30.04.2013 Views

BH, um canteiro de obras BH, um canteiro de obras - Fato Relevante

BH, um canteiro de obras BH, um canteiro de obras - Fato Relevante

BH, um canteiro de obras BH, um canteiro de obras - Fato Relevante

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

37 mineiros que fizeram a<br />

diferença na década. Página 14<br />

SEGUNDA-FEIRA, 28 DE DEZEMBRO DE 2009 · ANO 1 · Nº 6 · R$ 5,00<br />

Automóveis coreanos a nova<br />

sensação do mercado Página 36<br />

<strong>BH</strong>, <strong>um</strong><br />

<strong>canteiro</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>obras</strong><br />

No primeiro ano <strong>de</strong> sua<br />

gestão, Marcio Lacerda foi o<br />

prefeito das capitais que mais<br />

investiu em <strong>obras</strong> públicas.<br />

Mas o gran<strong>de</strong> programa <strong>de</strong><br />

construção começa agora em<br />

2010, visando a Copa do<br />

Mundo. Página 10<br />

ÉLCIO PARAÍSO


Cartaaosleitores<br />

Boas notícias, otimismo,<br />

mérito - a década gloriosa<br />

4<br />

Enquanto outras partes do mundo ainda<br />

se encontram patinando na crise financeira<br />

do ano passado, o Brasil emerge <strong>de</strong>sse<br />

cenário como <strong>um</strong> paraíso <strong>de</strong> boas notícias.<br />

Por toda parte, só se ouve falar sobre a<strong>um</strong>ento<br />

<strong>de</strong> produção e do número <strong>de</strong> empregos.<br />

Um fato que ilustra bem esse otimismo<br />

é a iniciativa das si<strong>de</strong>rúrgicas e mineradoras<br />

da região do Alto Paraopeba, no entorno<br />

<strong>de</strong> Congonhas. As indústrias assinaram<br />

<strong>um</strong> acordo para evitar <strong>um</strong>a fatricida disputa<br />

pela mão <strong>de</strong> obra exigida pelos novos empreendimentos<br />

industriais que se implantam<br />

naquela região.<br />

Segundo estimativas da Fiemg, mais <strong>de</strong><br />

40 mil vagas serão oferecidas ali para<br />

movimentar as <strong>obras</strong> <strong>de</strong> duas si<strong>de</strong>rúrgicas,<br />

<strong>de</strong> duas usinas <strong>de</strong> pelotização e da expansão<br />

<strong>de</strong> várias minerações. Entre outras indústrias<br />

ouvidas por <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>, todas<br />

elas têm previsão <strong>de</strong> crescimento acima <strong>de</strong><br />

5% neste ano. A po<strong>de</strong>rosa Itambé ainda é<br />

mais otimista e espera crescer pelo menos<br />

12%: “O nosso setor sempre cresce o dobro<br />

do PIB brasileiro”, explica o seu presi<strong>de</strong>nte,<br />

Jacques Gontijo.<br />

Po<strong>de</strong>ria existir <strong>um</strong> cenário melhor que<br />

esse? Não po<strong>de</strong>mos nos esquecer que, em<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008, os empresários estavam<br />

prostrados diante <strong>de</strong> <strong>um</strong>a crise que, diziase,<br />

seria bem mais <strong>de</strong>sastrosa que a <strong>de</strong><br />

1929. São essas as reflexões sobre Minas e<br />

o Brasil que nos autorizam a <strong>de</strong>sejar <strong>um</strong><br />

Feliz Ano Novo para todos, publicando esta<br />

6ª edição da <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>.<br />

Adicionalmente, apresentamos nesta<br />

edição a lista dos 37 mineiros que fizeram<br />

a diferença na década encerrada em 31 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009. Saber reconhecer e valorizar<br />

o mérito alheio não é apenas <strong>um</strong><br />

gesto <strong>de</strong> h<strong>um</strong>ilda<strong>de</strong>, mas <strong>um</strong>a atitu<strong>de</strong> indispensável<br />

neste mundo atual, on<strong>de</strong> o egocentrismo<br />

e o individualismo atingem níveis<br />

intoleráveis <strong>de</strong> saturação e perversida<strong>de</strong>.<br />

Os editores<br />

S<strong>um</strong>ário<br />

LEIATAMBÉM:<br />

Veículos<br />

Coreanos inva<strong>de</strong>m o mercado<br />

brasileiro ..................................... 36<br />

Conta corrente<br />

Os números positivos<br />

<strong>de</strong> 2010 ....................................... 32<br />

Muito barulho por dígitos ........ 34<br />

Gestão<br />

As lições tiradas do<br />

ano <strong>de</strong> 2009 ................................ 40<br />

Negócios<br />

A arte <strong>de</strong> pechinchar...................42<br />

ENTREVISTA<br />

Em seu primeiro ano <strong>de</strong> governo,<br />

Marcio Lacerda preparou o terreno<br />

para gran<strong>de</strong>s <strong>obras</strong> públicas<br />

já visando a Copa do Mundo<br />

Página 10<br />

ESPECIAL<br />

37 mineiros que mais se<br />

<strong>de</strong>stacaram na primeira década<br />

do século. Artistas, empresários,<br />

políticos e esportistas figuram na<br />

lista<br />

Página 14<br />

POLÍTICA<br />

O PT mineiro balança entre Fernando<br />

Pimentel e Patrus Ananias<br />

para concorrer ao Palácio da<br />

Liberda<strong>de</strong>. Veja as armas <strong>de</strong> cada<br />

<strong>um</strong> para o embate<br />

Página 36<br />

PERFIL<br />

O homem que popularizou o<br />

terno e a gravata. Saiba mais<br />

sobre Pedro Paulo Dr<strong>um</strong>ond e sua<br />

Cia. do Terno, empresa que<br />

rompe as fronteiras <strong>de</strong> Minas<br />

Página 46<br />

Longe dos holofotes<br />

Gil César, o construtor do<br />

Mineirão .......................................48<br />

Almanaque<br />

O guia do cavalheiro.................. 50<br />

Colunas<br />

Carta <strong>de</strong> São Paulo..................... 30<br />

Durval Guimarães ...................... 31<br />

Mário Ribeiro............................... 44<br />

Márcio Rubens Prado................ 58<br />

DEZEMBRO DE 2009


Cartasetc...<br />

O Legislativo não toma vergonha?<br />

Entra ano e sai ano, o Po<strong>de</strong>r Legislativo<br />

e, em especial, os <strong>de</strong>putados mineiros,<br />

continuam matando a população <strong>de</strong> vergonha.<br />

Está claro que o problema é maior<br />

que a simples substituição dos parlamentares<br />

a cada eleição, pois o dinheiro continua<br />

lá para eles manipularem livremente,<br />

<strong>de</strong> acordo com suas ambições. O orçamento<br />

exagerado, acima das necessida<strong>de</strong>s<br />

reais do parlamento, aliado ao fato<br />

<strong>de</strong> que o mandato pertence a cada parlamentar<br />

(ele investiu seus recursos pessoais<br />

em campanhas e até comprou os<br />

votos), resulta nessas distorções que se<br />

perpetuam ao longo <strong>de</strong> décadas. Está na<br />

hora <strong>de</strong> implantarmos o voto distrital.<br />

Flávio Moreira - <strong>BH</strong><br />

Mancha no Po<strong>de</strong>r Legislativo<br />

É inegável a importância do Po<strong>de</strong>r Legislativo<br />

n<strong>um</strong>a <strong>de</strong>mocracia. Ele é <strong>um</strong> estuário<br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ságuam todas as <strong>de</strong>mandas<br />

da socieda<strong>de</strong>. É <strong>um</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sarmado, que<br />

acolhe todas as manifestações sociais. Na<br />

prática, se <strong>um</strong> cidadão quiser falar com o<br />

<strong>de</strong>putado mineiro, ele tem acesso imediato<br />

ao parlamentar, pois o Legislativo é <strong>um</strong> po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> portas abertas. O mesmo não ocorre<br />

no Executivo, on<strong>de</strong> o cidadão não passa<br />

da portaria. São po<strong>de</strong>res inacessíveis, <strong>de</strong><br />

portas fechadas. Infelizmente a ganância<br />

<strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>putados <strong>de</strong>smoraliza a força<br />

moral e a beleza do Legislativo. Teremos a<br />

chance <strong>de</strong> substituí-los agora em 2010.<br />

Ana Rita Morais – <strong>BH</strong><br />

Congratulações<br />

Prezados Valter Cruz e Durval Guimarães,<br />

parabenizo a iniciativa <strong>de</strong> editarem a<br />

revista <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>, revista bonita e mo<strong>de</strong>rna,<br />

que nos dá o prazer <strong>de</strong> ler nomes como<br />

Klaus Kleber, Márcio Rubens Prado,<br />

Ângelo Prazeres, Téo Scalioni (que está<br />

brilhante), entre outros. Minas está orgulhosa,<br />

parabéns. Continuem, sucessos.<br />

Marco Aurélio Garcia<br />

Economista, <strong>BH</strong><br />

N.R.: Coloco economista e <strong>BH</strong> para<br />

não confundir com o xará o PT (que não é<br />

economista nem mineiro, o que não <strong>de</strong>põe<br />

contra ele).<br />

Cinco i<strong>de</strong>ias para se sobreviver<br />

n<strong>um</strong> local infeliz <strong>de</strong> trabalho.<br />

“C<strong>um</strong>primento a <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> pelos<br />

conselhos apresentados na última edição<br />

aos milhares <strong>de</strong> candidatos a empregos<br />

que estão se abrindo por toda parte no estado<br />

e no país. Vocês apresentaram também<br />

várias razões pelas quais <strong>um</strong>a pessoa<br />

não <strong>de</strong>ve mudar <strong>de</strong> emprego, mesmo que<br />

esteja diante <strong>de</strong> <strong>um</strong>a proposta <strong>de</strong> polpudo<br />

a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> salário. Pois acrescento à<br />

matéria cinco iniciativas que, acho, a pessoa<br />

<strong>de</strong>veria tomar para sobreviver no seu<br />

atual emprego. Ainda que esteja ralando<br />

n<strong>um</strong> inóspito e infeliz local <strong>de</strong> trabalho.<br />

Quando a gente não gosta do local e do<br />

ambiente do nosso trabalho, ir ao serviço<br />

todos os dias é <strong>um</strong> suplício <strong>de</strong> comover o<br />

mais cavernoso dos carrascos. Assim, os<br />

seus problemas nesse ambiente <strong>de</strong> masmorra<br />

e sufoco po<strong>de</strong>m ser:<br />

· o chefe, elemento incompetente, estressado<br />

ou mau caráter<br />

· o salário minguado, bem menor que<br />

suas pretensões e mais ainda que suas necessida<strong>de</strong>s<br />

· os colegas “ruins <strong>de</strong> serviço”, invejosos<br />

e fofoqueiros<br />

· o trabalho em si, absolutamente contrário<br />

às coisas que você sabe e gosta <strong>de</strong><br />

fazer.<br />

Mas você não po<strong>de</strong> fugir do emprego.<br />

É obrigado a trabalhar para sobreviver e<br />

garantir o seu sustento e o <strong>de</strong> sua família<br />

(claro, se tiver alg<strong>um</strong>a, o que jogará nas<br />

suas costas o contingente obrigatório <strong>de</strong><br />

sogros, genros, noras, cunhados, e belzebu<br />

a quatro).<br />

Diante disso, não me furto ao prazer <strong>de</strong><br />

encaminhar aos leitores <strong>de</strong>ssa revista os<br />

seguintes conselhos:<br />

1. Você é o problema? - o primeiro<br />

passo: olhe para si mesmo e veja se você<br />

não é o próprio problema. Ou seja, seu<br />

comportamento é rancoroso, resmungão,<br />

anticooperativo. Nesse caso, seja criativo.<br />

Arranje <strong>um</strong> estoque <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>, tente<br />

transformar o suplício diário n<strong>um</strong>a tarefa<br />

pelo menos tolerável. É a melhor maneira<br />

<strong>de</strong> se sofrer menos e viver melhor.<br />

2. Ass<strong>um</strong>a o seu trabalho - enquanto<br />

não aparece <strong>um</strong>a boa oportunida<strong>de</strong>, ass<strong>um</strong>a<br />

claramente sua obrigação <strong>de</strong> trabalhar<br />

no miserável lugar. Faça o melhor possível.<br />

Mesmo que esteja se preparando para dar<br />

no pé. Arranje-se que nem <strong>um</strong>a vara <strong>de</strong> porcos<br />

quando amontoada n<strong>um</strong>a carroceria <strong>de</strong><br />

caminhão: fuce daqui, trombe dali, tropece<br />

acolá... no final, você se ajeitará e a vida<br />

seguirá <strong>de</strong> maneira razoavelmente cômoda.<br />

3. Faça <strong>um</strong> plano, seja pró-ativo -<br />

converse longamente com seus amigos e a<br />

família. Calce a cara, procure seu irritante<br />

chefe e lhe apresente <strong>um</strong>a sugestão para<br />

FATO RELEVANTE<br />

Diretor executivo Valter Cruz Editor Geral Durval Guimarães Editor <strong>de</strong> Texto Márcio Rubens Prado Editor <strong>de</strong> Arte Fábio Pompeu Editor<br />

<strong>de</strong> Fotografia Élcio Paraíso Redação Fábio Doyle, Klaus Kleber,Teo Scalioni Publicida<strong>de</strong> Mário Carvalho Secretária <strong>de</strong> Redação Maria<br />

Cecília Cardoso FATO RELEVANTE é <strong>um</strong>a publicação da Pró-Ativa - Planejamento e Assessoria <strong>de</strong> Mídia Ltda. Redação, Administração<br />

e Publicida<strong>de</strong> Avenida Pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Morais, 287, sala 1301 - CEP 30350-093 - Belo Horizonte/MG Telefone (31) 3071-9193 E-mail<br />

fatorelevante@yahoo.com.br Impressão Eskenazi Indústria Gráfica Distribuição VIP <strong>BH</strong><br />

DEZEMBRO DE 2009 5


Cartasetc...<br />

melhorar o serviço. Diga claramente o que<br />

você pensa, mas <strong>de</strong> maneira civilizada, informando<br />

<strong>de</strong>talhadamente que seu intuito é<br />

melhorar o ambiente <strong>de</strong> trabalho. Em caso<br />

extremo <strong>de</strong> intolerância, procure o setor <strong>de</strong><br />

recursos h<strong>um</strong>anos e tente mudar <strong>de</strong> área.<br />

4. Aprenda <strong>um</strong>a nova habilida<strong>de</strong> - ninguém<br />

é obrigado a ir diretamente do trabalho<br />

para casa, para o boteco da esquina ou para<br />

o terreiro <strong>de</strong> mac<strong>um</strong>ba. Nem gastar as duas<br />

horas <strong>de</strong> almoço mastigando a gororoba dos<br />

self services. Tente <strong>de</strong>senvolver <strong>um</strong>a nova<br />

habilida<strong>de</strong>. Por exemplo, fazer <strong>um</strong> curso <strong>de</strong><br />

inglês; informática avançada; ou qualquer<br />

outra coisa que possa ser útil n<strong>um</strong> futuro novo<br />

emprego. Uma pergunta; “Como você<br />

aproveita suas folgas <strong>de</strong> fim-<strong>de</strong>-semana?”.<br />

Pare <strong>de</strong> se autoflagelar e ficar r<strong>um</strong>inando <strong>de</strong>sejos<br />

vis, como o <strong>de</strong> ver seu chefe se transformar<br />

n<strong>um</strong> homem-bomba no Afeganistão.<br />

Encare a vida. E fique certo: muito pior que<br />

o seu emprego atual é o <strong>de</strong>semprego, que,<br />

n<strong>um</strong> extremo <strong>de</strong> infelicida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> levar o<br />

<strong>de</strong>mitido a cometer todo tipo <strong>de</strong> besteiras.<br />

5. Encontre o lado positivo – Faça<br />

<strong>um</strong>a lista das coisas positivas no seu trabalho.<br />

Tipo pagamento em dia, plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

funcionárias belíssimas, vale-refeição e<br />

colegas solidários. Isso po<strong>de</strong> clarear o lado<br />

bom do seu emprego, o que é fundamental<br />

para tornar o trabalho suportável. Você <strong>de</strong>scobrirá<br />

que tem até o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mudar e<br />

melhorar o ambiente. Logo, tente fazê-lo.<br />

Espero, com essas sugestões, colaborar com<br />

os leitores <strong>de</strong>ssa oportuna revista para o<br />

bem-estar nos seus locais <strong>de</strong> trabalho.<br />

Lucas da Rocha Gonçalves,<br />

professor universitário, <strong>BH</strong><br />

Coragem editorial<br />

Caro Durval, quem é gran<strong>de</strong> é gran<strong>de</strong><br />

mesmo. Parabéns pela revista <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong><br />

e, em particular, por ter levado o Teo (Scalioni)<br />

junto <strong>de</strong>ssa sua coragem editorial e publicitária.<br />

Parabéns econômicos, ecológicos<br />

e sustentáveis. Longa vida a tudo que é fato<br />

e é relevante nas montanhas <strong>de</strong> Minas.<br />

Hiram Firmino<br />

Editor do JB Ecológico<br />

“Minas é fantástica”<br />

Senhor editor-chefe, na entrevista com<br />

o empresário Wilson Br<strong>um</strong>mer, ele disse<br />

que as estradas aqui em Minas estão ruins<br />

e têm muita coisa para melhorar. Concordo<br />

com ele, mas acho bom fazer <strong>um</strong>a<br />

ressalva: é evi<strong>de</strong>nte a melhoria que se observa<br />

na malha rodoviária do Estado.<br />

Afora aqueles pontos críticos e crônicos,<br />

que vão sendo atacados <strong>de</strong> maneira <strong>um</strong><br />

tanto lenta - parece até que é coisa do<br />

po<strong>de</strong>r judiciário -, a situação geral melhorou.<br />

As estradas estão bem melhores.<br />

Criticar é sempre bom e saudável, mas reconhecer<br />

as melhorias é também <strong>um</strong> justo<br />

exercício <strong>de</strong> cidadania.<br />

Francisco Guimarães Ribeiro,<br />

viajante comercial, <strong>BH</strong><br />

Trabalho em Congonhas<br />

Senhores, gostei <strong>de</strong> ver minha Congonhas<br />

focalizada nessa revista. E mais<br />

ainda com o futuro risonho que vocês <strong>de</strong>senharam<br />

para os habitantes da cida<strong>de</strong>.<br />

Espero até que as empresas que estão expandindo<br />

as ativida<strong>de</strong>s ou que vão se instalar<br />

lá <strong>de</strong>em <strong>um</strong> jeito <strong>de</strong> patrocinar a<br />

preservação e a manutenção dos fabulosos<br />

tesouros artísticos que, orgulhosamente,<br />

temos em nossa adorada cida<strong>de</strong>.<br />

Dejair Tristao do Nascimento,<br />

Técnico em Eletrônica, Contagem-MG<br />

Explosão <strong>de</strong> Sete Lagoas<br />

Senhor Redator, a reportagem sobre<br />

as nove cida<strong>de</strong>s mineiras para se arranjar<br />

<strong>um</strong> bom emprego foi mesmo bem animadora.<br />

Mas, confesso, na minha<br />

ignorância <strong>de</strong> funcionário público estadual,<br />

que tive medo <strong>de</strong> muitas <strong>de</strong>las não<br />

possuírem a infraestrutura mínima para<br />

receber o progresso prometido. Será que<br />

os prefeitos, empolgados com as futuras<br />

gordas arrecadações, tiveram tempo para<br />

meditar sobre o assunto? Qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida, embora seja expressão vulgarizada<br />

pela chusma <strong>de</strong> palpiteiros que nos assola,<br />

é coisa séria.<br />

Manoel Aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Souza,<br />

técnico ambiental, Vespasiano-MG<br />

Se você vai falhar, falhe<br />

rapidamente<br />

Por mais <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vez vi repórteres <strong>de</strong><br />

<strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> lamentando que mais <strong>de</strong><br />

90% das novas empresas <strong>de</strong>saparecem no<br />

primeiro ano <strong>de</strong> vida. Na verda<strong>de</strong>, é bom que<br />

isso aconteça. Nada pior que <strong>um</strong>a longa agonia,<br />

como acontece, sobretudo com os<br />

jornais brasileiros. Se não está dando certo,<br />

busquem <strong>um</strong> novo caminho, reconheçam a<br />

queda e tentem dar a volta por cima.<br />

Luís Antonio Aleixo<br />

Nota da redação: Nossos leitores<br />

estão hoje especialmente malvados e intolerantes<br />

com o fracasso. Mas temos <strong>de</strong> admitir<br />

que insistir na falha é gastar mais<br />

energias e recursos financeiros que o<br />

necessário.<br />

Quem quebrou, já foi tar<strong>de</strong><br />

Muita gente fica chorando o <strong>de</strong>saparecimento<br />

<strong>de</strong> empresas durante a crise.<br />

Isso é bobagem. O famoso economista<br />

Joseph Sch<strong>um</strong>peter articulou o conceito <strong>de</strong><br />

“<strong>de</strong>struição criativa”, no rescaldo da<br />

Gran<strong>de</strong> Depressão. É <strong>um</strong>a teoria que consi<strong>de</strong>ra<br />

até agradável a morte <strong>de</strong> empresas,<br />

que suc<strong>um</strong>biram na crise, pois elas serão<br />

substituídas por outras melhores, mais<br />

mo<strong>de</strong>rnas e mais criativas. Não po<strong>de</strong>mos<br />

nos esquecer que durante a recessão dos<br />

anos 30 foram fundadas empresas que,<br />

mais tar<strong>de</strong>, se tornaram potências, como a<br />

Hewlett Packard e a Revlon. Outras empresas,<br />

como a IBM e a RCA, cresceram na<br />

Gran<strong>de</strong> Depressão. Na verda<strong>de</strong>, essas gran<strong>de</strong>s<br />

empresas que quebram já vão tar<strong>de</strong> e<br />

não farão falta. Que falta, por exemplo,<br />

fará a General Motors, n<strong>um</strong> mundo com<br />

tantas marcas <strong>de</strong> automóveis e todas <strong>de</strong> boa<br />

qualida<strong>de</strong>?<br />

Marcos Macedo-<strong>BH</strong><br />

Nota da redação: Falar que <strong>um</strong>a empresa<br />

ou alguém já vai tar<strong>de</strong> é muito agressivo<br />

e <strong>de</strong>s<strong>um</strong>ano. Mas nós estamos<br />

convencidos <strong>de</strong> que <strong>um</strong> atributo típico<br />

daqueles que têm sucesso em tempos difíceis<br />

é <strong>um</strong>a aguda compreensão das mudanças<br />

que ocorrem à sua volta. Eles<br />

sabem que as coisas não voltarão ao normal<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cada crise, mas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

forma que po<strong>de</strong> ser totalmente diferente.<br />

De qualquer modo, é doloroso viver a<br />

”<strong>de</strong>struição criativa” no momento em que<br />

ela ocorre, com o fechamento <strong>de</strong> empresas<br />

e corte <strong>de</strong> empregos Para quem per<strong>de</strong>u seu<br />

negócio ou emprego, a <strong>de</strong>struição é apenas<br />

<strong>de</strong>strutiva.<br />

6 DEZEMBRO DE 2009


Nomes&Notas<br />

COMO SER FELIZ COM 75% A MENOS NO CONTRACHEQUE<br />

Um leitor nos<br />

escreveu para criticar<br />

<strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>. Disse<br />

que a revista apenas<br />

trata dos bons<br />

negócios e das<br />

empresas <strong>de</strong> sucesso<br />

e se esquece <strong>de</strong><br />

oferecer <strong>um</strong>a palavra<br />

<strong>de</strong> apoio a<br />

empresários em<br />

dificulda<strong>de</strong>s, como<br />

ele. Ou a executivos<br />

que per<strong>de</strong>ram o<br />

emprego. Ora, pois,<br />

nós temos essa<br />

palavra <strong>de</strong><br />

aconselhamento.<br />

Aliás, são muitas, que<br />

dividimos nos itens<br />

abaixo:<br />

Não se <strong>de</strong>ixe<br />

h<strong>um</strong>ilhar – A<br />

primeira coisa é não<br />

se sentir h<strong>um</strong>ilhado<br />

com a crise pessoal<br />

que, temos certeza,<br />

será passageira. Você<br />

<strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar<br />

como <strong>um</strong>a<br />

circunstância da vida<br />

a sua queda na<br />

receita e, por<br />

extensão, sua<br />

exclusão <strong>de</strong> alguns<br />

círculos sociais. Você<br />

mesmo já <strong>de</strong>ve ter<br />

ouvido que a vida é<br />

<strong>um</strong>a roda gigante. Sei que a crise parece<br />

interminável, mas não será.<br />

Aperte o cinto – Como sua empresa já<br />

fechou as portas ou você per<strong>de</strong>u seu<br />

magnífico emprego, aja como <strong>um</strong><br />

<strong>de</strong>sempregado ou ex-empresário.<br />

Aprenda a viver com o mínimo <strong>de</strong><br />

conforto e sem o <strong>de</strong>sperdício da vida<br />

anterior. Não resista aos cortes nas<br />

<strong>de</strong>spesas. Seja h<strong>um</strong>il<strong>de</strong> o suficiente para<br />

aceitar serviços temporários. Venda <strong>um</strong><br />

dos seus carros e, se possível, todos eles.<br />

Corte jantares em restaurantes –<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

Mesmo em casa, coma menos. É<br />

provável que emagreça e subitamente<br />

você possa a caber <strong>de</strong>ntro daquelas<br />

roupas encostadas. Olha que maravilha:<br />

você po<strong>de</strong>rá usar roupas <strong>de</strong> três anos<br />

atrás e se <strong>de</strong>para com <strong>um</strong> guarda-roupa<br />

quase inteiramente novo à sua<br />

disposição<br />

Prepare-se para viver sozinho –<br />

Quando a crise é brava, é provável até<br />

que sua mulher o abandone. Na primeira<br />

aula <strong>de</strong> Direito <strong>de</strong> Família, os professores<br />

cost<strong>um</strong>am lembrar que, quando o<br />

infortúnio bate à porta, o amor foge pela<br />

ACIR GALVÃO<br />

janela. Mas talvez<br />

seja melhor assim.<br />

Nem todas as<br />

mulheres são como<br />

Amélia. Uma boa<br />

parte gosta mesmo é<br />

<strong>de</strong> luxo e riqueza.<br />

Isso, no momento,<br />

você não po<strong>de</strong><br />

oferecer.<br />

O bom e o barato<br />

andam juntos –<br />

Tudo na vida é<br />

passageiro, e quando<br />

a brisa da<br />

prosperida<strong>de</strong> soprar<br />

novamente em seu<br />

caminho, você<br />

perceberá que<br />

precisava <strong>de</strong> quase<br />

nada da ostentação<br />

do passado.<br />

Recentemente, o<br />

empresário Pedro<br />

Paulo Dr<strong>um</strong>ond,<br />

proprietário da re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> lojas Cia. do<br />

Terno, lembrou que<br />

o barato nem sempre<br />

é <strong>um</strong> produto ruim.<br />

Ele ven<strong>de</strong> bons<br />

ternos a menos <strong>de</strong><br />

R$ 100,00. Suas<br />

camisas sociais<br />

custam R$ 34,00. Sua<br />

empresa está há mais<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos no<br />

mercado. O segredo:<br />

as roupas são confeccionadas na China,<br />

on<strong>de</strong> os impostos são baixos e os<br />

salários mais baixos ainda. Pedro sempre<br />

diz que os melhores carros brasileiros<br />

são os mais baratos, citando o Gol, o<br />

Pálio e o Uno que são, também, os<br />

preferidos dos brasileiros. Em res<strong>um</strong>o, o<br />

barato não é <strong>um</strong>a coisa naturalmente<br />

ruim ou vergonhosa. Po<strong>de</strong> ser, na<br />

verda<strong>de</strong>, a solução inteligente.<br />

Trabalhe muito – Trabalhe e mantenha<br />

a esperança <strong>de</strong> que a prosperida<strong>de</strong> salte<br />

do seu escon<strong>de</strong>rijo e grite para você: “Ei!<br />

Eu estou <strong>de</strong> volta!”.<br />

7


Nomes&Notas<br />

BRASÍLIA BOICOTA RODOVIAS DE AÉCIO<br />

Des<strong>de</strong> o início do seu governo, há sete anos, Aécio Neves executa <strong>um</strong> fantástico<br />

programa rodoviário que consiste em levar estrada asfaltada a 225 municípios mineiros<br />

que ainda viviam na ida<strong>de</strong> da pedra no setor <strong>de</strong> rodovias. Somente quem mora nesses<br />

lugarejos, alguns a mais <strong>de</strong> mil quilômetros <strong>de</strong> distância da capital, conhece o tormento<br />

<strong>de</strong> trafegar, ano após ano, naquelas rodovias que, quando não estão enlameadas, são<br />

poeira pura. Após muito esforço e investimento, o programa po<strong>de</strong>ria estar<br />

integralmente concluído em janeiro <strong>de</strong> 2010 e a promessa c<strong>um</strong>prida.<br />

Mas a obra não ficará totalmente pronta, por causa do <strong>de</strong>scaso fe<strong>de</strong>ral. Seis<br />

municípios continuarão sem ligação com o asfalto. É que eles são servidos por supostas<br />

rodovias fe<strong>de</strong>rais, que só existem na imaginação dos<br />

incompetentes dirigentes do DNIT, em Brasília.<br />

Apesar disso, aquelas s<strong>um</strong>ida<strong>de</strong>s não transferem<br />

a administração das estradas para o governo<br />

estadual. No entanto, se os homens do DNIT não<br />

fossem tão obtusos ou mal intencionados, as<br />

cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Jacinto e Salto da Divisa não<br />

apenas teriam rodovias pavimentadas, mas<br />

permitiriam que a alta burocracia <strong>de</strong><br />

Brasília e suas ilustres famílias<br />

pu<strong>de</strong>ssem ir por estradas asfaltadas<br />

até as belíssimas praias <strong>de</strong> Porto<br />

Seguro e Ajuda.<br />

Aquelas duas sofridas cida<strong>de</strong>s<br />

estão no caminho entre a maciota<br />

fe<strong>de</strong>ral e as belas praias do litoral. É claro<br />

que os moradores <strong>de</strong> Jacinto e do Salto<br />

da Divisa irão se lembrar <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>scaso<br />

nas próximas eleições, castigando os<br />

que fizeram <strong>de</strong> tudo para prejudicar a<br />

gran<strong>de</strong> obra rodoviária fe<strong>de</strong>ral do<br />

governador mineiro.<br />

QUEM GOSTA DE<br />

DINHEIRO,<br />

GUARDA<br />

SEIS PESSOAS QUE VOCÊ DEVE ESCALAR NO SEU TIME<br />

Outro leitor nos indaga po<strong>de</strong>r on<strong>de</strong><br />

passa a estrada do sucesso. Temos esta<br />

resposta (que nos foi passada por três<br />

consultores <strong>de</strong> confiança): O sucesso<br />

não é <strong>um</strong> esporte individual. Você<br />

precisa <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong> muitas pessoas ao<br />

longo da sua vida. Gente com quem<br />

tabelar ou <strong>de</strong> quem receber <strong>um</strong><br />

lançamento que o colocará na cara do<br />

gol. Aqui, alg<strong>um</strong>as pessoas<br />

absolutamente indispensáveis no time<br />

<strong>de</strong> sucesso que você irá montar na sua<br />

ativida<strong>de</strong> empresarial:<br />

O pessimista positivo – é alguém<br />

que o alerta para os perigos e as<br />

armadilhas da vida e dos negócios.<br />

Mas nunca o <strong>de</strong>sanima. Ele mostra<br />

os obstáculos a serem superados e<br />

os problemas a serem resolvidos.<br />

Mas nunca trata problemas como<br />

dificulda<strong>de</strong>s impossíveis <strong>de</strong> serem<br />

vencidas.<br />

O visionário – Todo mundo precisa<br />

<strong>de</strong> alguém que aponte seus olhos para<br />

as estrelas. É inspirador estar próximo<br />

<strong>de</strong> pessoas que enxergam o potencial e<br />

O inesquecível fazen<strong>de</strong>iro e poeta<br />

Emanuel Campos, da perdida cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Jacinto, no Vale do<br />

Jequitinhonha, lamentou durante<br />

toda a vida que seus filhos não<br />

gostassem <strong>de</strong> dinheiro. A cada <strong>um</strong><br />

da sua n<strong>um</strong>erosa prole que ia lhe<br />

pedir a mesada, ele aconselhava a<br />

gostar <strong>de</strong> dinheiro. “Quem gosta <strong>de</strong><br />

dinheiro, guarda”, dizia, sabiamente.<br />

Ele, sim, sabia da importância do<br />

dinheiro: levava <strong>um</strong>a vida frugal,<br />

mas dispunha <strong>de</strong> tudo o que<br />

necessitou durante toda a vida.<br />

Comprava apenas os sapatos e<br />

roupas que iria usar e quase sempre<br />

até o fim da vida útil <strong>de</strong> cada <strong>um</strong>a<br />

<strong>de</strong>ssas peças. Nada lhe faltou.<br />

Deixou muitas terras, que<br />

<strong>de</strong>sapareceram rapidamente nas<br />

mãos dos muitos her<strong>de</strong>iros.<br />

Infelizmente, eles nunca se<br />

lembraram do gran<strong>de</strong> ensinamento:<br />

“Ninguém precisa <strong>de</strong> muito para ser<br />

feliz. A poupança leva à liberda<strong>de</strong>. A<br />

dívida é o caminho para a<br />

escravidão”, dizia, acertadamente.<br />

8 DEZEMBRO DE 2009<br />

OMAR FREIRE/IMPRENSA MG


Nomes&Notas<br />

LATICÍNIOS ITAMBÉ CRIAM REVISTA<br />

PARA FALAR COM FAZENDEIROS<br />

A Cooperativa Central dos Produtores Rurais, que<br />

industrializa, com a marca Itambé, o leite e seus <strong>de</strong>rivados,<br />

vai <strong>de</strong>flagrar agora em fevereiro <strong>um</strong>a ampla campanha<br />

educativa junto aos seus milhares <strong>de</strong> cooperados. O<br />

<strong>de</strong>staque para a campanha será a edição <strong>de</strong> <strong>um</strong>a revista,<br />

iniciativa que parece mo<strong>de</strong>sta, mas não<br />

é. A Cooperativa contratou <strong>um</strong>a equipe<br />

<strong>de</strong> pesquisas, chefiada pelo renomado<br />

técnico Sebastião Teixeira, da<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Viçosa, que ouviu<br />

mais <strong>de</strong> cinco mil fazen<strong>de</strong>iros e chegou<br />

a <strong>um</strong>a conclusão surpreen<strong>de</strong>nte: a<br />

principal fonte <strong>de</strong> informação do<br />

fazen<strong>de</strong>iro é o vizinho; em segundo<br />

lugar aparece o programa <strong>de</strong> televisão<br />

Globo Rural. Somente em terceiro lugar<br />

surgem as informações técnicas <strong>de</strong><br />

agrônomos, tanto do governo, quanto<br />

da própria cooperativa.<br />

Segundo a direção da Itambé, o<br />

resultado da pesquisa mostra que o<br />

fazen<strong>de</strong>iro se orienta pela informação<br />

mais próxima, como a televisão, que<br />

fica na sua sala ou até mesmo nos<br />

aposentos íntimos. Mas ele é também<br />

absolutamente favorável à adoção <strong>de</strong><br />

novas técnicas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sejam<br />

mostradas <strong>de</strong> forma clara e inteligível,<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

acreditam no futuro. Ele vão estimular os<br />

seus sonhos e valorizar suas i<strong>de</strong>ias<br />

O especialista em implementação –<br />

Todos os sonhos nada significam se você<br />

não souber fazê-los acontecer. Esse tipo <strong>de</strong><br />

gente o ajuda a tornar a caminhada mais<br />

fácil.<br />

O torcedor emocional – Este está<br />

sempre do seu lado no momento das<br />

gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s. Ele lhe oferece apoio<br />

e o ajuda a perseverar na caminhada, sem<br />

nunca <strong>de</strong>sistir. O apoio emocional po<strong>de</strong> vir<br />

<strong>de</strong> mil maneiras. Às vezes é apenas o<br />

ouvido para escutar as suas dúvidas.<br />

pois a sua utilização repercute sempre em acréscimo <strong>de</strong><br />

receita pelo leite fornecido. Hoje, segundo o presi<strong>de</strong>nte da<br />

Itambé, Jacques Gontijo, a totalida<strong>de</strong> dos fazen<strong>de</strong>iros que<br />

fornecem mais <strong>de</strong> 500 litros por dia tem or<strong>de</strong>nha mecânica<br />

em suas proprieda<strong>de</strong>s. Além disso, mesmos os pequenos<br />

produtores dispõem <strong>de</strong> refrigerador <strong>de</strong><br />

leite junto aos estábulos.<br />

Segundo Gontijo, a Itambé sempre<br />

cresceu o dobro da expansão do PIB<br />

brasileiro e, em <strong>de</strong>corrência do fato,<br />

sua expectativa é a <strong>de</strong> que a CCPR<br />

cresça pelo menos 12% em 2010. No<br />

plano externo, ele acredita que as<br />

exportações serão retomadas. Por<br />

conta da crise internacional, o leite em<br />

pó, que era exportado por US$<br />

5.600,00 a tonelada, teve seu preço<br />

reduzido para US$ 1.700,00. “Mas os<br />

pedidos estão voltando” afirmou.<br />

A Itambé é a maior indústria <strong>de</strong><br />

laticínios com capital nacional, conta<br />

com 31 cooperativas, sendo 29<br />

associadas, 8.000 fornecedores <strong>de</strong> leite<br />

e capta aproximadamente cem milhões<br />

<strong>de</strong> litros <strong>de</strong> leite por mês. Emprega<br />

3.500 pessoas. Suas receitas anuais são<br />

superiores a R$ 2 bilhões.<br />

ITAMBÉ/DIVULGAÇÃO<br />

O perito no assunto – Seja qual for o seu<br />

caminho, há pessoas que sabem mais do<br />

que você sobre o assunto do seu interesse.<br />

Elas, provavelmente, apenas não têm<br />

coragem <strong>de</strong> buscar o próprio negócio.<br />

I<strong>de</strong>ntifique essas pessoas e busque seu<br />

aconselhamento.<br />

Os experientes – Nunca tente reinventar<br />

a roda. Dedique-se a outro tema pois a<br />

roda já existe. Procure pessoas que<br />

trilharam o caminho que você <strong>de</strong>seja<br />

seguir. É provável que tenham aprendido<br />

muita coisa com o sofrimento. E você<br />

evitará esse drama, caso as informações<br />

lhe mostrem o caminho das pedras.<br />

SXC<br />

9


ENTREVISTA Marcio Lacerda/Prefeito <strong>de</strong> Belo Horizonte<br />

O primeiro ano <strong>de</strong> governo<br />

do socialista Márcio Lacerda<br />

Prefeito preparou o terreno, em 2009,<br />

para gran<strong>de</strong>s investimentos na cida<strong>de</strong>,<br />

a partir <strong>de</strong>ste ano<br />

DURVAL GUIMARÃES<br />

N<strong>um</strong>a época em que se leem e se ou -<br />

vem tantas notícias <strong>de</strong>vastadoras<br />

so bre a administração do dinheiro<br />

público, Belo Horizonte se revela <strong>um</strong>a ci da -<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> sorte. Dos prefeitos <strong>de</strong> todas as ci da -<br />

<strong>de</strong>s brasileiras, Lacerda é, pessoalmente o<br />

mais rico. Basta <strong>um</strong> exame nas <strong>de</strong>clarações<br />

<strong>de</strong> bens que os can di datos apresentaram na<br />

época elei to ral. Mais ainda: apesar <strong>de</strong> dono<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fortuna, sempre revelou <strong>um</strong><br />

imenso <strong>de</strong>sa pego pelos bens materiais. É o<br />

que dizem seus ex-companheiros <strong>de</strong> luta armada.<br />

Segundo os seus quase cem compa nhei -<br />

ros <strong>de</strong> prisão, encarcerados no período da<br />

ditadura, Márcio Lacerda (PSB) jamais se<br />

esqueceu <strong>de</strong>les. Principalmente <strong>de</strong>pois que<br />

fo ram jogados na rua, sem trabalho ou<br />

qual quer fonte <strong>de</strong> renda. A uns <strong>de</strong>u empre -<br />

go; e a outros emprestou dinheiro, que jamais<br />

recebeu <strong>de</strong> volta. Para <strong>um</strong> terceiro<br />

gru po, que incluía o ex-prefeito Fernando<br />

Pi mentel, assinou a carteira profissional,<br />

com o propósito <strong>de</strong> iludir os entrevistadores<br />

das empresas on<strong>de</strong> eles iam buscar <strong>um</strong>a co -<br />

lo cação <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>.<br />

Quando saiu da prisão, com todas as<br />

por tas fechadas para ele, Márcio Lacerda<br />

foi obrigado a montar sua própria empresa.<br />

Com sucesso total: pouco tempo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

cria da, sua empresa <strong>de</strong> instalação <strong>de</strong> linhas<br />

te lefônicas, a Construtel, chegou a faturar<br />

US$ 500 milhões anuais. Por conta da capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> trabalho e da criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Márcio. Mais ainda, tornou-se <strong>um</strong>a multina<br />

cional, com negócios em vários países da<br />

América do Sul.<br />

É justo lembrar a prisão daqueles jovens<br />

estudantes que, como ele, pegaram em ar -<br />

mas e arriscaram a vida (muitos morreram<br />

sob tortura ou tiro) em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> <strong>um</strong> i<strong>de</strong>al.<br />

Consi<strong>de</strong>rados elementos <strong>de</strong> alta periculosida<strong>de</strong>,<br />

foram isolados na penitenciária <strong>de</strong><br />

Linhares, em Juiz <strong>de</strong> Fora, inteiramente<br />

reservada para eles. Por qualquer ato consi<strong>de</strong>rado<br />

indisciplinar, eram colocados na<br />

solitária, privados até <strong>de</strong> ver a luz do dia.<br />

Muitos <strong>de</strong>sses jovens, hoje respeitáveis<br />

senhores <strong>de</strong> cabelos brancos, são seus companheiros<br />

na Prefeitura. E, pelas ironias da<br />

História, chegaram ao po<strong>de</strong>r não pelo terror<br />

da armas, mas pela força <strong>de</strong>mocrática dos<br />

votos. Então, chega a ser bizarro dizer que<br />

Márcio não tem experiência política. Logo<br />

ele, que teve tanta militância na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>.<br />

Pouca gente sabe, mas Márcio, durante<br />

toda a vida <strong>de</strong> empresário, foi o<br />

si lencioso mantenedor do Partido Popular<br />

Socialista, sucessor do velho Partido Comunista<br />

Braseiro. Na Construtel, distribuía,<br />

anualmente, os lucros entre os seus funcio -<br />

nários. E, quando a ven<strong>de</strong>u, repartiu 20%<br />

do dinheiro com todos os empregados. As<br />

faxineiras mais mo<strong>de</strong>stas, por exemplo, ga -<br />

nharam pelo menos US$ 20 mil cada <strong>um</strong>a,<br />

n<strong>um</strong>a doação até hoje sem similar no país.<br />

Uma coisa é alguém <strong>de</strong>dicar sua vida à<br />

luta política. Outra, bem diferente, é admi -<br />

nis trar <strong>um</strong>a cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> todas as correntes<br />

políticas e interesses <strong>de</strong>vem conviver civilizadamente.<br />

Isso, sim, é <strong>um</strong>a experiência<br />

que Márcio vivencia pela primeira vez na<br />

vida, aos 60 anos.<br />

No seu primeiro dia <strong>de</strong> administração,<br />

não houve <strong>um</strong> batismo <strong>de</strong> fogo. Mas <strong>um</strong><br />

dilúvio das águas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a tempesta<strong>de</strong> que<br />

inundou a cida<strong>de</strong>, atingiu milhares <strong>de</strong> casas<br />

e levou famílias ao <strong>de</strong>sespero. Terá sido <strong>um</strong><br />

bom começo do trabalho <strong>de</strong> Márcio para<br />

ad ministrar a complexa, inquieta e galopante<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte?<br />

“<br />

Temos <strong>um</strong> gran<strong>de</strong><br />

programa <strong>de</strong> <strong>obras</strong>,<br />

ÉLCIO<br />

que será <strong>de</strong>flagrado após<br />

as chuvas <strong>de</strong> verão. Já<br />

contratamos muitos<br />

projetos executivos para<br />

novas <strong>obras</strong>”.<br />

<strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> - O senhor ass<strong>um</strong>iu a pre -<br />

fei tura <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> chuva. E elas se re pe ti -<br />

ram fortemente várias vezes no ano. Como<br />

é governar sob as águas?<br />

Na noite do meu primeiro dia <strong>de</strong> gover -<br />

no, houve <strong>um</strong>a chuva <strong>de</strong>vastadora. Mais <strong>de</strong><br />

três mil residências foram invadidas pelas<br />

águas ou sofreram alg<strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> dano. Foi<br />

<strong>um</strong> sofrimento enorme para a população.<br />

Mas, reagimos, no ato. O resultado é que ho -<br />

je temos <strong>um</strong> mapa <strong>de</strong>talhado e seguro das<br />

áreas <strong>de</strong> inundação. Sabia que aqui em Belo<br />

Horizonte são mais <strong>de</strong> 80? Esse mapa é no -<br />

vida<strong>de</strong>, original. Nem São Paulo, castigada<br />

in tensamente com inundações quase crônicas,<br />

tem esse diagnóstico.Na verda<strong>de</strong>, estamos<br />

dando continuida<strong>de</strong> a <strong>um</strong> trabalho <strong>de</strong><br />

prevenção <strong>de</strong> riscos: já retiramos <strong>de</strong>z mil<br />

famílias <strong>de</strong> áreas sujeitas a <strong>de</strong>sabamento.<br />

Claro que, em quatro anos, não resolveremos<br />

todos esses problemas, por falta <strong>de</strong> recur<br />

sos financeiros. Mas, com certeza, o<br />

pro blema daquela área da Avenida Teresa<br />

Cristina, que tinha inundações frequentes,<br />

se rá resolvido em menos <strong>de</strong> dois anos.<br />

Qual a marca do seu primeiro ano <strong>de</strong> ad mi -<br />

nistração?<br />

Nós colocamos em marcha o nosso plano<br />

<strong>de</strong> governo, divulgado durante a campanha<br />

e lei toral. Conseguimos formatar <strong>um</strong> plano estratégico,<br />

com visão <strong>de</strong> longo prazo. Esta be -<br />

lecemos <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão, que consis te<br />

no acompanhamento <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong> cada obra,<br />

<strong>de</strong> cada ação. Criamos 12 áreas <strong>de</strong> resultados<br />

10 DEZEMBRO DE 2009<br />

PARAÍSO


DEZEMBRO DE 2009 11


“<br />

Estamos procurando<br />

alternativas <strong>de</strong><br />

investimento privado,<br />

sobretudo em concessões.<br />

Lançamos consultas ao<br />

mercado. Vamos ver se<br />

aparecem interessados na<br />

construção <strong>de</strong> garagem e<br />

<strong>de</strong> estacionamentos<br />

subterrâneos”.<br />

e, em cada <strong>um</strong>a <strong>de</strong>las, <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> nú mero <strong>de</strong><br />

ações. Eu me reúno <strong>um</strong>a vez por mês com os<br />

gerentes e <strong>de</strong>mais profissionais envolvidos<br />

em cada projeto. Acompanho no computador<br />

<strong>de</strong> meu gabinete projeto a projeto, incluindo<br />

os recursos já aplicados e o estágio dos<br />

serviços. Não consigo me imaginar na chefia<br />

da cida<strong>de</strong> sem <strong>um</strong> plano, sem <strong>um</strong> r<strong>um</strong>o.<br />

Mas em termos <strong>de</strong> <strong>obras</strong>, o que efe ti va -<br />

men te foi colocado em marcha?<br />

Eu ass<strong>um</strong>i o governo em plena crise e co -<br />

nô mica internacional e n<strong>um</strong> momento <strong>de</strong> inse<br />

gurança. Havia cerca <strong>de</strong> 200 <strong>obras</strong> em<br />

an damento ou se iniciando. Obras gran<strong>de</strong>s<br />

ou pequenas. Nós não paralisamos nenh<strong>um</strong>a<br />

<strong>de</strong> las, nem reduzimos o ritmo. O que fizemos<br />

foi não iniciar nenh<strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> obra.<br />

Só as <strong>de</strong> emergência, pois não adianta co -<br />

me çar obra alg<strong>um</strong>a sem garantir recursos<br />

pa ra as que já existem. Ao mesmo tempo,<br />

<strong>de</strong>senvol vemos <strong>um</strong> rigoroso programa <strong>de</strong><br />

controle das receitas e <strong>de</strong>spesas. Já no segundo<br />

semes tre <strong>de</strong>ste ano, nos sentimos em<br />

con di ções <strong>de</strong> atacar novas <strong>obras</strong>. O resultado<br />

é que mantivemos praticamente os mesmos<br />

cus tos <strong>de</strong> 2008, conseguindo investir 22%<br />

da nossa receita corrente líquida. Belo Ho ri -<br />

zon te foi a capital brasileira que mais inves -<br />

tiu – mais <strong>de</strong> R$ 686 milhões, retirados <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a receita corrente <strong>de</strong> R$ 3 bilhões. Em<br />

seguida, veio Campo Gran<strong>de</strong>, no Mato Gros -<br />

so do Sul, com 18% da receita corrente. O<br />

Rio investiu apenas 3%. Investimos R$ 670<br />

mi lhões <strong>de</strong> receitas próprias em <strong>obras</strong>.<br />

O senhor conseguirá repetir esse <strong>de</strong> sem -<br />

pe nho em 2010?<br />

Investiremos ainda mais, pois, como dis -<br />

se anteriormente, em 2009 apenas pre pa ra -<br />

mos nossa caminhada. Temos <strong>um</strong> gran<strong>de</strong><br />

pro grama <strong>de</strong> <strong>obras</strong> que será <strong>de</strong>flagrado após<br />

12<br />

as chuvas <strong>de</strong> verão. Já contratamos muitos<br />

pro jetos executivos para novas <strong>obras</strong>. Vamos<br />

lançar licitações no primeiro trimestre para<br />

<strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> <strong>obras</strong> maiores e significativas,<br />

como o Hospital Metropolitano, que<br />

será erguido no Barreiro. Iremos duplicar a<br />

avenida Pedro I (após a Lagoa da Pampulha,<br />

em direção ao aeroporto <strong>de</strong> Confins). Também<br />

construiremos a primeira rota do Transpor<br />

te Rápido por ônibus, seguindo os<br />

mo <strong>de</strong>los <strong>de</strong> Curitiba e Bogotá. Há ainda ou -<br />

tro gran<strong>de</strong> conjunto <strong>de</strong> <strong>obras</strong>, como o proje -<br />

to Vila Viva, no Aglomerado Santa Lú cia.<br />

Para essas <strong>obras</strong>, estamos com R$ 550 mi lhões<br />

em caixa <strong>de</strong> recursos provenientes <strong>de</strong><br />

financiamentos liberados ao lon go <strong>de</strong> 2009.<br />

Estamos <strong>de</strong>talhando os projetos, preparando<br />

as licitações. Felizmente, nos sas receitas<br />

próprias não foram atingidas pe la crise, embora<br />

houvesse sensíveis reduções nos<br />

repasses dos governos fe<strong>de</strong>ral e estadual.<br />

A prefeitura preten<strong>de</strong> atrair investidores<br />

pri vados para <strong>obras</strong> públicas?<br />

Estamos procurando alternativas <strong>de</strong> investimento<br />

privado, sobretudo em concessões.<br />

Lançamos consultas ao mercado,<br />

por meio dos Procedimentos <strong>de</strong> Manifestações<br />

<strong>de</strong> Interesse (PMI), previstos na lei<br />

que instituiu as Parcerias Público-Privadas<br />

(PPP). Vamos ver se aparecem interessados<br />

na construção e na exploração <strong>de</strong> edifíciosgaragem,<br />

<strong>de</strong> estacionamentos subterrâneos<br />

em <strong>BH</strong>. Vamos ver quem apresentará i<strong>de</strong>ias<br />

para, com base nelas, prepararmos os editais.<br />

Lançamos também consultas para a<br />

construção <strong>de</strong> complexos comerciais subterrâneos<br />

para pe<strong>de</strong>stres, como já existem na<br />

Europa. Abriremos também, nesses locais,<br />

a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> estacionamentos.<br />

Uma das áreas previstas será em<br />

frente ao Palácio da Liberda<strong>de</strong>.<br />

Como a prefeitura vai gerenciar os pro je tos?<br />

Os empresários sugeriram muitas i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong><br />

concessões. Como não temos recursos h<strong>um</strong>anos<br />

para examinar <strong>de</strong>talhadamente cada<br />

proposta, assinamos, em 1º <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

2009, convênio com o Banco Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Econômico e Social (BNDES),<br />

que conta com parceiros privados para isso. Os<br />

projetos serão sem custos para a prefeitura e incluirão<br />

até estudos <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> eco nô mica.<br />

Até a proposta <strong>de</strong> edital será apresenta da pelo<br />

banco. Entre os projetos que o banco es tatal<br />

formata para nós, estão incluídos o Centro <strong>de</strong><br />

Convenções, <strong>um</strong>a nova rodoviária, <strong>obras</strong><br />

viárias e o mercado distrital do Cru zeiro.<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

“<br />

Pelo menos doze<br />

novos hotéis <strong>de</strong>verão<br />

ter suas <strong>obras</strong> iniciadas<br />

nos próximos meses,<br />

a<strong>um</strong>entando em mais <strong>de</strong><br />

1.500 leitos novos a<br />

capacida<strong>de</strong> da re<strong>de</strong><br />

hoteleira da cida<strong>de</strong>”.<br />

DEZEMBRO DE 2009


A direção do BNDES me informou que há<br />

muitos bancos privados interessados em participar<br />

do financiamento <strong>de</strong> <strong>obras</strong> públicas,<br />

mas ainda não existem projetos prontos para<br />

serem executados e financiados. A proposta do<br />

banco estatal é viabilizar esses financiamentos.<br />

Então, o BNDES e esses bancos privados<br />

criaram <strong>um</strong>a empresa <strong>de</strong>nominada Estruturadora<br />

Brasileira <strong>de</strong> Projetos (EBP), que assinou<br />

o convênio com a Prefeitura. Da nossa<br />

parte, quem vai tocar o convênio, incluído<br />

n<strong>um</strong>a área que gerencia as Parcerias Público-<br />

Privadas, será o Hy pé ri<strong>de</strong>s Atheniense.<br />

O BNDES financiará, então, não apenas a<br />

obra, mas também os projetos?<br />

Sim. Quando <strong>um</strong> banco estuda e financia<br />

<strong>um</strong> projeto, con si <strong>de</strong> ran do-o viável, o<br />

financiamen to da o bra inteira ficará<br />

mui to mais fá cil. Eles<br />

estão cui dando do centro<br />

<strong>de</strong> conven ções,<br />

que pre ten <strong>de</strong> mos<br />

cons truir na<br />

Cris tiano Ma -<br />

cha do, e da<br />

nova ro do -<br />

viária. As<br />

alternativas<br />

<strong>de</strong> ne -<br />

g ó c i o s<br />

são mui -<br />

tas. No<br />

caso do<br />

hospitalmetro<br />

po litano<br />

do Bar reiro,<br />

por exemplo,<br />

há a<br />

hipótese <strong>de</strong><br />

a iniciativa<br />

privada construir<br />

o prédio<br />

e alu gálo<br />

pa ra a pre -<br />

fei tura. De<br />

qual quer for -<br />

ma, <strong>um</strong> edi tal<br />

<strong>de</strong>verá ser pu -<br />

blicado nos próximos<br />

meses.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

O metrô está in -<br />

cluído nesses<br />

pro jetos?<br />

“<br />

Esperamos que o<br />

metrô seja incluído<br />

nas <strong>obras</strong> do próximo PAC,<br />

que o governo fe<strong>de</strong>ral vai<br />

anunciar no próximo mês<br />

<strong>de</strong> fevereiro. O BNDES já<br />

está avaliando o projeto”.<br />

Esperamos que o metrô seja incluído nas<br />

<strong>obras</strong> do próximo PAC, que o governo fe <strong>de</strong> -<br />

ral vai anunciar no próximo mês <strong>de</strong><br />

fevereiro. O BNDES já está avaliando o proje<br />

to. Nós preten<strong>de</strong>mos criar a alternativa <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a parceria público-privada.<br />

Mas a Pre fei tura não pen sa na a tra ção <strong>de</strong><br />

gran <strong>de</strong>s pro je tos industriais pa ra a cida<strong>de</strong>?<br />

Infelizmente, não temos áreas dis po níveis<br />

no muni cípio. Te mos espaço, sim, pa ra empre<br />

endimentos <strong>de</strong> ser viços <strong>de</strong> alta tec nologia;<br />

pa ra projetos nas áreas <strong>de</strong> saú <strong>de</strong> e <strong>de</strong> en genharia;<br />

ou para se -<br />

<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gran -<br />

<strong>de</strong>s grupos,<br />

<strong>de</strong> gran <strong>de</strong>s<br />

empresas.<br />

Não há espaço<br />

para gran<strong>de</strong>s in dústrias,<br />

por isso estamos nos<br />

articulando com nove cida<strong>de</strong>s vi zi -<br />

nhas e criamos a Re<strong>de</strong> Dez. Uma gran<strong>de</strong> indústria,<br />

que se instale n<strong>um</strong>a cida<strong>de</strong> vi zi nha,<br />

também traz gran<strong>de</strong>s benefícios para Belo<br />

Horizonte. O que é até bom para a <strong>de</strong>s -<br />

concentração populacional. Com isso, cria mos<br />

<strong>um</strong> clima <strong>de</strong> cooperação e harmonia com as<br />

cida<strong>de</strong>s vizinhas, ajudando-as, até, na implantação<br />

da nota fiscal e le trônica (nas notas<br />

<strong>de</strong> serviços) e também na extensão da nossa<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Internet gratuita sem fio para vilas e<br />

aglomerados das cida<strong>de</strong>s vizinhas. Estes são<br />

exemplos <strong>de</strong>ssa cooperação, fundamental<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento e a melhoria da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida da população.<br />

Há outras ações no campo econômico?<br />

Sim. Reativamos o Conselho <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Econômico. E aprovamos incentivos<br />

fiscais na área do ISS que irão<br />

aten<strong>de</strong>r, sobretudo, aos novos hotéis que<br />

estão chegando. Pelo menos doze novos<br />

hotéis <strong>de</strong>verão ter suas <strong>obras</strong> iniciadas nos<br />

próximos meses, a<strong>um</strong>entando em mais <strong>de</strong><br />

1.500 leitos novos a capacida<strong>de</strong> da re<strong>de</strong><br />

hoteleira da cida<strong>de</strong>.<br />

Finalmente, será resolvido o problema da<br />

travessia ferroviária <strong>de</strong> Belo Horizonte?<br />

Há mais <strong>de</strong> 40 anos, a população da região<br />

do Horto vive o tormento <strong>de</strong> ver as composições<br />

ferroviárias passando nas portas e nos<br />

quintais <strong>de</strong> suas casas. Há passagens <strong>de</strong> nível<br />

perigosíssimas, sempre causando aci<strong>de</strong>ntes e<br />

mortes. Finalmente, esse drama está com data<br />

marcada para acabar.<br />

Depois <strong>de</strong> muita luta, a prefeitura articulou<br />

<strong>um</strong> acordo da Ferrovia Centro Atlântica<br />

(FCA) com o governo fe<strong>de</strong>ral, que permitirá a<br />

realização das <strong>obras</strong>. Serão investidos mais <strong>de</strong><br />

R$200 milhões na construção <strong>de</strong> viadutos e na<br />

retificação das linhas, n<strong>um</strong>a extensão <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> oito quilômetros. Centenas <strong>de</strong><br />

casas serão <strong>de</strong>sapropriadas<br />

e seus mo -<br />

ra doras receberão residências<br />

no vas, ao mesmo tempo em que<br />

serão construídos parques e áreas<br />

<strong>de</strong> lazer. Será <strong>um</strong>a obra realmente<br />

grandiosa, que será iniciada agora em<br />

2010. A Prefeitura vai participar principalmente<br />

como negociadora <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

empreendimento que parecia impossível<br />

<strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>sentendimento e intransigência<br />

das partes envolvidas.<br />

13


MATÉRIA DE CAPA<br />

37 mineiros que<br />

fizeram diferença<br />

na década<br />

Relação presta homenagem aos mineiros ou resi<strong>de</strong>ntes<br />

em Minas que contribuíram, com seu trabalho e<br />

generosida<strong>de</strong>, para o progresso da socieda<strong>de</strong><br />

DURVAL GUIMARÃES *<br />

Saber reconhecer e valorizar o mérito alheio não é apenas<br />

<strong>um</strong> gesto <strong>de</strong> h<strong>um</strong>ilda<strong>de</strong> n<strong>um</strong> mundo em que as pessoas só<br />

têm olhos para as suas próprias qualida<strong>de</strong>s e acertos. É <strong>um</strong><br />

modo <strong>de</strong> aplaudir aqueles que se tornaram merecedores da nossa<br />

admiração pelo bem que fizeram.<br />

Este é o propósito da iniciativa <strong>de</strong> <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>. Trata-se <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> pretensão esta a <strong>de</strong> selecionar aqueles que mais se<br />

<strong>de</strong>stacaram em toda <strong>um</strong>a década. Por isso, cabe esclarecer que não<br />

se trata <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar todos os que honraram nosso Estado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />

recuados tempos em que os ban<strong>de</strong>irantes subiram as montanhas<br />

em busca do ouro. Nesse caso, a lista teria <strong>de</strong> contemplar o Alferes,<br />

os poetas Inconfi<strong>de</strong>ntes e Santos D<strong>um</strong>ont, entre outros. Toda a<br />

edição, da primeira à última página, seria insuficiente<br />

Decidimos focalizar apenas a década. Ainda assim, temos a<br />

José Salvador Silva<br />

Médico, criador do Hospital Mater<br />

Dei, em Belo Horizonte, que é <strong>um</strong> dos<br />

mais completos e melhores <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais. O médico persegue,<br />

incansavelmente, o objetivo <strong>de</strong><br />

transformá-lo n<strong>um</strong>a referência nacional.<br />

José Israel Vargas<br />

Ex-Ministro da Ciência e<br />

Tecnologia e ex-embaixador<br />

do Brasil na UNESCO.<br />

convicção <strong>de</strong> que cometeremos injustiças. Aos injustiçados, as nossas<br />

<strong>de</strong>sculpas: o erro é a gran<strong>de</strong> marca da espécie h<strong>um</strong>ana. Aos esquecidos<br />

pedimos, h<strong>um</strong>il<strong>de</strong>mente, que se consolem com Catão, o<br />

gran<strong>de</strong> romano que não teve estátua no Capitólio.<br />

Iam os estrangeiros a Roma, viam as estátuas <strong>de</strong> varões<br />

famosos e perguntavam pela <strong>de</strong> Catão. A resposta era a maior estátua<br />

<strong>de</strong> todas. Aos outros, o Senado colocou <strong>um</strong>a estátua: a Catão,<br />

o mundo. Essa pergunta e essa admiração são o maior entre todos<br />

os prêmios, segundo o Padre Vieira, que se lembrou do episódio<br />

em <strong>um</strong> dos seus belíssimos sermões.<br />

A lista dos contemplados é <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> da redação <strong>de</strong><br />

<strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong>, que foi auxiliada por <strong>um</strong> grupo <strong>de</strong> especialistas,<br />

cuja relação se encontra abaixo. Em seguida, os homenageados,<br />

dispostos aleatoriamente na lista a seguir.<br />

(* Colaboração: Cyro Cunha Melo, José Luís Rocha, José Domingos<br />

Fabris, Valério Fabris, Geraldo Gue<strong>de</strong>s, Olavo Machado Júnior e<br />

Paulo Ângelo <strong>de</strong> Carvalho)<br />

MATER DEI/DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO<br />

14 DEZEMBRO DE 2009


ÉLCIO PARAÍSO<br />

Berthier Ribeiro Neto<br />

Diretor <strong>de</strong> engenharia da<br />

Google no Brasil. Sob o seu<br />

comando, em Belo Horizonte,<br />

<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> pesquisadores se<br />

<strong>de</strong>dicam a aperfeiçoar esse site<br />

<strong>de</strong> buscas para ações em todo<br />

o mundo.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Nélson Freire<br />

Os Irmãos Perrela<br />

Pianista. Começou a tocar piano aos<br />

três anos, surpreen<strong>de</strong>ndo a todos com a<br />

apresentação, <strong>de</strong> memória, <strong>de</strong> músicas<br />

que eram tocadas por sua irmã,<br />

igualmente pianista. Premiado nos<br />

principais concursos do mundo.<br />

Des<strong>de</strong> que ass<strong>um</strong>iram a direção do Cruzeiro, Zezé e Alvimar<br />

Perrela fizeram do Cruzeiro <strong>um</strong> clube absolutamente vitorioso. Em<br />

2003, o time foi o vencedor, sucessivamente, do campeonato<br />

mineiro, da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro, n<strong>um</strong>a<br />

inédita tríplice coroa.<br />

15<br />

CRUZEIRO/DIVULGAÇÃO


Irmãos Pe<strong>de</strong>rneiras<br />

Criadores do Grupo Corpo, <strong>um</strong> dos mais importantes e<br />

criativos grupos <strong>de</strong> dança do mundo.<br />

Bernardo Paz<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Apaixonado pelo mundo das artes,<br />

este minerador e industrial criou o<br />

Inhotim, que é <strong>um</strong> dos mais importantes<br />

e completos centros internacionais <strong>de</strong><br />

arte contemporânea.<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Gustavo Penna<br />

Um dos mais importantes arquitetos<br />

mineiros. Deixou sua marca na<br />

reurbanização da Lagoa da Pampulha, na<br />

Escola Guignard e no Expominas, entre<br />

outras <strong>obras</strong>.<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

DIVULGAÇÃO<br />

DIVULGAÇÃO<br />

16 DEZEMBRO DE 2009


DIVULGAÇÃO<br />

Jacob Palis Júnior<br />

Matemático, natural <strong>de</strong> Uberaba. É<br />

presi<strong>de</strong>nte da Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong><br />

Ciências e da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Ciências<br />

para o Desenvolvimento do Mundo.<br />

Vitório Medioli<br />

Presi<strong>de</strong>nte da Sempre<br />

Editora, que publica o<br />

SuperNotícia. Este jornal <strong>de</strong>tém<br />

a maior tiragem do país, com<br />

340 mil exemplares diários.<br />

Edita também o jornal O<br />

Tempo, com 40 mil exemplares,<br />

e o semanário Pampulha. Suas<br />

principais ativida<strong>de</strong>s<br />

empresariais, porém, estão no<br />

ramo <strong>de</strong> transportes e na<br />

produção <strong>de</strong> etanol. Todos os<br />

seus empreendimentos são em<br />

Minas, mas o empresário<br />

nasceu em Parma, Itália.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

DIVULGAÇÃO<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Cláudio<br />

Moura Castro<br />

Educador<br />

com trabalho no<br />

Banco<br />

Interamericano<br />

<strong>de</strong><br />

Desenvolviment<br />

o e na<br />

Organização<br />

Internacional do<br />

Trabalho, on<strong>de</strong><br />

foi chefe da<br />

Divisão das<br />

Políticas <strong>de</strong><br />

Formação.<br />

17


Alair Martins<br />

do Nascimento<br />

Fundador do Grupo Martins, com<br />

se<strong>de</strong> em Uberlândia, que é o maior<br />

atacadista do país.<br />

ANTÔNIO CRUZ/ABR<br />

Dilma Roussef<br />

A Ministra Chefe da Casa Civil nasceu<br />

e viveu a infância e a juventu<strong>de</strong> em Belo<br />

Horizonte. Foi aluna da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Ciências Econômicas da UFMG até<br />

mergulhar na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> da luta<br />

armada, no final dos anos 60. Ganhou<br />

notorieda<strong>de</strong> ao compor o ministério <strong>de</strong><br />

Lula.<br />

ÉLCIO PARAÍSO DIVULGAÇÃO<br />

José Salim<br />

Mattar Júnior<br />

Lí<strong>de</strong>r da maior empresa brasileira<br />

<strong>de</strong> locação <strong>de</strong> veículos, a Localiza,<br />

presente em oito países e 361<br />

cida<strong>de</strong>s.<br />

18 DEZEMBRO DE 2009


DIVULGAÇÃO<br />

Gilberto Silva<br />

Jogador <strong>de</strong> futebol da seleção<br />

brasileira, foi campeão na Copa do Mundo<br />

<strong>de</strong> 2002, torneio no qual foi consi<strong>de</strong>rado o<br />

melhor volante apoiador do mundo.<br />

Iniciou sua carreira no América e ganhou<br />

notorieda<strong>de</strong> no Atlético.<br />

Mario Borges Neto<br />

Doutor em Inteligência Artificial<br />

Aplicada à Educação. Na sua<br />

gestão, primeiro como diretor<br />

científico e <strong>de</strong>pois com presi<strong>de</strong>nte,<br />

a Fundação <strong>de</strong> Amparo à Pesquisa<br />

em Minas (Fapemig) multiplicou<br />

por <strong>de</strong>z os seus recursos<br />

<strong>de</strong>stinados à pesquisa e à<br />

inovação no Estado. A Fapemig é<br />

instituição pública.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

Skank<br />

Em 17 anos <strong>de</strong><br />

carreira e 5,5<br />

milhões <strong>de</strong> CDs e<br />

DVDs vendidos, o<br />

grupo musical se<br />

consolida como<br />

<strong>um</strong> dos mais<br />

criativos e<br />

populares do<br />

país.<br />

DIVULGAÇÃO<br />

19<br />

DIVULGAÇÃO


FIAT/DIVULGAÇÃO<br />

DANIEL DE CERQUEIRA/O TEMPO<br />

Cledorvino Belini<br />

Primeiro profissional brasileiro a<br />

integrar a alta direção mundial do Grupo<br />

Fiat. Comanda <strong>um</strong>a equipe <strong>de</strong> 40 mil<br />

funcionários e a empresa li<strong>de</strong>ra, há<br />

vários anos, a produção e a venda <strong>de</strong><br />

automóveis no Brasil.<br />

Ivo Faria<br />

O gastrônomo <strong>de</strong>scobriu<br />

cedo sua vocação para a<br />

culinária. Aos 14 anos, foi<br />

aluno do Senac. Publicações<br />

especializadas o<br />

consagraram como <strong>um</strong> dos<br />

maiores chefs do Brasil. O<br />

leitor po<strong>de</strong> saborear sua<br />

imensa criativida<strong>de</strong> no<br />

restaurante Vecchio Sogno,<br />

<strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong>. A casa<br />

está localizada anexa ao<br />

prédio da Assembleia<br />

Legislativa.<br />

20 DEZEMBRO DE 2009


Ivan Moura Campos<br />

Um dos mais importantes nomes da<br />

ciência da computação e <strong>um</strong> dos<br />

responsáveis pela implantação da<br />

internet no país.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

Sheilla Tavares <strong>de</strong> Castro<br />

Principal atleta da seleção brasileira<br />

feminina <strong>de</strong> vôlei, campeã olímpica em<br />

Pequim. Começou sua vitoriosa carreira<br />

no Mackenzie Esporte <strong>de</strong> Clube, na<br />

Savassi, em Belo Horizonte.<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Tereza Guimarães Paes<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Presi<strong>de</strong>nte do Hospital da Baleia,<br />

instituição <strong>de</strong> benemerência voltada ao<br />

atendimento às camadas mais<br />

<strong>de</strong>samparadas da socieda<strong>de</strong>. Faz 500 mil<br />

atendimentos por ano, 94% pelo SUS.<br />

Mantida pela Fundação Benjamim<br />

Guimarães, criada pelo avô da<br />

homenageada.<br />

21


Aécio Neves<br />

Governou os<br />

mineiros durante<br />

quase toda a<br />

década. Na sua<br />

reeleição, obteve<br />

mais <strong>de</strong> 70% dos<br />

votos, n<strong>um</strong>a vitória<br />

absolutamente<br />

consagradora.<br />

Rubem Menin<br />

Engenheiro,<br />

empresário e<br />

banqueiro. Sua<br />

Construtora MRV<br />

Engenharia é <strong>um</strong>a das<br />

maiores do país.<br />

ÉLCIO PARAÍSO DIVULGAÇÃO<br />

Vicente Falconi<br />

<strong>de</strong> Campos<br />

Fundador do Instituto <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Gerencial<br />

(INDG), que se <strong>de</strong>dica ao<br />

aperfeiçoamento da gestão<br />

das empresas. É <strong>um</strong> dos<br />

mais influentes especialistas<br />

do país na gestão <strong>de</strong><br />

empresas e governos.<br />

DIVULGAÇÃO<br />

22 DEZEMBRO DE 2009


Andrea Neves<br />

Presi<strong>de</strong>nte do<br />

Serviço Voluntário <strong>de</strong><br />

Assistência Social<br />

(Servas). Destacou-se<br />

à frente <strong>de</strong><br />

importantes trabalhos<br />

<strong>de</strong> inclusão social.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

José Alencar<br />

Gomes da Silva<br />

Vice - presi<strong>de</strong>nte da<br />

República durante quase toda a<br />

década. A luta pela vida <strong>de</strong>u<br />

gran<strong>de</strong> dimensão h<strong>um</strong>ana à<br />

sua trajetória política.<br />

JOSÉ CARLOS PAIVA/DIVULGAÇÃO<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

23


Eliseu Alves<br />

Um dos criadores da Embrapa,<br />

empresa reconhecida<br />

mundialmente na pesquisa<br />

agrícola. Graças ao trabalho da<br />

instituição, o Brasil mudou <strong>de</strong> lado<br />

no balcão: <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> importar<br />

alimentos para exportá-los.<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Estevam Duarte<br />

<strong>de</strong> Assis<br />

Presi<strong>de</strong>nte dos<br />

Supermercados Bretas é<br />

<strong>um</strong>a das maiores re<strong>de</strong>s<br />

do país, com<br />

faturamento acima <strong>de</strong><br />

R$ 2 bi. A <strong>de</strong>speito do<br />

po<strong>de</strong>r, Assis tem sólida<br />

formação religiosa,<br />

mantém voto <strong>de</strong> pobreza<br />

e tudo que recebe como<br />

pessoa física é doado<br />

para <strong>obras</strong> sociais.<br />

WILSON DIAS/ABR<br />

24 DEZEMBRO DE 2009


O Galpão<br />

O grupo teatral<br />

foi criado há 25<br />

anos, mas seu<br />

trabalho e<br />

criativida<strong>de</strong> são<br />

permanentes.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

EUGÊNIO SÁVIO/DIVULGAÇÃO<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

Emerson <strong>de</strong><br />

Almeida<br />

Presi<strong>de</strong>nte da<br />

Fundação Dom Cabral.<br />

Transformou <strong>um</strong><br />

simples curso <strong>de</strong><br />

extensão universitária<br />

n<strong>um</strong>a das mais<br />

respeitadas escolas<br />

mundiais <strong>de</strong><br />

treinamento e<br />

aperfeiçoamento <strong>de</strong><br />

executivos. É a 12ª<br />

escola da lista do jornal<br />

Financial Times.<br />

Eduardo<br />

Borges <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong><br />

Presi<strong>de</strong>nte do grupo<br />

Andra<strong>de</strong> Gutierrez. À<br />

frente dos negócios do<br />

conglomerado e mais<br />

especificamente da CR –<br />

Concessões Rodoviárias<br />

– exerceu sua li<strong>de</strong>rança<br />

no sentido <strong>de</strong><br />

transformá-lo n<strong>um</strong>a<br />

corporação<br />

multinacional.<br />

25


EDUARDO ROCHA/DIVULGAÇÃO<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

Marco Antônio Castello Branco<br />

Atual presi<strong>de</strong>nte do Grupo Usiminas. Ainda<br />

como presi<strong>de</strong>nte da Vallourec (ex-Mannesman),<br />

convenceu o grupo a implantar <strong>um</strong>a si<strong>de</strong>rúrgica em<br />

Minas (em Jeceaba). Des<strong>de</strong> a Açominas, ainda nos<br />

anos 70, não se construía <strong>um</strong>a usina no Estado.<br />

Robson Andra<strong>de</strong><br />

Presi<strong>de</strong>nte da Fiemg por seis anos. O<br />

industrial se prepara para disputar a<br />

presidência da Confe<strong>de</strong>ração Nacional<br />

da Indústria, até agora como candidato<br />

único. Des<strong>de</strong> os anos 50, nenh<strong>um</strong><br />

mineiro dirigiu a entida<strong>de</strong> principal dos<br />

industriais brasileiros.<br />

Ricardo Nunes<br />

Comerciante, proprietário da<br />

Ricardo Eletro, <strong>um</strong>a das maiores<br />

re<strong>de</strong>s nacionais <strong>de</strong> venda <strong>de</strong><br />

eletrodomésticos. Começou com<br />

<strong>um</strong>a lojinha <strong>de</strong> 20 metros<br />

quadrados, em Divinópolis.<br />

26 DEZEMBRO DE 2009<br />

DIVULGAÇÃO


DEZEMBRO DE 2009<br />

Natália<br />

Guimarães<br />

Mineira <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong><br />

Fora, conquistou o<br />

mundo com a sua<br />

beleza. Foi Miss Brasil e<br />

se classificou em 2º<br />

lugar no concurso Miss<br />

Universo <strong>de</strong> 2007.<br />

DIVULGAÇÃO<br />

Sérgio Danilo Pena<br />

Geneticista <strong>de</strong> renome internacional.<br />

É autor do livro “Igualmente diferentes”,<br />

que propõe a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

socieda<strong>de</strong> na qual a singularida<strong>de</strong> do<br />

indivíduo seja valorizada e celebrada.<br />

Esse sonho se harmoniza com o fato<br />

<strong>de</strong>monstrado pela genética mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong><br />

que cada <strong>um</strong> <strong>de</strong> nós tem <strong>um</strong>a<br />

individualida<strong>de</strong> genômica absoluta, que<br />

interage com o ambiente para moldar<br />

<strong>um</strong>a trajetória <strong>de</strong> vida exclusiva.<br />

DIVULGAÇÃO<br />

27


CARTA DE SÃO PAULO<br />

Quem acredita<br />

em trem-bala no Brasil?<br />

Seria muito mais<br />

sensato que fosse<br />

aprovado <strong>um</strong> projeto<br />

mais mo<strong>de</strong>sto,<br />

resolvendo o<br />

congestionamento das<br />

vias <strong>de</strong> acesso aos<br />

principais aeroportos<br />

paulistas, que são<br />

e continuarão sendo<br />

os mais movimentados<br />

do país<br />

KLAUS KLEBER<br />

Já houve quem dissesse que ninguém<br />

po <strong>de</strong> ser contra <strong>um</strong>a estrada no Brasil,<br />

<strong>um</strong> país ainda sub<strong>de</strong>senvolvido, e<br />

mui to, em matéria <strong>de</strong> transporte. Agora, há<br />

am bientalistas que fazem tenebrosas previsões<br />

sobre estradas cortando a Amazônia.<br />

Bem, mas ninguém que eu saiba é contra<br />

transporte em massa sobre trilhos. Mas nes -<br />

se pós-campeonato <strong>de</strong> 2009 – ganho pelo<br />

Flamengo na série A, pelo Vasco na série B<br />

e, não nos esqueçamos, vencido pelo glorio -<br />

so América Futebol Clube, o Deca, na série<br />

C – trem-bala é como <strong>um</strong> sonho <strong>de</strong> <strong>um</strong>a noi -<br />

te <strong>de</strong> chuva torrencial <strong>de</strong> verão. O custo é <strong>de</strong><br />

na da menos <strong>de</strong> R$ 24 bilhões, isto é, o custo<br />

orçado, pois, como já é parte do nosso folclo<br />

re político, <strong>um</strong>a obra <strong>de</strong>sse porte não sai<br />

sem <strong>um</strong> acréscimo <strong>de</strong> 80% a 100%, sem le -<br />

var em conta a inflação e pres<strong>um</strong>indo - o<br />

que é <strong>um</strong>a presunção temerária - que haja<br />

<strong>um</strong> mínimo <strong>de</strong> corrupção.<br />

E quem vai bancar esse Trem <strong>de</strong> Alta Velo<br />

cida<strong>de</strong> (TVA)? O governo, claro, preven -<br />

do-se <strong>um</strong> financiamento <strong>de</strong> R$ 20,9 bilhões<br />

do BNDES, que é a verda<strong>de</strong>ira mãe nacio -<br />

nal. Se será necessário <strong>um</strong> financiamento<br />

pú blico <strong>de</strong>ssa proporção, por que realizar li -<br />

ci tação para a seleção <strong>de</strong> investidores privados<br />

interessados no projeto? Por que o<br />

go verno não banca sozinho a empreitada,<br />

mesmo porque, como mostra a experiência<br />

internacional, esses TVA cost<strong>um</strong>am dar<br />

anos <strong>de</strong> prejuízos ou apresentar baixíssimos<br />

lu cros antes <strong>de</strong> proporcionar <strong>um</strong>a boa remu -<br />

ne ração para os investidores.<br />

Um bom exemplo é o trem-bala sob o<br />

Ca nal da Mancha - o Eurostar -, consi<strong>de</strong>ra -<br />

do <strong>um</strong> péssimo investimento. Até agora, a<br />

<strong>de</strong> manda pelo trem ligando Londres e Paris<br />

em 2 horas e 35 minutos, por terra e pelo<br />

Eu rotúnel, não é compatível com o investimento<br />

feito e, para salvar alg<strong>um</strong>a coisa,<br />

pensa-se em estendê-lo nas pontas inglesa e<br />

francesa.<br />

Turistas estrangeiros, ingleses, franceses<br />

e belgas (há ramal também para Bruxelas)<br />

têm preferido o avião, que faz o percurso <strong>de</strong><br />

Londres a Paris em <strong>um</strong>a hora. E o bra -<br />

sileiros, que vão e vêm <strong>de</strong> São Paulo e Rio,<br />

mui tas vezes em <strong>um</strong> dia só, po<strong>de</strong>riam<br />

preferir a via aérea, se, principalmente, os<br />

ae roportos fossem mais acessíveis.<br />

Já estaria muito bom se tivéssemos <strong>um</strong><br />

metrô que levasse os sofridos viajantes<br />

brasileiros ao aeroporto <strong>de</strong> Guarulhos, evitando<br />

o trânsito nas sempre engarrafada<br />

Marginal do Tietê, que foi feita mesmo para<br />

ser <strong>um</strong>a garrafa. E seria excelente que o<br />

transporte sobre trilhos se esten<strong>de</strong>sse ao<br />

aeroporto <strong>de</strong> Viracopos, alternativa para o<br />

<strong>de</strong> Guarulhos, ou mesmo até Campinas, que<br />

fica a pertinho. Agora, fazer <strong>um</strong> trem-bala<br />

<strong>de</strong> São Paulo até o Rio, gastando bilhões<br />

para fazer <strong>de</strong>sapropriações e remover montanhas,<br />

para ficar pronto até as Olimpíadas<br />

<strong>de</strong> 2016, é aquele tipo <strong>de</strong> obra que fica para<br />

o próximo governo e daí para o próximo e<br />

daí para São Nunca, santo da especial <strong>de</strong>voção<br />

dos nossos homens no po<strong>de</strong>r.<br />

Seria muito mais sensato que fosse apro -<br />

vado <strong>um</strong> projeto mais mo<strong>de</strong>sto, resolvendo<br />

o congestionamento das vias <strong>de</strong> acesso aos<br />

principais aeroportos paulistas, que são e<br />

continuarão sendo os mais movimentados<br />

do país. E que, com o dinheiro que s<strong>obras</strong>se<br />

(se s<strong>obras</strong>se), o governo <strong>de</strong>stinasse os recursos<br />

ao combate das enchentes. Quando<br />

se fala nos problemas <strong>de</strong>ste país abençoado<br />

por Deus, não merecem menção as cheias anuais,<br />

as chamadas catástrofes naturais, que<br />

<strong>de</strong>rrubam encostas, matam muita gente dormindo<br />

e acordada, causam enormes pre jui -<br />

zos aos mais pobres, levam carros na<br />

en xur rada e provocam centenas <strong>de</strong> qui lô me -<br />

tros <strong>de</strong> congestionamento nas me tró po les.<br />

Não estou falando da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Paulo. Mas também <strong>de</strong> Belo Horizonte, Por -<br />

to Alegre, Florianópolis, Salvador. E não<br />

estou falando só <strong>de</strong> capitais, mas <strong>de</strong> inú -<br />

meras cida<strong>de</strong>s do interior à margem <strong>de</strong> rios<br />

e <strong>de</strong> lagoas. É <strong>um</strong>a questão séria <strong>de</strong> ha bi ta -<br />

ção e uso do solo que o programa Minha<br />

Casa, Minha Vida não se propõe a resolver.<br />

Parece que o Brasil se esqueceu que é<br />

“<strong>um</strong> país tropical e chuvoso”, como dizia<br />

Tom Jobim. E tome tempesta<strong>de</strong>, e tome <strong>de</strong>sas<br />

tre, <strong>de</strong>ngue, tifo, diarreia e, quem sabe,<br />

febre terçã.<br />

30 DEZEMBRO DE 2009


DURVAL GUIMARÃES<br />

A primeira passeata<br />

gente não esquece<br />

Assim eu via o FMI,<br />

sempre roubando dos<br />

brasileiros e <strong>de</strong> todos os<br />

países in<strong>de</strong>fesos do<br />

mundo. Com o tempo,<br />

percebi que era <strong>um</strong>a<br />

instituição financeira<br />

como outra qualquer e<br />

que os seus <strong>de</strong>vedores<br />

não passavam, quase<br />

sempre, <strong>de</strong> governos<br />

incompetentes, que<br />

recorriam ao seu<br />

dinheiro para cobrir<br />

rombos <strong>de</strong>snecessários<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

Com menos <strong>de</strong> três semanas <strong>de</strong> aulas, eu<br />

ainda não sabia o nome sequer <strong>de</strong> cinco<br />

colegas <strong>de</strong> sala, na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito<br />

da UFMG. Mas estava ali na Avenida Afonso<br />

Pena, a principal <strong>de</strong> Belo Horizonte, gritando<br />

contra a ditadura militar e contra <strong>um</strong> quinteto <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mônios, dos quais ainda me lembro <strong>de</strong> alguns.<br />

Era <strong>um</strong>a passeata imensa, com a participação <strong>de</strong><br />

milhares <strong>de</strong> estudantes, além <strong>de</strong> funcionários<br />

públicos e sindicalistas, como sempre. Não sou<br />

<strong>um</strong>a pessoa <strong>de</strong>smemoriada, ou atingida pelosas<br />

achaques naturais nas pessoas <strong>de</strong> cabelos brancos.<br />

Mas é que faz muito tempo. Mais <strong>de</strong> 40<br />

anos se passaram, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1967.<br />

Entre aqueles odiados fariseus contra os<br />

quais gritávamos, lembro-me <strong>de</strong> <strong>um</strong>a si<strong>de</strong>rúrgica<br />

norte-americana, <strong>de</strong> nome Bethlehem Ste -<br />

el, que li<strong>de</strong>rava <strong>um</strong> suposto cartel in dus -<br />

trial-militar, que mantinha a dominação do<br />

mundo pela força das armas e do aço. Hoje, por<br />

mais que me esforce, nunca consigo ler o nome<br />

<strong>de</strong>ssa usina nas páginas dos jornais. As únicas<br />

si<strong>de</strong>rúrgicas americanas citadas pela imprensa<br />

são aquelas <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> da Gerdau, que é <strong>um</strong><br />

grupo brasileiríssimo. Havia também <strong>um</strong> misterioso<br />

acordo educacional, <strong>de</strong> nome MEC-<br />

Usaid, que, segundo os panfletos da época,<br />

pretendia <strong>de</strong>ixar os brasileiros ainda mais analfabetos.<br />

Ironicamente, hoje o Brasil é o país dos<br />

cursos superiores e universida<strong>de</strong>s sem que<br />

aquele convênio fosse <strong>de</strong>rrotado.<br />

O maior inimigo, porém, era o Fundo Mo ne -<br />

tário Internacional (FMI), <strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong> agiota<br />

impiedoso, que emprestava dinheiro com o<br />

único propósito <strong>de</strong> nos escravizar. Durante<br />

muitos anos, quando me falavam em FMI, eu<br />

sempre me lembrava <strong>de</strong> “seu” Bernardão, <strong>um</strong><br />

vizinho gordo e displicente em suas roupas, que<br />

emprestava dinheiro na sua oficina mecânica.<br />

Seu escritório era bem nos fundos do terreno,<br />

on<strong>de</strong> fazia orçamentos <strong>de</strong> reparos em automóveis<br />

em qualquer papel e mantinha <strong>um</strong><br />

cofre atrás da sua ca<strong>de</strong>ira.<br />

Sei <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>talhes porque era lá que meu pai<br />

<strong>de</strong>ixava a Rural Willys para <strong>um</strong>a revisão<br />

mecânica, quando vinha do interior para visitar<br />

este seu filho no colégio. Quando a porta do seu<br />

confuso gabinete se mantinha fechada, era sinal<br />

<strong>de</strong> alguém tomando <strong>um</strong> <strong>de</strong>sesperado empréstimo.<br />

Consta que muita gente, que não honrou<br />

os pagamentos, foi ao <strong>de</strong>sespero e até ao suicídio,<br />

temendo perseguições e maltratos por parte dos<br />

guarda-costas do “seu” Bernardão, que nada<br />

faziam na oficina, exceto atemorizar a freguesia.<br />

Assim eu via o FMI, sempre roubando dos<br />

brasileiros e <strong>de</strong> todos os países in<strong>de</strong>fesos do<br />

mundo. Com o tempo, percebi que era <strong>um</strong>a ins -<br />

tituição financeira como outra qualquer e que os<br />

seus <strong>de</strong>vedores não passavam, quase sempre, <strong>de</strong><br />

governos incompetentes, que recorriam ao seu<br />

dinheiro para cobrir rombos absurdos. Por exemplo:<br />

o FMI nunca exigiu que se pagassem<br />

salários <strong>de</strong> R$90 mil aos <strong>de</strong>putados estaduais<br />

mineiros, como ocorreu até recentemente. Ou que<br />

a Assembleia Legislativa mineira tenha tantos<br />

funcionários quanto <strong>um</strong>a usina si<strong>de</strong>rúrgica. De<br />

qualquer forma, era h<strong>um</strong>ilhante, para nós jorna -<br />

lis tas, cobrir os passos dos técnicos daquele ór gão,<br />

que <strong>de</strong>sembarcavam no Galeão para fis calizar,<br />

com suas lupas, a maneira como os brasileiros gastavam<br />

o dinheiro que nos forneciam.<br />

Em Brasília, os gringos eram recebidos por<br />

ministros e presi<strong>de</strong>ntes aflitos, que tudo lhes exi -<br />

biam e se mostravam ansiosos, tentando adivinhar<br />

o significado <strong>de</strong> suas expressões faciais ou gru -<br />

nhidos. Em 2002, empinamos o último papagaio<br />

no FMI. Sacamos US$ 30 bilhões, n<strong>um</strong><br />

tipo <strong>de</strong> acordo, com o aportuguesado (?) nome<br />

<strong>de</strong> stand-by, <strong>de</strong> 15 meses, com valida<strong>de</strong> até<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2003. Faz tanto tempo essa<br />

história que nem me lembrava <strong>de</strong> <strong>um</strong> importante<br />

<strong>de</strong>talhe: na renovação <strong>de</strong>sse acordo, foi<br />

dado ao país o direito <strong>de</strong> sacar mais US$14<br />

bi lhões. O Brasil recusou a oferta.<br />

As coisas estavam melhorando. Em 2005, o<br />

Brasil <strong>de</strong>cidiu não mais renovar o acordo e<br />

muita gente achou que se tratava apenas <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

arroubo ufanista do presi<strong>de</strong>nte Lula. Finalmente,<br />

agora em 2009, o país emprestou<br />

US$10 bilhões ao mesmo FMI, que infernizou<br />

nossas vidas por quase <strong>um</strong> século. Sim, nós<br />

fazemos parte daquele círculo chique que empresta<br />

di nheiro para a impiedosa instituição financeira<br />

da minha juventu<strong>de</strong>. Já não<br />

pre cisamos mais do dinheiro do “seu” Ber -<br />

nardão para enfrentar nossas <strong>de</strong>spesas tri viais.<br />

Mais que isso, vamos contribuir para aliviar o<br />

<strong>de</strong>sespero <strong>de</strong> outros governos, que enfrentam<br />

os nossos tormentos do passado. Passam pela<br />

minha memória todos os fatos <strong>de</strong>sse finado<br />

2009. Acho que já vi tudo na vida. Nada mais<br />

me surpreen<strong>de</strong>rá. De qualquer forma, encerrada<br />

a passeata, tive a sorte <strong>de</strong> não acre di tar<br />

naquelas bobagens. Ainda bem.<br />

31


CONTA CORRENTE<br />

Os números positivos<br />

aguardados para 2010<br />

Previsões indicam que a economia brasileira irá<br />

crescer 5% neste ano, o que traria mais<br />

investimentos, geração <strong>de</strong> emprego e renda<br />

IEDA MARIA PEREIRA VASCONCELOS (*)<br />

Acrise internacional e o seu gran<strong>de</strong><br />

ápice em setembro <strong>de</strong> 2008<br />

mostraram que fazer previsões é<br />

mesmo <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> muito arriscada e que<br />

po<strong>de</strong> ser comparada a chuvas e trovoadas.<br />

Apesar <strong>de</strong> esperadas, elas sempre po<strong>de</strong>m<br />

surpreen<strong>de</strong>r pela intensida<strong>de</strong>. A maioria das<br />

estimativas caiu por terra com o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sarranjo<br />

observado na economia mundial no<br />

último trimestre <strong>de</strong> 2008. Aquelas que dizem<br />

respeito ao Brasil não foram dife rentes e o<br />

ano 2009 comprova isso. Depois <strong>de</strong> <strong>um</strong> início<br />

difícil, com a recessão técnica confirmada<br />

ao final do primeiro trimestre, eram<br />

aguardadas cicatrizes profundas na economia,<br />

mas não foi isso que aconteceu. O país<br />

surpreen<strong>de</strong>u, venceu a luta contra a crise,<br />

adquiriu mais luz (e brilho) no cenário internacional<br />

e acabou ganhando <strong>um</strong> pouco<br />

mais <strong>de</strong> espaço na agenda global e, com<br />

isso, a chegada <strong>de</strong> 2010 realmente traz <strong>um</strong>a<br />

perspectiva (agora mais concreta) <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

novo tempo.<br />

De 2009, <strong>um</strong>a lembrança positiva po<strong>de</strong><br />

ser a geração <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho formal.<br />

De acordo com os dados do Cadastro Geral<br />

Os mais diversos<br />

analistas projetam nova<br />

expansão no mercado<br />

<strong>de</strong> trabalho formal, com<br />

a criação <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />

dois milhões <strong>de</strong> vagas<br />

(quase o dobro do<br />

observado em 2009).<br />

<strong>de</strong> Empregados e Desempregados (Caged),<br />

divulgados pelo Ministério do Trabalho e<br />

Emprego (MTE), nos primeiros onze meses<br />

do ano o país contabilizou a geração <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> 1,410 milhão <strong>de</strong> novas vagas. Somente<br />

em Minas Gerais, que foi o segundo Estado<br />

que mais criou vagas no país nesse período,<br />

foram mais <strong>de</strong> 140 mil novos postos <strong>de</strong> trabalho.<br />

Sem dúvida, as medidas anticíclicas<br />

foram fundamentais para reativar o motor da<br />

economia: a redução da taxa <strong>de</strong> juros, redução<br />

do IPI para automóveis, linha branca<br />

<strong>de</strong> eletrodomésticos, materiais <strong>de</strong> construção<br />

e redução do compulsório contribuíram para<br />

acelerar o cons<strong>um</strong>o e mostraram a força do<br />

mercado interno.<br />

Os dados existentes atualmente possibilitam<br />

maior chance <strong>de</strong> acerto para as projeções<br />

nacionais e, por isso, quase todas<br />

convergem para o mesmo cenário: crescimento<br />

superior a 5%. Economicamente falando,<br />

espera-se que 2010 realmente seja o<br />

início <strong>de</strong> <strong>um</strong> ciclo virtuoso <strong>de</strong> crescimento<br />

para o país. Isso significa números positivos<br />

na geração <strong>de</strong> emprego e no <strong>de</strong>sempenho<br />

dos diversos setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>. Existem<br />

vários motivos que sinalizam que as estimativas<br />

po<strong>de</strong>m ser confirmadas. As <strong>obras</strong> <strong>de</strong> infraestrutura<br />

que serão necessárias para a<br />

realização da Copa do Mundo em 2014 e<br />

para as Olimpíadas em 2016, o Programa<br />

Minha Casa, Minha Vida e a marca <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

milhão <strong>de</strong> novas moradias, o ano eleitoral, o<br />

esperado crescimento nacional n<strong>um</strong> ritmo<br />

mais acelerado do que a economia mundial,<br />

a retomada dos investimentos industriais e o<br />

Pré-sal são somente alguns exemplos. Como<br />

se vê, existem várias janelas <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s<br />

abertas e, portanto, as projeções<br />

sinalizam a reação do país a todas elas.<br />

Espera-se, ainda, inflação <strong>de</strong>ntro da<br />

meta. Conforme a pesquisa Focus, realizada<br />

pelo Banco Central e divulgada em<br />

28/12/09, os analistas do mercado financeiro<br />

projetam que a inflação ficará no centro da<br />

meta em 2010 (4,5%) o que, caso confirmado,<br />

é <strong>um</strong> resultado bastante positivo. No<br />

rol das boas notícias espera-se, também,<br />

crescimento do vol<strong>um</strong>e <strong>de</strong> crédito. Nesse<br />

contexto, <strong>de</strong>staca-se o crédito imobiliário,<br />

que <strong>de</strong>verá registrar expansão, beneficiando<br />

inúmeras famílias que ainda não conseguiram<br />

realizar o sonho da casa própria.<br />

Recursos do Sistema Brasileiro <strong>de</strong> Poupança<br />

e Empréstimo (SBPE), além do FGTS e do<br />

Programa Minha Casa, Minha Vida, fortalecem<br />

essa estimativa.<br />

Os mais diversos analistas projetam nova<br />

expansão no mercado <strong>de</strong> trabalho formal,<br />

com a criação <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> dois milhões <strong>de</strong><br />

vagas (quase o dobro do observado em<br />

2009). Claro que esse cenário consi<strong>de</strong>ra que<br />

não ocorrerá sobressalto na economia (o que<br />

não é esperado, mas o fôlego nacional<br />

po<strong>de</strong>rá ser reduzido, caso ocorra <strong>um</strong>a piora<br />

no cenário internacional). Aliada a esse<br />

número, também se projeta expansão da<br />

massa salarial.<br />

Estudos realizados pela Comissão<br />

Econômica para América Latina e Caribe<br />

(Cepal) <strong>de</strong>monstram que, em 2010, consi<strong>de</strong>rando<br />

as economias da América Latina,<br />

o Brasil será o país on<strong>de</strong> se observará a<br />

maior taxa <strong>de</strong> crescimento (5,5%).<br />

De acordo com o Relatório <strong>de</strong> Inflação,<br />

divulgado pelo Banco Central em <strong>de</strong>zembro<br />

<strong>de</strong> 2009, a economia nacional <strong>de</strong>verá crescer<br />

5,8% em 2010. Esse <strong>de</strong>sempenho será reflexo<br />

do resultado positivo aguardado para<br />

todos os setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, principalmente<br />

para a indústria que, <strong>de</strong>pois do impacto da<br />

crise mundial, que levou a <strong>um</strong>a forte redução<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s em 2009 (a queda é <strong>de</strong><br />

8,6% no ac<strong>um</strong>ulado dos três primeiros<br />

trimestres do ano, frente a igual período <strong>de</strong><br />

2008), apresentará o maior crescimento<br />

entre os gran<strong>de</strong>s setores. A expansão<br />

aguardada para a agropecuária é <strong>de</strong> 3,7%,<br />

32 DEZEMBRO DE 2009


PIB<br />

Projeção 2010<br />

Por setor<br />

ATIVIDADE<br />

%<br />

AGROPECUÁRIA 3,7<br />

INDÚSTRIA - TOTAL 7,6<br />

Extrativa mineral 6,6<br />

Transformação 8,8<br />

Construção civil 6,4<br />

Eletricida<strong>de</strong>, gás e água 4,8<br />

SERVIÇOS - TOTAL 5,0<br />

Comércio 6,5<br />

Transporte e correio 6,4<br />

Serviços <strong>de</strong> informação 7,6<br />

Intermediação financeira* 7,2<br />

Outros serviços 6,5<br />

Ativida<strong>de</strong>s imobiliárias 1,8<br />

Serviços públicos** 2,2<br />

Variação por componente da <strong>de</strong>manda<br />

Em %<br />

CONSUMO DAS FAMÍLIAS<br />

CONSUMO DO GOVERNO<br />

CONSUMO TOTAL<br />

FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO<br />

EXPORTAÇÕES<br />

IMPORTAÇÕES<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

Valor adicionado<br />

a preços básicos<br />

5,7%<br />

Impostos sobre<br />

produtos<br />

6,3%<br />

PIB a preços<br />

<strong>de</strong> mercado<br />

5,8%<br />

* INCLUI SEGUROS, PREVIDÊNCIA<br />

COMPLEMENTAR E SERVIÇOS RELATIVOS<br />

**ADMINISTRAÇÃO, SAÚDE E EDUCAÇÃO<br />

enquanto o setor industrial <strong>de</strong>verá registrar<br />

incremento <strong>de</strong> 7,6% em suas ativida<strong>de</strong>s (ancorado<br />

pelo esperado crescimento <strong>de</strong> 8,8%<br />

para a indústria <strong>de</strong> transformação, 6,6% para<br />

indústria extrativa mineral, e 6,4% para a indústria<br />

da construção). Para o setor <strong>de</strong><br />

serviços, a expansão estimada é <strong>de</strong> 5% em<br />

função das projeções <strong>de</strong> crescimento para<br />

todos os segmentos componentes (comércio,<br />

transporte, armazenagem, correio, ser -<br />

viços <strong>de</strong> informação, intermediação<br />

financeira, ativida<strong>de</strong>s imobiliárias e aluguel,<br />

administração, saú<strong>de</strong> e educação públicas e<br />

outros serviços).<br />

Pela ótica da <strong>de</strong>manda, o cons<strong>um</strong>o das<br />

famílias <strong>de</strong>verá apresentar alta <strong>de</strong> 6,1%, estimativa<br />

fundamentada na continuida<strong>de</strong> da<br />

geração <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho formal e pelas<br />

condições <strong>de</strong> crédito. Os investimentos<br />

<strong>de</strong>vem apresentar recuperação, crescendo<br />

15,8%. Já para o cons<strong>um</strong>o do governo, é estimado<br />

<strong>um</strong> crescimento <strong>de</strong> 2,9%. Esses<br />

números também fazem parte das projeções<br />

realizadas pelo Banco Central. Destaca-se<br />

que a expansão dos investimentos, ancorada<br />

no a<strong>um</strong>ento do nível <strong>de</strong> confiança dos empresários,<br />

está sedimentada no esperado retorno<br />

das inversões na construção civil e em<br />

máquinas e equipamentos.<br />

Um número que os setores produtivos<br />

não querem ver crescer em 2010 é o da taxa<br />

<strong>de</strong> juros. Sem dúvida, o seu incremento<br />

po<strong>de</strong>rá inibir <strong>um</strong>a parcela dos investimentos<br />

tão necessários para o crescimento do país.<br />

Uma das justificativas para esse a<strong>um</strong>ento é a<br />

preocupação com a inflação. Entretanto,<br />

apesar <strong>de</strong> já ter começado a discussão sobre<br />

esse assunto, a gran<strong>de</strong> maioria das estimativas<br />

realizadas pelos analistas financeiros<br />

<strong>de</strong>monstram que a inflação não ultrapassará<br />

o centro da meta em 2010 (4,5%). Isso<br />

6,1<br />

2,9<br />

5,3<br />

12<br />

15,8<br />

20,5<br />

FONTE: RELATÓRIO DE INFLAÇÃO - BANCO CENTRA CENTRAL L - DEZEMBRO/2009<br />

De toda forma, o que<br />

2010 traz <strong>de</strong> mais forte<br />

(sem chance <strong>de</strong> erros)<br />

não está relacionado a<br />

nenh<strong>um</strong> número. O que<br />

novamente chega, com<br />

<strong>um</strong> imenso brilho, é a<br />

esperança. Ela renasce<br />

mais pujante a cada<br />

ano. Esperança que<br />

volta para il<strong>um</strong>inar<br />

novos projetos,<br />

impulsionar a luta em<br />

novos <strong>de</strong>safios e ser <strong>um</strong><br />

gran<strong>de</strong> alicerce para o<br />

sucesso.<br />

porque, mesmo consi<strong>de</strong>rando a <strong>de</strong>manda, o<br />

câmbio estável e os preços administrados<br />

sob controle po<strong>de</strong>rão segurar os índices <strong>de</strong><br />

preços. Portanto, essa discussão é prematura<br />

e totalmente ina<strong>de</strong>quada. Deve-se lembrar<br />

que a taxa <strong>de</strong> investimentos no país, que<br />

levou <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> tombo em 2009, precisa se<br />

fortalecer e certamente a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> juros será<br />

<strong>um</strong>a força inibidora para que isso aconteça.<br />

De toda forma, o que <strong>de</strong> 2010 traz <strong>de</strong> mais<br />

forte (sem chance <strong>de</strong> erros) não está relacionado<br />

a nenh<strong>um</strong> número. O que novamente<br />

chega, com <strong>um</strong> imenso brilho, é a esperança.<br />

Ela renasce mais pujante a cada ano. Espe -<br />

ran ça que volta para il<strong>um</strong>inar novos projetos,<br />

impulsionar a luta em novos <strong>de</strong>safios e ser <strong>um</strong><br />

gran<strong>de</strong> alicerce para o sucesso. E na economia<br />

não po<strong>de</strong>ria ser diferente. Com o novo<br />

ano renasce a espe rança, <strong>de</strong> forma transpa -<br />

rente e dominante, <strong>de</strong> que o país efetivamente<br />

possa alcançar a estrada do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e caminhar por ela, superando cada obstáculo<br />

que encontrará. E, certamente, a esperança é<br />

<strong>um</strong>a estrela que muito il<strong>um</strong>ina esse caminho<br />

e, assim, 2010 começa…<br />

(*) Ieda Maria Pereira Vasconcelos é<br />

Assessora Econômica do Sindicato da<br />

Indústria da Construção Civil no Estado <strong>de</strong><br />

Minas Gerais (Sinduscon-MG). Texto<br />

produzido a partir <strong>de</strong> palestra na Câmara da<br />

Indústria da Construção (CIC- FIEMG).<br />

33


Muito barulho por dígitos<br />

Apostas, acertos, erros. O PIB <strong>de</strong> 2009 teve várias<br />

previsões, mas <strong>de</strong>ve mostrar mesmo que o Brasil está<br />

hoje em condições melhores do que muitos países<br />

KLAUS KLEBER<br />

Causou muito alvoroço no início <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro a divulgação pelo IBGE<br />

<strong>de</strong> que a economia brasileira no terceiro<br />

trimestre cresceu “apenas” 1,3%. Hou -<br />

ve <strong>de</strong>cepção <strong>de</strong> muita gente, mesmo porque,<br />

no dia anterior à divulgação, o ministro da<br />

Fa zenda, Guido Mantega, havia <strong>de</strong>clarado<br />

que o PIB no terceiro trimestre cresceria 2%.<br />

É compreensível que o ministro tenha ficado<br />

“indignado” com o IBGE, como se noticiou,<br />

mas, na realida<strong>de</strong>, saber se a economia cres -<br />

ceu 1,3% já é, em si, <strong>um</strong>a boa notícia. Signi<br />

fica que o Brasil livrou-se da estatística<br />

re cessiva, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> dois trimestres negros.<br />

Se a taxa não chegou a 2%, não interessa<br />

mui to. Os sabichões do mercado, que erram<br />

mais que acertam, já estão projetando <strong>um</strong>a<br />

queda do PIB, em todo ano <strong>de</strong> 2009, <strong>de</strong><br />

0,26%. É pessimismo <strong>de</strong>mais. Po<strong>de</strong>-se apostar<br />

que se rá <strong>um</strong>a taxa diferente <strong>de</strong> zero, mas<br />

positiva, o que já está muito bom e não<br />

muda em nada as perspectivas para 2010.<br />

Se quiserem olhar pelo retrovisor, o país<br />

está muito bem, comparativamente. Segun -<br />

do projeções da abalizada revista The Eco -<br />

no mist (12/12), o PIB dos Estados Unidos,<br />

em 2009, po<strong>de</strong> ter <strong>um</strong>a variação <strong>de</strong> -2,5%; o<br />

do Japão, -5,4%; o da Grã-Bretanha, - 4,5%;<br />

Canadá, - 2,5; área do Euro, - 3,8%; a Rússia,<br />

- 7,0; e Coréia do Sul, - 1,0.<br />

E como vão nossos vizinhos? Bem rui nzi -<br />

nhos também: a previsão da revista para o PIB<br />

da Argentina é <strong>de</strong> -0,5; do Chile, -1,2%; do<br />

México, -7,1%; e da Venezuela, -3,0. Salvase<br />

a Colômbia, com <strong>um</strong>a taxa positiva <strong>de</strong><br />

0,2%, mais ou menos igual à que <strong>de</strong>ve a pre -<br />

sentar o Brasil. Por sinal, a revista bri tâ nica<br />

prevê para o Brasil <strong>um</strong> crescimento nu lo<br />

(dado calculado antes da recente divulga ção<br />

do crescimento no trimestre pelo IBGE).<br />

Claro, per<strong>de</strong>mos feio da China (expan são<br />

fantástica <strong>de</strong> 8,2%) e da Índia (5,5%), como<br />

tem sido o padrão nos últimos anos.<br />

Nesta altura, o que vale é olhar para frente.<br />

Depois <strong>de</strong> tudo o que foi dito, da gozação<br />

sobre o “pibinho”, brasleiro, etc., a análise<br />

mais sensata parece ser a do economista<br />

Edmar Bacha, em entrevista publicada pela<br />

Folha <strong>de</strong> S. Paulo (11/12). Bacha, <strong>um</strong> dos<br />

pais do Plano Real, disse que vai rever a sua<br />

previsão do PIB para 2009, que era <strong>de</strong> alta <strong>de</strong><br />

0,3%. Mas “a economia, vai estar nu ma trejetória<br />

mais forte do que aquilo que a gen te<br />

estima que seja o potencial <strong>de</strong> crescimento”,<br />

observou. E, por isso, continua cravan do <strong>um</strong>a<br />

expansão <strong>de</strong> 6% do PIB brasileiro em 2010.<br />

Dizem - e, a meu ver, não provam - que o<br />

crescimento potencial da economia bra si leira<br />

é <strong>de</strong> 5%. Sou vacinado contra a euforia <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o tempo do “Brasil Gran<strong>de</strong>”, mas fi xar potencial<br />

<strong>de</strong> crescimento me parece <strong>um</strong>a grossa<br />

asneira. É claro que é <strong>um</strong>a missão quase impossível<br />

manter as contas públicas em or<strong>de</strong>m<br />

ou, pelo menos, impedir que os gastos correntes<br />

avancem em termos reais, es pecialmente<br />

em <strong>um</strong> ano eleitoral, como 2010. A<br />

infraestrutura do país é reconhecida mente<br />

precária. Mas é exagero pensar que, se as<br />

vendas no mercado interno seguirem em e le -<br />

vação, se exportarmos bem mais produtos<br />

manufa turados e se os preços das commo di ties<br />

subirem, teremos problemas intransponíveis.<br />

Dizer que, se a economia brasileira se expandir<br />

mais <strong>de</strong> 5% ao ano, pontes vão cair,<br />

não aguentando o peso dos caminhões,<br />

estradas vão <strong>de</strong>sbarrancar ainda mais, teremos<br />

apagões generalizados, só haverá lugar<br />

nos portos para as ratazanas, é coisa <strong>de</strong><br />

economistas ortodoxos trancados nas salas<br />

<strong>de</strong> aula e que não permitem abrir as janelas.<br />

Problemas do crescimento dão origem a<br />

soluções, muito mais rapidamente do que<br />

eles pensam. E <strong>um</strong>a coisa que os empresários<br />

brasileiros sabem fazer é se virar.<br />

Sim, os juros, mantidos pelo Banco Central<br />

(BC) em 8,75% a.a., embora a inflação<br />

projetada para os próximos 12 meses seja <strong>de</strong><br />

4,2%, po<strong>de</strong>m subir. Pressão <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda,<br />

apesar <strong>de</strong> ela po<strong>de</strong>r ser atendida pela produção<br />

interna e pelo a<strong>um</strong>ento das impor-<br />

tações, sempre apavora o Comitê <strong>de</strong> Política<br />

Monetária (Copom). Sob esse aspecto, é até<br />

bom que a expansão da economia tenha sido<br />

só <strong>de</strong> 1,3% no terceiro trimestre. Isso po<strong>de</strong><br />

acalmar aquela turminha danada do BC.<br />

Por falar nisso, noticia-se agora que as importações<br />

superaram em US$ 4 bilhões as exportações<br />

na segunda semana <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />

Certamente, é por efeito da <strong>de</strong>manda sazonal<br />

e este Natal já está sendo chamado <strong>de</strong> “Natal<br />

dos importados”, com a taxa <strong>de</strong> câmbio do<br />

jeito que está. Este, sem dúvida, é mais <strong>um</strong> indicador<br />

daquela trajetória mais forte, mencionada<br />

por Bacha. Com a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong> semprego<br />

caindo, com a capacida<strong>de</strong> ociosa da indústria<br />

se reduzindo, com o setor <strong>de</strong> serviços à toda e<br />

<strong>um</strong>a agricultura mais animada com as cotações<br />

internacionais, a economia tem tudo<br />

para <strong>de</strong>slanchar em 2010. Principalmente se a<br />

taxa <strong>de</strong> câmbio <strong>de</strong>sencalhar.<br />

Como se viu, não é <strong>um</strong> solavanco externo,<br />

como o provocado pela doi<strong>de</strong>ira das aplicações<br />

imobiliárias no Emirado <strong>de</strong> Dubai, que<br />

vai perturbar a soli<strong>de</strong>z dos bancos brasileiros,<br />

cuja regulação serve hoje <strong>de</strong> parâmetro internacional.<br />

Não por outra razão o Banco Central<br />

do Brasil passou a integrar, como membro<br />

efetivo, os Comitês <strong>de</strong> Sistema Financeiro<br />

Global e <strong>de</strong> Mercados do Banco para Compensações<br />

Internacionais (BIS), o banco central<br />

dos bancos centrais. com se<strong>de</strong> em<br />

Basiléia, na Suíça. No BIS, o Brasil só aparecia,<br />

há alguns anos, encolhidinho e <strong>de</strong> cabeça<br />

baixa, como <strong>de</strong>vedor relapso. Hoje, não é respeitado<br />

apenas pelo montante <strong>de</strong> suas reservas,<br />

que já emplacaram US$ 240 bilhões, mas<br />

porque apren<strong>de</strong>mos, com a inflação endêmica<br />

que nos vitimava, que nos fazia trocar <strong>de</strong><br />

moeda como mulher troca <strong>de</strong> roupa, a regular<br />

as nossas instituições financeiras.<br />

Em síntese, o Brasil só não crescerá<br />

5,5% ou 6% em 2010 se pintar outra crise<br />

internacional muito forte e se os seus empresários<br />

não forem dominados pelo sentimento<br />

do medo. Que Deus os poupe <strong>de</strong>sse<br />

sentimento, como <strong>de</strong>le poupou a JK.<br />

34 DEZEMBRO DE 2009


AUTOMÓVEIS<br />

Na onda dos coreanos<br />

Hyundai, Kia e Ssangyong ganham mercado no Brasil<br />

competindo com preço e carros mais equipados<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

TÉO SCALIONI<br />

No Brasil, primeiro foram os tradicionais<br />

veículos alemães e norteamericanos,<br />

com a Volkswagen, a<br />

Ford e GM. Depois, vieram os italianos com<br />

a Fiat. Mais tar<strong>de</strong> os franceses, com a Peugeot,<br />

Renault e Citroen e, em seguida, os<br />

japoneses, com a Honda, Toyota e Nissan.<br />

Agora, basta ficar atento nas ruas para observar<br />

que a bola da vez são os carros coreanos.<br />

Empresas como Hyundai, Kia e<br />

Ssangyong têm conquistado o público<br />

brasileiro e observam suas vendas crescerem<br />

a cada dia. O segredo: qualida<strong>de</strong> por <strong>um</strong><br />

preço menor e torcer para que essa onda não<br />

seja apenas <strong>um</strong>a marolinha que possa ser atropelada<br />

pelo tsunami, que, segundo especialistas<br />

do segmento, chegará em <strong>um</strong> futuro<br />

próximo com os carros chineses e indianos.<br />

Essa tática <strong>de</strong> unir preço e qualida<strong>de</strong>, utilizada<br />

pelas montadoras coreanas, é a mes -<br />

ma usada pelos japoneses quando chegaram<br />

ao Brasil em busca do <strong>um</strong> novo mercado.<br />

Um exemplo é do recém-lançado I-30 da<br />

Hyundai, que entrou para competir no mercado<br />

dos hatches médios. A estratégia da<br />

montadora coreana foi utilizar <strong>um</strong> preço<br />

médio da categoria, com <strong>um</strong> conteúdo bem<br />

acima. Com preços a partir <strong>de</strong> R$ 54 mil<br />

(manual) e R$ 58 mil (automático) o I-30<br />

possui controle <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>, seis airbags,<br />

sensor <strong>de</strong> estacionamento, retrovisores externos<br />

com rebatimento elétrico e freios<br />

‘ABS’, itens dignos <strong>de</strong> <strong>um</strong> carro <strong>de</strong> luxo.<br />

Tanto que em <strong>um</strong> teste-drive feito pela revista<br />

especializada Quatro Rodas, ela comparou<br />

o I-30 com a BMW 118I. A diferença<br />

é que o alemão custa cerca <strong>de</strong> R$ 95 mil.<br />

Uma outra estratégia que as montadoras<br />

coreanas também utilizam é a penetração<br />

em <strong>um</strong> segmento <strong>de</strong> automóveis ainda<br />

pouco explorado. É o caso do Tucson, também<br />

da Hyundai, e do Sportage, da Kia.<br />

Ambos foram lançados com vários utensílios<br />

<strong>de</strong> série em <strong>um</strong> nicho em que não possuem<br />

concorrentes em seus preços. Pois,<br />

enquanto <strong>um</strong> Tucson po<strong>de</strong> ser adquirido a<br />

partir <strong>de</strong> R$ 67 mil, veículos como Land<br />

Hover, Pajero ou a Hilux não custam menos<br />

<strong>de</strong> R$ 100 mil. Tanto que, atualmente, das<br />

vendas <strong>de</strong> SUVs (veículos fabricados a partir<br />

<strong>de</strong> chassis <strong>de</strong> caminhonetes) no Brasil,<br />

aproximadamente 30% correspon<strong>de</strong>m a carros<br />

coreanos.<br />

A comprovação da invasão dos coreanos<br />

po<strong>de</strong> ser verificada pelo a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> suas<br />

importações, que foi <strong>de</strong> 820% em novembro,<br />

se comparado com o mesmo mês <strong>de</strong><br />

2008. E, em 2009, segundos dados da Fe <strong>de</strong> -<br />

ração Nacional da Distribuição <strong>de</strong> Veículos<br />

Automotores (Fenabrave), até novembro<br />

apenas a Hyundai tinha vendido cerca <strong>de</strong> 55<br />

mil automóveis, e a previsão era <strong>de</strong> fechar<br />

2009 com cerca <strong>de</strong> 70 mil.<br />

Segundo o gerente <strong>de</strong> vendas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a das<br />

concessionárias Hyundai, em Belo Horizonte,<br />

a Pacific Motors, Renato Bittencourt,<br />

o crescimento pela procura dos carros coreanos<br />

é explícito. Ele cita como exemplo os<br />

primeiros anos da Pacific (2006 e 2007)<br />

quando a média <strong>de</strong> vendas variava <strong>de</strong> 15 a<br />

30 carros por mês e hoje são cerca <strong>de</strong> 120.<br />

“Acredito que esse a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong>ve-se a consolidação<br />

das marca tanto lá fora quanto no<br />

Brasil. Quem viaja ao exterior confere a<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hyundai que tem por lá e logo<br />

pensa que esse carro <strong>de</strong>ve ser bom”, observa.<br />

Bittencourt salienta também a propa-<br />

HYUNDAI/DIVULGAÇÃO<br />

Mo<strong>de</strong>los coreanos se encaixaram bem no perfil do cons<strong>um</strong>idor brasileiro<br />

As importações <strong>de</strong><br />

carros coreanos<br />

cresceu<br />

820%<br />

em novembro <strong>de</strong><br />

2009, comparadas<br />

com o mesmo mês<br />

<strong>de</strong> 2008<br />

ganda boca a boca. “As pessoas vão falando<br />

<strong>um</strong>as às outras sobre a qualida<strong>de</strong> dos nossos<br />

carros”, orgulha-se.<br />

Sobre a dificulda<strong>de</strong> em se conseguir assistência<br />

técnica especializada no Brasil, por<br />

se tratar <strong>de</strong> carros importados, o gerente <strong>de</strong><br />

vendas garante que isso é coisa do passado.<br />

Ele observa que a Hyundai, está há 17 anos<br />

no Brasil, possui toda sua logística formada.<br />

“Se por acaso não tiver <strong>um</strong>a peça aqui, no<br />

outro dia ela chega da central em São<br />

Paulo”, garante Bittencourt, salientando que<br />

agora também há <strong>um</strong>a fábrica da Hyundai<br />

em Anápolis (GO), on<strong>de</strong> já se monta o mo -<br />

<strong>de</strong> lo Tucson.<br />

35


POLÍTICA<br />

A luta continua.<br />

Pimentel e<br />

Patrus, entre os<br />

dois o PT balança<br />

Legenda vive <strong>um</strong> dilema em Minas<br />

para escolher entre dois fortes<br />

candidatos ao Palácio da Liberda<strong>de</strong><br />

JOÃO GUALBERTO<br />

Para chegar, pela primeira vez em sua<br />

história, ao Palácio da Liberda<strong>de</strong>, o<br />

Partido dos Trabalhadores <strong>de</strong> Minas<br />

tem, primeiramente, que transpor a encru zi -<br />

lhada com a qual se <strong>de</strong>para. O PT precisa<br />

optar entre dois pré-candidatos a go verna -<br />

dor: <strong>um</strong>, prestigiado ex-prefeito, que chegou<br />

a figurar na oitava posição entre os melhores<br />

gestores municipais do mundo; outro, o<br />

ministro responsável pelo principal progra -<br />

ma <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> renda do país, proje -<br />

to que também obteve reconhecimento<br />

in ternacional.<br />

Mas a situação não é propriamente idêntica<br />

à dúvida confortável que assalta os<br />

treinadores <strong>de</strong> futebol, quando têm dois<br />

craques geniais para escalar e apenas <strong>um</strong>a<br />

“<br />

A militância que<br />

está comigo é<br />

mais consistente, tem<br />

mais história. Basta<br />

comparar a minha<br />

biografia partidária com<br />

a do meu adversário”.<br />

Patrus Ananias,<br />

ministro <strong>de</strong> Desenvolvimento Social<br />

e Combate à Fome<br />

posição no time. Não é, pois, <strong>um</strong>a simples<br />

questão <strong>de</strong> escolha entre dois nomes experientes<br />

e conceituados. Trata-se <strong>de</strong> <strong>um</strong> dilema<br />

existencial, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, a<br />

serem solucionados em Minas, quando o<br />

partido completa 30 anos <strong>de</strong> fundação.<br />

O atual racha entre os petistas mineiros<br />

ficou explícito publicamente em 2008, durante<br />

a eleição para prefeito <strong>de</strong> Belo Horizonte.<br />

Pimentel, que <strong>de</strong>ixava o cargo, apoiou<br />

como sucessor o secretário <strong>de</strong> Estado Marcio<br />

Lacerda (PSB), em <strong>um</strong>a aliança po -<br />

lêmica e inédita com o tucano Aécio Neves,<br />

governador <strong>de</strong> Minas. Contrariada diante da<br />

aliança formal forjada pelos diretórios municipal<br />

e estadual da sigla, a ala <strong>de</strong> Patrus<br />

Ananias manteve-se neutra naquela disputa.<br />

Era o prenúncio da cisão que se seguiu até<br />

novembro último, no Processo <strong>de</strong> Eleição<br />

Direta (PED) do presi<strong>de</strong>nte estadual do partido;<br />

e a que se assistirá ao longo <strong>de</strong>ste ano,<br />

para a <strong>de</strong>finição do candidato a governador.<br />

E são justamente dos cabeças das duas<br />

correntes, que divi<strong>de</strong>m o PT-MG, as précandidaturas<br />

lançadas. E, em tom <strong>de</strong> précampanha,<br />

cada <strong>um</strong> (em coro com seus<br />

aliados) trata <strong>de</strong> expor suas próprias virtu<strong>de</strong>s<br />

como armas eficazes para levar o partido à<br />

vitória. Patrus exalta seu trabalho à frente do<br />

ministério e do Bolsa Família, do orçamento<br />

<strong>de</strong> R$ 33 bilhões que gerencia, segundo ele,<br />

balizado por princípios éticos. Além disso,<br />

recupera a boa avaliação <strong>de</strong> sua administração<br />

na prefeitura da capital, <strong>de</strong> 1993 a<br />

1996, afirmando ainda que o grupo que o<br />

Em terceiro<br />

Hélio Costa (PMDB) 32<br />

Antonio Anastasia 14<br />

Patrus Ananias (PT) 12<br />

Pesquisa Datafolha, <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

acompanha é o mais tradicional, o mais associado<br />

às causas fundamentais da legenda:<br />

“A militância que está comigo é mais consistente,<br />

tem mais história. Basta comparar a<br />

minha biografia partidária com a do meu adversário”.<br />

Pimentel e seus aliados também exaltam<br />

a competência administrativa como diferencial<br />

capaz <strong>de</strong> levar o PT ao governo. No entanto,<br />

partem do imediatismo dos números<br />

mais favoráveis das pesquisas <strong>de</strong> intenção<br />

<strong>de</strong> voto para arregimentar a candidatura.<br />

36 DEZEMBRO DE 2009


%<br />

%<br />

%<br />

2009<br />

“Neste momento, meu nome é melhor ava -<br />

lia do. Já foi diferente, mas hoje sou eu. Po -<br />

lí tica é o momento, é a contingência, não o<br />

que queremos”, rebate Pimentel.<br />

Nas pesquisas mais recentes para o go ver -<br />

no <strong>de</strong> Minas, Pimentel é o petista mais bem<br />

posicionado. Segundo o Datafolha, em<br />

<strong>de</strong>zembro ele figurava na segunda posição,<br />

com 19% das intenções <strong>de</strong> voto, atrás do<br />

ministro das Comunicações, Hélio Costa<br />

(PMDB), preferido <strong>de</strong> 31%; mas à frente do<br />

vice-governador Antonio Anastasia (PSDB),<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

candidato <strong>de</strong> Aécio, que recebia 10%. No<br />

levantamento do Instituto Datatempo/CP2,<br />

realizado em novembro, a disposição dos<br />

pré-candidatos era a mesma: Hélio Costa<br />

tinha 42,35% das intenções <strong>de</strong> voto; Pimentel,<br />

20,59%; e Anastasia, 12,27%.<br />

A projeção ass<strong>um</strong>ida pelo ministro <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Social foi menos <strong>de</strong>stacada<br />

nos dois levantamentos, mesmo mantendo<br />

a segunda colocação no quadro em<br />

que ele é o candidato do PT a governador.<br />

Segundo o Datafolha, Patrus per<strong>de</strong>ria <strong>de</strong> seu<br />

Patrus Ananias<br />

exalta seu trabalho<br />

à frente do<br />

Ministério do<br />

Desenvolvimento<br />

Social, do Bolsa<br />

Família e do<br />

orçamento <strong>de</strong><br />

R$ 33 bilhões que<br />

gerencia<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

colega <strong>de</strong> governo por 20 pontos <strong>de</strong> dife ren -<br />

ça: 32% <strong>de</strong> Costa contra 12%, com o vicegovernador<br />

aparecendo em segundo, com<br />

14%. Já <strong>de</strong> acordo com o Datatempo/CP2, o<br />

ministro das Comunicações obtinha 44,55%<br />

da preferência dos entrevistados. Patrus<br />

manteve-se em segundo, com 14,87%, mas<br />

empatado tecnicamente com os 13,74% <strong>de</strong><br />

Anastasia.<br />

O SOCIAL E O ADMINISTRATIVO.<br />

Pa ra Malco Camargos, cientista político da<br />

37


Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais (PUC Minas), por trás <strong>de</strong>ssa<br />

vantagem n<strong>um</strong>érica <strong>de</strong> Pimentel po<strong>de</strong> estar<br />

a lembrança mais viva do eleitorado: há<br />

apenas dois anos, ele ainda estava na<br />

prefeitura, enquanto recordar da gestão <strong>de</strong><br />

Patrus em Belo Horizonte requer <strong>um</strong><br />

esforço maior <strong>de</strong> memória. No entanto, o<br />

professor ressalta que os trunfos <strong>de</strong> cada <strong>um</strong><br />

estão nos perfis que ass<strong>um</strong>iram em suas<br />

trajetórias perante a opinião pública. “Patrus<br />

é muito mais fácil <strong>de</strong> se aproximar da<br />

questão social. Já Pimentel é associado à<br />

qualida<strong>de</strong> administrativa”, diferencia Ca -<br />

margos.<br />

Reeleito, em novembro, presi<strong>de</strong>nte esta -<br />

dual do PT, Reginaldo Lopes é hoje <strong>um</strong> dos<br />

principais aliados <strong>de</strong> Pimentel. O <strong>de</strong> pu tado<br />

fe<strong>de</strong>ral enten<strong>de</strong> que, não só pelo <strong>de</strong>sempenho<br />

nas pesquisas, o ex-prefeito <strong>de</strong>va ser o candidato<br />

por ser reconhecido como <strong>um</strong> “excelente<br />

técnico” e ainda por sua “ousadia<br />

política”. “Ele obteve à frente da prefeitura<br />

<strong>um</strong>a visibilida<strong>de</strong> que nenh<strong>um</strong> outro prefeito<br />

teve. Pimentel será mortal para Anastasia”,<br />

afirma Lopes. De acordo com o dirigente,<br />

<strong>um</strong> mérito da candidatura para convencer o<br />

eleitor seria concorrer com o PSDB sem acirrar<br />

<strong>de</strong>mais os ânimos, sem antagonismo, o<br />

que seria improvável com Patrus no páreo,<br />

que fustiga: “Minas quer mudança. E o<br />

PSDB tem vergonha <strong>de</strong> Minas, do resultado<br />

<strong>de</strong> seu período <strong>de</strong> gestão”.<br />

A MILITÂNCIA DECIDE. O <strong>de</strong>putado<br />

fe <strong>de</strong>ral Gilmar Machado, <strong>um</strong> dos mais <strong>de</strong>s -<br />

tacados membros da ala do ministro,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que Patrus tem mais po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

agregar aliados <strong>de</strong>ntro e fora do partido,<br />

com bom trânsito em outras siglas. Por isso,<br />

<strong>de</strong>veria ser o candidato petista em outubro.<br />

“<br />

Neste momento,<br />

meu nome é<br />

melhor avaliado. Já foi<br />

diferente, mas hoje sou<br />

eu. Política é o<br />

momento, é a<br />

contingência, não o que<br />

queremos”.<br />

Fernando Pimentel,<br />

ex-prefeito <strong>de</strong> Belo Horizonte<br />

Machado foi <strong>um</strong> dos candidatos à<br />

presidência do diretório estadual, <strong>de</strong>rrotado<br />

ainda no primeiro turno. A respeito do<br />

arg<strong>um</strong>ento da corrente rival, ele arg<strong>um</strong>enta<br />

que pesquisas são <strong>um</strong> retrato <strong>de</strong> momento,<br />

retrato que cost<strong>um</strong>a mudar: “Na hora em<br />

que o processo <strong>de</strong>slanchar, a militância do<br />

PT vai <strong>de</strong>finir e reverter a situação”.<br />

Um impasse como o que vive o PT<br />

mineiro, por guardar raízes em sua história,<br />

não <strong>de</strong>ve ser resolvido por meio <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

mero acordo <strong>de</strong> cavalheiros. O duelo entre<br />

Patrus e Pimentel ten<strong>de</strong> mesmo a <strong>um</strong> <strong>de</strong>sfecho<br />

com prévias internas. E também, diante<br />

<strong>de</strong>ssa possibilida<strong>de</strong>, as correntes dos dois<br />

pré-candidatos estão em divergência. A ala<br />

do ex-prefeito sustenta que o consenso seria<br />

a saída menos nociva, e que as eleições internas<br />

para a presidência da seção estadual<br />

do partido já serviram <strong>de</strong> prévias. Na outra<br />

ponta, porém, a frente <strong>de</strong> Patrus <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

que a margem <strong>de</strong> vitória <strong>de</strong> Reginaldo<br />

Lopes na eleição para a presidência do partido<br />

em Minas foi pequena, evi<strong>de</strong>nciando a<br />

divisão da sigla e a necessida<strong>de</strong> da realização<br />

<strong>de</strong> prévias.<br />

No dia 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, Lopes venceu o<br />

segundo turno do processo direto com<br />

52,4% dos votos válidos, contra 47,6% do<br />

secretário nacional <strong>de</strong> comunicação do PT,<br />

Gleber Naime, outro aliado <strong>de</strong> Patrus. Em<br />

termos absolutos, a diferença foi <strong>de</strong> aproximadamente<br />

2.000 votos, n<strong>um</strong> universo <strong>de</strong><br />

mais <strong>de</strong> 40 mil.<br />

PRÉVIAS X ENTENDIMENTO. O pre -<br />

si <strong>de</strong>nte reeleito, que tomará posse em<br />

fevereiro, responsabiliza os apoiadores <strong>de</strong><br />

Naime <strong>de</strong> terem conferido ao PED a<br />

importância <strong>de</strong> prévias eleitorais, mas<br />

enten<strong>de</strong> que o resultado já daria condições<br />

suficientes ao partido para a escolha <strong>de</strong> seu<br />

candidato a governador. Ele lamenta a<br />

iminência da realização <strong>de</strong> <strong>um</strong> novo embate<br />

<strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> tempo para sua<br />

organização. “O projeto <strong>de</strong> Patrus é pessoal.<br />

Se é coletivo, ele tem que enten<strong>de</strong>r a<br />

conjuntura. Se não enten<strong>de</strong>r, iremos para<br />

prévias, o que será muito penoso”.<br />

Pimentel, por diversas vezes, qualificou<br />

a tese das prévias como perda <strong>de</strong> tempo:<br />

“Minha posição é a mesma: a busca do entendimento.<br />

As prévias não são <strong>um</strong>a boa<br />

i<strong>de</strong>ia. Isso é prolongar a discussão enquanto<br />

os outros partidos estão avançando em suas<br />

pré-campanhas”.<br />

Mas o ministro e seu grupo não preten<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>sistir. Tanto é que formalizaram - por<br />

Para cientistas<br />

políticos, Fernando<br />

Pimentel está melhor<br />

nas pesquisas pela<br />

razão <strong>de</strong> estar mais<br />

presente na memória<br />

do eleitorad, <strong>de</strong>vido à<br />

sua recente gestão na<br />

prefeitura <strong>de</strong> Belo<br />

Horizonte<br />

meio <strong>de</strong> Padre João, <strong>de</strong>putado estadual e<br />

também candidato <strong>de</strong>rrotado a presi<strong>de</strong>nte<br />

estadual da legenda – o pedido ao Tribunal<br />

Regional Eleitoral (TRE) para a utilização<br />

<strong>de</strong> urnas eletrônicas no pleito, mesmo que<br />

sua data ainda não tenha sido marcada. O<br />

<strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Gilmar Machado encara<br />

com normalida<strong>de</strong> a necessida<strong>de</strong> das novas<br />

eleições internas: “Sem acordo, tem que<br />

haver prévias. São dois gran<strong>de</strong>s nomes.<br />

Farão <strong>um</strong> <strong>de</strong>bate em alto nível”.<br />

SEM MEDO DAS PRÉVIAS. Já o mi -<br />

nis tro Patrus enten<strong>de</strong> que a divisão faz parte<br />

38 DEZEMBRO DE 2009


da história do PT, que sempre buscou so -<br />

lucionar seus dilemas <strong>de</strong> forma <strong>de</strong> mo -<br />

crática. “Será algo sem conflito, com<br />

di ferença pelos canais éticos. Não temos<br />

que ter medo das prévias. É a resposta dos<br />

militantes, eles que sustentam o partido”.<br />

Em vez <strong>de</strong> <strong>um</strong> tonificante das diferenças<br />

internas, o embate eleitoral direto entre os<br />

pré-candidatos po<strong>de</strong> ser fundamental para<br />

unir e fortalecer o partido na disputa esta -<br />

dual <strong>de</strong> outubro. Essa é a aposta do cientista<br />

político Malco Camargos. Segundo ele, sem<br />

as prévias, que serão <strong>de</strong>sgastantes, o candi -<br />

dato escolhido não seria legitimado pelo par-<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

tido, que não iria unido para as eleições: “O<br />

resultado tem que ser acatado. A chance <strong>de</strong><br />

o PT ganhar é só com união. Patrus e Pimentel<br />

terão que se <strong>de</strong>sarmar e colocar suas<br />

bases para trabalhar pela candidatura, seja<br />

<strong>de</strong> quem for”.<br />

E Patrus, o maior <strong>de</strong>fensor da <strong>de</strong>cisão interna,<br />

já prometeu reconhecer seu resultado:<br />

“Se não houver pendências, se for <strong>um</strong> pro -<br />

ces so <strong>de</strong>mocrático, consensual, teremos o<br />

compromisso total. A <strong>de</strong>cisão será do parti -<br />

do, feita <strong>de</strong> baixo para cima”.<br />

Dessa forma cindida e apaixonada – habi<br />

tual em seus 30 anos <strong>de</strong> fundação – o PT<br />

Melhor colocado<br />

Hélio Costa (PMDB) 31%<br />

Fernando Pimentel (PT) 19%<br />

Antonio Anastásia (PSDB) 10%<br />

Pesquisa Datafolha, <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

<strong>de</strong> Minas promete dar fim a esse <strong>de</strong>safio <strong>de</strong><br />

a madurecimento. Suas li<strong>de</strong>ranças acreditam<br />

que não haverá a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a intervenção<br />

direta do presi<strong>de</strong>nte Luiz Inácio Lula<br />

da Silva no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição do candidato.<br />

E, em ambos os lados, não há predisposição<br />

em ass<strong>um</strong>ir <strong>um</strong>a terceira conduta<br />

diante da encruzilhada <strong>de</strong> momento: recuar<br />

e ce<strong>de</strong>r a candidatura ao PMDB do ministro<br />

Hélio Costa, o favorito nas pesquisas. Alguns<br />

petistas já dão como certa a divisão em<br />

Minas da base <strong>de</strong> apoio à ministra Dilma<br />

Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência.<br />

39


GESTÃO<br />

O que aprendi<br />

em 2009?<br />

Empresários e executivos falam das<br />

duras lições extraídas <strong>de</strong> <strong>um</strong> ano<br />

turbulento para os negócios<br />

DURVAL GUIMARÃES<br />

Agora que o ano finalmente acabou<br />

e, ao contrário do imaginávamos,<br />

sobrevivemos a ele, <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong><br />

<strong>de</strong>cidiu empreen<strong>de</strong>r <strong>um</strong>a pesquisa junto aos<br />

seus leitores sobre as lições que eles extraíram<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong> ano tão turbulento. A primeira<br />

resposta veio <strong>de</strong> <strong>um</strong> ex-usineiro do Triângulo<br />

Mineiro, on<strong>de</strong> inaugurou recentemente<br />

<strong>um</strong>a <strong>de</strong>stilaria <strong>de</strong> etanol: “O que eu aprendi<br />

não terá mais nenh<strong>um</strong> serventia, pois no momento,<br />

tenho alg<strong>um</strong> capital, mas não tenho<br />

negócios”.<br />

Po<strong>de</strong>ríamos consi<strong>de</strong>rar o entrevistado<br />

como ex-industrial, mas em nossa opinião,<br />

empresário é como o torcedor do Flamengo<br />

na música <strong>de</strong> Lamartine Babo: “<strong>um</strong>a vez<br />

Flamengo, sempre Flamengo”. Ele não <strong>de</strong>siste<br />

nunca. No caso específico, o entrevistado<br />

queixou-se <strong>de</strong> ter se apavorado com o<br />

cenário dos primeiros meses <strong>de</strong> 2009,<br />

quando a economia americana estava mergulhada<br />

na crise e as exportações do<br />

agronegócio se encontravam em queda.<br />

“Os preços do álcool e do açúcar também<br />

<strong>de</strong>sabavam. Então eu fiz o que não <strong>de</strong>veria<br />

ter feito, que foi me <strong>de</strong>sfazer do negócio<br />

ainda no meio da tormenta”, revelou.<br />

“Aprendi que a gente <strong>de</strong>ve preservar a<br />

cabeça quando todos os outros estão per<strong>de</strong>ndo<br />

as <strong>de</strong>les”.<br />

Há também os que se fortaleceram durante<br />

o ano. O vice-presi<strong>de</strong>nte comercial da<br />

Cooperativa <strong>de</strong> Leite Itambé, Valdinei Paulo<br />

<strong>de</strong> Oliveira, lembrou que a crise mundial fez<br />

<strong>um</strong>a reviravolta no dia-a-dia <strong>de</strong> muitas organizações:<br />

“O teste <strong>de</strong> fogo foi trabalhar no<br />

sentido <strong>de</strong> urgência para fazer da crise <strong>um</strong><br />

momento oportuno para novas conquistas <strong>de</strong><br />

mercado. Ter <strong>um</strong>a gestão focada e <strong>um</strong> olhar<br />

diferente sobre a crise nos permitiu crescer<br />

on<strong>de</strong> inicialmente não era nosso foco e<br />

“<br />

Aprendi que a crise é a<br />

melhor aliada do<br />

crescimento. Aprendi a não<br />

ter medo <strong>de</strong> investir, mesmo<br />

quando o mundo grita ‘não!’”<br />

Ricardo Carlini,<br />

proprietário da Carlini Cerimonial<br />

fechar o ano dividindo s<strong>obras</strong>. Surpresa ou,<br />

não a crise nos ajudou a superar nossos<br />

limi tes. Esse foi o meu aprendizado no ano<br />

2009”.<br />

O gerente geral <strong>de</strong> planejamento estratégico<br />

e gestão da Samarco, Eduardo Pessotti,<br />

revelou como foi o ano na mineradora:<br />

“Durante a crise, inúmeros planos se mos -<br />

traram completamente perecíveis, ge rando<br />

frustração tanto no plano emocional, pela incompetência<br />

<strong>de</strong> avaliação da situação,<br />

quanto no plano financeiro, que <strong>de</strong>mandou<br />

gestão <strong>de</strong> caixa, quase que diária, diante <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão que estava estruturado<br />

para o crescimento e criação <strong>de</strong> valor em<br />

longo prazo”.<br />

Segundo informou, ele apren<strong>de</strong>u também<br />

que os verda<strong>de</strong>iros lí<strong>de</strong>res sustentam<br />

suas convicções em seus valores pessoais.<br />

“No caso específico da Samarco, tive a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vivenciar as <strong>de</strong>cisões do<br />

nosso presi<strong>de</strong>nte, que mobilizou empregados<br />

para evolução do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> ações para redução <strong>de</strong><br />

custos, reconhecendo que as pessoas e seus<br />

conhecimentos são os alicerces da compe ti -<br />

tivida<strong>de</strong> e sustentabilida<strong>de</strong> do negócio.<br />

Como consequência positiva, conquistou os<br />

prêmios mineiro e capixaba <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>”,<br />

concluiu.<br />

O ex-secretário estadual <strong>de</strong> Desenvolvi-<br />

Wilson Br<strong>um</strong>er disse<br />

que a crise <strong>de</strong>ixou<br />

lições importantes<br />

para o empresariado,<br />

como melhorar<br />

técnicas <strong>de</strong> gestão e<br />

sustentabilida<strong>de</strong><br />

mento Econômico e hoje empresário no<br />

setor <strong>de</strong> Energia, Wilson Br<strong>um</strong>er, disse que<br />

a crise valorizou conceitos que haviam sido<br />

relegados a <strong>um</strong> plano inferior e que voltaram<br />

com força total nessa nova fase da economia.<br />

O empresário se refere a <strong>um</strong> conceito<br />

amplo <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, que não se limita<br />

a aspectos ambientais, mas também dá<br />

<strong>de</strong>staque para o conhecimento, a produtivida<strong>de</strong>,<br />

a eficiência e a valorização das pessoas.<br />

“Deve, como consequência ser valorizada,<br />

40 DEZEMBRO DE 2009


“<br />

O teste <strong>de</strong> fogo foi<br />

trabalhar no sentido <strong>de</strong><br />

urgência para fazer da crise<br />

<strong>um</strong> momento oportuno para<br />

novas conquistas <strong>de</strong><br />

mercado”.<br />

Valdinei Paulo <strong>de</strong> Oliveira,<br />

vice-presi<strong>de</strong>nte comercial da Cooperativa<br />

<strong>de</strong> Leite Itambé<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

a boa gestão, seja ela pública ou privada.<br />

Antes da crise, valia muito o conceito <strong>de</strong> excesso<br />

<strong>de</strong> alavancagem, ou seja, empresas se<br />

endividando mais que o normal. Volta agora<br />

o conceito <strong>de</strong> endividamento em patamares<br />

a<strong>de</strong>quados, on<strong>de</strong> prevalecerá outra máxima,<br />

que é preferível pagar divi<strong>de</strong>ndos que juros”,<br />

<strong>de</strong>clarou.<br />

Proprietário da Carlini Cerimonial, o jornalista<br />

Ricardo Carlini não se sentiu atingido<br />

pela crise. Isso foi fácil <strong>de</strong> perceber, pois ele<br />

se apresentou como o mestre <strong>de</strong> cerimônia<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

dos principais eventos empresariais, políticos<br />

e esportivos e sociais realizados na capi -<br />

tal mineira. Sua empresa é <strong>um</strong>a das<br />

re quisitadas do país no setor <strong>de</strong> organização<br />

<strong>de</strong> eventos e, em poucas frases, ele revela<br />

como enfrentou 2009. “Aprendi que a crise<br />

é a melhor aliada do crescimento. Aprendi a<br />

não ter medo <strong>de</strong> investir, mesmo quando o<br />

mundo grita ‘não!’ Na área específica <strong>de</strong> Cerimonial<br />

e Protocolo <strong>de</strong> Eventos, experimen<br />

tamos gran<strong>de</strong> crescimento no póscrise”.<br />

41


NEGÓCIOS<br />

Como ce<strong>de</strong>r à pechincha,<br />

sem entregar a loja<br />

Busca incansável por <strong>de</strong>scontos já ultrapassou o outro<br />

lado do balcão. Agora, até as empresas querem preços<br />

pequenos junto aos fornecedores<br />

PAULO MÁRIO DA SILVA<br />

Faz <strong>um</strong> <strong>de</strong>scontinho, vai! O abacaxi está<br />

lindo. Gostei do sapato. Quero levar o<br />

fo gão. Mas o preço, você sabe, me “que -<br />

bra as pernas”. Se for à vista, tem <strong>de</strong>s con to? E<br />

o preço a vista, dá pra fazer em três vezes?<br />

Vamos negociar por 30% a menos, fica le gal<br />

para você? Então está combinado, fe chamos<br />

em 20% <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto. Vou assinar o cheque<br />

imediatamente, assim que pegar o brin<strong>de</strong>.<br />

Pechinchar é <strong>um</strong>a arte, qualquer que seja<br />

seu estilo. Enquanto você lê esta repor -<br />

tagem, a pechincha está sen do ensinada<br />

em universida<strong>de</strong>s, estu dada por psi có logos<br />

e até in vestigada por es piões, que pe chin -<br />

cham em lojas concorren -<br />

tes. O melhor é que o<br />

cost<strong>um</strong>e <strong>de</strong> pe dir<br />

<strong>de</strong>sconto traz<br />

muito mais que<br />

<strong>um</strong> alívio pa ra<br />

o bolso. É <strong>um</strong><br />

modo <strong>de</strong> tornar<br />

relações <strong>de</strong> compra<br />

e ven da, em<br />

que ge ralmente cons<strong>um</strong>idor<br />

e ven<strong>de</strong>dor<br />

mal se olham nos olhos, em<br />

negócios mais h<strong>um</strong>anos, ami gáveis e menos<br />

automatizados.<br />

Mas a pechincha nem sempre é bem<br />

vista. Às vezes, vira doce na boca <strong>de</strong> muito<br />

chato por aí; e, muitas vezes, pancada no ouvido<br />

<strong>de</strong> ven<strong>de</strong>dores e balconistas. É <strong>de</strong> origem<br />

<strong>de</strong>s conhecida, <strong>de</strong> “etimologia incerta”, segundo<br />

Antônio Geraldo da Cunha, que a <strong>de</strong>fine,<br />

no Dicionário Etimológico Nova<br />

Fronteira, como “gran<strong>de</strong> conveniência ou vantagem”,<br />

“qualquer coisa muito barata”.<br />

Assim, pechinchar é fazer esforço para<br />

obter <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> conveniência ou vantagem.<br />

Serve também para tentar comprar algo por<br />

<strong>um</strong> preço muito baixo. Prática que muita gente<br />

tem vergonha <strong>de</strong> adotar e que alguns não se<br />

preocupam em exagerar, estando ambos os<br />

grupos equivocados nos seus hábitos. Quem<br />

exagera na pechincha, <strong>de</strong>s trata o ven<strong>de</strong>dor e<br />

<strong>de</strong>srespeita as boas regras <strong>de</strong> convivência.<br />

Quem, por outro lado, não consegue pe -<br />

chin char, por timi<strong>de</strong>z ou excesso <strong>de</strong> zelo,<br />

per<strong>de</strong> dinheiro.<br />

A dona <strong>de</strong> casa Maria A pa recida Soares é<br />

<strong>um</strong>a pe chin cheira ass<strong>um</strong>ida. “Gosto <strong>de</strong> pe -<br />

chinchar e <strong>de</strong> pesquisar. Quan do<br />

saio para comprar algo, já sei que<br />

isso vai me custar tempo e sola <strong>de</strong><br />

sapato. Mas, agora, que<br />

tenho internet, a pren -<br />

di a pesquisar os sites an -<br />

tes <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> casa. Já sei on<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>vo comprar, on<strong>de</strong> está mais<br />

em conta”, revelou.<br />

E essa não é <strong>um</strong>a prática<br />

que se res tringe às mulheres.<br />

Sidney Sampaio é comerciante<br />

e acha muito saudável a pe chin cha.<br />

“Gosto quando os meus clientes dão va lor ao<br />

dinheiro. A té eu adoro pe chin char”, brinca. Segundo<br />

ele, <strong>um</strong> preço no varejo sempre tem <strong>um</strong>a<br />

margem <strong>de</strong> negociação, pois nele es tão embutidos<br />

o valor que as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> car tão <strong>de</strong> crédito<br />

e débito cobram por venda ( que na sua loja<br />

gira em torno <strong>de</strong> 3,8%), os custos <strong>de</strong> inadimplência<br />

e <strong>de</strong>mais encargos, que sempre dá para<br />

retirar do preço final. Dinheiro a vista ou<br />

recebimento garantido são sempre bemvindos.<br />

Normalmente a pergunta<br />

“quan to você pagou no<br />

pro duto?”, sempre vai<br />

ser encarada como<br />

<strong>um</strong>a falta <strong>de</strong> ética<br />

pelo comerciante<br />

e invariavelmen -<br />

te acompanhada<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong>a resposta<br />

mentirosa que, afinal,<br />

<strong>de</strong>ixará o cliente<br />

satisfeito.<br />

Mas há os que exa -<br />

geram na dose e, muito vaidosos,<br />

chegam até a di mi nuir o preço<br />

que pagaram. De a cor do com<br />

o professor da Fa culda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Tecnologia do Co mércio<br />

(Fatec Comércio), instituição<br />

ligada à Câmara<br />

<strong>de</strong> Di-


igentes Lojistas <strong>de</strong> Belo Horizonte (CDL-<br />

<strong>BH</strong>), José Luciano S. Furtado, esse é o tipo <strong>de</strong><br />

cliente que dá prejuízo: “Pessoas com esse<br />

perfil só compram quando o estabelecimento<br />

es tá liquidando esto que, operando com a<br />

margem <strong>de</strong> lucro baixa ou até zerada. Sabem<br />

precisamente o ca len dário <strong>de</strong> remarcação <strong>de</strong><br />

todas as lojas, além <strong>de</strong> acompanharem as li -<br />

qui dações pelos meios <strong>de</strong> comunicação.<br />

É o tipo <strong>de</strong> cliente que<br />

nunca será seu. Ele se<br />

ven<strong>de</strong> para aquele que<br />

oferece o maior <strong>de</strong>s -<br />

conto”.<br />

Furtado alerta<br />

que a prática <strong>de</strong>senfreada<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> s -<br />

con tos ao pe chin -<br />

cheiro po<strong>de</strong> ser<br />

<strong>um</strong> “tiro no<br />

pé” do lojista.<br />

Quand o o comerciante<br />

quiser inverter<br />

essa jogada,<br />

observa, es se cliente<br />

vai ficar <strong>de</strong>sagradado<br />

com o corte dos <strong>de</strong>scontos, pois<br />

está viciado nesse tipo <strong>de</strong> negociação:<br />

“É o pior vício que existe, pois<br />

não tem cura. O pior é que foi o<br />

próprio lojista quem o viciou,<br />

com a sua inconsequente<br />

busca <strong>de</strong> fa tu -<br />

ramento em curto<br />

prazo. Não pensou nas<br />

consequências em longo<br />

prazo”.<br />

O especialista sugere<br />

transformar <strong>de</strong>scontos em<br />

benefícios. Isso quer dizer que,<br />

em vez <strong>de</strong> dar 10% <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto<br />

em <strong>um</strong> almoço, dar<br />

<strong>um</strong> almoço grátis, <strong>de</strong>pois do<br />

cliente carimbar 10 refeições<br />

cons<strong>um</strong>idas no seu restaurante.<br />

“Dessa forma você estará se relacionando<br />

com o cliente e fazendo<br />

com que ele fique frequente no seu<br />

estabelecimento. Normalmente<br />

essa técnica é bem aceita pelos<br />

clientes menos viciados, que encaram<br />

este tratamento sem<br />

perceber”, <strong>de</strong>staca.<br />

Furtado acredita que o<br />

cliente pechinchador só dá<br />

lucro para aquelas empresas<br />

que se posicionaram no<br />

mercado com estratégia <strong>de</strong> posicionamento focada<br />

em preço, ou seja: àquelas empresas que<br />

têm estrutura <strong>de</strong> custos baixa e elevada escala<br />

(alta rotativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estoque), o que confere a<br />

elas <strong>um</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra diferenciado. “Mas<br />

o que temos visto são empresas com estratégias<br />

focadas em especialização e di ferencia ção,<br />

entrando na bri ga por pre ços, o que fa talmente<br />

as levará a prejuízos e até à falência”.<br />

Já os mais pessi mis tas não pensam assim<br />

e, cada vez mais, se tornam a<strong>de</strong>ptos ao<br />

lema: “Nem sempre o cliente tem razão.<br />

Especialistas apontam que muitas empresas<br />

engros sam sua base <strong>de</strong> clientes<br />

e aca bam atraindo ina dimplentes e<br />

con quistando u su ários cujo custo <strong>de</strong><br />

transação é maior que o benefício<br />

gerado. Há empresas que<br />

dimi-nuem a rentabilida<strong>de</strong> à<br />

medida que a<strong>um</strong>entam o<br />

número <strong>de</strong> clientes.<br />

Pesquisas revelam<br />

que há pe -<br />

chin cheiros e<br />

pes soas que<br />

fa zem o lojis -<br />

ta per<strong>de</strong>r o<br />

tempo que<br />

p o d e r i a<br />

ser <strong>de</strong>di -<br />

cado a<br />

clientes<br />

mais sau -<br />

dáveis pa ra o<br />

futuro. “Alguns<br />

tratam o<br />

ven <strong>de</strong>dor como<br />

me ro fornecedor.<br />

Outros <strong>de</strong>ixam vo cê<br />

esperando <strong>um</strong> tempão<br />

e alguns nem<br />

valorizam o que<br />

você tem a oferecer.<br />

Quando se<br />

<strong>de</strong>frontar com<br />

clientes assim, e<br />

se você tiver outras<br />

opções, não<br />

he site: tente <strong>um</strong>a, duas ou<br />

até três vezes, mas não<br />

perca outras oportunida<strong>de</strong>s<br />

para tentar<br />

agradar a <strong>um</strong> cliente<br />

que não me rece seu<br />

esforço”, opina o<br />

consultor Nelson<br />

Ma cha do.<br />

A dica que<br />

Machado dá para o ven<strong>de</strong>dor é não estragar o<br />

dia por causa <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> cliente: “Concentre-se<br />

naqueles que valorizam o que você faz<br />

e que trazem retorno positivo para sua empresa.<br />

Não é só o cliente que tem <strong>de</strong> escolher<br />

a sua empresa. Empresas vencedoras são<br />

aquelas que também escolhem seus clientes e<br />

dão o melhor <strong>de</strong> si para os escolhidos”.<br />

O lojista também<br />

precisa pechinchar<br />

Do outro lado do balcão, também existe<br />

pechincha. Afinal o preço baixo para o cons<strong>um</strong>idor<br />

final exige <strong>um</strong>a negociação pelo <strong>de</strong>partamento<br />

<strong>de</strong> compra das empresas. Exemplo<br />

disso é a Ricardo Eletro, re<strong>de</strong> <strong>de</strong> varejo <strong>de</strong><br />

eletrodomésticos e móveis posicionada entre as<br />

cinco maiores do segmento, cujo slogan “Preço<br />

se faz assim” é <strong>um</strong>a verda<strong>de</strong>ira busca pela<br />

oferta do menor preço ao cons<strong>um</strong>idor final.<br />

A diretora <strong>de</strong> Compras e <strong>de</strong> Marketing da<br />

re<strong>de</strong> varejista, Sônia Trinda<strong>de</strong>, informa que no<br />

ato da compra já se pensa no cons<strong>um</strong>idor final.<br />

“A equipe sempre negocia com o fornecedor<br />

pensando em criar oportunida<strong>de</strong>s para os<br />

clientes. De cada <strong>de</strong>z produtos, cerca <strong>de</strong> dois<br />

ou três já são negociados pensando nos <strong>de</strong>s -<br />

contos”, revela.<br />

Há <strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong> profissionalização da<br />

compra. “Quando vamos contratar <strong>um</strong> ven<strong>de</strong>dor,<br />

avaliamos o perfil <strong>de</strong> <strong>um</strong> comprador. Já<br />

negociamos a promoção no ato da compra.<br />

Queremos <strong>um</strong> comprador ven<strong>de</strong>dor e não apenas<br />

repositor. A responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vendas<br />

está em comprar bem e garantir a venda do<br />

mês”, <strong>de</strong>talhou Sônia.<br />

A Ricardo Eletro possui <strong>um</strong>a “central do<br />

preço”, on<strong>de</strong> os preços do mercado e da concorrência<br />

são registrados. O preço praticado,<br />

conta Sônia, tem que ser ou igual ou menor.<br />

Prova disso é que a empresa oferece o preço<br />

protegido, consi<strong>de</strong>rada pela diretoria do grupo<br />

como a maior aposta para o Natal recente: <strong>de</strong>pois<br />

da compra, se a indústria ou a concorrência<br />

baixarem o preço, em ofertas divulgadas<br />

em anúncios, o cliente terá sete dias para levar<br />

a nota fiscal a qualquer loja, que o Ricardo <strong>de</strong>volve<br />

a diferença na hora. Mas a oferta é válida<br />

somente para as compras feitas à vista.<br />

O professor da Fatec Comércio, José Luciano<br />

S. Furtado, acredita que saber comprar<br />

também é <strong>um</strong>a ciência. Segundo ele, <strong>um</strong>a empresa<br />

que <strong>de</strong>seja se posicionar estrategicamente<br />

no mercado precisa negociar bem com<br />

as indústrias, a fim que o preço final para o<br />

cliente possa ser o mais baixo possível.<br />

ACIR GALVÃO


MÁRIO RIBEIRO<br />

Memórias vicentinas<br />

Antes <strong>de</strong> chegar ao novo<br />

século (ou ao novo<br />

milênio), a fábrica<br />

fechou: ela, que <strong>um</strong> dia<br />

re pre sentou evolução,<br />

cerrava as portas e<br />

calava seus velhos<br />

teares transformados<br />

em sucata, fenômeno<br />

ocorrido com gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> fábricas <strong>de</strong><br />

tecidos por todo o<br />

Brasil.<br />

Na história da minha terra natal, ocorreu<br />

durante décadas <strong>um</strong> paradoxo: o distrito<br />

<strong>de</strong> São Vicente sobrepunha, em<br />

po<strong>de</strong>r eco nô mico a se<strong>de</strong> do município, Baldim.<br />

Explica-se: São Vicente fora escolhido pela<br />

Cia. Cedro e Cachoeira para instalar ali <strong>um</strong>a uni -<br />

da<strong>de</strong> industrial <strong>de</strong> fiação e tecelagem, enquan to<br />

Baldim seguia o padrão agro pe cuá ria/co mér cio.<br />

Houve algo <strong>de</strong> heroico na implantação da<br />

fábrica <strong>de</strong> tecidos em São Vicente: os teares, importados<br />

da Inglaterra, <strong>de</strong> Belo Horizonte até a<br />

altura <strong>de</strong> Funilândia foram levados via balsas<br />

pelo rio das Velhas, até então navegável e livre<br />

da poluição que inspirou muitas décadas <strong>de</strong>pois<br />

o livro <strong>de</strong> Wan<strong>de</strong>r Pirolli sobre a questão ambiental,<br />

“Os rios morrem <strong>de</strong> se <strong>de</strong>”.<br />

Mais ainda: <strong>de</strong> Funilândia ao então arraial <strong>de</strong><br />

São Vicente, algo em torno <strong>de</strong> 20 quilômetros, as<br />

pe ças dos teares foram levadas em lombo <strong>de</strong> burros.<br />

Com evi<strong>de</strong>nte atraso, a revolução industrial<br />

inglesa se instalou ali e tocava <strong>um</strong>a fábrica que<br />

agrupava seiscentos ou mais funcionários em<br />

três turnos <strong>de</strong> trabalho.<br />

Meu avô, Tonico Ribeiro, tecelão respeitado<br />

por seu trabalho na Cedro, foi <strong>de</strong>slocado para<br />

São Vicente com a família. Entre seus méritos,<br />

além <strong>de</strong> administrador, trazia a fama <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>senvolvido<br />

<strong>um</strong>a trançagem também inovadora, a<br />

que <strong>de</strong>u o título <strong>de</strong> 3R. “R” <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> Ribeiro,<br />

mas não sei porque o “3”, talvez relativo à forma<br />

como o pano era feito, na verda<strong>de</strong>, a chamada<br />

“chita”, que fez sucesso estrondoso no país,<br />

principalmente no Nor<strong>de</strong>ste, certamente contribuindo<br />

para o crescimento da empresa.<br />

No seu entusiasmo, Tonico Ribeiro adquiriu<br />

terras n<strong>um</strong> lugar chamado “Varge do Capim” e<br />

cuidou ele também <strong>de</strong> importar <strong>um</strong>a máquina<br />

dos sonhos daquela época: o locomóvel, na verda<strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a locomotiva a vapor, estática, para<br />

fornecer e ner gia à pequena fazenda.<br />

Deixo para outra vez contar a epopeia do<br />

transporte e instalação do locomóvel, operações<br />

que me levam às lágrimas pela coragem e empreen<strong>de</strong>dorismo<br />

dos personagens.<br />

Personagens <strong>de</strong> <strong>um</strong>a época que a globalização<br />

já conseguiu praticamente apagar da história<br />

e que, muito em breve, apagará <strong>de</strong> vez. Esquecemo-nos<br />

que a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> sempre existiu em<br />

várias épocas da história da civilização, como<br />

escreveu Marshal Berman, no seu livro “Tudo<br />

que é sólido <strong>de</strong>smancha no ar”.<br />

Em 1998, quando escrevia <strong>um</strong> res<strong>um</strong>o do<br />

livro “As megatendências para o ano 2000”, <strong>de</strong>i<br />

<strong>um</strong>a paradinha para ver o “Jornal Nacional” e<br />

quase caí da ca<strong>de</strong>ira: Cid Moreira anunciava a<br />

queda do Muro <strong>de</strong> Berlim, visto também como<br />

símbolo do fim das i<strong>de</strong>ologias, tese que acabara<br />

<strong>de</strong> ler minutos antes no livro <strong>de</strong> John Naisbitt.<br />

É. Realmente, tudo que é sólido <strong>de</strong>smancha<br />

no ar, digo para reverenciar novamente Marshall<br />

Berman, citado anteriormente, quando contava a<br />

aventura da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> pela qual passou o<br />

mo<strong>de</strong>sto distrito <strong>de</strong> São Vicente com a implantação,<br />

ali, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a fábrica <strong>de</strong> tecidos no início do<br />

último século do milênio passado.<br />

Antes <strong>de</strong> chegar ao novo século (ou ao novo<br />

milênio), a fábrica fechou: ela, que <strong>um</strong> dia re pre<br />

sentou evolução, cerrava as portas e calava seus<br />

velhos teares transformados em sucata, fenômeno<br />

ocorrido com gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> fábricas<br />

<strong>de</strong> tecidos por todo o Brasil.<br />

A fábrica <strong>de</strong> tecidos era praticamente tudo<br />

para aquela comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> três mil<br />

pessoas. Seu fechamento significou terrível<br />

baque para as gerações que se seguiram ao início<br />

da fábrica. De longe, recordando os feitos <strong>de</strong><br />

meu avô Tonico Ribeiro e do meu pai Joãozito<br />

em torno da indústria, me vi absolutamente incapaz<br />

para oferecer i<strong>de</strong>ias e projetos para os que<br />

me procuraram pedindo ajuda.<br />

Mas os velhos operários juntaram as economias<br />

e montaram pequenas instalações quase<br />

domésticas, com os teares arrematados da companhia.<br />

Fazem, por exemplo, panos <strong>de</strong> prato. O<br />

marketing intuitivo lhes ensinou que <strong>de</strong>veriam<br />

grafar nos panos a palavra “açúcar”, porque as<br />

donas <strong>de</strong> casa da cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>ram que<br />

pano <strong>de</strong> prato bom é o que resulta <strong>de</strong> panos <strong>de</strong><br />

sacos <strong>de</strong> açúcar.<br />

Minha informante das coisas <strong>de</strong> São Vicente<br />

conta que, hoje, a maioria da população é formada<br />

por aposentados, como ocorre na maioria<br />

<strong>de</strong> pequenos municípios brasileiros. Os jovens<br />

saem cedo para tentar a vida em Belo Horizonte<br />

ou Sete Lagoas. A tradição tecelã possibilitou a<br />

criação <strong>de</strong> pequenas comunida<strong>de</strong>s familiares<br />

para a produção <strong>de</strong> tricô, croché e trabalhos<br />

manuais em linha, que o mundo novo acha que<br />

<strong>um</strong> dia as máquinas liquidarão também.<br />

É sabido que os panos <strong>de</strong> pratos produzidos<br />

em São Vicente sofrem ataques pesados <strong>de</strong><br />

novos produtos <strong>de</strong> limpeza. Mas o ataque pior,<br />

no enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> minha informante, é dos carros<br />

daqueles que chegam da Capital para passar o<br />

fim <strong>de</strong> semana e abrem o som nas noites <strong>de</strong> sá -<br />

bado para promover, nas ruas pacatas do arraial,<br />

baladas insuportáveis, que vão até o sol raiar.<br />

A mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> dos nossos ancestrais fazia mais<br />

sen tido. Pelo menos se fundamentava em valores<br />

mais nobres e, sobretudo, menos barulhentos.<br />

44 DEZEMBRO DE 2009


PERFIL<br />

A melhor companhia<br />

é a do terno<br />

Pedro Paulo Dr<strong>um</strong>mond comemora os nove<br />

anos <strong>de</strong> sua Cia. do Terno, que popularizou a<br />

ind<strong>um</strong>entária masculina mais clássica<br />

QUEILA ARIADNE<br />

Pimeiro, foram os tecidos. Depois, as roupas para mu -<br />

lheres. Então, vieram as roupas masculinas. E, mais<br />

tar<strong>de</strong>, os ternos, hoje vendidos em 15 estados<br />

brasileiros. A Cia. do Terno foi fundada há nove anos. Mas a<br />

história do negócio teve origem há pelo menos 20, marco da<br />

trajetória do seu fundador, o empresário mineiro Pedro Paulo<br />

Dr<strong>um</strong>mond. A empresa surgiu antes mesmo dos dois filhos,<br />

<strong>um</strong> rapaz <strong>de</strong> 18 e <strong>um</strong>a menina <strong>de</strong> 15, frutos <strong>de</strong> <strong>um</strong> casamento<br />

que também dura 20 anos.<br />

ARTE DE SER SIMPLES<br />

Pedro Paulo, aos 50 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, ainda trabalha muito. E<br />

gosta das coisas simples da vida: comer pizza em casa; ir ao<br />

boteco conversar lorotas com os amigos; jogar tênis; viajar; e,<br />

principalmente, ficar com a família. Até os 30 anos, trabalhava<br />

com tecidos: “Fui apren<strong>de</strong>ndo aos poucos e passei a conhecer<br />

bastante. Até que resolvi, junto com minha mulher e minhas<br />

duas irmãs, abrir <strong>um</strong>a loja <strong>de</strong> roupas femininas: a Raro Efeito,<br />

que fez 20 anos agora em novembro. Minha experiência com<br />

os tecidos ajudou muito, principalmente na hora <strong>de</strong> fabricar as<br />

peças”.<br />

Mesmo com os negócios indo bem, o empresário queria<br />

mais alg<strong>um</strong>a coisa. Tornou-se sócio da Art Man, especializada<br />

em moda masculina: “Foi lá que eu comecei a apren<strong>de</strong>r a lidar<br />

com roupas masculinas. Fui sócio por cinco anos e fizemos<br />

<strong>um</strong>a separação amigável, pois eu já pensava em <strong>de</strong>senvolver<br />

algo diferente, mais popular”.<br />

Naquela época, apareceram dois amigos para ajudar: o filho<br />

da ex-sócia e outro empresário, que acabara <strong>de</strong> fechar <strong>um</strong>a loja<br />

e se tornou gerente – e ainda é. Estava fundada a Cia. do Terno.<br />

“No início, éramos 90% preço e 10% propaganda. Hoje,<br />

somos 20% preço e 80% qualida<strong>de</strong> e pessoal, pois, no caminho<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong> negócio, seja ele qual for, nos relacionamos com muitas<br />

pessoas. Para dar certo, a equipe precisa ser coesa. Se ela trabalha<br />

bem, o negócio cresce”, <strong>de</strong>staca.<br />

A primeira loja, aberta no Minas Shopping, fez nove anos<br />

no dia 9 do 9 <strong>de</strong> 2009. Um mês <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ssa, veio a segunda,<br />

no Shopping Cida<strong>de</strong>. A primeira fora <strong>de</strong> Belo Horizonte foi<br />

inaugurada em Lavras, em fevereiro <strong>de</strong> 2001. Hoje, o empresário,<br />

que começou ven<strong>de</strong>ndo tecidos, administra 91 lojas,<br />

que geram 940 empregos diretos e mais <strong>de</strong> 6.000 indiretos.<br />

Abrir outras lojas não faz parte dos planos <strong>de</strong> curto prazo.<br />

“Não vemos motivos para correr, se aparecer <strong>um</strong>a boa oportunida<strong>de</strong>,<br />

vamos nos expandir sim, mas não vamos ficar igual<br />

maluco. Queremos <strong>um</strong> negócio sólido, que atenda bem nossos<br />

clientes”, ressalta Pedro Paulo Dr<strong>um</strong>mond.<br />

PRECONCEITOS FORA<br />

Dos ternos vendidos, 70% vêm da China. Há preconceito?<br />

“Ainda existe”, respon<strong>de</strong> Pedro Paulo, “mas não afeta nosso<br />

negócio. Prova disso é que temos ganhado mercado”.<br />

O empresário afirma que ainda persiste certo estigma <strong>de</strong><br />

que <strong>um</strong> terno da Cia. do Terno não é bom porque é mais barato:<br />

“Nós trabalhamos com alta qualida<strong>de</strong>. Nossos produtos têm<br />

gran<strong>de</strong> durabilida<strong>de</strong> e é isso que eu quero oferecer cada vez<br />

mais. Existe mercado para todo mundo: dinheiro vale tanto<br />

para quem ganha R$ 700, quanto para quem ganha R$ 100<br />

mil. Sinceramente, quem <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> comprar na nossa loja, para<br />

comprar <strong>um</strong> terno porque ele é mais caro, fica <strong>de</strong> bolso aberto,<br />

está jogando dinheiro pela lapela”.<br />

46 DEZEMBRO DE 2009


DEZEMBRO DE 2009<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

Pedro Paulo<br />

encarou o<br />

conceito <strong>de</strong> que<br />

terno e gravata<br />

cabem em vários<br />

bolsos e tornou<br />

acessível a<br />

tradicional<br />

ind<strong>um</strong>entária<br />

masculina<br />

47


LONGE DOS HOLOFOTES<br />

Plantou <strong>um</strong>a árvore,<br />

escreveu <strong>um</strong> livro e<br />

construiu estádios<br />

Aos 76 anos, Gil César Moreira <strong>de</strong> Abreu, o<br />

responsável pelo projeto <strong>de</strong> engenharia do<br />

Mineirão, continua trabalhando, acaba <strong>de</strong> lançar<br />

<strong>um</strong> livro e teve cinco filhos nos últimos seis anos<br />

ANTONIO CORTELETI<br />

Afoto emoldurada na pare<strong>de</strong> do escritório<br />

<strong>de</strong>nuncia a ligação estreita do<br />

seu dono com o futebol. Entretanto,<br />

no lugar do seu clube <strong>de</strong> coração, o Atlético,<br />

os tentando <strong>um</strong>a faixa <strong>de</strong> campeão, o que se<br />

vê é <strong>um</strong>a fotografia já esmaecida pe lo tempo<br />

do estádio do Mineirão recém-inaugurado,<br />

em 1965. Mais do que a paixão pe lo esporte<br />

mais popular do Brasil, o Gigan te da Pampu -<br />

lha representa o orgulho maior <strong>de</strong> Gil César Mo -<br />

reira <strong>de</strong> Abreu, o engenheiro responsável pe las<br />

<strong>obras</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> dos maiores estádios do mundo e<br />

que está pres tes a passar por <strong>um</strong>a refor mulação<br />

total para a Copa do Mundo <strong>de</strong> 2014.<br />

Aos 76 anos, Gil César segue traba lhan do e<br />

não pensa em se aposentar. No momen to, ele<br />

atua no projeto <strong>de</strong> <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> edifícios re -<br />

si<strong>de</strong>nciais e comerciais em La goa Santa,<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Região Metropolitana <strong>de</strong> Belo Ho rizon<br />

te, on<strong>de</strong> vive há 16 anos. Além <strong>de</strong> trabalhar<br />

na iniciativa priva da e em di versos órgãos públicos,<br />

Gil também atuou na política, tendo sido<br />

eleito ve reador, <strong>de</strong> pu tado estadual e fe<strong>de</strong>ral. No<br />

cur rículo como engenheiro, estão vários ou tros<br />

estádios construídos após o Mineirão, como as<br />

arenas <strong>de</strong> Teresina, João Pessoa, Campina Gran -<br />

<strong>de</strong>, São Luís e Uberlândia, entre outras.<br />

“Após a construção do Mineirão, João Ha -<br />

velange, que era presi<strong>de</strong>nte da Confe<strong>de</strong> ração<br />

Brasileira <strong>de</strong> Desporto (hoje CBF), cha mo<strong>um</strong>e<br />

e disse que pretendia criar <strong>um</strong> campeonato<br />

brasileiro forte, com times <strong>de</strong> todo o país.<br />

Mas, para ter equipes do Norte e Nor<strong>de</strong>ste, era<br />

preciso que essas regiões tivessem estádios<br />

gran<strong>de</strong>s, que motivassem os clubes e a torcida”,<br />

relembra Gil César.<br />

Segundo ele, o ex-presi<strong>de</strong>nte da Fifa também<br />

se comprometeu a apresentá-lo aos go -<br />

ver nadores, <strong>de</strong> modo a facilitar o contato do<br />

engenheiro com os políticos, o que <strong>de</strong> fa to<br />

aconteceu. “O meu maior problema era dissuadir<br />

alguns governadores que queriam cons -<br />

truir estádios <strong>de</strong> até 70 mil pessoas em cida<strong>de</strong>s<br />

como Teresina e João Pessoa, que na época,<br />

não contavam com 300 mil habitantes. Seria<br />

preciso esvaziar a cida<strong>de</strong> para encher o estádio”,<br />

ironiza.<br />

Mas, o maior <strong>de</strong>safio da carreira <strong>de</strong> Gil<br />

César foi, sem dúvida, o Mineirão. Apesar <strong>de</strong><br />

ter apenas 27 anos, o jovem engenheiro civil<br />

formado pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais (UFMG) não se assustou pe ran te o <strong>de</strong>safio<br />

colocado pelo governador Bias For te,<br />

que o convidou para comandar as <strong>obras</strong>. Diante<br />

<strong>de</strong> empreendimento <strong>de</strong> tal porte, Gil<br />

César não hesitou em procurar a referência<br />

para este tipo <strong>de</strong> obra: o professor Arthur Eugênio<br />

Jermann, do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Enge -<br />

nharia Mecânica da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro (UFRJ), responsável pelo projeto<br />

<strong>de</strong> engenharia do Maracanã, o maior estádio<br />

do mundo, inaugurado em 1950 para a<br />

Copa do Mundo.<br />

“O Jermann mostrou as dificulda<strong>de</strong>s que<br />

cost<strong>um</strong>am ocorrer em <strong>obras</strong> <strong>de</strong>sse porte, o que<br />

se <strong>de</strong>ve fazer para evitar trincas e rachaduras.<br />

Por isso, não houve muitas dificulda<strong>de</strong>s técnicas<br />

para construir o Mineirão. Na verda<strong>de</strong>,<br />

o pai da estrutura do Mineirão é o Jermann”,<br />

afirma, h<strong>um</strong>il<strong>de</strong>mente.<br />

Ex-jogador <strong>de</strong> basquete e ex-remador, Gil<br />

César relata que o projeto <strong>de</strong> construir <strong>um</strong> estádio<br />

vinha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1957, quando o <strong>de</strong> pu tado<br />

Jorge Carone Filho apresentou <strong>um</strong> pro jeto na<br />

“<br />

O meu maior problema<br />

era dissuadir alguns<br />

governadores, que queriam<br />

construir estádios <strong>de</strong> até 70<br />

mil pessoas em cida<strong>de</strong>s como<br />

Teresina e João Pessoa, que,<br />

na época, não contavam com<br />

<strong>um</strong>a população <strong>de</strong> 300 mil<br />

habitantes. Seria preciso<br />

esvaziar a cida<strong>de</strong> para encher<br />

o estádio.”<br />

48 DEZEMBRO DE 2009


Assembleia Legislativa que previa a cons -<br />

trução <strong>de</strong> <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> estádio em Mi nas Gerais.<br />

Na época, Gil era presi<strong>de</strong>nte da Fe <strong>de</strong> ração<br />

Universitária <strong>de</strong> Mineira <strong>de</strong> Esportes (FUME),<br />

entida<strong>de</strong> que também planejava cons truir <strong>um</strong><br />

estádio universitário, para 20 mil pessoas. Os<br />

interesses comuns confluíram para <strong>um</strong> único<br />

projeto, apresentado ao governador Bias For -<br />

tes, que prontamente o encampou.<br />

De acordo com o engenheiro, o Mineirão<br />

foi fundamental para o <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

povoamento da região da Pampulha. “Na quela<br />

época, a Pampulha era muito longe e o acesso<br />

era difícil. Ninguém queria ir traba lhar, nem estudar<br />

lá. O reitor da UFMG, Pedro Paulo<br />

Penido, <strong>de</strong>sejava reunir as unida<strong>de</strong>s, antes espalhadas<br />

pela região central, no campus da<br />

Pampulha e enfrentava a resistência dos professores.<br />

Com o projeto do Mineirão, o Penido<br />

<strong>de</strong>cidiu levar adiante a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> cons truir o Centro<br />

Esportivo Universitário (CEU), localizado<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

em frente ao hall principal do Mineirão, o que<br />

motivaria professores e alunos a irem para o<br />

campus”, recorda.<br />

O CEU, cujo projeto <strong>de</strong> engenharia também<br />

foi <strong>de</strong> Gil César, acabou sendo finalizado apenas<br />

em 1971, seis anos após a inauguração do estádio,<br />

que também motivou a abertura <strong>de</strong><br />

avenidas, como a Carlos Luz, construída especificamente<br />

para che gar até a arena e que facilitou<br />

a ocupação da região por em presas, como<br />

a se<strong>de</strong> da Usiminas, e por novos bairros.<br />

COPA DO MUNDO. Satisfeito por ver sua<br />

obra-prima tornar-se <strong>um</strong> dos principais pal -<br />

cos da Copa do Mundo <strong>de</strong> 2014, o cons trutor<br />

do Mineirão confessa não conhecer os<br />

<strong>de</strong>talhes da reforma do Gigante da Pam pulha,<br />

que será feita por <strong>um</strong> escritório <strong>de</strong> arquitetura<br />

<strong>de</strong> Belo Horizonte em as so cia ção com outro<br />

europeu. Na verda<strong>de</strong>, ele não sabe se será<br />

consultor das novas <strong>obras</strong>. “Até agora não<br />

Aos 76 anos, Gil César<br />

Moreira <strong>de</strong> Abreu, o<br />

responsável pelo projeto<br />

<strong>de</strong> engenharia do<br />

Mineirão, continua<br />

trabalhando, acaba <strong>de</strong><br />

lançar <strong>um</strong> livro e é pai <strong>de</strong><br />

cinco filhos nos últimos<br />

seis anos<br />

ÉLCIO PARAÍSO<br />

recebi nenh<strong>um</strong> convite”.<br />

Esta aparente <strong>de</strong>cepção, porém, parece não<br />

fazer frente ao momento ímpar que o enge -<br />

nhei ro tem vivido nos últimos anos. Casado há<br />

15 anos com Tatiana, só aos 70 anos Gil César<br />

conseguiu realizar o sonho <strong>de</strong> ser pai, que veio<br />

em dose quíntupla, com dois casais <strong>de</strong> gêmeos<br />

(Cristal e Gil, <strong>de</strong> seis anos; Hilda e João César,<br />

<strong>de</strong> dois; e Augusto, com seis meses). Outro<br />

motivo <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> para ele foi o lançamento,<br />

há quatro meses, do seu livro <strong>de</strong> memórias “A<br />

construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vida”, no qual ele relata <strong>de</strong>talhes<br />

saborosos da construção do Mineirão e<br />

<strong>de</strong> outros aspectos profissionais e pessoais <strong>de</strong><br />

sua vida.<br />

“Pretendo ver meus filhos crescerem e se<br />

tornarem adultos. Afinal, hoje, muitas pessoas<br />

estão chegando aos cem anos”, diz. Para quem<br />

construiu <strong>obras</strong> eternas como o Mineirão,<br />

chegar a <strong>um</strong> século <strong>de</strong> vida não parece <strong>um</strong> <strong>de</strong>safio<br />

tão difícil assim <strong>de</strong> ser vencido.<br />

49


ALMANAQUE<br />

Guia <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> para<br />

LUÍS AUGUSTO SAMPAIO<br />

ato <strong>Relevante</strong> não recebe apenas cartas <strong>de</strong><br />

empresários e executivos. Mas também <strong>de</strong><br />

muitas leitoras. Destacamos a carta da<br />

gerente <strong>de</strong> <strong>um</strong>a imobiliária. Monique<br />

Stuart (pseudônimo) se mostra muito <strong>de</strong>cepcionada<br />

com os homens <strong>de</strong> negócios. Mineiros em especial,<br />

que se preocupam apenas com trabalho, negócios e<br />

lucros, tratando as mulheres como se fossem <strong>um</strong> nó<br />

<strong>de</strong> gravata ou <strong>um</strong>a meia com buraco no calcanhar.<br />

Ou seja, como simples commodity; no caso, <strong>um</strong>a<br />

comida perecível.<br />

Monique lamenta o <strong>de</strong>saparecimento dos bons<br />

tempos que ela não viveu, aqueles dos livros <strong>de</strong><br />

cavalaria. Entre eles, a história dos 12 cavaleiros da<br />

Távola Redonda. Destaque para o sedutor Sir<br />

Lancelot, o mais perfeito e admirado dos<br />

cavaleiros: “Um homem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s virtu<strong>de</strong>s<br />

pessoais e profissionais”, diz ela.<br />

Bom comportamento que pereceu na poeira dos<br />

séculos. Bons tempos, sim, do refinamento <strong>de</strong><br />

cost<strong>um</strong>es e da valorização das mulheres,<br />

incensadas como fonte inspiradora dos menestréis,<br />

poetas, trovadores e dos garbosos cavalheiros nas<br />

tar<strong>de</strong>s langorosas do amor cortês e dos afetos<br />

<strong>de</strong>senfreados. E tudo isso sem per<strong>de</strong>r o vigor e a<br />

masculinida<strong>de</strong>.<br />

De fato, discutimos o tema com as garotas aqui<br />

da redação e po<strong>de</strong>mos reconhecer, h<strong>um</strong>il<strong>de</strong>mente,<br />

que a competição exacerbada pela sobrevivência<br />

está tornando o homem muito ru<strong>de</strong>. Então<br />

<strong>de</strong>cidimos oferecer aos nossos aturdidos leitores<br />

algo maior que os tormentosos problemas da vida<br />

concreta, como a competição nos negócios ou o<br />

medo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o emprego. Nós todos<br />

necessitamos, isto sim, é <strong>de</strong> paixão, da aventura, da<br />

entrega, <strong>de</strong> abnegação e, sobretudo, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais<br />

irredutíveis e profundos.<br />

Em outras palavras, <strong>de</strong>cidimos criar o Guia <strong>Fato</strong><br />

<strong>Relevante</strong> para o Perfeito Cavalheiro que<br />

apresentaremos <strong>de</strong> forma res<strong>um</strong>ida neste texto.<br />

Claro que fomos buscar ajuda aos nossos colegas<br />

(e ídolos) da revista americana Esquire, eles que<br />

reconhecidamente são experientes PhDs no trato<br />

com as mulheres.<br />

50 DEZEMBRO DE 2009


DEZEMBRO DE 2009<br />

ANDRÉA VIANA/ILUSTRAÇÕES ACIR GALVÃO<br />

51


primeira coisa que<br />

recomendamos ao caro leitor é<br />

fazer <strong>um</strong> teste para saber o grau<br />

do seu cavalheirismo (se existir<br />

alg<strong>um</strong>, claro). Por isso,<br />

apresentamos alg<strong>um</strong>as situações<br />

complicadas, em que você, se não for<br />

<strong>um</strong> perfeito cavalheiro, cairá da escala<br />

<strong>de</strong> Príncipe Encantado para <strong>um</strong><br />

absoluto Zé Mané.<br />

Claro que o cavalheirismo hoje é<br />

mais ameno. As mulheres <strong>de</strong>sejam, no<br />

máximo, que você pague integralmente<br />

a conta do restaurante. Elas não têm o<br />

mínimo temor <strong>de</strong> que, n<strong>um</strong> repente,<br />

você lave a honra <strong>de</strong>la com sangue.<br />

Você não será mais obrigado a<br />

<strong>de</strong>sembainhar a espada para <strong>um</strong> duelo a<br />

cada insulto ou gracejo dirigido à sua<br />

dama. Mas <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> não <strong>de</strong>seja<br />

que você seja o imbecil que leva <strong>um</strong>a<br />

faca para o tiroteio, ou <strong>um</strong> estilingue<br />

para a briga das torcidas.<br />

Nos lhe oferecemos cinco<br />

pontos para dar início à<br />

partida. Adicione ou subtraia<br />

pontos a cada resposta.<br />

Vejamos o seu <strong>de</strong>sempenho<br />

Em <strong>um</strong>a data comemorativa:<br />

a) Você sempre paga o<br />

jantar (+10)<br />

b) Você propõe dividir a<br />

conta (-10)<br />

c) Você a obriga a pagar<br />

os beliscos que <strong>de</strong>u no seu<br />

prato (-10)<br />

d) Esquece (<strong>de</strong> propósito) a<br />

carteira em casa (-20)<br />

Você está na rua e <strong>um</strong>a mulher é<br />

atacada:<br />

a) Você enfrenta o agressor (+20)<br />

b) Olha em volta e busca ajuda <strong>de</strong><br />

alguém forte e corajoso (-5)<br />

c) Apenas grita “covar<strong>de</strong>!” e dá<br />

no pé (-15)<br />

d) Grita “mamãe!“ e dispara rua<br />

abaixo, até on<strong>de</strong> seu fôlego <strong>de</strong>r (-10)<br />

52 DEZEMBRO DE 2009


Quem, no seu modo <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r, sabe<br />

melhor tratar as mulheres:<br />

a) O lí<strong>de</strong>r talibã Mullah Mohammed<br />

Omar (-50)<br />

b) O rei inglês Henrique VIII (-15)<br />

c) Giovanni Casanova (5)<br />

d) Aquela cantora alta e <strong>de</strong> voz<br />

grossa (20)<br />

N<strong>um</strong> trem ou n<strong>um</strong> ônibus lotado,<br />

a quem você ce<strong>de</strong>ria seu lugar:<br />

a) Uma mulher grávida (2)<br />

b) Uma mulher idosa (5)<br />

c) A rainha da bateria da sua escola<br />

<strong>de</strong> samba (10)<br />

d) A nenh<strong>um</strong>a, você resmunga que está<br />

morto <strong>de</strong> cansado (-20).<br />

Alguém passa a mão na bunda da sua<br />

mulher em <strong>um</strong> boteco. Você:<br />

a) Puxa conversa com a pessoa do<br />

lado, para fingir que não viu (10)<br />

b) Espera para ver o que acontece<br />

(po<strong>de</strong> ser que ela goste) (5)<br />

c) Diz que foi <strong>um</strong> aci<strong>de</strong>nte e pra ela<br />

relaxar (-5)<br />

d) Pe<strong>de</strong> a conta e se manda, com<br />

a certeza <strong>de</strong> que a bunda <strong>de</strong>la não<br />

vale <strong>um</strong>a briga<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

Em seu aniversário, sua mulher <strong>de</strong>smaia<br />

e bate com a cabeça no chão. Você:<br />

a) Leva a dona correndo ao hospital<br />

e a <strong>de</strong>ixa lá, para não estragar sua<br />

festa (20)<br />

b) Coloca-a sobre <strong>um</strong>a montanha <strong>de</strong><br />

casacos e exige que ela durma alg<strong>um</strong>as<br />

horas (5)<br />

c) Pergunta para ela por que quer<br />

sempre ser o centro das atenções (-10)<br />

d) Deixa-a <strong>de</strong>itada no lugar on<strong>de</strong><br />

caiu e vai tomar <strong>um</strong>a dose <strong>de</strong> uísque<br />

caubói (10)<br />

Vocês estão n<strong>um</strong> camping e <strong>um</strong>a onça<br />

aparece. Você:<br />

a) Manda a mulher correr (20)<br />

b) Heroicamente, parte na frente,<br />

para limpar o caminho para ela (-20)<br />

c) Pe<strong>de</strong> a ela para ser gentil com a<br />

onça, enquanto você vai buscar<br />

socorro (-10)<br />

d) Escon<strong>de</strong>-se na barraca e pe<strong>de</strong> a<br />

ajuda <strong>de</strong> São Benedito. Ou São<br />

Judas Ta<strong>de</strong>u (-20)<br />

Quando o cavalheirismo está morto<br />

Você está disposto a abrir a<br />

porta, puxar <strong>um</strong>a ca<strong>de</strong>ira ou<br />

pagar a conta no restaurante<br />

para <strong>um</strong>a mulher. Mas está<br />

disposto a vingar a honra<br />

<strong>de</strong>la no caso <strong>de</strong> <strong>um</strong>a ofensa<br />

a <strong>um</strong>a mulher? A honra <strong>de</strong>la<br />

é <strong>um</strong>a extensão <strong>de</strong> você? Ou<br />

é mais importante que sua<br />

própria vida?<br />

Se sua mulher fosse <strong>um</strong> automóvel, ela<br />

seria:<br />

a) Uma Merce<strong>de</strong>s Benz, elegante,<br />

cujo capô lembra <strong>um</strong> leito nupcial (5)<br />

b) Um Aston Martin 1967, aquela<br />

máquina nervosa pilotada por James<br />

007 Bond (10)<br />

c) Um Shelby Cobra 1967 (ano pródigo),<br />

<strong>um</strong> dos carros mais <strong>de</strong>sejados do<br />

mundo (15)<br />

d) Um jipe utilitário, que enfrenta<br />

qualquer parada, sobretudo as compras<br />

<strong>de</strong> supermercado (-5)<br />

e) Uma minivã, utilitária, ótima para<br />

encher <strong>de</strong> crianças (-20)<br />

Mais <strong>de</strong> 100 pontos,<br />

parabéns, você está<br />

inscrito nas fileiras<br />

do Príncipe<br />

Encantado<br />

A maioria não se obriga a respon<strong>de</strong>r a essa questão<br />

pois não vivemos n<strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> baseada na<br />

honra. Mas há aqueles que escolhem viver sob<br />

códigos arcaicos e são obrigados a respon<strong>de</strong>r a<br />

cada insulto. Para eles, a mulher é proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong> homem. Se é insultada, ele também é insultado.<br />

Do tipo “Hei, ele me insultou“; ou,“Eu não gostei<br />

como você está olhando para minha namorada”.<br />

Como resolver? Lembrem-se do inocente que leva<br />

<strong>um</strong>a faca <strong>de</strong> ponta para <strong>um</strong> tiroteio.<br />

53


Quando é certo não pagar<br />

Sim, as mulheres são mais educadas<br />

e provavelmente sobreviverão a<br />

você. Mas, ainda assim, você terá<br />

que pagar quando sair com elas.<br />

Mas nunca:<br />

Em seu aniversário, ou qualquer<br />

outra data que estiver celebrando.<br />

Na compra <strong>de</strong> presente <strong>de</strong><br />

casamento para <strong>um</strong> amigo ou amiga.<br />

E muito menos para essas besteiras<br />

<strong>de</strong> chá <strong>de</strong> panela ou chá <strong>de</strong> solteira.<br />

Quando o pai <strong>de</strong>la estiver à mesa.<br />

Quando você estiver fisicamente<br />

“enfermo” o suficiente para<br />

movimentar o braço para tirar a<br />

carteira do bolso.<br />

s regras e os códigos da<br />

cavalaria são muito bons. Mas é<br />

preciso saber quando <strong>um</strong>a<br />

mulher está mesmo interessada<br />

em cavalaria, digo, cavalheirismo. O<br />

que ela realmente quer, hoje em dia?<br />

Fizemos a pesquisa abaixo com cinco<br />

mulheres. Veja o que respon<strong>de</strong>ram:<br />

O que ela realmente quer<br />

Quando ce<strong>de</strong> seu lugar, você <strong>de</strong>monstra<br />

respeito ou mostra o seu chauvinismo<br />

ultrapassado? Nós estamos entrando<br />

n<strong>um</strong> prédio. Po<strong>de</strong>mos manter a porta<br />

aberta para que você entre?<br />

Isso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>. Se estiver a <strong>um</strong> ou dois<br />

passos à minha frente, espero que você<br />

mantenha a porta abeta. Mas, se estiver<br />

mais à frente, a impressão é que você<br />

<strong>de</strong>seja que eu me apresse. Então,<br />

melhor você seguir seu caminho.<br />

Estamos sentados entre amigos no<br />

restaurante lotado <strong>de</strong> <strong>um</strong> trem. E você<br />

está em pé ao nosso lado. Temos <strong>de</strong><br />

ce<strong>de</strong>r o lugar?<br />

Eu acho que homens se levantarem<br />

para ce<strong>de</strong>r lugar a mulheres jovens e<br />

saudáveis é absolutamente ridículo.<br />

Não é <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> respeito, mas<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong> chauvinismo explicito. Eu sou<br />

perfeitamente capaz <strong>de</strong> ficar em pé.<br />

Não sou nenh<strong>um</strong>a flor <strong>de</strong>licada, que<br />

murchará se não se sentar.<br />

Mas nós po<strong>de</strong>mos achar que você esteja<br />

grávida. Ninguém sabe o que existe na<br />

cabeça nem no ventre <strong>de</strong> vocês.<br />

Nesse caso, é melhor ce<strong>de</strong>r o lugar e<br />

ponto. Sem nada perguntar ou comentar.<br />

Nada mais <strong>de</strong>sagradável que ouvir <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong> homem que está ce<strong>de</strong>ndo o lugar a<br />

<strong>um</strong>a mulher grávida. É como se fosse<br />

<strong>um</strong> <strong>de</strong>ver e, não, <strong>um</strong> gesto <strong>de</strong> gentileza.<br />

Uma mulher está carregando <strong>um</strong>a<br />

gran<strong>de</strong> mala no aeroporto. Não po<strong>de</strong>mos<br />

oferecer ajuda?<br />

Não há nenh<strong>um</strong>a razão para isso. Na<br />

verda<strong>de</strong>, você po<strong>de</strong> estar atrapalhando,<br />

impedindo que se aproxime <strong>de</strong>la alguém<br />

muito mais interessante que você.<br />

Passamos por <strong>um</strong>a mulher andando na<br />

rua e chorando. O que <strong>de</strong>vemos fazer?<br />

Já nos sentimos bastante<br />

<strong>de</strong>sconfortáveis quando estamos<br />

chorando. Nesse momento, o que a<br />

gente menos <strong>de</strong>seja é ser reconhecida<br />

ou enfrentar intromissões. A não ser,<br />

claro, se estivermos chorando porque<br />

o carro furou o pneu ou apresentou<br />

problemas<br />

Você está saindo <strong>de</strong> <strong>um</strong> bar<br />

razoavelmente bêbada, vacila e tropeça.<br />

Devemos ajudar?<br />

Apenas se for para chamar <strong>um</strong> táxi. Ou<br />

perguntar se ainda tenho alg<strong>um</strong> amigo<br />

<strong>de</strong>ntro do bar. Fora disso, vaze, você<br />

assustará até porteiro <strong>de</strong> cemitério.<br />

N<strong>um</strong> estacionamento <strong>de</strong> shopping,<br />

vemos <strong>um</strong>a mulher apanhando <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

homem alto, provavelmente seu<br />

namorado. Devemos fazer alg<strong>um</strong>a<br />

coisa?<br />

Claro que não. Se é briga, <strong>um</strong> dos dois<br />

<strong>de</strong>ve estar chateado. E ainda por cima<br />

vem alg<strong>um</strong> se intrometer. Respeite a<br />

privacida<strong>de</strong> das pessoas. Deixe para lá,<br />

vá cuidar <strong>de</strong> sua vidinha medíocre.<br />

Estamos n<strong>um</strong> bar e percebemos <strong>um</strong>a<br />

mulher sendo abordada <strong>de</strong> forma<br />

agressiva e pouco cavalheiresca.<br />

Po<strong>de</strong>mos entrar em cena?<br />

Você ficou doido? Nós somos mais do<br />

que capazes <strong>de</strong> dispensar qualquer<br />

idiota atrevido ou bicão.<br />

54 DEZEMBRO DE 2009


m cavalheiro nunca sabe<br />

quando será chamado para<br />

entrar em ação. Então, como <strong>um</strong><br />

cavalheiro mo<strong>de</strong>rno, an<strong>de</strong><br />

sempre com as armas indispensáveis<br />

para o exercício <strong>de</strong> suas virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

paladino da cortesia e da elegância:<br />

Caneta<br />

boa para escrever <strong>um</strong><br />

poema <strong>de</strong> amor do Pablo<br />

Neruda no guardanapo e<br />

oferecer para ela. Insinuar<br />

que é <strong>de</strong> sua autoria.Boa<br />

também para preencher o<br />

cheque (com fundos, por<br />

favor) na hora <strong>de</strong> pagar a<br />

conta do restaurante.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

Capa <strong>de</strong> chuva<br />

Lenço<br />

Boa protegê-la da garoa enquanto<br />

saem do carro até a porta da casa<br />

<strong>de</strong>la. Boa também para ser<br />

romântico, cobrindo <strong>um</strong>a poça <strong>de</strong><br />

água na rua com a capa, para que ela<br />

não molhe os pezinhos (não cometa<br />

a indignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ameaçar mandar a<br />

conta da lavan<strong>de</strong>ria para ela).<br />

bom, especialmente para<br />

dois momentos: quando<br />

ela <strong>de</strong>rrama a bebida na<br />

roupa; ou começa a<br />

chorar. Mulher chora por<br />

qualquer coisa, ate por<br />

<strong>um</strong>a nesga <strong>de</strong> anágua<br />

emergindo da saia. Falar<br />

nisso, ainda se usa<br />

anágua? Também bom<br />

para ser colocado <strong>de</strong><br />

forma elegante e discreta<br />

no paletó, naquele bolso<br />

que que fica ao lado do peito.<br />

Isqueiro<br />

bom para lhe<br />

acen<strong>de</strong>r o cigarro; ou<br />

velas coloridas e<br />

perf<strong>um</strong>adas em volta<br />

da banheira <strong>de</strong>la (se<br />

ela <strong>de</strong>ixar você entrar<br />

lá, óbvio). Bom<br />

também para<br />

acen<strong>de</strong>r seu próprio<br />

cigarro, no caso <strong>de</strong><br />

você f<strong>um</strong>ar.<br />

Guarda-chuva<br />

Bom para mantê-la seca<br />

durante <strong>um</strong>a tempesta<strong>de</strong>,<br />

chegando junto sob os<br />

panos e varetas.Bom<br />

também para improvisar<br />

números musicais em<br />

plena rua, como se fosse<br />

Gene Kelly no filme<br />

Singing’ in the rain<br />

(cuidado para não ser<br />

preso, eles po<strong>de</strong>m<br />

confundir você com a<br />

manada <strong>de</strong> doidões que<br />

prolifera na cida<strong>de</strong>).<br />

55


Revelar o quanto custou o seu carro.<br />

Limpar arma na frente <strong>de</strong>la, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong> diálogo ruim.<br />

Referir-se à sua própria mãe como sua<br />

melhor amiga.<br />

Esquecer-se <strong>de</strong> sair com dinheiro.<br />

Falar <strong>de</strong> suas façanhas anteriores com<br />

outras mulheres.<br />

Entrar na frente <strong>de</strong>la no restaurante.<br />

Tentar adivinhar a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>la.<br />

Nunca, jamais, em tempo alg<strong>um</strong>, falar<br />

<strong>de</strong> outros temas impublicáveis como<br />

peso, gorduras (localizadas ou não),<br />

pneuzinhos e outros perigosos<br />

substantivos.<br />

Nunca pergunte a <strong>um</strong>a mulher se ela<br />

está grávida. Pois po<strong>de</strong> estar apenas<br />

acima do peso.<br />

Saiba ouvir. Se ela estiver falando,<br />

cale-se. E pelo menos finja estar<br />

prestando absoluta atenção ao falatório.<br />

Nunca vasculhe a bolsa <strong>de</strong> <strong>um</strong>a mulher.<br />

Mesmo se convidado. Você po<strong>de</strong> sofrer<br />

<strong>de</strong>sagradáveis surpresas. Entre elas,<br />

achar <strong>um</strong> bilhete do Ricardão lá <strong>de</strong>ntro.<br />

Nunca dê or<strong>de</strong>ns a <strong>um</strong>a mulher. Mesmo<br />

no restaurante. Apenas pergunte o que<br />

ela <strong>de</strong>seja comer. E na<strong>de</strong> em felicida<strong>de</strong><br />

se conseguir ao menos <strong>um</strong> muxoxo<br />

como resposta.<br />

Como se comportar<br />

no primeiro encontro<br />

O primeiro dia po<strong>de</strong> ser <strong>um</strong> <strong>de</strong>sastre,<br />

se você se comportar erradamente.<br />

Aqui, sete lições para você fazer a<br />

coisa certa:<br />

Vista-se a<strong>de</strong>quadamente para a<br />

ocasião. Uma roupa discreta e<br />

mo<strong>de</strong>rna. Perf<strong>um</strong>e-se frugalmente.<br />

Não vá ficar cheirando mais que<br />

banca <strong>de</strong> flores no dia <strong>de</strong> finados.<br />

Na hora <strong>de</strong> buscá-la, seja pontual.<br />

Não se apresente bêbado. Dentes<br />

escovados. Vá até à porta. Não leve<br />

flores, ainda não é a hora. Se você<br />

quiser levar <strong>um</strong> presente, escolha<br />

<strong>um</strong> pequeno e aceitável. Nada <strong>de</strong><br />

lingerie (calcinhas e sutiãs,<br />

principalmente), cachorrinhos ou<br />

os esboços <strong>de</strong> suas memórias<br />

inéditas (Deus nos livre!).<br />

Se chamou <strong>um</strong> táxi, abra a porta para<br />

ela, diga o en<strong>de</strong>reço aon<strong>de</strong> estão<br />

indo. Pague o táxi no ato, sem dar a<br />

ela a menor chance <strong>de</strong> tentar pagar.<br />

Caso ela não goste <strong>de</strong> conversar,<br />

ligue o rádio do carro. Mas evite as<br />

emissoras que só falam <strong>de</strong> futebol<br />

ou emitem a gritaria <strong>de</strong> pastores<br />

evangélicos aloprados. Pergunte<br />

o que ela <strong>de</strong>seja ouvir.<br />

No restaurante, <strong>de</strong>ixe que ela entre<br />

primeiro. No final, pague a conta,<br />

sem tentar dividir as <strong>de</strong>spesas.<br />

Ao andar pela rua, caminhe pelo<br />

lado <strong>de</strong> fora da calçada para evitar<br />

que respingos dos carros atinjam o<br />

vestido <strong>de</strong>la. Ofereça seu braço. É<br />

cavalheiresco e é também <strong>um</strong>a<br />

maneira <strong>de</strong> iniciar <strong>um</strong> contato<br />

mais, digamos, epidérmico.<br />

Seja <strong>um</strong> homem, faça seu<br />

movimento. Que Deus esteja<br />

com você.<br />

Dê seqüência à história no<br />

dia seguinte. Ligue para<br />

ela. Se não pu<strong>de</strong>r, você<br />

tem mais 24 horas <strong>de</strong><br />

prazo. Se ela aten<strong>de</strong>r,<br />

agra<strong>de</strong>ça pela<br />

excelente noite e<br />

tente marcar <strong>um</strong><br />

segundo encontro.<br />

Se respon<strong>de</strong>r por<br />

correio <strong>de</strong> voz, peça<br />

a ela para retornar<br />

a ligação. Mas se<br />

ela aten<strong>de</strong>u dizendo<br />

que era da telepizza<br />

e que não se<br />

chama Priscila,<br />

você simplesmente<br />

dançou, está<br />

fora.<br />

56 DEZEMBRO DE 2009


BIANCA ALVES<br />

omens têm sua própria noção <strong>de</strong><br />

cavalheirismo, a qual,<br />

infelizmente para as damas,<br />

raramente condiz com a<br />

realida<strong>de</strong>. Por esse motivo, o Guia <strong>Fato</strong><br />

<strong>Relevante</strong> do Perfeito Cavalheiro<br />

merece <strong>um</strong> a<strong>de</strong>ndo: ao ser escrito por<br />

homens, merece <strong>um</strong> olhar feminino. De<br />

maneira a transformá-lo em <strong>um</strong><br />

instr<strong>um</strong>ento que realmente funcione<br />

com as mulheres. Com esse propósito,<br />

eu e minhas amigas nos reunimos tar<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ssas, no salão da Denise, para fazer as<br />

unhas e respon<strong>de</strong>r ao teste.<br />

Quanto a pagar contas<br />

Na hora <strong>de</strong> pagar a conta, vale apenas<br />

<strong>um</strong>a alternativa: paga quem tem<br />

dinheiro. Ou seja, se o cara está duro por<br />

qualquer razão, a moça tira o cartão <strong>de</strong><br />

débito do bolso. Se é o contrário, seja o<br />

moço. É bom lembrar que, nesta<br />

socieda<strong>de</strong> que ainda discrimina gênero,<br />

os salários das mulheres são menores<br />

que os dos homens, mesmo que<br />

exerçam a mesma função. Daí,<br />

chegamos a <strong>um</strong> <strong>de</strong>sdobramento óbvio:<br />

paga quem ganha mais. E é por essa<br />

razão, nenh<strong>um</strong>a a mais, que homens<br />

bem-sucedidos levam mais mulheres<br />

para jantar (ao restaurante, explique-se).<br />

Ataques na rua<br />

Diante <strong>de</strong> <strong>um</strong> agressor armado, <strong>um</strong> grito<br />

feminino em si bemol maior (?) vai fazer<br />

muito mais efeito do que quaisquer<br />

músculos <strong>de</strong>senvolvidos em aca<strong>de</strong>mia.<br />

Ou seja, não adianta dar <strong>um</strong>a <strong>de</strong><br />

super-herói, ou chamar o Batman da<br />

esquina. De maneira geral, quando <strong>um</strong><br />

casal é atacado, os dois <strong>de</strong>vem ficar<br />

quietinhos e não reagir, para segurança<br />

do casal. Qualquer policial vai dar esse<br />

conselho.<br />

Homens que conhecem as mulheres<br />

Existem homens tão sensacionais que,<br />

raras exceções anotadas, as próprias<br />

mulheres acham que eles merecem mais<br />

do que <strong>um</strong>a <strong>de</strong>las. O homem que melhor<br />

trata as mulheres é aqueles que as ouve,<br />

as ajuda, as respeita e... transa bem, é<br />

claro. Esse último quesito, se associado<br />

à estampa <strong>de</strong> <strong>um</strong> George Clooney ou<br />

Brad Pitt, dispensa os outros.<br />

DEZEMBRO DE 2009<br />

Hora <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r o lugar<br />

Para começar, ninguém ce<strong>de</strong> lugar<br />

para ninguém em restaurante. Quem<br />

chegou primeiro, fica com a mesa.<br />

Quanto aos ônibus, trens e filas, pense<br />

bem: a mulher trabalhou o dia inteiro,<br />

normalmente em cima <strong>de</strong> <strong>um</strong> salto<br />

vertiginoso. Po<strong>de</strong> estar menstruada, o<br />

que não lhe dá licença <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas<br />

lhe ren<strong>de</strong> dores nas pernas e cólicas<br />

inimagináveis para os garotos que<br />

acreditam ser <strong>um</strong> chute no saco o ápice<br />

da dor (TPM explica). Seja gentil, quem<br />

sabe a gentileza não ren<strong>de</strong> <strong>um</strong> jantar<br />

<strong>de</strong>pois? Que você vai pagar, é claro.<br />

Quanto a grávidas e idosas, se você<br />

ainda não sabe que <strong>de</strong>ve ce<strong>de</strong>r o lugar<br />

para elas, você não <strong>de</strong>ve ter mãe.<br />

Sobre agarrar bundas<br />

Esse é <strong>um</strong> mandamento feminino:<br />

se alguém agarrar sua bunda perto<br />

do seu homem, disfarce e finja que<br />

nada aconteceu. Estique o vestido e<br />

relaxe, pois coisas assim não tiram<br />

pedaço. Se você contar, o mínimo<br />

que vai rolar é <strong>um</strong>a briga <strong>de</strong> voar<br />

ca<strong>de</strong>iras, o que vai acabar com sua<br />

noite. E se o “agressor” for mais forte,<br />

pior ainda: seu namorado vai acabar<br />

no hospital. O pior tipo <strong>de</strong> mulher é<br />

aquela que chega para seu homem<br />

e diz: “Beemmm, aquele cara<br />

pegou na minha bunda”. Tenha<br />

certeza, ela não te ama, só quer<br />

ver o circo pegar fogo.<br />

Sobre a mulher que <strong>de</strong>smaia em<br />

seu aniversário.<br />

Pelo amor <strong>de</strong> Deus, leve-a ao hospital!!!!<br />

Não existe mais nada que você possa<br />

fazer nesse caso. Se não levar, nem o<br />

George Clooney salva...<br />

Sobre onças que aparecem em<br />

acampamento<br />

Você <strong>de</strong>ve ser <strong>um</strong> péssimo namorado.<br />

Com tanto lugar legal para passear – que<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>um</strong>a tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> domingo<br />

pescando na Pampulha até <strong>um</strong> passeio<br />

<strong>de</strong> gôndola em Veneza – você a levou<br />

justamente para <strong>um</strong> acampamento<br />

nos confundós <strong>de</strong> Tocantins?<br />

Se sua mulher fosse <strong>um</strong> automóvel,<br />

ela seria:<br />

O que você pu<strong>de</strong>r comprar.<br />

Enfim, nunca se esqueça que coisas<br />

como pagar a conta ou ce<strong>de</strong>r o lugar têm<br />

a ver com cuidado e gentileza.<br />

Ingredientes fundamentais para <strong>um</strong>a boa<br />

amiza<strong>de</strong> e meta<strong>de</strong> do caminho andado<br />

para <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> amor.<br />

57


MÁRCIO RUBENS PRADO<br />

O menino vai nascer<br />

À medida em que eu vou<br />

batucando a memória e<br />

bebendo, vou-me<br />

sentindo incomodado. E<br />

com <strong>um</strong> gostinho <strong>de</strong><br />

frustração.<br />

Porque sinto você por<br />

perto.<br />

Claro, você não está.<br />

Não vai haver ruído <strong>de</strong><br />

campainha tocando.<br />

Nem telefone<br />

chamando.<br />

Talvez o interfone do<br />

prédio chame.<br />

Mas para dizer que a<br />

conta do telefone<br />

chegou.<br />

Ah, Blanquita, seria bom que você estivesse<br />

aqui.<br />

Para ver a fúria com que o povo se atira<br />

às compras.<br />

Até os tarados não mais dizem vou às<br />

mulheres.<br />

Monocórdios e repetitivos, em estado <strong>de</strong><br />

nítida ereção cons<strong>um</strong>itória, anunciam: “Vou<br />

às compras.<br />

O trânsito, se visto lá <strong>de</strong> cima, obrigaria<br />

Jeová a repensar à criação do mundo.<br />

Ou seja, em matéria <strong>de</strong> caos, o nosso<br />

trânsito dá <strong>de</strong> <strong>de</strong>z a zero naquele que prece<strong>de</strong>u<br />

a criação do paraíso e o momento<br />

proibido e gostoso que Adão e Eva viveram.<br />

Quanto ao gostoso, nem digo tanto. Os<br />

dois, certamente, pecaram pela inexperiência.<br />

O verbo pecar, ai, por favor, arr<strong>um</strong>e a<br />

semântica direitinho, para saber aon<strong>de</strong><br />

quero chegar.<br />

E chegar é o mais difícil nestes dias turbulentos.<br />

Mineiro, que já carrega o estigma <strong>de</strong><br />

chamar a gente e ir andando, neste <strong>de</strong>zembro<br />

bate todos os recor<strong>de</strong>s <strong>de</strong> impontualida<strong>de</strong>.<br />

Encontros, não os marque.<br />

Mesmo aquele por que se esperaram<br />

meses. Ou anos.<br />

Você, se reaparecesse <strong>de</strong> repente nesta<br />

galopante cida<strong>de</strong>, jamais me veria chegar<br />

como <strong>um</strong> Concor<strong>de</strong> em viagem inaugural.<br />

Ou como cavalo pampa <strong>de</strong> vovô Vicente,<br />

que arrasou com <strong>um</strong> cavalo alazão <strong>de</strong> Conceição<br />

<strong>de</strong> Mato Dentro, n<strong>um</strong>a corrida que<br />

inventaram em Carmésia, então chamada<br />

Viamão, ali pelos anos 20.<br />

Corria-se a cavalo, naquele tempo.<br />

Afora o ecológico esterco que produzem,<br />

os cavalos não provocavam engarrafamentos.<br />

Nem buzinas. Mal e mal alguns relinchos<br />

<strong>de</strong> satisfação, vez por outra. Então, a<br />

vida trotava em poesias.<br />

E tranquilida<strong>de</strong>.<br />

Foi só virar a esquina da memória e lembrar-me<br />

do cavalo <strong>de</strong> vovô e nasceu <strong>um</strong>a<br />

súbita paz no ar.<br />

Como aquele moço <strong>de</strong> Itabira, gran<strong>de</strong><br />

poeta, estou sozinho no quarto.<br />

E sozinhíssimo nas Américas.<br />

Eu, minha máquina <strong>de</strong> escrever, <strong>um</strong>as<br />

azeitonas que pesquei na gela<strong>de</strong>ira. E <strong>um</strong>a<br />

bebida n<strong>um</strong> cálice.<br />

Dizer verda<strong>de</strong>, nem sei qual seja. A bebida.<br />

Pus duas pedras <strong>de</strong> gelo n<strong>um</strong> copo, enfiei<br />

a mão no barzinho – aquele <strong>de</strong> vime, você<br />

conhece –, peguei o primeiro litro que achei,<br />

abri, fui pondo.<br />

Enchi o copo, até à borda. E vou to -<br />

mando. E escrevendo.<br />

Nunca menti para você. Assim, confesso<br />

que já estou no segundo cálice.<br />

Ou será o terceiro?<br />

Nem me lembro.<br />

À medida em que eu vou batucando a<br />

memória e bebendo, vou-me sentindo incomodado.<br />

E com <strong>um</strong> gostinho <strong>de</strong> frustração.<br />

Porque sinto você por perto.<br />

Claro, você não está.<br />

Não vai haver ruído <strong>de</strong> campainha tocando.<br />

Nem telefone chamando.<br />

Talvez o interfone do prédio chame.<br />

Mas para dizer que a guia do IPTU<br />

chegou.<br />

Ou da luz. Da água, não, já vem na taxa<br />

do condomínio.<br />

Não consigo ficar sentado.<br />

Chego à janela.<br />

Aqui da Serra vê-se quase toda a cida<strong>de</strong>.<br />

E as luzes, em forma <strong>de</strong> árvores, <strong>de</strong> flores<br />

ou do que seja, explo<strong>de</strong>m pelas encostas,<br />

pelas ilhargas dos edifícios, pelas esteiras <strong>de</strong><br />

fios espichados nos vãos das praças.<br />

Das bandas oeste da cida<strong>de</strong>, vem o ruído<br />

pesado do tráfego.<br />

Quase <strong>de</strong>z da noite.<br />

Os compradores estão voltando para<br />

casa.<br />

Não há como <strong>de</strong>smentir.<br />

É o Natal que está no ar.<br />

Volto da janela. Sento-me. É preciso terminar<br />

esta conversa.<br />

Pois que se acabe a crônica.<br />

O que não acaba é essa súbita vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

continuar bebendo.<br />

E fazer alg<strong>um</strong>a coisa. Chorar, talvez.<br />

58 DEZEMBRO DE 2009

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!