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BH, um canteiro de obras BH, um canteiro de obras - Fato Relevante

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Muito barulho por dígitos<br />

Apostas, acertos, erros. O PIB <strong>de</strong> 2009 teve várias<br />

previsões, mas <strong>de</strong>ve mostrar mesmo que o Brasil está<br />

hoje em condições melhores do que muitos países<br />

KLAUS KLEBER<br />

Causou muito alvoroço no início <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro a divulgação pelo IBGE<br />

<strong>de</strong> que a economia brasileira no terceiro<br />

trimestre cresceu “apenas” 1,3%. Hou -<br />

ve <strong>de</strong>cepção <strong>de</strong> muita gente, mesmo porque,<br />

no dia anterior à divulgação, o ministro da<br />

Fa zenda, Guido Mantega, havia <strong>de</strong>clarado<br />

que o PIB no terceiro trimestre cresceria 2%.<br />

É compreensível que o ministro tenha ficado<br />

“indignado” com o IBGE, como se noticiou,<br />

mas, na realida<strong>de</strong>, saber se a economia cres -<br />

ceu 1,3% já é, em si, <strong>um</strong>a boa notícia. Signi<br />

fica que o Brasil livrou-se da estatística<br />

re cessiva, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> dois trimestres negros.<br />

Se a taxa não chegou a 2%, não interessa<br />

mui to. Os sabichões do mercado, que erram<br />

mais que acertam, já estão projetando <strong>um</strong>a<br />

queda do PIB, em todo ano <strong>de</strong> 2009, <strong>de</strong><br />

0,26%. É pessimismo <strong>de</strong>mais. Po<strong>de</strong>-se apostar<br />

que se rá <strong>um</strong>a taxa diferente <strong>de</strong> zero, mas<br />

positiva, o que já está muito bom e não<br />

muda em nada as perspectivas para 2010.<br />

Se quiserem olhar pelo retrovisor, o país<br />

está muito bem, comparativamente. Segun -<br />

do projeções da abalizada revista The Eco -<br />

no mist (12/12), o PIB dos Estados Unidos,<br />

em 2009, po<strong>de</strong> ter <strong>um</strong>a variação <strong>de</strong> -2,5%; o<br />

do Japão, -5,4%; o da Grã-Bretanha, - 4,5%;<br />

Canadá, - 2,5; área do Euro, - 3,8%; a Rússia,<br />

- 7,0; e Coréia do Sul, - 1,0.<br />

E como vão nossos vizinhos? Bem rui nzi -<br />

nhos também: a previsão da revista para o PIB<br />

da Argentina é <strong>de</strong> -0,5; do Chile, -1,2%; do<br />

México, -7,1%; e da Venezuela, -3,0. Salvase<br />

a Colômbia, com <strong>um</strong>a taxa positiva <strong>de</strong><br />

0,2%, mais ou menos igual à que <strong>de</strong>ve a pre -<br />

sentar o Brasil. Por sinal, a revista bri tâ nica<br />

prevê para o Brasil <strong>um</strong> crescimento nu lo<br />

(dado calculado antes da recente divulga ção<br />

do crescimento no trimestre pelo IBGE).<br />

Claro, per<strong>de</strong>mos feio da China (expan são<br />

fantástica <strong>de</strong> 8,2%) e da Índia (5,5%), como<br />

tem sido o padrão nos últimos anos.<br />

Nesta altura, o que vale é olhar para frente.<br />

Depois <strong>de</strong> tudo o que foi dito, da gozação<br />

sobre o “pibinho”, brasleiro, etc., a análise<br />

mais sensata parece ser a do economista<br />

Edmar Bacha, em entrevista publicada pela<br />

Folha <strong>de</strong> S. Paulo (11/12). Bacha, <strong>um</strong> dos<br />

pais do Plano Real, disse que vai rever a sua<br />

previsão do PIB para 2009, que era <strong>de</strong> alta <strong>de</strong><br />

0,3%. Mas “a economia, vai estar nu ma trejetória<br />

mais forte do que aquilo que a gen te<br />

estima que seja o potencial <strong>de</strong> crescimento”,<br />

observou. E, por isso, continua cravan do <strong>um</strong>a<br />

expansão <strong>de</strong> 6% do PIB brasileiro em 2010.<br />

Dizem - e, a meu ver, não provam - que o<br />

crescimento potencial da economia bra si leira<br />

é <strong>de</strong> 5%. Sou vacinado contra a euforia <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o tempo do “Brasil Gran<strong>de</strong>”, mas fi xar potencial<br />

<strong>de</strong> crescimento me parece <strong>um</strong>a grossa<br />

asneira. É claro que é <strong>um</strong>a missão quase impossível<br />

manter as contas públicas em or<strong>de</strong>m<br />

ou, pelo menos, impedir que os gastos correntes<br />

avancem em termos reais, es pecialmente<br />

em <strong>um</strong> ano eleitoral, como 2010. A<br />

infraestrutura do país é reconhecida mente<br />

precária. Mas é exagero pensar que, se as<br />

vendas no mercado interno seguirem em e le -<br />

vação, se exportarmos bem mais produtos<br />

manufa turados e se os preços das commo di ties<br />

subirem, teremos problemas intransponíveis.<br />

Dizer que, se a economia brasileira se expandir<br />

mais <strong>de</strong> 5% ao ano, pontes vão cair,<br />

não aguentando o peso dos caminhões,<br />

estradas vão <strong>de</strong>sbarrancar ainda mais, teremos<br />

apagões generalizados, só haverá lugar<br />

nos portos para as ratazanas, é coisa <strong>de</strong><br />

economistas ortodoxos trancados nas salas<br />

<strong>de</strong> aula e que não permitem abrir as janelas.<br />

Problemas do crescimento dão origem a<br />

soluções, muito mais rapidamente do que<br />

eles pensam. E <strong>um</strong>a coisa que os empresários<br />

brasileiros sabem fazer é se virar.<br />

Sim, os juros, mantidos pelo Banco Central<br />

(BC) em 8,75% a.a., embora a inflação<br />

projetada para os próximos 12 meses seja <strong>de</strong><br />

4,2%, po<strong>de</strong>m subir. Pressão <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda,<br />

apesar <strong>de</strong> ela po<strong>de</strong>r ser atendida pela produção<br />

interna e pelo a<strong>um</strong>ento das impor-<br />

tações, sempre apavora o Comitê <strong>de</strong> Política<br />

Monetária (Copom). Sob esse aspecto, é até<br />

bom que a expansão da economia tenha sido<br />

só <strong>de</strong> 1,3% no terceiro trimestre. Isso po<strong>de</strong><br />

acalmar aquela turminha danada do BC.<br />

Por falar nisso, noticia-se agora que as importações<br />

superaram em US$ 4 bilhões as exportações<br />

na segunda semana <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />

Certamente, é por efeito da <strong>de</strong>manda sazonal<br />

e este Natal já está sendo chamado <strong>de</strong> “Natal<br />

dos importados”, com a taxa <strong>de</strong> câmbio do<br />

jeito que está. Este, sem dúvida, é mais <strong>um</strong> indicador<br />

daquela trajetória mais forte, mencionada<br />

por Bacha. Com a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong> semprego<br />

caindo, com a capacida<strong>de</strong> ociosa da indústria<br />

se reduzindo, com o setor <strong>de</strong> serviços à toda e<br />

<strong>um</strong>a agricultura mais animada com as cotações<br />

internacionais, a economia tem tudo<br />

para <strong>de</strong>slanchar em 2010. Principalmente se a<br />

taxa <strong>de</strong> câmbio <strong>de</strong>sencalhar.<br />

Como se viu, não é <strong>um</strong> solavanco externo,<br />

como o provocado pela doi<strong>de</strong>ira das aplicações<br />

imobiliárias no Emirado <strong>de</strong> Dubai, que<br />

vai perturbar a soli<strong>de</strong>z dos bancos brasileiros,<br />

cuja regulação serve hoje <strong>de</strong> parâmetro internacional.<br />

Não por outra razão o Banco Central<br />

do Brasil passou a integrar, como membro<br />

efetivo, os Comitês <strong>de</strong> Sistema Financeiro<br />

Global e <strong>de</strong> Mercados do Banco para Compensações<br />

Internacionais (BIS), o banco central<br />

dos bancos centrais. com se<strong>de</strong> em<br />

Basiléia, na Suíça. No BIS, o Brasil só aparecia,<br />

há alguns anos, encolhidinho e <strong>de</strong> cabeça<br />

baixa, como <strong>de</strong>vedor relapso. Hoje, não é respeitado<br />

apenas pelo montante <strong>de</strong> suas reservas,<br />

que já emplacaram US$ 240 bilhões, mas<br />

porque apren<strong>de</strong>mos, com a inflação endêmica<br />

que nos vitimava, que nos fazia trocar <strong>de</strong><br />

moeda como mulher troca <strong>de</strong> roupa, a regular<br />

as nossas instituições financeiras.<br />

Em síntese, o Brasil só não crescerá<br />

5,5% ou 6% em 2010 se pintar outra crise<br />

internacional muito forte e se os seus empresários<br />

não forem dominados pelo sentimento<br />

do medo. Que Deus os poupe <strong>de</strong>sse<br />

sentimento, como <strong>de</strong>le poupou a JK.<br />

34 DEZEMBRO DE 2009

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