ENTREVISTA Marcio Lacerda/Prefeito <strong>de</strong> Belo Horizonte O primeiro ano <strong>de</strong> governo do socialista Márcio Lacerda Prefeito preparou o terreno, em 2009, para gran<strong>de</strong>s investimentos na cida<strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong>ste ano DURVAL GUIMARÃES N<strong>um</strong>a época em que se leem e se ou - vem tantas notícias <strong>de</strong>vastadoras so bre a administração do dinheiro público, Belo Horizonte se revela <strong>um</strong>a ci da - <strong>de</strong> <strong>de</strong> sorte. Dos prefeitos <strong>de</strong> todas as ci da - <strong>de</strong>s brasileiras, Lacerda é, pessoalmente o mais rico. Basta <strong>um</strong> exame nas <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> bens que os can di datos apresentaram na época elei to ral. Mais ainda: apesar <strong>de</strong> dono <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fortuna, sempre revelou <strong>um</strong> imenso <strong>de</strong>sa pego pelos bens materiais. É o que dizem seus ex-companheiros <strong>de</strong> luta armada. Segundo os seus quase cem compa nhei - ros <strong>de</strong> prisão, encarcerados no período da ditadura, Márcio Lacerda (PSB) jamais se esqueceu <strong>de</strong>les. Principalmente <strong>de</strong>pois que fo ram jogados na rua, sem trabalho ou qual quer fonte <strong>de</strong> renda. A uns <strong>de</strong>u empre - go; e a outros emprestou dinheiro, que jamais recebeu <strong>de</strong> volta. Para <strong>um</strong> terceiro gru po, que incluía o ex-prefeito Fernando Pi mentel, assinou a carteira profissional, com o propósito <strong>de</strong> iludir os entrevistadores das empresas on<strong>de</strong> eles iam buscar <strong>um</strong>a co - lo cação <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>. Quando saiu da prisão, com todas as por tas fechadas para ele, Márcio Lacerda foi obrigado a montar sua própria empresa. Com sucesso total: pouco tempo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cria da, sua empresa <strong>de</strong> instalação <strong>de</strong> linhas te lefônicas, a Construtel, chegou a faturar US$ 500 milhões anuais. Por conta da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho e da criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Márcio. Mais ainda, tornou-se <strong>um</strong>a multina cional, com negócios em vários países da América do Sul. É justo lembrar a prisão daqueles jovens estudantes que, como ele, pegaram em ar - mas e arriscaram a vida (muitos morreram sob tortura ou tiro) em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> <strong>um</strong> i<strong>de</strong>al. Consi<strong>de</strong>rados elementos <strong>de</strong> alta periculosida<strong>de</strong>, foram isolados na penitenciária <strong>de</strong> Linhares, em Juiz <strong>de</strong> Fora, inteiramente reservada para eles. Por qualquer ato consi<strong>de</strong>rado indisciplinar, eram colocados na solitária, privados até <strong>de</strong> ver a luz do dia. Muitos <strong>de</strong>sses jovens, hoje respeitáveis senhores <strong>de</strong> cabelos brancos, são seus companheiros na Prefeitura. E, pelas ironias da História, chegaram ao po<strong>de</strong>r não pelo terror da armas, mas pela força <strong>de</strong>mocrática dos votos. Então, chega a ser bizarro dizer que Márcio não tem experiência política. Logo ele, que teve tanta militância na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>. Pouca gente sabe, mas Márcio, durante toda a vida <strong>de</strong> empresário, foi o si lencioso mantenedor do Partido Popular Socialista, sucessor do velho Partido Comunista Braseiro. Na Construtel, distribuía, anualmente, os lucros entre os seus funcio - nários. E, quando a ven<strong>de</strong>u, repartiu 20% do dinheiro com todos os empregados. As faxineiras mais mo<strong>de</strong>stas, por exemplo, ga - nharam pelo menos US$ 20 mil cada <strong>um</strong>a, n<strong>um</strong>a doação até hoje sem similar no país. Uma coisa é alguém <strong>de</strong>dicar sua vida à luta política. Outra, bem diferente, é admi - nis trar <strong>um</strong>a cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> todas as correntes políticas e interesses <strong>de</strong>vem conviver civilizadamente. Isso, sim, é <strong>um</strong>a experiência que Márcio vivencia pela primeira vez na vida, aos 60 anos. No seu primeiro dia <strong>de</strong> administração, não houve <strong>um</strong> batismo <strong>de</strong> fogo. Mas <strong>um</strong> dilúvio das águas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a tempesta<strong>de</strong> que inundou a cida<strong>de</strong>, atingiu milhares <strong>de</strong> casas e levou famílias ao <strong>de</strong>sespero. Terá sido <strong>um</strong> bom começo do trabalho <strong>de</strong> Márcio para ad ministrar a complexa, inquieta e galopante cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte? “ Temos <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> programa <strong>de</strong> <strong>obras</strong>, ÉLCIO que será <strong>de</strong>flagrado após as chuvas <strong>de</strong> verão. Já contratamos muitos projetos executivos para novas <strong>obras</strong>”. <strong>Fato</strong> <strong>Relevante</strong> - O senhor ass<strong>um</strong>iu a pre - fei tura <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> chuva. E elas se re pe ti - ram fortemente várias vezes no ano. Como é governar sob as águas? Na noite do meu primeiro dia <strong>de</strong> gover - no, houve <strong>um</strong>a chuva <strong>de</strong>vastadora. Mais <strong>de</strong> três mil residências foram invadidas pelas águas ou sofreram alg<strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> dano. Foi <strong>um</strong> sofrimento enorme para a população. Mas, reagimos, no ato. O resultado é que ho - je temos <strong>um</strong> mapa <strong>de</strong>talhado e seguro das áreas <strong>de</strong> inundação. Sabia que aqui em Belo Horizonte são mais <strong>de</strong> 80? Esse mapa é no - vida<strong>de</strong>, original. Nem São Paulo, castigada in tensamente com inundações quase crônicas, tem esse diagnóstico.Na verda<strong>de</strong>, estamos dando continuida<strong>de</strong> a <strong>um</strong> trabalho <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong> riscos: já retiramos <strong>de</strong>z mil famílias <strong>de</strong> áreas sujeitas a <strong>de</strong>sabamento. Claro que, em quatro anos, não resolveremos todos esses problemas, por falta <strong>de</strong> recur sos financeiros. Mas, com certeza, o pro blema daquela área da Avenida Teresa Cristina, que tinha inundações frequentes, se rá resolvido em menos <strong>de</strong> dois anos. Qual a marca do seu primeiro ano <strong>de</strong> ad mi - nistração? Nós colocamos em marcha o nosso plano <strong>de</strong> governo, divulgado durante a campanha e lei toral. Conseguimos formatar <strong>um</strong> plano estratégico, com visão <strong>de</strong> longo prazo. Esta be - lecemos <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão, que consis te no acompanhamento <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong> cada obra, <strong>de</strong> cada ação. Criamos 12 áreas <strong>de</strong> resultados 10 DEZEMBRO DE 2009 PARAÍSO
DEZEMBRO DE 2009 11