i COPPE/UFRJ A MODELAGEM HIDRODINÂMICA COMO AUXÍLIO ...
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<strong>COPPE</strong>/<strong>UFRJ</strong><br />
A <strong>MODELAGEM</strong> <strong>HIDRODINÂMICA</strong> <strong>COMO</strong> <strong>AUXÍLIO</strong> À NAVEGAÇÃO NO<br />
CANAL NORTE DO ESTUÁRIO DO AMAZONAS<br />
Maria Fernanda Rezende Arentz<br />
Dissertação de Mestrado apresentada ao<br />
Programa de Pós-graduação em Engenharia<br />
Oceânica, <strong>COPPE</strong>, da Universidade Federal do<br />
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos<br />
necessários à obtenção do título de Mestre em<br />
Engenharia Oceânica.<br />
Orientadora: Susana Beatriz Vinzon<br />
Rio de Janeiro<br />
Abril de 2009<br />
i
A <strong>MODELAGEM</strong> <strong>HIDRODINÂMICA</strong> <strong>COMO</strong> <strong>AUXÍLIO</strong> À NAVEGAÇÃO NO<br />
CANAL NORTE DO ESTUÁRIO DO AMAZONAS<br />
Maria Fernanda Rezende Arentz<br />
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO<br />
LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA<br />
(<strong>COPPE</strong>) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO <strong>COMO</strong> PARTE<br />
DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE<br />
EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA OCEÂNICA.<br />
Aprovada por:<br />
_____________________________________________<br />
Prof a Susana Beatriz Vinzon, D. Sc.<br />
_____________________________________________<br />
Prof. Paulo Cesar Colonna Rosman, Ph. D.<br />
_____________________________________________<br />
Dr. Reinaldo Antonio Ferreira de Lima, D. Sc.<br />
_____________________________________________<br />
Dr. Antonio Fernando Garcez Faria, Ph. D.<br />
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL<br />
ABRIL DE 2009<br />
ii
Arentz, Maria Fernanda Rezende<br />
A Modelagem Hidrodinâmica como Auxílio à<br />
Navegação no Canal Norte do Estuário do Amazonas/<br />
Maria Fernanda Rezende Arentz. – Rio de Janeiro:<br />
<strong>UFRJ</strong>/<strong>COPPE</strong>, 2009.<br />
XVI, 166 p.: il.; 29,7 cm.<br />
Orientadora: Susana Beatriz Vinzon<br />
Dissertação (mestrado) – <strong>UFRJ</strong>/ <strong>COPPE</strong>/ Programa de<br />
Engenharia Oceânica, 2009.<br />
Referencias Bibliográficas: p. 133-139.<br />
1. Modelagem Hidrodinâmica. 2. Maré. 3. Estuário do<br />
Rio Amazonas. I. Vinzon, Susana Beatriz. II.<br />
Universidade Federal do Rio de Janeiro, <strong>COPPE</strong>,<br />
Programa de Engenharia Oceânica. III. Título.<br />
iii
“Deus ao mar o abismo e o perigo deu,<br />
Mas nele é que espelhou o céu.” (Fernando Pessoa)<br />
iv
AGRADECIMENTOS<br />
À Marinha, representada pela DHN e pelo CHM, pela oportunidade de realizar o<br />
mestrado, pela disponibilidade de recursos, dados e informações em todos os<br />
momentos.<br />
À FINEP por ter financiado o projeto “Modelagem hidrodinâmica e monitoramento<br />
do nível do mar na Barra Norte do Rio Amazonas – Correção de sondagens para<br />
construção da Carta Náutica” do qual faz parte esta dissertação.<br />
À professora Susana pela sua orientação e dedicação. Obrigada por me motivar a<br />
buscar cada vez mais conhecimento e embasamento para este trabalho, fornecendo<br />
preciosas sugestões nas horas certas.<br />
Ao Comandante Marcelo, meu orientador do CHM, por toda a confiança depositada<br />
desde que ingressei na DHN. Obrigada por ter acompanhando a minha trajetória como<br />
um exemplo a ser seguido.<br />
Ao Comandante Augusto coordenador do projeto “Modelagem hidrodinâmica e<br />
monitoramento do nível do mar na Barra Norte do Rio Amazonas – Correção de<br />
sondagens para construção da Carta Náutica” por todo apoio e confiança.<br />
Ao Almirante Ferreira de Lima, Comandante Garcez e Professor Rosman, por terem<br />
aceitado integrar a banca, contribuindo para melhorar este trabalho. Especialmente, à<br />
professora Josefa pela disponibilidade e compreensão.<br />
Foi uma grata satisfação integrar a equipe do LDSC. Agradeço a todos os amigos do<br />
laboratório, em particular à Luana, Marcos, Rodrigo, Carla, Gabriela, Débora, Iran e<br />
Leonardo pela colaboração em todas as etapas do curso e do desenvolvimento desta<br />
dissertação e pelo respeito, profissionalismo e cordialidade com que fui tratada. A<br />
amizade de vocês será guardada para sempre.<br />
À tripulação do NHi Sirius e em especial aos Comandante Costa Neves, que<br />
contribuiu para a idealização do projeto Barra Norte, e ao Comandante Leandro, que<br />
prosseguiu com as atividades do navio com o mesmo empenho.<br />
Aos Comandantes Norberto e Torres, que à frente do CHM-30 prestaram inestimável<br />
apoio durante e após o curso.<br />
A toda a equipe do DHN-20, pelo auxílio e a orientação durante o mestrado,<br />
especialmente ao Comandante Alenquer.<br />
Ao SSN-4 pelo apoio com as estações maregráficas.<br />
Ao SHOM, na pessoa do Comandante Yves Guillam, pela oportunidade de estágio em<br />
um centro de excelência em hidrografia, e a Dra. Lucia Pineau-Guillou pela<br />
receptividade e por todas as informações prestadas e material técnico cedido.<br />
v
A todos os professores do PENO, pelos ensinamentos passados e aos funcionários<br />
pela atenção dispensada.<br />
Aos que me fizeram aprender a gostar das marés e me levaram de alguma forma a<br />
escolher o tema desta pesquisa: Almirante Franco, Suboficial Cardoso, Professor<br />
Geraldo e Venceslau (Robusto).<br />
À Divisão de Levantamentos e aos hidrógrafos e não-hidrógrafos que por ela<br />
passaram e que me inspiram a tentar entender a Barra Norte, em especial o<br />
Comandante Briones e o Comandante Magno.<br />
Aos velhos e novos companheiros da Seção de Marés (e agregados): Neide, Priscila,<br />
Borba, Caúla, Comandante Mauricio e todos os militares e civis que também<br />
registraram o nome naquela régua de marés e ajudaram a construir esse legado. Em<br />
particular à minha chefe, Comandante Rosuita, que me encorajou a apostar nesta<br />
capacitação profissional e acreditou na proposta deste trabalho.<br />
Ao Alberto, pelo atendimento primoroso hoje e sempre, fornecendo os dados do<br />
BNDO com presteza e eficiência.<br />
Ao Comandante Ramos, futuro parceiro nos desdobramentos deste trabalho, pelo<br />
espírito de coleguismo, pelo auxílio com os dados do FES2004 e pelas aulas de<br />
geodésia.<br />
À Flavia e à Comandante Ana Angélica, pelo ótimo trabalho com o Geosoft que tanto<br />
valorizou a apresentação dos resultados finais.<br />
Aos colegas da Área da Costeira pelo excelente convívio nestes últimos anos e pela<br />
amizade que permanecerá. Agradeço principalmente à Sonia, por todos estes anos de<br />
amizade e trocas de experiência na oceanografia e nas coisas da vida.<br />
À Marise, por tudo que ela é e representa para nós alunos da Costeira. Obrigada<br />
especialmente pelo carinho naqueles momentos mais complicados.<br />
À minha família, especialmente aos meus pais. Nenhuma palavra pode expressar a<br />
gratidão e orgulho que sinto por vocês.<br />
À Carolina minha querida filha, que cresceu junto com este trabalho e foi minha<br />
maior fonte de inspiração e alegria: muito obrigada!<br />
Ao Carlos companheiro querido de todos os momentos, pelo seu otimismo e<br />
serenidade, amor e paciência que nunca me deixarão esmorecer perante os desafios da<br />
vida. Dedico esta dissertação a você e à nossa filhinha.<br />
vi
Resumo da Dissertação apresentada à <strong>COPPE</strong>/<strong>UFRJ</strong> como parte dos requisitos<br />
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)<br />
A <strong>MODELAGEM</strong> <strong>HIDRODINÂMICA</strong> <strong>COMO</strong> <strong>AUXÍLIO</strong> À NAVEGAÇÃO NO<br />
CANAL NORTE DO ESTUÁRIO DO AMAZONAS<br />
Orientadora: Susana Beatriz Vinzon<br />
Programa: Engenharia Oceânica<br />
Maria Fernanda Rezende Arentz<br />
Abril/2009<br />
O Canal Norte do estuário do rio Amazonas, nas proximidades da Barra Norte,<br />
se configura como uma área crítica para a navegação, em virtude da elevada taxa de<br />
migração de bancos arenosos aliada a um regime de macro-maré. O objetivo<br />
principal deste trabalho é aplicar a modelagem hidrodinâmica como ferramenta para a<br />
determinação de níveis de redução da carta náutica e para a redução de sondagens em<br />
levantamentos hidrográficos, contribuindo para melhorar as condições de<br />
navegabilidade e segurança da região. Experimentos numéricos realizados com o<br />
modelo hidrodinâmico 2DH reproduziram cenários de um ano e consideraram como<br />
principais forçantes a vazão fluvial e a maré astronômica. As séries temporais de<br />
elevações simuladas foram confrontadas aos dados maregráficos observados e<br />
analisadas pelo método harmônico, gerando como resultado mapas de variação de<br />
níveis de redução e LAT. Os resultados do modelo foram utilizados, com um bom<br />
nível de confiança (incertezas de 5%), na correção de maré de um conjunto recente de<br />
dados batimétricos. A sensibilidade do modelo às variações na batimetria foi<br />
igualmente avaliada a fim de permitir a validação do método. A metodologia se<br />
mostrou particularmente útil para a correção de dados batimétricos e para a previsão<br />
de níveis d’água. No entanto, para a adoção do método é fundamental que,<br />
concomitantemente aos levantamentos hidrográficos, sejam coletados dados de maré<br />
nas áreas mais estratégicas.<br />
vii
Abstract of Dissertation presented to <strong>COPPE</strong>/<strong>UFRJ</strong> as a partial fulfillment of the<br />
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)<br />
THE USE OF HYDRODYNAMIC MODELING IN NAVIGATION AIDS ALONG<br />
THE NORTHERN CHANNEL OF THE AMAZON ESTUARY<br />
Advisor: Susana Beatriz Vinzon<br />
Department: Ocean Engineering<br />
Maria Fernanda Rezende Arentz<br />
April/2009<br />
The Northern Channel of the Amazon Estuary is considered a critical area for<br />
navigation due to sandy banks high rate of migration and macrotides occurrence. The<br />
main purpose of this work is to apply hydrodynamic modeling for determining<br />
nautical chart datum and reducting sounding data in order to improve the navigability<br />
and safety in that area. The hydrodynamic 2DH model was forced by astronomical<br />
tide and river flow in order to generate one year of simulations. The forecasted water<br />
level time series has been compared to tide-gauge observations and further analyzed<br />
with the harmonic method producing nautical chart datum maps. Modeling results<br />
have been used to implement reliable tidal corrections in a set of recent bathymetric<br />
data. Uncertainties of 5% were found in the overall results. Model sensitivity related<br />
to variations in the bathymetry has also been assessed to support the validation of the<br />
method. This methodology was considered particularly useful for bathymetric data<br />
correction and for water level predictions. However, even using the presented tool it is<br />
essential to collect water level data in strategic places during the hydrographic survey.<br />
viii
SUMÁRIO<br />
Capítulo 1.........................................................................................................................1<br />
1. Introdução ...................................................................................................................1<br />
1.2. A navegação na Barra Norte do rio Amazonas..................................................2<br />
1.3. Motivação técnico-científica..............................................................................4<br />
1.4. Objetivo Geral....................................................................................................9<br />
1.5. Objetivos Específicos.........................................................................................9<br />
1.6. Estruturação da dissertação..............................................................................10<br />
Capítulo 2.......................................................................................................................12<br />
2. Revisão Metodológica ...............................................................................................12<br />
2.1. Introdução ........................................................................................................12<br />
2.2. Os datums verticais de maré segurança para a navegação: NR e LAT ...........18<br />
2.3. A redução de sondagens...................................................................................24<br />
2.4. A previsão de marés.........................................................................................28<br />
Capítulo 3.......................................................................................................................32<br />
3. Caracterização da área de estudo............................................................................32<br />
Capítulo 4.......................................................................................................................40<br />
4. A modelagem hidrodinâmica...................................................................................40<br />
4.1. Malha de Elementos Finitos.............................................................................42<br />
4.2. Cenários de Modelagem ..................................................................................43<br />
4.3. Condições de contorno, batimetria e rugosidade considerados nas<br />
simulações...............................................................................................................44<br />
4.3.1. Batimetria..................................................................................................45<br />
4.3.2. Rugosidade de fundo.................................................................................48<br />
4.3.3. Condições de Contorno Fluvial: vazão dos rios afluentes........................50<br />
4.3.4. Condições de Contorno Oceânica: a maré astronômica ...........................52<br />
Capítulo 5.......................................................................................................................57<br />
5. Ajuste do Modelo e análises de sensibilidade à batimetria ...................................57<br />
5.1. Dados e informações consideradas para o ajuste do modelo...........................57<br />
ix
5.2. A qualificação das séries simuladas.................................................................61<br />
5.3. Resultados das Simulações ..............................................................................63<br />
5.4. Teste de sensibilidade do modelo à batimetria ................................................79<br />
5.5. Resultados do teste de sensibilidade à batimetria............................................81<br />
Capítulo 6.......................................................................................................................88<br />
6. Análise e discussão dos resultados...........................................................................88<br />
6.1. O cálculo do Nível de Redução e do Lowest Astronomical Tide (LAT) .........88<br />
6.2. Mapas de distribuição espacial do NR e LAT .................................................89<br />
6.3. Procedimentos adotados para a redução de sondagens..................................101<br />
6.4. Considerações sobre a interpolação linear.....................................................110<br />
6.5. Redução das sondagens: resultados obtidos ..................................................112<br />
6.6. Previsão dos níveis.........................................................................................124<br />
Capítulo 7.....................................................................................................................128<br />
7. Conclusões e Recomendações.................................................................................128<br />
Capítulo 8.....................................................................................................................133<br />
8. Referências Bibliográficas......................................................................................133<br />
APÊNDICES ...............................................................................................................140<br />
Apêndice A (Formulações matemáticas dos modelos adotados) ............................140<br />
Apêndice B (Constantes Harmônicas e Fichas de Descrição de Estação<br />
Maregráfica)................................................................................................................147<br />
Apêndice C (Projeto BATHYELLI (SHOM, França).............................................163<br />
Apêndice D (Rotinas de Matlab) ...............................................................................165<br />
x
ÍNDICE DE FIGURAS<br />
Figura 1 – Linhas batimétricas de 10m indicando a posição dos bancos e sua<br />
evolução temporal de (a) 1983 a 1986, (b) 1986 a 1990, (c) 1990 a 1998, e (d)<br />
1998 a 2001 (OLIVEIRA e VINZON, 2004). .........................................................3<br />
Figura 2 – Esquema de redução de sondagens (modificação de desenho cedido pelo<br />
CHM) ...................................................................................................................15<br />
Figura 3 – Gráfico com os valores de IVT máximos permitidos por categoria de LH<br />
(IHO, 2008)..........................................................................................................18<br />
Figura 4 – Mapa da área de estudo com isolinhas de batimetria. O retângulo<br />
vermelho indica a região de interesse para este trabalho (Barra Norte). No<br />
detalhe, o polígono de cor laranja reproduz a área de redução de sondagens<br />
adotada pela DHN e os círculos de cor azul representam os pontos de fundeio<br />
realizados pelo NHi Sirius nos anos de 2006 e 2007. .........................................33<br />
Figura 5 – Carta náutica número 200 editada pela DHN, apresentando a região de<br />
interesse. ..............................................................................................................34<br />
Figura 6 – Mapa de assimetria da maré (FERNANDES, 2006): região em azul<br />
representando assimetria positiva (tempo de enchente menor do que 6 horas) e,<br />
em vermelho, assimetria negativa (tempo de enchente maior do que 6 horas)...36<br />
Figura 7– Malha de discretização em elementos finitos quadrangulares do domínio<br />
de modelagem do estuário do rio Amazonas, em coordenadas métricas............43<br />
Figura 8 – Destaque para a carta náutica número 200 (DHN) e o diagrama contendo<br />
o mosaico de levantamentos realizados em escalas espaciais distintas e em<br />
diferentes períodos...............................................................................................45<br />
Figura 9 – Domínio de modelagem do estuário do rio Amazonas em coordenadas<br />
métricas, mostrando isolinhas de profundidade (batimetrias referidas ao nível<br />
médio do mar, NMM)...........................................................................................48<br />
Figura 10 – Rugosidade equivalente de fundo adotada no domínio de modelagem<br />
segundo GALLO (2004).......................................................................................49<br />
Figura 11– Hidrogramas de vazões diárias para os rios Amazonas, Tapajós, Xingu e<br />
Tocantins..............................................................................................................51<br />
Figura 12 – Hidrogramas de vazões diárias para o rio Amazonas nos anos de 2006 e<br />
2007......................................................................................................................51<br />
Figura 13 – Esquema ilustrativo das vazões nodais adotadas para o rio Amazonas. 52<br />
Figura 14 – Amplitudes de M2 para o estuário do rio Amazonas (FES2004).............54<br />
Figura 15 – Fases de M2 para o estuário do rio Amazonas (FES2004). ....................54<br />
Figura 16 – Exemplo de séries temporais impostas como condição de contorno<br />
oceânica. ..............................................................................................................56<br />
Figura 17 – Mapa de localização das estações maregráficas e dos pontos de fundeio<br />
do NHi Sirius........................................................................................................59<br />
xi
Figura 18 – Foto da Estação Maregráfica Escola do Igarapé Grande do Curuá<br />
(Barra Norte). ......................................................................................................60<br />
Figura 19 – Fotos da estação maregráfica Ponta do Céu I em dois ângulos diferentes.<br />
..............................................................................................................................61<br />
Figura 20 – Gráfico apresentando a comparação entre os resultados do modelo e as<br />
observações para o período compreendido entre 11/05 a 13/05 de 2006. A<br />
interpolação temporal das séries foi feita com a função Cubic Spline. ..............64<br />
Figura 21 – Correlação cruzada entre o resultado do modelo e a série observada na<br />
estação Barra Norte, indicando que o modelo está adiantado 44 minutos em<br />
relação aos dados. ...............................................................................................65<br />
Figura 22 – Defasagens entre a série temporal de nível resultante da segunda<br />
simulação para o ano de 2006, a previsão harmônica e os dados coletados para<br />
a estação Barra Norte..........................................................................................67<br />
Figura 23 – Comparação entre valores discretos de fundeio, obtidos com o<br />
ecobatímetro e séries de níveis modelados nos pontos 1 e 2...............................68<br />
Figura 24 – Comparação entre valores discretos de fundeio, obtidos com o<br />
ecobatímetro e séries de níveis modelados nos pontos 3 e 4...............................69<br />
Figura 25 – Comparação entre valores discretos de fundeio, obtidos com o<br />
ecobatímetro e séries de níveis modelados nos pontos 5 e 6...............................70<br />
Figura 26 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)<br />
durante a sondagem de 2006 e flutuações locais do nível médio........................71<br />
Figura 27– Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)<br />
durante a sondagem após ter sido filtrada a oscilação de baixa-frequência......72<br />
Figura 28 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)<br />
durante 36 dias de 2006 e resultados do modelo (nível de referência: zero do<br />
modelo). ...............................................................................................................72<br />
Figura 29 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)<br />
durante 8 dias de 2006 e resultados do modelo (nível de referência: zero do<br />
modelo). ...............................................................................................................73<br />
Figura 30 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)<br />
durante 24 horas de 2006 e resultados do modelo (nível de referência: zero do<br />
modelo). ...............................................................................................................73<br />
Figura 31– Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)<br />
durante 8 dias comparados ao resultados do modelo e à previsão harmônica<br />
(nível de referência: zero do modelo) em 2006. ..................................................74<br />
Figura 32 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)<br />
durante 24 horas, comparados ao resultado do modelo e à previsão harmônica<br />
(nível de referência: zero do modelo) em 2006. ..................................................74<br />
Figura 33 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)<br />
durante a sondagem de 2007 e flutuações locais do nível médio........................75<br />
Figura 34 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)<br />
durante 36 dias de 2007 e resultados do modelo (nível de referência: zero do<br />
modelo). ...............................................................................................................75<br />
xii
Figura 35 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)<br />
durante 8 dias de 2007 e resultados do modelo (nível de referência: zero do<br />
modelo). ...............................................................................................................76<br />
Figura 36 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)<br />
durante 24 horas de 2007 e resultados do modelo (nível de referência: zero do<br />
modelo). ...............................................................................................................76<br />
Figura 37 – Dados observados na Ponta do Céu I (proximidade da Barra Norte)<br />
resultados do modelo de 2007 e previsão harmônica (nível de referência: zero<br />
do modelo). ..........................................................................................................77<br />
Figura 38 – Dados observados na Ponta do Céu I (proximidade da Barra Norte)<br />
resultados do modelo de 2007 e previsão harmônica para oito dias (nível de<br />
referência: zero do modelo).................................................................................77<br />
Figura 39 – Gráfico com as vazões diárias em Óbidos durante parte de 2006,<br />
destacando os períodos considerados para o teste de sensibilidade do modelo à<br />
batimetria.............................................................................................................80<br />
Figura 40 – Nós da malha de discretização onde a batimetria foi alterada para o<br />
teste de sensibilidade (os nós estão contidos no polígono vermelho). ................81<br />
Figura 41 – Resultados do teste de sensibilidade para um dia na cheia do regime<br />
fluvial do Amazonas.............................................................................................83<br />
Figura 42 – Resultados do teste de sensibilidade para um dia na seca do regime<br />
fluvial do Amazonas.............................................................................................83<br />
Figura 43 – Comparação dos resultados do teste de sensibilidade com os dados<br />
observados em duas escalas temporais distintas.................................................84<br />
Figura 44 – Resultados dos testes de sensibilidade nos pontos de fundeio 1, 2 e 3....86<br />
Figura 45 – Resultados dos testes de sensibilidade nos pontos de fundeio 3, 4 e 5....87<br />
Figura 46- Fluxograma de processamento para o cálculo dos data verticais............88<br />
Figura 47 – Distribuição espacial do NR em relação ao NM local, ao longo do<br />
polígono de redução de sondagens (assinalado em vermelho). Valores em<br />
centímetros. O trecho onde foi realizado LH de 2006 está destacado em amarelo.<br />
..............................................................................................................................91<br />
Figura 48– Distribuição espacial do LAT em relação ao NM local, ao longo do<br />
polígono de redução de sondagens (assinalado em vermelho). Valores em<br />
centímetros. O trecho onde foi realizado LH de 2006 está destacado em amarelo.<br />
..............................................................................................................................91<br />
Figura 49 – Distribuição espacial das diferenças entre NR e LAT. Em azul está a<br />
região onde o plano do LAT está situado abaixo do NR, em amarelo estão as<br />
áreas em que ocorre o inverso e em branco onde ambos os planos de referência<br />
são coincidentes...................................................................................................92<br />
Figura 50 – Mapa da área de interesse destacando os pontos de fundeios analisados<br />
em vermelho, a estação Barra Norte e os nós onde ocorreram as maiores<br />
discrepâncias em verde........................................................................................93<br />
Figura 51 – Séries modeladas para o nó 4026, onde a presença da Msf se faz sentir e<br />
o NR passa a ser um critério mais restritivo e menos realista do que o LAT. ....95<br />
xiii
Figura 52 – Distribuição espacial da componente harmônica Msf. ...........................96<br />
Figura 53 - Séries modeladas para o nó 4010, onde a presença da relação de fase<br />
2gM2-gM4 (no caso= 180° ) se faz presente. O LAT passa a ser um critério mais<br />
restritivo e mais realista do que o NR. ................................................................97<br />
Figura 54 – Mapa de assimetria indicando em azul a assimetria positiva, em<br />
vermelho a assimetria negativa e os pontos onde a curva de maré assume a<br />
configuração de duplas baixa-mares ou duplas-preamares................................99<br />
Figura 55 - Duas escalas temporais distintas apresentando a complexidade da<br />
propagação de maré na área de estudo e três casos de determinação de data<br />
verticais LAT e NR.............................................................................................100<br />
Figura 56- Mapa da região, com destaque para a área do Canal Norte, apresentando<br />
as estações maregráficas em vermelho, pontos de fundeio em azul, polígono de<br />
redução em laranja e a área levantada pelo NHi Sirius em 2006 em amarelo.102<br />
Figura 57 - Mapa da região destacando em azul os 12 elementos da malha<br />
correspondentes à área sondada pelo NHi Sirius em 2006. Para a redução<br />
foram utilizadas as séries de elevação produzidas por 20 nós..........................103<br />
Figura 58 – Esquema mostrando diversas possibilidades de ditribuições espaciais do<br />
LAT e NR. Setas verticais representam os valores da série temporal utilizados na<br />
correção das sondagens para cada um dos data...............................................104<br />
Figura 59 – Variação espacial do NM na área de interesse.....................................105<br />
Figura 60 – Esquema representativo do caso 1: NM da estação de referência, Z0(NR)<br />
da estação de referência. ...................................................................................106<br />
Figura 61 – Esquema representativo Caso 2: NM da estação de referência, Z0(NR)<br />
local....................................................................................................................106<br />
Figura 62 – Esquema representativo Caso 3: NM da estação de referência, Z0(LAT)<br />
local....................................................................................................................107<br />
Figura 63 – Esquema representativo Caso 4: NM da estação de referência com<br />
variação horária, Z0(NR) local. ...........................................................................107<br />
Figura 64 – Esquema representativo Caso 5: NM com variação espacial, Z0(NR) local.<br />
............................................................................................................................108<br />
Figura 65 - Esquema representativo Caso 6: NM com variação espacial e temporal,<br />
Z0(NR) local..........................................................................................................108<br />
Figura 66 – Modelo de arquivo de pontos contendo as coordenadas X e Y e os<br />
instantes T de coleta dos dados batimétricos. O tempo está representado em<br />
formato numérico com quatro casas decimais. .................................................109<br />
Figura 67- Esquema da interpolação espacial para o ponto de fundeio 6. ..............110<br />
Figura 68– Valores de diferenças nas elevações encontradas para o Fundeio 6 em<br />
função do método de obtenção da série temporal para um período de um ano.<br />
............................................................................................................................111<br />
Figura 69 – Valores de diferenças nas elevações encontradas para o Fundeio 6 em<br />
função do método de obtenção da série temporal. ............................................111<br />
xiv
Figura 70 – Profundidades reduzidas pelo NHi Sirius (método do Zoneamento<br />
Discreto de Maré, NM uniforme e NR variado). ...............................................113<br />
Figura 71 - Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método<br />
empregado (utilizando o NR da estação de referência como datum vertical). A<br />
linha verde envolve o trecho sondado. ..............................................................115<br />
Figura 72 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método<br />
empregado (utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente). A<br />
linha verde envolve o trecho sondado. ..............................................................116<br />
Figura 73 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método<br />
empregado (utilizando o LAT como datum vertical, variado espacialmente). A<br />
linha verde envolve o trecho sondado. ..............................................................117<br />
Figura 74 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método<br />
empregado (utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente e NM<br />
uniforme e variável). A linha verde envolve o trecho sondado. ........................118<br />
Figura 75 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método<br />
empregado (utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente e NM<br />
variado). A linha verde envolve o trecho sondado. ...........................................119<br />
Figura 76 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método<br />
empregado (utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente e NM<br />
variado e variável). A linha verde envolve o trecho sondado. ..........................120<br />
Figura 77 – Mapa das diferenças com a sobreposição dos limites das subáreas de<br />
redução. .............................................................................................................121<br />
Figura 78 – Diferenças na profundidade reduzida pela modelagem hidrodinâmica<br />
entre os casos 1 e 2, NR uniforme (est. de referência) em contraposição ao NR<br />
variado. A linha verde envolve o trecho sondado..............................................122<br />
Figura 79 – Mapa de batimetrias reduzidas realizadas no LH de 2006 (zoneamento<br />
discreto). ............................................................................................................123<br />
Figura 80 – Mapa de batimetrias reduzidas realizadas com a modelagem numérica<br />
(caso 4)...............................................................................................................124<br />
Figura 81 – Extrato da carta náutica 200 contendo nota sobre a “Estação H”. ....125<br />
Figura 82 – Mapa de localização das estações e do Ponto H..................................126<br />
Figura 83 – Valores interpolados para o Ponto H (exemplo de 1 dia)....................126<br />
Figura 84 – Gráfico apresentando as previsões realizadas para o PONTO H com o<br />
modelo hidrodinâmico e com o método harmônico (a partir das constantes<br />
geradas com o modelo), além dos valores de preamares e baixa-mares<br />
calculados conforme instrução da carta náutica...............................................127<br />
Figura 85– Sistema de coordenadas do sistema de modelagem 2DH. No caso 2DH, Ui<br />
representa a velocidade promediada na vertical. As coordenadas e velocidades<br />
horizontais são representadas como (x, y) = (x1, x2) e (u, v) = (u1, u2) utilizando<br />
o índice i = 1,2 (ROSMAN, 2008). ....................................................................141<br />
Figura 86 - Comparação entre um levantamento clássico e um levantamento com<br />
GPS cinemático: sem necessidade de correção de maré e efeitos meteorológicos<br />
(cedida pelo SHOM). .........................................................................................164<br />
xv
ÍNDICE DE TABELAS<br />
Tabela 1– Fórmulas para o cálculo da IVT máxima permitida em LH, segundo a<br />
classificação do levantamento (IHO, 2008). .......................................................17<br />
Tabela 2 – Fórmulas para o Cálculo do NR segundo os critérios de Courtier (1938) e<br />
Balay (1952).........................................................................................................20<br />
Tabela 3 – Estações consideradas para o ajuste do modelo.......................................58<br />
Tabela 4 – Resultados alcançados com a segunda rodada de 2006 em comparação<br />
com os níveis observados e previstos para as estações do domínio. Destaque<br />
para os valores assinalados em vermelho e azul correspondentes à área de<br />
interesse. Nas colunas “prevmod” foi feita a comparação entre a previsão<br />
harmônica e o modelo e nas colunas “obsmod” houve a comparação entre a<br />
observação e o modelo.........................................................................................66<br />
Tabela 5 – Cenários com as simulações realizadas para o teste de sensibilidade do<br />
modelo à batimetria. ............................................................................................79<br />
Tabela 6 – Resultados alcançados com o teste de sensibilidade. Diferenças entre os<br />
cenários simulados e o modelo original de 2006 no período de cheia. ..............81<br />
Tabela 7 – Resultados alcançados com o teste de sensibilidade. Diferenças entre os<br />
cenários simulados e o modelo original de 2006 no período de seca.................82<br />
Tabela 8 – Resultados obtidos para o Z0 LAT e NR. ...................................................90<br />
Tabela 9 – Diferenças nas profundidades reduzidas em função do método de redução<br />
(zoneamento discreto-Sirius x modelagem hidrodinâmica- casos 1 ao 6). .......114<br />
Tabela 10 – Resultados da comparação entre a aplicação do datum vertical variado e<br />
o datum vertical uniforme utilizando a mesma metodologia.............................122<br />
Tabela 11 – Valores para a rugosidade equivalente de fundo (ε), segundo o tipo de<br />
sedimento. ..........................................................................................................146<br />
xvi
1. Introdução<br />
Capítulo 1<br />
Os rios da bacia Amazônica sempre desempenharam um importante papel histórico na<br />
integração e no desenvolvimento regional, possibilitando o acesso a áreas inóspitas e<br />
desabitadas e compondo praticamente a única via de transporte para a população<br />
ribeirinha. A bacia Amazônica cobre uma área de 6.879.761 Km 2 com 50.000 km de<br />
rios navegáveis, dos quais 10.000 km atendem navios com mais de 1.000 toneladas.<br />
Somente o rio Amazonas possui 5.085 km de navegação contínua durante todo o ano<br />
e o trecho de 1.500km de via navegável que vai de Manaus à foz, corresponde a 50%<br />
do tráfego aquaviário de toda a bacia. A existência de grandes cidades como Belém e<br />
Manaus e outros núcleos populacionais de pequeno e médio porte ao longo do rio<br />
geram uma demanda relativamente alta por bens e serviços estimulando sobremaneira<br />
a navegação fluvial (DOMINGUES, 2004).<br />
O modelo de desenvolvimento das décadas de 60-70, caracterizado por políticas<br />
públicas de incentivo à ocupação da região norte do Brasil, foi substituído no início<br />
deste século por um modelo que pressupõe um grande aporte de capital privado para<br />
atender o mercado global, nas áreas de mineração, agropecuária e exploração<br />
madeireira. De fato, as exportações da Amazônia aumentaram consideravelmente nos<br />
últimos anos. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e<br />
Comércio Exterior (MDIC), no ano de 2006 foram exportados aproximadamente 15<br />
bilhões de dólares por essa região, algo em torno de 11% do total nacional, sendo o<br />
Pará o estado com maior participação no valor exportado (45%). Os produtos<br />
exportados foram predominantemente metais e minerais (40%), derivados vegetais<br />
(principalmente grãos), respondendo por 19%, e em terceiro lugar derivados de<br />
madeira, com 8% de participação nas exportações (CELENTANO e VERÍSSIMO,<br />
2007). A principal via de escoamento para toda esta produção é a malha hidroviária<br />
do rio Amazonas. Segundo informações da Agência Nacional de Transportes<br />
Aquaviários, no Brasil, cerca de 90% do comércio com o mundo exterior passa<br />
atualmente pelos portos (ANTAQ, 2006; ANTAQ, 2007).<br />
1
Da mesma forma, o transporte de petróleo e derivados visando o abastecimento dos<br />
grandes centros urbanos da região norte do país é realizado através das vias<br />
navegáveis da região amazônica. Essa atividade representa o risco potencial de<br />
contaminação do meio ambiente por óleo. Os impactos ambientais decorrentes desse<br />
tipo de poluição assumem proporções distintas, podendo ser causados tanto por<br />
grandes acidentes de navegação envolvendo encalhes de petroleiros, quanto por<br />
freqüentes derrames operacionais de menor magnitude. O assunto motivou a<br />
idealização do projeto PIATAM, um dos maiores programas científicos da atualidade<br />
com foco na Amazônia, cujo objetivo é monitorar as atividades de produção e<br />
transporte de petróleo e gás natural naquela região prevenindo possíveis prejuízos ao<br />
meio ambiente (CUNHA et al., 2004).<br />
Em face ao exposto, é consenso na sociedade que a manutenção do transporte<br />
aquaviário na região Amazônica em condições seguras e operacionais assuma uma<br />
importância cada vez mais estratégica. Conseqüentemente, nos últimos três anos<br />
foram alocados recursos orçamentários do fundo setorial CT-Transporte Aquaviário e<br />
de Construção Naval da ordem de dois milhões de dólares para o desenvolvimento<br />
científico e tecnológico do setor aquaviário na região. Os fundos setoriais fazem parte<br />
da atual política do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que visa induzir o<br />
aumento dos investimentos privados em ciência e tecnologia e impulsionar o<br />
desenvolvimento tecnológico dos setores considerados, além de incentivar a geração<br />
de conhecimentos e inovações que contribuam para a solução dos grandes problemas,<br />
consolidando parcerias entre universidades, centros de pesquisa e o setor produtivo<br />
(MCT, 2008).<br />
1.2. A navegação na Barra Norte do rio Amazonas<br />
A região da Barra Norte, também conhecida como Canal Grande do Curuá, situada na<br />
foz do Amazonas, consiste em uma área particularmente sensível para navegação<br />
devido à existência de bancos arenosos. FERNANDES (comunicação pessoal, 2008)<br />
descreveu essas feições sedimentares como ridges típicas de estuários de macro-maré<br />
com desembocadura larga, conforme esquema classificatório de DYER e HUNTLEY<br />
(1999). Esses bancos alongados e alinhados com o escoamento situam-se entre canais<br />
2
de enchente e vazante e apresentam um padrão de migração cíclico. A análise de<br />
dados batimétricos do período de 1983 a 2001 efetuada por OLIVEIRA e VINZON<br />
(2004) revelou que os bancos da foz do Amazonas apresentaram uma taxa de<br />
migração da ordem de até 250m por ano. A Figura 1 apresenta a evolução temporal da<br />
posição dos bancos a partir das linhas isobatimétricas de 10m.<br />
130000<br />
125000<br />
120000<br />
115000<br />
110000<br />
105000<br />
100000<br />
95000<br />
90000<br />
620000 625000 630000 635000 640000 645000 650000 655000<br />
125000<br />
120000<br />
115000<br />
110000<br />
105000<br />
100000<br />
95000<br />
90000<br />
1997<br />
1986<br />
1985<br />
1983<br />
Sentido de<br />
migração<br />
dos bancos<br />
1990<br />
ÁREA DO CANAL DE<br />
NAVEGAÇÃO (1992)<br />
1998<br />
Sentido de<br />
migração<br />
dos bancos<br />
ÁREA DO CANAL DE<br />
NAVEGAÇÃO (1992)<br />
620000 625000 630000 635000 640000 645000 650000 655000<br />
130000<br />
125000<br />
120000<br />
115000<br />
110000<br />
105000<br />
100000<br />
95000<br />
90000<br />
620000 625000 630000 635000 640000 645000 650000 655000<br />
130000<br />
125000<br />
120000<br />
115000<br />
110000<br />
105000<br />
100000<br />
95000<br />
90000<br />
620000 625000 630000 635000 640000 645000 650000 655000<br />
Figura 1 – Linhas batimétricas de 10m indicando a posição dos bancos e sua evolução temporal<br />
de (a) 1983 a 1986, (b) 1986 a 1990, (c) 1990 a 1998, e (d) 1998 a 2001 (OLIVEIRA e VINZON,<br />
2004).<br />
A ocorrência de bancos no canal de acesso se traduz em variabilidade nas<br />
profundidades cartografadas e na posição da calha navegável que, somados ao intenso<br />
tráfego de embarcações, tornam essa área de especial interesse para verificações<br />
sistemáticas da batimetria. Atualmente a demanda pelo canal da Barra Norte está<br />
limitada ao calado máximo de 11,5 metros (CPAOR, 2006). Segundo dados da<br />
Companhia Docas de Santana, 890 navios mercantes passaram pelo canal da Barra<br />
Norte com destino ao porto de Santana no ano de 2005. Em 2006, navegaram pela<br />
1986<br />
1988<br />
Sentido de<br />
migração<br />
dos bancos<br />
2000<br />
1999<br />
1998<br />
Sentido de<br />
migração<br />
dos bancos<br />
1990<br />
ÁREA DO CANAL DE<br />
NAVEGAÇÃO (1992)<br />
2001<br />
ÁREA DO CANAL DE<br />
NAVEGAÇÃO (1992)<br />
3
egião 831 mercantes. Em 2007, de acordo com informações prestadas pela Capitania<br />
dos Portos da Amazônia Oriental (CPAOR), 795 navios atravessaram o canal, tendo<br />
sido registrados 20 incidentes naquela região. Ainda segundo a CPAOR, no ano<br />
anterior, dentre os Inquéritos de Acidentes e Fatos da Navegação (IAFN) instaurados,<br />
quatro casos corresponderam a encalhes de navios mercantes.<br />
Uma forma de aprimorar a navegação na Barra Norte do Amazonas é disponibilizar<br />
aos navegantes, por meio da carta náutica, informações hidrográficas periodicamente<br />
atualizadas. Isso requer um planejamento sistemático para a coleta de dados<br />
batimétricos e a operacionalização de uma metodologia para tratamento desses dados.<br />
Ambas as tarefas cabem à Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN). É importante<br />
frisar que estabelecer precisamente as profundidades em um canal de navegação com<br />
as características hidrográficas observadas na Barra Norte, manifesta-se como uma<br />
solução de compromisso entre garantir segurança à navegação e, ao mesmo tempo,<br />
viabilizar o acesso das embarcações que demandam os portos do interior do estuário.<br />
Em suma, as profundidades precisam ser rigorosamente determinadas, evitando gerar<br />
impactos econômicos negativos, seja em razão de um acidente de navegação, seja pela<br />
interdição do tráfego aos mercantes de maior calado.<br />
1.3. Motivação técnico-científica<br />
A hidrografia, segundo a IHO (International Hydrographic Organization), pode ser<br />
definida como o ramo das ciências aplicadas que trata das medições e descrições dos<br />
mares e áreas costeiras para a navegação (como objetivo principal) e para todas as<br />
demais atividades relacionadas ao mar, como pesquisa científica, proteção ao meio<br />
ambiente, serviços de previsão, entre outros (IHO, 2005). Em termos práticos, as<br />
medições são realizadas por ocasião de Levantamentos Hidrográficos (LH) no qual<br />
são coletados dados topográficos, geodésicos, oceanográficos, meterológicos,<br />
batimétricos, hidrológicos, geomorfológicos, aerofotogramétricos e de sensoriamento<br />
remoto. Por seu turno, a base de dados gerada a partir dos LH permite a produção de<br />
uma série de informações que, em última instância, são divulgadas por meio das<br />
cartas náuticas e demais documentos (almanaques, tábuas, avisos, boletins, etc.). A<br />
hidrografia compartilha com a navegação a mesma singularidade, na qual<br />
4
metodologias tradicionais já consagradas convivem harmoniosamente com sistemas<br />
de aquisição de última geração. A DHN é o órgão da Marinha do Brasil responsável<br />
por dar prosseguimento, de forma consolidada, à atividade hidrográfica no Brasil.<br />
O caráter multidisciplinar e a importância da qual se reveste a hidrografia no atual<br />
cenário de globalização e preocupação iminente com as questões ambientais,<br />
conferem a esta ciência considerável repercussão, evidenciando o mérito da existência<br />
de uma organização com a competência para emitir diretrizes e orientações em âmbito<br />
mundial. As resoluções divulgadas pela IHO para a comunidade hidrográfica<br />
internacional permitem que se estabeleça um fórum para diversos temas, entre os<br />
quais o escolhido para a elaboração deste trabalho, que se encontra comprometido em<br />
seus propósitos com a questão da segurança da navegação e procura se pautar nas<br />
recomendações daquela Organização.<br />
Sob o ponto de vista metodológico, a escolha do tema deste trabalho foi motivada por<br />
uma série de aspectos como, por exemplo: a questão do nível de referência vertical ao<br />
qual estão relacionadas as profundidades cartografadas, a aplicação de modelos<br />
numéricos para a hidrografia, entre outros.<br />
Um dos aspectos técnicos que suscitou o interesse pelo assunto diz respeito aos planos<br />
de referência genericamente denominados pela IHO como Chart Datum (CD). Na<br />
maioria das vezes, os níveis de referência para as sondagens batimétricas aplicam-se a<br />
pontos específicos na costa onde estão instaladas as estações maregráficas. Esses<br />
planos são definidos em função da maré astronômica local, correspondendo a um<br />
nível teórico tão baixo que somente excepcionalmente seja ultrapassado pelas baixamares<br />
mais baixas. Os métodos de cálculo utilizados na determinação desses data 1 de<br />
maré (tidal datums) variam amplamente na literatura hidrográfica, assim como suas<br />
denominações. Porém, independente da técnica escolhida, esses níveis devem<br />
obrigatoriamente ser referenciados a um ponto fixo materializado no terreno,<br />
geralmente denominado referência de nível (RN), que por sua vez deverá estar<br />
relacionado a um sistema de referência geocêntrico (e.g.. WGS-84, International<br />
Terrestrial Reference Frame- ITRF), assim como à rede geodésica nacional. No<br />
1 Nesta dissertação, data será empregado como o plural de datum. Nos textos em inglês, adota-se datums como plural de datum,<br />
conforme pode ser consultado em NOS (2000).<br />
5
Brasil, a DHN adota a terminologia Nível de Redução (NR) para o datum de maré que<br />
representa o nível de referência tanto para as profundidades da carta náutica quanto<br />
para as previsões de maré divulgadas pelas Tábuas das Marés. Nesse mister, a DHN<br />
recomenda que o NR, após determinado, seja referenciado à Rede Altimétrica de Alta<br />
Precisão (RAAP) do Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) 2 . Normalmente, o cálculo<br />
do NR é efetuado em conformidade com o método descrito por COURTIER (1938),<br />
preferencialmente sobre uma série temporal de medições do nível do mar de, no<br />
mínimo, um ano de duração em função da maré astronômica pura. É importante que o<br />
NR seja perenizado após a sua determinação, a fim de atender ao critério de<br />
estabilidade do datum.<br />
Inconsistências no estabelecimento de NR podem ocorrer por vários motivos: seja em<br />
função da qualidade e da duração da série temporal de nível do mar, da correção ou<br />
não de efeitos meteorológicos e oceanográficos, do método de cálculo adotado, de<br />
alteração das constantes harmônicas do local, de variações de longo termo do nível<br />
médio do mar (SIMON, 2007). O problema se torna evidente quando há grande<br />
incidência de baixa-mares de sizígia situadas abaixo do NR. A fim de cumprir as<br />
deliberações mais recentes da IHO, o serviço hidrográfico brasileiro deverá<br />
especificar nos documentos náuticos a diferença entre o datum nacional (NR) e o<br />
datum internacional, LAT (Lowest Astronomical Tide). Recomenda-se que o LAT<br />
corresponda ao nível mais baixo da maré calculada sobre um período mínimo de 19<br />
anos de previsão harmônica, usando as constantes harmônicas derivadas de um<br />
mínimo de observações de um ano (sob circunstâncias meteorológicas médias).<br />
Como os níveis de referência para a batimetria são considerados data locais<br />
referenciados a pontos específicos na linha de costa, a sua extrapolação para regiões<br />
ao largo a partir da metodologia tradicional se torna uma tarefa complicada. O<br />
conceito de data de maré, que vigora na literatura atual, preconiza a idéia de que estes<br />
planos constituem-se em superfícies tridimensionais que variam espacialmente em<br />
elevação (HESS, 2003). Os modelos numéricos são ferramentas que podem ser<br />
2 A partir dos marcos geodésicos da RAAP, são medidas as altitudes de todo o Território Brasileiro para os mais variados objetivos:<br />
obras de saneamento, irrigação, estradas, telecomunicações, usinas hidrelétricas, mapeamentos e estudos científicos (IBGE, 2007).<br />
A integração das informações de cartas topográficas e cartas náuticas é possível se as RN-DHN das estações maregráficas<br />
brasileiras forem niveladas aos marcos da RAAP.<br />
6
aplicadas na tentativa de representar a variabilidade espacial dessas superfícies.<br />
Alguns métodos foram desenvolvidos para essa finalidade como, por exemplo, o<br />
TCARI (Tidal Constituent and Residual Interpolation), desenvolvido pelo Coast<br />
Survey Development Laboratory, que interpola espacialmente dados de um conjunto<br />
de estações maregráficas a partir da solução numérica da Equação de Laplace (HESS,<br />
2003). Outros métodos são baseados em modelagem hidrodinâmica, os quais<br />
produzem séries temporais de níveis ao longo de um domínio pré-determinado, que<br />
por sua vez permitem que se obtenha um conjunto de valores de data pontuais a<br />
serem interpolados espacialmente (HESS, 2001; LE ROY e SIMON, 2003, LE ROY e<br />
SIMON, 2004a; LE ROY e SIMON, 2004b, PINEAU-GUILLOU, 2005).<br />
Os trabalhos hidrográficos atualmente conduzidos pela DHN representam a variação<br />
espacial do NR de forma bastante simplificada, geralmente a partir dos dados de uma<br />
estação maregráfica de referência, muitas vezes fora da área do levantamento<br />
hidrográfico propriamente dito. Nesses trabalhos é adotada a concepção de nível de<br />
redução de “áreas de redução de sondagem” e o critério segundo o qual não pode<br />
haver variação superior a 10 cm entre os NR de áreas adjacentes, independente da<br />
amplitude de maré do local. Essa particularidade do método tradicional contribui<br />
significativamente para a incerteza da profundidade reduzida. Paralelamente, a DHN<br />
já vem aplicando a tecnologia GPS RTK/RTG, considerada o estado-da-arte em<br />
reduções batimétricas (RAMOS, 2007). Essa técnica, a princípio, dispensa os dados<br />
provenientes de estações maregráficas durante a realização do levantamento<br />
hidrográfico, porém requer o conhecimento prévio da variabilidade espacial do campo<br />
de NR. Segundo RAMOS e KRUEGER (2006), os sistemas de posicionamento e<br />
aquisição de dados GPS RTK/RTG apresentam resultados com precisão de ordem<br />
subcentimétrica, incompatíveis com a acurácia observada pelas técnicas<br />
tradicionalmente usadas no cálculo dos níveis de redução.<br />
Para este trabalho foi escolhido o emprego da modelagem hidrodinâmica, pois a<br />
metodologia TCARI (HESS, 2003; HESS et al., 2004) pressupõe a existência de uma<br />
ampla rede permanente de observação do nível do mar na área de estudo, o que não é<br />
o caso da Barra Norte do rio Amazonas. Em contrapartida, apesar da carência de<br />
dados observados, a área de interesse se mostra particularmente útil para a<br />
investigação da variabilidade espacial do NR, por estar inserida em um estuário de<br />
7
intensa dinâmica, submetido tanto a um regime de macro-maré quanto à maior<br />
descarga fluvial do mundo.<br />
Os modelos hidrodinâmicos, além de serem utilizados com a finalidade de mapear os<br />
níveis de referência das profundidades, também podem ser aplicados para a previsão<br />
de níveis do mar e para a redução batimétrica propriamente dita. FERNANDES<br />
(2006) apresentou resultados consistentes com o uso do modelo hidrodinâmico<br />
SisBaHiA® (módulo 2DH) na Barra Norte do rio Amazonas, para a previsão de<br />
níveis e para a redução de sondagens ao longo de três áreas de redução definidas pela<br />
DHN. Seu estudo mostrou que o método tradicional empregado naquela região,<br />
baseado na extrapolação de medições a partir de uma única estação marégrafica de<br />
referência (situada fora da área do LH), não propicia informações suficientemente<br />
acuradas para a redução de sondagens ao longo do canal de navegação. Isso se dá em<br />
função das características da maré astronômica, do nível médio do mar e dos efeitos<br />
não-astronômicos sofrerem variações significativas ao longo do espaço e do tempo,<br />
que não podem ser devidamente representadas em áreas discretas contendo valores de<br />
amplitude e fase de maré pré-fixadas.<br />
Um outro aspecto relevante e que justifica o uso de modelagem hidrodinâmica é a<br />
necessidade de tornar operacional o processo de redução de sondagens, otimizando o<br />
tempo de coleta e processamento de dados batimétricos. Essa necessidade é reforçada<br />
principalmente quando são aplicados ecobatímetros multi-feixe, os quais geram um<br />
volume de dados substancialmente maior do que os equipamentos de feixe único. Este<br />
trabalho pretende fornecer subsídios à DHN para a operacionalização do método,<br />
tanto para a própria região da foz do Amazonas quanto para outras áreas críticas à<br />
navegação.<br />
Ao se empregar os resultados de modelos hidrodinâmicos na redução de sondagens,<br />
ou seja, para a produção de dados batimétricos corrigidos, é necessário avaliar<br />
previamente a sensibilidade do modelo à batimetria inserida como dado de entrada na<br />
malha de elementos finitos. A batimetria inserida no modelo pode ser considerada, a<br />
priori, menos precisa do que a que se deseja calcular. Sendo assim, é desejável que se<br />
determine o quanto os níveis calculados pelo modelo são afetados por variações na<br />
8
atimetria de entrada, assim como a ordem de grandeza da incerteza introduzida no<br />
resultado final.<br />
1.4. Objetivo Geral<br />
Esta dissertação é parte do projeto “Modelagem hidrodinâmica e monitoramento do<br />
nível do mar na Barra Norte do Rio Amazonas – Correção de sondagens para<br />
construção da Carta Náutica” financiado com recursos do Fundo Setorial CT-<br />
Transporte Aquaviário e de Construção Naval e foi desenvolvida graças a um<br />
convênio entre o Centro de Hidrografia da Marinha (CHM) e o Laboratório de<br />
Dinâmica de Sedimentos Coesivos (LDSC) da Universidade Federal do Rio de<br />
Janeiro (<strong>UFRJ</strong>).<br />
Este trabalho tem como propósito aplicar a modelagem hidrodinâmica como<br />
ferramenta para a determinação de níveis de redução (NR) e LAT (Lowest<br />
Astronomical Tide), redução de sondagens em levantamentos hidrográficos e para a<br />
previsão de maré, contribuindo para melhorar as condições de navegabilidade e<br />
segurança da navegação da Barra Norte do rio Amazonas.<br />
1.5. Objetivos Específicos<br />
Por fim, com o intuito de colaborar para a aplicação de uma metodologia mais<br />
acurada para o tratamento dos dados hidrográficos da região de estudo, considerando<br />
os aspectos supramencionados, podem ser instituídos os seguintes objetivos<br />
específicos para este trabalho:<br />
1) Avaliar a sensibilidade do modelo hidrodinâmico à alterações na batimetria;<br />
2) Definir novos NR e LAT (Lowest Astronomical Tide) para a região da Barra Norte<br />
do rio Amazonas, seguindo as atuais recomendações da International Hydrographic<br />
Organization (IHO, 2004) e verificando a variabilidade espacial destes data;<br />
9
3) Realizar a redução dos dados batimétricos brutos coletados pelo Levantamento<br />
Hidrográfico nº 001/06, realizado pelo Navio Hidrográfico Sirius, a partir dos<br />
resultados obtidos com a modelagem hidrodinâmica, de forma a estabelecer e testar<br />
um novo procedimento metodológico;<br />
4) Avaliar a capacidade do modelo hidrodinâmico em reproduzir a maré astronômica<br />
como ferramenta para previsões de níveis; e<br />
5) Validar a metodologia para futuras aplicações.<br />
1.6. Estruturação da dissertação<br />
A presente dissertação encontra-se organizada em oito capítulos e quatro Apêndices.<br />
No presente capítulo, faz-se uma exposição das motivações que justificaram a escolha<br />
do tema do trabalho nos contextos sócio-econômico e técnico-científico. Também são<br />
apresentados os objetivos específicos e o objetivo geral da dissertação.<br />
No Capítulo 2 é feita uma revisão da bibliografia disponível a respeito das<br />
metodologias em vigor para o estabelecimento dos data verticais da carta náutica (NR<br />
e LAT), redução de sondagens e previsão de maré, além de suas particularidades e<br />
limitações. Nesse capítulo também são introduzidos alguns conceitos fundamentais<br />
para o entendimento da metodologia e também se faz menção às principais<br />
recomendações da IHO sobre o tema.<br />
O Capítulo 3 apresenta uma caracterização dos aspectos físicos da área de estudo, por<br />
meio de uma revisão da bibliografia disponível relacionada ao ambiente do estuário<br />
do Amazonas, bacias contribuintes e plataforma continental adjacente.<br />
Os aspectos relativos à implementação do modelo hidrodinâmico, principal<br />
ferramenta para a geração dos resultados obtidos ao longo do desenvolvimento do<br />
presente estudo e os cenários de simulação propostos são abordados no Capítulo 4.<br />
O Capítulo 5 trata da calibração do modelo com base nos dados disponíveis e da<br />
configuração dos testes de sensibilidade efetuados.<br />
10
No Capítulo 6 são descritos os procedimentos empregados na análise e pósprocessamento<br />
dos resultados alcançados com o modelo hidrodinâmico, sendo em<br />
seguida apresentados e discutidos os resultados finais do trabalho.<br />
As conclusões deste estudo constam no Capítulo 7, onde são também sugeridos<br />
alguns temas e oferecidas recomendações para futuros trabalhos. O Capítulo 8<br />
relaciona todas as referências bibliográficas consultadas e citadas ao longo da<br />
dissertação.<br />
Finalmente, os Apêndices agregam ao presente documento uma série de informações<br />
suplementares para uma leitura mais aprofundada como, por exemplo, as formulações<br />
matemáticas que governam o modelo hidrodinâmico e algumas parametrizações. Os<br />
Apêndices também apresentam, de forma sistematizada, fichas, tabelas e outros<br />
documentos que não ficariam convenientemente dispostos no corpo da dissertação.<br />
11
2. Revisão Metodológica<br />
2.1. Introdução<br />
Capítulo 2<br />
No item que trata de profundidades na publicação Especificações para Levantamentos<br />
Hidrográficos (IHO, 2008), é feita a seguinte consideração:<br />
A navegação mercante requer um conhecimento acurado da profundidade da água sob a quilha<br />
a fim de explorar com segurança a capacidade máxima de transporte de carga, bem como a<br />
disponibilidade máxima da lâmina d'água para a navegação com segurança. Nos lugares onde<br />
a folga abaixo da quilha for um fator crítico, as incertezas de profundidade precisam ser<br />
controladas com um rigor maior e melhor conhecidas.<br />
A profundidade a que se refere tal documento é a profundidade reduzida, ou seja,<br />
aquela lançada na carta náutica e referida a um datum vertical que, no caso brasileiro,<br />
corresponde ao Nível de Redução (NR). O NR é o nível de referência a partir do qual<br />
são contadas as sondagens batimétricas representadas nas cartas náuticas e as alturas<br />
previstas de maré divulgadas pela publicação náutica Tábuas das Marés. O NR é uma<br />
medida relativa ao nível médio do mar local e teoricamente corresponde a um nível<br />
tão baixo que “apenas excepcionalmente” será ultrapassado pelas baixa-mares mais<br />
baixas. Como será visto no item 2.2, o NR é calculado a partir de um critério<br />
puramente astronômico, considerando apenas as principais componentes harmônicas<br />
de um dado local.<br />
A escolha do NR nas proximidades das baixa-mares mais significativas, apesar de<br />
arbitrária, implica em segurança à navegação, pois ao navegante é praticamente<br />
garantido que, no mínimo, haverá a quantidade de água indicada nas cartas náuticas.<br />
12
Nesta dissertação também será calculado o datum internacional LAT (Lowest<br />
Astronomical Tide) correspondente ao nível mínimo da maré obtido sobre um período<br />
mínimo de 19 anos de previsão harmônica. As constantes harmônicas empregadas no<br />
cálculo são originárias de um período mínimo de observações de um ano (sob<br />
circunstâncias meteorológicas médias).<br />
O método proposto por FRANCO (1997) baseado nos trabalhos de PUGH e VASSIE<br />
(1978 apud FRANCO, 1997), para a definição dos níveis mínimos, não pôde ser<br />
testado nesta dissertação por insuficiência de registros observados superiores a um<br />
ano. Esse método é baseado na estatística de níveis extremos e tem como resultado a<br />
combinação do nível mínimo da maré astronômica (determinístico) e do mínimo do<br />
efeito meteorológico (probabilístico) efetuada em termos de períodos de retorno e de<br />
densidade de probabilidade. Segundo FRANCO (1997), de acordo com essa<br />
metodologia o NR passaria a ser definido estatisticamente da seguinte forma: “O nível<br />
de redução das sondagens será tal que, de acordo com a estatística da previsão,<br />
efetuada com todas as componentes fornecidas pela análise e não rejeitadas pelo teste<br />
estatístico, forneça, no máximo, X% de valores negativos”.<br />
Durante a execução de um Levantamento Hidrográfico (LH), cada dado de batimetria<br />
obtido por navio hidroceanográfico refere-se a um nível do mar instantâneo.<br />
Entretanto, o nível do mar está constantemente variando durante a realização das<br />
sondagens, em função principalmente de efeitos meteorológicos e de oscilações de<br />
maré. Para referenciar o dado batimétrico a uma superfície estável (e.g. NR) executase<br />
o que se convencionou chamar de redução de sondagens. Nesse processo, o dado<br />
batimétrico 3 é decomposto em duas partes: uma que consiste na oscilação do nível do<br />
mar sobre o NR, que será descartada (parte variável, vulgarmente conhecida como<br />
“correção de maré”), e outra que será efetivamente lançada nas folhas de bordo e,<br />
posteriormente, nas cartas náuticas, corresponde à profundidade reduzida (a<br />
sondagem contada a partir do NR até o leito submarino), que se deseja efetivamente<br />
conhecer.<br />
3 Admitindo-se que o dado batimétrico já sofreu as demais correções (instrumental, de posição do transdutor, movimentos da<br />
embarcação e de velocidade do som) conforme DHN (1998).<br />
13
Conforme a metodologia atualmente em vigor na DHN, a decomposição do dado<br />
batimétrico somente poderá ser realizada se forem efetuadas medições das oscilações<br />
do nível do mar simultaneamente ao momento da sondagem, em uma ou mais<br />
estações maregráficas de referência para o levantamento batimétrico. Por sua vez, as<br />
observações de nível do mar englobam basicamente duas componentes. A primeira é<br />
denominada maré astronômica. Ela é determinística por guardar relação com a<br />
resultante gravitacional do sistema Sol-Terra-Lua, podendo ser decomposta ou<br />
reproduzida a partir, respectivamente, da análise ou do somatório de diversos<br />
constituintes harmônicos, através dos métodos de análise e previsão harmônica<br />
(FRANCO, 1997). A segunda componente, denominada resíduo, não possui caráter<br />
harmônico e consiste no resultado da combinação de efeitos causados por eventos<br />
meteorológicos, variações de longo termo do nível médio do mar, influência de<br />
descargas fluviais no caso de áreas costeiras, entre outros. Desta forma, como regra<br />
geral, as profundidades medidas pelo ecobatímetro durante o LH devem ser reduzidas<br />
ao datum vertical da carta com base nos dados efetivamente observados (variação real<br />
do nível do mar) e não pela maré prevista, que corresponde ao fenômeno estritamente<br />
astronômico.<br />
Em certas localidades, a contribuição da maré meteorológica é significativa e, ao<br />
desprezá-la, poder-se-ia incorrer em erros superiores à precisão requerida durante a<br />
redução das sondagens. Durante o LH, o resíduo (e.g. maré meteorológica) é levado<br />
em consideração na redução das sondagens a partir do momento em que as correções<br />
batimétricas são feitas com base em dados observados (onde o resíduo está implícito).<br />
A Figura 2 apresenta um esquema ilustrativo do NR e de outros importantes planos de<br />
referência (inclusive o elipsóide de um sistema geodésico de referência) e o que vem a<br />
ser a correção de maré aplicada durante o procedimento de redução de sondagens.<br />
14
Figura 2 – Esquema de redução de sondagens (modificação de desenho cedido pelo CHM)<br />
15
Segundo a IHO, o procedimento de redução de sondagens deverá ser sempre efetuado<br />
quando as profundidades medidas forem inferiores a 200m ou quando a maré<br />
contribuir significativamente para a Incerteza Total Propagada (ITP). Entende-se<br />
como ITP a combinação de todas as incertezas individuais ocorridas durante o LH,<br />
aleatórias ou sistemáticas. A ITP propagada combina os efeitos das incertezas de<br />
medição de várias fontes com as incertezas produzidas por parâmetros derivados ou<br />
calculados (IHO, 2008 ).<br />
A incerteza vertical corresponde à parcela da ITP relacionada à incerteza das<br />
profundidades reduzidas. As fontes de incertezas verticais individuais precisam ser<br />
quantificadas para a determinação da incerteza vertical. Todas as incertezas devem ser<br />
combinadas estatisticamente para que se obtenha a incerteza vertical total (IVT), isto<br />
é, a componente da ITP calculada na dimensão vertical (IHO, 2008). As alturas de<br />
maré observadas durante a sondagem e outras fontes de incerteza para as<br />
profundidades reduzidas como, por exemplo, o zoneamento de maré, deverão ser<br />
computadas de modo que sua combinação situe-se dentro dos limites máximos<br />
estabelecidos. Tais limites variam conforme a ordem do LH. As classificações<br />
propostas pela IHO (2008) são as seguintes:<br />
Ordem Especial<br />
É a mais rigorosa das ordens e seu uso é pretendido somente para aquelas áreas onde a folga<br />
abaixo da quilha é crítica. Como a folga abaixo da quilha é crítica, é improvável que<br />
levantamentos de Ordem Especial sejam conduzidos em águas com profundidade maior que<br />
40 metros. Exemplos de áreas que possam exigir levantamentos de Ordem Especial são: áreas<br />
de atracação, baías e áreas críticas de navegação em canais.<br />
Ordem 1a<br />
Esta ordem é destinada àquelas áreas suficientemente rasas para permitir que feições naturais<br />
ou artificiais no leito marinho tornem-se objetos de preocupação para o tráfego marítimo de<br />
superfície esperado a transitar na área, mas onde a folga abaixo da quilha é menos crítica que<br />
na Ordem Especial acima. Levantamentos de Ordem 1a podem ser limitados a águas com<br />
menos de 100 metros de profundidade.<br />
Ordem 1b<br />
Este tipo de ordem destina-se a áreas com profundidades menores que 100 metros, onde uma<br />
descrição geral do leito marinho é considerada apropriada para o tipo de navegação de<br />
superfície a transitar na área. Esta ordem de levantamento somente é recomendada onde a<br />
folga abaixo da quilha não for relevante. Um exemplo desta situação seria uma determinada<br />
área onde as características do leito marinho são tais que a probabilidade de haver uma feição<br />
natural ou artificial que possa colocar em risco o tipo de embarcação de superfície esperada a<br />
navegar na área seja baixa.<br />
16
Ordem 2<br />
Esta é a ordem menos estrita e destina-se àquelas áreas onde a profundidade da água é tal que<br />
uma descrição geral do leito marinho é considera adequada. Recomenda-se que os<br />
levantamentos de Ordem 2 limitem-se a áreas com profundidade maior que 100 metros.<br />
A fórmula exposta na Tabela 1 deve ser utilizada para calcular, em um nível de<br />
confiança de 95%, a IVT máxima permitida. Os parâmetros “a” e “b” para cada<br />
ordem, juntamente com a profundidade “d”, devem ser inseridos na fórmula para<br />
calcular a IVT máxima permitida para uma profundidade específica. A IHO (2008)<br />
recomenda que a incerteza vertical em um nível de confiança de 95% deve ser<br />
registrada juntamente com os dados do levantamento hidrográfico.<br />
Tabela 1– Fórmulas para o cálculo da IVT máxima permitida em LH, segundo a classificação do<br />
levantamento (IHO, 2008).<br />
Fórmula Onde:<br />
±<br />
( ) 2<br />
b d<br />
2<br />
a + ×<br />
Ordem especial a = 0,25m b= 0,0075m<br />
Ordem1 a = 0, 5m b= 0,013m<br />
Ordem 2 a = 1,0m b= 0,023m<br />
a representa a parcela da incerteza que não varia<br />
com a profundidade<br />
b é um coeficiente que representa aquela parcela<br />
da incerteza que varia com a profundidade<br />
d é a profundidade<br />
b × d representa aquela parcela da incerteza que<br />
varia com a profundidade<br />
Adotando a fórmula proposta, nos levantamentos de ordem especial, por exemplo, a<br />
IVT autorizada varia de 26cm a 10m de profundidade até 45cm a 50m de<br />
profundidade. A Figura 3 apresenta um gráfico com os valores máximos aceitos de<br />
Incerteza Vertical Total para cada tipo de LH. No caso do acesso a Barra Norte, cuja<br />
profundidade é de 11,5m, a IVT autorizada é de 26,4cm em LH de Ordem Especial e<br />
de 52,2cm em LH de Ordem 1.<br />
17
incerteza (cm)<br />
160<br />
155<br />
150<br />
145<br />
140<br />
135<br />
130<br />
125<br />
120<br />
115<br />
110<br />
105<br />
100<br />
95<br />
90<br />
85<br />
80<br />
75<br />
70<br />
65<br />
60<br />
55<br />
50<br />
45<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
0<br />
2<br />
4<br />
6<br />
8<br />
10<br />
12<br />
Valores de IVT máximos permitidos<br />
14<br />
16<br />
18<br />
20<br />
22<br />
24<br />
26<br />
28<br />
30<br />
32<br />
34<br />
profundidade (m)<br />
Ordem Especial Ordem 1 Ordem 2<br />
Figura 3 – Gráfico com os valores de IVT máximos permitidos por categoria de LH (IHO, 2008)<br />
2.2. Os data verticais de maré: NR e LAT<br />
O NR das estações maregráficas brasileiras é definido no âmbito da DHN, com base<br />
nos resultados das análises dos relatórios de Levantamentos Hidrográficos e dos<br />
dados maregráficos obtidos por ocasião destes LH. Uma vez validados, os NR são<br />
divulgados por meio das Fichas Descritivas de Estações Maregráficas (F-41).<br />
A fim de preservar a determinação do NR, a perenidade de uma estação maregráfica e<br />
a conseqüente continuidade das séries históricas de observação daquele local,<br />
referências de nível (RN) são implantadas, constituindo uma rede de RN daquela<br />
estação. Dessa rede farão parte uma RN principal ou fundamental e demais<br />
referências secundárias. Os desníveis entre as RN são estabelecidos por nivelamentos<br />
geométricos e constam na ficha descritiva F-41. Recomenda-se que a altitude da RN<br />
principal da estação maregráfica seja definida em termos de um sistema de referência<br />
geocêntrico (WGS-84, ITRF). Além disso, convém que a RN principal da estação<br />
esteja relacionada ao menos a um marco geodésico da Rede Altimétrica de Alta<br />
Precisão (RAAP) do Sistema Geodésico Brasileiro (SBG), sob a responsabilidade do<br />
36<br />
38<br />
40<br />
42<br />
44<br />
46<br />
48<br />
50<br />
18
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Atualmente, o que se espera é<br />
que, somente com o cumprimento dessas especificações, a validação do NR possa ser<br />
efetivada.<br />
A metodologia em vigor na DHN para o estabelecimento do NR das estações<br />
maregráficas divide-se basicamente nas seguintes etapas:<br />
• Seleção de um “período padrão”: escolha de uma série temporal de<br />
observação do nível do mar com duração mínima de 30 dias (o recomendável<br />
é de que seja 1 ano) e, preferencialmente, recente;<br />
• Análise harmônica da série correspondente ao “período padrão”. As<br />
constantes harmônicas “padrão” e o nível médio obtidos nessa análise serão<br />
utilizados no cálculo do NR e das previsões divulgadas nas Tábuas das<br />
Marés;<br />
• A partir das constantes harmônicas “padrão” classifica-se a maré conforme o<br />
número de forma (Tabela 2) (COURTIER, 1938).<br />
• Dependendo da classificação pelo tipo de maré, calcula-se o somatório das<br />
amplitudes das principais componentes harmônicas, conforme as fórmulas<br />
dispostas na Tabela 2, segundo COURTIER (1938) e BALAY (1952). O<br />
resultado corresponderá à amplitude máxima a partir do nível médio do mar<br />
local (Z0). Isso é, o Z0 é a cota que situa o NR sob o nível médio local (NM).<br />
É indispensável que ambos os níveis de referência (NR e NM) sejam cotados<br />
ao zero da régua maregráfica (origem das observações do “período padrão”) e<br />
desta forma permaneçam amarrados à rede de Referências de Nível (RN) da<br />
estação e com isso, estabilizados.<br />
As fórmulas contidas na Tabela 2 mostram a importância crescente da introdução de<br />
componentes diurnas para o cálculo do NR na medida em que a maré passa a<br />
apresentar desigualdades diurnas, o que é observado a partir da classificação<br />
“semidiurna com desigualdades diurnas”. O fator 2k procura relacionar as fases da<br />
principal componente lunar semidiurna M2 à combinação das fases das componentes<br />
diurnas O1 e K1.<br />
19
Tabela 2 – Fórmulas para o Cálculo do NR segundo os critérios de Courtier (1938) e Balay<br />
(1952).<br />
Número de Forma (NF) Classificação Altura do NR sob o NM (ZO)<br />
H(K1)+H(O1)/H(M2)+H(S2)<br />
0
(FRANCO, 1997). Um método tão eficiente quanto à análise espectral cruzada na<br />
comparação de constantes harmônicas entre estações maregráficas próximas é<br />
conhecido como “concordância por espécie”. Essa técnica foi apresentada por<br />
SIMON (2007) e tem sido empregada de forma operacional no SHOM (Service<br />
Hydrographique e Océanographique de la Marine), há alguns anos. No mesmo<br />
Serviço há um método disponível para a estimativa dos chamados valores<br />
característicos de maré 4 de uma estação secundária por meio da construção de uma<br />
reta de regressão com os dados históricos de longo período de uma estação primária<br />
próxima. A classificação de estações será vista em detalhe mais adiante neste item.<br />
Porém, as componentes harmônicas de maré são ainda melhor identificadas se a<br />
análise ocorrer sobre um período de observação de longa duração. O ideal é dispor de<br />
uma série de 19 anos de medições, a fim de levar em conta a modulação das<br />
constituintes lunares devido às variações de longo termo da órbita da lua, conhecida<br />
como “regressão dos nodos lunares”. Atualmente, preconiza-se que um ano de<br />
observação contínua é considerado como o intervalo mínimo para obter resultados<br />
suficientemente precisos para as previsões de maré. Alguns serviços hidrográficos<br />
internacionais têm como conduta a manutenção de estações maregráficas permanentes<br />
para que seus data verticais históricos sejam precisamente determinados a partir de<br />
estatística de longas séries (e.g. Mean Lower Low Water no NOS/NOAA 5 /Estados<br />
Unidos). Em outros casos, há uma tentativa incessante de resgatar e manter os data<br />
históricos nacionais de maré, mesmo que eles não mais correspondam precisamente à<br />
realidade. Esse último é o caso do serviço hidrográfico francês (SHOM) no que<br />
concerne ao datum Zéro Hydrographique (WÖPPELMANN, et al., 2006).<br />
4 Ex: Mean Low Water Spring (MLWS), Mean Low Water Neap (MLWN), Mean High Water Spring (MHWS), Mean High Water Neap<br />
(MHWN), etc. Em português tais níveis são traduzidos como média das baixa-mares de sizígia e quadratura e média das preamares<br />
de sizígia e quadratura.<br />
5 National Ocean Service/ National Oceanic and Atmospheric Administration<br />
21
O Tidal and Water Level Working Group (TWLWG) da IHO vem divulgando<br />
resoluções a respeito dos data verticais de maré a serem aplicados na cartografia<br />
náutica pelos países membros daquela organização (IHO, 2004). O datum em questão<br />
para o escopo deste trabalho é o Lowest Astronomical Tide (LAT) e as deliberações<br />
do grupo de trabalho são transcritas a seguir:<br />
Resolve-se que a referência para as previsões de maré será a mesma que a referência da carta<br />
(referência para a redução de sondagens). Além disso, resolve-se que a maré astronômica mais<br />
baixa (LAT), ou tão próxima e equivalente a este nível quanto seja aceitável pelos Serviços<br />
Hidrográficos, seja adotada como a referência da carta onde as marés têm um efeito apreciável<br />
no nível de água. Alternativamente as diferenças entre LAT e data nacionais da carta podem<br />
ser especificadas nos documentos náuticos. Se os mais baixos níveis de água em uma área<br />
específica diferem freqüentemente do LAT, a referência da carta pode ser adaptada.<br />
E ainda:<br />
LAT é definido como o nível mais baixo da maré que pode ser previsto ocorrendo sob<br />
circunstâncias meteorológicas médias e sob toda a combinação de circunstâncias<br />
astronômicas. Recomenda-se que LAT seja calculado sobre um período mínimo de 19 anos<br />
usando as constantes harmônicas derivadas de um mínimo de observações de um ano, ou por<br />
outros métodos que comprovadamente forneçam resultados de confiança. Os níveis da maré<br />
devem, se praticáveis, refletir os valores estimados do erro obtidos durante a determinação<br />
destes níveis.<br />
A IHO (2005) classifica as estações maregráficas em três tipos:<br />
• Estações primárias (estações de controle): são geralmente aquelas que têm<br />
sido operadas por 19 anos ou mais e que deverão continuar operando<br />
permanentemente no futuro. São utilizadas para obter registros contínuos do<br />
nível do mar. Nessas estações há a efetiva materialização do NR.<br />
• Estações secundárias: são aquelas que operam por menos de 19 anos e mais de<br />
um ano, de forma temporária. Estações secundárias possibilitam o<br />
monitoramento em baías e estuários onde os efeitos de maré localizados não<br />
podem ser verificados na estação de controle. As observações na estação<br />
secundária usualmente não são suficientes para uma determinação precisa e<br />
independente de NR, mas quando utilizadas para a redução de sondagens, após<br />
comparação simultânea das observações com uma adequada estação de<br />
controle, pode-se obter resultados bastante satisfatórios.<br />
22
• Estações terciárias: são aquelas que operam por mais de 1 mês e menos de 1<br />
ano.<br />
A IHO recomenda que o LAT em estações terciárias e secundárias seja definido em<br />
função do LAT de uma estação de controle, a partir de comparações entre<br />
observações simultâneas.<br />
Além disso, recomenda que a escolha do local para a instalação de uma estação<br />
maregráfica deva considerar os seguintes fatores:<br />
• Cobertura das variabilidades inerentes às características de maré (tipo,<br />
amplitude, fase, nível médio diário, tendência de longo termo de nível médio);<br />
• Cobertura de áreas críticas para a navegação;<br />
• Locais históricos;<br />
• Proximidade aos marcos da rede geodésica nacional;<br />
• Disponibilidade de estruturas próprias para a instalação (caso dos portos em<br />
geral).<br />
No Brasil, devido à carência de séries observadas de nível do mar, atualmente são<br />
poucas as estações cujos NR foram calculados com base em períodos superiores a um<br />
ano. Na prática, a maioria das estações maregráficas nacionais hoje cadastradas no<br />
Banco Nacional de Dados Oceanográficos (BNDO) é classificada como terciária, de<br />
acordo com o critério da IHO. ROSO (2006) aponta que apenas 15% das estações<br />
brasileiras contidas na base de dados do BNDO apresentam séries de observação<br />
maregráfica de um ano de duração. Isso configura um dos maiores obstáculos para a<br />
migração do NR para o LAT pela DHN.<br />
Face ao exposto conclui-se que, ao longo do tempo, podem ter ocorrido<br />
materializações imperfeitas do NR nas diversas estações brasileiras, o que é passível<br />
de acontecer graças a diversos fatores, dentre os quais se destacam: a própria evolução<br />
do nível médio do mar, a adoção de critérios técnicos ultrapassados na coleta e no<br />
processamento dos dados maregráficos, ou mesmo mudanças locais no regime de<br />
marés.<br />
23
Mas, independente da qualidade do resultado obtido, habitualmente o plano do nível<br />
de redução, uma vez definido, costumava ser mantido, salvo diante de casos<br />
excepcionais em que a variação em relação à definição teórica o tornasse<br />
completamente inaceitável (alta incidência de previsões de maré negativas), ou se<br />
viesse a comprometer a segurança da navegação (valores de profundidades<br />
cartografadas superestimadas), ou se constituísse entrave à navegação por ser um<br />
plano de referência excessivamente restritivo.<br />
É desejável que os NR sejam reavaliados sempre que houver a oportunidade de tornálos<br />
mais precisos e coerentes com as orientações da IHO e, talvez um dia<br />
definitivamente substituídos pelo datum internacional LAT. Para que isso possa<br />
acontecer é importante que o Brasil promova suas estações maregráficas terciárias a<br />
primárias e secundárias.<br />
A questão da determinação dos data verticais de referência para a carta, a partir da<br />
altimetria espacial e do GPS, foge do escopo deste trabalho. Contudo, por se tratar de<br />
um assunto de fundamental relevância, será brevemente comentado no Apêndice C,<br />
que descreve o que tem sido feito no âmbito do Projeto BATHYELLI desenvolvido<br />
pelo SHOM (PINEAU-GUILLOU e DUPONT, 2007; PINEAU-GUILLOU, 2008).<br />
Outros importantes projetos internacionais são o VORF (The Vertical Offshore<br />
Reference Frame), idealizado para a integração de todos os data verticais e<br />
superficies de referência adotadas no Reino Unido e Irlanda, voltado especialmente<br />
para os data usados na cartografia náutica<br />
(http://www.cege.ucl.ac.uk/research/geomatics/vorf), e o Vdatum, ferramenta<br />
computacional americana desenvolvida para transformar dados geoespaciais em uma<br />
gama de data verticais de maré, ortométricos e elipsoidais (http://vdatum.noaa.gov/).<br />
2.3. A redução de sondagens<br />
Quando o LH é realizado em uma área com grande variação das condições<br />
hidrodinâmicas, por vezes a simples obtenção dos dados em estações maregráficas<br />
não é suficiente para garantir a acurácia da redução de sondagens. Neste caso, os<br />
dados coletados nas estações não refletem a realidade encontrada na região do<br />
24
levantamento e é necessário interpolar ou extrapolar as informações contidas nas<br />
séries temporais coletadas. Este processo é conhecido genericamente pela<br />
denominação de zoneamento de maré. Segundo RAMOS e KRUEGER (2006) as<br />
maiores fontes de erros presentes na profundidade reduzida são oriundas do processo<br />
de redução de sondagens e das correções do movimento da embarcação 6 durante o<br />
momento da sondagem. Por sua vez, a incerteza decorrente da redução de sondagens<br />
(IVT) é fortemente influenciada pela incorreta estimativa do comportamento da maré<br />
ao longo da área de sondagem e principalmente, pela distância da estação maregráfica<br />
de referência.<br />
O zoneamento discreto da maré empregado no National Ocean Service (NOS/NOAA)<br />
dos Estados Unidos e o método das subáreas de redução aplicado na DHN são muito<br />
similares e têm como objetivo prover as correções de maré por zonas específicas. O<br />
número de zonas do LH depende da complexidade da maré do local e cada zona é<br />
descrita por uma razão de amplitude, uma correção de fase e um fator de ajuste do<br />
datum vertical. Todos esses parâmetros são definidos em relação a uma estação<br />
maregráfica de referência. Análises de dados históricos, modelagens e outras<br />
pesquisas permitem que se estabeleçam os parâmetros de cada zona a partir da<br />
construção de mapas de isolinhas de fase e amplitude de maré. No pós-processamento<br />
dos dados batimétricos brutos as correções de maré, próprias de cada zona, são<br />
aplicadas. NOS (2008) estabelece a criação de uma nova zona a cada 0,06 m de<br />
mudança na amplitude média da maré e a cada 0,3 horas de progressão da maré no<br />
tempo (i.e. deslocamento em fase da onda de maré) e recomenda degraus de 6cm<br />
entre os data verticais de cada área. Além disso, é recomendável que o método<br />
somente seja usado em áreas onde predominem as mesmas condições de ventos, de<br />
pressão atmosférica, de vazão fluvial, etc. Maiores detalhes sobre essa abordagem<br />
podem ser obtidos em DE PAULA (1999), MILLS e GILL (2005), FERNANDES<br />
(2006), RAMOS (2007) e NOS (2008).<br />
6 Na prática esses efeitos podem estar combinados no instante da sondagem, mas são medidos de forma independente. Assim,<br />
podem gerar uma certa complicação na fase de pós-processamento do dado batimétrico (SCARFE, 2002 apud RAMOS e<br />
KRUEGER, 2006)<br />
25
A DHN, desde 1995, adota o zoneamento discreto de maré na região da Barra Norte<br />
do estuário do rio Amazonas (DHN, 1995). Todas as informações sobre os fatores de<br />
correção de maré utilizados e as particularidades do método para aquela região foram<br />
calculadas por DE PAULA (1999) e são até o presente momento empregadas nos LH<br />
daquela região. FERNANDES (2006) revisou o método proposto para o Canal da<br />
Barra Norte utilizando resultados de modelagem hidrodinâmica e chegou a um<br />
número de 26 subáreas de redução (de acordo com o critério proposto pelo NOS)<br />
contra as 9 subáreas inicialmente propostas por DE PAULA (op. cit.). Além disso, a<br />
configuração das áreas apresentou um arranjo espacial completamente diferente do<br />
original. As principais críticas de FERNANDES (2006) ao método tradicionalmente<br />
utilizado para aquela região em particular são as seguintes: a hipótese de que o Z0 da<br />
estação de referência é constante e uniforme em toda a área do LH não é válida; a<br />
assimetria da maré não pode ser desprezada, pois afeta os fatores de correção de fase<br />
das zonas de redução; os fatores de correção são fixados para um cenário específico<br />
do passado e empregados em momentos atuais onde os processos físicos podem ser<br />
completamente diferentes (em outras palavras, o método desconsidera os efeitos<br />
inerentes à sazonalidade como, por exemplo na vazão fluvial); por fim, ao comparar<br />
os resultados obtidos com o modelo hidrodinâmico, encontrou diferenças de, em<br />
média, 3 metros em módulo e desvio padrão de 1,14m nas profundidades reduzidas.<br />
Diante das limitações do método do Zoneamento Discreto da Maré e da dificuldade<br />
de torná-lo operacional na prática hidrográfica, estão sendo implementadas novas<br />
técnicas para o mapeamento espacial da maré, diminuindo as incertezas relacionadas à<br />
correção das sondagens. Alguns desses métodos são o TCARI, o Masg2 e a<br />
modelagem hidrodinâmica. As três abordagens apresentam a vantagem de gerarem<br />
valores de correção de maré pontuais para o instante e o local exato da sondagem e de<br />
poderem ser facilmente integradas aos sistemas de referenciamento geodésico<br />
elipsoidais.<br />
O TCARI (HESS, 2003; HESS et al., 2004) desenvolvido pelo NOS é um método de<br />
simulação de níveis relativos ao datum vertical, que usa os valores observados em<br />
estações maregráficas e os interpola espacialmente ao longo de uma dada região. Os<br />
26
valores observados e interpolados são: a amplitude e a fase de cada constituinte de<br />
maré; o resíduo; e o que no método é chamado offset, que tanto pode ser a diferença<br />
entre o nível médio do mar local (MSL) e o MLLW (datum vertical das cartas dos<br />
Estados Unidos), como também um datum vertical de maré qualquer referido ao<br />
elipsóide. O nível de cada ponto é computado somando a maré astronômica<br />
(interpolação das componentes harmônicas) ao resíduo e ao offset interpolados. As<br />
interpolações espaciais no cerne dessa técnica são realizadas a partir da utilização de<br />
uma série de funções de ponderação que quantificam as contribuições locais de cada<br />
estação maregráfica. As funções de ponderação, por sua vez, são geradas pela solução<br />
numérica da Equação de Laplace. O peso dado na interpolação não é baseado em<br />
distâncias retilíneas, uma vez que considera a presença de linhas de costa irregulares e<br />
ilhas (FERNANDES, 2006). Para esse método é necessário dispor de uma densa rede<br />
de observação do nível do mar.<br />
O SHOM, desde 2005, vem utilizando para a redução de sondagens o programa<br />
Masg2, que permite estimar o valor da altura real de maré em cada ponto sondado em<br />
relação ao datum vertical (SHOM, 2006). A altura de maré calculada pelo Masg2<br />
compreende a previsão de maré astronômica e mais uma estimativa dos efeitos<br />
meteorológicos reinantes no momento da sondagem, por meio de observações de<br />
maré obtidas tanto de marégrafos de pressão fundeados na área de sondagem quanto<br />
na própria estação de referência. A redução de sondagens propriamente dita não é<br />
efetuada pelo Masg2 e sim pelos sistemas de processamento de dados batimétricos<br />
(ex. CARIS – www.caris.com). No entanto, é o Masg2 que permite a criação do<br />
arquivo de correções de maré no formato “posição, data, hora, altura referida ao<br />
datum vertical” a ser utilizado no módulo de processamento das batimetrias. Como<br />
dados de entrada para o Masg2 são necessários:<br />
- um modelo de maré prevista para a área de interesse onde a resolução espacial é<br />
opcional;<br />
- um arquivo de constantes harmônicas da estação de referência da zona de maré onde<br />
está sendo realizado o LH;<br />
- um arquivo de alturas de maré observadas no porto de referência (opcionalmente os<br />
dados observados da estação secundária também poderão ser incluídos); e<br />
- um arquivo com os dados da sondagem (data, hora, posição da sondagem).<br />
27
O datum vertical considerado pelo Masg2 é o LAT, a ser posteriormente convertido<br />
para o Zéro Hydrographique (SIMON, 2007). O resíduo meteorológico é calculado<br />
nas estações de referência e nos pontos de fundeio e aplicado para toda a área de<br />
sondagem. Esse programa necessita que as áreas de sondagem não sejam<br />
demasiadamente amplas para que não haja comprometimento da estimativa do<br />
resíduo.<br />
Finalmente, um dos métodos considerados mais promissores em regiões de maior<br />
complexidade e praticamente a única alternativa para a interpolação e extrapolação de<br />
dados em áreas com carência de dados é aquele que utiliza a modelagem<br />
hidrodinâmica. PINEAU-GUILLOU (2005) aplicou um modelo de circulação<br />
hidrodinâmica em duas dimensões horizontais para a região do Golfo de Morbihan<br />
(França), visto que neste golfo a propagação de maré assume um comportamento<br />
complexo, gerando significativos gradientes na amplitude de maré em certos pontos<br />
(notadamente na proximidade de ilhas). Esse fenômeno não pôde ser bem<br />
representado com os métodos anteriores baseados apenas na interpolação de<br />
medições. Nesse trabalho os níveis gerados pelo modelo foram calibrados às<br />
constantes harmônicas disponíveis em 21 pontos de medição. Após a calibração foram<br />
encontradas diferenças entre as amplitudes produzidas pelo modelo e pela previsão<br />
de, em média, 4,2cm (desvio padrão de 2cm) e defasagem de 5 minutos em preamar e<br />
9 minutos em baixa-mar. As alturas de maré do golfo são inferiores a 3 metros. Os<br />
resultados, além de terem sido aplicados na redução de sondagens, também foram<br />
úteis para o cálculo e mapeamento do LAT e também para a geração de constantes<br />
harmônicas nos nós da malha. Essas constantes foram igualmente exportadas para a<br />
base de dados do modelo global de previsão de marés francês desenvolvido no SHOM<br />
conhecido como MARMONDE (sigla para “maré do mundo”).<br />
2.4. A previsão de marés<br />
Durante a navegação e fazendo-se uso da carta náutica, a lógica da previsão de marés<br />
é inversa ao processo de redução das sondagens: acrescenta-se à profundidade local<br />
representada a “porção variável da coluna d´água” que pode ser reproduzida para o<br />
28
dia e o local desejados. As previsões de maré astronômica são divulgadas pelos<br />
serviços hidrográficos de todo o mundo por publicações conhecidas como Tábuas das<br />
Marés.<br />
A DHN realiza as previsões de maré por meio do método harmônico (FRANCO,<br />
1997; PUGH, 2004). Em algumas situações, o método harmônico apresenta algumas<br />
limitações, dentre as quais se destacam:<br />
• O método harmônico baseia-se no conhecimento das freqüências das<br />
componentes presentes em pontos específicos de observação prévia de maré<br />
astronômica, onde as constantes harmônicas já tenham sido definidas. Ou<br />
seja, é imprescindível que haja dados coletados e, de preferência, com boa<br />
qualidade (baixo resíduo) e de longo termo;<br />
• As previsões harmônicas são pontuais. No caso brasileiro, as Tábuas das<br />
Marés apresentam as previsões apenas para os principais portos. Em outros<br />
países, as Tábuas apresentam coeficientes de maré a serem empregados nos<br />
valores previstos dos portos principais visando estimar as preamares e baixamares<br />
em portos secundários. Mas, em ambos os casos, a maré astronômica<br />
somente pode ser reproduzida por meio da previsão harmônica, em locais<br />
muito específicos e não em um ponto qualquer de interesse. Essa regra vale,<br />
inclusive, para algumas versões de tábuas de marés digitais, as quais não<br />
devem ser confundidas com modelos de maré. Alguns exemplos de<br />
aplicativos comerciais que realizam previsões eletrônicas são: o TOTALTIDE<br />
homologado pelo serviço hidrográfico inglês; o SHOMAR, em fase de<br />
validação na França; e o PREVMARÉ, desenvolvido em meados da década<br />
de 90 no Brasil (FRANCO, comunicação pessoal).<br />
• As previsões baseadas no método harmônico não contemplam efeitos<br />
decorrentes de forçantes não astronômicas. Assim sendo, em regiões onde,<br />
por exemplo, há significativa variabilidade das condições meteorológicas ou<br />
29
em que influências fluviais são marcantes, as constantes harmônicas obtidas<br />
por ocasião de eventos extremos não se prestam a uma previsão astronômica<br />
acurada para outros períodos. Os fenômenos não-relacionados à maré<br />
astronômica podem interagir de forma não-linear com as constantes,<br />
modificando-as.<br />
Quanto a esse último aspecto, especificamente em regiões estuarinas, como é o caso<br />
da foz do Amazonas, a sazonalidade inerente ao ciclo hidrológico faz com que as<br />
constantes harmônicas deixem de se comportar efetivamente como constantes,<br />
passando a apresentar variações condicionadas pela vazão fluvial. GALLO (2004)<br />
identificou a não-estacionariedade da maré astronômica na região mais a montante do<br />
estuário do Amazonas, a partir da localidade de Canivete. Esse estudo comprovou que<br />
o emprego de constantes oriundas de período de cheia ou estiagem, visando a geração<br />
de previsões para todo o ano, ou para períodos diferentes daqueles analisados, poderia<br />
incidir em erros consideráveis.<br />
Uma forma de complementar o método harmônico é empregar modelos<br />
hidrodinâmicos numéricos para gerar previsão de níveis. A idéia de resolver as<br />
equações da hidrodinâmica no meio de propagação da maré não é nova, mas somente<br />
se tornou viável com o atual desempenho dos computadores (SIMON, 2007).<br />
O grande benefício da adoção dos modelos é a abrangência espacial dos resultados<br />
obtidos. Com os modelos há a possibilidade de prover previsões para uma grande<br />
quantidade de pontos, dependendo do grau de refinamento da malha de cálculo. Outra<br />
vantagem está relacionada à capacidade do modelo simular os fenômenos nãoharmônicos<br />
(efeitos de ventos, de descargas fluviais, etc.) que na maioria das vezes<br />
aparecem nos registros observados, mas não podem ser reconstituídos pelo método da<br />
previsão harmônica (NOS, 2007).<br />
A modelagem numérica passa a ser uma opção interessante para aplicações mais<br />
específicas, principalmente onde a maré sofre uma variabilidade espacial relevante.<br />
30
No caso da área focalizada neste estudo, a modelagem hidrodinâmica pode ser<br />
considerada a ferramenta preditiva de níveis mais promitente.<br />
Essa abordagem tem sido aplicada pelo SHOM desde o início desta década,<br />
considerando modelos específicos para a previsão de maré astronômica. Modelos<br />
regionais são criados a partir de um modelo global (MARMONDE). Esse modelo<br />
integra: uma base de 143 componentes harmônicas (com respectivas constantes)<br />
provenientes de pontos de observação, dados de altimetria espacial e também<br />
componentes harmônicas resultantes de modelos hidrodinâmicos costeiros validados<br />
(implementados em áreas mais sensíveis). O modelo global realiza uma interpolação<br />
espacial de duas variáveis na resolução espacial desejada das constantes (G e H), para<br />
cada componente e, em seguida, efetua a previsão harmônica para cada nó da malha.<br />
31
3. Caracterização da área de estudo<br />
Capítulo 3<br />
A região abrangida pela modelagem hidrodinâmica situa-se na região norte do Brasil,<br />
nos estados do Amapá e Pará, entre os paralelos 3º S e 4º N e os meridianos 56º W e<br />
46ºW, compreendendo o estuário 7 do rio Amazonas. Neste trabalho o estuário será<br />
delimitado a montante pela cidade de Óbidos 8 (a cerca de 800 km da foz do rio<br />
Amazonas), se prolongando até a plataforma continental amazônica adjacente, região<br />
onde se projeta a frente salina. A área estudada inclui ainda os principais rios<br />
contribuintes da bacia hidrográfica do Amazonas neste trecho: rios Xingu, Tapajós,<br />
Tocantins-Pará e o rio Amazonas. A desembocadura do rio Amazonas consiste na<br />
área de baixas profundidades compreendida entre o Cabo Maguari, na Ilha de Marajó,<br />
e o Cabo Norte no Estado do Amapá (BEARDSLEY et al., 1995). A região de maior<br />
interesse para este estudo localiza-se nas imediações da Barra Norte, conforme já<br />
especificado no capítulo anterior e apresentado na Figura 4 e Figura 5 a seguir.<br />
A região da plataforma amazônica foi intensamente estudada no final da década de 80<br />
e início da década de 90 durante o projeto AmasSeds (A Multidisciplinary Amazon<br />
Shelf Sediment Study), com o objetivo de investigar a interação entre os processos<br />
oceanográficos físicos, transporte de sedimentos, transformações biogeoquímicas e<br />
sedimentação. Alguns desses estudos fornecem até hoje grandes subsídios para a<br />
compreensão da dinâmica daquela região. O uso da modelagem numérica como<br />
ferramenta para explorar questões como a manutenção da frente salina, efeitos de<br />
ventos sobre a pluma do Amazonas e a influência da Corrente Norte do Brasil na<br />
hidrodinâmica da plataforma continental amazônica, no entanto, foi um aspecto não<br />
amplamente contemplado pelo projeto AmasSeds (GEYER e BEARDSLEY,1995).<br />
7 Segue-se a definição de DYER (1997) para estuários: “corpos d´ água costeiros semi-fechados que possuem conexão livre com o<br />
oceano, se estendendo ao longo do rio até o limite da influencia de maré e no qual a água do mar é mensuravelmente diluída na<br />
água doce proveniente da drenagem continental”.<br />
8 Oscilações verticais periódicas de poucos centímetros, devido à influência de maré, são perceptíveis até Óbidos (GALLO e<br />
VINZON, 2005).<br />
32
Por outro lado, os trabalhos pioneiros desenvolvidos no âmbito do AmasSeds<br />
encorajaram alguns estudos mais recentes, tais como os conduzidos pela equipe do<br />
LDSC, que começaram a utilizar a modelagem numérica como método investigatório<br />
para os processos típicos daquela região (GABIOUX et al., 2005; GALLO e<br />
VINZON, 2005; FERNANDES et al., 2007).<br />
Latitude (°)<br />
4°<br />
3°<br />
2°<br />
1°<br />
0°<br />
-1°<br />
-2°<br />
-3°<br />
Rio Tapajós<br />
Rio Amazonas<br />
Rio Xingu<br />
Cabo<br />
Cassiporé<br />
Macapá<br />
Cabo Norte<br />
Longitude (°)<br />
Ilha<br />
de Maracá<br />
Ilha de<br />
Marajó<br />
Rio Pará<br />
Belém<br />
Ilha de Maracá<br />
Oceano<br />
Atlântico<br />
56° 55° 54° 53° 52° 51° 50° 49° 48° 47° 46°<br />
Guará<br />
Barra Norte<br />
Detalhe da Barra Norte<br />
Figura 4 – Mapa da área de estudo com isolinhas de batimetria. O retângulo vermelho indica a<br />
região de interesse para este trabalho (Barra Norte). No detalhe, o polígono de cor laranja<br />
reproduz a área de redução de sondagens adotada pela DHN e os círculos de cor azul<br />
representam os pontos de fundeio realizados pelo NHi Sirius nos anos de 2006 e 2007.<br />
33
Figura 5 – Carta náutica número 200 editada pela DHN, apresentando a região de interesse.<br />
Nota-se que alguns dos mais importantes modelos classificatórios para estuários<br />
encontrados na literatura (DYER, 1997) são dificilmente aplicados ao caso do estuário<br />
do rio Amazonas, em virtude de algumas características encontradas neste ambiente.<br />
Por exemplo: em regime de marés de quadratura, apresenta estratificação da coluna<br />
34
d´água, tipicamente observada nos estuários de “cunha salina”; em contrapartida, nas<br />
sizígias, assume características do tipo “parcialmente misturado” 9 (VINZON, 1997).<br />
A classificação proposta por DAVIES (1964 apud DYER, 1997), baseada nas alturas<br />
de maré (tidal range), permite caracterizar a área de estudo como um estuário de<br />
macromaré (variações de 4 a 6 m). As marés são semidiurnas e as principais<br />
componentes harmônicas encontradas na desembocadura são M2, S2 e N2 (dois ciclos<br />
por dia) e K1 e O1 (um ciclo por dia), com amplitudes 10 da ordem de 140, 30, 20, 10 e<br />
5 cm, respectivamente (GALLO e VINZON, 2005).<br />
A componente M2 constitui-se na forçante de maré mais importante na plataforma<br />
continental amazônica, contribuindo com cerca de 70% da elevação total de maré.<br />
Essa componente se comporta como uma onda progressiva na região localizada ao sul<br />
do banco que se estende a partir do Cabo Norte, se propagando ao longo do estuário<br />
até Óbidos. Já na porção ao norte daquele banco, a M2 assume a característica de uma<br />
onda estacionária. No embaiamento entre o banco do Cabo Norte e a linha de costa,<br />
são detectadas amplitudes de maré superiores à 5m nas sizígias, em função de efeitos<br />
relacionados à ressonância (BEARDSLEY et al.,1995; NITTROUER et al.,1995) e à<br />
redução do atrito (GABIOUX et. al., 2005).<br />
A forte influência da vazão fluvial no estuário do Amazonas é responsável pelo<br />
amortecimento de diversas componentes de maré, bem como pela geração de novos<br />
harmônicos, tais como a componente M4, sobre-harmônico da componente M2 e a<br />
componente Msf, composição dos constituintes de maré M2 e S2. Conforme resultados<br />
obtidos através de modelagem hidrodinâmica, as correntes invertem seu sentido a<br />
aproximadamente 150 km e 300 km da foz, em função de situações de máximas ou<br />
mínimas vazões, respectivamente (GALLO, 2004).<br />
FERNANDES (2006) analisou o comportamento da assimetria de maré ao longo do<br />
estuário, considerando apenas os níveis obtidos com a modelagem numérica para<br />
diversas estações. Seus resultados indicaram uma assimetria positiva (com tempos de<br />
9 Ambos os tipos correspondem à classificação para estuários de PRITCHARD (1955 apud Miranda et al., 2002) e CAMERON e<br />
PRITCHARD (1963 apud Miranda et al., 2002) baseada na estrutura salina.<br />
10 Metade da diferença em altura entre uma preamar e uma baixa-mar (MAGLIOCCA, 1987)<br />
35
enchente inferiores a 6 horas) na porção mais interior do estuário, evoluindo para uma<br />
assimetria negativa (tempos de enchente superiores a 6 horas) ao largo (Figura 6).<br />
Figura 6 – Mapa de assimetria da maré (FERNANDES, 2006): região em azul representando<br />
assimetria positiva (tempo de enchente menor do que 6 horas) e, em vermelho, assimetria<br />
negativa (tempo de enchente maior do que 6 horas).<br />
GALLO (2004) compartimentou o estuário do Amazonas em três zonas distintas<br />
conforme a propagação da maré: uma primeira região de forte influência oceânica,<br />
próxima à foz, onde há o predomínio das componentes semi-diurnas puras; um<br />
segundo trecho intermediário que se estende até Gurupá (distando cerca de 300 km da<br />
foz), em que surgem harmônicos de alta freqüência (e.g. M4) e de longo período (e.g.<br />
Msf); e, finalmente, uma região de domínio fluvial, onde ocorre forte amortecimento<br />
dos harmônicos e aumento da importância das componentes harmônicas de longo<br />
período. Os limites entre essas regiões variam conforme a vazão fluvial considerada.<br />
Algumas conclusões importantes daquele trabalho são: as componentes harmônicas<br />
astronômicas somente apresentam fases e amplitudes constantes na região mais<br />
36
próxima à foz; enquanto a geração dos harmônicos de água rasa é dependente da<br />
vazão fluvial em todo o estuário, entre outros fatores.<br />
A vazão líquida média anual do Amazonas, estimada em 1,8 × 10 5 m 3 s -1 , é<br />
considerada a maior fonte pontual de água doce existente nos oceanos e forma a mais<br />
extensa pluma estuarina identificável em áreas oceânicas, podendo ser inclusive<br />
percebida no Atlântico Norte (MIRANDA et al., 2002). O ciclo hidrológico do<br />
Amazonas é bem determinado, com períodos de cheia ocorrendo entre os meses de<br />
maio e julho e de estiagem entre outubro e dezembro. As vazões líquidas variam<br />
sazonalmente de 1,0 a 2,8 × 10 5 m 3 s -1 (GIBBS, 1970; MEADE et al., 1985 apud<br />
KINEKE e STERNBERG, 1995). As vazões do Amazonas, em conjunto com a<br />
morfologia, constituem fatores importantes para impedir que haja intrusão salina na<br />
desembocadura do rio. A frente salina (região de maior gradiente horizontal de<br />
salinidade) se forma na plataforma continental interna, entre as isóbatas de 10 e 30 m<br />
(GIBBS, 1970).<br />
A plataforma continental amazônica é definida como a região que se estende da linha<br />
de costa até a quebra da plataforma (isóbata de 100m, aproximadamente), entre o<br />
estuário do rio Pará e a latitude de 5º N. A plataforma média (limitada pelas linhas<br />
isobatimétricas de 40 e 60 m) apresenta um gradiente relativamente íngreme, superior<br />
a 1:500, enquanto a plataforma interna se configura de forma mais ampla e suave,<br />
com declividades superiores a 1:3000 (NITTROUER e DEMASTER, 1986 apud<br />
KINEKE e STERNBERG, 1995). A largura da plataforma varia de um mínimo de<br />
100 Km a noroeste, perto da latitude de 4º N, até um máximo de 250 Km perto da foz<br />
dos rios Amazonas e Pará. A sudeste, perto da longitude de 45º W, apresenta uma<br />
largura de 150 Km. A topografia de fundo na desembocadura do rio Amazonas é<br />
bastante complexa e pouco conhecida. As profundidades típicas nos canais Norte e<br />
Sul excedem 20 m porém, nas proximidades da embocadura, as profundidades<br />
tornam-se inferiores a 7 m (BEARDSLEY et al., 1995).<br />
Através da plataforma continental a Corrente Norte do Brasil (CNB) flui com<br />
velocidades de 40-80 cm/s (LENTZ, 1995 apud NITTROUER et al., 1995).<br />
Flutuações sazonais na velocidade da CNB apresentam um máximo em agostosetembro<br />
e um mínimo em abril (NITTROUER et al., 1995). A influência da CNB na<br />
37
circulação da plataforma continental amazônica ainda não foi detalhadamente<br />
documentada segundo GEYER e KINEKE (1995).<br />
A pluma de baixa salinidade gerada pela descarga líquida do amazonas é, em larga<br />
escala, desviada para noroeste. As variações na largura, na concentração de sal e na<br />
dinâmica da pluma estuarina do Amazonas, associadas às escalas temporais de dias a<br />
semanas, parecem estar relacionadas ao regime local de ventos (GIBBS, 1970 apud<br />
VINZON, 1997).<br />
A circulação atmosférica superficial é dominada pelos ventos alísios (NITTROUER e<br />
DEMASTER, 1996), que sopram de forma consistente sobre a plataforma e variam<br />
conforme a oscilação sazonal da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) do<br />
Oceano Atlântico. Os ventos na região variam entre os quadrantes de N-E (janeiro a<br />
março, com velocidades máximas da ordem de 9 m/s) e os quadrantes de S-E (junho a<br />
novembro, com velocidades da ordem de 3 m/s) (NITTROUER et al., 1995;<br />
FERNANDES, 2006).<br />
A bacia hidrográfica do rio Amazonas drena uma área de 6,9 × 10 6 km 2 , que se<br />
estende da encosta oriental dos Andes até o oceano (RICHEY e VICTORIA, 1993<br />
apud KINEKE e STERNBERG, 1995). A descarga do Amazonas transporta,<br />
anualmente, aproximadamente 1,2 × 10 9 toneladas de sedimento através de Óbidos<br />
(MEADE et al., 1985 apud NITTROUER et al., 1995), sendo que a maior parte do<br />
sedimento transportado em suspensão pelo Amazonas (85-95%) corresponde à fração<br />
silte-argila (KINEKE e STERNBERG, 1995). Os sedimentos aportados pelo rio<br />
Amazonas são retidos na plataforma continental amazônica, formando densas<br />
camadas de sedimento em suspensão (lama fluida) ao longo da frente salina (KINEKE<br />
et al., 1996).<br />
Segundo GABIOUX (2002), durante o projeto AmasSeds foram registradas, na região<br />
noroeste da plataforma, camadas de sedimentos em suspensão próximas ao fundo,<br />
com espessura variando de 2 a 4 m (chegando a 7 m), concentrações da ordem de 10 1<br />
a 10 2 g/l e fortes gradientes verticais (lutoclinas). A ocorrência de lamas fluidas na<br />
plataforma continental amazônica vem sendo sistematicamente investigada, tendo em<br />
vista a sua importância na hidrodinâmica daquele sistema. Essas camadas interferem<br />
38
na propagação de marés, amplificando-as (mediante redução da tensão de atrito de<br />
fundo), assim como modificam a estrutura vertical do escoamento e as conseqüentes<br />
trocas entre a coluna d´água e o fundo, afetando importantes processos químicos,<br />
biológicos e geológicos.<br />
39
4. A modelagem hidrodinâmica<br />
Capítulo 4<br />
Os modelos hidrodinâmicos adotados neste trabalho são parte integrante do<br />
SisBaHiA®–Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental, que corresponde a um<br />
sistema de modelos computacionais registrado pela Fundação Coppetec, da<br />
Universidade Federal do Rio de Janeiro (<strong>UFRJ</strong>).<br />
Esse sistema foi escolhido por já ter sido aplicado para a região amazônica em estudos<br />
anteriores, fornecendo bons resultados. Além disso, o SisBaHiA® tem sido<br />
continuamente aperfeiçoado no âmbito da <strong>COPPE</strong> desde 1987, por meio de projetos<br />
de pesquisa, dissertações de mestrado e teses de doutorado e vem sendo aplicado com<br />
sucesso em diversos estudos que envolvem a modelagem de corpos de água naturais.<br />
Nesse contexto, o fato de existir na própria <strong>UFRJ</strong> um grupo de pesquisadores com<br />
substancial domínio do sistema favoreceu um intenso aprendizado que culminou na<br />
consecução deste trabalho.<br />
Nesta dissertação foram utilizados dois módulos da versão 6.5 do SisBaHiA®: o<br />
modelo hidrodinâmico bidimensional horizontal (2DH) e o módulo de Análise &<br />
Previsão de Marés. Para informações sobre outros módulos e modelos do SisBaHiA®,<br />
acesse www.sisbahia.coppe.ufrj.br.<br />
Segundo a Referência Técnica do SisBaHiA® (ROSMAN, 2008), o módulo<br />
correspondente ao modelo hidrodinâmico consiste em um modelo de circulação<br />
hidrodinâmica 3D ou 2DH otimizado para corpos de água naturais nos quais efeitos<br />
de baroclinicidade possam ser desprezados. Trata-se de um modelo planejado para<br />
melhor representação de escoamentos em domínios naturais com geometria complexa<br />
(contornos recortados e batimetria espacialmente variada). Os processos de<br />
calibração são minimizados devido a: discretização espacial via elementos finitos<br />
quadráticos e transformação σ, permitindo mapeamento de corpos de água com linhas<br />
de costa e batimetrias complexas; campos de vento e atrito do fundo que podem variar<br />
dinamicamente no tempo e no espaço; e modelagem de turbulência multi-escala<br />
baseada em Simulação de Grandes Vórtices (LES).<br />
40
O tratamento da turbulência do SisBaHiA® é baseado em técnicas de filtragem<br />
propostas originalmente por ALDAMA (1985) e emprega esquemas auto-ajustáveis<br />
na escala da submalha. A fim de garantir que os efeitos dos termos de filtragem, e<br />
com isso as tensões turbulentas, sejam sempre dissipativos, foi incorporada ao modelo<br />
de turbulência a modificação proposta por ROSMAN e GOBBI (1990), que considera<br />
a variação local da escala da largura do filtro nas dimensões espacial e temporal.<br />
O sistema utiliza para a discretização do domínio espacial do módulo 2DH elementos<br />
finitos quadrangulares de nove nós em uma formulação Lagrangeana sub-paramétrica.<br />
As variáveis do escoamento e os parâmetros do domínio são definidos por polinômios<br />
Lagrangeanos quadráticos e, para a geometria, são feitas interpolações lineares. Um<br />
esquema numérico potencialmente de quarta ordem é garantido pelo fato do sistema<br />
considerar nós intermediários em cada lado dos elementos, além de um nó no centro<br />
de cada um dos elementos da malha de discretização. O SisBaHiA® também admite<br />
elementos finitos triangulares de seis nós, os quais não foram aplicados neste trabalho.<br />
Como as funções de forma Lagrangeana são independentes do tempo, as dimensões<br />
temporal e espacial podem ser discretizadas por meio de diferentes esquemas<br />
numéricos. Para a discretização temporal no módulo hidrodinâmico do sistema são<br />
empregados esquemas implícitos de diferenças finitas de segunda ordem. Nos termos<br />
não-lineares faz-se uso de uma fatoração implícita de segunda ordem e, nos termos<br />
lineares, emprega-se o esquema de Cranck-Nicholson (ROSMAN, 2008).<br />
Através do Módulo de Análise & Previsão de Marés é possível realizar análises<br />
harmônicas de registros de níveis ou correntes para obtenção das constantes<br />
harmônicas. Os cálculos de previsão são executados a partir de constantes harmônicas<br />
de níveis ou de correntes. As previsões podem ser em termos de valores, tanto em<br />
séries temporais a intervalos a serem definidos, quanto em séries de máximos e<br />
mínimos para a data previamente especificada. Os algoritmos de análise e previsão<br />
implementados no SisBaHiA® foram elaborados a partir das rotinas propostas no IOS<br />
Tidal Package (ROSMAN, 2008). Maiores informações podem ser obtidas nos<br />
manuais originais do IOS Tidal Package: FOREMAN (1977), FOREMAN (1978),<br />
FOREMAN e HENRY (1979).<br />
41
As formulações matemáticas dos modelos implementados no SisBaHiA® encontramse<br />
descritas no Apêndice A.<br />
4.1. Malha de Elementos Finitos<br />
Neste trabalho foi considerada a geometria do domínio de modelagem dos trabalhos<br />
de FERNANDES (2006) e GALLO (2004). O contorno do mapa-base utilizado na<br />
modelagem foi extraído a partir de um processo de digitalização de cartas náuticas da<br />
Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN). Todos os pontos foram referidos a um<br />
sistema métrico de coordenadas com origem no ponto 3,0°S e 56,2°W de coordenadas<br />
geográficas (coordenadas UTM 588952.99, 9668415.69 com meridiano central<br />
57°W).<br />
A malha de discretização em elementos finitos foi gerada com o programa Argus One,<br />
da Argus Interware Inc. (www.argusint.com) e contém 1022 elementos<br />
quadrangulares, de dimensões que variam de aproximadamente 30 x 30 km na<br />
fronteira aberta até 5 x 5 km na foz do estuário. O interior do estuário foi discretizado<br />
com duas fileiras de elementos de tamanho médio de 4 x 2 km. No total, o domínio<br />
apresenta 5042 nós de cálculo, dentre os quais 3078 constituem nós internos, 1901<br />
configuram nós de contorno continental e 63 de contorno oceânico (Figura 7). No<br />
total o domínio possui uma área de 172.570,190 km². O contorno oceânico do<br />
domínio apresenta algo em torno de 880 km de comprimento e a distância de Óbidos<br />
(limite mais interior do domínio) à fronteira aberta em uma trajetória reta supera 1000<br />
km.<br />
42
800000<br />
600000<br />
400000<br />
200000<br />
0<br />
Fonte: Fernandes (2005)<br />
Barra Norte<br />
Ilha de<br />
Marajó<br />
Oceano<br />
Atlântico<br />
[0,0] = UTM [588952.99 , 9668415.69]<br />
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000<br />
Figura 7– Malha de discretização em elementos finitos quadrangulares do domínio de<br />
modelagem do estuário do rio Amazonas, em coordenadas métricas.<br />
4.2. Cenários de Modelagem<br />
Foram realizadas duas rodadas principais com o modelo hidrodinâmico 2DH, datadas<br />
e cobrindo os seguintes períodos:<br />
• Ano de 2006 de 01/09/2005 a 13/11/2006<br />
• Ano de 2007 de 01/09/2006 a 31/12/2007<br />
Os resultados relativos a estas duas simulações foram pós-processados no decorrer do<br />
estudo e estão apresentados no Capítulo 5 desta dissertação.<br />
A duração das simulações foi planejada de forma que o primeiro mês servisse ao<br />
propósito de dar “aquecimento” ao modelo hidrodinâmico (i.e. não influenciar os<br />
resultados pelas condições iniciais), tendo em vista a dimensão do domínio de<br />
modelagem.<br />
A primeira simulação foi mais curta por indisponibilidade de séries de vazão nas<br />
fronteiras continentais do modelo para o mês de dezembro de 2006. A segunda<br />
simulação perdurou até o último dia de 2007, para permitir que os resultados fossem<br />
confrontados aos dados coletados em dezembro de 2007 na estação maregráfica Ponta<br />
43
do Céu I, recém equipada pelo Centro de Hidrografia da Marinha com um sensor<br />
radar KRH102-SDI da VEJA/VAISSALA.<br />
A finalidade das simulações de longo prazo tem o intuito de tornar possível o cálculo<br />
dos níveis de redução e dos LAT. Como os resultados também foram utilizados para<br />
reduzir as sondagens, foi necessário que a escolha do período também abrangesse os<br />
dias de sondagem.<br />
Algumas rodadas intermediárias de teste foram realizadas, nas quais foram<br />
melhoradas as condições de contorno, até que as séries temporais de níveis produzidas<br />
pelo modelo fossem compatíveis às séries observadas e/ou às séries calculadas com a<br />
previsão harmônica nas diversas estações maregráficas.<br />
Foram assumidas como condições iniciais para as simulações: nível zero nas<br />
elevações e velocidades nulas para componentes u e v, em todo o domínio.<br />
Fatores como ventos, maré meteorológica e possíveis efeitos baroclínicos presentes na<br />
região, além da influência da corrente Norte do Brasil e das variações sazonais de<br />
nível médio atuantes na fronteira oceânica do modelo, não foram considerados nas<br />
simulações. Quanto à Força de Coriolis, o domínio como um todo foi<br />
aproximadamente considerado na latitude de 0°, de forma que os efeitos decorrentes<br />
desta força foram desconsiderados.<br />
4.3. Condições de contorno, batimetria e rugosidade considerados nas<br />
simulações<br />
As informações apresentadas neste item dizem respeito aos dados que foram<br />
utilizados como entrada para a modelagem hidrodinâmica. São eles: os dados de<br />
batimetria e de rugosidade de fundo já implementados em modelos anteriores<br />
(FERNANDES, 2006; GALLO, 2004; GABIOUX, 2002) e os dados utilizados como<br />
condições de contorno fluvial (vazão dos rios afluentes) e oceânica (maré<br />
astronômica).<br />
44
4.3.1. Batimetria<br />
Dados de batimetria são cruciais para a implementação de modelos hidrodinâmicos,<br />
porém, na maioria das vezes e principalmente ao se modelar domínios com escalas<br />
espaciais muito extensas, esbarra-se em algumas dificuldades.<br />
Em primeiro lugar, frequentemente, não há disponibilidade de dados recentes e<br />
uniformemente distribuídos para região de interesse. Os dados são normalmente<br />
provenientes de cartas náuticas que, na maioria das vezes, foram editadas há décadas.<br />
É importante frisar que mesmo havendo levantamentos hidrográficos (LH) recentes,<br />
não necessariamente toda área de uma carta náutica é coberta e não são todos os LH<br />
que dão origem a novas edições de cartas. A Figura 8 apresenta parte da carta náutica<br />
200 editada pela DHN, onde consta um diagrama contendo as várias áreas levantadas<br />
desde 1956 até 1995 em diferentes escalas.<br />
Figura 8 – Destaque para a carta náutica número 200 (DHN) e o diagrama contendo o mosaico<br />
de levantamentos realizados em escalas espaciais distintas e em diferentes períodos.<br />
Um outro aspecto relevante é a questão do datum vertical utilizado como referência<br />
para as cartas náuticas: o nível de redução (NR). No Brasil, a grande maioria dos NR<br />
45
das estações maregráficas foi estabelecida no passado, a partir de períodos de<br />
referência distintos para cada estação, com os meios disponíveis à época da execução<br />
dos LH. Ou seja, nem sempre foram adotados os mesmos métodos de coleta,<br />
tratamento e análise de dados, o que acarretou na instituição de data históricos cuja<br />
acurácia não pode ser precisamente determinada. Além disso, os NR foram calculados<br />
de forma independente uns em relação aos outros. Dessa forma, eventualmente são<br />
encontrados desníveis de NR de alguns centímetros entre duas cartas náuticas<br />
adjacentes ou mesmo entre trechos de uma mesma carta.<br />
Em domínios de modelagem de grandes dimensões, caso não seja feito um ajuste de<br />
datum sobre os dados batimétricos, descontinuidades significativas na batimetria<br />
podem se encontradas, principalmente nos trechos da malha correspondentes aos<br />
limites entre cartas náuticas.<br />
O domínio de discretização numérica estabelecido neste trabalho e nos estudos<br />
anteriores contempla dois tipos de NR: um relativo à porção fluvial, que é<br />
normalmente definido em termos das cotas mínimas observadas das séries<br />
hidrológicas históricas (10% das mínimas), e outro relativo à parte marinha do<br />
domínio, que é determinado a partir de séries de nível do mar e equivale<br />
aproximadamente ao nível da média das baixa-mares de sizígia. Assim sendo, sem<br />
que se efetuassem os devidos ajustes, os desníveis também apareceriam na fronteira<br />
que separa as cartas relativas à área fluvial e à área marinha.<br />
Em face do exposto, antes de inserir as profundidades no modelo, GALLO (2004)<br />
efetuou uma correção nos dados batimétricos de forma a referi-los a um mesmo plano.<br />
Esse plano de referência único passou a ser adotado como o nível zero de todo o<br />
domínio da modelagem e equivale aproximadamente ao plano do nível médio do mar<br />
(NMM). Trata-se de uma aproximação, tendo em vista que na verdade o NMM não<br />
pode ser considerado uniforme ao longo do domínio.<br />
46
O procedimento utilizado por GALLO (2004) para a correção foi dividido em duas<br />
etapas. Primeiramente, adicionou-se aos dados batimétricos de cada carta náutica da<br />
área marinha o valor do Z0 equivalente àquela carta. O Z0 corresponde à cota entre o<br />
Nível de Redução e o NMM local. Em segundo lugar, considerou-se para a área sob<br />
influência fluvial uma variação linear do NR de modo que no limite mais a leste, em<br />
torno de 51° W, o NR fosse equivalente ao nível do mar (cota 0 m) e no extremo mais<br />
a oeste, nas imediações do Porto de Santarém (54.74° W), fosse considerado como<br />
3,35m. Esse último valor é igual a soma de 1,80m, referente à cota do zero da régua,<br />
em relação ao NMM, com 1,45m que corresponde ao nível de redução de Santarém.<br />
Tal NR é equivalente a 20% das mínimas registradas naquela régua, em 20 anos de<br />
observação.<br />
Maiores informações sobre as correções efetuadas sobre a batimetria e a sua posterior<br />
validação a partir de comparações com perfis ADCP (Acoustic Doppler Current<br />
Profiler) e com mapas batimétricos produzidos em trabalhos científicos anteriores,<br />
podem ser consultadas em GALLO (2004).<br />
As informações relativas à batimetria utilizadas no estudo de GALLO (op. cit.) e<br />
aproveitadas para este trabalho foram retiradas das cartas náuticas DHN n o : 4101 A,<br />
4103 B, 4103 A, 4102 B, 4102 A, 4101 B e 4101 na escala 1:100000; 244 e 243 na<br />
escala 1:79984; 242, 241 e 204 na escala 1:80000; 200 na escala 1:317059; 41 na<br />
escala 1:356649 e 40 na escala 1:159563.<br />
As batimetrias corrigidas ao NMM foram interpoladas para gerar as profundidades em<br />
cada nó da malha de elementos finitos. A Figura 8 mostra o domínio de modelagem<br />
do estuário do rio Amazonas em coordenadas métricas e as isolinhas de profundidade<br />
empregadas na modelagem.<br />
47
800000<br />
600000<br />
400000<br />
200000<br />
0<br />
Ilha de<br />
Marajó<br />
Oceano<br />
Atlântico<br />
[0,0] = UTM [588952.99 , 9668415.69]<br />
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000<br />
Figura 9 – Domínio de modelagem do estuário do rio Amazonas em coordenadas métricas,<br />
mostrando isolinhas de profundidade (batimetrias referidas ao nível médio do mar, NMM).<br />
4.3.2. Rugosidade de fundo<br />
Os valores de rugosidade equivalente do fundo (ε) aplicados à modelagem estão<br />
associados à composição do sedimento de fundo e encontram-se especificados na<br />
Tabela 11 do Apêndice A.<br />
A região do estuário do rio Amazonas apresenta uma extensa gama de depósitos de<br />
sedimentos. GALLO (2004) compilou as informações de diversos trabalhos anteriores<br />
(KINEKE e STENBERG, 1995; KINEKE et al., 1996) e dividiu o domínio em<br />
regiões com os seguintes depósitos:<br />
- fração areia fina (plataforma externa, parte inferior do rio Amazonas até a<br />
desembocadura e o banco Santa Rosa),<br />
- lama consolidada (plataforma interna até a isóbata de 50m, área em frente ao canal<br />
Sul e proximidades do banco do Cabo Norte).<br />
48<br />
Profundidades (m)<br />
100<br />
95<br />
85<br />
65<br />
50<br />
35<br />
20<br />
12<br />
8<br />
5<br />
2
O autor também considerou a presença de lama fluida (silte e argila) defronte à<br />
desembocadura do canal Norte e na porção norte da plataforma Amazônica, de acordo<br />
com o que foi apresentado por GABIOUX (2002) e GABIOUX et al. (2005) ao<br />
estudar a propagação da maré em presença de lama fluida.<br />
A Figura 10 ilustra a distribuição dos valores de rugosidade assumidos na modelagem<br />
em função do sedimento associado.<br />
800000<br />
600000<br />
400000<br />
200000<br />
0<br />
rio Tapajós<br />
5E-3 m a 1E-2 m<br />
rio Amazonas<br />
1E-9 m<br />
rio Xingú<br />
canal Norte (CN)<br />
canal Sul (CS)<br />
rio Tocantis-Pará<br />
Oceano Atlântico<br />
1E-7 m<br />
1E-2 m<br />
1E-4 m<br />
regiões de amortecimento<br />
Fonte: Gallo (2004)<br />
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000<br />
Figura 10 – Rugosidade equivalente de fundo adotada no domínio de modelagem segundo<br />
GALLO (2004).<br />
Para a camada de lama consolidada foi proposto o valor equivalente ao fundo de<br />
concreto liso (1×10 -4 m). O leito arenoso foi classificado na faixa de valores relativa ao<br />
leito de terra com transporte de sedimentos (5 a 10 × 10 -3 m). Valores elevados de<br />
rugosidade foram adotados ao longo do rio Pará, assim como na costa sul da<br />
plataforma, visando evitar efeitos de reflexão da onda de maré. No que concerne às<br />
camadas de lama fluida, foi considerada a parametrização proposta por VINZON e<br />
METHA (2001) e por GABIOUX (2002) e GABIOUX et al. (2005). Desta forma,<br />
49
optou-se pelo valor de 1 × 10 -9 m de rugosidade equivalente para representar uma<br />
camada limite viscosa oscilatória (FERNANDES, 2006).<br />
4.3.3. Condições de Contorno Fluvial: vazão dos rios afluentes<br />
As fronteiras continentais deste modelo caracterizam as margens do estuário e seus<br />
rios afluentes onde foi necessário prescrever vazões. Nos nós de fronteira de terra<br />
típicos de margens foi imposto o valor zero para os fluxos normais à fronteira, pois as<br />
margens foram consideradas impermeáveis. Em outras palavras, este trabalho não<br />
adotou áreas de alagamentos laterais. Nos rios foram prescritas as vazões nodais e<br />
imposta uma componente tangencial nula da velocidade para todos os nós.<br />
Apenas os rios de vazão mais significativa, Amazonas, Tapajós, Xingu e Tocantins,<br />
foram considerados de interesse para este trabalho. Os dados relativos às vazões (Q)<br />
desses rios foram obtidos junto à Agência Nacional de Águas 11 (ANA) para as<br />
estações de Óbidos (rio Amazonas), Fortaleza (rio Tapajós), Altamira (rio Xingu) e<br />
Tucuruí (rio Tocantins).<br />
As vazões do Amazonas são superiores em uma ordem de grandeza às vazões dos<br />
demais rios e, portanto, são preponderantes na dinâmica do sistema estuarino. São<br />
apresentados na Figura 11 os hidrogramas de vazões medidas para o ano de 2006<br />
impostos como condição de contorno na modelagem. Na Figura 12 é apresentada uma<br />
comparação entre as vazões medidas em Óbidos nos anos de 2006 e 2007.<br />
11 <br />
50
Vazões (m 3 /s)<br />
300000<br />
250000<br />
200000<br />
150000<br />
100000<br />
50000<br />
0<br />
01/09/2005<br />
15/09/2005<br />
29/09/2005<br />
13/10/2005<br />
Vazões diárias nos rios afluentes em 2006<br />
27/10/2005<br />
10/11/2005<br />
24/11/2005<br />
08/12/2005<br />
22/12/2005<br />
05/01/2006<br />
19/01/2006<br />
02/02/2006<br />
16/02/2006<br />
02/03/2006<br />
16/03/2006<br />
vazão média em Fortaleza - 9986 m 3 /s<br />
vazão média em Altamira - 8458 m 3 /s<br />
vazão média em Tucuruí - 10218 m 3 /s<br />
30/03/2006<br />
13/04/2006<br />
Data<br />
27/04/2006<br />
11/05/2006<br />
25/05/2006<br />
08/06/2006<br />
vazão média em Óbidos - 168170 m 3 /s<br />
Óbidos (Amazonas) Fortaleza (Tapajós) Altamira (Xingu) Tucuruí (Tocantins)<br />
Figura 11– Hidrogramas de vazões diárias para os rios Amazonas, Tapajós, Xingu e Tocantins<br />
vazões (m 3 /s)<br />
300000<br />
250000<br />
200000<br />
150000<br />
100000<br />
50000<br />
0<br />
16-set<br />
30-set<br />
14-out<br />
28-out<br />
11-nov<br />
25-nov<br />
9-dez<br />
23-dez<br />
6-jan<br />
20-jan<br />
3-fev<br />
Vazões em Óbidos<br />
17-fev<br />
3-mar<br />
17-mar<br />
31-mar<br />
22/06/2006<br />
06/07/2006<br />
20/07/2006<br />
vazão média em Óbidos em 2007-<br />
161457m 3 /s<br />
14-abr<br />
datas<br />
28-abr<br />
12-mai<br />
26-mai<br />
9-jun<br />
Óbidos 2006 Óbidos 2007<br />
23-jun<br />
7-jul<br />
21-jul<br />
03/08/2006<br />
4-ago<br />
17/08/2006<br />
18-ago<br />
31/08/2006<br />
1-set<br />
14/09/2006<br />
15-set<br />
28/09/2006<br />
vazão média em Óbidos em 2006 -<br />
168170 m 3 /s<br />
Figura 12 – Hidrogramas de vazões diárias para o rio Amazonas nos anos de 2006 e 2007<br />
29-set<br />
12/10/2006<br />
13-out<br />
26/10/2006<br />
27-out<br />
09/11/2006<br />
10-nov<br />
51
As condições de contorno prescritas nas cabeceiras dos rios correspondem, na prática,<br />
às vazões nodais (q) definidas em função da largura de suas seções transversais (L).<br />
Cada vazão (Q) horária foi distribuída ao longo da seção de forma homogênea,<br />
conforme apresentado no esquema da Figura 13.<br />
L<br />
Q<br />
qi= q =<br />
L<br />
Figura 13 – Esquema ilustrativo das vazões nodais adotadas para o rio Amazonas.<br />
4.3.4. Condições de Contorno Oceânica: a maré astronômica<br />
A imposição da elevação da superfície livre é geralmente a principal forçante prescrita<br />
ao longo dos contornos abertos. Em um domínio de modelagem, contornos abertos<br />
representam limites do domínio como, por exemplo, a entrada de uma baía ou<br />
estuário, e não um contorno físico (ROSMAN, 2008). Os modelos hidrodinâmicos<br />
implementados neste trabalho consideraram apenas a maré astronômica como<br />
forçante no contorno oceânico do domínio.<br />
As condições de maré prescritas para a fronteira aberta do modelo consistiram em<br />
séries de elevações previstas para os anos de 2006 e 2007, geradas a partir dos valores<br />
de constantes harmônicas para 13 componentes de maré (Mm, Mf, O1, Q1, P1, S1, K1,<br />
M2, K2, S2, N2, 2N2 e M4) obtidas do Atlas Global de Maré FES2004 (LYARD et al.,<br />
2006).<br />
52
As informações do FES2004 foram escolhidas para representar a fronteira aberta do<br />
modelo hidrodinâmico pela inexistência de séries de medições de nível do mar<br />
oceânicas que pudessem ser utilizadas nas simulações.<br />
Os dados divulgados nos Atlas FES2004 são reputados o estado-da-arte em cobertura<br />
global de marés. Esse esforço teve início no âmbito da missão Topex / Poseidon (T /<br />
P), quando a comunidade científica internacional dedicada a compreender as marés<br />
em uma escala global assumiu a enorme tarefa de desenvolver novos modelos de<br />
marés, visando a atingir previsões de maré com uma precisão centímétrica. Essa<br />
mobilização internacional se dividiu em duas abordagens principais: a primeira<br />
chamada abordagem empírica, baseada na análise direta das séries temporais do nível<br />
do mar obtidas por altimetria, e uma segunda fundamentada na modelagem<br />
hidrodinâmica e em modelos de assimilação. Posteriormente, a interação entre as duas<br />
concepções foi um fator determinante para o sucesso global na melhoria da acurácia<br />
na previsão, atingindo os requisitos do Topex/Poseidon (LYARD et al., 2006).<br />
O grupo Modélisation des Ecoulements Océaniques à Moyenne et<br />
grande échelle, liderados por Le Provost em Grenoble, seguiu a segunda abordagem,<br />
por meio do desenvolvimento de um modelo hidrodinâmico em elementos finitos<br />
concebido sobre a resolução de equações não-lineares barotrópicas para águas rasas,<br />
para um corpo em rotação, denominado Code aux Eléments Finis pour la Marée<br />
Océanique (CEFMO), e o modelo de assimilação a ele associado, Code d'Assimilation<br />
de Données Orienté Représenteur (CADOR). O CEFMO conta com cerca de 100.000<br />
nós computacionais de cálculo na malha de elementos finitos (P2 Lagrange). Por meio<br />
do CADOR, são assimiladas as constantes harmônicas provenientes da análise dos<br />
dados de altimetria por satélite (337 pontos de cruzamento das passagens T/P e 1254<br />
pontos de cruzamento do ERS) e das medições provenientes de 671 estações<br />
maregráficas. Os atlas produzidos a partir desses modelos receberam o genérico nome<br />
de Soluções em Elementos Finitos (FES). As principais divulgações deste grupo de<br />
pesquisa de Grenoble formaram uma produção bianual praticamente contínua entre<br />
1992 e 2004, incluindo o FES95, o FES99 e o FES2004 (LYARD et al., 2006).<br />
53
O atlas FES2004 apresenta resolução de 1/8° para as ondas de maré Mm, Mtm,<br />
Msqm, Mf, O1, Q1, P1, S1, K1, M2, K2, S2, N2, 2N2 e M4. A Figura 14 e a Figura 15<br />
apresentam mapas de isolinhas de maré em amplitude e fase, respectivamente, para a<br />
componente M2 , gerados a partir dos dados do FES2004 na área de interesse.<br />
800000<br />
600000<br />
400000<br />
200000<br />
0<br />
Amplitudes de M2 (cm)<br />
210<br />
200<br />
190<br />
180<br />
170<br />
160<br />
150<br />
140<br />
130<br />
120<br />
110<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
-10<br />
Barra Norte<br />
Ilha de<br />
Marajó<br />
Oceano<br />
Atlântico<br />
[0,0] = UTM [588952.99 , 9668415.69]<br />
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000<br />
Figura 14 – Amplitudes de M2 para o estuário do rio Amazonas (FES2004).<br />
800000<br />
600000<br />
400000<br />
200000<br />
0<br />
Fases de M2 (rad)<br />
7<br />
6.5<br />
6<br />
5.5<br />
5<br />
4.5<br />
4<br />
3.5<br />
3<br />
2.5<br />
2<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
Barra Norte<br />
Ilha de<br />
Marajó<br />
Oceano<br />
Atlântico<br />
[0,0] = UTM [588952.99 , 9668415.69]<br />
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000<br />
Figura 15 – Fases de M2 para o estuário do rio Amazonas (FES2004).<br />
54
O pré-processamento dos dados para a imposição da condição de fronteira aberta<br />
divide-se basicamente nas seguintes etapas:<br />
- Cálculo dos pares de constantes harmônicas (amplitudes e fases) para cada nó da<br />
fronteira, por meio de interpolação espacial das constantes extraídas da base de dados<br />
do FES2004 para a área de estudo, devidamente convertidas para as coordenadas<br />
métricas do modelo. Para tornar as informações do atlas compatíveis com a resolução<br />
espacial do modelo, foram construídas três grades (grids) para o domínio contendo as<br />
interpolações para cada onda de maré 12 . A gridagem 13 foi execuada com auxílio do<br />
programa Surfer 8 da Golden Software Inc (www.goldensoftware.com) e a técnica<br />
escolhida para a interpolação espacial foi o Kriging (ISAAKS e SRIVASTAVA,<br />
1989; JOURNEL, 1989; CRESSIE, 1990; CRESSIE, 1991).;<br />
- Inserção dos pares de constantes no Módulo de Análise e Previsão de marés do<br />
SisBaHiA® para cada um dos 63 nós da fronteira aberta do modelo, compondo uma<br />
base de dados específica para a previsão de marés;<br />
- Realização de previsões de séries horárias sintéticas para os nós do contorno<br />
oceânico com o módulo de previsão de marés do SisBaHiA®, cobrindo os dois<br />
períodos de simulação: 01/09/2005 a 13/11/2006 e 1/09/2006 a 31/12/2007. Estas<br />
previsões foram posteriormente corrigidas para o fuso -3 (P), visto que os dados<br />
originais do FES2004 referem-se a Greenwich; e<br />
- Importação das informações de séries horárias para um arquivo compatível com o<br />
formato de entrada de dados do modelo hidrodinâmico. O gráfico da Figura 16<br />
exemplifica 48 horas de séries temporais de entrada em seis nós do contorno<br />
oceânico.<br />
12 Para cada uma das componentes de maré considerada utilizou-se uma grade para a amplitude, e duas para a fase, já que esta<br />
última foi decomposta em seno e cosseno. Posteriormente, as grades de senos e cossenos foram combinadas para se chegar aos<br />
valores de fase em graus.<br />
13 Gridagem é um processo de interpolação de dados distribuídos em uma malha regularmente espaçada (grade) e referidos a um<br />
sistema de coordenadas x-y devidamente especificado.<br />
55
Elevações em cm acima do NMM<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
-1.5<br />
-2<br />
12/11/06 0:00<br />
12/11/06 2:00<br />
12/11/06 4:00<br />
12/11/06 6:00<br />
12/11/06 8:00<br />
Séries temporais de entrada em seis nós da fronteira aberta<br />
12/11/06 10:00<br />
12/11/06 12:00<br />
12/11/06 14:00<br />
12/11/06 16:00<br />
12/11/06 18:00<br />
12/11/06 20:00<br />
12/11/06 22:00<br />
13/11/06 0:00<br />
data-hora<br />
nó 4283 nó 4281 nó 4279 nó 4277 nó 4275 nó 4273<br />
Figura 16 – Exemplo de séries temporais impostas como condição de contorno oceânica.<br />
13/11/06 2:00<br />
13/11/06 4:00<br />
13/11/06 6:00<br />
13/11/06 8:00<br />
13/11/06 10:00<br />
13/11/06 12:00<br />
13/11/06 14:00<br />
13/11/06 16:00<br />
13/11/06 18:00<br />
13/11/06 20:00<br />
13/11/06 22:00<br />
14/11/06 0:00<br />
56
Capítulo 5<br />
5. Ajuste do modelo e análises de sensibilidade à batimetria<br />
5.1. Dados e informações consideradas para o ajuste do modelo<br />
Os resultados das simulações numéricas foram confrontados aos dados medidos (ou<br />
na falta dos mesmos, às previsões de maré) nos pontos onde estão localizadas estações<br />
maregráficas cadastradas no BNDO. A Tabela 3 destaca as estações próximas à Barra<br />
Norte onde ocorreram as medições, com os respectivos períodos de funcionamento<br />
dos marégrafos e também as informações sobre as constantes harmônicas (CH) que<br />
foram solicitadas ao BNDO e que viabilizaram o cálculo das previsões. As<br />
comparações permitiram que alguns parâmetros do modelo fossem alterados com a<br />
intenção de melhorar os resultados das simulações, principalmente para a área de<br />
relevância para esta pesquisa que é o Canal da Barra Norte. O Apêndice B expõe<br />
todas tabelas de CH utilizadas neste trabalho e Fichas de Descrição de Estação<br />
Maregráfica da estação Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte).<br />
Durante os anos de 2006 e de 2007 foram realizadas duas campanhas de coleta de<br />
dados pelo Navio Hidrográfico Sirius na região da Barra Norte (Comissão<br />
oceanográfica BARRA NORTE 1/2006 e BARRA NORTE 1/2007), dentro do escopo<br />
do Projeto “Modelagem hidrodinâmica e monitoramento do nível do mar na Barra<br />
Norte do Rio Amazonas – Correção de sondagens para construção da Carta Náutica”.<br />
O projeto é fruto de um convênio entre a Marinha do Brasil e a <strong>COPPE</strong>/<strong>UFRJ</strong> e tem<br />
como objetivo melhorar o monitoramento ambiental na região Barra Norte do Rio<br />
Amazonas, a fim de contribuir para a segurança da navegação, reduzindo os riscos de<br />
acidentes, aprimorando as possibilidades econômicas no transporte mercante e<br />
contribuindo para a conservação do meio ambiente (BARRA NORTE, 2006; BARRA<br />
NORTE, 2007).<br />
57
Tabela 3 – Estações consideradas para o ajuste do modelo.<br />
Estação<br />
Maregráfica<br />
Período de Observação<br />
Plataforma Penrod x-x-x-x-x<br />
Santa Maria do Cocal x-x-x-x-x<br />
Igarapé do Inferno<br />
(Ilha de Maracá)<br />
x-x-x-x-x<br />
Ponta Guará x-x-x-x-x<br />
Escola do Igarapé<br />
Grande do Curuá<br />
(Barra Norte)<br />
11/05/2006 a 17/06/2006<br />
16/06/2007 a 11/08/2007<br />
Canivete x-x-x-x-x<br />
Santana<br />
10/05/2006 a 20/06/2006<br />
26/06/2007 a 24/08/2007<br />
Afuá x-x-x-x-x<br />
Chaves x-x-x-x-x<br />
Vila Nazaré<br />
09/05/2006 a 18/06/2006<br />
22/06/2007 a 20/08/2007<br />
Ilha do Machadinho x-x-x-x-x<br />
Cabo Maguari x-x-x-x-x<br />
Período de observação que<br />
originou o cálculo das CH<br />
11/01/1974 a 11/02/1974<br />
(32 dias)<br />
22/05/1972 a 22/06/1972<br />
(32 dias)<br />
02/06/1971 a 03/07/1971<br />
(32 dias)<br />
14/04/1970 a 15/05/1970<br />
(32 dias)<br />
09/11/1996 a 10/12/1996<br />
(32 dias)<br />
02/06/1995 a 31/07/1996<br />
(426 dias)<br />
24/06/1957 a 16/06/1958<br />
(365 dias)<br />
05/08/1974 a 05/09/1974<br />
(32 dias)<br />
19/06/1966 a 20/07/1966<br />
(32 dias)<br />
23/08/1973 a 21/10/1973<br />
(60 dias)<br />
03/11/1996 a 06/12/1996<br />
(34 dias)<br />
16/07/1971 a 16/08/1971<br />
(32 dias)<br />
Número de<br />
Componentes<br />
Durante essas campanhas foram lançados diversos instrumentos, dispostos em uma<br />
“gaiola”, em pontos específicos de fundeios ao longo do Canal Grande do Curuá. Os<br />
equipamentos utilizados foram os seguintes: um perfilador CTD - 1 (Conductivity<br />
Temperature Depth), um correntógrafo acústico pontual (ADV - Acoustic Doppler<br />
Velocimeter), um medidor do tamanho médio das partículas in-situ (LISST-25X -<br />
Laser Instrument Suspended Sediment), dois turbidímetros (OBS – Optical backscattering<br />
sensor) e uma bomba tipo “sapo” para coleta de amostras de água a<br />
diferentes profundidades. Foram medidos perfis verticais de velocidade por meio de um<br />
ADCP (Acoustic Doppler Current Profiler de 600 kHz). Em 2007 também foram<br />
medidas a densidade e viscosidade do fluido por meio de um reômetro DENSITUNE<br />
(BARRA NORTE, 2006; BARRA NORTE, 2007).<br />
Com isso, foram realizadas em diferentes pontos, medições de concentração de<br />
sedimentos em suspensão, tamanho das partículas e amostragens de sedimento em<br />
superfície, no fundo e ao longo da coluna de água a diferentes profundidades.<br />
36<br />
36<br />
42<br />
36<br />
27<br />
65<br />
32<br />
36<br />
36<br />
25<br />
34<br />
36<br />
58
Medições de condutividade, salinidade e temperatura também foram registradas,<br />
durante os fundeios, a cada 3 horas, mediante um condutivímetro, e perfis verticais de<br />
temperatura, salinidade e pressão foram medidos com CTD pela equipe do NHi<br />
Sirius.<br />
No período dos fundeios o ecobatímetro de bordo permaneceu em funcionamento<br />
durante 13 horas, a fim de se tentar obter as características de maré nas imediações da<br />
Barra Norte. Os dados assim coletados também foram comparados aos resultados da<br />
modelagem. A localização das estações maregráficas e dos pontos de fundeio estão<br />
assinalados na Figura 17. Nesta figura, as estações Escola do Igarapé Grande do<br />
Curuá e Ponta do Céu I estão identificadas como Barra Norte.<br />
800000<br />
600000<br />
400000<br />
200000<br />
0<br />
Localização das Estações<br />
e Pontos de Fundeio<br />
Macapá<br />
Santana<br />
Canivete<br />
Barra Norte<br />
Penrod<br />
Santa Maria do Cocal<br />
Ilha de Maracá<br />
Guará<br />
Oceano<br />
Atlântico<br />
[0,0] = UTM [588952.99 , 9668415.69]<br />
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000<br />
Afuá<br />
Chaves<br />
Vila Nazaré<br />
Machadinho<br />
Maguari<br />
Pontos de Fundeio de 2006 Pontos de Fundeio de 2007 Estações Maregráficas<br />
Figura 17 – Mapa de localização das estações maregráficas e dos pontos de fundeio do NHi Sirius.<br />
59
A Figura 18 apresenta uma foto da estação maregráfica Escola do Igarapé Grande do<br />
Curuá (Barra Norte), que consistiu na estação mais importante para o<br />
desenvolvimento deste estudo, em virtude de estar mais próxima à área de sondagem<br />
e, por esse motivo, ser a estação de referência para a redução de sondagens naquela<br />
região.<br />
Figura 18 – Foto da Estação Maregráfica Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte).<br />
Foram utilizados igualmente, a título de comparação com os resultados do modelo<br />
numérico, os dados coletados em dezembro de 2007 na estação maregráfica Ponta do<br />
Céu I, conforme já mencionado. Fotos desta nova estação foram cedidas pelo CHM e<br />
encontram-se dispostas na Figura 19.<br />
60
Figura 19 – Fotos da estação maregráfica Ponta do Céu I em dois ângulos diferentes.<br />
5. 2. A qualificação das séries simuladas.<br />
A qualificação dos resultados provenientes das simulações foi feita mediante<br />
comparação aos dados coletados nas estações maregráficas e nos pontos de fundeio.<br />
Também foram feitas previsões de maré horárias pelo método harmônico para os<br />
pontos da malha correspondentes a estações maregráficas. As previsões foram feitas<br />
com o módulo “previsão” do pacote PACMARÉ (FRANCO, 2003) com as constantes<br />
harmônicas provenientes da base do BNDO.<br />
Nas análises comparativas foram avaliados os seguintes parâmetros estatísticos<br />
(EMERY e THOMSON, 2001; SUTHERLAND et. al., 2004):<br />
• MAE (Mean Absolute Error): erro médio absoluto, correspondente à média<br />
dos valores absolutos das diferenças entre os valores medidos e os calculados.<br />
61
Onde:<br />
Trata-se de um indicador estatístico interessante para avaliar a magnitude da<br />
diferença, independente do fato dela ser positiva ou negativa.<br />
MAE = Y − X<br />
(1)<br />
X corresponde à série de valores observados,<br />
Y corresponde à série de valores previstos (no caso, simulados com o modelo),<br />
a barra horizontal significa a média e os colchetes representam o módulo.<br />
• RMAE (Relative Mean Absolute Error). Consiste em um estimador de erro<br />
relativo recomendado por SUTHERLAND et. al. (2004). Um resultado de<br />
RMAE igual à zero significa um ajuste perfeito entre as séries temporais<br />
confrontadas, o que na prática jamais será observado. Um RMAE igual à um<br />
significa que as diferenças encontradas são da mesma magnitude dos valores<br />
observados.<br />
Y − X MAE<br />
RMAE = =<br />
(2)<br />
X X<br />
Onde: o denominador corresponde a média dos valores absolutos da observação.<br />
X<br />
=<br />
1<br />
N<br />
N<br />
∑<br />
n=<br />
1<br />
xn<br />
Onde: n é o número de dados da série temporal analisada.<br />
Apesar da tradução literal de ambos os parâmeros conter a terminologia “erro”, esta<br />
palavra foi substituída propositalmente, em toda a interpretação dos resultados, pelo<br />
termo “diferença”. Isso foi feito porque, ao se comparar os resultados do modelo aos<br />
dados observados e também à previsão harmônica, buscou-se de alguma forma avaliar<br />
quantitativamente as diferenças encontradas já que não se tem o “valor verdadeiro” da<br />
(3)<br />
62
comparação. Em outras palavras, eventualmente diferenças significativas encontradas<br />
nos resultados não necessariamente confirmam um problema na modelagem, mas<br />
podem eventualmente indicar alguma inconsistência nas medições ou mesmo nas<br />
constantes harmônicas empregadas.<br />
As diferenças em fase de cada par de séries temporais avaliado foram estimadas<br />
através da função de correlação cruzada. O cálculo estatístico foi computado no<br />
aplicativo Matlab (www.mathworks.com). O programa retorna uma seqüência de<br />
coeficientes de correlação para cada intervalo de tempo considerado, τ (time lag), com<br />
intervalo de confiança de 95%. As defasagens foram escolhidas a partir dos melhores<br />
resultados de correlação. Para que os resultados fossem dados com resolução temporal<br />
de um minuto, as seqüências horárias analisadas sofreram antes um processo de<br />
interpolação cubic spline. As fórmulas relativas à função de correlação cruzada e<br />
alguns exemplos voltados para dados oceanográficos podem ser consultadas em<br />
EMERY e THOMSON (2001). As rotinas de interpolação e cálculo da função de<br />
interpolação constam no Apêndice D desta dissertação.<br />
5.3. Resultados das simulações<br />
Os resultados da primeira rodada do ano de 2006 não foram satisfatórios para a região<br />
do Canal Norte. Ao se comparar os níveis calculados pelo modelo aos dados<br />
observados no período de 11/05 a 17/06 de 2006 na estação de referência (Barra<br />
Norte), foram encontradas diferenças de fase de 44 minutos (o modelo estando mais<br />
adiantado do que a série temporal observada) com coeficiente de correlação de 0,97.<br />
Além disso, foram verificadas significativas diferenças nas alturas de maré (Figura 20<br />
e Figura 21), em alguns casos superiores a 1m em função da defasagem.<br />
Para que fosse possível realizar as comparações entre os dados e o resultado do<br />
modelo, ambas as séries foram referidas a um nível médio coincidente e<br />
numericamente igual ao zero do modelo.<br />
Em função da qualidade dos resultados preliminares obtidos, optou-se pela realização<br />
de uma segunda rodada, modificando as condições da fronteira oceânica. Desse modo,<br />
63
cada uma das 63 previsões prescritas para os nós da fronteira oceânica foi atrasada em<br />
44 minutos. Este ajuste foi feito visando calibrar o modelo à observação da estação<br />
Barra Norte.<br />
Alturas (m)<br />
2.5000<br />
2.0000<br />
1.5000<br />
1.0000<br />
0.5000<br />
0.0000<br />
-0.5000<br />
-1.0000<br />
-1.5000<br />
-2.0000<br />
-2.5000<br />
11/5/06 9:36 11/5/06<br />
14:24<br />
11/5/06<br />
19:12<br />
Modelo x Observação (primeira rodada)<br />
Estação Barra Norte<br />
12/5/06 0:00 12/5/06 4:48 12/5/06 9:36 12/5/06<br />
14:24<br />
Data-Hora<br />
12/5/06<br />
19:12<br />
Modelo Observação Modelo interp Observação Interp<br />
13/5/06 0:00 13/5/06 4:48 13/5/06 9:36<br />
Figura 20 – Gráfico apresentando a comparação entre os resultados do modelo e as observações<br />
para o período compreendido entre 11/05 a 13/05 de 2006. A interpolação temporal das séries foi<br />
feita com a função Cubic Spline.<br />
64
Coeficientes de Correlação<br />
1<br />
0.95<br />
0.9<br />
0.85<br />
0.8<br />
0.75<br />
0,97574<br />
Resultados da Correlação Cruzada<br />
Estação Barra Norte<br />
-60<br />
-58<br />
-56<br />
-54<br />
-52<br />
-50<br />
-48<br />
-46<br />
-44<br />
-42<br />
-40<br />
-38<br />
-36<br />
-34<br />
-32<br />
-30<br />
-28<br />
-26<br />
-24<br />
-22<br />
-20<br />
-18<br />
-16<br />
-14<br />
-12<br />
-10<br />
-8<br />
-6<br />
-4<br />
-2<br />
0<br />
2<br />
4<br />
6<br />
8<br />
10<br />
12<br />
14<br />
16<br />
18<br />
20<br />
Defasagem (minuto)<br />
Figura 21 – Correlação cruzada entre o resultado do modelo e a série observada na estação<br />
Barra Norte, indicando que o modelo está adiantado 44 minutos em relação aos dados.<br />
Após o ajuste na fronteira oceânica, os resultados para a área de interesse melhoraram<br />
consideravelmente, conforme pode ser observado nos valores assinalados em azul e<br />
vermelho na Tabela 4.<br />
65
Tabela 4 – Resultados alcançados com a segunda rodada de 2006 em comparação com os níveis<br />
observados e previstos para as estações do domínio. Destaque para os valores assinalados em<br />
vermelho e azul correspondentes à área de interesse. Nas colunas “prevmod” foi feita a<br />
comparação entre a previsão harmônica e o modelo e nas colunas “obsmod” houve a comparação<br />
entre a observação e o modelo.<br />
Estação MAE(m) RMAE defasagem MAE (m) RMAE Defasagem<br />
prevmod prevmod prevmod obsmod obsmod obsmod<br />
Penrod 0.38 0.61 -35 xxxx xxxx xxxx<br />
Santa Maria do Cocal 0.80 0.46 -46 xxxx xxxx xxxx<br />
Ilha de Maracá 1.24 0.52 -53 xxxx xxxx xxxx<br />
Guará 0.34 0.52 -13 xxxx xxxx xxxx<br />
Barra Norte 0.22 0.22 -12 0.23 0.21 -6<br />
Fundeio 1* xxxx xxxx xxxx 0.14 0.24 0<br />
Fundeio 2* xxxx xxxx xxxx 0.16 0.23 0<br />
Fundeio 3* xxxx xxxx xxxx 0.12 0.18 0<br />
Fundeio 4* xxxx xxxx xxxx 0.12 0.15 0<br />
Fundeio 5* xxxx xxxx xxxx 0.10 0.13 0<br />
Fundeio 6* xxxx xxxx xxxx 0.11 0.18 0<br />
Canivete 0.20 0.26 -13 xxxx xxxx xxxx<br />
Santana 0.29 0.38 -22 0.22 0.30 -7<br />
Afuá 0.39 0.75 -65 xxxx xxxx xxxx<br />
Chaves 0.55 0.71 -69 xxxx xxxx xxxx<br />
Vila Nazaré 0.58 0.63 -69 0.61 0.55 -49<br />
Machadinho 0.59 0.69 -69 xxxx xxxx xxxx<br />
Maguari 0.56 0.69 -69 xxxx xxxx xxxx<br />
A defasagem entre a observação e o modelo passou para -6 minutos na Barra Norte, o<br />
que significa que após a modificação da fronteira oceânica a observação ainda ficou<br />
um pouco adiantada em relação ao modelo. Nas alturas, as diferenças em termos de<br />
valores absolutos (MAE) foram em média de 23 cm, o que corresponde a algo em<br />
torno de 5,75% da altura de maré do local (que é de aproximadamente 4m). O RMAE<br />
para a Barra Norte foi calculado em 0,21.<br />
Mesmo com toda a imprecisão dos dados discretos obtidos com o ecobatímetro nos<br />
pontos de fundeio e dispondo de apenas 13 horas de observação, foi possível<br />
confrontá-los aos resultados do modelo. As diferenças encontradas foram ainda<br />
menores do que aquelas verificadas na estação de referência, variando de 10 a 16 cm<br />
nos seis pontos observados. Além disso, não houve defasagem entre as curvas. Esse<br />
resultado foi considerado bastante interessante, uma vez que são os pontos de fundeio<br />
que realmente se encontram efetivamente localizados dentro da área de sondagem, ao<br />
contrário da estação de referência.<br />
66
O ajuste do modelo considerou somente a região do Canal Grande do Curuá, os<br />
resultados para as demais estações não foram considerados. Assim sendo, o modelo<br />
com esta calibração não deverá ser utilizado para subsidiar o mesmo tipo de estudo<br />
fora da região da Barra Norte.<br />
Os resultados da modelagem foram igualmente comparados à maré prevista para<br />
Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte). Em termos de média das<br />
diferenças absolutas e RMAE, os resultados foram bastante consistentes com os<br />
obtidos quando da comparação do modelo com a observação. No entanto, a diferença<br />
de fase entre o modelo e a previsão harmônica na estação de referência foi ainda<br />
maior (a previsão está adiantada em relação ao modelo em 12 minutos). A Figura 22<br />
ilustra esquematicamente as defasagens entre as séries temporais comparadas para a<br />
Barra Norte.<br />
6 minutos 12 minutos<br />
6 minutos<br />
Modelo<br />
Observação<br />
Previsão<br />
Harmônica<br />
Figura 22 – Defasagens entre a série temporal de nível resultante da segunda simulação para o<br />
ano de 2006, a previsão harmônica e os dados coletados para a estação Barra Norte.<br />
As análises comparativas mostram que a ordem de grandeza da defasagem encontrada<br />
entre o modelo e os dados e entre o modelo e a previsão das Tábuas das Marés, para a<br />
Barra Norte, é a mesma (inferior a 10 minutos). É importante frisar que as defasagens<br />
encontradas são inferiores a 10 minutos, valor da resolução do registro analógico do<br />
marégrafo e referência para o cálculo das incertezas na fase das séries analisadas.<br />
67
No que diz respeito à comparação entre a maré prevista e a observada, as diferenças<br />
encontradas foram em média de ± 24 cm e o RMAE correspondeu a 0,23. Ou seja, as<br />
incertezas relacionadas à previsão atualmente realizada pelo CHM para aquela área<br />
são da mesma magnitude que aquelas encontradas na comparação entre o modelo e os<br />
dados observados.<br />
As Figura 23, Figura 24 e Figura 25 ilustram os resultados comparativos entre as<br />
séries obtidas por simulação e os pontos de fundeio.<br />
Alturas em relação ao NMM (m)<br />
Alturas em relação ao NMM (m)<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
Fundeio 1/2006<br />
-1.5<br />
3/6/06 7:12 3/6/06 9:36 3/6/06 12:00 3/6/06 14:24 3/6/06 16:48 3/6/06 19:12 3/6/06 21:36 4/6/06 0:00<br />
Data-Hora<br />
Modelo Fundeio 1<br />
Fundeio 2/2006<br />
-1.5<br />
4/6/06 7:12 4/6/06 9:36 4/6/06 12:00 4/6/06 14:24 4/6/06 16:48 4/6/06 19:12 4/6/06 21:36 5/6/06 0:00<br />
Data-Hora<br />
Modelo Fundeio 2<br />
1<br />
Barra Norte<br />
400000<br />
600000 700000 800000 900000<br />
Figura 23 – Comparação entre valores discretos de fundeio, obtidos com o ecobatímetro e séries<br />
de níveis modelados nos pontos 1 e 2.<br />
1<br />
600000<br />
550000<br />
500000<br />
450000<br />
Ilha de Maracá<br />
Detalhe da Barra Norte<br />
Guará<br />
2<br />
3<br />
4<br />
5<br />
6<br />
68
Alturas em relação ao NMM (m)<br />
Alturas em relação ao NMM (m)<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
Fundeio 3/2006<br />
-1.5<br />
5/6/06 0:00 5/6/06 2:24 5/6/06 4:48 5/6/06 7:12 5/6/06 9:36 5/6/06 12:00 5/6/06 14:24 5/6/06 16:48<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
Data-Hora<br />
Modelo Fundeio 3<br />
Fundeio 4/2006<br />
-1.5<br />
5/6/06 16:48 5/6/06 19:12 5/6/06 21:36 6/6/06 0:00 6/6/06 2:24 6/6/06 4:48 6/6/06 7:12 6/6/06 9:36<br />
Data-Hora<br />
Modelo Fundeio 4<br />
Figura 24 – Comparação entre valores discretos de fundeio, obtidos com o ecobatímetro e séries<br />
de níveis modelados nos pontos 3 e 4.<br />
1<br />
600000<br />
550000<br />
500000<br />
450000<br />
Ilha de Maracá<br />
Detalhe da Barra Norte<br />
Guará<br />
2<br />
3<br />
4<br />
1<br />
Barra Norte<br />
400000<br />
600000 700000 800000 900000<br />
69<br />
5<br />
6
Alturas em relação ao NMM (m)<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
Fundeio 5/2006<br />
-1.5<br />
6/6/06 12:00 6/6/06 14:24 6/6/06 16:48 6/6/06 19:12 6/6/06 21:36 7/6/06 0:00 7/6/06 2:24 7/6/06 4:48<br />
Data-Hora<br />
Alturas em relação ao NMM (m)<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
Modelo Fundeio 5<br />
Fundeio 6/2006<br />
-1.5<br />
7/6/06 4:48 7/6/06 7:12 7/6/06 9:36 7/6/06 12:00 7/6/06 14:24 7/6/06 16:48 7/6/06 19:12 7/6/06 21:36<br />
Data-Hora<br />
Modelo Fundeio 6<br />
Figura 25 – Comparação entre valores discretos de fundeio, obtidos com o ecobatímetro e séries<br />
de níveis modelados nos pontos 5 e 6.<br />
Os dados utilizados nas comparações referem-se apenas ao período de<br />
aproximadamente um mês durante a cheia do Amazonas e, com isso, não é possível<br />
verificar o grau de acerto do modelo no período de estiagem do rio no ano de 2006.<br />
Por outro lado, a previsão harmônica utilizada para a comparação com o modelo foi<br />
feita com as constantes oriundas de uma análise de 32 dias referentes a um período de<br />
seca. Apesar da validade destas constantes ser discutível para o cálculo de previsão<br />
1<br />
600000<br />
550000<br />
500000<br />
450000<br />
Ilha de Maracá<br />
Detalhe da Barra Norte<br />
Guará<br />
2<br />
3<br />
4<br />
1<br />
Barra Norte<br />
400000<br />
600000 700000 800000 900000<br />
70<br />
5<br />
6
para um ano inteiro, este conjunto de constantes é o que consta como “padrão” no<br />
BNDO, tanto para o cálculo do atual NR da estação Escola do Igarapé Grande do<br />
Curuá, quanto para a confecção das Tábuas das Marés.<br />
Um outro aspecto importante a ser mencionado é que os dados observados na estação<br />
Barra Norte apresentaram flutuações de nível médio de até 48,98 cm durante o<br />
período de ocupação da estação maregráfica. Esse nível médio foi obtido por média<br />
móvel de 25 horas (Figura 26). As causas dessas flutuações podem estar relacionadas<br />
a fenômenos naturais de escala local, já que a estação está montada dentro de um<br />
igarapé, à presença de ventos, ou até mesmo a problemas no funcionamento do<br />
equipamento.<br />
Alturas (cm) acima do zero da régua<br />
700<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
8/5/06 0:00<br />
13/5/06 0:00<br />
18/5/06 0:00<br />
Observações na estação Barra Norte<br />
23/5/06 0:00<br />
28/5/06 0:00<br />
Data-Hora<br />
2/6/06 0:00<br />
7/6/06 0:00<br />
dados observados na cheia de 2006 Nível Médio<br />
Figura 26 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante a<br />
sondagem de 2006 e flutuações locais do nível médio.<br />
Após a retirada das oscilações de baixa-frequência registradas na observação, os<br />
dados filtrados (Figura 27) foram novamente comparados ao modelo e a média do<br />
módulo das diferenças (MAE) passou para 16 cm, 4% da altura de maré local (contra<br />
os 23 cm observados na comparação com os dados originais).<br />
12/6/06 0:00<br />
17/6/06 0:00<br />
71<br />
22/6/06 0:00
Alturas (cm) acima do zero da régua<br />
350<br />
250<br />
150<br />
50<br />
-50<br />
-150<br />
-250<br />
-350<br />
8/5/06 0:00<br />
13/5/06 0:00<br />
18/5/06 0:00<br />
Observações na estação Barra Norte<br />
23/5/06 0:00<br />
28/5/06 0:00<br />
Data-Hora<br />
2/6/06 0:00<br />
7/6/06 0:00<br />
dados observados na cheia de 2006 filtrados Nível Médio<br />
Figura 27– Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante a<br />
sondagem após ter sido filtrada a oscilação de baixa-frequência.<br />
Ao se visualizar as séries de níveis obtidas com o modelo e medidas na estação<br />
maregráfica em três escalas temporais distintas, percebe-se que as diferenças de<br />
alturas encontradas são devidas às maiores alturas da série de medições em detrimento<br />
das séries simuladas (Figura 28, Figura 29 e Figura 30). As diferenças mais<br />
significativas parecem ocorrer nas baixa-mares e as curvas apresentam graus de<br />
assimetria diferenciados.<br />
Alturas (m)<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
-1.5<br />
-2<br />
-2.5<br />
1<br />
2.5<br />
2<br />
1.5<br />
11/5/06<br />
12:00<br />
13/5/06<br />
14:00<br />
15/5/06<br />
16:00<br />
17/5/06<br />
18:00<br />
19/5/06<br />
20:00<br />
21/5/06<br />
22:00<br />
24/5/06<br />
0:00<br />
26/5/06<br />
2:00<br />
Observação x Modelo<br />
Estação Barra Norte<br />
36 dias<br />
28/5/06<br />
4:00<br />
30/5/06<br />
6:00<br />
1/6/06<br />
8:00<br />
Observação Modelo<br />
Figura 28 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 36<br />
dias de 2006 e resultados do modelo (nível de referência: zero do modelo).<br />
3/6/06<br />
10:00<br />
5/6/06<br />
12:00<br />
7/6/06<br />
14:00<br />
12/6/06 0:00<br />
9/6/06<br />
16:00<br />
11/6/06<br />
18:00<br />
17/6/06 0:00<br />
13/6/06<br />
20:00<br />
22/6/06 0:00<br />
15/6/06<br />
22:00<br />
72
Alturas (m)<br />
-2.5<br />
-2<br />
-1.5<br />
-1<br />
-0.5 0<br />
0.5 1<br />
1.5 2<br />
2.5<br />
11/5/06 0:00<br />
12/5/06 0:00<br />
13/5/06 0:00<br />
14/5/06 0:00<br />
Observação x Modelo<br />
Estação Barra Norte<br />
oito dias<br />
15/5/06 0:00<br />
16/5/06 0:00<br />
Observação Modelo<br />
Figura 29 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 8<br />
dias de 2006 e resultados do modelo (nível de referência: zero do modelo).<br />
Alturas (m)<br />
2.5<br />
2<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
-1.5<br />
-2<br />
11/5/06 12:00<br />
Observação x Modelo<br />
Estação Barra Norte<br />
1 dia<br />
Observação Modelo<br />
Figura 30 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 24<br />
horas de 2006 e resultados do modelo (nível de referência: zero do modelo).<br />
Nas Figuras apresentadas a seguir (Figura 31e Figura 32) foi incluída a maré prevista<br />
pelo método harmônico.<br />
17/5/06 0:00<br />
18/5/06 0:00<br />
19/5/06 0:00<br />
20/5/06 0:00<br />
73<br />
21/5/06 0:00
Alturas (m)<br />
2.5<br />
2<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
-1.5<br />
-2<br />
-2.5<br />
11/5/06 0:00<br />
12/5/06 0:00<br />
13/5/06 0:00<br />
14/5/06 0:00<br />
Observação x Modelo x Previsão<br />
Estação Barra Norte<br />
8 dias<br />
15/5/06 0:00<br />
16/5/06 0:00<br />
17/5/06 0:00<br />
Observação Modelo Previsão Harmônica<br />
Figura 31– Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 8<br />
dias comparados ao resultados do modelo e à previsão harmônica (nível de referência: zero do<br />
modelo) em 2006.<br />
Alturas (m)<br />
2.5<br />
2<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
-1.5<br />
-2<br />
-2.5<br />
11/5/06 12:00<br />
11/5/06 16:48<br />
Observação x Modelo x Previsão<br />
Estação Barra Norte<br />
1 dia<br />
11/5/06 21:36<br />
Observação Modelo Previsão Harmônica<br />
12/5/06 2:24<br />
Figura 32 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 24<br />
horas, comparados ao resultado do modelo e à previsão harmônica (nível de referência: zero do<br />
modelo) em 2006.<br />
Em 2007, na estação Barra Norte, o nível médio sofreu flutuações menos intensas do<br />
que as observadas em 2006 (Figura 33). O valor mínimo encontrado foi de – 28,7cm e<br />
o máximo 26,38cm. No entanto, a mesma tendência observada em 2006, no que tange<br />
à assimetria e diferenças nas alturas, foi constatada em 2007, conforme pode ser<br />
visualizado nas Figura 34, Figura 35 eFigura 36. Em valores absolutos, a média<br />
12/5/06 7:12<br />
12/5/06 12:00<br />
18/5/06 0:00<br />
19/5/06 0:00<br />
20/5/06 0:00<br />
74
encontrada para as diferenças entre a simulação e os dados de 2007 (filtrados) foi de<br />
16,7 cm (RMAE= 0,16).<br />
Os dados coletados com o ecobatímetro nos fundeios de 2007 não apresentaram a<br />
mesma qualidade daqueles relativos à campanha de 2006 e não foram utilizados para<br />
o cálculo de diferenças.<br />
Alturas (cm) acima do zero da régua<br />
700<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
Observações na Estação Barra Norte<br />
0<br />
7/6/07 0:00 17/6/07 0:00 27/6/07 0:00 7/7/07 0:00 17/7/07 0:00 27/7/07 0:00 6/8/07 0:00 16/8/07 0:00<br />
Data-Hora<br />
Dados observados na cheia de 2007 Nível Médio<br />
Figura 33 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante a<br />
sondagem de 2007 e flutuações locais do nível médio.<br />
Alturas (m)<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
-1<br />
-2<br />
-3<br />
16/06/07<br />
17/06/07<br />
18/06/07<br />
18/06/07<br />
19/06/07<br />
20/06/07<br />
21/06/07<br />
22/06/07<br />
22/06/07<br />
23/06/07<br />
24/06/07<br />
25/06/07<br />
26/06/07<br />
26/06/07<br />
27/06/07<br />
28/06/07<br />
29/06/07<br />
29/06/07<br />
Observação x Modelo<br />
Estação Barra Norte<br />
36 dias<br />
30/06/07<br />
01/07/07<br />
02/07/07<br />
03/07/07<br />
03/07/07<br />
04/07/07<br />
05/07/07<br />
06/07/07<br />
Observação Modelo<br />
Figura 34 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 36<br />
dias de 2007 e resultados do modelo (nível de referência: zero do modelo).<br />
07/07/07<br />
07/07/07<br />
08/07/07<br />
09/07/07<br />
10/07/07<br />
11/07/07<br />
11/07/07<br />
12/07/07<br />
13/07/07<br />
14/07/07<br />
15/07/07<br />
15/07/07<br />
16/07/07<br />
75<br />
17/07/07<br />
18/07/07<br />
18/07/07<br />
19/07/07<br />
20/07/07<br />
21/07/07
Alturas (m)<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
-1<br />
-2<br />
-3<br />
16/06/07<br />
17/06/07<br />
18/06/07<br />
19/06/07<br />
Observação x Modelo<br />
Estação Barra Norte<br />
8 dias<br />
20/06/07<br />
21/06/07<br />
Observação Modelo<br />
Figura 35 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 8<br />
dias de 2007 e resultados do modelo (nível de referência: zero do modelo).<br />
Alturas (m)<br />
2.5<br />
2<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
-1.5<br />
-2<br />
-2.5<br />
16/06/07<br />
16/06/07<br />
16/06/07<br />
Observação x Modelo<br />
Estação Barra Norte<br />
1 dia<br />
17/06/07<br />
Observação Modelo<br />
Figura 36 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 24<br />
horas de 2007 e resultados do modelo (nível de referência: zero do modelo).<br />
Os dados coletados com o sensor radar em dezembro de 2007, na Estação Ponta do<br />
Céu I, único período disponível para a época de estiagem do rio Amazonas, também<br />
foram comparados aos resultados do modelo. Gráficos em diferentes escalas constam<br />
nas Figura 37 e Figura 38. Através de uma análise comparativa foram encontradas<br />
diferenças de, em média, 20,87 cm usando os dados efetivamente medidos e 19,71 cm<br />
usando dados cujo resíduo tenha sido filtrado (em valores absolutos). Os valores mais<br />
discrepantes foram associados a maior assimetria da curva modelada.<br />
17/06/07<br />
17/06/07<br />
22/06/07<br />
17/06/07<br />
23/06/07<br />
24/06/07<br />
76<br />
25/06/07
Alturas (cm) em realção ao zero do modelo<br />
300<br />
250<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
-50<br />
-100<br />
-150<br />
-200<br />
Comparação Modelo x Ponta do Céu I<br />
-250<br />
5/12/07 0:00 10/12/07 0:00 15/12/07 0:00<br />
Data-Hora<br />
20/12/07 0:00 25/12/07 0:00<br />
Dados Modelo Previsao<br />
Figura 37 – Dados observados na Ponta do Céu I (proximidade da Barra Norte) resultados do<br />
modelo de 2007 e previsão harmônica (nível de referência: zero do modelo).<br />
Alturas (cm) em realção ao zero do modelo<br />
300<br />
250<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
-50<br />
-100<br />
-150<br />
-200<br />
Comparação Modelo x Ponta do Céu I<br />
-250<br />
10/12/07 6:57 15/12/07 6:57<br />
Data-Hora<br />
Dados Modelo Previsao<br />
Figura 38 – Dados observados na Ponta do Céu I (proximidade da Barra Norte) resultados do<br />
modelo de 2007 e previsão harmônica para oito dias (nível de referência: zero do modelo).<br />
Conclui-se que as rodadas de 2006 e 2007 apresentaram consistência ao serem<br />
confrontadas aos dados medidos e que as diferenças em fase para a área de interesse<br />
foram reduzidas a níveis aceitáveis. Em contrapartida, diferenças nas alturas e na<br />
77
forma da curva modelada (devido à assimetria) foram verificadas sistematicamente na<br />
estação Barra Norte nos dois anos avaliados e durante todo o período investigado. O<br />
mesmo pôde ser detectado nas comparações com a Estação Ponta do Céu I. Este<br />
problema acarreta incertezas de, em média, 16,5 cm nos períodos de cheia e 19,7 cm<br />
na estiagem na estação de referência (considerando os dados filtrados). Esses valores<br />
seriam considerados inadequados, caso a redução de sondagens do Canal do Curuá<br />
fosse baseada estritamente nos resultados do modelo obtidos para a estação. No<br />
entanto, apesar destas diferenças serem incompatíveis 14 com a acurácia requerida para<br />
a definição de data de maré e redução de sondagens, elas somente foram verificadas<br />
nas imediações da estação maregráfica. Ao longo do canal, onde efetivamente foi<br />
conduzido o LH, o modelo apresentou resultados coerentes com os fundeios<br />
realizados e curvas de maré não tão distorcidas quanto nas proximidades da estação<br />
maregráfica.<br />
Algumas hipóteses (ou combinação delas) são levantadas para explicar o motivo pelo<br />
qual o modelo hidrodinâmico não conseguiu reproduzir as interações não-lineares<br />
entre as componentes harmônicas da maré de Escola do Igarapé Grande do Curuá:<br />
• O modelo não foi configurado para simular os efeitos de alagamento e<br />
secamento nas planícies de maré adjacentes,<br />
• O conjunto de dados de batimetria e rugosidade inseridos no modelo podem<br />
não ser representativos para aquele domínio (talvez reflitam condições<br />
pretéritas),<br />
• A geometria do canal pode estar sendo mal dimensionada, e<br />
• Problemas na prescrição das condições de fronteira aberta, pois o FES2004<br />
pode não ser suficientemente acurado em determinadas áreas como por<br />
exemplo a região amazônica.<br />
14 O valor recomendado por normas da DHN é 10cm.<br />
78
5.4. Teste de sensibilidade do modelo à batimetria<br />
Foram efetuados testes de sensibilidade do modelo a variações impostas nos valores<br />
de batimetria dispostos na malha de elementos finitos. Os resultados alcançados com<br />
este tipo de avaliação permitem uma calibração mais refinada do modelo contribuindo<br />
para melhorar as previsões de nível nos pontos de interesse.<br />
A configuração da batimetria de entrada influi diretamente nos resultados do modelo e<br />
indiretamente contribui para o resultado da redução de sondagens (i.e. os resultados<br />
das simulações são importantes na etapa do processamento da batimetria final que se<br />
deseja conhecer). Dessa forma, é essencial que se examine a influência da batimetria<br />
sobre as séries temporais de níveis calculados durante o processo de modelagem,<br />
assim como a ordem de grandeza da incerteza introduzida no resultado final da<br />
redução das sondagens.<br />
O teste de sensibilidade do modelo à batimetria foi conduzido considerando os<br />
cenários apresentados na Tabela 5. A batimetria foi alterada apenas na área<br />
compreendida pelo polígono de redução de sondagens.<br />
Tabela 5 – Cenários com as simulações realizadas para o teste de sensibilidade do modelo à<br />
batimetria.<br />
SECA Batimetria<br />
alterada em<br />
+20%<br />
CHEIA Batimetria<br />
alterada em<br />
+20%<br />
Batimetria<br />
alterada em<br />
-20%<br />
Batimetria<br />
alterada em<br />
-20%<br />
Batimetria<br />
alterada em<br />
+10%<br />
Batimetria<br />
alterada em<br />
+10%<br />
Batimetria<br />
alterada em<br />
-10%<br />
Batimetria<br />
alterada em<br />
-10%<br />
Batimetria alterada<br />
aleatoriamente em até<br />
+20%<br />
Batimetria alterada<br />
aleatoriamente em até<br />
+20%<br />
Batimetria alterada<br />
aleatoriamente em até<br />
-20%<br />
Batimetria alterada<br />
aleatoriamente em até<br />
-20%<br />
As simulações relativas ao teste de sensibilidade durante a cheia do rio Amazonas<br />
(CHEIA) foram realizadas para o período de 01/05/2006 a 01/07/2006. Já o teste para<br />
a época de estiagem (SECA) compreendeu o período de 13/09/2006 a 13/11/2006<br />
(Figura 39). As alterações aleatórias introduzidas na batimetria foram realizadas com<br />
auxílio do aplicativo Excel, no qual se usou a função “aleatório”.<br />
79
Vazões (m 3 /s)<br />
300000<br />
250000<br />
200000<br />
150000<br />
100000<br />
50000<br />
0<br />
20/04/06<br />
02/05/06<br />
14/05/06<br />
Período de Cheia<br />
26/05/06<br />
07/06/06<br />
19/06/06<br />
Vazões diárias em Óbidos - 2006<br />
01/07/06<br />
13/07/06<br />
25/07/06<br />
06/08/06<br />
Data<br />
18/08/06<br />
Óbidos (Amazonas)<br />
30/08/06<br />
11/09/06<br />
23/09/06<br />
Período de Seca<br />
Figura 39 – Gráfico com as vazões diárias em Óbidos durante parte de 2006, destacando os<br />
períodos considerados para o teste de sensibilidade do modelo à batimetria.<br />
Os nós da malha de discretização original contidos no polígono de redução de<br />
sondagens foram manualmente selecionados e tiveram a sua batimetria alterada para<br />
cada um dos casos (Figura 40).<br />
As séries temporais geradas pelo modelo para a estação Barra Norte, em todos os<br />
doze casos apresentados, foram comparadas às séries obtidas no modelo de 2006 para<br />
o mesmo período.<br />
05/10/06<br />
17/10/06<br />
29/10/06<br />
10/11/06<br />
80
Figura 40 – Nós da malha de discretização onde a batimetria foi alterada para o teste de<br />
sensibilidade (os nós estão contidos no polígono vermelho).<br />
5.5. Resultados do teste de sensibilidade à batimetria<br />
Os resultados alcançados para os diversos cenários contemplados nos testes de<br />
sensibilidade à batimetria foram organizados na Tabela 6 e na Tabela 7. O exemplo de<br />
um dia no período de seca e de cheia estão plotados na Figura 41 e na Figura 42.<br />
Tabela 6 – Resultados alcançados com o teste de sensibilidade. Diferenças entre os cenários<br />
simulados e o modelo original de 2006 no período de cheia.<br />
CHEIA<br />
Média das<br />
Diferenças (m)<br />
Média do<br />
módulo das<br />
Diferenças (m)<br />
Máximas ou<br />
Mínimas<br />
diferenças<br />
Encontradas<br />
(m)<br />
Barra Norte<br />
Batimetria<br />
alterada em<br />
+20%<br />
Batimetria<br />
alterada em<br />
-20%<br />
Batimetria<br />
alterada em<br />
+10%<br />
Batimetria<br />
alterada em<br />
-10%<br />
Batimetria<br />
alterada<br />
aleatoriamente em<br />
até +20%<br />
Batimetria<br />
alterada<br />
aleatoriamente em<br />
até -20%<br />
0.083 -0.101 0.057 -0.036 0.047 -0.045<br />
0.155<br />
0.167<br />
0.085 0.074 0.075 0.074<br />
0.366 -0.398 0.251 -0.166 0.199 -0.181<br />
81
Tabela 7 – Resultados alcançados com o teste de sensibilidade. Diferenças entre os cenários<br />
simulados e o modelo original de 2006 no período de seca.<br />
SECA<br />
Média das<br />
Diferenças (m)<br />
Média do<br />
módulo das<br />
Diferenças (m)<br />
Máximas ou<br />
Mínimas<br />
diferenças<br />
Encontradas<br />
(m)<br />
Batimetria<br />
alterada em<br />
+20%<br />
0.049<br />
0.142<br />
0.344<br />
Batimetria<br />
alterada em<br />
-20%<br />
-0.062<br />
0.153<br />
-0.369<br />
Batimetria<br />
alterada em<br />
+10%<br />
Batimetria<br />
alterada em<br />
-10%<br />
Batimetria<br />
alterada<br />
aleatoriamente em<br />
até +20%<br />
0.027 -0.024 0.027<br />
Batimetria<br />
alterada<br />
aleatoriamente em<br />
até -20%<br />
-0.029<br />
0.072 0.069 0.068 0.068<br />
0.176 -0.159 0.169<br />
-0.171<br />
Os resultados não sofreram variações significativas entre os períodos analisados (seca<br />
e cheia). As diferenças de 15,3 cm na seca e 16,7 cm na cheia, encontradas no<br />
experimento em que as profundidades foram incrementadas em 20% dos valores<br />
originais, corresponde ao resultado que mais se assemelhou aos dados observados<br />
(Figura 43). As profundidades médias encontradas no polígono de redução são de,<br />
em média, 14m e uma alteração de 20%, neste caso, significa tornar a área mais<br />
profunda, em média 2,8 m.<br />
82
níveis modeladas (m)<br />
3.0000<br />
2.5000<br />
2.0000<br />
1.5000<br />
1.0000<br />
0.5000<br />
0.0000<br />
-0.5000<br />
-1.0000<br />
-1.5000<br />
11/5/06 3:00<br />
11/5/06 4:00<br />
11/5/06 5:00<br />
11/5/06 6:00<br />
11/5/06 7:00<br />
11/5/06 8:00<br />
11/5/06 9:00<br />
11/5/06 10:00<br />
11/5/06 11:00<br />
11/5/06 12:00<br />
11/5/06 13:00<br />
Cheia<br />
11/5/06 14:00<br />
11/5/06 15:00<br />
Data-Hora<br />
Modelo original bat +10 bat +20 bat + aleat. bat -10 bat -20 bat - eleat.<br />
Figura 41 – Resultados do teste de sensibilidade para um dia na cheia do regime fluvial do<br />
Amazonas.<br />
níveis modeladas (m)<br />
3.0000<br />
2.5000<br />
2.0000<br />
1.5000<br />
1.0000<br />
0.5000<br />
0.0000<br />
-0.5000<br />
-1.0000<br />
-1.5000<br />
23/9/06 3:00<br />
23/9/06 4:00<br />
23/9/06 5:00<br />
23/9/06 6:00<br />
23/9/06 7:00<br />
23/9/06 8:00<br />
23/9/06 9:00<br />
23/9/06 10:00<br />
23/9/06 11:00<br />
23/9/06 12:00<br />
23/9/06 13:00<br />
Seca<br />
23/9/06 14:00<br />
23/9/06 15:00<br />
Data-Hora<br />
Modelo original bat +10 bat +20 bat + aleat. bat -10 bat -20 bat - eleat.<br />
Figura 42 – Resultados do teste de sensibilidade para um dia na seca do regime fluvial do<br />
Amazonas.<br />
11/5/06 16:00<br />
23/9/06 16:00<br />
11/5/06 17:00<br />
23/9/06 17:00<br />
11/5/06 18:00<br />
23/9/06 18:00<br />
11/5/06 19:00<br />
23/9/06 19:00<br />
11/5/06 20:00<br />
23/9/06 20:00<br />
11/5/06 21:00<br />
23/9/06 21:00<br />
11/5/06 22:00<br />
23/9/06 22:00<br />
11/5/06 23:00<br />
23/9/06 23:00<br />
12/5/06 0:00<br />
24/9/06 0:00<br />
12/5/06 1:00<br />
24/9/06 1:00<br />
12/5/06 2:00<br />
24/9/06 2:00<br />
83<br />
12/5/06 3:00<br />
24/9/06 3:00
níveis referidos ao zero do modelo (m)<br />
níveis referidos ao<br />
zero do modelo (m)<br />
2.50<br />
2.00<br />
1.50<br />
1.00<br />
0.50<br />
0.00<br />
-0.50<br />
-1.00<br />
-1.50<br />
-2.00<br />
3.00<br />
2.00<br />
1.00<br />
0.00<br />
-1.00<br />
-2.00<br />
Comparações dos Resultados do Teste de Sensibilidade<br />
-3.00<br />
12/5/06 0:00 14/5/06 0:00 16/5/06 0:00 18/5/06 0:00<br />
Data-Hora<br />
20/5/06 0:00 22/5/06 0:00 24/5/06 0:00<br />
Comparações dos Resultados do Teste de Sensibilidade<br />
-2.50<br />
13/5/06 0:00 13/5/06 2:24 13/5/06 4:48 13/5/06 7:12 13/5/06 9:36 13/5/06 13/5/06 13/5/06<br />
12:00<br />
Data-Hora<br />
14:24 16:48<br />
Dados Modelo Original bat +10 bat +20<br />
Dados Modelo Original bat +10 bat +20<br />
13/5/06<br />
19:12<br />
13/5/06<br />
21:36<br />
14/5/06 0:00<br />
Figura 43 – Comparação dos resultados do teste de sensibilidade com os dados observados em<br />
duas escalas temporais distintas.<br />
A avaliação proposta neste trabalho foi bastante simplista, pois só considerou<br />
variações na batimetria. Em todo caso o modelo se mostrou bastante sensível a esse<br />
parâmetro na área considerada, principalmente na região mais próxima à estação<br />
Barra Norte, onde a maré se torna mais ou menos assimétrica em função da<br />
profundidade. Na porção mais ao largo do canal, a deformação da curva de maré é<br />
menos relevante (Figura 44 e Figura 45).<br />
Outros fatores são considerados importantes na geração e modificação de harmônicos<br />
e na deformação da maré. SPEER e AUBREY (1985) mostraram que interações entre<br />
a friccção e a geometria do escoamento produzem efeitos não-lineares bastante<br />
consideráveis, na medida em que a seção transversal varia com o tempo. Para<br />
chegarem a essas conclusões, avaliaram as relações de fase entre as componentes M2<br />
e M4 em vários experimentos nos quais se modificou a geometria de um canal<br />
trapezoidal. Para uma calibração mais apurada do modelo, em futuros trabalhos,<br />
84
sugere-se que seja feita uma investigação da influência da geometria do canal nos<br />
níveis calculados, por meio de alterações controladas em outros parâmetros da seção<br />
transversal, além da profundidade.<br />
Em uma avaliação preliminar foi idealizado que um conjunto de dados batimétricos<br />
atualizado pudesse ser incorporado sistematicamente à malha de cálculo a cada novo<br />
LH de forma iterativa. Essa idéia adveio, principalmente, do fato de se tratar de um<br />
problema auto-referenciado: deseja-se conhecer melhor as profundidades, mas ao<br />
mesmo tempo, dados de batimetria são fundamentais para alimentar o sistema. O<br />
problema que não se vislumbrou à época é que os LH normalmente não cobrem toda a<br />
extensão do domínio e, portanto as batimetrias de certas áreas acabam se tornando<br />
bastante frequentemente desatualizadas. E mais ainda: realizar LH anualmente em<br />
todo o domínio é uma tarefa complicada, do ponto de vista logístico. Uma maneira de<br />
resolver essa questão, ao se decidir futuramente pela operacionalização do modelo, é<br />
considerar a batimetria de entrada do modelo como mais um fator de calibração.<br />
Assim sendo mesmo que, após a validação do modelo hidrodinâmico, o conjunto de<br />
dados batimétricos contidos na malha de cálculo não venha a refletir a realidade, isso<br />
não deverá ser encarado como uma inconsistência, visto que o que interessa<br />
primordialmente para a aplicação hidrográfica é o grau de acerto alcançado nos níveis<br />
produzidos pela ferramenta computacional.<br />
Essa abordagem reforça a necessidade da manutenção de uma rede permanente de<br />
marégrafos na área, com o intuito de calibrar os modelos já existentes e aqueles a<br />
serem implementados futuramente.<br />
85
Alturas em relação ao NMM (m)<br />
Alturas em relação ao NMM (m)<br />
Alturas em relação ao NMM (m)<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
Fundeio 1/2006<br />
-1.5<br />
3/6/06 7:12 3/6/06 9:36 3/6/06 12:00 3/6/06 14:24 3/6/06 16:48<br />
Data-Hora<br />
3/6/06 19:12 3/6/06 21:36 4/6/06 0:00 4/6/06 2:24<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
Modelo Fundeio 1 bat +20 bat +10<br />
Fundeio 2/2006<br />
-1.5<br />
4/6/06 7:12 4/6/06 9:36 4/6/06 12:00 4/6/06 14:24 4/6/06 16:48 4/6/06 19:12 4/6/06 21:36 5/6/06 0:00<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
Data-Hora<br />
Modelo Fundeio 2 bat +20 bat +10<br />
Fundeio 3/2006<br />
-1.5<br />
5/6/06 0:00 5/6/06 2:24 5/6/06 4:48 5/6/06 7:12 5/6/06 9:36 5/6/06 12:00 5/6/06 14:24 5/6/06 16:48<br />
Data-Hora<br />
Modelo Fundeio 3 bat +20 bat +10<br />
Figura 44 – Resultados dos testes de sensibilidade nos pontos de fundeio 1, 2 e 3.<br />
86
Alturas em relação ao NMM (m)<br />
Alturas em relação ao NMM (m)<br />
Alturas em relação ao NMM (m)<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
Fundeio 4/2006<br />
-1.5<br />
5/6/06 16:48 5/6/06 19:12 5/6/06 21:36 6/6/06 0:00 6/6/06 2:24 6/6/06 4:48 6/6/06 7:12 6/6/06 9:36<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
Data-Hora<br />
Modelo Fundeio 4 bat +20 bat +10<br />
Fundeio 5/2006<br />
-1.5<br />
6/6/06 12:00 6/6/06 14:24 6/6/06 16:48 6/6/06 19:12 6/6/06 21:36 7/6/06 0:00 7/6/06 2:24 7/6/06 4:48<br />
Data-Hora<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
Modelo Fundeio 5 bat +20 bat +10<br />
Fundeio 6/2006<br />
-1.5<br />
7/6/06 4:48 7/6/06 7:12 7/6/06 9:36 7/6/06 12:00 7/6/06 14:24 7/6/06 16:48 7/6/06 19:12 7/6/06 21:36<br />
Data-Hora<br />
Modelo Fundeio 6 bat +20 bat +10<br />
Figura 45 – Resultados dos testes de sensibilidade nos pontos de fundeio 3, 4 e 5.<br />
87
6. Análise e discussão dos resultados<br />
Capítulo 6<br />
6.1. O cálculo do Nível de Redução (NR) e do Lowest Astronomical Tide<br />
(LAT)<br />
Cada uma das 110 séries temporais geradas pelo modelo nos nós situados dentro do<br />
polígono de redução de sondagens, para o ano de 2006, sofreu o processamento<br />
representado na Figura 46.<br />
Figura 46- Fluxograma de processamento para o cálculo dos data verticais.<br />
As análises harmônicas (PUGH, 2004, FRANCO, 1997) foram executadas no módulo<br />
“Analexec/Anhama” do PACMARE 15 para 13 espécies harmônicas e com intervalo<br />
de confiança de 95%. O espectro de amplitudes residuais também foi calculado. Os<br />
resultados da análise podem ser cadastrados em uma base de dados do módulo de<br />
Análise e Previsão de Marés do SisBaHiA® para futuras aplicações.<br />
15 O PACMARE foi escolhido por ser o programa compatível com o SISMARE do BNDO, sistema homologado pela DHN para<br />
análise e previsão de marés no Brasil, gerando entre outros produtos, as Tábuas das Marés impressas e as previsões da página<br />
oficial da DHN.<br />
88
Para o cálculo do NR foi utilizado o método de COURTIER-BALAY cujas fórmulas<br />
foram apresentadas na Tabela 2. Os resultados retratam o Z0(NR) de cada um dos 110<br />
nós investigados, isto é, correspondem ao desnível entre o nível médio local e o NR.<br />
Para o cálculo do Z0(LAT) foram feitas as previsões harmônicas de 228 meses (19<br />
anos), tendo início em 01/01/2006. As previsões foram feitas com auxílio do<br />
programa PACMARE, usando os arquivos de constantes harmônicas previamente<br />
calculadas.<br />
Posteriormente, foram plotadas, com auxílio do programa Surfer a variação espacial<br />
de ambos os resultados e a diferença entre eles ao longo do polígono de redução. O<br />
método de gridagem escolhido foi o Kriging.<br />
O LAT e o NR foram igualmente estabelecidos para a estação de referência (Barra<br />
Norte).<br />
6.2. Mapas de distribuição espacial do NR e LAT<br />
Os valores de Z0 associados ao LAT e ao NR, calculados a partir das séries modeladas<br />
permitiram a elaboração de mapas de distribuição espacial desses data locais (Figura<br />
47 e Figura 48). Neste trabalho convencionou-se adotar valores de Z0 negativos, pelo<br />
fato do NR e do LAT estarem situados em planos inferiores ao plano do NM<br />
(considerado como o nível zero). Os resultados para a região avaliada encontram-se<br />
relacionados na Tabela 8.<br />
O intervalo de variação do NR foi superior a do LAT em 26,4 cm. De acordo com os<br />
resultados obtidos, o LAT pode ser considerado para a região como um critério mais<br />
restritivo 16 para a navegação do que o NR: a diferença entre ambos foi de 22,4 cm em<br />
média. Por outro lado, 55,9% dos valores de NR situam-se abaixo da média, contra<br />
47,7% do LAT.<br />
16 Quanto maior o valor de Z0, mais baixo é o plano do NR ou do LAT e menores as profundidades cartografadas.<br />
89
Espacialmente, os padrões de distribuição do LAT e NR são bastante diferentes,<br />
conforme pode ser verificado nos mapas da Figura 47 e da Figura 48. O NR apresenta<br />
um padrão de distribuição mais gradual do que o LAT, apesar de sofrer variações<br />
mais intensas, conforme pode se observado através dos resultados de amplitude de<br />
variação e desvio padrão.<br />
Tabela 8 – Resultados obtidos para o Z0 LAT e NR.<br />
Intervalo<br />
de<br />
variação<br />
(cm)<br />
Valor<br />
Máximo<br />
(cm)<br />
Valor<br />
Mínimo<br />
(cm)<br />
Valor<br />
Médio<br />
(cm)<br />
Desvio<br />
Padrão<br />
% de valores<br />
mais restritivos que a<br />
média<br />
Z0NR -112,2 -273,1 -160,9 -212,8 29,2 55,9<br />
Z0LAT -85,8 -287,7 -201,9 -235,2 16,9 47,7<br />
Uma porcentagem de 81% dos NR calculados para o polígono consiste em planos<br />
situados acima do NR da estação de referência, Escola do Igarapé Grande do Curuá<br />
(Barra Norte), correspondendo a uma diferença, em média, de 34,7cm. Quanto ao<br />
LAT, 60% dos planos situam-se acima e a diferença é apenas de 14cm. Em outras<br />
palavras, ao se extrapolar o NR da estação de referência para a região do canal (NR<br />
uniforme), espera-se que as profundidades se tornem mais rasas do que se fossem<br />
adotados os data (NR e LAT) representando um campo espacialmente variado.<br />
90
500000<br />
450000<br />
Barra Norte<br />
Mapa de NR<br />
700000 750000 800000<br />
Zo (NR) em cm<br />
Figura 47 – Distribuição espacial do NR em relação ao NM local, ao longo do polígono de<br />
redução de sondagens (assinalado em vermelho). Valores em centímetros. O trecho onde foi<br />
realizado LH de 2006 está destacado em amarelo.<br />
500000<br />
450000<br />
Barra Norte<br />
Mapa de LAT<br />
700000 750000 800000<br />
-155<br />
-160<br />
-165<br />
-170<br />
-175<br />
-180<br />
-185<br />
-190<br />
-195<br />
-200<br />
-205<br />
-210<br />
-215<br />
-220<br />
-225<br />
-230<br />
-235<br />
-240<br />
-245<br />
-250<br />
-255<br />
-260<br />
-265<br />
-270<br />
-275<br />
-280<br />
-285<br />
-290<br />
Zo (LAT) em cm<br />
Figura 48– Distribuição espacial do LAT em relação ao NM local, ao longo do polígono de<br />
redução de sondagens (assinalado em vermelho). Valores em centímetros. O trecho onde foi<br />
realizado LH de 2006 está destacado em amarelo.<br />
-200<br />
-205<br />
-210<br />
-215<br />
-220<br />
-225<br />
-230<br />
-235<br />
-240<br />
-245<br />
-250<br />
-255<br />
-260<br />
-265<br />
-270<br />
-275<br />
-280<br />
-285<br />
-290<br />
91
O mapa das diferenças entre o NR e o LAT (Figura 49) mostra, diferente do esperado,<br />
que nem sempre o LAT consiste em um plano mais baixo do que o NR. O mapa<br />
indica em azul escuro uma região onde o desnível entre o LAT e o NR é muito<br />
significativo, ou seja, diferenças superiores a 50 cm chegando até 90 cm, sendo o<br />
LAT o plano mais baixo. Na região em amarelo o NR aparece como um plano mais<br />
baixo do que o LAT, porém a diferença não chega a 20 cm.<br />
500000<br />
450000<br />
Barra Norte<br />
Mapa de Diferenças entre NR e LAT<br />
700000 750000 800000<br />
Figura 49 – Distribuição espacial das diferenças entre NR e LAT. Em azul está a região onde o<br />
plano do LAT está situado abaixo do NR, em amarelo estão as áreas em que ocorre o inverso e<br />
em branco onde ambos os planos de referência são coincidentes.<br />
Diferenças entre NR e LAT (cm)<br />
Foram construídas curvas de elevação geradas pelo modelo em nós representativos<br />
para as regiões onde ocorreram as maiores diferenças, a fim de auxiliar na<br />
interpretação deste resultado.<br />
Para a área azul foi selecionado o nó 4010, onde o LAT foi determinado em um plano<br />
de 82,88cm abaixo do NR. A região amarela foi representada pelo nó 4026 (com o<br />
NR 16,21 cm abaixo do LAT). O LAT e o NR também foram plotados nas séries<br />
90<br />
85<br />
80<br />
75<br />
70<br />
65<br />
60<br />
55<br />
50<br />
45<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
92
elativas ao ponto de fundeio 11 da campanha de 2007, ao ponto de fundeio 3 de 2006<br />
e à estação de referência. A Figura 50 mostra a localização dos pontos considerados.<br />
Figura 50 – Mapa da área de interesse destacando os pontos de fundeios analisados em vermelho,<br />
a estação Barra Norte e os nós onde ocorreram as maiores discrepâncias em verde.<br />
Os resultados apresentados na Figura 51 e Figura 53 mostram que o LAT é um datum<br />
vertical mais representativo para as menores baixa-mares do que o NR na região<br />
estudada. Isto se dá pelo fato do NR ser calculado com base somente nas<br />
componentes M2, S2, K2 e N2. O NR conforme pôde ser verificado na Figura 47,<br />
representa bem a tendência geral de amortecimento da amplitude de maré à medida<br />
que ocorre o afastamento da estação de referência.<br />
93
Em contrapartida, o LAT representa melhor o conjunto das componentes harmônicas<br />
do local considerado, pois seu cálculo leva em conta toda a previsão de marés. O<br />
padrão de distribuição espacial do LAT é mais complexo do que o do NR e não<br />
consegue mostrar o amortecimento da maré indicado pela variação do NR.<br />
Na área estudada, GALLO e VINZON (2005) avaliaram a influência fluvial na<br />
geração de sobremarés e marés compostas como, por exemplo, a componente de altafrequência<br />
M4 (sobre-harmônico de M2) e a de longo período Msf (composição de M2<br />
e S2).<br />
A presença da Msf pode ser melhor percebida no gráfico da série temporal do nó<br />
4026, representativo da área amarela. A Msf atua dentro de um período de<br />
aproximadamente 15 dias, modulando os ciclos de sizígias e quadraturas e tornando<br />
as baixa-mares de ambos os períodos mais ou menos semelhantes e menos baixas do<br />
que normalmente se esperaria na ausência desta componente. A fórmula de cálculo do<br />
NR não consegue identificar a influência deste importante constituinte harmônico<br />
(Figura 51).<br />
94
Elevações Simuladas<br />
Elevações Simuladas<br />
3.00<br />
2.00<br />
1.00<br />
0.00<br />
-1.00<br />
-2.00<br />
-3.00<br />
2.50<br />
2.00<br />
1.50<br />
1.00<br />
0.50<br />
0.00<br />
-0.50<br />
-1.00<br />
-1.50<br />
-2.00<br />
-2.50<br />
Nó 4026<br />
13/11/05 0:00<br />
22/11/05 10:00<br />
1/12/05 20:00<br />
11/12/05 6:00<br />
20/12/05 16:00<br />
30/12/05 2:00<br />
8/1/06 12:00<br />
17/1/06 22:00<br />
27/1/06 8:00<br />
5/2/06 18:00<br />
15/2/06 4:00<br />
24/2/06 14:00<br />
6/3/06 0:00<br />
15/3/06 10:00<br />
24/3/06 20:00<br />
3/4/06 6:00<br />
12/4/06 16:00<br />
22/4/06 2:00<br />
1/5/06 12:00<br />
10/5/06 22:00<br />
20/5/06 8:00<br />
29/5/06 18:00<br />
8/6/06 4:00<br />
17/6/06 14:00<br />
27/6/06 0:00<br />
6/7/06 10:00<br />
15/7/06 20:00<br />
25/7/06 6:00<br />
3/8/06 16:00<br />
13/8/06 2:00<br />
22/8/06 12:00<br />
31/8/06 22:00<br />
10/9/06 8:00<br />
19/9/06 18:00<br />
29/9/06 4:00<br />
8/10/06 14:00<br />
18/10/06 0:00<br />
27/10/06 10:00<br />
5/11/06 20:00<br />
-3.00<br />
13/11/05<br />
0:00<br />
13/11/05<br />
4:48<br />
13/11/05<br />
9:36<br />
13/11/05<br />
14:24<br />
13/11/05<br />
19:12<br />
Data-Hora<br />
Elevações NR LAT<br />
Nó 4026<br />
14/11/05<br />
0:00<br />
Data-Hora<br />
14/11/05<br />
4:48<br />
Elevações NR LAT<br />
14/11/05<br />
9:36<br />
14/11/05<br />
14:24<br />
14/11/05<br />
19:12<br />
15/11/05<br />
0:00<br />
Figura 51 – Séries modeladas para o nó 4026, onde a presença da Msf se faz sentir e o NR passa a<br />
ser um critério mais restritivo e menos realista do que o LAT.<br />
A Figura 52 mostra a distribuição espacial da amplitude da componente Msf ao longo<br />
da área de interesse. Os valores foram determinados para cada um dos 110 nós do<br />
polígono como resultado das análises harmônicas e posteriormente interpolados<br />
espacialmente.<br />
95
Figura 52 – Distribuição espacial da componente harmônica Msf.<br />
As elevações calculadas pelo modelo para o nó 4010 apresentam uma curva com um<br />
padrão bastante característico, com baixa-mares muito mais baixas do que o esperado<br />
(Figura 53). Na escala temporal de dois dias nota-se que a duração das preamares é<br />
superior a das baixa-mares. PUGH (1987) descreve estas marés como sendo do tipo:<br />
“duplas preamares - baixa-mares mais baixas” (double high water - low water lower).<br />
Esse é um fenômeno relacionado à relação de fase de M2 e M4 (2 GM2 - GM4) que<br />
causa variações no forma da curva de maré, tornando-a mais ou menos assimétrica e<br />
com preamares e baixa-mares mais ou menos pronunciadas. No caso do nó 4010, a<br />
diferença encontrada foi de aproximadamente 180°. Também nesta situação o LAT<br />
consegue representar melhor a realidade, capturando as menores baixa-mares. O NR,<br />
como já visto, subestima o fenômeno, acarretando incertezas muito altas (da ordem de<br />
80cm). Na Figura 53 é possível perceber uma grande incidência de baixa-mares<br />
negativas em relação ao NR.<br />
96
Elevações Simuladas<br />
Elevações Simuladas<br />
2.00<br />
1.50<br />
1.00<br />
0.50<br />
0.00<br />
-0.50<br />
-1.00<br />
-1.50<br />
-2.00<br />
-2.50<br />
-3.00<br />
1.50<br />
1.00<br />
0.50<br />
0.00<br />
-0.50<br />
-1.00<br />
-1.50<br />
-2.00<br />
-2.50<br />
Nó 4010<br />
13/11/05 0:00<br />
22/11/05 10:00<br />
1/12/05 20:00<br />
11/12/05 6:00<br />
20/12/05 16:00<br />
30/12/05 2:00<br />
8/1/06 12:00<br />
17/1/06 22:00<br />
27/1/06 8:00<br />
5/2/06 18:00<br />
15/2/06 4:00<br />
24/2/06 14:00<br />
6/3/06 0:00<br />
15/3/06 10:00<br />
24/3/06 20:00<br />
3/4/06 6:00<br />
12/4/06 16:00<br />
22/4/06 2:00<br />
1/5/06 12:00<br />
10/5/06 22:00<br />
20/5/06 8:00<br />
29/5/06 18:00<br />
8/6/06 4:00<br />
17/6/06 14:00<br />
27/6/06 0:00<br />
6/7/06 10:00<br />
15/7/06 20:00<br />
25/7/06 6:00<br />
3/8/06 16:00<br />
13/8/06 2:00<br />
22/8/06 12:00<br />
31/8/06 22:00<br />
10/9/06 8:00<br />
19/9/06 18:00<br />
29/9/06 4:00<br />
8/10/06 14:00<br />
18/10/06 0:00<br />
27/10/06 10:00<br />
5/11/06 20:00<br />
-3.00<br />
13/11/05<br />
0:00<br />
13/11/05<br />
4:48<br />
13/11/05<br />
9:36<br />
13/11/05<br />
14:24<br />
13/11/05<br />
19:12<br />
Data-Hora<br />
Elevações NR LAT<br />
Nó 4010<br />
14/11/05<br />
0:00<br />
Data-Hora<br />
14/11/05<br />
4:48<br />
Elevações NR LAT<br />
14/11/05<br />
9:36<br />
14/11/05<br />
14:24<br />
14/11/05<br />
19:12<br />
15/11/05<br />
0:00<br />
Figura 53 - Séries modeladas para o nó 4010, onde a presença da relação de fase 2gM2-gM4 (no<br />
caso= 180° ) se faz presente. O LAT passa a ser um critério mais restritivo e mais realista do que<br />
o NR.<br />
Através dos resultados da análise harmônica dos nós do polígono de redução (da<br />
mesma forma como foi elaborado o mapa de distribuição de Msf) foi possível<br />
construir um mapa de assimetria para o local, ilustrando os efeitos mencionados de<br />
distorção da maré (Figura 54). O mapa foi feito com base na relação 2GM2-GM4 tal<br />
97
qual já apresentado por FERNANDES (2006), com a diferença de que neste também<br />
foram incluídas as quatro formas básicas da maré associadas às relações M2/M4= 0°,<br />
90°, 180° e 270°.<br />
Corroborando as observações sobre as posições relativas dos data NR e LAT e a<br />
distorção sofrida pela maré ao se propagar pelo canal, a Figura 55 apresenta três<br />
situações de maré distintas representando a área de interesse (2 pontos de fundeio e a<br />
estação Barra Norte). Na figura superior é mostrado 1 dia de resultado e na inferior<br />
um período de cerca de 6 meses :<br />
• A curva da estação de referência com assimetria positiva (enchentes com<br />
duração inferior a 6 horas) e influência da componente Msf, além de NR mais<br />
baixo do que o LAT;<br />
• A curva do fundeio 3 com baixa assimetria e NR coincidente ao LAT;<br />
• A curva do fundeio 11 com forte distorção da curva de maré, LAT mais baixo<br />
do que o NR e amplitude de Msf não tão significativa.<br />
98
alturas (cm)<br />
alturas (cm)<br />
150<br />
100<br />
50<br />
150<br />
100<br />
50<br />
-50<br />
-100<br />
-150<br />
M2+M4 quando a relação de fase = 180 graus<br />
0<br />
0 5 10 15 20 25 30<br />
-50<br />
-100<br />
-150<br />
Horas<br />
M2 M4 M2+M4<br />
M2+M4 quando a relação de fase = 90 graus<br />
0<br />
0 5 10 15 20 25 30<br />
Horas<br />
M2 M4 M2+M4<br />
M2+M4 quando a relação de fase = 0 graus<br />
0<br />
0 5 10 15 20 25 30<br />
Figura 54 – Mapa de assimetria indicando em azul a assimetria positiva, em vermelho a<br />
assimetria negativa e os pontos onde a curva de maré assume a configuração de duplas baixamares<br />
ou duplas-preamares.<br />
alturas (cm)<br />
alturas (cm)<br />
150<br />
100<br />
50<br />
-50<br />
-100<br />
-150<br />
150<br />
100<br />
50<br />
-50<br />
-100<br />
-150<br />
M2+M4 quando a relação de fase = 270 graus<br />
0<br />
0 5 10 15 20 25 30<br />
Horas<br />
Horas<br />
M2 M4 M2+M4<br />
M2 M4 M2+M4<br />
99
Elevações referidas ao zero do modelo (m)<br />
Elevações referidas ao zero do modelo (m)<br />
2<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
-1.5<br />
-2<br />
-2.5<br />
NR<br />
LAT<br />
NR e LAT função das séries de elevação<br />
LAT<br />
NR<br />
NR=LAT<br />
-3<br />
0:00 2:24 4:48 7:12 9:36 12:00<br />
Horas<br />
14:24 16:48 19:12 21:36 0:00<br />
Fundeio 3 Fundeio 11 Barra Norte<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
-1<br />
-2<br />
NR<br />
LAT<br />
LAT<br />
NR e LAT função das séries de elevação<br />
NR NR=LAT<br />
-3<br />
0:00 0:00 0:00 0:00 0:00<br />
Horas<br />
0:00 0:00 0:00 0:00<br />
Fundeio 3 Barra Norte Fundeio 11<br />
Figura 55 - Duas escalas temporais distintas apresentando a complexidade da propagação de<br />
maré na área de estudo e três casos de determinação de data verticais LAT e NR.<br />
Em face ao exposto e com base em dados modelados, pode-se concluir que na área de<br />
estudo o LAT representa um melhor datum vertical para a carta náutica, mais realista<br />
e ao mesmo tempo capaz de prover segurança à navegação. O LAT não deve ser<br />
considerado necessariamente um critério mais conservador, tendo em vista que em<br />
certas regiões o plano do NR se situa abaixo do plano do LAT.<br />
100
É recomendável que sejam realizadas coletas de dados de nível d’água, ao longo de<br />
períodos superiores a um ano, para que se possa calcular o LAT efetivamente sobre<br />
séries observadas (e não simuladas). De preferência, devem ser testados diferentes<br />
períodos de um ano a fim de avaliar a influência das condições hidrológicas do rio<br />
Amazonas e condições meterológicas sobre as componentes harmônicas do canal da<br />
Barra Norte.<br />
6.3. Procedimentos adotados para a redução de sondagens<br />
Os dados brutos de batimetria e reduzidos utilizados neste trabalho foram levantados<br />
pelo NHi Sirius e constam em arquivos anexos ao relatório final do LH 001/2006.<br />
Os arquivos encontram-se no formato X-Y-T-Z (BRUTO) e X-Y-T-Z (REDUZIDO),<br />
sendo o tempo T em Greenwich e o X-Y em coordenadas cartesianas. A coluna T foi<br />
ordenada por data-hora-minuto-segundo e convertida para o fuso local (P) e as<br />
colunas X-Y foram convertidas para as coordenadas métricas do modelo. As posições<br />
foram plotadas no SURFER a fim de verificar a distribuição espacial das sondagens<br />
(Figura 56).<br />
Os arquivos originais de dados brutos e reduzidos continham 31539 dados de<br />
batimetria densamente distribuídos em uma área relativamente pequena quando<br />
comparada ao polígono de redução. Os dados originais haviam sido coletados pelo<br />
NHi Sirius a cada 10 segundos. Em função da dificuldade de processamento dessa<br />
quantidade de dados para o propósito deste trabalho, foi feita uma redução dos<br />
arquivos originais de forma que os dados apresentassem um taxa de amostragem de 2<br />
minutos. Os novos arquivos de dados brutos e reduzidos passaram a conter 1972<br />
linhas, correspondendo a 6,25% do conjunto de dados inicial.<br />
101
800000<br />
600000<br />
400000<br />
200000<br />
0<br />
Localização das Estações<br />
e Pontos de Fundeio<br />
Macapá<br />
Santana<br />
Canivete<br />
Barra Norte<br />
Penrod<br />
Santa Maria do Cocal<br />
Ilha de Maracá<br />
Guará<br />
Oceano<br />
Atlântico<br />
[0,0] = UTM [588952.99 , 9668415.69]<br />
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000<br />
Afuá<br />
Chaves<br />
Vila Nazaré<br />
Machadinho<br />
Maguari<br />
Figura 56- Mapa da região, com destaque para a área do Canal Norte, apresentando as estações<br />
maregráficas em vermelho, pontos de fundeio em azul, polígono de redução em laranja e a área<br />
levantada pelo NHi Sirius em 2006 em amarelo.<br />
Os mapas de batimetria, construídos com a amostra de 6,25% dos dados originais,<br />
apresentaram de forma representativa as principais feições de fundo.<br />
Em seguida, foi criado um arquivo contendo os dados de níveis calculados pelo<br />
modelo, relativos aos 20 nós situados dentro da área do LH (Figura 57).<br />
102
Figura 57 - Mapa da região destacando em azul os 12 elementos da malha correspondentes à área<br />
sondada pelo NHi Sirius em 2006. Para a redução foram utilizadas as séries de elevação<br />
produzidas por 20 nós.<br />
Os arquivos foram formatados em quatro colunas X-Y-T-η sendo η correspondente às<br />
elevações horárias (resultantes da modelagem) relativas ao período de sondagem de<br />
04/06/06 09:00P a 17/06/06 17:00P, para cada um dos 20 nós considerados.<br />
O valor de η foi primeiramente corrigido considerando três situações distintas:<br />
• Caso 1: NM da estação de referência, Z0(NR) da estação de referência;<br />
• Caso 2: NM da estação de referência, Z0(NR) local (campo variado);<br />
• Caso 3: NM da estação de referência, Z0(LAT) local (campo variado);<br />
Nesses três casos o NM foi considerado espacialmente uniforme e constante, tendo<br />
sido calculado com base na média de todo o período observado na estação de<br />
referência (2 meses).<br />
Em LH, é necessário amarrar o NM e com ele o NR ou o LAT a uma RN ou a um<br />
elipsóide de referência; em outras palavras, é importante estabelecer uma referência<br />
absoluta para o nível médio do mar. Esses três casos analisados partem da premissa<br />
que o único ponto com amarração geodésica corresponde à estação de referência,<br />
onde efetivamente houve um nivelamento geométrico do zero da régua às referências<br />
103
de nível (RN) materializadas no terreno. Além disso, não consideraram as flutuações<br />
diárias de NM na estação de referência.<br />
Quanto aos data verticais, no primeiro caso, o NR da estação de referência foi<br />
extrapolado para toda a área de sondagem (NR uniforme) e nos outros dois casos<br />
foram consideradas as variações espaciais do NR e do LAT apresentadas no item 6.2.<br />
A Figura 58 ilustra um esquema de distribuição espacial dos data LAT, NR e NR da<br />
estação de referência para uma situação hipoteticamente mais crítica em termos das<br />
baixa-mares. Através desta figura procura-se mostrar a distribuição uniforme do NR<br />
da estação de referência (extrapolado para toda a área de interesse) e a ondulação do<br />
NR e do LAT, acompanhando as baixa-mares mais baixas ao longo de quatro nós do<br />
domínio de modelagem. Em alguns pontos o NR situa-se acima do LAT, em outros<br />
ocorre o oposto e há ainda a possibilidade de ambos os planos serem coincidentes. As<br />
setas verticais indicam as diferentes correções a serem aplicadas na redução das<br />
sondagens em função do datum escolhido.<br />
Figura 58 – Esquema mostrando diversas possibilidades de ditribuições espaciais do LAT e NR.<br />
Setas verticais representam os valores da série temporal utilizados na correção das sondagens<br />
para cada um dos data.<br />
O quarto caso analisado considerou o NM uniforme espacialmente, mas incluiu os<br />
efeitos decorrentes das variações diárias do NM observados na Barra Norte (resíduo),<br />
nos dados de saída do modelo η. Nesse caso, o datum vertical consistiu no NR<br />
104
espacialmente variado, isto é, foram aplicadas correções de Z0(NR) em cada um dos 20<br />
nós considerados.<br />
• Caso 4: NM da estação de referência variável no tempo, Z0(NR) local (campo<br />
variado).<br />
No quinto caso foram adotados o NM e o NR espacialmente variados nas séries<br />
modeladas. Os NM variados no domínio foram calculados em relação ao zero do<br />
modelo durante o processo de análise harmônica com auxílio do PACMARE, para<br />
cada um dos nós avaliados, e sua distribuição ao longo do polígono de redução é<br />
apresentada na Figura 59.<br />
• Caso 5: NM variado (zero do modelo como referência), Z0(NR) local (campo<br />
variado).<br />
Finalmente o sexto caso incorporou ao Caso 5, o resíduo observado na estação de<br />
referência.<br />
• Caso 6: NM variado (zero do modelo como referência) somado às variações<br />
temporais, Z0(NR) local (campo variado).<br />
Os seis casos estão esquematicamente representados da Figura 60 à Figura 65.<br />
Figura 59 – Variação espacial do NM na área de interesse.<br />
105
Caso 1<br />
Figura 60 – Esquema representativo do caso 1: NM da estação de referência, Z0(NR) da estação de<br />
referência.<br />
Caso 2<br />
So=414,16cm<br />
Zero da régua da est de<br />
ref.<br />
η = ELEV + Z0(NR) est de ref<br />
So=414,16cm<br />
Zero da régua da est de<br />
ref.<br />
η = ELEV + Z0(NR) do nó (local)<br />
NM da est de ref.<br />
NR da est de ref.<br />
ELEV (resultado do modelo para o nó corrigido para o NM considerado)<br />
NM da est de ref.<br />
NR do nó local<br />
ELEV (resultado do modelo para o nó corrigido para o NM considerado)<br />
Z0(NR) est de ref<br />
Z0(NR) do nó<br />
Figura 61 – Esquema representativo Caso 2: NM da estação de referência, Z0(NR) local.<br />
Nó da área<br />
de sondagem<br />
Nó da área<br />
de sondagem<br />
106<br />
η<br />
η
Caso 3<br />
Figura 62 – Esquema representativo Caso 3: NM da estação de referência, Z0(LAT) local.<br />
Caso 4<br />
So=414,16cm<br />
Zero da régua da est de<br />
ref.<br />
η = ELEV + Z0(LAT) do nó (local)<br />
NM da est de ref.<br />
Variável (instante 1)<br />
So=414,16cm<br />
Zero da régua da est de<br />
ref.<br />
η = ELEV + Z0(NR) do nó<br />
NM da est de ref.<br />
LAT do nó local<br />
ELEV (resultado do modelo para o nó corrigido para o NM considerado)<br />
NM da est de ref.<br />
Variável (instante 2)<br />
NR do nó local<br />
ELEV (resultado do modelo para o nó corrigido para o NM considerado)<br />
Z0(LAT) do nó<br />
Z0(NR) do nó<br />
Nó da área<br />
de sondagem<br />
Nó da área<br />
de sondagem<br />
Figura 63 – Esquema representativo Caso 4: NM da estação de referência com variação horária,<br />
Z0(NR) local.<br />
107<br />
η<br />
η
Figura 64 – Esquema representativo Caso 5: NM com variação espacial, Z0(NR) local.<br />
Caso 6<br />
Caso 5<br />
NM da est de ref.<br />
So=414,16cm<br />
Zero da régua da est de<br />
ref.<br />
η = ELEV + Z0(NR) do nó<br />
NM da est de ref. (instante 1)<br />
So=414,16cm<br />
Zero da régua da est de<br />
ref.<br />
η = ELEV + Z0(NR) do nó<br />
NR do nó local<br />
ELEV (resultado do modelo para o nó corrigido para o NM considerado)<br />
NM da est de ref. (instante 2) NM do nó<br />
(instante 2)<br />
NR do nó local<br />
ELEV (resultado do modelo para o nó corrigido para o NM considerado)<br />
Z0(NR) do nó<br />
Z0(NR) do nó<br />
Nó da área<br />
de sondagem<br />
Figura 65 - Esquema representativo Caso 6: NM com variação espacial e temporal, Z0(NR) local.<br />
η<br />
Nó da área<br />
de sondagem<br />
108<br />
η<br />
NM do nó<br />
NM do nó<br />
(instante 1)
Foi elaborada uma rotina no Matlab para o cálculo das correções de maré a serem<br />
empregadas nas batimetrias brutas (para cada um dos seis casos apresentados). A<br />
rotina está transcrita no Apêndice D e basicamente realiza uma interpolação linear das<br />
informações contidas no arquivo X-Y-T-η (saída do modelo) para os 1972 pontos<br />
onde foram medidas as profundidades nos respectivos horários. O arquivo de pontos<br />
contém o formato reproduzido na Figura 66<br />
X Y T<br />
Figura 66 – Modelo de arquivo de pontos contendo as coordenadas X e Y e os instantes T de<br />
coleta dos dados batimétricos. O tempo está representado em formato numérico com quatro<br />
casas decimais.<br />
No item 6.4 são feitas considerações sobre a interpolação linear adotada.<br />
Os arquivos de correção calculados para cada um dos casos foram aplicados à<br />
batimetria bruta gerando dados reduzidos os quais foram confrontados ao arquivo de<br />
dados batimétricos fornecido pelo CHM cuja redução foi feita pelo NHi Sirius<br />
utilizando o método das subáreas de redução.<br />
Um esquema com as principais cotas da estação de referência (Escola do Igarapé<br />
Grande do Curuá/ Barra Norte) foi incluído no Apêndice B. Em tal esquema estão<br />
indicados: o zero do modelo, o zero da régua de 1996 (referente ao período padrão da<br />
estação) e o zero da régua de 2006 (relativo à observação), além dos planos do NM e<br />
NR compilados das Fichas F-41.<br />
109
6.4. Considerações sobre a interpolação linear<br />
Foram feitos dois tipos de testes a fim de verificar a incerteza introduzida na<br />
metodologia diante do uso da interpolação linear sobre as séries temporais produzidas<br />
pelo modelo hidrodinâmico.<br />
O primeiro teste foi conduzido no sentido de avaliar a interpolação linear ao longo do<br />
espaço. Foram comparados os resultados das elevações calculadas pelo modelo para o<br />
ponto correspondente ao Fundeio 6 com as séries interpoladas para o mesmo ponto a<br />
partir dos quatro nós mais próximos. O cálculo da interpolação espacial foi feito por<br />
meio de uma rotina desenvolvida no programa Matlab (Apêndice D). Os lados do<br />
quadrilátero considerado são de aproximadamente 9,2 km (Figura 67). As diferenças<br />
encontradas foram em média inferiores a 1cm (Figura 68).<br />
3903<br />
3902<br />
Fundeio 6<br />
3962<br />
~ 5 km<br />
~ 9, 2km<br />
3961<br />
Figura 67- Esquema da interpolação espacial para o ponto de fundeio 6.<br />
110
Diferenças (cm)<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
série obtida diretamente pelo modelo<br />
x<br />
Série obtida por interpolação linear dos nós vizinhos<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
1 581 1161 1741 2321 2901 3481 4061 4641 5221 5801 6381 6961 7541 8121 8701<br />
número de horas<br />
Figura 68– Valores de diferenças nas elevações encontradas para o Fundeio 6 em função do<br />
método de obtenção da série temporal para um período de um ano.<br />
O segundo teste procurou avaliar dois métodos de interpolação temporal distintos,<br />
linear e cubic spline, em uma série oriunda do modelo. A série foi convertida da taxa<br />
amostral de 1 hora para 1 minuto utilizando os dois métodos. A função cubic spline<br />
foi considerada por SILVA e ALVES (2002) mais precisa para a construção de<br />
diagramas de redução de profundidades a intervalos regulares de 10 minutos<br />
interpolados a partir de dados horários. As séries comparadas foram plotadas na<br />
Figura 69. As diferenças encontradas foram em média de 2,3cm.<br />
elevações (cm)<br />
Comparação interpolação linear e cubic spline<br />
250<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
-50<br />
-100<br />
-150<br />
-200<br />
1 306 611 916 1221 1526 1831 2136 2441 2746 3051 3356 3661 3966 4271 4576 4881 5186 5491<br />
número de horas<br />
interpolação temporal Cubic Spline interpolação temporal Linear<br />
Figura 69 – Valores de diferenças nas elevações encontradas para o Fundeio 6 em função do<br />
método de obtenção da série temporal.<br />
111
Conclui-se que o método de interpolação linear, utilizado nesta dissertação para o<br />
cálculo das correções de maré a serem aplicadas nas sondagens, agrega à metodologia<br />
incertezas inferiores a 0,5% das alturas de maré encontradas na região de estudo.<br />
6.5 Redução das sondagens : resultados obtidos<br />
Na apresentação dos resultados referentes à redução da batimetria, é importante<br />
salientar que a área de sondagem deste teste corresponde a uma pequena região do<br />
polígono de redução. Para se ter uma idéia da ordem de grandeza, a distância entre<br />
nós extremos do polígono de redução é de aproximadamente 144 km, enquanto entre<br />
os limites da área sondada pelo NHi Sirius em 2006 há apenas 27,5 km. Sem dúvida,<br />
neste pequeno trecho a variação da maré não é tão significativa quanto se fosse<br />
considerada a área total e portanto, o teste metodológico torna-se limitado pela<br />
ausência de dados batimétricos em todo trecho investigado. Além disso, devido à<br />
proximidade da estação de referência, a maré da área da sondagem de 2006 guarda<br />
uma forte relação com os dados medidos durante a execução do LH. Assim sendo, as<br />
diferenças observadas em relação ao NR e LAT não serão tão evidentes nesta pequena<br />
área.<br />
Isso também significa dizer que as incertezas resultantes da aplicação do método de<br />
redução proposto não poderão ser extrapoladas para toda a batimetria do canal. Assim<br />
que forem coletados dados batimétricos ao longo de toda a extensão do Canal do<br />
Curuá, o método deverá ser novamente testado, principalmente nos pontos situados no<br />
limite do polígono de redução, onde as incertezas decorrentes do zoneamento discreto<br />
de marés são bem mais significativas.<br />
Em futuros trabalhos será possível agregar informações do mapeamento do NM ao<br />
elipsóide do sistema WGS-84 em cada nó do modelo (e também o NR e o LAT), a<br />
partir de levantamentos com GPS diferencial preciso, conforme proposto por RAMOS<br />
e KRUEGER (2006). Somente diante dessa perspectiva será possível realizar os LH<br />
sem necessidade da régua maregráfica da estação de referência.<br />
112
Em todos os seis casos testados existe uma considerável incerteza associada ao NM<br />
na área de sondagem, tanto ao se extrapolar o NM da estação de referência para toda a<br />
área, quanto ao se adotar os resultados de NM do modelo. A limitação do método<br />
adotado, relacionada à determinação do NM, também poderá ser corrigida com a<br />
devida amarração ao elipsóide do sistema WGS-84. Essa tarefa será possivelmente<br />
empreendida como continuação a este estudo pelo Centro de Hidrografia da Marinha.<br />
Vale a pena frisar que o método empregado pelo NHi Sirius parte do pressuposto que<br />
o NM é coincidente para toda área de sondagem, ou seja, equivale a abordagem dos<br />
casos 1, 2, 3 e 4.<br />
O mapa de batimetria reduzida feito por ocasião do LH 001/2006 (NHi Sirius) é<br />
apresentado na Figura 70. A variação do NR no método do zoneamento discreto é<br />
feita por faixas com desníveis de, no máximo 10 cm, e o NM é o mesmo calculado na<br />
estação maregráfica de referência.<br />
452000<br />
450000<br />
448000<br />
446000<br />
444000<br />
442000<br />
440000<br />
438000<br />
436000<br />
REDUÇÃO SIRIUS<br />
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000<br />
Profundidades<br />
Reduzidas (m)<br />
Figura 70 – Profundidades reduzidas pelo NHi Sirius (método do Zoneamento Discreto de Maré,<br />
NM uniforme e NR variado).<br />
21<br />
20<br />
19<br />
18<br />
17<br />
16<br />
15<br />
14<br />
13<br />
12<br />
11<br />
10<br />
9<br />
8<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
113
As profundidades variam significativamente entre os métodos avaliados conforme<br />
pode ser observado na Tabela 9. Diferenças de até ± 4m foram encontradas em todos<br />
os casos. As diferenças absolutas médias encontradas foram da ordem de 1,30 m e se<br />
alternam entre valores negativos e positivos. Esses resultados mostram que as<br />
incertezas decorrentes da metodologia empregada para a redução de sondagens situem<br />
esta área fora da classificação de Ordem Especial ou mesmo de Primeira Ordem,<br />
conforme preconizado pelo IHO, confirmando os resultados encontrados no trabalho<br />
anterior de FERNANDES (2006).<br />
Tabela 9 – Diferenças nas profundidades reduzidas em função do método de redução<br />
(zoneamento discreto-Sirius x modelagem hidrodinâmica- casos 1 ao 6).<br />
Método das subáreas<br />
x<br />
Método da<br />
Modelagem<br />
Intervalo de<br />
variação das Diferenças<br />
(m)<br />
Diferença<br />
Máxima<br />
(m)<br />
Caso 1 4,59 2,30<br />
Caso 2<br />
4,05<br />
2,46<br />
Caso 3 4,07 2,52<br />
Caso 4<br />
4.89<br />
2.60<br />
Caso 5 4.92 2.63<br />
Caso 6<br />
4.02<br />
2.77<br />
Diferença<br />
Mínima<br />
(m)<br />
MAE<br />
(m)<br />
-2,29 1,17<br />
-1,59<br />
-1,55<br />
-2.29<br />
1,20<br />
1,22<br />
1,27<br />
-2.29 1,35<br />
-1.25<br />
As diferenças entre as batimetrias reduzidas foram mapeadas e apresentadas da Figura<br />
71 à Figura 76. As diferenças negativas em vermelho significam que a profundidade<br />
final obtida pelo Sirius é menor do que a calculada pelo método proposto (o navio<br />
está assumindo uma batimetria mais rasa e, portanto, pode ser mais seguro e mais<br />
proibitivo navegar nestes trechos). Diferenças positivas em azul significam que a<br />
profundidade reduzida pelo Sirius é maior do que a sugerida pelo método da<br />
modelagem (o navio está admitindo uma batimetria mais profunda, dando<br />
teoricamente mais calado em áreas eventualmente mais rasas).<br />
1,42<br />
114
452000<br />
450000<br />
448000<br />
446000<br />
444000<br />
442000<br />
440000<br />
438000<br />
436000<br />
Diferenças entre o Zoneamento Discreto<br />
e Modelagem (Caso 1)<br />
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000<br />
Diferenças em metros<br />
Figura 71 - Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método empregado<br />
(utilizando o NR da estação de referência como datum vertical). A linha verde envolve o trecho<br />
sondado.<br />
3<br />
2.8<br />
2.6<br />
2.4<br />
2.2<br />
2<br />
1.8<br />
1.6<br />
1.4<br />
1.2<br />
1<br />
0.8<br />
0.6<br />
0.4<br />
0.2<br />
0<br />
-0.2<br />
-0.4<br />
-0.6<br />
-0.8<br />
-1<br />
-1.2<br />
-1.4<br />
-1.6<br />
115
452000<br />
450000<br />
448000<br />
446000<br />
444000<br />
442000<br />
440000<br />
438000<br />
436000<br />
Diferenças entre o Zoneamento Discreto<br />
e Modelagem (Caso 2)<br />
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000<br />
Diferenças em metros<br />
Figura 72 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método empregado<br />
(utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente). A linha verde envolve o trecho<br />
sondado.<br />
3<br />
2.8<br />
2.6<br />
2.4<br />
2.2<br />
2<br />
1.8<br />
1.6<br />
1.4<br />
1.2<br />
1<br />
0.8<br />
0.6<br />
0.4<br />
0.2<br />
0<br />
-0.2<br />
-0.4<br />
-0.6<br />
-0.8<br />
-1<br />
-1.2<br />
-1.4<br />
-1.6<br />
116
452000<br />
450000<br />
448000<br />
446000<br />
444000<br />
442000<br />
440000<br />
438000<br />
436000<br />
Diferenças entre o Zoneamento Discreto<br />
e Modelagem (Caso 3)<br />
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000<br />
Diferenças em metros<br />
Figura 73 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método empregado<br />
(utilizando o LAT como datum vertical, variado espacialmente). A linha verde envolve o trecho<br />
sondado.<br />
3<br />
2.8<br />
2.6<br />
2.4<br />
2.2<br />
2<br />
1.8<br />
1.6<br />
1.4<br />
1.2<br />
1<br />
0.8<br />
0.6<br />
0.4<br />
0.2<br />
0<br />
-0.2<br />
-0.4<br />
-0.6<br />
-0.8<br />
-1<br />
-1.2<br />
-1.4<br />
-1.6<br />
117
452000<br />
450000<br />
448000<br />
446000<br />
444000<br />
442000<br />
440000<br />
438000<br />
436000<br />
Diferenças entre o Zoneamento Discreto<br />
e Modelagem (Caso 4)<br />
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000<br />
Diferenças em metros<br />
Figura 74 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método empregado<br />
(utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente e NM uniforme e variável). A linha<br />
verde envolve o trecho sondado.<br />
3<br />
2.8<br />
2.6<br />
2.4<br />
2.2<br />
2<br />
1.8<br />
1.6<br />
1.4<br />
1.2<br />
1<br />
0.8<br />
0.6<br />
0.4<br />
0.2<br />
0<br />
-0.2<br />
-0.4<br />
-0.6<br />
-0.8<br />
-1<br />
-1.2<br />
-1.4<br />
-1.6<br />
-1.8<br />
-2<br />
118
452000<br />
450000<br />
448000<br />
446000<br />
444000<br />
442000<br />
440000<br />
438000<br />
436000<br />
Diferenças entre o Zoneamento Discreto<br />
e Modelagem (Caso 5)<br />
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000<br />
Diferenças em metros<br />
Figura 75 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método empregado<br />
(utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente e NM variado). A linha verde<br />
envolve o trecho sondado.<br />
3<br />
2.8<br />
2.6<br />
2.4<br />
2.2<br />
2<br />
1.8<br />
1.6<br />
1.4<br />
1.2<br />
1<br />
0.8<br />
0.6<br />
0.4<br />
0.2<br />
0<br />
-0.2<br />
-0.4<br />
-0.6<br />
-0.8<br />
-1<br />
-1.2<br />
-1.4<br />
-1.6<br />
-1.8<br />
-2<br />
119
452000<br />
450000<br />
448000<br />
446000<br />
444000<br />
442000<br />
440000<br />
438000<br />
436000<br />
Diferenças entre o Zoneamento Discreto<br />
e Modelagem (Caso 6)<br />
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000<br />
Diferenças em metros<br />
Figura 76 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método empregado<br />
(utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente e NM variado e variável). A linha<br />
verde envolve o trecho sondado.<br />
Os mapas de diferenças, contrapondo as correções advindas do modelo às correções<br />
pelo método das subáreas de redução, mostram nitidamente o problema de se<br />
empregar a discretização espacial na redução dos dados brutos de batimetria. Esse<br />
método gera um padrão listrado de áreas com diferenças tanto positivas quanto<br />
negativas. Os “degraus” encontrados se correlacionam espacialmente com os limites<br />
das subáreas conforme pode ser verificado na Figura 77. Pode-se deduzir que o<br />
método do zoneamento discreto implica em incertezas que ora podem colocar em<br />
risco a navegação, ora podem criar uma situação de excessiva precaução, dependendo<br />
da subárea de redução em que estiver trafegando a embarcação.<br />
3.2<br />
3<br />
2.8<br />
2.6<br />
2.4<br />
2.2<br />
2<br />
1.8<br />
1.6<br />
1.4<br />
1.2<br />
1<br />
0.8<br />
0.6<br />
0.4<br />
0.2<br />
0<br />
-0.2<br />
-0.4<br />
-0.6<br />
-0.8<br />
-1<br />
-1.2<br />
-1.4<br />
120
520000<br />
500000<br />
480000<br />
460000<br />
440000<br />
700000 720000 740000 760000 780000 800000 820000<br />
Figura 77 – Mapa das diferenças com a sobreposição dos limites das subáreas de redução.<br />
Os resultados dos casos 2 e 3 são os mais similares, já que o trecho sondado<br />
corresponde a uma região onde o LAT e o NR são praticamente coincidentes. Em<br />
função da referência vertical empregada não ser relevante na área do LH, os casos 4, 5<br />
e 6 foram testados apenas para o NR.<br />
A variação entre dois casos é ilustrada na Figura 78, onde são representadas as<br />
diferenças encontradas entre os Casos 1 e 2, NR variado e NR uniforme (proveniente<br />
da estação de referência). Observa-se que a distribuição espacial das diferenças é bem<br />
mais suave (sem os degraus), com valores de, no máximo, 30 centímetros. Conforme<br />
pode ser verificado na Tabela 10, esta incerteza encontrada é muito menos<br />
significativa do que aquelas observadas na comparação entre casos 1 ao 6 com o<br />
método do zoneamento discreto. Porém, cabe salientar novamente que na área total de<br />
redução são esperadas variações maiores.<br />
121
452000<br />
450000<br />
448000<br />
446000<br />
444000<br />
442000<br />
440000<br />
438000<br />
436000<br />
Diferenças entre a redução feita com a modelagem numérica<br />
NR variado x NR uniforme<br />
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000<br />
Diferenças em metros<br />
Figura 78 – Diferenças na profundidade reduzida pela modelagem hidrodinâmica entre os casos<br />
1 e 2, NR uniforme (est. de referência) em contraposição ao NR variado. A linha verde envolve o<br />
trecho sondado.<br />
Tabela 10 – Resultados da comparação entre a aplicação do datum vertical variado e o datum<br />
vertical uniforme utilizando a mesma metodologia.<br />
Método da<br />
Modelagem<br />
NR uniforme<br />
x<br />
NR variado<br />
Intervalo de<br />
variação das Diferenças<br />
(m)<br />
0,5044<br />
0.22<br />
0.2<br />
0.18<br />
0.16<br />
0.14<br />
0.12<br />
0.1<br />
0.08<br />
0.06<br />
0.04<br />
0.02<br />
0<br />
-0.02<br />
-0.04<br />
-0.06<br />
-0.08<br />
-0.1<br />
-0.12<br />
-0.14<br />
-0.16<br />
-0.18<br />
-0.2<br />
-0.22<br />
-0.24<br />
-0.26<br />
-0.28<br />
-0.3<br />
Diferença<br />
Máxima<br />
(m)<br />
0,22<br />
Diferença<br />
Mínima<br />
(m)<br />
-0,28<br />
MAE<br />
(m)<br />
Na Figura 79 e na Figura 80 são apresentados, a título de ilustração, mapas de<br />
batimetrias reduzidas, construídos com o aplicativo Geosoft (www.geosoft.com). Os<br />
exemplos correspondem à redução feita com o método do zoneamento discreto e com<br />
a modelagem numérica (caso 4).<br />
0,13<br />
122
Figura 79 – Mapa de batimetrias reduzidas realizadas no LH de 2006 (zoneamento discreto).<br />
123
Figura 80 – Mapa de batimetrias reduzidas realizadas com a modelagem numérica (caso 4).<br />
6.6. Previsão dos níveis<br />
Como foi verificado no item 6.1, o modelo hidrodinâmico implementado ao longo do<br />
desenvolvimento deste trabalho consiste, por si só, em uma ferramenta para a efetiva<br />
previsão de níveis. Os resultados fornecidos pelos modelos também podem ser<br />
explorados indiretamente para a geração de diversos produtos voltados para a<br />
navegação na Barra Norte, e um exemplo de aplicação é a obtenção de constantes<br />
harmônicas específicas para determinados pontos ao longo de todo o canal de<br />
navegação.<br />
124
Atualmente na região da Barra Norte, o CHM divulga previsões harmônicas (Tábuas<br />
das Marés) apenas para a estação Ponta do Céu. Além disso, publica uma nota na<br />
carta 200 “Da Ilha de Maracá à Ilha do Machadinho”, com a explicação de um<br />
método expedito para a previsão de maré para um único ponto denominado “estação<br />
H”, a partir de informações provenientes de Ponta do Céu (Figura 81 e Figura 82). Os<br />
fatores de correção em fase e amplitude empregados na previsão de Ponta do Céu e<br />
apresentados na nota foram calculados a partir dos dados dos fundeios de 1999,<br />
também utilizados no estudo de DE PAULA (1999).<br />
Figura 81 – Extrato da carta náutica 200 contendo nota sobre a “Estação H”.<br />
Com o resultado do modelo, foi possível obter séries de elevações dos nós 3901,<br />
3960, 3900 e 3959, mais próximos a este ponto, e realizar uma interpolação linear<br />
para as coordenadas do PONTO H. A Figura 83 mostra o resultado desta interpolação.<br />
A série interpolada foi analisada pelo método harmônico para a posterior previsão (as<br />
constantes harmônicas estão listadas no Apêndice B).<br />
125
800000<br />
600000<br />
400000<br />
200000<br />
0<br />
Localização das Estações<br />
e do Ponto H<br />
Macapá<br />
Santana<br />
Canivete<br />
Barra Norte<br />
Penrod<br />
Santa Maria do Cocal<br />
Ilha de Maracá<br />
Guará<br />
Oceano<br />
Atlântico<br />
[0,0] = UTM [588952.99 , 9668415.69]<br />
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000<br />
Afuá<br />
Chaves<br />
PONTO H<br />
Vila Nazaré<br />
Machadinho<br />
Maguari<br />
Figura 82 – Mapa de localização das estações e do Ponto H.<br />
níveis (m) em relação ao zero do modelo<br />
2.5<br />
2<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
-1.5<br />
Valores interpolados para o PONTO H<br />
-2<br />
2/9/05 0:00 2/9/05 2:24 2/9/05 4:48 2/9/05 7:12 2/9/05 9:36 2/9/05 12:00 2/9/05 14:24 2/9/05 16:48 2/9/05 19:12 2/9/05 21:36<br />
Data-Hora<br />
3/9/05 0:00<br />
NÓ 3901 NÓ 3960 NÓ 3900 NÓ 3959 PONTO H<br />
Figura 83 – Valores interpolados para o Ponto H (exemplo de 1 dia).<br />
Com base nas constantes calculadas foi realizada uma previsão de maré para o ponto<br />
H e, no mesmo período, obtidos os valores de preamares e baixa-mares de acordo com<br />
o método expedito descrito na carta náutica (Figura 82). A comparação é mostrada na<br />
Figura 84. Nesse período simulado observam-se diferenças da ordem de 17 cm.<br />
126
Essa aplicação comprova o potencial do modelo para a criação de produtos de auxílio<br />
à navegação ao longo do Canal da Barra Norte. As constantes poderiam subsidiar o<br />
desenvolvimento de tábuas digitais direcionadas para os pontos mais sensíveis,<br />
facilitariam a atualização das notas das cartas náuticas impressas, tornando as<br />
informações mais fidedignas, contribuiriam para a geração de elementos para a carta<br />
eletrônica, entre outras inovações.<br />
ELEVAÇÕES (m) referidas ao zero do modelo<br />
2.5<br />
2<br />
1.5<br />
1<br />
0.5<br />
0<br />
-0.5<br />
-1<br />
-1.5<br />
-2<br />
-2.5<br />
3/3/06 0:00<br />
4/3/06 0:00<br />
5/3/06 0:00<br />
PREVISÕES DE NÍVEL PARA O PONTO H<br />
6/3/06 0:00<br />
DATA-HORA<br />
7/3/06 0:00<br />
Previsão Harmônica método da carta<br />
Figura 84 – Gráfico apresentando as previsões realizadas para o PONTO H com o modelo<br />
hidrodinâmico e com o método harmônico (a partir das constantes geradas com o modelo), além<br />
dos valores de preamares e baixa-mares calculados conforme instrução da carta náutica.<br />
8/3/06 0:00<br />
9/3/06 0:00<br />
10/3/06 0:00<br />
127
7. Conclusões e Recomendações<br />
Capítulo 7<br />
Tendo em vista os resultados alcançados, pode-se concluir que a validação de uma<br />
metodologia que emprega modelos hidrodinâmicos costeiros para a atividade<br />
hidrográfica foi um objetivo alcançado neste trabalho.<br />
Por outro lado, para a operacionalização da metodologia no âmbito do CHM, um<br />
aspecto fundamental que deverá ser empreendido como continuação a este trabalho é<br />
a validação do modelo hidrodinâmico. Nesse contexto, o estuário do Amazonas deve<br />
ser considerado um ambiente de características bastante especiais em termos de escala<br />
espacial, dinâmica de marés, vazão fluvial, dinâmica sedimentar, que tornam o<br />
processo de calibração e validação do modelo um fator complicador. As dificuldades<br />
devem-se principalmente à carência de dados e ao desconhecimento de alguns<br />
processos físicos atuantes naquela região. A calibração preliminarmente realizada<br />
neste estudo procurou dar um grau de confiabilidade aos resultados, de forma a<br />
legitimar a metodologia especificamente na área de redução de sondagens do Canal da<br />
Barra Norte. No entanto, em termos de calibração do modelo são feitas as seguintes<br />
recomendações para os próximos trabalhos:<br />
- considerar os efeitos de alagamento e secamento nas margens dos canais, em<br />
áreas de planícies de maré;<br />
- realizar testes de sensibilidade considerando a rugosidade equivalente de<br />
fundo;<br />
- ampliar a rede de observação maregráfica na região, de modo a garantir pelo<br />
menos um ano de observação nas estações maregráficas mais importantes e em pontos<br />
situados ao longo do Canal Grande do Curuá. O ideal seria realizar medições<br />
permanentes, uma vez que a maré é fortemente condicionada pela vazão fluvial;<br />
128
- realizar levantamentos batimétricos sistemáticos em todo o trecho do canal,<br />
preferencialmente com o ecobatímetro multi-feixe;<br />
- efetuar medições de correntes a fim de tornar possível a investigação dos<br />
padrões de circulação na região;<br />
- avaliar as constantes do FES 2004 divulgadas para a região, principalmente<br />
aquelas referentes à componente M4 e confrontá-las a outras bases de dados<br />
eventualmente disponíveis.<br />
Nos próximos trabalhos de modelagem hidrodinâmica na região recomenda-se<br />
incorporar ao modelo o campo de ventos e simular efeitos baroclínicos.<br />
O modelo hidrodinâmico se mostrou particularmente sensível à batimetria, sendo que<br />
no teste de sensibilidade empreendido houve pouca variação nos resultados, em<br />
função do período analisado (cheia e estiagem). Os níveis gerados com alterações na<br />
batimetria da ordem de -20% foram os que melhor se correlacionaram aos dados<br />
observados na estação Barra Norte em termos de altura e assimetria de maré; a fase da<br />
onda de maré não foi afetada pelos testes. Ao longo do canal, área efetivamente<br />
investigada no que se refere à redução de sondagens, o teste se mostrou menos<br />
expressivo. Especificamente para a aplicação proposta neste trabalho, a batimetria<br />
pode vir a ser tratada como mais um fator de calibração do modelo, face à necessidade<br />
de se estabelecer precisamente os níveis a serem usados no mapeamento dos campos<br />
de LAT e NR e na redução de sondagens e principalmente em virtude da inexistência<br />
de dados de batimetria atuais que recubram a área do domínio em toda a sua extensão.<br />
Após o ajuste da condição de contorno oceânica, as defasagens encontradas entre as<br />
séries temporais de elevação modeladas e observadas na estação Barra Norte foram de<br />
6 minutos. Em alturas foram encontradas diferenças de, em média, 23 cm. As<br />
flutuações diárias de nível médio observadas em dados medidos foram consideráveis<br />
nos dois anos avaliados (da ordem de 30 cm). Após a filtragem das oscilações de<br />
baixa freqüência nos dados observados, as diferenças em alturas passaram para<br />
aproximadamente 16 cm, o que corresponde a 4% de incerteza em relação às alturas<br />
de maré de 4 metros típicas do local. Os dados coletados nos pontos de fundeio ao<br />
129
longo do canal acompanharam de forma bastante consistente o comportamento dos<br />
níveis simulados com o modelo.<br />
Neste trabalho foi possível confirmar o potencial da modelagem hidrodinâmica na<br />
previsão de níveis. A abrangência espacial alcançada pelo modelo é o maior<br />
diferencial em relação à previsão harmônica atualmente divulgada para região. A<br />
acurácia alcançada com o modelo foi similar àquela obtida com a previsão, quando<br />
feitas comparações aos dados observados. Nesse caso, a previsão pode ser realizada<br />
tanto a partir dos resultados do modelo propriamente dito, quanto indiretamente<br />
através do emprego do conjunto de constantes harmônicas gerado nos pontos onde o<br />
modelo foi calibrado. Essa aplicação é bem promissora para a confecção de produtos<br />
de auxílio à navegação, como cartas de corrente de maré, tábuas das marés digitais,<br />
notas em cartas eletrônicas, entre outros.<br />
Em função dos resultados obtidos, pode-se concluir que a modelagem hidrodinâmica<br />
se mostrou uma ferramenta útil na determinação de níveis de referência para a carta<br />
náutica, capaz de reproduzir a variabilidade espacial destes data ao longo de todo o<br />
trecho investigado, reduzindo as incertezas decorrentes da extrapolação espacial dos<br />
planos de referência de estações maregráficas costeiras.<br />
Dentre os data avaliados, o LAT foi o que se mostrou mais interessante para as<br />
aplicações relacionadas à segurança da navegação, por representar efetivamente o<br />
nível das mais baixas baixa-mares, corroborando as recomendações da IHO. Isso se<br />
dá porque, ao contrário do NR, o cálculo do LAT é realizado de forma a levar em<br />
consideração todo o conjunto de componentes harmônicas do local, inclusive as<br />
constituintes de águas rasas (e.g. Msf e M4) que assumem grande importância em<br />
sistemas estuarinos.<br />
É necessário que o nível de confiabilidade dos resultados do modelo seja futuramente<br />
aferido, com medições de séries de nível em alguns pontos do Canal Norte<br />
correspondentes a nós de cálculo da malha de elementos finitos empregada neste<br />
estudo. As observações podem ser eventualmente realizadas com bóias RTG. Os<br />
130
dados de variação de nível utilizados neste trabalho, obtidos com o ecobatímetro,<br />
apresentam grandes limitações e considerável imprecisão.<br />
Uma das recomendações da IHO quanto à questão do referenciamento da carta<br />
náutica prevê que, caso o LAT não seja empregado diretamente nas reduções<br />
batimétricas, ao menos as diferenças entre o datum vertical nacional (NR) e o LAT<br />
sejam especificadas na carta. Na região de interesse para este trabalho, dominada por<br />
processos não-lineares que contribuem para geração de harmônicos de água rasa, as<br />
diferenças entre LAT e NR encontradas não apresentaram um padrão de variação<br />
espacial uniforme que permitisse o cumprimento da deliberação nos termos propostos.<br />
A alternativa, após o definitivo estabelecimento do datum, será migrar efetivamente a<br />
referência da carta do NR ao LAT, de modo a gerar novos valores de profundidade e<br />
novos traçados das isobatimétricas.<br />
A redução de sondagens realizada com auxílio do modelo hidrodinâmico apresentou<br />
resultados consistentes com o trabalho anterior de FERNANDES (2006). Nos casos<br />
investigados as diferenças encontradas entre a metodologia de zoneamento discreto de<br />
marés (subáreas de redução) e a modelagem foram, em termos absolutos, de 1,3 m em<br />
média. Diferenças de até ± 2,5 metros foram encontradas produzindo incertezas muito<br />
altas em uma região reputada crítica à navegação. A área pesquisada situa-se<br />
relativamente próxima à estação maregráfica de referência e corresponde a um trecho<br />
proporcionalmente pequeno quando comparado a toda região onde são realizados os<br />
levantamentos hidrográficos. Espera-se que as incertezas atribuídas à redução de<br />
sondagens ao longo do canal possam ser ainda maiores à medida que se distancia da<br />
estação maregráfica.<br />
A metodologia pressupõe que sejam efetuados registros de maré concomitantes à<br />
sondagem batimétrica, a fim de aplicar as variações de nível médio observadas na<br />
estação maregráfica às séries simuladas a serem usadas na correção das sondagens.<br />
Esta limitação do método somente poderá ser resolvida com o emprego de<br />
levantamentos com GPS diferencial preciso, que permite o referenciamento do NM e<br />
dos data verticais diretamente ao elipsóide do sistema WGS-84.<br />
131
Quanto à redução das batimetrias, o padrão de distribuição espacial das diferenças<br />
encontradas entre as metodologias testadas (em desníveis) sugere uma correlação com<br />
os limites das subáreas de redução, o que deverá ser confirmado em estudos<br />
subseqüentes.<br />
Os resultados encontrados no dado batimétrico reduzido mostraram que nesta pequena<br />
área é indiferente adotar o LAT ou NR como nível de referência vertical da carta. O<br />
mesmo não pode ser inferido para as áreas situadas ao largo do canal ou a montante<br />
do estuário.<br />
132
8. Referências Bibliográficas<br />
Capítulo 8<br />
ABBOT, M.B., BASCO, R., 1989, Computational Fluid Mechanics, An<br />
Introduction for Engineering, Longman Group, UK Limited.<br />
ALDAMA, A., 1985, Theory and applications of two- and three-scale filtering<br />
approaches for turbulent flow simulation. Ph.D Thesis, Dept. Civil Engineering,<br />
Massachusetts Institute of Technology, Massachusetts, USA.<br />
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139
APÊNDICES<br />
Apêndice A<br />
Formulações matemáticas dos modelos adotados<br />
A mecânica do movimento para escoamento em regime turbulento é governada pelas<br />
equações de Navier-Stokes. Essas equações representam o princípio da conservação<br />
da quantidade de movimento e, em conjunto com uma equação de estado, uma<br />
equação de transporte para cada constituinte da equação de estado e a equação da<br />
continuidade que representa a condição de escoamento incompressível, compõem o<br />
modelo matemático fundamental para qualquer corpo d’água (ROSMAN, 2008).<br />
Nos modelos adotados neste trabalho, é admitida a aproximação de Boussinesq, em<br />
que se assume uma densidade constante para todo o domínio (ρ0). Neste caso a<br />
equação de estado e as equações de transporte de cada constituinte não se aplicam.<br />
Essa aproximação pode ser feita se considerarmos que o estuário do rio Amazonas é<br />
bem misturado e não apresenta estratificação. Evidentemente, este não é o caso da<br />
região de estudo, em função da intrusão salina e das camadas de lama fluida próxima<br />
ao fundo, porém esta simplificação é válida uma vez que o interesse deste trabalho<br />
está voltado para as variações de nível. Em outras palavras, o trabalho está focado<br />
apenas nas forçantes barotrópicas do sistema. Também é assumida nas equações<br />
governantes do movimento a aproximação hidrostática, o qual passa a ser considerado<br />
como um escoamento de águas rasas, onde as escalas dos movimentos horizontais<br />
são, no mínimo, vinte vezes maiores do que a profundidade.<br />
A Figura 85 ilustra o sistema de coordenadas adotado pelos modelos.<br />
140
Z<br />
xi<br />
Figura 85– Sistema de coordenadas do sistema de modelagem 2DH. No caso 2DH, Ui representa a<br />
velocidade promediada na vertical. As coordenadas e velocidades horizontais são representadas<br />
como (x, y) = (x1, x2) e (u, v) = (u1, u2) utilizando o índice i = 1,2 (ROSMAN, 2008).<br />
As três equações necessárias para calcular as três incógnitas da circulação<br />
hidrodinâmica (U, V, ζ), no módulo 2DH (escoamento promediado em z), são<br />
resumidas abaixo:<br />
ui<br />
Ui<br />
Z=ζ<br />
H<br />
Z=-h<br />
Equação de quantidade de movimento 2DH para um escoamento integrado na<br />
vertical, na direção x:<br />
∂U<br />
∂U<br />
∂U<br />
∂ζ<br />
1 ⎛ ∂Hτ<br />
∂Hτ<br />
xy ⎞<br />
xx 1 S B<br />
+ U + V = −g<br />
+<br />
+ τ x −τ<br />
x + ΦsenθV<br />
t x y x ρ H<br />
⎜ +<br />
x y<br />
⎟ ( ) 2<br />
∂ ∂ ∂ ∂ 0 ⎝ ∂ ∂ ⎠ ρ0<br />
H<br />
Equação de quantidade de movimento 2DH para um escoamento integrado na<br />
vertical, na direção y:<br />
∂V<br />
∂V<br />
∂V<br />
∂ζ<br />
1 ⎛ ∂Hτ<br />
xy ∂Hτ<br />
yy ⎞ 1 S B<br />
+ U + V = −g<br />
+ ⎜<br />
⎟ + τ y − τ y − ΦsenθU<br />
t x y y ρ H ⎜<br />
+<br />
∂ ∂<br />
x y ⎟<br />
( ) 2<br />
∂ ∂<br />
0 ⎝ ∂ ∂ ⎠ ρ 0 H<br />
(2)<br />
(1)<br />
141
Equação da continuidade (do volume) integrada ao longo da vertical:<br />
∂ζ<br />
∂UH<br />
∂VH<br />
+ + = 0<br />
∂t<br />
∂x<br />
∂y<br />
Onde:<br />
x e y são as direções principais, longitudinal e transversal, respectivamente,<br />
U e V são as componentes das velocidades nas direções x e y,<br />
ζ é a elevação acima de um nível de referência,<br />
H é altura instantânea da coluna d’água H=ζ + h<br />
g é a aceleração da gravidade<br />
ρ 0 é uma massa específica de referência,<br />
τ xx e τ yy são as tensões turbulentas médias na vertical,<br />
B B<br />
τ x e τ y são as tensões de atrito no fundo nas direções x e y,<br />
S S<br />
τ x e τ y são as tensões de atrito na superfície nas direções x e y,<br />
Φ é a velocidade angular de rotação da Terra no sistema de coordenadas local, e<br />
θ é o ângulo de latitude.<br />
A seguir, utilizando a equação de quantidade de movimento na direção x como<br />
exemplo, o significado de cada termo das equações (1) e (3) é apresentado.<br />
Analogamente, pode-se chegar ao significado dos termos semelhantes na equação da<br />
quantidade de movimento na direção y, equação (2).<br />
(3)<br />
142
Equação (1)<br />
∂U<br />
∂t<br />
∂U<br />
∂U<br />
U + V<br />
∂x<br />
∂y<br />
∂ζ<br />
− g<br />
∂x<br />
ρ 0<br />
1 ⎛ ∂Hτ<br />
⎜<br />
H ⎝ ∂x<br />
xx<br />
∂Hτ<br />
xy ⎞<br />
+ ⎟<br />
∂y<br />
⎠<br />
Representa a aceleração local do escoamento, ou seja, em uma<br />
dada posição, a taxa de variação temporal do fluxo de quantidade<br />
de movimento 2DH por unidade de massa. Em escoamentos<br />
permanentes, esse termo é nulo.<br />
Representam a aceleração advectiva do escoamento, ou seja, em<br />
um determinado instante, esses termos representam a taxa de<br />
variação espacial do fluxo de quantidade de movimento 2DH na<br />
direção x por unidade de massa. Em escoamentos uniformes,<br />
esses termos são nulos.<br />
Representa a pressão hidrostática resultante na direção x<br />
(gradiente de pressão), devido à declividade da superfície d’água<br />
na direção x. Conforme indicado pelo sinal negativo, o<br />
escoamento flui dos níveis mais altos para os níveis mais baixos.<br />
Representam a resultante das tensões dinâmicas turbulentas 2DH<br />
no escoamento. São esses termos, por exemplo, os responsáveis<br />
pela geração de vórtices horizontais em zonas de recirculação.<br />
2 ΦsenθV<br />
Representa a força de Coriolis devido ao fato do referencial estar<br />
se movimentando na superfície da Terra.<br />
1 S<br />
( x )<br />
H τ<br />
ρ<br />
0<br />
1 B<br />
( x )<br />
H τ −<br />
ρ<br />
0<br />
Equação (3)<br />
∂ (ζ + h)<br />
∂UH<br />
∂VH<br />
= − −<br />
∂t<br />
∂x<br />
∂y<br />
Representa a tensão do vento na superfície livre por unidade de<br />
massa. Se o vento estiver no mesmo sentido do escoamento, esse<br />
termo irá acelerar o escoamento; se estiver em sentido oposto, irá<br />
retardar o escoamento.<br />
Representa a tensão de atrito no fundo atuante no escoamento por<br />
unidade de massa. Conforme indicado pelo sinal negativo, esse<br />
termo sempre atuará no sentido de desacelerar o escoamento.<br />
A altura da coluna d’água (ζ+h) varia no tempo como resultado<br />
dos fluxos efetivos através da coluna d’água nas direções x e y<br />
∂HU<br />
∂HV<br />
respectivamente, ∂x<br />
e ∂y<br />
.<br />
143
A tensão de atrito na superfície livre devido ao vento é escrita em termos de uma<br />
formulação de velocidade quadrática:<br />
S<br />
τ i<br />
2<br />
= ρarCDW10<br />
cosφi<br />
;<br />
[i=1,2] 17 (4)<br />
Onde: ρar é a densidade do ar, CD é o coeficiente de arraste do vento, W10 é o valor<br />
local da velocidade do vento medida a 10 metros acima da superfície livre, e φi é o<br />
ângulo entre o vetor de velocidade do vento local e a direção xi. O coeficiente de<br />
arraste do vento, CD, pode ser determinado a partir de uma série de fórmulas<br />
empíricas.<br />
A fórmula adotada nos modelos do SisBaHiA® é a apresentada por (WU, 1982 apud<br />
ROSMAN, 2008):<br />
−3<br />
CD = ( 0.<br />
8 + 0.<br />
065W10)<br />
× 10<br />
;<br />
[W10 em m/s] (5)<br />
Neste trabalho, a tensão de atrito na superfície livre devido ao vento não foi<br />
considerada.<br />
No módulo 2DH do SisBaHiA®, a tensão de atrito no fundo é calculada através da<br />
seguinte expressão:<br />
B<br />
τ i = ρ0<br />
βU<br />
i<br />
[i=1,2] (6)<br />
onde o parâmetro β depende da forma com que o módulo 2DH é empregado,<br />
conforme descrito a seguir:<br />
17 i=1 representa a componente x e i=2 a componente y<br />
144
Módulo 2DH desacoplado (caso deste estudo): se apenas o módulo 2DH estiver sendo<br />
utilizado, ou seja, se o módulo 2DH não for acoplado com o módulo 3D, a lei<br />
quadrática usual é empregada e tem-se:<br />
β =<br />
g<br />
C<br />
2<br />
h<br />
U<br />
2<br />
+ V<br />
2<br />
Módulo 2DH acoplado: Se o módulo 2DH for acoplado ao módulo 3D, o parâmetro β<br />
passa a depender da velocidade de atrito característica u*, que é função do perfil de<br />
velocidade 3D. Nesse caso, tem-se:<br />
β =<br />
C<br />
g<br />
h<br />
u*<br />
Em ambos os casos, Ch é o coeficiente de Chézy, definido como:<br />
C h<br />
⎛ 6H<br />
⎞<br />
= 18log10⎜ ⎟<br />
⎝ ε ⎠<br />
Os valores de rugosidade equivalente do fundo (ε) estão de acordo com os valores<br />
recomendados por ABBOT e BASCO (1989), adaptados por ROSMAN (2008) e são<br />
apresentados na Tabela 11.<br />
(7)<br />
(8)<br />
(9)<br />
145
Tabela 11 – Valores para a rugosidade equivalente de fundo (ε), segundo o tipo de sedimento.<br />
Terreno ou Leito de Terra<br />
Leito com transporte de sedimentos 0,0070m < ε < 0,0500m<br />
Fundo de pedra ou rochoso<br />
Fundo de Concreto<br />
Leito com vegetação 0,0050m < ε < 0,1500m<br />
Leito com obstáculos 0,1500m < ε < 0,4000m<br />
Fundo de alvenaria 0,0003m < ε < 0,0010m<br />
Fundo de pedra lisa 0,0010m < ε < 0,0030m<br />
Fundo de asfalto 0,0030m < ε < 0,0070m<br />
Fundo com pedregulho 0,0070m < ε < 0,0150m<br />
Fundo com pedras médias 0,0150m < ε < 0,0400m<br />
Fundo com pedras 0,0400m < ε < 0,1000m<br />
Fundo com rochas 0,1000m < ε < 0,2000m<br />
Fundo de concreto liso 0,0001m < ε < 0,0005m<br />
Fundo de concreto inacabado 0,0005m < ε < 0,0030m<br />
Fundo de concreto inacabado 0,0030m < ε < 0,0100m<br />
146
Apêndice B<br />
Tabelas de Constantes Harmônicas<br />
utilizadas (fonte: BNDO)<br />
Plataforma Penrod<br />
Componente Amplitude (cm) Fase (°)<br />
MM 46.8 155.0<br />
MSF 44.0 204.0<br />
K1 10.1 211.0<br />
O1 7.8 180.0<br />
P1 3.3 211.0<br />
Q1 1.1 166.0<br />
J1 1.4 198.0<br />
M1 1.5 185.0<br />
OO1 2.0 138.0<br />
SIGMA1 0.2 152.0<br />
PI1 0.2 211.0<br />
2Q1 0.2 152.0<br />
FI1 0.1 211.0<br />
PSI1 0.1 211.0<br />
M2 85.1 164.0<br />
S2 21.7 168.0<br />
N2 20.1 171.0<br />
K2 5.9 168.0<br />
NU2 3.9 171.0<br />
MU2 1.4 219.0<br />
L2 9.8 221.0<br />
T2 1.3 168.0<br />
2N2 2.7 177.0<br />
M3 1.0 133.0<br />
2SM2 2.8 82.0<br />
MK3 2.1 142.0<br />
MO3 1.1 77.0<br />
M4 5.7 189.0<br />
MS4 3.2 236.0<br />
MN4 2.7 148.0<br />
SN4 3.4 317.0<br />
M6 1.5 191.0<br />
2MS6 1.2 217.0<br />
2MN6 1.0 80.0<br />
2SM6 0.6 72.0<br />
MSN6 1.5 262.0<br />
Santa Maria do Cocal<br />
Componente Amplitude (cm) Fase (°)<br />
MM 6.8 229.7<br />
MSF 10.2 274.0<br />
K1 13.1 247.7<br />
O1 9.4 214.6<br />
P1 4.3 247.7<br />
Q1 2.0 210.7<br />
J1 1.9 348.4<br />
M1 1.3 301.1<br />
OO1 2.0 125.4<br />
SIGMA1 0.3 206.7<br />
PI1 0.2 247.7<br />
2Q1 0.2 206.7<br />
FI1 0.2 247.7<br />
PSI1 0.1 247.7<br />
M2 270.4 213.8<br />
S2 68.0 260.8<br />
N2 43.1 197.1<br />
K2 18.5 260.8<br />
NU2 8.4 197.1<br />
MU2 13.0 350.7<br />
L2 19.6 211.4<br />
T2 4.0 260.8<br />
2N2 5.7 180.4<br />
M3 5.3 322.0<br />
2SM2 4.0 31.2<br />
MK3 2.9 4.2<br />
MO3 6.3 22.3<br />
M4 37.6 331.3<br />
MS4 16.9 44.0<br />
MN4 9.8 299.5<br />
SN4 7.6 103.5<br />
M6 9.6 1.8<br />
2MS6 5.3 29.3<br />
2MN6 5.8 327.3<br />
2SM6 11.4 278.5<br />
MSN6 3.4 140.1<br />
147
Igarapé do Inferno (Ilha de Maracá)<br />
Componente Amplitude (cm) Fase (°)<br />
MM 10.5 239.5<br />
MSF 8.4 324.2<br />
Q1 7.0 209.4<br />
O1 17.2 218.8<br />
K1 16.4 235.0<br />
J1 4.3 284.9<br />
MU2 28.6 332.3<br />
N2 61.8 227.6<br />
M2 351.7 227.8<br />
L2 47.7 227.5<br />
S2 96.9 281.7<br />
MSN2 11.7 119.2<br />
2SM2 16.3 300.3<br />
2SN2 6.3 355.0<br />
MO3 7.5 52.6<br />
MK3 4.7 46.1<br />
MN4 35.4 23.1<br />
M4 80.4 15.6<br />
SN4 55.4 32.4<br />
MS4 86.0 83.9<br />
SL4 3.7 177.3<br />
2MN6 13.8 144.0<br />
M6 27.3 137.0<br />
MSN6 31.8 165.0<br />
2MS6 30.2 202.6<br />
2SM6 26.1 36.7<br />
3SM8 3.2 141.9<br />
S8 6.5 6.2<br />
2Q1 0.4 202.8<br />
SIGMA1 0.5 203.9<br />
RO1 1.3 210.7<br />
PI1 0.3 233.1<br />
P1 5.4 233.7<br />
PSI1 0.1 235.5<br />
FI1 0.2 236.2<br />
TETA1 0.8 155.6<br />
2N2 8.2 227.4<br />
NU2 11.7 227.6<br />
LAMBD2 2.5 252.8<br />
T2 5.7 279.5<br />
R2 0.8 283.8<br />
K2 26.4 286.0<br />
Ponta Guará<br />
Componente Amplitude (cm) Fase (°)<br />
MM 30.7 297.0<br />
MSF 48.8 28.0<br />
K1 10.4 272.0<br />
O1 6.3 251.0<br />
P1 3.4 272.0<br />
Q1 3.3 205.0<br />
J1 2.1 341.0<br />
M1 1.3 330.0<br />
OO1 1.9 132.0<br />
SIGMA1 0.2 159.0<br />
PI1 0.2 272.0<br />
2Q1 0.2 159.0<br />
FI1 0.1 272.0<br />
PSI1 0.1 272.0<br />
M2 152.7 315.0<br />
S2 40.1 354.0<br />
N2 36.6 292.0<br />
K2 10.9 354.0<br />
NU2 7.1 292.0<br />
MU2 11.4 189.0<br />
L2 6.3 306.0<br />
T2 2.4 354.0<br />
2N2 4.9 269.0<br />
M3 1.4 323.0<br />
2SM2 9.6 252.0<br />
MK3 2.6 145.0<br />
MO3 1.6 132.0<br />
M4 27.2 132.0<br />
MS4 13.3 166.0<br />
MN4 10.8 107.0<br />
SN4 4.8 193.0<br />
M6 15.0 344.0<br />
2MS6 13.4 6.0<br />
2MN6 9.2 326.0<br />
2SM6 3.0 13.0<br />
MSN6 6.6 4.0<br />
148
Escola do Igarapé Grande do Curuá<br />
(Barra Norte)<br />
Componente Amplitude (cm) Fase (°)<br />
MSF 6.7 354.0<br />
O1 5.1 297.3<br />
P1 2.0 324.1<br />
K1 6.1 326.2<br />
OO1 2.9 280.0<br />
KQ1 2.6 185.5<br />
2N2 2.9 284.3<br />
MU2 14.3 178.8<br />
N2 21.8 325.0<br />
NU2 4.1 282.2<br />
M2 157.8 5.6<br />
LAMBD2 1.1 19.5<br />
L2 13.7 45.7<br />
T2 2.1 34.4<br />
S2 36.2 35.6<br />
K2 9.8 38.0<br />
2SM2 10.9 300.4<br />
N4 3.1 230.6<br />
MN4 3.1 254.7<br />
M4 11.9 290.5<br />
SN4 2.5 314.4<br />
MS4 6.7 321.5<br />
M6 4.4 94.7<br />
3MN8 2.4 299.5<br />
M8 2.6 315.0<br />
2MSN8 2.2 321.7<br />
3MS8 4.1 2.8<br />
Canivete<br />
Componente Amplitude (cm) Fase (°)<br />
SA 21.8 41.2<br />
SSA 7.0 31.0<br />
MM 6.4 10.6<br />
MSF 11.1 68.6<br />
O1 4.7 315.5<br />
MP1 0.8 78.9<br />
P1 1.1 356.1<br />
S1 5.4 274.8<br />
K1 8.1 333.9<br />
SO1 0.9 192.3<br />
MNS2 1.6 190.8<br />
2N2 3.2 13.7<br />
MU2 7.6 224.4<br />
2NUM2 1.5 14.9<br />
N2 21.3 14.5<br />
NU2 7.0 26.1<br />
OP2 2.1 130.7<br />
MTS2 7.8 0.5<br />
M2 121.2 43.6<br />
MKS2 4.8 273.7<br />
LAMBD2 5.4 67.0<br />
L2 8.5 78.4<br />
2SK2 1.7 72.0<br />
T2 3.4 31.2<br />
S2 26.7 73.3<br />
K2 6.0 72.6<br />
MSN2 2.6 305.8<br />
2SM2 2.3 327.4<br />
NO3 0.8 300.1<br />
MO3 2.8 313.8<br />
2MP3 0.7 55.7<br />
SO3 1.9 343.3<br />
MK3 3.1 338.3<br />
2MQ3 0.7 175.7<br />
N4 1.1 22.6<br />
3MS4 2.2 235.2<br />
MN4 3.9 18.2<br />
MNU4 1.9 40.5<br />
2MSK4 0.7 287.0<br />
2MTS4 1.6 313.2<br />
M4 10.5 51.6<br />
2MST4 0.7 212.2<br />
2MKS4 1.3 262.4<br />
2MKT4 0.6 358.2<br />
SN4 0.9 279.7<br />
3MN4 2.0 265.0<br />
MS4 3.3 76.7<br />
SL4 0.9 131.1<br />
2NM6 0.6 166.4<br />
2MN6 1.5 178.8<br />
2MNU6 0.6 209.8<br />
M6 2.9 197.8<br />
4MN6 0.7 41.1<br />
2MS6 2.4 224.3<br />
2MK6 0.9 211.4<br />
3MSN6 0.6 72.0<br />
2SM6 0.5 193.5<br />
3MN8 1.2 123.0<br />
M8 1.5 144.2<br />
2MSN8 0.8 130.7<br />
3MS8 1.8 175.1<br />
3MK8 0.6 142.6<br />
MSNK8 1 0.60 256.3<br />
2M2S8 0.7 190.2<br />
5MS12 0.6 319.9<br />
149
Santana<br />
Componente Amplitude (cm) Fase (°)<br />
SA 24.1 45.2<br />
SSA 4.6 338.8<br />
MM 7.9 46<br />
MF 4.1 51.4<br />
MSF 12.2 40.1<br />
K1 6.4 8.2<br />
O1 5.3 358.8<br />
P1 5.3 16.2<br />
M2 117 112.8<br />
S2 27 147.1<br />
N2 23.5 85.5<br />
K2 8.9 126<br />
NU2 6.8 78.1<br />
MU2 8.2 285<br />
L2 15.4 144.4<br />
T2 6.4 112.1<br />
2N2 2.8 4.8<br />
MNS2 4.2 236.4<br />
LAMBD2 4.8 180<br />
KJ2 4.2 89.1<br />
2SM2 1.9 347.3<br />
MK3 2.4 60.6<br />
MO3 2.7 39.7<br />
M4 19.6 148.1<br />
MS4 9.3 181.8<br />
MN4 8.3 115.2<br />
MK4 3.9 159.5<br />
SN4 2.1 84.4<br />
M6 2.6 125.9<br />
2MS6 2.1 165.4<br />
OP2 5.6 185.9<br />
MKS2 2.2 60.3<br />
Afuá<br />
Componente Amplitude (cm) Fase (°)<br />
MM 9.0 17.0<br />
MSF 14.9 44.0<br />
K1 9.0 351.0<br />
O1 7.2 345.0<br />
P1 3.0 351.0<br />
Q1 0.3 59.0<br />
J1 0.2 263.0<br />
M1 1.2 261.0<br />
OO1 1.6 143.0<br />
SIGMA1 0.2 132.0<br />
PI1 0.2 351.0<br />
2Q1 0.2 132.0<br />
FI1 0.1 351.0<br />
PSI1 0.1 351.0<br />
M2 78.0 62.0<br />
S2 18.7 89.0<br />
N2 17.9 34.0<br />
K2 5.1 89.0<br />
NU2 3.5 34.0<br />
MU2 5.0 256.0<br />
L2 8.2 118.0<br />
T2 1.1 89.0<br />
2N2 2.4 5.0<br />
M3 0.7 174.0<br />
2SM2 0.6 281.0<br />
MK3 2.6 347.0<br />
MO3 2.2 331.0<br />
M4 15.1 39.0<br />
MS4 7.7 77.0<br />
MN4 5.8 18.0<br />
SN4 2.0 173.0<br />
M6 7.3 319.0<br />
2MS6 5.8 350.0<br />
2MN6 4.8 288.0<br />
2SM6 0.7 356.0<br />
MSN6 0.9 104.0<br />
150
Chaves<br />
Componente Amplitude (cm) Fase (°)<br />
MM 7.2 321.1<br />
MSF 8.8 37.8<br />
K1 8.4 326.6<br />
O1 6.1 304.0<br />
P1 2.8 326.6<br />
Q1 1.3 326.3<br />
J1 1.6 189.8<br />
M1 0.6 75.0<br />
OO1 1.6 327.8<br />
SIGMA1 0.2 348.6<br />
PI1 0.2 326.6<br />
2Q1 0.2 348.6<br />
FI1 0.1 326.6<br />
PSI1 0.1 326.6<br />
M2 116.9 8.0<br />
S2 31.5 45.1<br />
N2 18.8 340.7<br />
K2 8.6 45.1<br />
NU2 3.6 340.7<br />
MU2 2.4 190.1<br />
L2 3.8 22.3<br />
T2 1.9 45.1<br />
2N2 2.5 64.3<br />
M3 1.8 157.8<br />
2SM2 13.3 206.6<br />
MK3 4.5 282.9<br />
MO3 4.2 263.6<br />
M4 28.7 309.5<br />
MS4 15.9 357.3<br />
MN4 9.6 297.6<br />
SN4 5.2 242.6<br />
M6 8.9 212.3<br />
2MS6 8.0 257.9<br />
2MN6 4.6 195.0<br />
2SM6 0.3 67.2<br />
MSN6 6.0 157.4<br />
Vila Nazaré<br />
Componente Amplitude (cm) Fase (°)<br />
M1 3.3 198.4<br />
P1 1.2 297.4<br />
K1 3.7 292.5<br />
2N2 2.3 285.6<br />
N2 17.0 301.2<br />
NU2 3.2 303.3<br />
M2 141.2 316.8<br />
LAMBD2 1.0 331.1<br />
T2 2.3 346.4<br />
S2 39.6 347.6<br />
K2 10.8 350.1<br />
MO3 5.0 225.4<br />
2MQ3 2.3 188.6<br />
MN4 10.3 169.6<br />
M4 24.7 167.2<br />
SN4 1.8 210.7<br />
MS4 6.7 220.7<br />
MNK5 1.3 357.0<br />
2MK5 1.8 322.1<br />
2MN6 4.3 35.3<br />
M6 9.6 357.0<br />
2MS6 3.4 69.3<br />
2NMO7 1.4 273.2<br />
3MK7 1.1 108.9<br />
2MSN8 1.1 218.5<br />
151
Ilha do Machadinho<br />
Componente Amplitude (cm) Fase (°)<br />
O1 7.6 219.7<br />
P1 2.9 285.2<br />
K1 8.6 290.6<br />
OO1 4.6 234.4<br />
2NS2 5.0 72.1<br />
2N2 3.1 234.5<br />
MU2 6.6 173.9<br />
N2 23.3 258.1<br />
NU2 4.4 261.3<br />
M2 130.5 281.8<br />
LAMBD2 0.9 290.9<br />
T2 2.3 300.7<br />
S2 38.2 301.5<br />
K2 10.4 303.1<br />
MK3 2.7 172.6<br />
N4 8.6 84.3<br />
MN4 6.0 107.9<br />
M4 28.1 119.4<br />
SN4 4.8 120.3<br />
MS4 7.7 143.4<br />
2MO5 1.6 185.5<br />
2M2NS6 3.1 1.7<br />
4MS6 4.2 42.7<br />
2MN6 5.3 260.2<br />
M6 14.6 257.6<br />
MSN6 4.6 236.8<br />
2MS6 6.9 299.4<br />
2MNO7 0.9 37.6<br />
3MO7 1.6 28.5<br />
2M2N8 2.8 34.3<br />
3MN8 5.1 82.8<br />
M8 7.1 84.5<br />
2MSN8 3.6 92.3<br />
3MS8 6.3 134.3<br />
Cabo Maguari<br />
Componente Amplitude (cm) Fase (°)<br />
MM 9.3 334.0<br />
MSF 2.6 51.0<br />
K1 14.1 251.0<br />
O1 10.3 247.0<br />
P1 4.7 251.0<br />
Q1 1.1 111.0<br />
J1 2.6 47.0<br />
M1 1.1 156.0<br />
OO1 3.5 79.0<br />
SIGMA1 0.3 335.0<br />
PI1 0.3 251.0<br />
2Q1 0.3 335.0<br />
FI1 0.2 251.0<br />
PSI1 0.1 251.0<br />
M2 122.4 254.0<br />
S2 43.0 284.0<br />
N2 24.0 235.0<br />
K2 11.7 284.0<br />
NU2 4.7 235.0<br />
MU2 3.9 288.0<br />
L2 2.9 317.0<br />
T2 2.5 284.0<br />
2N2 3.2 217.0<br />
M3 1.5 117.0<br />
2SM2 4.6 318.0<br />
MK3 3.7 96.0<br />
MO3 2.0 48.0<br />
M4 14.1 95.0<br />
MS4 6.9 120.0<br />
MN4 4.2 76.0<br />
SN4 3.6 41.0<br />
M6 8.3 186.0<br />
2MS6 6.0 232.0<br />
2MN6 2.8 181.0<br />
2SM6 2.0 259.0<br />
MSN6 1.8 106.0<br />
152
Constantes Harmônicas calculadas para o PONTO H<br />
S<br />
1 Ponto H<br />
1 34.00 0 N<br />
49 13.00 0 W<br />
3 143 0<br />
2Q1 1 6 1 0.17 322.33<br />
SIGMA1 1 7 1 0.42 0.96<br />
Q1 1 8 1 1.84 215.78<br />
RO1 1 9 1 0.12 208.21<br />
O1 1 10 1 10.68 233.86<br />
MP1 2 28 15 1 -1 0.67 17.58<br />
M1 1 12 1 0.10 85.43<br />
P1 1 15 1 3.57 260.84<br />
S1 1 16 1 0.33 326.73<br />
K1 1 17 1 12.23 257.97<br />
TETA1 1 20 1 0.13 226.30<br />
J1 1 21 1 0.36 69.49<br />
2PO1 2 15 10 2 -1 0.08 90.15<br />
SO1 2 32 10 1 -1 0.44 73.97<br />
OO1 1 22 1 0.11 78.24<br />
2NS2 2 26 32 2 -1 0.26 100.18<br />
M(MU)S2 3 28 25 32 1 1 -1 0.41 196.11<br />
OQ2 2 10 8 1 1 0.30 247.69<br />
MNS2 3 28 26 32 1 1 -1 1.21 57.56<br />
2N2 1 24 1 2.47 220.74<br />
MU2 1 25 1 3.93 74.53<br />
N2 1 26 1 26.36 245.54<br />
NU2 1 27 1 0.51 242.87<br />
OP2 2 10 15 1 1 0.61 294.72<br />
MTS2 3 28 31 32 1 1 -1 0.21 344.31<br />
M2 1 28 1 129.14 267.72<br />
MST2 3 28 32 31 1 1 -1 0.23 359.51<br />
MKS2 3 28 34 32 1 1 -1 0.43 108.30<br />
LAMBDA2 1 29 1 1.06 300.79<br />
L2 1 30 1 3.38 332.12<br />
S2 1 32 1 35.11 289.57<br />
R2 1 33 1 0.17 355.90<br />
K2 1 34 1 9.43 285.92<br />
MSN2 3 28 32 26 1 1 -1 1.12 164.38<br />
KJ2 2 17 21 1 1 0.31 347.88<br />
2SM2 2 32 28 2 -1 1.01 164.20<br />
2MS2N2 3 28 32 26 2 1 -2 0.74 210.54<br />
NO3 2 26 10 1 1 0.14 113.73<br />
MO3 2 28 10 1 1 0.64 115.57<br />
2MP3 2 28 15 2 -1 0.29 255.36<br />
M3 1 37 1 0.22 204.21<br />
SO3 2 32 10 1 1 0.33 174.94<br />
MK3 2 28 17 1 1 0.77 136.70<br />
2MQ3 2 28 8 2 -1 0.17 310.57<br />
SK3 2 32 17 1 1 0.28 223.15<br />
N4 1 26 2 1.10 281.38<br />
3MS4 2 28 32 3 -1 3.89 21.35<br />
MN4 2 28 26 1 1 5.81 248.31<br />
M(NU)4 2 28 27 1 1 1.13 201.56<br />
2MSK4 3 28 32 34 2 1 -1 0.60 66.13<br />
2MTS4 3 28 31 32 2 1 -1 0.38 359.84<br />
M4 1 28 2 19.02 265.85<br />
2MST4 3 28 32 31 2 1 -1 0.31 270.70<br />
2MKS4 3 28 34 32 2 1 -1 0.67 52.59<br />
153
SN4 2 32 26 1 1 0.93 312.37<br />
3MN4 2 28 26 3 -1 2.49 74.06<br />
MS4 2 28 32 1 1 10.06 306.94<br />
MK4 2 28 34 1 1 2.64 302.68<br />
SL4 2 32 30 1 1 2.18 327.37<br />
S4 1 32 2 0.85 20.64<br />
SK4 2 32 34 1 1 0.37 5.80<br />
MNO5 3 28 26 10 1 1 1 0.53 90.84<br />
2MO5 2 28 10 2 1 1.05 107.06<br />
MNK5 3 28 26 17 1 1 1 0.47 108.27<br />
2MK5 2 28 17 2 1 0.84 132.80<br />
MSK5 3 28 32 17 1 1 1 0.58 168.51<br />
2M2NS6 3 28 26 32 2 2 -1 0.16 278.17<br />
3MNS6 3 28 26 32 3 1 -1 0.56 262.26<br />
2NM6 2 26 28 2 1 0.83 107.90<br />
4MS6 2 28 32 4 -1 0.82 286.53<br />
2MN6 2 28 26 2 1 3.19 122.98<br />
2M(NU)6 2 28 27 2 1 0.17 85.18<br />
3MSK6 3 28 32 34 3 1 -1 0.11 260.51<br />
M6 1 28 3 5.50 144.34<br />
MSN6 3 28 32 26 1 1 1 1.64 149.38<br />
4MN6 2 28 26 4 -1 0.33 263.66<br />
2MS6 2 28 32 2 1 4.88 170.01<br />
2MK6 2 28 34 2 1 1.30 165.68<br />
3MSN6 3 28 32 26 3 1 -1 0.59 2.12<br />
MKL6 3 28 34 30 1 1 1 0.18 201.77<br />
2SM6 2 32 28 2 1 1.14 200.34<br />
MSK6 3 28 32 34 1 1 1 0.63 193.79<br />
3MNOS7 4 28 26 10 32 3 1 1 -1 0.08 95.67<br />
2NMO7 3 26 28 10 2 1 1 0.04 296.42<br />
4MOS7 3 28 10 32 4 1 -1 0.05 111.93<br />
2MNO7 3 28 26 10 2 1 1 0.13 315.60<br />
3MNKS7 4 28 26 17 32 3 1 1 -1 0.06 74.21<br />
3MO7 2 28 10 3 1 0.19 325.49<br />
MSNO7 4 28 32 26 10 1 1 1 1 0.11 346.55<br />
2MNK7 3 28 26 17 2 1 1 0.17 345.28<br />
2MSO7 3 28 32 10 2 1 1 0.22 5.22<br />
3MK7 2 28 17 3 1 0.04 24.51<br />
MSNK7 4 28 32 26 17 1 1 1 1 0.09 4.48<br />
2MSP7 3 28 32 15 2 1 1 0.08 49.56<br />
2MSK7 3 28 32 17 2 1 1 0.20 44.23<br />
2MKK7 3 28 34 17 2 1 1 0.04 36.65<br />
3MSKN7 4 28 32 17 26 3 1 1 -1 0.04 192.37<br />
2M2N8 2 28 26 2 2 0.17 82.93<br />
3MN8 2 28 26 3 1 0.70 74.83<br />
M8 1 28 4 1.05 106.94<br />
2MSN8 3 28 32 26 2 1 1 0.49 113.78<br />
2MNK8 3 28 26 34 2 1 1 0.13 207.31<br />
3MS8 2 28 32 3 1 1.30 138.23<br />
3MK8 2 28 34 3 1 0.29 133.97<br />
MSNK8 4 28 32 26 34 1 1 1 1 0.34 274.52<br />
2M2S8 2 28 32 2 2 0.39 189.38<br />
2MSK8 3 28 32 34 2 1 1 0.21 170.24<br />
2M2NO9 3 28 26 10 2 2 1 0.03 322.81<br />
3MNO9 3 28 26 10 3 1 1 0.09 296.03<br />
4MO9 2 28 10 4 1 0.10 333.15<br />
3MNK9 3 28 26 17 3 1 1 0.09 323.76<br />
3MSO9 3 28 32 10 3 1 1 0.15 354.08<br />
4MK9 2 28 17 4 1 0.07 168.88<br />
2M2SO9 3 28 32 10 2 2 1 0.08 24.03<br />
3MSK9 3 28 32 17 3 1 1 0.12 20.60<br />
154
2M2SK9 3 28 32 17 2 2 1 0.05 62.13<br />
4MN10 2 28 26 4 1 0.40 1.62<br />
M10 1 28 5 0.46 27.62<br />
3MSN10 3 28 32 26 3 1 1 0.50 24.91<br />
4MS10 2 28 32 4 1 0.74 49.91<br />
2M2SN10 3 28 32 26 2 2 1 0.15 55.34<br />
2MNSK10 4 28 26 32 34 2 1 1 1 0.07 174.87<br />
3M2S10 2 28 32 3 2 0.33 80.58<br />
3MSK10 3 28 32 34 3 1 1 0.20 72.88<br />
5M011 2 28 10 5 1 0.02 215.52<br />
4MNP11 3 28 26 15 4 1 1 0.05 228.28<br />
4MNK11 3 28 26 17 4 1 1 0.02 216.79<br />
4MSO11 3 28 32 10 4 1 1 0.04 247.56<br />
5MK11 2 28 17 5 1 0.02 265.85<br />
3M2SO11 3 28 32 10 3 2 1 0.03 276.51<br />
4MSK11 3 28 32 17 4 1 1 0.03 276.91<br />
3M2SK11 3 28 32 17 3 2 1 0.02 308.97<br />
5MN12 2 28 26 5 1 0.08 293.16<br />
M12 1 28 6 0.05 318.99<br />
4MSN12 3 28 32 26 4 1 1 0.14 300.37<br />
5MS12 2 28 32 5 1 0.17 332.68<br />
3MNKS12 4 28 26 34 32 3 1 1 1 0.04 87.05<br />
4M2S12 2 28 32 4 2 0.10 9.94<br />
Sa 1 1 1 1.37 46.24<br />
Mm 1 3 1 2.37 12.85<br />
Msf 2 28 32 -1 1 1.39 27.51<br />
Mf 1 4 1 1.51 0.18<br />
Mtm 1 5 1 0.15 47.41<br />
Classificação pelo Número de Forma = 22,91/164,25= 0,139 semidiurna<br />
Z0= 200,04 cm<br />
155
Ficha de Descrição de Estação Maregráfica (F-41) da Escola do Igarapé Grande<br />
do Curuá confeccionada pelo NHi Sirius em 2006 e validada pela Seção de Marés<br />
do CHM<br />
156
157
Ficha de Descrição de Estação Maregráfica (F-41) da Escola do Igarapé Grande<br />
do Curuá confeccionada em 1996 (ano do período padrão para as constantes<br />
harmônicas).<br />
158
159
Ficha de Descrição de Estação Maregráfica (F-41) da Escola do Igarapé Grande<br />
do Curuá confeccionada em 2007<br />
160
161
Esquema de réguas da Escola do Igarapé do Curuá com as principais cotas<br />
utilizadas na dissertação<br />
162
Apêndice C<br />
PROJETO BATHYELLI (SHOM, França)<br />
A idéia central do projeto é a de que os data verticais calculados sobre séries históricas<br />
de marégrafos (zero hidrográfico, LAT, NR, etc.) apresentam os seguintes problemas:<br />
- As referências de nível (RN) implantadas nas proximidades da estação maregráfica<br />
podem se deslocar em função dos movimentos verticais da crosta terrestre;<br />
- À medida que nos distanciamos da costa em direção ao largo, as RN desaparecem e o<br />
acesso ao datum se torna difícil e pouco preciso; e<br />
- O datum é conhecido unicamente de forma pontual nos locais onde as medições<br />
maregráficas já foram efetuadas.<br />
Seguindo a recomendação da IHO de referir os data verticais ao sistema geodésico<br />
ITRF (International Terrestrial Reference Frame), a fim de resolver os problemas de<br />
estabilidade, precisão e acessibilidade do sistema de referência, o SHOM criou o projeto<br />
BATHYELLI. Esse projeto tem como objetivo referenciar os dados batimétricos<br />
diretamente ao sistema ITRF, a partir de levantamentos hidrográficos conduzidos por<br />
navios equipados com GPS diferencial preciso e de um modelo do zero hidrográfico em<br />
relação ao elipsóide.<br />
Uma das vantagens da implementação desse projeto é que nos futuros levantamentos<br />
hidrográficos (LH) não mais será necessário efetuar correções de maré e de efeitos<br />
meteorológicos sobre os dados batimétricos brutos e, sendo assim, será desnecessária a<br />
ocupação de estações maregráficas durante a sondagem.<br />
Como os modelos de maré na França já permitem que se estabeleça sem maiores<br />
dificuldades o zero hidrográfico, ou o LAT, em relação ao nível médio do mar (NMM),<br />
(e.g. modelo MARMONDE), o desafio do projeto BATHYELLI passa a residir na<br />
determinação do NMM em relação ao sistema ITRF. Para realizar o mapeamento do<br />
NMM três técnicas são empregadas:<br />
- Na costa: o NMM é calculado a partir das séries observadas de estações maregráficas;<br />
163
- Ao largo: O NMM é definido a partir do processamento de dados da altimetria<br />
espacial; e<br />
- entre estas duas zonas: o NMM é calculado com auxílio de medições GPS.<br />
O SHOM espera conseguir mapear a superfície do NMM e do zero hidrográfico em<br />
relação ao ITRF, com uma precisão de 5 cm e 10 cm, respectivamente. O projeto não se<br />
limita ao cálculo do zero hidrográfico, mas sim prevê igualmente que todo o conjunto<br />
de superfícies de referência utilizadas na hidrografia possa ser mapeado, permitindo, de<br />
forma simples aos usuários, mudar convenientemente de referência vertical quando<br />
necessário.<br />
Esse projeto evidencia a importância de aplicações como modelagem de data (e.g.<br />
LAT) e de constantes harmônicas e as inúmeras potencialidades destas ferramentas para<br />
a hidrografia. A Figura 86 apresenta um esquema de comparação entre um LH clássico<br />
e um LH realizado com GPS cinemático.<br />
Figura 86 - Comparação entre um levantamento clássico e um levantamento com GPS cinemático:<br />
sem necessidade de correção de maré e efeitos meteorológicos (cedida pelo SHOM).<br />
164
Apêndice D<br />
Rotinas de Matlab utilizadas na dissertação<br />
%Script para o cálculo da diferença de fase<br />
load serieobs.txt%carrega a série observada em intervalos horários<br />
load seriemod.txt%carrega a série do modelo em intervalos horários<br />
x=serieobs;y=seriemod;%define as variáveis x e y em funçao das séries analisadas<br />
z=1:355; % dimensiona o tamanho das séries (ex:355horas)<br />
z=z';%formataçao para coluna<br />
zi=1:1/60:355;%define o intervalo no qual se deseja interpolar (ex: 1/60, deseja-se de 1<br />
em 1 minuto)<br />
z=zi';%formataçao para coluna<br />
xi=interp1(z,x,zi,'spline');%Interpola a serie x com a funçao cubic spline para o<br />
intervalo desejado<br />
yi=interp1(z,y,zi,'spline');%Interpola a serie y com a funçao cubic spline para o<br />
intervalo desejado<br />
[XCF,Lags,Bounds] = crosscorr(zi,yi,60);%calcula a funçao de correlaçao cruzada para<br />
defasagens de +60 minutos a<br />
%-60 minutos, pode ser escolhido outro intervalo.<br />
result=[Lags, XCF];%cria como resultado uma matriz onde a primeira coluna<br />
%corresponde aos intervalos (lags) e a segunda aos coeficientes de<br />
%correlaçao<br />
defasagem=max(result(:,2));%escolhe como resultado para defasagem a correlaçao<br />
máxima encontrada<br />
==============================================================<br />
%Programa para a interpolação das saidas do modelo nos<br />
%pontos e horarios da sondagem. Gera elevações referidas<br />
%ao LAT local, NR local ou NR da estaçao de referencia<br />
%conforme dados de entrada<br />
load pontos2006_2.txt % carrega dados xyt das sondagens<br />
load dadosmodeloNRloc.txt % carrega saidas do modelo referidas ao plano escolhido<br />
elev=dadosmodeloNRloc;%atribui a variavel elev<br />
pontos=pontos2006_2;%atribui a variavel pontos<br />
for i=1:1972%repete o processamento para cada linha de xyt<br />
eta(i,1)=griddata3(elev(:,1),elev(:,2),elev(:,3),elev(:,4),pontos(i,1),pontos(i,2),pontos(i,<br />
3));%interpola as elevaçoes<br />
%do modelo para o xyt desejados<br />
end<br />
dlmwrite('correçoesNRloc.txt',eta,'delimiter','\t','precision',5)%grava o arquivo de<br />
correçoes<br />
165
% Script para a interpolação linear dos resultados do modelo para o ponto que se deseja<br />
% conhecer<br />
load elevacoes.txt;%carrega o arquivo de elevaçoes produzidas pelo modelo para os<br />
quatro nós mais próximos<br />
%ao ponto que se deseja obter a série interpolada. Formato: x,y,eta<br />
load ponto6.txt;% coordenadas do ponto que se deseja conhecer (no caso o ponto 6)<br />
elev=elevacoes;<br />
for i=1:8761% para cada linha de valores (no caso, há 8761 valores horários)<br />
for j=1:4% considerando cada um dos quatro nós<br />
m(j,1)=i+8761*(j-1);% m é apenas um contador<br />
end<br />
etaprimo(i,1)=griddata(elev(m,1),elev(m,2),elev(m,3),ponto6(1,1),ponto6(1,2));% faça<br />
a interpolaçao espacial<br />
%para o ponto que se deseja conhecer<br />
end<br />
save eta6 etaprimo -ascii% grava o arquivo da série interpolada para o ponto 6<br />
166