como<br />
pessoa física é doado<br />
para <strong>obras</strong> sociais.<br />
WILSON DIAS/ABR<br />
24 DEZEMBRO DE 2009
O Galpão<br />
O grupo teatral<br />
foi criado há 25<br />
anos, mas seu<br />
trabalho e<br />
criativida<strong>de</strong> são<br />
permanentes.<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
ÉLCIO PARAÍSO<br />
EUGÊNIO SÁVIO/DIVULGAÇÃO<br />
ÉLCIO PARAÍSO<br />
Emerson <strong>de</strong><br />
Almeida<br />
Presi<strong>de</strong>nte da<br />
Fundação Dom Cabral.<br />
Transformou <strong>um</strong><br />
simples curso <strong>de</strong><br />
extensão universitária<br />
n<strong>um</strong>a das mais<br />
respeitadas escolas<br />
mundiais <strong>de</strong><br />
treinamento e<br />
aperfeiçoamento <strong>de</strong><br />
executivos. É a 12ª<br />
escola da lista do jornal<br />
Financial Times.<br />
Eduardo<br />
Borges <strong>de</strong><br />
Andra<strong>de</strong><br />
Presi<strong>de</strong>nte do grupo<br />
Andra<strong>de</strong> Gutierrez. À<br />
frente dos negócios do<br />
conglomerado e mais<br />
especificamente da CR –<br />
Concessões Rodoviárias<br />
– exerceu sua li<strong>de</strong>rança<br />
no sentido <strong>de</strong><br />
transformá-lo n<strong>um</strong>a<br />
corporação<br />
multinacional.<br />
25
EDUARDO ROCHA/DIVULGAÇÃO<br />
ÉLCIO PARAÍSO<br />
Marco Antônio Castello Branco<br />
Atual presi<strong>de</strong>nte do Grupo Usiminas. Ainda<br />
como presi<strong>de</strong>nte da Vallourec (ex-Mannesman),<br />
convenceu o grupo a implantar <strong>um</strong>a si<strong>de</strong>rúrgica em<br />
Minas (em Jeceaba). Des<strong>de</strong> a Açominas, ainda nos<br />
anos 70, não se construía <strong>um</strong>a usina no Estado.<br />
Robson Andra<strong>de</strong><br />
Presi<strong>de</strong>nte da Fiemg por seis anos. O<br />
industrial se prepara para disputar a<br />
presidência da Confe<strong>de</strong>ração Nacional<br />
da Indústria, até agora como candidato<br />
único. Des<strong>de</strong> os anos 50, nenh<strong>um</strong><br />
mineiro dirigiu a entida<strong>de</strong> principal dos<br />
industriais brasileiros.<br />
Ricardo Nunes<br />
Comerciante, proprietário da<br />
Ricardo Eletro, <strong>um</strong>a das maiores<br />
re<strong>de</strong>s nacionais <strong>de</strong> venda <strong>de</strong><br />
eletrodomésticos. Começou com<br />
<strong>um</strong>a lojinha <strong>de</strong> 20 metros<br />
quadrados, em Divinópolis.<br />
26 DEZEMBRO DE 2009<br />
DIVULGAÇÃO
DEZEMBRO DE 2009<br />
Natália<br />
Guimarães<br />
Mineira <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong><br />
Fora, conquistou o<br />
mundo com a sua<br />
beleza. Foi Miss Brasil e<br />
se classificou em 2º<br />
lugar no concurso Miss<br />
Universo <strong>de</strong> 2007.<br />
DIVULGAÇÃO<br />
Sérgio Danilo Pena<br />
Geneticista <strong>de</strong> renome internacional.<br />
É autor do livro “Igualmente diferentes”,<br />
que propõe a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />
socieda<strong>de</strong> na qual a singularida<strong>de</strong> do<br />
indivíduo seja valorizada e celebrada.<br />
Esse sonho se harmoniza com o fato<br />
<strong>de</strong>monstrado pela genética mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong><br />
que cada <strong>um</strong> <strong>de</strong> nós tem <strong>um</strong>a<br />
individualida<strong>de</strong> genômica absoluta, que<br />
interage com o ambiente para moldar<br />
<strong>um</strong>a trajetória <strong>de</strong> vida exclusiva.<br />
DIVULGAÇÃO<br />
27
CARTA DE SÃO PAULO<br />
Quem acredita<br />
em trem-bala no Brasil?<br />
Seria muito mais<br />
sensato que fosse<br />
aprovado <strong>um</strong> projeto<br />
mais mo<strong>de</strong>sto,<br />
resolvendo o<br />
congestionamento das<br />
vias <strong>de</strong> acesso aos<br />
principais aeroportos<br />
paulistas, que são<br />
e continuarão sendo<br />
os mais movimentados<br />
do país<br />
KLAUS KLEBER<br />
Já houve quem dissesse que ninguém<br />
po <strong>de</strong> ser contra <strong>um</strong>a estrada no Brasil,<br />
<strong>um</strong> país ainda sub<strong>de</strong>senvolvido, e<br />
mui to, em matéria <strong>de</strong> transporte. Agora, há<br />
am bientalistas que fazem tenebrosas previsões<br />
sobre estradas cortando a Amazônia.<br />
Bem, mas ninguém que eu saiba é contra<br />
transporte em massa sobre trilhos. Mas nes -<br />
se pós-campeonato <strong>de</strong> 2009 – ganho pelo<br />
Flamengo na série A, pelo Vasco na série B<br />
e, não nos esqueçamos, vencido pelo glorio -<br />
so América Futebol Clube, o Deca, na série<br />
C – trem-bala é como <strong>um</strong> sonho <strong>de</strong> <strong>um</strong>a noi -<br />
te <strong>de</strong> chuva torrencial <strong>de</strong> verão. O custo é <strong>de</strong><br />
na da menos <strong>de</strong> R$ 24 bilhões, isto é, o custo<br />
orçado, pois, como já é parte do nosso folclo<br />
re político, <strong>um</strong>a obra <strong>de</strong>sse porte não sai<br />
sem <strong>um</strong> acréscimo <strong>de</strong> 80% a 100%, sem le -<br />
var em conta a inflação e pres<strong>um</strong>indo - o<br />
que é <strong>um</strong>a presunção temerária - que haja<br />
<strong>um</strong> mínimo <strong>de</strong> corrupção.<br />
E quem vai bancar esse Trem <strong>de</strong> Alta Velo<br />
cida<strong>de</strong> (TVA)? O governo, claro, preven -<br />
do-se <strong>um</strong> financiamento <strong>de</strong> R$ 20,9 bilhões<br />
do BNDES, que é a verda<strong>de</strong>ira mãe nacio -<br />
nal. Se será necessário <strong>um</strong> financiamento<br />
pú blico <strong>de</strong>ssa proporção, por que realizar li -<br />
ci tação para a seleção <strong>de</strong> investidores privados<br />
interessados no projeto? Por que o<br />
go verno não banca sozinho a empreitada,<br />
mesmo porque, como mostra a experiência<br />
internacional, esses TVA cost<strong>um</strong>am dar<br />
anos <strong>de</strong> prejuízos ou apresentar baixíssimos<br />
lu cros antes <strong>de</strong> proporcionar <strong>um</strong>a boa remu -<br />
ne ração para os investidores.<br />
Um bom exemplo é o trem-bala sob o<br />
Ca nal da Mancha - o Eurostar -, consi<strong>de</strong>ra -<br />
do <strong>um</strong> péssimo investimento. Até agora, a<br />
<strong>de</strong> manda pelo trem ligando Londres e Paris<br />
em 2 horas e 35 minutos, por terra e pelo<br />
Eu rotúnel, não é compatível com o investimento<br />
feito e, para salvar alg<strong>um</strong>a coisa,<br />
pensa-se em estendê-lo nas pontas inglesa e<br />
francesa.<br />
Turistas estrangeiros, ingleses, franceses<br />
e belgas (há ramal também para Bruxelas)<br />
têm preferido o avião, que faz o percurso <strong>de</strong><br />
Londres a Paris em <strong>um</strong>a hora. E o bra -<br />
sileiros, que vão e vêm <strong>de</strong> São Paulo e Rio,<br />
mui tas vezes em <strong>um</strong> dia só, po<strong>de</strong>riam<br />
preferir a via aérea, se, principalmente, os<br />
ae roportos fossem mais acessíveis.<br />
Já estaria muito bom se tivéssemos <strong>um</strong><br />
metrô que levasse os sofridos viajantes<br />
brasileiros ao aeroporto <strong>de</strong> Guarulhos, evitando<br />
o trânsito nas sempre engarrafada<br />
Marginal do Tietê, que foi feita mesmo para<br />
ser <strong>um</strong>a garrafa. E seria excelente que o<br />
transporte sobre trilhos se esten<strong>de</strong>sse ao<br />
aeroporto <strong>de</strong> Viracopos, alternativa para o<br />
<strong>de</strong> Guarulhos, ou mesmo até Campinas, que<br />
fica a pertinho. Agora, fazer <strong>um</strong> trem-bala<br />
<strong>de</strong> São Paulo até o Rio, gastando bilhões<br />
para fazer <strong>de</strong>sapropriações e remover montanhas,<br />
para ficar pronto até as Olimpíadas<br />
<strong>de</strong> 2016, é aquele tipo <strong>de</strong> obra que fica para<br />
o próximo governo e daí para o próximo e<br />
daí para São Nunca, santo da especial <strong>de</strong>voção<br />
dos nossos homens no po<strong>de</strong>r.<br />
Seria muito mais sensato que fosse apro -<br />
vado <strong>um</strong> projeto mais mo<strong>de</strong>sto, resolvendo<br />
o congestionamento das vias <strong>de</strong> acesso aos<br />
principais aeroportos paulistas, que são e<br />
continuarão sendo os mais movimentados<br />
do país. E que, com o dinheiro que s<strong>obras</strong>se<br />
(se s<strong>obras</strong>se), o governo <strong>de</strong>stinasse os recursos<br />
ao combate das enchentes. Quando<br />
se fala nos problemas <strong>de</strong>ste país abençoado<br />
por Deus, não merecem menção as cheias anuais,<br />
as chamadas catástrofes naturais, que<br />
<strong>de</strong>rrubam encostas, matam muita gente dormindo<br />
e acordada, causam enormes pre jui -<br />
zos aos mais pobres, levam carros na<br />
en xur rada e provocam centenas <strong>de</strong> qui lô me -<br />
tros <strong>de</strong> congestionamento nas me tró po les.<br />
Não estou falando da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />
Paulo. Mas também <strong>de</strong> Belo Horizonte, Por -<br />
to Alegre, Florianópolis, Salvador. E não<br />
estou falando só <strong>de</strong> capitais, mas <strong>de</strong> inú -<br />
meras cida<strong>de</strong>s do interior à margem <strong>de</strong> rios<br />
e <strong>de</strong> lagoas. É <strong>um</strong>a questão séria <strong>de</strong> ha bi ta -<br />
ção e uso do solo que o programa Minha<br />
Casa, Minha Vida não se propõe a resolver.<br />
Parece que o Brasil se esqueceu que é<br />
“<strong>um</strong> país tropical e chuvoso”, como dizia<br />
Tom Jobim. E tome tempesta<strong>de</strong>, e tome <strong>de</strong>sas<br />
tre, <strong>de</strong>ngue, tifo, diarreia e, quem sabe,<br />
febre terçã.<br />
30 DEZEMBRO DE 2009
DURVAL GUIMARÃES<br />
A primeira passeata<br />
gente não esquece<br />
Assim eu via o FMI,<br />
sempre roubando dos<br />
brasileiros e <strong>de</strong> todos os<br />
países in<strong>de</strong>fesos do<br />
mundo. Com o tempo,<br />
percebi que era <strong>um</strong>a<br />
instituição financeira<br />
como outra qualquer e<br />
que os seus <strong>de</strong>vedores<br />
não passavam, quase<br />
sempre, <strong>de</strong> governos<br />
incompetentes, que<br />
recorriam ao seu<br />
dinheiro para cobrir<br />
rombos <strong>de</strong>snecessários<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
Com menos <strong>de</strong> três semanas <strong>de</strong> aulas, eu<br />
ainda não sabia o nome sequer <strong>de</strong> cinco<br />
colegas <strong>de</strong> sala, na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito<br />
da UFMG. Mas estava ali na Avenida Afonso<br />
Pena, a principal <strong>de</strong> Belo Horizonte, gritando<br />
contra a ditadura militar e contra <strong>um</strong> quinteto <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>mônios, dos quais ainda me lembro <strong>de</strong> alguns.<br />
Era <strong>um</strong>a passeata imensa, com a participação <strong>de</strong><br />
milhares <strong>de</strong> estudantes, além <strong>de</strong> funcionários<br />
públicos e sindicalistas, como sempre. Não sou<br />
<strong>um</strong>a pessoa <strong>de</strong>smemoriada, ou atingida pelosas<br />
achaques naturais nas pessoas <strong>de</strong> cabelos brancos.<br />
Mas é que faz muito tempo. Mais <strong>de</strong> 40<br />
anos se passaram, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1967.<br />
Entre aqueles odiados fariseus contra os<br />
quais gritávamos, lembro-me <strong>de</strong> <strong>um</strong>a si<strong>de</strong>rúrgica<br />
norte-americana, <strong>de</strong> nome Bethlehem Ste -<br />
el, que li<strong>de</strong>rava <strong>um</strong> suposto cartel in dus -<br />
trial-militar, que mantinha a dominação do<br />
mundo pela força das armas e do aço. Hoje, por<br />
mais que me esforce, nunca consigo ler o nome<br />
<strong>de</strong>ssa usina nas páginas dos jornais. As únicas<br />
si<strong>de</strong>rúrgicas americanas citadas pela imprensa<br />
são aquelas <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> da Gerdau, que é <strong>um</strong><br />
grupo brasileiríssimo. Havia também <strong>um</strong> misterioso<br />
acordo educacional, <strong>de</strong> nome MEC-<br />
Usaid, que, segundo os panfletos da época,<br />
pretendia <strong>de</strong>ixar os brasileiros ainda mais analfabetos.<br />
Ironicamente, hoje o Brasil é o país dos<br />
cursos superiores e universida<strong>de</strong>s sem que<br />
aquele convênio fosse <strong>de</strong>rrotado.<br />
O maior inimigo, porém, era o Fundo Mo ne -<br />
tário Internacional (FMI), <strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong> agiota<br />
impiedoso, que emprestava dinheiro com o<br />
único propósito <strong>de</strong> nos escravizar. Durante<br />
muitos anos, quando me falavam em FMI, eu<br />
sempre me lembrava <strong>de</strong> “seu” Bernardão, <strong>um</strong><br />
vizinho gordo e displicente em suas roupas, que<br />
emprestava dinheiro na sua oficina mecânica.<br />
Seu escritório era bem nos fundos do terreno,<br />
on<strong>de</strong> fazia orçamentos <strong>de</strong> reparos em automóveis<br />
em qualquer papel e mantinha <strong>um</strong><br />
cofre atrás da sua ca<strong>de</strong>ira.<br />
Sei <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>talhes porque era lá que meu pai<br />
<strong>de</strong>ixava a Rural Willys para <strong>um</strong>a revisão<br />
mecânica, quando vinha do interior para visitar<br />
este seu filho no colégio. Quando a porta do seu<br />
confuso gabinete se mantinha fechada, era sinal<br />
<strong>de</strong> alguém tomando <strong>um</strong> <strong>de</strong>sesperado empréstimo.<br />
Consta que muita gente, que não honrou<br />
os pagamentos, foi ao <strong>de</strong>sespero e até ao suicídio,<br />
temendo perseguições e maltratos por parte dos<br />
guarda-costas do “seu” Bernardão, que nada<br />
faziam na oficina, exceto atemorizar a freguesia.<br />
Assim eu via o FMI, sempre roubando dos<br />
brasileiros e <strong>de</strong> todos os países in<strong>de</strong>fesos do<br />
mundo. Com o tempo, percebi que era <strong>um</strong>a ins -<br />
tituição financeira como outra qualquer e que os<br />
seus <strong>de</strong>vedores não passavam, quase sempre, <strong>de</strong><br />
governos incompetentes, que recorriam ao seu<br />
dinheiro para cobrir rombos absurdos. Por exemplo:<br />
o FMI nunca exigiu que se pagassem<br />
salários <strong>de</strong> R$90 mil aos <strong>de</strong>putados estaduais<br />
mineiros, como ocorreu até recentemente. Ou que<br />
a Assembleia Legislativa mineira tenha tantos<br />
funcionários quanto <strong>um</strong>a usina si<strong>de</strong>rúrgica. De<br />
qualquer forma, era h<strong>um</strong>ilhante, para nós jorna -<br />
lis tas, cobrir os passos dos técnicos daquele ór gão,<br />
que <strong>de</strong>sembarcavam no Galeão para fis calizar,<br />
com suas lupas, a maneira como os brasileiros gastavam<br />
o dinheiro que nos forneciam.<br />
Em Brasília, os gringos eram recebidos por<br />
ministros e presi<strong>de</strong>ntes aflitos, que tudo lhes exi -<br />
biam e se mostravam ansiosos, tentando adivinhar<br />
o significado <strong>de</strong> suas expressões faciais ou gru -<br />
nhidos. Em 2002, empinamos o último papagaio<br />
no FMI. Sacamos US$ 30 bilhões, n<strong>um</strong><br />
tipo <strong>de</strong> acordo, com o aportuguesado (?) nome<br />
<strong>de</strong> stand-by, <strong>de</strong> 15 meses, com valida<strong>de</strong> até<br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2003. Faz tanto tempo essa<br />
história que nem me lembrava <strong>de</strong> <strong>um</strong> importante<br />
<strong>de</strong>talhe: na renovação <strong>de</strong>sse acordo, foi<br />
dado ao país o direito <strong>de</strong> sacar mais US$14<br />
bi lhões. O Brasil recusou a oferta.<br />
As coisas estavam melhorando. Em 2005, o<br />
Brasil <strong>de</strong>cidiu não mais renovar o acordo e<br />
muita gente achou que se tratava apenas <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
arroubo ufanista do presi<strong>de</strong>nte Lula. Finalmente,<br />
agora em 2009, o país emprestou<br />
US$10 bilhões ao mesmo FMI, que infernizou<br />
nossas vidas por quase <strong>um</strong> século. Sim, nós<br />
fazemos parte daquele círculo chique que empresta<br />
di nheiro para a impiedosa instituição financeira<br />
da minha juventu<strong>de</strong>. Já não<br />
pre cisamos mais do dinheiro do “seu” Ber -<br />
nardão para enfrentar nossas <strong>de</strong>spesas tri viais.<br />
Mais que isso, vamos contribuir para aliviar o<br />
<strong>de</strong>sespero <strong>de</strong> outros governos, que enfrentam<br />
os nossos tormentos do passado. Passam pela<br />
minha memória todos os fatos <strong>de</strong>sse finado<br />
2009. Acho que já vi tudo na vida. Nada mais<br />
me surpreen<strong>de</strong>rá. De qualquer forma, encerrada<br />
a passeata, tive a sorte <strong>de</strong> não acre di tar<br />
naquelas bobagens. Ainda bem.<br />
31
CONTA CORRENTE<br />
Os números positivos<br />
aguardados para 2010<br />
Previsões indicam que a economia brasileira irá<br />
crescer 5% neste ano, o que traria mais<br />
investimentos, geração <strong>de</strong> emprego e renda<br />
IEDA MARIA PEREIRA VASCONCELOS (*)<br />
Acrise internacional e o seu gran<strong>de</strong><br />
ápice em setembro <strong>de</strong> 2008<br />
mostraram que fazer previsões é<br />
mesmo <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> muito arriscada e que<br />
po<strong>de</strong> ser comparada a chuvas e trovoadas.<br />
Apesar <strong>de</strong> esperadas, elas sempre po<strong>de</strong>m<br />
surpreen<strong>de</strong>r pela intensida<strong>de</strong>. A maioria das<br />
estimativas caiu por terra com o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sarranjo<br />
observado na economia mundial no<br />
último trimestre <strong>de</strong> 2008. Aquelas que dizem<br />
respeito ao Brasil não foram dife rentes e o<br />
ano 2009 comprova isso. Depois <strong>de</strong> <strong>um</strong> início<br />
difícil, com a recessão técnica confirmada<br />
ao final do primeiro trimestre, eram<br />
aguardadas cicatrizes profundas na economia,<br />
mas não foi isso que aconteceu. O país<br />
surpreen<strong>de</strong>u, venceu a luta contra a crise,<br />
adquiriu mais luz (e brilho) no cenário internacional<br />
e acabou ganhando <strong>um</strong> pouco<br />
mais <strong>de</strong> espaço na agenda global e, com<br />
isso, a chegada <strong>de</strong> 2010 realmente traz <strong>um</strong>a<br />
perspectiva (agora mais concreta) <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
novo tempo.<br />
De 2009, <strong>um</strong>a lembrança positiva po<strong>de</strong><br />
ser a geração <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho formal.<br />
De acordo com os dados do Cadastro Geral<br />
Os mais diversos<br />
analistas projetam nova<br />
expansão no mercado<br />
<strong>de</strong> trabalho formal, com<br />
a criação <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />
dois milhões <strong>de</strong> vagas<br />
(quase o dobro do<br />
observado em 2009).<br />
<strong>de</strong> Empregados e Desempregados (Caged),<br />
divulgados pelo Ministério do Trabalho e<br />
Emprego (MTE), nos primeiros onze meses<br />
do ano o país contabilizou a geração <strong>de</strong> mais<br />
<strong>de</strong> 1,410 milhão <strong>de</strong> novas vagas. Somente<br />
em Minas Gerais, que foi o segundo Estado<br />
que mais criou vagas no país nesse período,<br />
foram mais <strong>de</strong> 140 mil novos postos <strong>de</strong> trabalho.<br />
Sem dúvida, as medidas anticíclicas<br />
foram fundamentais para reativar o motor da<br />
economia: a redução da taxa <strong>de</strong> juros, redução<br />
do IPI para automóveis, linha branca<br />
<strong>de</strong> eletrodomésticos, materiais <strong>de</strong> construção<br />
e redução do compulsório contribuíram para<br />
acelerar o cons<strong>um</strong>o e mostraram a força do<br />
mercado interno.<br />
Os dados existentes atualmente possibilitam<br />
maior chance <strong>de</strong> acerto para as projeções<br />
nacionais e, por isso, quase todas<br />
convergem para o mesmo cenário: crescimento<br />
superior a 5%. Economicamente falando,<br />
espera-se que 2010 realmente seja o<br />
início <strong>de</strong> <strong>um</strong> ciclo virtuoso <strong>de</strong> crescimento<br />
para o país. Isso significa números positivos<br />
na geração <strong>de</strong> emprego e no <strong>de</strong>sempenho<br />
dos diversos setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>. Existem<br />
vários motivos que sinalizam que as estimativas<br />
po<strong>de</strong>m ser confirmadas. As <strong>obras</strong> <strong>de</strong> infraestrutura<br />
que serão necessárias para a<br />
realização da Copa do Mundo em 2014 e<br />
para as Olimpíadas em 2016, o Programa<br />
Minha Casa, Minha Vida e a marca <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
milhão <strong>de</strong> novas moradias, o ano eleitoral, o<br />
esperado crescimento nacional n<strong>um</strong> ritmo<br />
mais acelerado do que a economia mundial,<br />
a retomada dos investimentos industriais e o<br />
Pré-sal são somente alguns exemplos. Como<br />
se vê, existem várias janelas <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s<br />
abertas e, portanto, as projeções<br />
sinalizam a reação do país a todas elas.<br />
Espera-se, ainda, inflação <strong>de</strong>ntro da<br />
meta. Conforme a pesquisa Focus, realizada<br />
pelo Banco Central e divulgada em<br />
28/12/09, os analistas do mercado financeiro<br />
projetam que a inflação ficará no centro da<br />
meta em 2010 (4,5%) o que, caso confirmado,<br />
é <strong>um</strong> resultado bastante positivo. No<br />
rol das boas notícias espera-se, também,<br />
crescimento do vol<strong>um</strong>e <strong>de</strong> crédito. Nesse<br />
contexto, <strong>de</strong>staca-se o crédito imobiliário,<br />
que <strong>de</strong>verá registrar expansão, beneficiando<br />
inúmeras famílias que ainda não conseguiram<br />
realizar o sonho da casa própria.<br />
Recursos do Sistema Brasileiro <strong>de</strong> Poupança<br />
e Empréstimo (SBPE), além do FGTS e do<br />
Programa Minha Casa, Minha Vida, fortalecem<br />
essa estimativa.<br />
Os mais diversos analistas projetam nova<br />
expansão no mercado <strong>de</strong> trabalho formal,<br />
com a criação <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> dois milhões <strong>de</strong><br />
vagas (quase o dobro do observado em<br />
2009). Claro que esse cenário consi<strong>de</strong>ra que<br />
não ocorrerá sobressalto na economia (o que<br />
não é esperado, mas o fôlego nacional<br />
po<strong>de</strong>rá ser reduzido, caso ocorra <strong>um</strong>a piora<br />
no cenário internacional). Aliada a esse<br />
número, também se projeta expansão da<br />
massa salarial.<br />
Estudos realizados pela Comissão<br />
Econômica para América Latina e Caribe<br />
(Cepal) <strong>de</strong>monstram que, em 2010, consi<strong>de</strong>rando<br />
as economias da América Latina,<br />
o Brasil será o país on<strong>de</strong> se observará a<br />
maior taxa <strong>de</strong> crescimento (5,5%).<br />
De acordo com o Relatório <strong>de</strong> Inflação,<br />
divulgado pelo Banco Central em <strong>de</strong>zembro<br />
<strong>de</strong> 2009, a economia nacional <strong>de</strong>verá crescer<br />
5,8% em 2010. Esse <strong>de</strong>sempenho será reflexo<br />
do resultado positivo aguardado para<br />
todos os setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, principalmente<br />
para a indústria que, <strong>de</strong>pois do impacto da<br />
crise mundial, que levou a <strong>um</strong>a forte redução<br />
<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s em 2009 (a queda é <strong>de</strong><br />
8,6% no ac<strong>um</strong>ulado dos três primeiros<br />
trimestres do ano, frente a igual período <strong>de</strong><br />
2008), apresentará o maior crescimento<br />
entre os gran<strong>de</strong>s setores. A expansão<br />
aguardada para a agropecuária é <strong>de</strong> 3,7%,<br />
32 DEZEMBRO DE 2009
PIB<br />
Projeção 2010<br />
Por setor<br />
ATIVIDADE<br />
%<br />
AGROPECUÁRIA 3,7<br />
INDÚSTRIA - TOTAL 7,6<br />
Extrativa mineral 6,6<br />
Transformação 8,8<br />
Construção civil 6,4<br />
Eletricida<strong>de</strong>, gás e água 4,8<br />
SERVIÇOS - TOTAL 5,0<br />
Comércio 6,5<br />
Transporte e correio 6,4<br />
Serviços <strong>de</strong> informação 7,6<br />
Intermediação financeira* 7,2<br />
Outros serviços 6,5<br />
Ativida<strong>de</strong>s imobiliárias 1,8<br />
Serviços públicos** 2,2<br />
Variação por componente da <strong>de</strong>manda<br />
Em %<br />
CONSUMO DAS FAMÍLIAS<br />
CONSUMO DO GOVERNO<br />
CONSUMO TOTAL<br />
FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO<br />
EXPORTAÇÕES<br />
IMPORTAÇÕES<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
Valor adicionado<br />
a preços básicos<br />
5,7%<br />
Impostos sobre<br />
produtos<br />
6,3%<br />
PIB a preços<br />
<strong>de</strong> mercado<br />
5,8%<br />
* INCLUI SEGUROS, PREVIDÊNCIA<br />
COMPLEMENTAR E SERVIÇOS RELATIVOS<br />
**ADMINISTRAÇÃO, SAÚDE E EDUCAÇÃO<br />
enquanto o setor industrial <strong>de</strong>verá registrar<br />
incremento <strong>de</strong> 7,6% em suas ativida<strong>de</strong>s (ancorado<br />
pelo esperado crescimento <strong>de</strong> 8,8%<br />
para a indústria <strong>de</strong> transformação, 6,6% para<br />
indústria extrativa mineral, e 6,4% para a indústria<br />
da construção). Para o setor <strong>de</strong><br />
serviços, a expansão estimada é <strong>de</strong> 5% em<br />
função das projeções <strong>de</strong> crescimento para<br />
todos os segmentos componentes (comércio,<br />
transporte, armazenagem, correio, ser -<br />
viços <strong>de</strong> informação, intermediação<br />
financeira, ativida<strong>de</strong>s imobiliárias e aluguel,<br />
administração, saú<strong>de</strong> e educação públicas e<br />
outros serviços).<br />
Pela ótica da <strong>de</strong>manda, o cons<strong>um</strong>o das<br />
famílias <strong>de</strong>verá apresentar alta <strong>de</strong> 6,1%, estimativa<br />
fundamentada na continuida<strong>de</strong> da<br />
geração <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho formal e pelas<br />
condições <strong>de</strong> crédito. Os investimentos<br />
<strong>de</strong>vem apresentar recuperação, crescendo<br />
15,8%. Já para o cons<strong>um</strong>o do governo, é estimado<br />
<strong>um</strong> crescimento <strong>de</strong> 2,9%. Esses<br />
números também fazem parte das projeções<br />
realizadas pelo Banco Central. Destaca-se<br />
que a expansão dos investimentos, ancorada<br />
no a<strong>um</strong>ento do nível <strong>de</strong> confiança dos empresários,<br />
está sedimentada no esperado retorno<br />
das inversões na construção civil e em<br />
máquinas e equipamentos.<br />
Um número que os setores produtivos<br />
não querem ver crescer em 2010 é o da taxa<br />
<strong>de</strong> juros. Sem dúvida, o seu incremento<br />
po<strong>de</strong>rá inibir <strong>um</strong>a parcela dos investimentos<br />
tão necessários para o crescimento do país.<br />
Uma das justificativas para esse a<strong>um</strong>ento é a<br />
preocupação com a inflação. Entretanto,<br />
apesar <strong>de</strong> já ter começado a discussão sobre<br />
esse assunto, a gran<strong>de</strong> maioria das estimativas<br />
realizadas pelos analistas financeiros<br />
<strong>de</strong>monstram que a inflação não ultrapassará<br />
o centro da meta em 2010 (4,5%). Isso<br />
6,1<br />
2,9<br />
5,3<br />
12<br />
15,8<br />
20,5<br />
FONTE: RELATÓRIO DE INFLAÇÃO - BANCO CENTRA CENTRAL L - DEZEMBRO/2009<br />
De toda forma, o que<br />
2010 traz <strong>de</strong> mais forte<br />
(sem chance <strong>de</strong> erros)<br />
não está relacionado a<br />
nenh<strong>um</strong> número. O que<br />
novamente chega, com<br />
<strong>um</strong> imenso brilho, é a<br />
esperança. Ela renasce<br />
mais pujante a cada<br />
ano. Esperança que<br />
volta para il<strong>um</strong>inar<br />
novos projetos,<br />
impulsionar a luta em<br />
novos <strong>de</strong>safios e ser <strong>um</strong><br />
gran<strong>de</strong> alicerce para o<br />
sucesso.<br />
porque, mesmo consi<strong>de</strong>rando a <strong>de</strong>manda, o<br />
câmbio estável e os preços administrados<br />
sob controle po<strong>de</strong>rão segurar os índices <strong>de</strong><br />
preços. Portanto, essa discussão é prematura<br />
e totalmente ina<strong>de</strong>quada. Deve-se lembrar<br />
que a taxa <strong>de</strong> investimentos no país, que<br />
levou <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> tombo em 2009, precisa se<br />
fortalecer e certamente a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> juros será<br />
<strong>um</strong>a força inibidora para que isso aconteça.<br />
De toda forma, o que <strong>de</strong> 2010 traz <strong>de</strong> mais<br />
forte (sem chance <strong>de</strong> erros) não está relacionado<br />
a nenh<strong>um</strong> número. O que novamente<br />
chega, com <strong>um</strong> imenso brilho, é a esperança.<br />
Ela renasce mais pujante a cada ano. Espe -<br />
ran ça que volta para il<strong>um</strong>inar novos projetos,<br />
impulsionar a luta em novos <strong>de</strong>safios e ser <strong>um</strong><br />
gran<strong>de</strong> alicerce para o sucesso. E na economia<br />
não po<strong>de</strong>ria ser diferente. Com o novo<br />
ano renasce a espe rança, <strong>de</strong> forma transpa -<br />
rente e dominante, <strong>de</strong> que o país efetivamente<br />
possa alcançar a estrada do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
e caminhar por ela, superando cada obstáculo<br />
que encontrará. E, certamente, a esperança é<br />
<strong>um</strong>a estrela que muito il<strong>um</strong>ina esse caminho<br />
e, assim, 2010 começa…<br />
(*) Ieda Maria Pereira Vasconcelos é<br />
Assessora Econômica do Sindicato da<br />
Indústria da Construção Civil no Estado <strong>de</strong><br />
Minas Gerais (Sinduscon-MG). Texto<br />
produzido a partir <strong>de</strong> palestra na Câmara da<br />
Indústria da Construção (CIC- FIEMG).<br />
33
Muito barulho por dígitos<br />
Apostas, acertos, erros. O PIB <strong>de</strong> 2009 teve várias<br />
previsões, mas <strong>de</strong>ve mostrar mesmo que o Brasil está<br />
hoje em condições melhores do que muitos países<br />
KLAUS KLEBER<br />
Causou muito alvoroço no início <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>zembro a divulgação pelo IBGE<br />
<strong>de</strong> que a economia brasileira no terceiro<br />
trimestre cresceu “apenas” 1,3%. Hou -<br />
ve <strong>de</strong>cepção <strong>de</strong> muita gente, mesmo porque,<br />
no dia anterior à divulgação, o ministro da<br />
Fa zenda, Guido Mantega, havia <strong>de</strong>clarado<br />
que o PIB no terceiro trimestre cresceria 2%.<br />
É compreensível que o ministro tenha ficado<br />
“indignado” com o IBGE, como se noticiou,<br />
mas, na realida<strong>de</strong>, saber se a economia cres -<br />
ceu 1,3% já é, em si, <strong>um</strong>a boa notícia. Signi<br />
fica que o Brasil livrou-se da estatística<br />
re cessiva, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> dois trimestres negros.<br />
Se a taxa não chegou a 2%, não interessa<br />
mui to. Os sabichões do mercado, que erram<br />
mais que acertam, já estão projetando <strong>um</strong>a<br />
queda do PIB, em todo ano <strong>de</strong> 2009, <strong>de</strong><br />
0,26%. É pessimismo <strong>de</strong>mais. Po<strong>de</strong>-se apostar<br />
que se rá <strong>um</strong>a taxa diferente <strong>de</strong> zero, mas<br />
positiva, o que já está muito bom e não<br />
muda em nada as perspectivas para 2010.<br />
Se quiserem olhar pelo retrovisor, o país<br />
está muito bem, comparativamente. Segun -<br />
do projeções da abalizada revista The Eco -<br />
no mist (12/12), o PIB dos Estados Unidos,<br />
em 2009, po<strong>de</strong> ter <strong>um</strong>a variação <strong>de</strong> -2,5%; o<br />
do Japão, -5,4%; o da Grã-Bretanha, - 4,5%;<br />
Canadá, - 2,5; área do Euro, - 3,8%; a Rússia,<br />
- 7,0; e Coréia do Sul, - 1,0.<br />
E como vão nossos vizinhos? Bem rui nzi -<br />
nhos também: a previsão da revista para o PIB<br />
da Argentina é <strong>de</strong> -0,5; do Chile, -1,2%; do<br />
México, -7,1%; e da Venezuela, -3,0. Salvase<br />
a Colômbia, com <strong>um</strong>a taxa positiva <strong>de</strong><br />
0,2%, mais ou menos igual à que <strong>de</strong>ve a pre -<br />
sentar o Brasil. Por sinal, a revista bri tâ nica<br />
prevê para o Brasil <strong>um</strong> crescimento nu lo<br />
(dado calculado antes da recente divulga ção<br />
do crescimento no trimestre pelo IBGE).<br />
Claro, per<strong>de</strong>mos feio da China (expan são<br />
fantástica <strong>de</strong> 8,2%) e da Índia (5,5%), como<br />
tem sido o padrão nos últimos anos.<br />
Nesta altura, o que vale é olhar para frente.<br />
Depois <strong>de</strong> tudo o que foi dito, da gozação<br />
sobre o “pibinho”, brasleiro, etc., a análise<br />
mais sensata parece ser a do economista<br />
Edmar Bacha, em entrevista publicada pela<br />
Folha <strong>de</strong> S. Paulo (11/12). Bacha, <strong>um</strong> dos<br />
pais do Plano Real, disse que vai rever a sua<br />
previsão do PIB para 2009, que era <strong>de</strong> alta <strong>de</strong><br />
0,3%. Mas “a economia, vai estar nu ma trejetória<br />
mais forte do que aquilo que a gen te<br />
estima que seja o potencial <strong>de</strong> crescimento”,<br />
observou. E, por isso, continua cravan do <strong>um</strong>a<br />
expansão <strong>de</strong> 6% do PIB brasileiro em 2010.<br />
Dizem - e, a meu ver, não provam - que o<br />
crescimento potencial da economia bra si leira<br />
é <strong>de</strong> 5%. Sou vacinado contra a euforia <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
o tempo do “Brasil Gran<strong>de</strong>”, mas fi xar potencial<br />
<strong>de</strong> crescimento me parece <strong>um</strong>a grossa<br />
asneira. É claro que é <strong>um</strong>a missão quase impossível<br />
manter as contas públicas em or<strong>de</strong>m<br />
ou, pelo menos, impedir que os gastos correntes<br />
avancem em termos reais, es pecialmente<br />
em <strong>um</strong> ano eleitoral, como 2010. A<br />
infraestrutura do país é reconhecida mente<br />
precária. Mas é exagero pensar que, se as<br />
vendas no mercado interno seguirem em e le -<br />
vação, se exportarmos bem mais produtos<br />
manufa turados e se os preços das commo di ties<br />
subirem, teremos problemas intransponíveis.<br />
Dizer que, se a economia brasileira se expandir<br />
mais <strong>de</strong> 5% ao ano, pontes vão cair,<br />
não aguentando o peso dos caminhões,<br />
estradas vão <strong>de</strong>sbarrancar ainda mais, teremos<br />
apagões generalizados, só haverá lugar<br />
nos portos para as ratazanas, é coisa <strong>de</strong><br />
economistas ortodoxos trancados nas salas<br />
<strong>de</strong> aula e que não permitem abrir as janelas.<br />
Problemas do crescimento dão origem a<br />
soluções, muito mais rapidamente do que<br />
eles pensam. E <strong>um</strong>a coisa que os empresários<br />
brasileiros sabem fazer é se virar.<br />
Sim, os juros, mantidos pelo Banco Central<br />
(BC) em 8,75% a.a., embora a inflação<br />
projetada para os próximos 12 meses seja <strong>de</strong><br />
4,2%, po<strong>de</strong>m subir. Pressão <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda,<br />
apesar <strong>de</strong> ela po<strong>de</strong>r ser atendida pela produção<br />
interna e pelo a<strong>um</strong>ento das impor-<br />
tações, sempre apavora o Comitê <strong>de</strong> Política<br />
Monetária (Copom). Sob esse aspecto, é até<br />
bom que a expansão da economia tenha sido<br />
só <strong>de</strong> 1,3% no terceiro trimestre. Isso po<strong>de</strong><br />
acalmar aquela turminha danada do BC.<br />
Por falar nisso, noticia-se agora que as importações<br />
superaram em US$ 4 bilhões as exportações<br />
na segunda semana <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />
Certamente, é por efeito da <strong>de</strong>manda sazonal<br />
e este Natal já está sendo chamado <strong>de</strong> “Natal<br />
dos importados”, com a taxa <strong>de</strong> câmbio do<br />
jeito que está. Este, sem dúvida, é mais <strong>um</strong> indicador<br />
daquela trajetória mais forte, mencionada<br />
por Bacha. Com a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong> semprego<br />
caindo, com a capacida<strong>de</strong> ociosa da indústria<br />
se reduzindo, com o setor <strong>de</strong> serviços à toda e<br />
<strong>um</strong>a agricultura mais animada com as cotações<br />
internacionais, a economia tem tudo<br />
para <strong>de</strong>slanchar em 2010. Principalmente se a<br />
taxa <strong>de</strong> câmbio <strong>de</strong>sencalhar.<br />
Como se viu, não é <strong>um</strong> solavanco externo,<br />
como o provocado pela doi<strong>de</strong>ira das aplicações<br />
imobiliárias no Emirado <strong>de</strong> Dubai, que<br />
vai perturbar a soli<strong>de</strong>z dos bancos brasileiros,<br />
cuja regulação serve hoje <strong>de</strong> parâmetro internacional.<br />
Não por outra razão o Banco Central<br />
do Brasil passou a integrar, como membro<br />
efetivo, os Comitês <strong>de</strong> Sistema Financeiro<br />
Global e <strong>de</strong> Mercados do Banco para Compensações<br />
Internacionais (BIS), o banco central<br />
dos bancos centrais. com se<strong>de</strong> em<br />
Basiléia, na Suíça. No BIS, o Brasil só aparecia,<br />
há alguns anos, encolhidinho e <strong>de</strong> cabeça<br />
baixa, como <strong>de</strong>vedor relapso. Hoje, não é respeitado<br />
apenas pelo montante <strong>de</strong> suas reservas,<br />
que já emplacaram US$ 240 bilhões, mas<br />
porque apren<strong>de</strong>mos, com a inflação endêmica<br />
que nos vitimava, que nos fazia trocar <strong>de</strong><br />
moeda como mulher troca <strong>de</strong> roupa, a regular<br />
as nossas instituições financeiras.<br />
Em síntese, o Brasil só não crescerá<br />
5,5% ou 6% em 2010 se pintar outra crise<br />
internacional muito forte e se os seus empresários<br />
não forem dominados pelo sentimento<br />
do medo. Que Deus os poupe <strong>de</strong>sse<br />
sentimento, como <strong>de</strong>le poupou a JK.<br />
34 DEZEMBRO DE 2009
AUTOMÓVEIS<br />
Na onda dos coreanos<br />
Hyundai, Kia e Ssangyong ganham mercado no Brasil<br />
competindo com preço e carros mais equipados<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
TÉO SCALIONI<br />
No Brasil, primeiro foram os tradicionais<br />
veículos alemães e norteamericanos,<br />
com a Volkswagen, a<br />
Ford e GM. Depois, vieram os italianos com<br />
a Fiat. Mais tar<strong>de</strong> os franceses, com a Peugeot,<br />
Renault e Citroen e, em seguida, os<br />
japoneses, com a Honda, Toyota e Nissan.<br />
Agora, basta ficar atento nas ruas para observar<br />
que a bola da vez são os carros coreanos.<br />
Empresas como Hyundai, Kia e<br />
Ssangyong têm conquistado o público<br />
brasileiro e observam suas vendas crescerem<br />
a cada dia. O segredo: qualida<strong>de</strong> por <strong>um</strong><br />
preço menor e torcer para que essa onda não<br />
seja apenas <strong>um</strong>a marolinha que possa ser atropelada<br />
pelo tsunami, que, segundo especialistas<br />
do segmento, chegará em <strong>um</strong> futuro<br />
próximo com os carros chineses e indianos.<br />
Essa tática <strong>de</strong> unir preço e qualida<strong>de</strong>, utilizada<br />
pelas montadoras coreanas, é a mes -<br />
ma usada pelos japoneses quando chegaram<br />
ao Brasil em busca do <strong>um</strong> novo mercado.<br />
Um exemplo é do recém-lançado I-30 da<br />
Hyundai, que entrou para competir no mercado<br />
dos hatches médios. A estratégia da<br />
montadora coreana foi utilizar <strong>um</strong> preço<br />
médio da categoria, com <strong>um</strong> conteúdo bem<br />
acima. Com preços a partir <strong>de</strong> R$ 54 mil<br />
(manual) e R$ 58 mil (automático) o I-30<br />
possui controle <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>, seis airbags,<br />
sensor <strong>de</strong> estacionamento, retrovisores externos<br />
com rebatimento elétrico e freios<br />
‘ABS’, itens dignos <strong>de</strong> <strong>um</strong> carro <strong>de</strong> luxo.<br />
Tanto que em <strong>um</strong> teste-drive feito pela revista<br />
especializada Quatro Rodas, ela comparou<br />
o I-30 com a BMW 118I. A diferença<br />
é que o alemão custa cerca <strong>de</strong> R$ 95 mil.<br />
Uma outra estratégia que as montadoras<br />
coreanas também utilizam é a penetração<br />
em <strong>um</strong> segmento <strong>de</strong> automóveis ainda<br />
pouco explorado. É o caso do Tucson, também<br />
da Hyundai, e do Sportage, da Kia.<br />
Ambos foram lançados com vários utensílios<br />
<strong>de</strong> série em <strong>um</strong> nicho em que não possuem<br />
concorrentes em seus preços. Pois,<br />
enquanto <strong>um</strong> Tucson po<strong>de</strong> ser adquirido a<br />
partir <strong>de</strong> R$ 67 mil, veículos como Land<br />
Hover, Pajero ou a Hilux não custam menos<br />
<strong>de</strong> R$ 100 mil. Tanto que, atualmente, das<br />
vendas <strong>de</strong> SUVs (veículos fabricados a partir<br />
<strong>de</strong> chassis <strong>de</strong> caminhonetes) no Brasil,<br />
aproximadamente 30% correspon<strong>de</strong>m a carros<br />
coreanos.<br />
A comprovação da invasão dos coreanos<br />
po<strong>de</strong> ser verificada pelo a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> suas<br />
importações, que foi <strong>de</strong> 820% em novembro,<br />
se comparado com o mesmo mês <strong>de</strong><br />
2008. E, em 2009, segundos dados da Fe <strong>de</strong> -<br />
ração Nacional da Distribuição <strong>de</strong> Veículos<br />
Automotores (Fenabrave), até novembro<br />
apenas a Hyundai tinha vendido cerca <strong>de</strong> 55<br />
mil automóveis, e a previsão era <strong>de</strong> fechar<br />
2009 com cerca <strong>de</strong> 70 mil.<br />
Segundo o gerente <strong>de</strong> vendas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a das<br />
concessionárias Hyundai, em Belo Horizonte,<br />
a Pacific Motors, Renato Bittencourt,<br />
o crescimento pela procura dos carros coreanos<br />
é explícito. Ele cita como exemplo os<br />
primeiros anos da Pacific (2006 e 2007)<br />
quando a média <strong>de</strong> vendas variava <strong>de</strong> 15 a<br />
30 carros por mês e hoje são cerca <strong>de</strong> 120.<br />
“Acredito que esse a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong>ve-se a consolidação<br />
das marca tanto lá fora quanto no<br />
Brasil. Quem viaja ao exterior confere a<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hyundai que tem por lá e logo<br />
pensa que esse carro <strong>de</strong>ve ser bom”, observa.<br />
Bittencourt salienta também a propa-<br />
HYUNDAI/DIVULGAÇÃO<br />
Mo<strong>de</strong>los coreanos se encaixaram bem no perfil do cons<strong>um</strong>idor brasileiro<br />
As importações <strong>de</strong><br />
carros coreanos<br />
cresceu<br />
820%<br />
em novembro <strong>de</strong><br />
2009, comparadas<br />
com o mesmo mês<br />
<strong>de</strong> 2008<br />
ganda boca a boca. “As pessoas vão falando<br />
<strong>um</strong>as às outras sobre a qualida<strong>de</strong> dos nossos<br />
carros”, orgulha-se.<br />
Sobre a dificulda<strong>de</strong> em se conseguir assistência<br />
técnica especializada no Brasil, por<br />
se tratar <strong>de</strong> carros importados, o gerente <strong>de</strong><br />
vendas garante que isso é coisa do passado.<br />
Ele observa que a Hyundai, está há 17 anos<br />
no Brasil, possui toda sua logística formada.<br />
“Se por acaso não tiver <strong>um</strong>a peça aqui, no<br />
outro dia ela chega da central em São<br />
Paulo”, garante Bittencourt, salientando que<br />
agora também há <strong>um</strong>a fábrica da Hyundai<br />
em Anápolis (GO), on<strong>de</strong> já se monta o mo -<br />
<strong>de</strong> lo Tucson.<br />
35
POLÍTICA<br />
A luta continua.<br />
Pimentel e<br />
Patrus, entre os<br />
dois o PT balança<br />
Legenda vive <strong>um</strong> dilema em Minas<br />
para escolher entre dois fortes<br />
candidatos ao Palácio da Liberda<strong>de</strong><br />
JOÃO GUALBERTO<br />
Para chegar, pela primeira vez em sua<br />
história, ao Palácio da Liberda<strong>de</strong>, o<br />
Partido dos Trabalhadores <strong>de</strong> Minas<br />
tem, primeiramente, que transpor a encru zi -<br />
lhada com a qual se <strong>de</strong>para. O PT precisa<br />
optar entre dois pré-candidatos a go verna -<br />
dor: <strong>um</strong>, prestigiado ex-prefeito, que chegou<br />
a figurar na oitava posição entre os melhores<br />
gestores municipais do mundo; outro, o<br />
ministro responsável pelo principal progra -<br />
ma <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> renda do país, proje -<br />
to que também obteve reconhecimento<br />
in ternacional.<br />
Mas a situação não é propriamente idêntica<br />
à dúvida confortável que assalta os<br />
treinadores <strong>de</strong> futebol, quando têm dois<br />
craques geniais para escalar e apenas <strong>um</strong>a<br />
“<br />
A militância que<br />
está comigo é<br />
mais consistente, tem<br />
mais história. Basta<br />
comparar a minha<br />
biografia partidária com<br />
a do meu adversário”.<br />
Patrus Ananias,<br />
ministro <strong>de</strong> Desenvolvimento Social<br />
e Combate à Fome<br />
posição no time. Não é, pois, <strong>um</strong>a simples<br />
questão <strong>de</strong> escolha entre dois nomes experientes<br />
e conceituados. Trata-se <strong>de</strong> <strong>um</strong> dilema<br />
existencial, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, a<br />
serem solucionados em Minas, quando o<br />
partido completa 30 anos <strong>de</strong> fundação.<br />
O atual racha entre os petistas mineiros<br />
ficou explícito publicamente em 2008, durante<br />
a eleição para prefeito <strong>de</strong> Belo Horizonte.<br />
Pimentel, que <strong>de</strong>ixava o cargo, apoiou<br />
como sucessor o secretário <strong>de</strong> Estado Marcio<br />
Lacerda (PSB), em <strong>um</strong>a aliança po -<br />
lêmica e inédita com o tucano Aécio Neves,<br />
governador <strong>de</strong> Minas. Contrariada diante da<br />
aliança formal forjada pelos diretórios municipal<br />
e estadual da sigla, a ala <strong>de</strong> Patrus<br />
Ananias manteve-se neutra naquela disputa.<br />
Era o prenúncio da cisão que se seguiu até<br />
novembro último, no Processo <strong>de</strong> Eleição<br />
Direta (PED) do presi<strong>de</strong>nte estadual do partido;<br />
e a que se assistirá ao longo <strong>de</strong>ste ano,<br />
para a <strong>de</strong>finição do candidato a governador.<br />
E são justamente dos cabeças das duas<br />
correntes, que divi<strong>de</strong>m o PT-MG, as précandidaturas<br />
lançadas. E, em tom <strong>de</strong> précampanha,<br />
cada <strong>um</strong> (em coro com seus<br />
aliados) trata <strong>de</strong> expor suas próprias virtu<strong>de</strong>s<br />
como armas eficazes para levar o partido à<br />
vitória. Patrus exalta seu trabalho à frente do<br />
ministério e do Bolsa Família, do orçamento<br />
<strong>de</strong> R$ 33 bilhões que gerencia, segundo ele,<br />
balizado por princípios éticos. Além disso,<br />
recupera a boa avaliação <strong>de</strong> sua administração<br />
na prefeitura da capital, <strong>de</strong> 1993 a<br />
1996, afirmando ainda que o grupo que o<br />
Em terceiro<br />
Hélio Costa (PMDB) 32<br />
Antonio Anastasia 14<br />
Patrus Ananias (PT) 12<br />
Pesquisa Datafolha, <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
acompanha é o mais tradicional, o mais associado<br />
às causas fundamentais da legenda:<br />
“A militância que está comigo é mais consistente,<br />
tem mais história. Basta comparar a<br />
minha biografia partidária com a do meu adversário”.<br />
Pimentel e seus aliados também exaltam<br />
a competência administrativa como diferencial<br />
capaz <strong>de</strong> levar o PT ao governo. No entanto,<br />
partem do imediatismo dos números<br />
mais favoráveis das pesquisas <strong>de</strong> intenção<br />
<strong>de</strong> voto para arregimentar a candidatura.<br />
36 DEZEMBRO DE 2009
%<br />
%<br />
%<br />
2009<br />
“Neste momento, meu nome é melhor ava -<br />
lia do. Já foi diferente, mas hoje sou eu. Po -<br />
lí tica é o momento, é a contingência, não o<br />
que queremos”, rebate Pimentel.<br />
Nas pesquisas mais recentes para o go ver -<br />
no <strong>de</strong> Minas, Pimentel é o petista mais bem<br />
posicionado. Segundo o Datafolha, em<br />
<strong>de</strong>zembro ele figurava na segunda posição,<br />
com 19% das intenções <strong>de</strong> voto, atrás do<br />
ministro das Comunicações, Hélio Costa<br />
(PMDB), preferido <strong>de</strong> 31%; mas à frente do<br />
vice-governador Antonio Anastasia (PSDB),<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
candidato <strong>de</strong> Aécio, que recebia 10%. No<br />
levantamento do Instituto Datatempo/CP2,<br />
realizado em novembro, a disposição dos<br />
pré-candidatos era a mesma: Hélio Costa<br />
tinha 42,35% das intenções <strong>de</strong> voto; Pimentel,<br />
20,59%; e Anastasia, 12,27%.<br />
A projeção ass<strong>um</strong>ida pelo ministro <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Social foi menos <strong>de</strong>stacada<br />
nos dois levantamentos, mesmo mantendo<br />
a segunda colocação no quadro em<br />
que ele é o candidato do PT a governador.<br />
Segundo o Datafolha, Patrus per<strong>de</strong>ria <strong>de</strong> seu<br />
Patrus Ananias<br />
exalta seu trabalho<br />
à frente do<br />
Ministério do<br />
Desenvolvimento<br />
Social, do Bolsa<br />
Família e do<br />
orçamento <strong>de</strong><br />
R$ 33 bilhões que<br />
gerencia<br />
ÉLCIO PARAÍSO<br />
colega <strong>de</strong> governo por 20 pontos <strong>de</strong> dife ren -<br />
ça: 32% <strong>de</strong> Costa contra 12%, com o vicegovernador<br />
aparecendo em segundo, com<br />
14%. Já <strong>de</strong> acordo com o Datatempo/CP2, o<br />
ministro das Comunicações obtinha 44,55%<br />
da preferência dos entrevistados. Patrus<br />
manteve-se em segundo, com 14,87%, mas<br />
empatado tecnicamente com os 13,74% <strong>de</strong><br />
Anastasia.<br />
O SOCIAL E O ADMINISTRATIVO.<br />
Pa ra Malco Camargos, cientista político da<br />
37
Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Minas<br />
Gerais (PUC Minas), por trás <strong>de</strong>ssa<br />
vantagem n<strong>um</strong>érica <strong>de</strong> Pimentel po<strong>de</strong> estar<br />
a lembrança mais viva do eleitorado: há<br />
apenas dois anos, ele ainda estava na<br />
prefeitura, enquanto recordar da gestão <strong>de</strong><br />
Patrus em Belo Horizonte requer <strong>um</strong><br />
esforço maior <strong>de</strong> memória. No entanto, o<br />
professor ressalta que os trunfos <strong>de</strong> cada <strong>um</strong><br />
estão nos perfis que ass<strong>um</strong>iram em suas<br />
trajetórias perante a opinião pública. “Patrus<br />
é muito mais fácil <strong>de</strong> se aproximar da<br />
questão social. Já Pimentel é associado à<br />
qualida<strong>de</strong> administrativa”, diferencia Ca -<br />
margos.<br />
Reeleito, em novembro, presi<strong>de</strong>nte esta -<br />
dual do PT, Reginaldo Lopes é hoje <strong>um</strong> dos<br />
principais aliados <strong>de</strong> Pimentel. O <strong>de</strong> pu tado<br />
fe<strong>de</strong>ral enten<strong>de</strong> que, não só pelo <strong>de</strong>sempenho<br />
nas pesquisas, o ex-prefeito <strong>de</strong>va ser o candidato<br />
por ser reconhecido como <strong>um</strong> “excelente<br />
técnico” e ainda por sua “ousadia<br />
política”. “Ele obteve à frente da prefeitura<br />
<strong>um</strong>a visibilida<strong>de</strong> que nenh<strong>um</strong> outro prefeito<br />
teve. Pimentel será mortal para Anastasia”,<br />
afirma Lopes. De acordo com o dirigente,<br />
<strong>um</strong> mérito da candidatura para convencer o<br />
eleitor seria concorrer com o PSDB sem acirrar<br />
<strong>de</strong>mais os ânimos, sem antagonismo, o<br />
que seria improvável com Patrus no páreo,<br />
que fustiga: “Minas quer mudança. E o<br />
PSDB tem vergonha <strong>de</strong> Minas, do resultado<br />
<strong>de</strong> seu período <strong>de</strong> gestão”.<br />
A MILITÂNCIA DECIDE. O <strong>de</strong>putado<br />
fe <strong>de</strong>ral Gilmar Machado, <strong>um</strong> dos mais <strong>de</strong>s -<br />
tacados membros da ala do ministro,<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que Patrus tem mais po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
agregar aliados <strong>de</strong>ntro e fora do partido,<br />
com bom trânsito em outras siglas. Por isso,<br />
<strong>de</strong>veria ser o candidato petista em outubro.<br />
“<br />
Neste momento,<br />
meu nome é<br />
melhor avaliado. Já foi<br />
diferente, mas hoje sou<br />
eu. Política é o<br />
momento, é a<br />
contingência, não o que<br />
queremos”.<br />
Fernando Pimentel,<br />
ex-prefeito <strong>de</strong> Belo Horizonte<br />
Machado foi <strong>um</strong> dos candidatos à<br />
presidência do diretório estadual, <strong>de</strong>rrotado<br />
ainda no primeiro turno. A respeito do<br />
arg<strong>um</strong>ento da corrente rival, ele arg<strong>um</strong>enta<br />
que pesquisas são <strong>um</strong> retrato <strong>de</strong> momento,<br />
retrato que cost<strong>um</strong>a mudar: “Na hora em<br />
que o processo <strong>de</strong>slanchar, a militância do<br />
PT vai <strong>de</strong>finir e reverter a situação”.<br />
Um impasse como o que vive o PT<br />
mineiro, por guardar raízes em sua história,<br />
não <strong>de</strong>ve ser resolvido por meio <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
mero acordo <strong>de</strong> cavalheiros. O duelo entre<br />
Patrus e Pimentel ten<strong>de</strong> mesmo a <strong>um</strong> <strong>de</strong>sfecho<br />
com prévias internas. E também, diante<br />
<strong>de</strong>ssa possibilida<strong>de</strong>, as correntes dos dois<br />
pré-candidatos estão em divergência. A ala<br />
do ex-prefeito sustenta que o consenso seria<br />
a saída menos nociva, e que as eleições internas<br />
para a presidência da seção estadual<br />
do partido já serviram <strong>de</strong> prévias. Na outra<br />
ponta, porém, a frente <strong>de</strong> Patrus <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />
que a margem <strong>de</strong> vitória <strong>de</strong> Reginaldo<br />
Lopes na eleição para a presidência do partido<br />
em Minas foi pequena, evi<strong>de</strong>nciando a<br />
divisão da sigla e a necessida<strong>de</strong> da realização<br />
<strong>de</strong> prévias.<br />
No dia 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, Lopes venceu o<br />
segundo turno do processo direto com<br />
52,4% dos votos válidos, contra 47,6% do<br />
secretário nacional <strong>de</strong> comunicação do PT,<br />
Gleber Naime, outro aliado <strong>de</strong> Patrus. Em<br />
termos absolutos, a diferença foi <strong>de</strong> aproximadamente<br />
2.000 votos, n<strong>um</strong> universo <strong>de</strong><br />
mais <strong>de</strong> 40 mil.<br />
PRÉVIAS X ENTENDIMENTO. O pre -<br />
si <strong>de</strong>nte reeleito, que tomará posse em<br />
fevereiro, responsabiliza os apoiadores <strong>de</strong><br />
Naime <strong>de</strong> terem conferido ao PED a<br />
importância <strong>de</strong> prévias eleitorais, mas<br />
enten<strong>de</strong> que o resultado já daria condições<br />
suficientes ao partido para a escolha <strong>de</strong> seu<br />
candidato a governador. Ele lamenta a<br />
iminência da realização <strong>de</strong> <strong>um</strong> novo embate<br />
<strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> tempo para sua<br />
organização. “O projeto <strong>de</strong> Patrus é pessoal.<br />
Se é coletivo, ele tem que enten<strong>de</strong>r a<br />
conjuntura. Se não enten<strong>de</strong>r, iremos para<br />
prévias, o que será muito penoso”.<br />
Pimentel, por diversas vezes, qualificou<br />
a tese das prévias como perda <strong>de</strong> tempo:<br />
“Minha posição é a mesma: a busca do entendimento.<br />
As prévias não são <strong>um</strong>a boa<br />
i<strong>de</strong>ia. Isso é prolongar a discussão enquanto<br />
os outros partidos estão avançando em suas<br />
pré-campanhas”.<br />
Mas o ministro e seu grupo não preten<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong>sistir. Tanto é que formalizaram - por<br />
Para cientistas<br />
políticos, Fernando<br />
Pimentel está melhor<br />
nas pesquisas pela<br />
razão <strong>de</strong> estar mais<br />
presente na memória<br />
do eleitorad, <strong>de</strong>vido à<br />
sua recente gestão na<br />
prefeitura <strong>de</strong> Belo<br />
Horizonte<br />
meio <strong>de</strong> Padre João, <strong>de</strong>putado estadual e<br />
também candidato <strong>de</strong>rrotado a presi<strong>de</strong>nte<br />
estadual da legenda – o pedido ao Tribunal<br />
Regional Eleitoral (TRE) para a utilização<br />
<strong>de</strong> urnas eletrônicas no pleito, mesmo que<br />
sua data ainda não tenha sido marcada. O<br />
<strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Gilmar Machado encara<br />
com normalida<strong>de</strong> a necessida<strong>de</strong> das novas<br />
eleições internas: “Sem acordo, tem que<br />
haver prévias. São dois gran<strong>de</strong>s nomes.<br />
Farão <strong>um</strong> <strong>de</strong>bate em alto nível”.<br />
SEM MEDO DAS PRÉVIAS. Já o mi -<br />
nis tro Patrus enten<strong>de</strong> que a divisão faz parte<br />
38 DEZEMBRO DE 2009
da história do PT, que sempre buscou so -<br />
lucionar seus dilemas <strong>de</strong> forma <strong>de</strong> mo -<br />
crática. “Será algo sem conflito, com<br />
di ferença pelos canais éticos. Não temos<br />
que ter medo das prévias. É a resposta dos<br />
militantes, eles que sustentam o partido”.<br />
Em vez <strong>de</strong> <strong>um</strong> tonificante das diferenças<br />
internas, o embate eleitoral direto entre os<br />
pré-candidatos po<strong>de</strong> ser fundamental para<br />
unir e fortalecer o partido na disputa esta -<br />
dual <strong>de</strong> outubro. Essa é a aposta do cientista<br />
político Malco Camargos. Segundo ele, sem<br />
as prévias, que serão <strong>de</strong>sgastantes, o candi -<br />
dato escolhido não seria legitimado pelo par-<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
tido, que não iria unido para as eleições: “O<br />
resultado tem que ser acatado. A chance <strong>de</strong><br />
o PT ganhar é só com união. Patrus e Pimentel<br />
terão que se <strong>de</strong>sarmar e colocar suas<br />
bases para trabalhar pela candidatura, seja<br />
<strong>de</strong> quem for”.<br />
E Patrus, o maior <strong>de</strong>fensor da <strong>de</strong>cisão interna,<br />
já prometeu reconhecer seu resultado:<br />
“Se não houver pendências, se for <strong>um</strong> pro -<br />
ces so <strong>de</strong>mocrático, consensual, teremos o<br />
compromisso total. A <strong>de</strong>cisão será do parti -<br />
do, feita <strong>de</strong> baixo para cima”.<br />
Dessa forma cindida e apaixonada – habi<br />
tual em seus 30 anos <strong>de</strong> fundação – o PT<br />
Melhor colocado<br />
Hélio Costa (PMDB) 31%<br />
Fernando Pimentel (PT) 19%<br />
Antonio Anastásia (PSDB) 10%<br />
Pesquisa Datafolha, <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009<br />
ÉLCIO PARAÍSO<br />
<strong>de</strong> Minas promete dar fim a esse <strong>de</strong>safio <strong>de</strong><br />
a madurecimento. Suas li<strong>de</strong>ranças acreditam<br />
que não haverá a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a intervenção<br />
direta do presi<strong>de</strong>nte Luiz Inácio Lula<br />
da Silva no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição do candidato.<br />
E, em ambos os lados, não há predisposição<br />
em ass<strong>um</strong>ir <strong>um</strong>a terceira conduta<br />
diante da encruzilhada <strong>de</strong> momento: recuar<br />
e ce<strong>de</strong>r a candidatura ao PMDB do ministro<br />
Hélio Costa, o favorito nas pesquisas. Alguns<br />
petistas já dão como certa a divisão em<br />
Minas da base <strong>de</strong> apoio à ministra Dilma<br />
Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência.<br />
39
GESTÃO<br />
O que aprendi<br />
em 2009?<br />
Empresários e executivos falam das<br />
duras lições extraídas <strong>de</strong> <strong>um</strong> ano<br />
turbulento para os negócios<br />
DURVAL GUIMARÃES<br />
Agora que o ano finalmente acabou<br />
e, ao contrário do imaginávamos,<br />
sobrevivemos a ele, <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong><br />
<strong>de</strong>cidiu empreen<strong>de</strong>r <strong>um</strong>a pesquisa junto aos<br />
seus leitores sobre as lições que eles extraíram<br />
<strong>de</strong> <strong>um</strong> ano tão turbulento. A primeira<br />
resposta veio <strong>de</strong> <strong>um</strong> ex-usineiro do Triângulo<br />
Mineiro, on<strong>de</strong> inaugurou recentemente<br />
<strong>um</strong>a <strong>de</strong>stilaria <strong>de</strong> etanol: “O que eu aprendi<br />
não terá mais nenh<strong>um</strong> serventia, pois no momento,<br />
tenho alg<strong>um</strong> capital, mas não tenho<br />
negócios”.<br />
Po<strong>de</strong>ríamos consi<strong>de</strong>rar o entrevistado<br />
como ex-industrial, mas em nossa opinião,<br />
empresário é como o torcedor do Flamengo<br />
na música <strong>de</strong> Lamartine Babo: “<strong>um</strong>a vez<br />
Flamengo, sempre Flamengo”. Ele não <strong>de</strong>siste<br />
nunca. No caso específico, o entrevistado<br />
queixou-se <strong>de</strong> ter se apavorado com o<br />
cenário dos primeiros meses <strong>de</strong> 2009,<br />
quando a economia americana estava mergulhada<br />
na crise e as exportações do<br />
agronegócio se encontravam em queda.<br />
“Os preços do álcool e do açúcar também<br />
<strong>de</strong>sabavam. Então eu fiz o que não <strong>de</strong>veria<br />
ter feito, que foi me <strong>de</strong>sfazer do negócio<br />
ainda no meio da tormenta”, revelou.<br />
“Aprendi que a gente <strong>de</strong>ve preservar a<br />
cabeça quando todos os outros estão per<strong>de</strong>ndo<br />
as <strong>de</strong>les”.<br />
Há também os que se fortaleceram durante<br />
o ano. O vice-presi<strong>de</strong>nte comercial da<br />
Cooperativa <strong>de</strong> Leite Itambé, Valdinei Paulo<br />
<strong>de</strong> Oliveira, lembrou que a crise mundial fez<br />
<strong>um</strong>a reviravolta no dia-a-dia <strong>de</strong> muitas organizações:<br />
“O teste <strong>de</strong> fogo foi trabalhar no<br />
sentido <strong>de</strong> urgência para fazer da crise <strong>um</strong><br />
momento oportuno para novas conquistas <strong>de</strong><br />
mercado. Ter <strong>um</strong>a gestão focada e <strong>um</strong> olhar<br />
diferente sobre a crise nos permitiu crescer<br />
on<strong>de</strong> inicialmente não era nosso foco e<br />
“<br />
Aprendi que a crise é a<br />
melhor aliada do<br />
crescimento. Aprendi a não<br />
ter medo <strong>de</strong> investir, mesmo<br />
quando o mundo grita ‘não!’”<br />
Ricardo Carlini,<br />
proprietário da Carlini Cerimonial<br />
fechar o ano dividindo s<strong>obras</strong>. Surpresa ou,<br />
não a crise nos ajudou a superar nossos<br />
limi tes. Esse foi o meu aprendizado no ano<br />
2009”.<br />
O gerente geral <strong>de</strong> planejamento estratégico<br />
e gestão da Samarco, Eduardo Pessotti,<br />
revelou como foi o ano na mineradora:<br />
“Durante a crise, inúmeros planos se mos -<br />
traram completamente perecíveis, ge rando<br />
frustração tanto no plano emocional, pela incompetência<br />
<strong>de</strong> avaliação da situação,<br />
quanto no plano financeiro, que <strong>de</strong>mandou<br />
gestão <strong>de</strong> caixa, quase que diária, diante <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão que estava estruturado<br />
para o crescimento e criação <strong>de</strong> valor em<br />
longo prazo”.<br />
Segundo informou, ele apren<strong>de</strong>u também<br />
que os verda<strong>de</strong>iros lí<strong>de</strong>res sustentam<br />
suas convicções em seus valores pessoais.<br />
“No caso específico da Samarco, tive a<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vivenciar as <strong>de</strong>cisões do<br />
nosso presi<strong>de</strong>nte, que mobilizou empregados<br />
para evolução do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> ações para redução <strong>de</strong><br />
custos, reconhecendo que as pessoas e seus<br />
conhecimentos são os alicerces da compe ti -<br />
tivida<strong>de</strong> e sustentabilida<strong>de</strong> do negócio.<br />
Como consequência positiva, conquistou os<br />
prêmios mineiro e capixaba <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>”,<br />
concluiu.<br />
O ex-secretário estadual <strong>de</strong> Desenvolvi-<br />
Wilson Br<strong>um</strong>er disse<br />
que a crise <strong>de</strong>ixou<br />
lições importantes<br />
para o empresariado,<br />
como melhorar<br />
técnicas <strong>de</strong> gestão e<br />
sustentabilida<strong>de</strong><br />
mento Econômico e hoje empresário no<br />
setor <strong>de</strong> Energia, Wilson Br<strong>um</strong>er, disse que<br />
a crise valorizou conceitos que haviam sido<br />
relegados a <strong>um</strong> plano inferior e que voltaram<br />
com força total nessa nova fase da economia.<br />
O empresário se refere a <strong>um</strong> conceito<br />
amplo <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, que não se limita<br />
a aspectos ambientais, mas também dá<br />
<strong>de</strong>staque para o conhecimento, a produtivida<strong>de</strong>,<br />
a eficiência e a valorização das pessoas.<br />
“Deve, como consequência ser valorizada,<br />
40 DEZEMBRO DE 2009
“<br />
O teste <strong>de</strong> fogo foi<br />
trabalhar no sentido <strong>de</strong><br />
urgência para fazer da crise<br />
<strong>um</strong> momento oportuno para<br />
novas conquistas <strong>de</strong><br />
mercado”.<br />
Valdinei Paulo <strong>de</strong> Oliveira,<br />
vice-presi<strong>de</strong>nte comercial da Cooperativa<br />
<strong>de</strong> Leite Itambé<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
a boa gestão, seja ela pública ou privada.<br />
Antes da crise, valia muito o conceito <strong>de</strong> excesso<br />
<strong>de</strong> alavancagem, ou seja, empresas se<br />
endividando mais que o normal. Volta agora<br />
o conceito <strong>de</strong> endividamento em patamares<br />
a<strong>de</strong>quados, on<strong>de</strong> prevalecerá outra máxima,<br />
que é preferível pagar divi<strong>de</strong>ndos que juros”,<br />
<strong>de</strong>clarou.<br />
Proprietário da Carlini Cerimonial, o jornalista<br />
Ricardo Carlini não se sentiu atingido<br />
pela crise. Isso foi fácil <strong>de</strong> perceber, pois ele<br />
se apresentou como o mestre <strong>de</strong> cerimônia<br />
ÉLCIO PARAÍSO<br />
dos principais eventos empresariais, políticos<br />
e esportivos e sociais realizados na capi -<br />
tal mineira. Sua empresa é <strong>um</strong>a das<br />
re quisitadas do país no setor <strong>de</strong> organização<br />
<strong>de</strong> eventos e, em poucas frases, ele revela<br />
como enfrentou 2009. “Aprendi que a crise<br />
é a melhor aliada do crescimento. Aprendi a<br />
não ter medo <strong>de</strong> investir, mesmo quando o<br />
mundo grita ‘não!’ Na área específica <strong>de</strong> Cerimonial<br />
e Protocolo <strong>de</strong> Eventos, experimen<br />
tamos gran<strong>de</strong> crescimento no póscrise”.<br />
41
NEGÓCIOS<br />
Como ce<strong>de</strong>r à pechincha,<br />
sem entregar a loja<br />
Busca incansável por <strong>de</strong>scontos já ultrapassou o outro<br />
lado do balcão. Agora, até as empresas querem preços<br />
pequenos junto aos fornecedores<br />
PAULO MÁRIO DA SILVA<br />
Faz <strong>um</strong> <strong>de</strong>scontinho, vai! O abacaxi está<br />
lindo. Gostei do sapato. Quero levar o<br />
fo gão. Mas o preço, você sabe, me “que -<br />
bra as pernas”. Se for à vista, tem <strong>de</strong>s con to? E<br />
o preço a vista, dá pra fazer em três vezes?<br />
Vamos negociar por 30% a menos, fica le gal<br />
para você? Então está combinado, fe chamos<br />
em 20% <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto. Vou assinar o cheque<br />
imediatamente, assim que pegar o brin<strong>de</strong>.<br />
Pechinchar é <strong>um</strong>a arte, qualquer que seja<br />
seu estilo. Enquanto você lê esta repor -<br />
tagem, a pechincha está sen do ensinada<br />
em universida<strong>de</strong>s, estu dada por psi có logos<br />
e até in vestigada por es piões, que pe chin -<br />
cham em lojas concorren -<br />
tes. O melhor é que o<br />
cost<strong>um</strong>e <strong>de</strong> pe dir<br />
<strong>de</strong>sconto traz<br />
muito mais que<br />
<strong>um</strong> alívio pa ra<br />
o bolso. É <strong>um</strong><br />
modo <strong>de</strong> tornar<br />
relações <strong>de</strong> compra<br />
e ven da, em<br />
que ge ralmente cons<strong>um</strong>idor<br />
e ven<strong>de</strong>dor<br />
mal se olham nos olhos, em<br />
negócios mais h<strong>um</strong>anos, ami gáveis e menos<br />
automatizados.<br />
Mas a pechincha nem sempre é bem<br />
vista. Às vezes, vira doce na boca <strong>de</strong> muito<br />
chato por aí; e, muitas vezes, pancada no ouvido<br />
<strong>de</strong> ven<strong>de</strong>dores e balconistas. É <strong>de</strong> origem<br />
<strong>de</strong>s conhecida, <strong>de</strong> “etimologia incerta”, segundo<br />
Antônio Geraldo da Cunha, que a <strong>de</strong>fine,<br />
no Dicionário Etimológico Nova<br />
Fronteira, como “gran<strong>de</strong> conveniência ou vantagem”,<br />
“qualquer coisa muito barata”.<br />
Assim, pechinchar é fazer esforço para<br />
obter <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> conveniência ou vantagem.<br />
Serve também para tentar comprar algo por<br />
<strong>um</strong> preço muito baixo. Prática que muita gente<br />
tem vergonha <strong>de</strong> adotar e que alguns não se<br />
preocupam em exagerar, estando ambos os<br />
grupos equivocados nos seus hábitos. Quem<br />
exagera na pechincha, <strong>de</strong>s trata o ven<strong>de</strong>dor e<br />
<strong>de</strong>srespeita as boas regras <strong>de</strong> convivência.<br />
Quem, por outro lado, não consegue pe -<br />
chin char, por timi<strong>de</strong>z ou excesso <strong>de</strong> zelo,<br />
per<strong>de</strong> dinheiro.<br />
A dona <strong>de</strong> casa Maria A pa recida Soares é<br />
<strong>um</strong>a pe chin cheira ass<strong>um</strong>ida. “Gosto <strong>de</strong> pe -<br />
chinchar e <strong>de</strong> pesquisar. Quan do<br />
saio para comprar algo, já sei que<br />
isso vai me custar tempo e sola <strong>de</strong><br />
sapato. Mas, agora, que<br />
tenho internet, a pren -<br />
di a pesquisar os sites an -<br />
tes <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> casa. Já sei on<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>vo comprar, on<strong>de</strong> está mais<br />
em conta”, revelou.<br />
E essa não é <strong>um</strong>a prática<br />
que se res tringe às mulheres.<br />
Sidney Sampaio é comerciante<br />
e acha muito saudável a pe chin cha.<br />
“Gosto quando os meus clientes dão va lor ao<br />
dinheiro. A té eu adoro pe chin char”, brinca. Segundo<br />
ele, <strong>um</strong> preço no varejo sempre tem <strong>um</strong>a<br />
margem <strong>de</strong> negociação, pois nele es tão embutidos<br />
o valor que as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> car tão <strong>de</strong> crédito<br />
e débito cobram por venda ( que na sua loja<br />
gira em torno <strong>de</strong> 3,8%), os custos <strong>de</strong> inadimplência<br />
e <strong>de</strong>mais encargos, que sempre dá para<br />
retirar do preço final. Dinheiro a vista ou<br />
recebimento garantido são sempre bemvindos.<br />
Normalmente a pergunta<br />
“quan to você pagou no<br />
pro duto?”, sempre vai<br />
ser encarada como<br />
<strong>um</strong>a falta <strong>de</strong> ética<br />
pelo comerciante<br />
e invariavelmen -<br />
te acompanhada<br />
<strong>de</strong> <strong>um</strong>a resposta<br />
mentirosa que, afinal,<br />
<strong>de</strong>ixará o cliente<br />
satisfeito.<br />
Mas há os que exa -<br />
geram na dose e, muito vaidosos,<br />
chegam até a di mi nuir o preço<br />
que pagaram. De a cor do com<br />
o professor da Fa culda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Tecnologia do Co mércio<br />
(Fatec Comércio), instituição<br />
ligada à Câmara<br />
<strong>de</strong> Di-
igentes Lojistas <strong>de</strong> Belo Horizonte (CDL-<br />
<strong>BH</strong>), José Luciano S. Furtado, esse é o tipo <strong>de</strong><br />
cliente que dá prejuízo: “Pessoas com esse<br />
perfil só compram quando o estabelecimento<br />
es tá liquidando esto que, operando com a<br />
margem <strong>de</strong> lucro baixa ou até zerada. Sabem<br />
precisamente o ca len dário <strong>de</strong> remarcação <strong>de</strong><br />
todas as lojas, além <strong>de</strong> acompanharem as li -<br />
qui dações pelos meios <strong>de</strong> comunicação.<br />
É o tipo <strong>de</strong> cliente que<br />
nunca será seu. Ele se<br />
ven<strong>de</strong> para aquele que<br />
oferece o maior <strong>de</strong>s -<br />
conto”.<br />
Furtado alerta<br />
que a prática <strong>de</strong>senfreada<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong> s -<br />
con tos ao pe chin -<br />
cheiro po<strong>de</strong> ser<br />
<strong>um</strong> “tiro no<br />
pé” do lojista.<br />
Quand o o comerciante<br />
quiser inverter<br />
essa jogada,<br />
observa, es se cliente<br />
vai ficar <strong>de</strong>sagradado<br />
com o corte dos <strong>de</strong>scontos, pois<br />
está viciado nesse tipo <strong>de</strong> negociação:<br />
“É o pior vício que existe, pois<br />
não tem cura. O pior é que foi o<br />
próprio lojista quem o viciou,<br />
com a sua inconsequente<br />
busca <strong>de</strong> fa tu -<br />
ramento em curto<br />
prazo. Não pensou nas<br />
consequências em longo<br />
prazo”.<br />
O especialista sugere<br />
transformar <strong>de</strong>scontos em<br />
benefícios. Isso quer dizer que,<br />
em vez <strong>de</strong> dar 10% <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto<br />
em <strong>um</strong> almoço, dar<br />
<strong>um</strong> almoço grátis, <strong>de</strong>pois do<br />
cliente carimbar 10 refeições<br />
cons<strong>um</strong>idas no seu restaurante.<br />
“Dessa forma você estará se relacionando<br />
com o cliente e fazendo<br />
com que ele fique frequente no seu<br />
estabelecimento. Normalmente<br />
essa técnica é bem aceita pelos<br />
clientes menos viciados, que encaram<br />
este tratamento sem<br />
perceber”, <strong>de</strong>staca.<br />
Furtado acredita que o<br />
cliente pechinchador só dá<br />
lucro para aquelas empresas<br />
que se posicionaram no<br />
mercado com estratégia <strong>de</strong> posicionamento focada<br />
em preço, ou seja: àquelas empresas que<br />
têm estrutura <strong>de</strong> custos baixa e elevada escala<br />
(alta rotativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estoque), o que confere a<br />
elas <strong>um</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra diferenciado. “Mas<br />
o que temos visto são empresas com estratégias<br />
focadas em especialização e di ferencia ção,<br />
entrando na bri ga por pre ços, o que fa talmente<br />
as levará a prejuízos e até à falência”.<br />
Já os mais pessi mis tas não pensam assim<br />
e, cada vez mais, se tornam a<strong>de</strong>ptos ao<br />
lema: “Nem sempre o cliente tem razão.<br />
Especialistas apontam que muitas empresas<br />
engros sam sua base <strong>de</strong> clientes<br />
e aca bam atraindo ina dimplentes e<br />
con quistando u su ários cujo custo <strong>de</strong><br />
transação é maior que o benefício<br />
gerado. Há empresas que<br />
dimi-nuem a rentabilida<strong>de</strong> à<br />
medida que a<strong>um</strong>entam o<br />
número <strong>de</strong> clientes.<br />
Pesquisas revelam<br />
que há pe -<br />
chin cheiros e<br />
pes soas que<br />
fa zem o lojis -<br />
ta per<strong>de</strong>r o<br />
tempo que<br />
p o d e r i a<br />
ser <strong>de</strong>di -<br />
cado a<br />
clientes<br />
mais sau -<br />
dáveis pa ra o<br />
futuro. “Alguns<br />
tratam o<br />
ven <strong>de</strong>dor como<br />
me ro fornecedor.<br />
Outros <strong>de</strong>ixam vo cê<br />
esperando <strong>um</strong> tempão<br />
e alguns nem<br />
valorizam o que<br />
você tem a oferecer.<br />
Quando se<br />
<strong>de</strong>frontar com<br />
clientes assim, e<br />
se você tiver outras<br />
opções, não<br />
he site: tente <strong>um</strong>a, duas ou<br />
até três vezes, mas não<br />
perca outras oportunida<strong>de</strong>s<br />
para tentar<br />
agradar a <strong>um</strong> cliente<br />
que não me rece seu<br />
esforço”, opina o<br />
consultor Nelson<br />
Ma cha do.<br />
A dica que<br />
Machado dá para o ven<strong>de</strong>dor é não estragar o<br />
dia por causa <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> cliente: “Concentre-se<br />
naqueles que valorizam o que você faz<br />
e que trazem retorno positivo para sua empresa.<br />
Não é só o cliente que tem <strong>de</strong> escolher<br />
a sua empresa. Empresas vencedoras são<br />
aquelas que também escolhem seus clientes e<br />
dão o melhor <strong>de</strong> si para os escolhidos”.<br />
O lojista também<br />
precisa pechinchar<br />
Do outro lado do balcão, também existe<br />
pechincha. Afinal o preço baixo para o cons<strong>um</strong>idor<br />
final exige <strong>um</strong>a negociação pelo <strong>de</strong>partamento<br />
<strong>de</strong> compra das empresas. Exemplo<br />
disso é a Ricardo Eletro, re<strong>de</strong> <strong>de</strong> varejo <strong>de</strong><br />
eletrodomésticos e móveis posicionada entre as<br />
cinco maiores do segmento, cujo slogan “Preço<br />
se faz assim” é <strong>um</strong>a verda<strong>de</strong>ira busca pela<br />
oferta do menor preço ao cons<strong>um</strong>idor final.<br />
A diretora <strong>de</strong> Compras e <strong>de</strong> Marketing da<br />
re<strong>de</strong> varejista, Sônia Trinda<strong>de</strong>, informa que no<br />
ato da compra já se pensa no cons<strong>um</strong>idor final.<br />
“A equipe sempre negocia com o fornecedor<br />
pensando em criar oportunida<strong>de</strong>s para os<br />
clientes. De cada <strong>de</strong>z produtos, cerca <strong>de</strong> dois<br />
ou três já são negociados pensando nos <strong>de</strong>s -<br />
contos”, revela.<br />
Há <strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong> profissionalização da<br />
compra. “Quando vamos contratar <strong>um</strong> ven<strong>de</strong>dor,<br />
avaliamos o perfil <strong>de</strong> <strong>um</strong> comprador. Já<br />
negociamos a promoção no ato da compra.<br />
Queremos <strong>um</strong> comprador ven<strong>de</strong>dor e não apenas<br />
repositor. A responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vendas<br />
está em comprar bem e garantir a venda do<br />
mês”, <strong>de</strong>talhou Sônia.<br />
A Ricardo Eletro possui <strong>um</strong>a “central do<br />
preço”, on<strong>de</strong> os preços do mercado e da concorrência<br />
são registrados. O preço praticado,<br />
conta Sônia, tem que ser ou igual ou menor.<br />
Prova disso é que a empresa oferece o preço<br />
protegido, consi<strong>de</strong>rada pela diretoria do grupo<br />
como a maior aposta para o Natal recente: <strong>de</strong>pois<br />
da compra, se a indústria ou a concorrência<br />
baixarem o preço, em ofertas divulgadas<br />
em anúncios, o cliente terá sete dias para levar<br />
a nota fiscal a qualquer loja, que o Ricardo <strong>de</strong>volve<br />
a diferença na hora. Mas a oferta é válida<br />
somente para as compras feitas à vista.<br />
O professor da Fatec Comércio, José Luciano<br />
S. Furtado, acredita que saber comprar<br />
também é <strong>um</strong>a ciência. Segundo ele, <strong>um</strong>a empresa<br />
que <strong>de</strong>seja se posicionar estrategicamente<br />
no mercado precisa negociar bem com<br />
as indústrias, a fim que o preço final para o<br />
cliente possa ser o mais baixo possível.<br />
ACIR GALVÃO
MÁRIO RIBEIRO<br />
Memórias vicentinas<br />
Antes <strong>de</strong> chegar ao novo<br />
século (ou ao novo<br />
milênio), a fábrica<br />
fechou: ela, que <strong>um</strong> dia<br />
re pre sentou evolução,<br />
cerrava as portas e<br />
calava seus velhos<br />
teares transformados<br />
em sucata, fenômeno<br />
ocorrido com gran<strong>de</strong><br />
número <strong>de</strong> fábricas <strong>de</strong><br />
tecidos por todo o<br />
Brasil.<br />
Na história da minha terra natal, ocorreu<br />
durante décadas <strong>um</strong> paradoxo: o distrito<br />
<strong>de</strong> São Vicente sobrepunha, em<br />
po<strong>de</strong>r eco nô mico a se<strong>de</strong> do município, Baldim.<br />
Explica-se: São Vicente fora escolhido pela<br />
Cia. Cedro e Cachoeira para instalar ali <strong>um</strong>a uni -<br />
da<strong>de</strong> industrial <strong>de</strong> fiação e tecelagem, enquan to<br />
Baldim seguia o padrão agro pe cuá ria/co mér cio.<br />
Houve algo <strong>de</strong> heroico na implantação da<br />
fábrica <strong>de</strong> tecidos em São Vicente: os teares, importados<br />
da Inglaterra, <strong>de</strong> Belo Horizonte até a<br />
altura <strong>de</strong> Funilândia foram levados via balsas<br />
pelo rio das Velhas, até então navegável e livre<br />
da poluição que inspirou muitas décadas <strong>de</strong>pois<br />
o livro <strong>de</strong> Wan<strong>de</strong>r Pirolli sobre a questão ambiental,<br />
“Os rios morrem <strong>de</strong> se <strong>de</strong>”.<br />
Mais ainda: <strong>de</strong> Funilândia ao então arraial <strong>de</strong><br />
São Vicente, algo em torno <strong>de</strong> 20 quilômetros, as<br />
pe ças dos teares foram levadas em lombo <strong>de</strong> burros.<br />
Com evi<strong>de</strong>nte atraso, a revolução industrial<br />
inglesa se instalou ali e tocava <strong>um</strong>a fábrica que<br />
agrupava seiscentos ou mais funcionários em<br />
três turnos <strong>de</strong> trabalho.<br />
Meu avô, Tonico Ribeiro, tecelão respeitado<br />
por seu trabalho na Cedro, foi <strong>de</strong>slocado para<br />
São Vicente com a família. Entre seus méritos,<br />
além <strong>de</strong> administrador, trazia a fama <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>senvolvido<br />
<strong>um</strong>a trançagem também inovadora, a<br />
que <strong>de</strong>u o título <strong>de</strong> 3R. “R” <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> Ribeiro,<br />
mas não sei porque o “3”, talvez relativo à forma<br />
como o pano era feito, na verda<strong>de</strong>, a chamada<br />
“chita”, que fez sucesso estrondoso no país,<br />
principalmente no Nor<strong>de</strong>ste, certamente contribuindo<br />
para o crescimento da empresa.<br />
No seu entusiasmo, Tonico Ribeiro adquiriu<br />
terras n<strong>um</strong> lugar chamado “Varge do Capim” e<br />
cuidou ele também <strong>de</strong> importar <strong>um</strong>a máquina<br />
dos sonhos daquela época: o locomóvel, na verda<strong>de</strong><br />
<strong>um</strong>a locomotiva a vapor, estática, para<br />
fornecer e ner gia à pequena fazenda.<br />
Deixo para outra vez contar a epopeia do<br />
transporte e instalação do locomóvel, operações<br />
que me levam às lágrimas pela coragem e empreen<strong>de</strong>dorismo<br />
dos personagens.<br />
Personagens <strong>de</strong> <strong>um</strong>a época que a globalização<br />
já conseguiu praticamente apagar da história<br />
e que, muito em breve, apagará <strong>de</strong> vez. Esquecemo-nos<br />
que a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> sempre existiu em<br />
várias épocas da história da civilização, como<br />
escreveu Marshal Berman, no seu livro “Tudo<br />
que é sólido <strong>de</strong>smancha no ar”.<br />
Em 1998, quando escrevia <strong>um</strong> res<strong>um</strong>o do<br />
livro “As megatendências para o ano 2000”, <strong>de</strong>i<br />
<strong>um</strong>a paradinha para ver o “Jornal Nacional” e<br />
quase caí da ca<strong>de</strong>ira: Cid Moreira anunciava a<br />
queda do Muro <strong>de</strong> Berlim, visto também como<br />
símbolo do fim das i<strong>de</strong>ologias, tese que acabara<br />
<strong>de</strong> ler minutos antes no livro <strong>de</strong> John Naisbitt.<br />
É. Realmente, tudo que é sólido <strong>de</strong>smancha<br />
no ar, digo para reverenciar novamente Marshall<br />
Berman, citado anteriormente, quando contava a<br />
aventura da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> pela qual passou o<br />
mo<strong>de</strong>sto distrito <strong>de</strong> São Vicente com a implantação,<br />
ali, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a fábrica <strong>de</strong> tecidos no início do<br />
último século do milênio passado.<br />
Antes <strong>de</strong> chegar ao novo século (ou ao novo<br />
milênio), a fábrica fechou: ela, que <strong>um</strong> dia re pre<br />
sentou evolução, cerrava as portas e calava seus<br />
velhos teares transformados em sucata, fenômeno<br />
ocorrido com gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> fábricas<br />
<strong>de</strong> tecidos por todo o Brasil.<br />
A fábrica <strong>de</strong> tecidos era praticamente tudo<br />
para aquela comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> três mil<br />
pessoas. Seu fechamento significou terrível<br />
baque para as gerações que se seguiram ao início<br />
da fábrica. De longe, recordando os feitos <strong>de</strong><br />
meu avô Tonico Ribeiro e do meu pai Joãozito<br />
em torno da indústria, me vi absolutamente incapaz<br />
para oferecer i<strong>de</strong>ias e projetos para os que<br />
me procuraram pedindo ajuda.<br />
Mas os velhos operários juntaram as economias<br />
e montaram pequenas instalações quase<br />
domésticas, com os teares arrematados da companhia.<br />
Fazem, por exemplo, panos <strong>de</strong> prato. O<br />
marketing intuitivo lhes ensinou que <strong>de</strong>veriam<br />
grafar nos panos a palavra “açúcar”, porque as<br />
donas <strong>de</strong> casa da cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>ram que<br />
pano <strong>de</strong> prato bom é o que resulta <strong>de</strong> panos <strong>de</strong><br />
sacos <strong>de</strong> açúcar.<br />
Minha informante das coisas <strong>de</strong> São Vicente<br />
conta que, hoje, a maioria da população é formada<br />
por aposentados, como ocorre na maioria<br />
<strong>de</strong> pequenos municípios brasileiros. Os jovens<br />
saem cedo para tentar a vida em Belo Horizonte<br />
ou Sete Lagoas. A tradição tecelã possibilitou a<br />
criação <strong>de</strong> pequenas comunida<strong>de</strong>s familiares<br />
para a produção <strong>de</strong> tricô, croché e trabalhos<br />
manuais em linha, que o mundo novo acha que<br />
<strong>um</strong> dia as máquinas liquidarão também.<br />
É sabido que os panos <strong>de</strong> pratos produzidos<br />
em São Vicente sofrem ataques pesados <strong>de</strong><br />
novos produtos <strong>de</strong> limpeza. Mas o ataque pior,<br />
no enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> minha informante, é dos carros<br />
daqueles que chegam da Capital para passar o<br />
fim <strong>de</strong> semana e abrem o som nas noites <strong>de</strong> sá -<br />
bado para promover, nas ruas pacatas do arraial,<br />
baladas insuportáveis, que vão até o sol raiar.<br />
A mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> dos nossos ancestrais fazia mais<br />
sen tido. Pelo menos se fundamentava em valores<br />
mais nobres e, sobretudo, menos barulhentos.<br />
44 DEZEMBRO DE 2009
PERFIL<br />
A melhor companhia<br />
é a do terno<br />
Pedro Paulo Dr<strong>um</strong>mond comemora os nove<br />
anos <strong>de</strong> sua Cia. do Terno, que popularizou a<br />
ind<strong>um</strong>entária masculina mais clássica<br />
QUEILA ARIADNE<br />
Pimeiro, foram os tecidos. Depois, as roupas para mu -<br />
lheres. Então, vieram as roupas masculinas. E, mais<br />
tar<strong>de</strong>, os ternos, hoje vendidos em 15 estados<br />
brasileiros. A Cia. do Terno foi fundada há nove anos. Mas a<br />
história do negócio teve origem há pelo menos 20, marco da<br />
trajetória do seu fundador, o empresário mineiro Pedro Paulo<br />
Dr<strong>um</strong>mond. A empresa surgiu antes mesmo dos dois filhos,<br />
<strong>um</strong> rapaz <strong>de</strong> 18 e <strong>um</strong>a menina <strong>de</strong> 15, frutos <strong>de</strong> <strong>um</strong> casamento<br />
que também dura 20 anos.<br />
ARTE DE SER SIMPLES<br />
Pedro Paulo, aos 50 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, ainda trabalha muito. E<br />
gosta das coisas simples da vida: comer pizza em casa; ir ao<br />
boteco conversar lorotas com os amigos; jogar tênis; viajar; e,<br />
principalmente, ficar com a família. Até os 30 anos, trabalhava<br />
com tecidos: “Fui apren<strong>de</strong>ndo aos poucos e passei a conhecer<br />
bastante. Até que resolvi, junto com minha mulher e minhas<br />
duas irmãs, abrir <strong>um</strong>a loja <strong>de</strong> roupas femininas: a Raro Efeito,<br />
que fez 20 anos agora em novembro. Minha experiência com<br />
os tecidos ajudou muito, principalmente na hora <strong>de</strong> fabricar as<br />
peças”.<br />
Mesmo com os negócios indo bem, o empresário queria<br />
mais alg<strong>um</strong>a coisa. Tornou-se sócio da Art Man, especializada<br />
em moda masculina: “Foi lá que eu comecei a apren<strong>de</strong>r a lidar<br />
com roupas masculinas. Fui sócio por cinco anos e fizemos<br />
<strong>um</strong>a separação amigável, pois eu já pensava em <strong>de</strong>senvolver<br />
algo diferente, mais popular”.<br />
Naquela época, apareceram dois amigos para ajudar: o filho<br />
da ex-sócia e outro empresário, que acabara <strong>de</strong> fechar <strong>um</strong>a loja<br />
e se tornou gerente – e ainda é. Estava fundada a Cia. do Terno.<br />
“No início, éramos 90% preço e 10% propaganda. Hoje,<br />
somos 20% preço e 80% qualida<strong>de</strong> e pessoal, pois, no caminho<br />
<strong>de</strong> <strong>um</strong> negócio, seja ele qual for, nos relacionamos com muitas<br />
pessoas. Para dar certo, a equipe precisa ser coesa. Se ela trabalha<br />
bem, o negócio cresce”, <strong>de</strong>staca.<br />
A primeira loja, aberta no Minas Shopping, fez nove anos<br />
no dia 9 do 9 <strong>de</strong> 2009. Um mês <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ssa, veio a segunda,<br />
no Shopping Cida<strong>de</strong>. A primeira fora <strong>de</strong> Belo Horizonte foi<br />
inaugurada em Lavras, em fevereiro <strong>de</strong> 2001. Hoje, o empresário,<br />
que começou ven<strong>de</strong>ndo tecidos, administra 91 lojas,<br />
que geram 940 empregos diretos e mais <strong>de</strong> 6.000 indiretos.<br />
Abrir outras lojas não faz parte dos planos <strong>de</strong> curto prazo.<br />
“Não vemos motivos para correr, se aparecer <strong>um</strong>a boa oportunida<strong>de</strong>,<br />
vamos nos expandir sim, mas não vamos ficar igual<br />
maluco. Queremos <strong>um</strong> negócio sólido, que atenda bem nossos<br />
clientes”, ressalta Pedro Paulo Dr<strong>um</strong>mond.<br />
PRECONCEITOS FORA<br />
Dos ternos vendidos, 70% vêm da China. Há preconceito?<br />
“Ainda existe”, respon<strong>de</strong> Pedro Paulo, “mas não afeta nosso<br />
negócio. Prova disso é que temos ganhado mercado”.<br />
O empresário afirma que ainda persiste certo estigma <strong>de</strong><br />
que <strong>um</strong> terno da Cia. do Terno não é bom porque é mais barato:<br />
“Nós trabalhamos com alta qualida<strong>de</strong>. Nossos produtos têm<br />
gran<strong>de</strong> durabilida<strong>de</strong> e é isso que eu quero oferecer cada vez<br />
mais. Existe mercado para todo mundo: dinheiro vale tanto<br />
para quem ganha R$ 700, quanto para quem ganha R$ 100<br />
mil. Sinceramente, quem <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> comprar na nossa loja, para<br />
comprar <strong>um</strong> terno porque ele é mais caro, fica <strong>de</strong> bolso aberto,<br />
está jogando dinheiro pela lapela”.<br />
46 DEZEMBRO DE 2009
DEZEMBRO DE 2009<br />
ÉLCIO PARAÍSO<br />
Pedro Paulo<br />
encarou o<br />
conceito <strong>de</strong> que<br />
terno e gravata<br />
cabem em vários<br />
bolsos e tornou<br />
acessível a<br />
tradicional<br />
ind<strong>um</strong>entária<br />
masculina<br />
47
LONGE DOS HOLOFOTES<br />
Plantou <strong>um</strong>a árvore,<br />
escreveu <strong>um</strong> livro e<br />
construiu estádios<br />
Aos 76 anos, Gil César Moreira <strong>de</strong> Abreu, o<br />
responsável pelo projeto <strong>de</strong> engenharia do<br />
Mineirão, continua trabalhando, acaba <strong>de</strong> lançar<br />
<strong>um</strong> livro e teve cinco filhos nos últimos seis anos<br />
ANTONIO CORTELETI<br />
Afoto emoldurada na pare<strong>de</strong> do escritório<br />
<strong>de</strong>nuncia a ligação estreita do<br />
seu dono com o futebol. Entretanto,<br />
no lugar do seu clube <strong>de</strong> coração, o Atlético,<br />
os tentando <strong>um</strong>a faixa <strong>de</strong> campeão, o que se<br />
vê é <strong>um</strong>a fotografia já esmaecida pe lo tempo<br />
do estádio do Mineirão recém-inaugurado,<br />
em 1965. Mais do que a paixão pe lo esporte<br />
mais popular do Brasil, o Gigan te da Pampu -<br />
lha representa o orgulho maior <strong>de</strong> Gil César Mo -<br />
reira <strong>de</strong> Abreu, o engenheiro responsável pe las<br />
<strong>obras</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> dos maiores estádios do mundo e<br />
que está pres tes a passar por <strong>um</strong>a refor mulação<br />
total para a Copa do Mundo <strong>de</strong> 2014.<br />
Aos 76 anos, Gil César segue traba lhan do e<br />
não pensa em se aposentar. No momen to, ele<br />
atua no projeto <strong>de</strong> <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> edifícios re -<br />
si<strong>de</strong>nciais e comerciais em La goa Santa,<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Região Metropolitana <strong>de</strong> Belo Ho rizon<br />
te, on<strong>de</strong> vive há 16 anos. Além <strong>de</strong> trabalhar<br />
na iniciativa priva da e em di versos órgãos públicos,<br />
Gil também atuou na política, tendo sido<br />
eleito ve reador, <strong>de</strong> pu tado estadual e fe<strong>de</strong>ral. No<br />
cur rículo como engenheiro, estão vários ou tros<br />
estádios construídos após o Mineirão, como as<br />
arenas <strong>de</strong> Teresina, João Pessoa, Campina Gran -<br />
<strong>de</strong>, São Luís e Uberlândia, entre outras.<br />
“Após a construção do Mineirão, João Ha -<br />
velange, que era presi<strong>de</strong>nte da Confe<strong>de</strong> ração<br />
Brasileira <strong>de</strong> Desporto (hoje CBF), cha mo<strong>um</strong>e<br />
e disse que pretendia criar <strong>um</strong> campeonato<br />
brasileiro forte, com times <strong>de</strong> todo o país.<br />
Mas, para ter equipes do Norte e Nor<strong>de</strong>ste, era<br />
preciso que essas regiões tivessem estádios<br />
gran<strong>de</strong>s, que motivassem os clubes e a torcida”,<br />
relembra Gil César.<br />
Segundo ele, o ex-presi<strong>de</strong>nte da Fifa também<br />
se comprometeu a apresentá-lo aos go -<br />
ver nadores, <strong>de</strong> modo a facilitar o contato do<br />
engenheiro com os políticos, o que <strong>de</strong> fa to<br />
aconteceu. “O meu maior problema era dissuadir<br />
alguns governadores que queriam cons -<br />
truir estádios <strong>de</strong> até 70 mil pessoas em cida<strong>de</strong>s<br />
como Teresina e João Pessoa, que na época,<br />
não contavam com 300 mil habitantes. Seria<br />
preciso esvaziar a cida<strong>de</strong> para encher o estádio”,<br />
ironiza.<br />
Mas, o maior <strong>de</strong>safio da carreira <strong>de</strong> Gil<br />
César foi, sem dúvida, o Mineirão. Apesar <strong>de</strong><br />
ter apenas 27 anos, o jovem engenheiro civil<br />
formado pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas<br />
Gerais (UFMG) não se assustou pe ran te o <strong>de</strong>safio<br />
colocado pelo governador Bias For te,<br />
que o convidou para comandar as <strong>obras</strong>. Diante<br />
<strong>de</strong> empreendimento <strong>de</strong> tal porte, Gil<br />
César não hesitou em procurar a referência<br />
para este tipo <strong>de</strong> obra: o professor Arthur Eugênio<br />
Jermann, do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Enge -<br />
nharia Mecânica da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro (UFRJ), responsável pelo projeto<br />
<strong>de</strong> engenharia do Maracanã, o maior estádio<br />
do mundo, inaugurado em 1950 para a<br />
Copa do Mundo.<br />
“O Jermann mostrou as dificulda<strong>de</strong>s que<br />
cost<strong>um</strong>am ocorrer em <strong>obras</strong> <strong>de</strong>sse porte, o que<br />
se <strong>de</strong>ve fazer para evitar trincas e rachaduras.<br />
Por isso, não houve muitas dificulda<strong>de</strong>s técnicas<br />
para construir o Mineirão. Na verda<strong>de</strong>,<br />
o pai da estrutura do Mineirão é o Jermann”,<br />
afirma, h<strong>um</strong>il<strong>de</strong>mente.<br />
Ex-jogador <strong>de</strong> basquete e ex-remador, Gil<br />
César relata que o projeto <strong>de</strong> construir <strong>um</strong> estádio<br />
vinha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1957, quando o <strong>de</strong> pu tado<br />
Jorge Carone Filho apresentou <strong>um</strong> pro jeto na<br />
“<br />
O meu maior problema<br />
era dissuadir alguns<br />
governadores, que queriam<br />
construir estádios <strong>de</strong> até 70<br />
mil pessoas em cida<strong>de</strong>s como<br />
Teresina e João Pessoa, que,<br />
na época, não contavam com<br />
<strong>um</strong>a população <strong>de</strong> 300 mil<br />
habitantes. Seria preciso<br />
esvaziar a cida<strong>de</strong> para encher<br />
o estádio.”<br />
48 DEZEMBRO DE 2009
Assembleia Legislativa que previa a cons -<br />
trução <strong>de</strong> <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> estádio em Mi nas Gerais.<br />
Na época, Gil era presi<strong>de</strong>nte da Fe <strong>de</strong> ração<br />
Universitária <strong>de</strong> Mineira <strong>de</strong> Esportes (FUME),<br />
entida<strong>de</strong> que também planejava cons truir <strong>um</strong><br />
estádio universitário, para 20 mil pessoas. Os<br />
interesses comuns confluíram para <strong>um</strong> único<br />
projeto, apresentado ao governador Bias For -<br />
tes, que prontamente o encampou.<br />
De acordo com o engenheiro, o Mineirão<br />
foi fundamental para o <strong>de</strong>senvolvimento e<br />
povoamento da região da Pampulha. “Na quela<br />
época, a Pampulha era muito longe e o acesso<br />
era difícil. Ninguém queria ir traba lhar, nem estudar<br />
lá. O reitor da UFMG, Pedro Paulo<br />
Penido, <strong>de</strong>sejava reunir as unida<strong>de</strong>s, antes espalhadas<br />
pela região central, no campus da<br />
Pampulha e enfrentava a resistência dos professores.<br />
Com o projeto do Mineirão, o Penido<br />
<strong>de</strong>cidiu levar adiante a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> cons truir o Centro<br />
Esportivo Universitário (CEU), localizado<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
em frente ao hall principal do Mineirão, o que<br />
motivaria professores e alunos a irem para o<br />
campus”, recorda.<br />
O CEU, cujo projeto <strong>de</strong> engenharia também<br />
foi <strong>de</strong> Gil César, acabou sendo finalizado apenas<br />
em 1971, seis anos após a inauguração do estádio,<br />
que também motivou a abertura <strong>de</strong><br />
avenidas, como a Carlos Luz, construída especificamente<br />
para che gar até a arena e que facilitou<br />
a ocupação da região por em presas, como<br />
a se<strong>de</strong> da Usiminas, e por novos bairros.<br />
COPA DO MUNDO. Satisfeito por ver sua<br />
obra-prima tornar-se <strong>um</strong> dos principais pal -<br />
cos da Copa do Mundo <strong>de</strong> 2014, o cons trutor<br />
do Mineirão confessa não conhecer os<br />
<strong>de</strong>talhes da reforma do Gigante da Pam pulha,<br />
que será feita por <strong>um</strong> escritório <strong>de</strong> arquitetura<br />
<strong>de</strong> Belo Horizonte em as so cia ção com outro<br />
europeu. Na verda<strong>de</strong>, ele não sabe se será<br />
consultor das novas <strong>obras</strong>. “Até agora não<br />
Aos 76 anos, Gil César<br />
Moreira <strong>de</strong> Abreu, o<br />
responsável pelo projeto<br />
<strong>de</strong> engenharia do<br />
Mineirão, continua<br />
trabalhando, acaba <strong>de</strong><br />
lançar <strong>um</strong> livro e é pai <strong>de</strong><br />
cinco filhos nos últimos<br />
seis anos<br />
ÉLCIO PARAÍSO<br />
recebi nenh<strong>um</strong> convite”.<br />
Esta aparente <strong>de</strong>cepção, porém, parece não<br />
fazer frente ao momento ímpar que o enge -<br />
nhei ro tem vivido nos últimos anos. Casado há<br />
15 anos com Tatiana, só aos 70 anos Gil César<br />
conseguiu realizar o sonho <strong>de</strong> ser pai, que veio<br />
em dose quíntupla, com dois casais <strong>de</strong> gêmeos<br />
(Cristal e Gil, <strong>de</strong> seis anos; Hilda e João César,<br />
<strong>de</strong> dois; e Augusto, com seis meses). Outro<br />
motivo <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> para ele foi o lançamento,<br />
há quatro meses, do seu livro <strong>de</strong> memórias “A<br />
construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vida”, no qual ele relata <strong>de</strong>talhes<br />
saborosos da construção do Mineirão e<br />
<strong>de</strong> outros aspectos profissionais e pessoais <strong>de</strong><br />
sua vida.<br />
“Pretendo ver meus filhos crescerem e se<br />
tornarem adultos. Afinal, hoje, muitas pessoas<br />
estão chegando aos cem anos”, diz. Para quem<br />
construiu <strong>obras</strong> eternas como o Mineirão,<br />
chegar a <strong>um</strong> século <strong>de</strong> vida não parece <strong>um</strong> <strong>de</strong>safio<br />
tão difícil assim <strong>de</strong> ser vencido.<br />
49
ALMANAQUE<br />
Guia <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> para<br />
LUÍS AUGUSTO SAMPAIO<br />
ato <strong>Relevante</strong> não recebe apenas cartas <strong>de</strong><br />
empresários e executivos. Mas também <strong>de</strong><br />
muitas leitoras. Destacamos a carta da<br />
gerente <strong>de</strong> <strong>um</strong>a imobiliária. Monique<br />
Stuart (pseudônimo) se mostra muito <strong>de</strong>cepcionada<br />
com os homens <strong>de</strong> negócios. Mineiros em especial,<br />
que se preocupam apenas com trabalho, negócios e<br />
lucros, tratando as mulheres como se fossem <strong>um</strong> nó<br />
<strong>de</strong> gravata ou <strong>um</strong>a meia com buraco no calcanhar.<br />
Ou seja, como simples commodity; no caso, <strong>um</strong>a<br />
comida perecível.<br />
Monique lamenta o <strong>de</strong>saparecimento dos bons<br />
tempos que ela não viveu, aqueles dos livros <strong>de</strong><br />
cavalaria. Entre eles, a história dos 12 cavaleiros da<br />
Távola Redonda. Destaque para o sedutor Sir<br />
Lancelot, o mais perfeito e admirado dos<br />
cavaleiros: “Um homem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s virtu<strong>de</strong>s<br />
pessoais e profissionais”, diz ela.<br />
Bom comportamento que pereceu na poeira dos<br />
séculos. Bons tempos, sim, do refinamento <strong>de</strong><br />
cost<strong>um</strong>es e da valorização das mulheres,<br />
incensadas como fonte inspiradora dos menestréis,<br />
poetas, trovadores e dos garbosos cavalheiros nas<br />
tar<strong>de</strong>s langorosas do amor cortês e dos afetos<br />
<strong>de</strong>senfreados. E tudo isso sem per<strong>de</strong>r o vigor e a<br />
masculinida<strong>de</strong>.<br />
De fato, discutimos o tema com as garotas aqui<br />
da redação e po<strong>de</strong>mos reconhecer, h<strong>um</strong>il<strong>de</strong>mente,<br />
que a competição exacerbada pela sobrevivência<br />
está tornando o homem muito ru<strong>de</strong>. Então<br />
<strong>de</strong>cidimos oferecer aos nossos aturdidos leitores<br />
algo maior que os tormentosos problemas da vida<br />
concreta, como a competição nos negócios ou o<br />
medo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o emprego. Nós todos<br />
necessitamos, isto sim, é <strong>de</strong> paixão, da aventura, da<br />
entrega, <strong>de</strong> abnegação e, sobretudo, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais<br />
irredutíveis e profundos.<br />
Em outras palavras, <strong>de</strong>cidimos criar o Guia <strong>Fato</strong><br />
<strong>Relevante</strong> para o Perfeito Cavalheiro que<br />
apresentaremos <strong>de</strong> forma res<strong>um</strong>ida neste texto.<br />
Claro que fomos buscar ajuda aos nossos colegas<br />
(e ídolos) da revista americana Esquire, eles que<br />
reconhecidamente são experientes PhDs no trato<br />
com as mulheres.<br />
50 DEZEMBRO DE 2009
DEZEMBRO DE 2009<br />
ANDRÉA VIANA/ILUSTRAÇÕES ACIR GALVÃO<br />
51
primeira coisa que<br />
recomendamos ao caro leitor é<br />
fazer <strong>um</strong> teste para saber o grau<br />
do seu cavalheirismo (se existir<br />
alg<strong>um</strong>, claro). Por isso,<br />
apresentamos alg<strong>um</strong>as situações<br />
complicadas, em que você, se não for<br />
<strong>um</strong> perfeito cavalheiro, cairá da escala<br />
<strong>de</strong> Príncipe Encantado para <strong>um</strong><br />
absoluto Zé Mané.<br />
Claro que o cavalheirismo hoje é<br />
mais ameno. As mulheres <strong>de</strong>sejam, no<br />
máximo, que você pague integralmente<br />
a conta do restaurante. Elas não têm o<br />
mínimo temor <strong>de</strong> que, n<strong>um</strong> repente,<br />
você lave a honra <strong>de</strong>la com sangue.<br />
Você não será mais obrigado a<br />
<strong>de</strong>sembainhar a espada para <strong>um</strong> duelo a<br />
cada insulto ou gracejo dirigido à sua<br />
dama. Mas <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> não <strong>de</strong>seja<br />
que você seja o imbecil que leva <strong>um</strong>a<br />
faca para o tiroteio, ou <strong>um</strong> estilingue<br />
para a briga das torcidas.<br />
Nos lhe oferecemos cinco<br />
pontos para dar início à<br />
partida. Adicione ou subtraia<br />
pontos a cada resposta.<br />
Vejamos o seu <strong>de</strong>sempenho<br />
Em <strong>um</strong>a data comemorativa:<br />
a) Você sempre paga o<br />
jantar (+10)<br />
b) Você propõe dividir a<br />
conta (-10)<br />
c) Você a obriga a pagar<br />
os beliscos que <strong>de</strong>u no seu<br />
prato (-10)<br />
d) Esquece (<strong>de</strong> propósito) a<br />
carteira em casa (-20)<br />
Você está na rua e <strong>um</strong>a mulher é<br />
atacada:<br />
a) Você enfrenta o agressor (+20)<br />
b) Olha em volta e busca ajuda <strong>de</strong><br />
alguém forte e corajoso (-5)<br />
c) Apenas grita “covar<strong>de</strong>!” e dá<br />
no pé (-15)<br />
d) Grita “mamãe!“ e dispara rua<br />
abaixo, até on<strong>de</strong> seu fôlego <strong>de</strong>r (-10)<br />
52 DEZEMBRO DE 2009
Quem, no seu modo <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r, sabe<br />
melhor tratar as mulheres:<br />
a) O lí<strong>de</strong>r talibã Mullah Mohammed<br />
Omar (-50)<br />
b) O rei inglês Henrique VIII (-15)<br />
c) Giovanni Casanova (5)<br />
d) Aquela cantora alta e <strong>de</strong> voz<br />
grossa (20)<br />
N<strong>um</strong> trem ou n<strong>um</strong> ônibus lotado,<br />
a quem você ce<strong>de</strong>ria seu lugar:<br />
a) Uma mulher grávida (2)<br />
b) Uma mulher idosa (5)<br />
c) A rainha da bateria da sua escola<br />
<strong>de</strong> samba (10)<br />
d) A nenh<strong>um</strong>a, você resmunga que está<br />
morto <strong>de</strong> cansado (-20).<br />
Alguém passa a mão na bunda da sua<br />
mulher em <strong>um</strong> boteco. Você:<br />
a) Puxa conversa com a pessoa do<br />
lado, para fingir que não viu (10)<br />
b) Espera para ver o que acontece<br />
(po<strong>de</strong> ser que ela goste) (5)<br />
c) Diz que foi <strong>um</strong> aci<strong>de</strong>nte e pra ela<br />
relaxar (-5)<br />
d) Pe<strong>de</strong> a conta e se manda, com<br />
a certeza <strong>de</strong> que a bunda <strong>de</strong>la não<br />
vale <strong>um</strong>a briga<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
Em seu aniversário, sua mulher <strong>de</strong>smaia<br />
e bate com a cabeça no chão. Você:<br />
a) Leva a dona correndo ao hospital<br />
e a <strong>de</strong>ixa lá, para não estragar sua<br />
festa (20)<br />
b) Coloca-a sobre <strong>um</strong>a montanha <strong>de</strong><br />
casacos e exige que ela durma alg<strong>um</strong>as<br />
horas (5)<br />
c) Pergunta para ela por que quer<br />
sempre ser o centro das atenções (-10)<br />
d) Deixa-a <strong>de</strong>itada no lugar on<strong>de</strong><br />
caiu e vai tomar <strong>um</strong>a dose <strong>de</strong> uísque<br />
caubói (10)<br />
Vocês estão n<strong>um</strong> camping e <strong>um</strong>a onça<br />
aparece. Você:<br />
a) Manda a mulher correr (20)<br />
b) Heroicamente, parte na frente,<br />
para limpar o caminho para ela (-20)<br />
c) Pe<strong>de</strong> a ela para ser gentil com a<br />
onça, enquanto você vai buscar<br />
socorro (-10)<br />
d) Escon<strong>de</strong>-se na barraca e pe<strong>de</strong> a<br />
ajuda <strong>de</strong> São Benedito. Ou São<br />
Judas Ta<strong>de</strong>u (-20)<br />
Quando o cavalheirismo está morto<br />
Você está disposto a abrir a<br />
porta, puxar <strong>um</strong>a ca<strong>de</strong>ira ou<br />
pagar a conta no restaurante<br />
para <strong>um</strong>a mulher. Mas está<br />
disposto a vingar a honra<br />
<strong>de</strong>la no caso <strong>de</strong> <strong>um</strong>a ofensa<br />
a <strong>um</strong>a mulher? A honra <strong>de</strong>la<br />
é <strong>um</strong>a extensão <strong>de</strong> você? Ou<br />
é mais importante que sua<br />
própria vida?<br />
Se sua mulher fosse <strong>um</strong> automóvel, ela<br />
seria:<br />
a) Uma Merce<strong>de</strong>s Benz, elegante,<br />
cujo capô lembra <strong>um</strong> leito nupcial (5)<br />
b) Um Aston Martin 1967, aquela<br />
máquina nervosa pilotada por James<br />
007 Bond (10)<br />
c) Um Shelby Cobra 1967 (ano pródigo),<br />
<strong>um</strong> dos carros mais <strong>de</strong>sejados do<br />
mundo (15)<br />
d) Um jipe utilitário, que enfrenta<br />
qualquer parada, sobretudo as compras<br />
<strong>de</strong> supermercado (-5)<br />
e) Uma minivã, utilitária, ótima para<br />
encher <strong>de</strong> crianças (-20)<br />
Mais <strong>de</strong> 100 pontos,<br />
parabéns, você está<br />
inscrito nas fileiras<br />
do Príncipe<br />
Encantado<br />
A maioria não se obriga a respon<strong>de</strong>r a essa questão<br />
pois não vivemos n<strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> baseada na<br />
honra. Mas há aqueles que escolhem viver sob<br />
códigos arcaicos e são obrigados a respon<strong>de</strong>r a<br />
cada insulto. Para eles, a mulher é proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong> homem. Se é insultada, ele também é insultado.<br />
Do tipo “Hei, ele me insultou“; ou,“Eu não gostei<br />
como você está olhando para minha namorada”.<br />
Como resolver? Lembrem-se do inocente que leva<br />
<strong>um</strong>a faca <strong>de</strong> ponta para <strong>um</strong> tiroteio.<br />
53
Quando é certo não pagar<br />
Sim, as mulheres são mais educadas<br />
e provavelmente sobreviverão a<br />
você. Mas, ainda assim, você terá<br />
que pagar quando sair com elas.<br />
Mas nunca:<br />
Em seu aniversário, ou qualquer<br />
outra data que estiver celebrando.<br />
Na compra <strong>de</strong> presente <strong>de</strong><br />
casamento para <strong>um</strong> amigo ou amiga.<br />
E muito menos para essas besteiras<br />
<strong>de</strong> chá <strong>de</strong> panela ou chá <strong>de</strong> solteira.<br />
Quando o pai <strong>de</strong>la estiver à mesa.<br />
Quando você estiver fisicamente<br />
“enfermo” o suficiente para<br />
movimentar o braço para tirar a<br />
carteira do bolso.<br />
s regras e os códigos da<br />
cavalaria são muito bons. Mas é<br />
preciso saber quando <strong>um</strong>a<br />
mulher está mesmo interessada<br />
em cavalaria, digo, cavalheirismo. O<br />
que ela realmente quer, hoje em dia?<br />
Fizemos a pesquisa abaixo com cinco<br />
mulheres. Veja o que respon<strong>de</strong>ram:<br />
O que ela realmente quer<br />
Quando ce<strong>de</strong> seu lugar, você <strong>de</strong>monstra<br />
respeito ou mostra o seu chauvinismo<br />
ultrapassado? Nós estamos entrando<br />
n<strong>um</strong> prédio. Po<strong>de</strong>mos manter a porta<br />
aberta para que você entre?<br />
Isso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>. Se estiver a <strong>um</strong> ou dois<br />
passos à minha frente, espero que você<br />
mantenha a porta abeta. Mas, se estiver<br />
mais à frente, a impressão é que você<br />
<strong>de</strong>seja que eu me apresse. Então,<br />
melhor você seguir seu caminho.<br />
Estamos sentados entre amigos no<br />
restaurante lotado <strong>de</strong> <strong>um</strong> trem. E você<br />
está em pé ao nosso lado. Temos <strong>de</strong><br />
ce<strong>de</strong>r o lugar?<br />
Eu acho que homens se levantarem<br />
para ce<strong>de</strong>r lugar a mulheres jovens e<br />
saudáveis é absolutamente ridículo.<br />
Não é <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> respeito, mas<br />
<strong>de</strong> <strong>um</strong> chauvinismo explicito. Eu sou<br />
perfeitamente capaz <strong>de</strong> ficar em pé.<br />
Não sou nenh<strong>um</strong>a flor <strong>de</strong>licada, que<br />
murchará se não se sentar.<br />
Mas nós po<strong>de</strong>mos achar que você esteja<br />
grávida. Ninguém sabe o que existe na<br />
cabeça nem no ventre <strong>de</strong> vocês.<br />
Nesse caso, é melhor ce<strong>de</strong>r o lugar e<br />
ponto. Sem nada perguntar ou comentar.<br />
Nada mais <strong>de</strong>sagradável que ouvir <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong> homem que está ce<strong>de</strong>ndo o lugar a<br />
<strong>um</strong>a mulher grávida. É como se fosse<br />
<strong>um</strong> <strong>de</strong>ver e, não, <strong>um</strong> gesto <strong>de</strong> gentileza.<br />
Uma mulher está carregando <strong>um</strong>a<br />
gran<strong>de</strong> mala no aeroporto. Não po<strong>de</strong>mos<br />
oferecer ajuda?<br />
Não há nenh<strong>um</strong>a razão para isso. Na<br />
verda<strong>de</strong>, você po<strong>de</strong> estar atrapalhando,<br />
impedindo que se aproxime <strong>de</strong>la alguém<br />
muito mais interessante que você.<br />
Passamos por <strong>um</strong>a mulher andando na<br />
rua e chorando. O que <strong>de</strong>vemos fazer?<br />
Já nos sentimos bastante<br />
<strong>de</strong>sconfortáveis quando estamos<br />
chorando. Nesse momento, o que a<br />
gente menos <strong>de</strong>seja é ser reconhecida<br />
ou enfrentar intromissões. A não ser,<br />
claro, se estivermos chorando porque<br />
o carro furou o pneu ou apresentou<br />
problemas<br />
Você está saindo <strong>de</strong> <strong>um</strong> bar<br />
razoavelmente bêbada, vacila e tropeça.<br />
Devemos ajudar?<br />
Apenas se for para chamar <strong>um</strong> táxi. Ou<br />
perguntar se ainda tenho alg<strong>um</strong> amigo<br />
<strong>de</strong>ntro do bar. Fora disso, vaze, você<br />
assustará até porteiro <strong>de</strong> cemitério.<br />
N<strong>um</strong> estacionamento <strong>de</strong> shopping,<br />
vemos <strong>um</strong>a mulher apanhando <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
homem alto, provavelmente seu<br />
namorado. Devemos fazer alg<strong>um</strong>a<br />
coisa?<br />
Claro que não. Se é briga, <strong>um</strong> dos dois<br />
<strong>de</strong>ve estar chateado. E ainda por cima<br />
vem alg<strong>um</strong> se intrometer. Respeite a<br />
privacida<strong>de</strong> das pessoas. Deixe para lá,<br />
vá cuidar <strong>de</strong> sua vidinha medíocre.<br />
Estamos n<strong>um</strong> bar e percebemos <strong>um</strong>a<br />
mulher sendo abordada <strong>de</strong> forma<br />
agressiva e pouco cavalheiresca.<br />
Po<strong>de</strong>mos entrar em cena?<br />
Você ficou doido? Nós somos mais do<br />
que capazes <strong>de</strong> dispensar qualquer<br />
idiota atrevido ou bicão.<br />
54 DEZEMBRO DE 2009
m cavalheiro nunca sabe<br />
quando será chamado para<br />
entrar em ação. Então, como <strong>um</strong><br />
cavalheiro mo<strong>de</strong>rno, an<strong>de</strong><br />
sempre com as armas indispensáveis<br />
para o exercício <strong>de</strong> suas virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
paladino da cortesia e da elegância:<br />
Caneta<br />
boa para escrever <strong>um</strong><br />
poema <strong>de</strong> amor do Pablo<br />
Neruda no guardanapo e<br />
oferecer para ela. Insinuar<br />
que é <strong>de</strong> sua autoria.Boa<br />
também para preencher o<br />
cheque (com fundos, por<br />
favor) na hora <strong>de</strong> pagar a<br />
conta do restaurante.<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
Capa <strong>de</strong> chuva<br />
Lenço<br />
Boa protegê-la da garoa enquanto<br />
saem do carro até a porta da casa<br />
<strong>de</strong>la. Boa também para ser<br />
romântico, cobrindo <strong>um</strong>a poça <strong>de</strong><br />
água na rua com a capa, para que ela<br />
não molhe os pezinhos (não cometa<br />
a indignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ameaçar mandar a<br />
conta da lavan<strong>de</strong>ria para ela).<br />
bom, especialmente para<br />
dois momentos: quando<br />
ela <strong>de</strong>rrama a bebida na<br />
roupa; ou começa a<br />
chorar. Mulher chora por<br />
qualquer coisa, ate por<br />
<strong>um</strong>a nesga <strong>de</strong> anágua<br />
emergindo da saia. Falar<br />
nisso, ainda se usa<br />
anágua? Também bom<br />
para ser colocado <strong>de</strong><br />
forma elegante e discreta<br />
no paletó, naquele bolso<br />
que que fica ao lado do peito.<br />
Isqueiro<br />
bom para lhe<br />
acen<strong>de</strong>r o cigarro; ou<br />
velas coloridas e<br />
perf<strong>um</strong>adas em volta<br />
da banheira <strong>de</strong>la (se<br />
ela <strong>de</strong>ixar você entrar<br />
lá, óbvio). Bom<br />
também para<br />
acen<strong>de</strong>r seu próprio<br />
cigarro, no caso <strong>de</strong><br />
você f<strong>um</strong>ar.<br />
Guarda-chuva<br />
Bom para mantê-la seca<br />
durante <strong>um</strong>a tempesta<strong>de</strong>,<br />
chegando junto sob os<br />
panos e varetas.Bom<br />
também para improvisar<br />
números musicais em<br />
plena rua, como se fosse<br />
Gene Kelly no filme<br />
Singing’ in the rain<br />
(cuidado para não ser<br />
preso, eles po<strong>de</strong>m<br />
confundir você com a<br />
manada <strong>de</strong> doidões que<br />
prolifera na cida<strong>de</strong>).<br />
55
Revelar o quanto custou o seu carro.<br />
Limpar arma na frente <strong>de</strong>la, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong> diálogo ruim.<br />
Referir-se à sua própria mãe como sua<br />
melhor amiga.<br />
Esquecer-se <strong>de</strong> sair com dinheiro.<br />
Falar <strong>de</strong> suas façanhas anteriores com<br />
outras mulheres.<br />
Entrar na frente <strong>de</strong>la no restaurante.<br />
Tentar adivinhar a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>la.<br />
Nunca, jamais, em tempo alg<strong>um</strong>, falar<br />
<strong>de</strong> outros temas impublicáveis como<br />
peso, gorduras (localizadas ou não),<br />
pneuzinhos e outros perigosos<br />
substantivos.<br />
Nunca pergunte a <strong>um</strong>a mulher se ela<br />
está grávida. Pois po<strong>de</strong> estar apenas<br />
acima do peso.<br />
Saiba ouvir. Se ela estiver falando,<br />
cale-se. E pelo menos finja estar<br />
prestando absoluta atenção ao falatório.<br />
Nunca vasculhe a bolsa <strong>de</strong> <strong>um</strong>a mulher.<br />
Mesmo se convidado. Você po<strong>de</strong> sofrer<br />
<strong>de</strong>sagradáveis surpresas. Entre elas,<br />
achar <strong>um</strong> bilhete do Ricardão lá <strong>de</strong>ntro.<br />
Nunca dê or<strong>de</strong>ns a <strong>um</strong>a mulher. Mesmo<br />
no restaurante. Apenas pergunte o que<br />
ela <strong>de</strong>seja comer. E na<strong>de</strong> em felicida<strong>de</strong><br />
se conseguir ao menos <strong>um</strong> muxoxo<br />
como resposta.<br />
Como se comportar<br />
no primeiro encontro<br />
O primeiro dia po<strong>de</strong> ser <strong>um</strong> <strong>de</strong>sastre,<br />
se você se comportar erradamente.<br />
Aqui, sete lições para você fazer a<br />
coisa certa:<br />
Vista-se a<strong>de</strong>quadamente para a<br />
ocasião. Uma roupa discreta e<br />
mo<strong>de</strong>rna. Perf<strong>um</strong>e-se frugalmente.<br />
Não vá ficar cheirando mais que<br />
banca <strong>de</strong> flores no dia <strong>de</strong> finados.<br />
Na hora <strong>de</strong> buscá-la, seja pontual.<br />
Não se apresente bêbado. Dentes<br />
escovados. Vá até à porta. Não leve<br />
flores, ainda não é a hora. Se você<br />
quiser levar <strong>um</strong> presente, escolha<br />
<strong>um</strong> pequeno e aceitável. Nada <strong>de</strong><br />
lingerie (calcinhas e sutiãs,<br />
principalmente), cachorrinhos ou<br />
os esboços <strong>de</strong> suas memórias<br />
inéditas (Deus nos livre!).<br />
Se chamou <strong>um</strong> táxi, abra a porta para<br />
ela, diga o en<strong>de</strong>reço aon<strong>de</strong> estão<br />
indo. Pague o táxi no ato, sem dar a<br />
ela a menor chance <strong>de</strong> tentar pagar.<br />
Caso ela não goste <strong>de</strong> conversar,<br />
ligue o rádio do carro. Mas evite as<br />
emissoras que só falam <strong>de</strong> futebol<br />
ou emitem a gritaria <strong>de</strong> pastores<br />
evangélicos aloprados. Pergunte<br />
o que ela <strong>de</strong>seja ouvir.<br />
No restaurante, <strong>de</strong>ixe que ela entre<br />
primeiro. No final, pague a conta,<br />
sem tentar dividir as <strong>de</strong>spesas.<br />
Ao andar pela rua, caminhe pelo<br />
lado <strong>de</strong> fora da calçada para evitar<br />
que respingos dos carros atinjam o<br />
vestido <strong>de</strong>la. Ofereça seu braço. É<br />
cavalheiresco e é também <strong>um</strong>a<br />
maneira <strong>de</strong> iniciar <strong>um</strong> contato<br />
mais, digamos, epidérmico.<br />
Seja <strong>um</strong> homem, faça seu<br />
movimento. Que Deus esteja<br />
com você.<br />
Dê seqüência à história no<br />
dia seguinte. Ligue para<br />
ela. Se não pu<strong>de</strong>r, você<br />
tem mais 24 horas <strong>de</strong><br />
prazo. Se ela aten<strong>de</strong>r,<br />
agra<strong>de</strong>ça pela<br />
excelente noite e<br />
tente marcar <strong>um</strong><br />
segundo encontro.<br />
Se respon<strong>de</strong>r por<br />
correio <strong>de</strong> voz, peça<br />
a ela para retornar<br />
a ligação. Mas se<br />
ela aten<strong>de</strong>u dizendo<br />
que era da telepizza<br />
e que não se<br />
chama Priscila,<br />
você simplesmente<br />
dançou, está<br />
fora.<br />
56 DEZEMBRO DE 2009
BIANCA ALVES<br />
omens têm sua própria noção <strong>de</strong><br />
cavalheirismo, a qual,<br />
infelizmente para as damas,<br />
raramente condiz com a<br />
realida<strong>de</strong>. Por esse motivo, o Guia <strong>Fato</strong><br />
<strong>Relevante</strong> do Perfeito Cavalheiro<br />
merece <strong>um</strong> a<strong>de</strong>ndo: ao ser escrito por<br />
homens, merece <strong>um</strong> olhar feminino. De<br />
maneira a transformá-lo em <strong>um</strong><br />
instr<strong>um</strong>ento que realmente funcione<br />
com as mulheres. Com esse propósito,<br />
eu e minhas amigas nos reunimos tar<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ssas, no salão da Denise, para fazer as<br />
unhas e respon<strong>de</strong>r ao teste.<br />
Quanto a pagar contas<br />
Na hora <strong>de</strong> pagar a conta, vale apenas<br />
<strong>um</strong>a alternativa: paga quem tem<br />
dinheiro. Ou seja, se o cara está duro por<br />
qualquer razão, a moça tira o cartão <strong>de</strong><br />
débito do bolso. Se é o contrário, seja o<br />
moço. É bom lembrar que, nesta<br />
socieda<strong>de</strong> que ainda discrimina gênero,<br />
os salários das mulheres são menores<br />
que os dos homens, mesmo que<br />
exerçam a mesma função. Daí,<br />
chegamos a <strong>um</strong> <strong>de</strong>sdobramento óbvio:<br />
paga quem ganha mais. E é por essa<br />
razão, nenh<strong>um</strong>a a mais, que homens<br />
bem-sucedidos levam mais mulheres<br />
para jantar (ao restaurante, explique-se).<br />
Ataques na rua<br />
Diante <strong>de</strong> <strong>um</strong> agressor armado, <strong>um</strong> grito<br />
feminino em si bemol maior (?) vai fazer<br />
muito mais efeito do que quaisquer<br />
músculos <strong>de</strong>senvolvidos em aca<strong>de</strong>mia.<br />
Ou seja, não adianta dar <strong>um</strong>a <strong>de</strong><br />
super-herói, ou chamar o Batman da<br />
esquina. De maneira geral, quando <strong>um</strong><br />
casal é atacado, os dois <strong>de</strong>vem ficar<br />
quietinhos e não reagir, para segurança<br />
do casal. Qualquer policial vai dar esse<br />
conselho.<br />
Homens que conhecem as mulheres<br />
Existem homens tão sensacionais que,<br />
raras exceções anotadas, as próprias<br />
mulheres acham que eles merecem mais<br />
do que <strong>um</strong>a <strong>de</strong>las. O homem que melhor<br />
trata as mulheres é aqueles que as ouve,<br />
as ajuda, as respeita e... transa bem, é<br />
claro. Esse último quesito, se associado<br />
à estampa <strong>de</strong> <strong>um</strong> George Clooney ou<br />
Brad Pitt, dispensa os outros.<br />
DEZEMBRO DE 2009<br />
Hora <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r o lugar<br />
Para começar, ninguém ce<strong>de</strong> lugar<br />
para ninguém em restaurante. Quem<br />
chegou primeiro, fica com a mesa.<br />
Quanto aos ônibus, trens e filas, pense<br />
bem: a mulher trabalhou o dia inteiro,<br />
normalmente em cima <strong>de</strong> <strong>um</strong> salto<br />
vertiginoso. Po<strong>de</strong> estar menstruada, o<br />
que não lhe dá licença <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas<br />
lhe ren<strong>de</strong> dores nas pernas e cólicas<br />
inimagináveis para os garotos que<br />
acreditam ser <strong>um</strong> chute no saco o ápice<br />
da dor (TPM explica). Seja gentil, quem<br />
sabe a gentileza não ren<strong>de</strong> <strong>um</strong> jantar<br />
<strong>de</strong>pois? Que você vai pagar, é claro.<br />
Quanto a grávidas e idosas, se você<br />
ainda não sabe que <strong>de</strong>ve ce<strong>de</strong>r o lugar<br />
para elas, você não <strong>de</strong>ve ter mãe.<br />
Sobre agarrar bundas<br />
Esse é <strong>um</strong> mandamento feminino:<br />
se alguém agarrar sua bunda perto<br />
do seu homem, disfarce e finja que<br />
nada aconteceu. Estique o vestido e<br />
relaxe, pois coisas assim não tiram<br />
pedaço. Se você contar, o mínimo<br />
que vai rolar é <strong>um</strong>a briga <strong>de</strong> voar<br />
ca<strong>de</strong>iras, o que vai acabar com sua<br />
noite. E se o “agressor” for mais forte,<br />
pior ainda: seu namorado vai acabar<br />
no hospital. O pior tipo <strong>de</strong> mulher é<br />
aquela que chega para seu homem<br />
e diz: “Beemmm, aquele cara<br />
pegou na minha bunda”. Tenha<br />
certeza, ela não te ama, só quer<br />
ver o circo pegar fogo.<br />
Sobre a mulher que <strong>de</strong>smaia em<br />
seu aniversário.<br />
Pelo amor <strong>de</strong> Deus, leve-a ao hospital!!!!<br />
Não existe mais nada que você possa<br />
fazer nesse caso. Se não levar, nem o<br />
George Clooney salva...<br />
Sobre onças que aparecem em<br />
acampamento<br />
Você <strong>de</strong>ve ser <strong>um</strong> péssimo namorado.<br />
Com tanto lugar legal para passear – que<br />
po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>um</strong>a tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> domingo<br />
pescando na Pampulha até <strong>um</strong> passeio<br />
<strong>de</strong> gôndola em Veneza – você a levou<br />
justamente para <strong>um</strong> acampamento<br />
nos confundós <strong>de</strong> Tocantins?<br />
Se sua mulher fosse <strong>um</strong> automóvel,<br />
ela seria:<br />
O que você pu<strong>de</strong>r comprar.<br />
Enfim, nunca se esqueça que coisas<br />
como pagar a conta ou ce<strong>de</strong>r o lugar têm<br />
a ver com cuidado e gentileza.<br />
Ingredientes fundamentais para <strong>um</strong>a boa<br />
amiza<strong>de</strong> e meta<strong>de</strong> do caminho andado<br />
para <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> amor.<br />
57
MÁRCIO RUBENS PRADO<br />
O menino vai nascer<br />
À medida em que eu vou<br />
batucando a memória e<br />
bebendo, vou-me<br />
sentindo incomodado. E<br />
com <strong>um</strong> gostinho <strong>de</strong><br />
frustração.<br />
Porque sinto você por<br />
perto.<br />
Claro, você não está.<br />
Não vai haver ruído <strong>de</strong><br />
campainha tocando.<br />
Nem telefone<br />
chamando.<br />
Talvez o interfone do<br />
prédio chame.<br />
Mas para dizer que a<br />
conta do telefone<br />
chegou.<br />
Ah, Blanquita, seria bom que você estivesse<br />
aqui.<br />
Para ver a fúria com que o povo se atira<br />
às compras.<br />
Até os tarados não mais dizem vou às<br />
mulheres.<br />
Monocórdios e repetitivos, em estado <strong>de</strong><br />
nítida ereção cons<strong>um</strong>itória, anunciam: “Vou<br />
às compras.<br />
O trânsito, se visto lá <strong>de</strong> cima, obrigaria<br />
Jeová a repensar à criação do mundo.<br />
Ou seja, em matéria <strong>de</strong> caos, o nosso<br />
trânsito dá <strong>de</strong> <strong>de</strong>z a zero naquele que prece<strong>de</strong>u<br />
a criação do paraíso e o momento<br />
proibido e gostoso que Adão e Eva viveram.<br />
Quanto ao gostoso, nem digo tanto. Os<br />
dois, certamente, pecaram pela inexperiência.<br />
O verbo pecar, ai, por favor, arr<strong>um</strong>e a<br />
semântica direitinho, para saber aon<strong>de</strong><br />
quero chegar.<br />
E chegar é o mais difícil nestes dias turbulentos.<br />
Mineiro, que já carrega o estigma <strong>de</strong><br />
chamar a gente e ir andando, neste <strong>de</strong>zembro<br />
bate todos os recor<strong>de</strong>s <strong>de</strong> impontualida<strong>de</strong>.<br />
Encontros, não os marque.<br />
Mesmo aquele por que se esperaram<br />
meses. Ou anos.<br />
Você, se reaparecesse <strong>de</strong> repente nesta<br />
galopante cida<strong>de</strong>, jamais me veria chegar<br />
como <strong>um</strong> Concor<strong>de</strong> em viagem inaugural.<br />
Ou como cavalo pampa <strong>de</strong> vovô Vicente,<br />
que arrasou com <strong>um</strong> cavalo alazão <strong>de</strong> Conceição<br />
<strong>de</strong> Mato Dentro, n<strong>um</strong>a corrida que<br />
inventaram em Carmésia, então chamada<br />
Viamão, ali pelos anos 20.<br />
Corria-se a cavalo, naquele tempo.<br />
Afora o ecológico esterco que produzem,<br />
os cavalos não provocavam engarrafamentos.<br />
Nem buzinas. Mal e mal alguns relinchos<br />
<strong>de</strong> satisfação, vez por outra. Então, a<br />
vida trotava em poesias.<br />
E tranquilida<strong>de</strong>.<br />
Foi só virar a esquina da memória e lembrar-me<br />
do cavalo <strong>de</strong> vovô e nasceu <strong>um</strong>a<br />
súbita paz no ar.<br />
Como aquele moço <strong>de</strong> Itabira, gran<strong>de</strong><br />
poeta, estou sozinho no quarto.<br />
E sozinhíssimo nas Américas.<br />
Eu, minha máquina <strong>de</strong> escrever, <strong>um</strong>as<br />
azeitonas que pesquei na gela<strong>de</strong>ira. E <strong>um</strong>a<br />
bebida n<strong>um</strong> cálice.<br />
Dizer verda<strong>de</strong>, nem sei qual seja. A bebida.<br />
Pus duas pedras <strong>de</strong> gelo n<strong>um</strong> copo, enfiei<br />
a mão no barzinho – aquele <strong>de</strong> vime, você<br />
conhece –, peguei o primeiro litro que achei,<br />
abri, fui pondo.<br />
Enchi o copo, até à borda. E vou to -<br />
mando. E escrevendo.<br />
Nunca menti para você. Assim, confesso<br />
que já estou no segundo cálice.<br />
Ou será o terceiro?<br />
Nem me lembro.<br />
À medida em que eu vou batucando a<br />
memória e bebendo, vou-me sentindo incomodado.<br />
E com <strong>um</strong> gostinho <strong>de</strong> frustração.<br />
Porque sinto você por perto.<br />
Claro, você não está.<br />
Não vai haver ruído <strong>de</strong> campainha tocando.<br />
Nem telefone chamando.<br />
Talvez o interfone do prédio chame.<br />
Mas para dizer que a guia do IPTU<br />
chegou.<br />
Ou da luz. Da água, não, já vem na taxa<br />
do condomínio.<br />
Não consigo ficar sentado.<br />
Chego à janela.<br />
Aqui da Serra vê-se quase toda a cida<strong>de</strong>.<br />
E as luzes, em forma <strong>de</strong> árvores, <strong>de</strong> flores<br />
ou do que seja, explo<strong>de</strong>m pelas encostas,<br />
pelas ilhargas dos edifícios, pelas esteiras <strong>de</strong><br />
fios espichados nos vãos das praças.<br />
Das bandas oeste da cida<strong>de</strong>, vem o ruído<br />
pesado do tráfego.<br />
Quase <strong>de</strong>z da noite.<br />
Os compradores estão voltando para<br />
casa.<br />
Não há como <strong>de</strong>smentir.<br />
É o Natal que está no ar.<br />
Volto da janela. Sento-me. É preciso terminar<br />
esta conversa.<br />
Pois que se acabe a crônica.<br />
O que não acaba é essa súbita vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
continuar bebendo.<br />
E fazer alg<strong>um</strong>a coisa. Chorar, talvez.<br />
58 DEZEMBRO DE 2009