xávier, D. Sc. - Engenharia Naval e Oceânica - UFRJ
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MODELAGEM E ANÁLIsE DO LANÇAMENTO DE EFLUENTES ATRAVÉS DE<br />
EMISSÁRIOS SUBMARINOS<br />
João Luiz Baptista de Carvalho<br />
TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS<br />
PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE<br />
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁ-<br />
RIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM<br />
ENGENHARIA O CE~CA.<br />
Aprovado por:<br />
Prof Paulo Cesar Colonna Rosrnan, Ph.D.<br />
wi\<br />
TFÕf? S u s a n n m n , D. <strong>Sc</strong>.<br />
Dra- ~ndr&$alo <strong>xávier</strong>, D. <strong>Sc</strong>.<br />
Prof Belmiro hendes Castro Filho, Ph.D.<br />
RIO DE JANEIRO, BT - BRASIL<br />
OUTUBRO DE 2003
CARVALHO, JOÃO LUIZ BAPTISTA<br />
DE<br />
Modelagem e Análise do lançamento<br />
de efluentes através de emissários subma-<br />
rinos (Pio de Janeiro] 2003<br />
VIII, 190p. 29,7 cm (COPPE/<strong>UFRJ</strong>,<br />
D. <strong>Sc</strong>., <strong>Engenharia</strong> <strong>Oceânica</strong>, 2002)<br />
Tese - Universidade Federal do Rio de<br />
Janeiro, COPPE<br />
1. Emissário submarino<br />
2. Circulação hidrodinâmica<br />
3. Modelagem campo próximo<br />
4. Modelagem campo afastado<br />
5. Praia de Ipanema<br />
I. COPPE/<strong>UFRJ</strong> II. Título (série)
AGRADECIMENTOS<br />
Seriam muitas as pessoas a agradecer neste momento. Todas foram muito im-<br />
portantes nessa etapa de minha carreira profissional. Agradeço, sinceramente, a todos<br />
pelo apoio e amizade e peço desculpas pelos nomes que me esqueço de citar.<br />
Agradeço ao Dr. Paulo Rosman pelo apoio e consideração na condução da orien-<br />
tação desta tese.<br />
Agradeço ao Dr. Philip Roberts pela oportunidade de trabalhar consigo no Geór-<br />
gia Institute of Technology. Obrigado pelo apoio e a amizade de sua família para com a<br />
minha.<br />
Em Gatech, tive a oportunidade de conhecer Ms. Janice Davis a quem agradeço<br />
o carinho e a atenção com que me ajudou durante todo o meu período de moradia em<br />
Atlanta.<br />
Agradeço a Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, nas pessoas dos reitores<br />
Prof Edson Vilela e Prof Dr. José Roberto Provesi, pela oportunidade ofertada para<br />
realização do doutorado com apoio da instituição.<br />
Um agradecimento especial ao Prof. Fernando Diehl, pelo empenho em buscar<br />
os meios para a melhoria do quadro de professores do Curso de Oceanografía da<br />
UNIVALI.<br />
Agradeço o carinho e atenção dos velhos grandes amigos: Andrea Gallo, Mar-<br />
cos Americano, Helder Oliveira, Renato Parkinson, Afonso Paiva, Susana Vinsón, Ama<br />
<strong>Sc</strong>offano, José Antônio Moreira Lima, Alexandre e Laurinha, Luis Antonio Proença,<br />
Marcus Polette. Agradeço também aos novos grandes amigos: Eduardo Yassuda, Re-<br />
nato Feitosa, Prasad Dasi, Mário Tourinho, Domingos Zampol, Franb da Silva, Rafa-<br />
e1 Bonanata.<br />
Aos professores e funcionários do PENO, em especial o Prof. Severino Neto e as<br />
secretárias Glace Costa e Nilda Piergiorge, pelos favores inestimáveis prestados a mim.<br />
Ao Prof. João Roldão e a toda equipe do Laboratório de Traçadores da COPPE<br />
pela disponibilização das informações oceanográficas utilizadas nessa tese.<br />
Um agradecimento especial aos colegas da UNIVALI Marlei Antunes, Cristina<br />
Horita, Franklin Pacheco Tena, Patrícia Faria, Tânia Sedrez, Marco Antônio Barreiros,<br />
Luciano Laçava.<br />
A minha esposa Ângela De1 Giudice e aos meus filhos Luiza Carvalho e João<br />
Pedro Carvalho pelo companheirismo ao longo desses anos.
A meus pais Aloysio e Therezinha<br />
A minha esposa Angela<br />
A meus filhos Luiza e João Pedro
Resumo da Tese apresentada a COPPEKJFRJ como parte dos requisitos necessários<br />
para a obtenção do grau de Doutor em Ciências @. <strong>Sc</strong>.)<br />
Orientador: Paulo César Colonna Rosman<br />
Programa: <strong>Engenharia</strong> <strong>Oceânica</strong><br />
João Luiz Baptista de Carvalho<br />
Outubro/2003<br />
A modelagem da disposição oceânica de efluentes domésticos através de<br />
emissários submarinos foi avaliada utilizando como estudo de caso o Emissário<br />
Submarino de Esgotos de Ipanema - ESEI. A partir de medições de correntes e<br />
temperatura efetuados na região dos difusores, foi possível compreender a<br />
hidrodinârnica local e estabelecer cenários típicos para modelagem da dispersão da<br />
pluma. Para caracterização da dispersão do campo de esgotos do ESEI foram utilizados:<br />
um modelo de campo próximo, um de campo afastado baseados em freqüência de<br />
excedência, utilizando-se dos dados medidos, e um modelo Lagrangeano de partículas.<br />
Desenvolveu-se um modelo para o decaimento bacteriano que utiliza as características<br />
da pluma modelada no campo próximo. A dispersão do campo de esgotos foi avaliada<br />
por estações sazonais e discutidas com base nas características oceanográficas que<br />
geraram cada cenário. Em todas as situações, a pluma de esgotos atendeu aos padrões<br />
exigidos pela Legislação Brasileira no que trata da segurança ao contato primário nas<br />
praias de Ipanema e Leblon. Entretanto, a pluma pode se estender a dezenas de<br />
quilômetros a partir do difusor com concentrações elevadas. Plumas aprisionadas pela<br />
estratificação, podem ficar retidas pelo tômbolo das Ilúas Cagarras, dificultando<br />
sobremaneira a dispersão do campo de esgotos.
Abstract of Thesis presented to COPPEí<strong>UFRJ</strong> as a partia1 fulfíllment of the<br />
requirements for the degree of Doctor of <strong>Sc</strong>ience @. <strong>Sc</strong>.)<br />
MODELING AND ANALYSIS OF SEWAGE DISPOSAL TROUGH OCEAN<br />
Advisor: Paulo César Colonna Rosman<br />
Department: Oceanic Engineering<br />
OUTFALLS<br />
João Luiz Baptista de Carvalho<br />
The modeling of the sewage disposal trough ocean outfalls was evaluated in a<br />
case study of the Ipanema Beach Outfall (ESEI). From measurements of flow current<br />
and temperature profiles in the diaiser site, it was possible to understand the local<br />
hydrodynamics and to establish typical scenes for the plume dispersion modeling. For<br />
the ESEI's plume dispersion and sewage field characterization a near-field model, a far-<br />
field model based on exceeding fiequency and a particle Lagrangean model were used.<br />
A bacterial decay model that uses shape characteristics of the plume in the next field<br />
was developed. The dispersion of the sewage field was evaluated per season period and<br />
evaluated on the basis of the oceanographic characteristics that had generated each<br />
scene. In every situation, the plume of sewage took care of Brazilian primary contact<br />
standards at Ipanema and Leblon beaches. However, along the coast, the high<br />
concentration plume can extend over 25 kilometers far fiom the diaiser. Plumes<br />
trapped by the stratification can be restrained for the Cagarras Island tombolo, making<br />
difKcult the dispersion of the sewage field.
.<br />
Capítulo I : lntroduçao Geral ............................................................................ I<br />
1 . 1 Motivação ................................................................................................... 5<br />
I . 2 Objetivos .................................................................................................... 8<br />
1.3 Area de Estudo ........................................................................................... 8<br />
Capítulo 2: Padrões de circulação oceânica na costa do Rio de Janeiro .. 13<br />
...............................................................................................<br />
2.1 Introdução 13<br />
.............................................................................<br />
2.2 Oceanografia Regional 16<br />
.............................................................................<br />
2.2.1 Massas D'água 16<br />
2.2.2 Mecanismos de transporte na Plataforma Continental Sudeste<br />
do Brasil ........................................................................................... 18<br />
2.2.2. I Forçantes meteorológicas .................................................. 1 8<br />
2.2.2.2 Resposta Oceanográfica .................................................... 20<br />
2.2.2.3 A Corrente do Brasil ........................................................... 21<br />
2.2.2.4 A Ressurgência de Cabo Frio ............................................ 22<br />
2.3 Análise espectral rotatória ........................................................................ 23<br />
2.4 Apresentação dos dados meteorológicos e oceanográficos disponíveis . 27<br />
2.5 Metodologia .............................................................................................. 30<br />
2.5.1 Análise das séries temporais ......................................................... 30<br />
2.6 Resultados e discussão .......................................................................... -32<br />
2.6.1 Análise descritiva das séries temporais ......................................... 32<br />
2.6.2 Estatística básica das séries temporais ......................................... 42<br />
2.6.3 Análise espectral das séries temporais .......................................... 44<br />
2.6.3.1 Distribuição de energia na faixa de marés<br />
meteorológicas ................................................................... 45<br />
2.6.3.2 Variação temporal dos espectros de energia ..................... 49<br />
2.6.3.3 Distribuição de energia na faixa de marés astronômicas ... 53<br />
2.6.3.4 Semelhança entre o fundeio do ESEI e o fundeio Raso .... 57<br />
2.6.3.5 Influência do vento sobre a circulação ............................... 59<br />
2.7 Conclusões ............................................................................................. -64<br />
Capítulo 3: Diluição no campo próximo ao Emissário Submarino de<br />
Esgotos de Ipanema .................................................................... 65<br />
3 .I Introdução .................................................................................................. 65<br />
3.1 . 1 Mistura no campo próximo ............................................................. 66<br />
3.2 Metodologia .............................................................................................. 79<br />
3.2.1 Avaliação da descarga do ESEI ..................................................... 81<br />
3.2.2 Estimativa da densidade da água .................................................. 82<br />
3.3 Resultados e Discussão ............................................................................. 83<br />
3.3.1 A descarga do ESEI ...................................................................... -83<br />
3.3.2 O campo próximo no verão ............................................................ 85<br />
3.3.3 O campo próximo no outono ............................................................ 89<br />
3.3.4 O campo próximo no inverno ........................................................... 91
3.3.5 O campo próximo na primavera ....................................................... 94<br />
3.4 Conclusões ............................................................................................. -99<br />
Capítulo 4: Um modelo de decaimento bacteriano em plumas de emissários<br />
submarinos ................................................................................ 100<br />
4.1 Introdução ............................................................................................. 100<br />
4.1 . 1 O Decaimento Bacteriano .............................................................. I00<br />
4.1.2 Modelagem do Decaimento Bacteriano ........................................ 102<br />
4.2 Metodologia ....................................................................................... I07<br />
4.3 Resultados e Discussão ......................................................................... 108<br />
4.5 Conclusões ............................................................................................ 114<br />
Capítulo 5: Sobre a pluma no campo afastado do ESEI .......................... 115<br />
5.1. Introdução .............................................................................................. 115<br />
5.1 . 1 O modelo estocástico da pluma do ESEI ..................................... 117<br />
5.1.1.1 O conceito de freqüência de visitação ................................ 118<br />
5.1 . 1 . 2 Modificações efetuadas no Frfield .................................... 122<br />
5.1.2 O Modelo hidrodinâmico ................................................................ 124<br />
5.1.2.1 Definição da malha ........................................................... 125<br />
5.1.2.2 Condições de contorno e iniciais ...................................... 128<br />
5.1.2.3 Validação do modelo ...................................................... 130<br />
5.1.2.4 Pontos de controle .......................................................... 132<br />
5.1.3 - O modelo Lagrangeano de transporte advectivoldifusivo ............ 133<br />
5.2 Resultados e discussão .................................................................... 136<br />
5.2.1 Definição das funções de transferência ......................................... 136<br />
5.2.2 Aplicação das funqões de transferência ...................................... 139 5.2.3 Modelagem estocástica do campo afastado .................................. 141<br />
5.2.3.1 O campo afastado no verão ............................................. -142<br />
5.2.3.2 O campo afastado no outono ............................................ 145<br />
5.2.3.3 O campo afastado no inverno .......................................... 147<br />
5.2.3.4 O campo afastado na primavera ...................................... 150<br />
5.2.3.5 Discussão sobre a modelagem do campo afastado ......... 150<br />
5.2.3.6 Modelagem no fundo ........................................................ 154<br />
5.2.4 A modelagem no campo afastado utilizando o modelo de<br />
transporte advectivoldifusivo de partículas .................................... 156<br />
5.2.4.1 A pluma submersa ........................................................... 156<br />
5.2.4.2 A pluma emersa ............................................................... 160<br />
5.3 Conclusões ........................................................................................... 164<br />
Capítulo 6: Conclusões gerais e Recomendações ................................... 167<br />
7 Bibliografia .............................................................................................. 171<br />
ANEXO I ........................................................................................................ 180<br />
viii
INTRODUÇAO GERAL<br />
A disposição oceânica de efluentes domésticos através de emissários submarinos é uma<br />
alternativa economicamente viável para muitas cidades costeiras com alta densidade<br />
demográfica. Particularmente em cidades balneárias que, por motivos diversos, tiveram<br />
o processo de ocupação urbana favorável a aglomeração da população flutuante em tor-<br />
no de sua atração principal, a praia, tal solução torna-se bastante atrativa. Garantindo a<br />
qualidade da água aos banhistas sem comprometer esteticamente os domínios das prai-<br />
as, muitos municípios costeiros têm encontrado nos emissários submarinos a melhor<br />
forma de dispor seus esgotos tratados ou não.<br />
Emissários submarinos são projetados para usar eficientemente a capacidade na-<br />
tural de autodepuração dos oceanos. A diluição inicial, caracterizada por mistura ativa<br />
intensa gerada pela diferença de momentum entre o jato emitido pelos difusores e o es-<br />
coamento ambiente; a mistura passiva subseqüente devido ao transporte causado pelo<br />
campo de correntes variável e pela dfisão turbulenta; e o decaimento bacteriano são<br />
responsáveis por uma rápida redução da concentração de bactérias em ordens de até 105.<br />
Conseqüentemente, os impactos ambientais da descarga do emissário ficam restritos a<br />
áreas relativamente pequenas, próximas da localizagão do difusor. A extensão desse im-<br />
pacto é fiinção das características fisicas do dfisor, da descarga e do corpo receptor.<br />
Quanto maior for o grau de tratamento a que este esgoto é submetido antes de seguir<br />
para a disposição final, menor será a área da pluma no oceano e menores serão as chan-<br />
ces dessa pluma alcançar locais de contato com seres humanos.<br />
Qs beneficios do tratamento e do uso de emissários não se restringem aos seres<br />
humanos. Como os difusores ficam, geralmente, localizados de centenas a milhares de<br />
metros da linha de costa 1 , em um ambiente cuja densidade de organismos e biodiversi-<br />
dade são signiticativamente inferiores a de outros ambientes costeiros ecologicamente<br />
mais sensíveis como as enseadas, praias, costões rochosos e manguezais, há um ganho<br />
de qualidade ambienta1 para todo o ecossistema. Há que se complementar que nesses<br />
ambientes costeiros, diversos organismos marinhos, alguns de interesse comercial, pro-<br />
curam abrigo e alimento para se desenvolverem nas fases larval, juvenil e adulta.<br />
63% dos emissários submarinos constniídos no mundo possuem comprimento entre 500 e 2000 metros e em 37%<br />
destes o difusor localiza-se entre 10 e 20 metros de profundidade (Neves &Neves, 1995).
Os impactos de um emissário submarino destinado a disposição de esgotos ur-<br />
banos decorrem da introdução, no ambiente, de materiais sólidos, óleos e gorduras, ma-<br />
téria orgânica dissolvida e particulada, nutrientes e metais. O cloro pode também ser<br />
adicionado ao ambiente se, eventualmente ou rotineiramente, a empresa operadora do<br />
sistema de tratamento de esgotos usar esta substância para desinfecção. No entanto, a<br />
maior preocupação são as questões de saúde pública a que os emissários submarinos<br />
estão relacionados.<br />
Nos esgotos domésticos são encontrados organismos patogênicos (bactérias,<br />
protozoários e vírus) associados a doenqas tipo Hepatite, Poliomielite, Cólera, Febre<br />
Tifóide e Paratifoide, Disenteria, Tuberculose, Antrax, Leptospirose e Verminose<br />
(Hawkes, 197 1 apud Botafogo Gonçalves, 1997); Salrnonelose, Shighelose, Criptospo-<br />
ridiose Gastroenterite, Giardíase, Legionelose e doenças respiratórias (USEPA, 1999).<br />
Os organismos patogênicos aquáticos causam tais doenças nos seres humanos<br />
quando estes entram em contato com a água contaminada através de ingestão direta e do<br />
consumo de peixes e moluscos criados em ambientes comprometidos. A contaminação<br />
pode ocorrer também através da exposição a pessoas ou animais já contaminados. Imer-<br />
sões em áreas de recreação contaminadas podem ocasionar infecções na pele, olhos, ou-<br />
vido, nariz e garganta (Tholmann & Mueller, 1987).<br />
A identifícação e mensuração dos organismos patogênicos são procedimentos<br />
complexos. Ao invés disso, foram criados métodos laboratoriais para identificar a pre-<br />
sença e a concentração de organismos indicadores em amostras de água. A concentração<br />
desses organismos indicadores pode ser correlacionada à concentração de organismos<br />
patogênicos indicando assim a magnitude da contaminação. Bactérias coliformes geral-<br />
mente são adotadas como organismos indicadores por causa de sua fácil detecção em<br />
laboratório, porque geralmente não são encontradas em águas não contaminadas, e o<br />
número de bactérias indicadoras tende a estar correlacionada com o tamanho da conta-<br />
minação (Tholmann & Mueller, 1987).
Tabela 1.1 - Características de organismos indicadores adotados em vários países,<br />
inclusive o Brasil.<br />
Organismo<br />
Colif'ormes fecais (ter-<br />
motolerantes):<br />
Escherichia coli<br />
Enterococos<br />
Fonte: CONAMA (2000)<br />
Característica<br />
Bactérias pertencentes ao grupo dos colifovmes totais caracterizadas<br />
pelapresença da enzima p-galactosidade e pela capacidade de fermen-<br />
tar a lactose com produção de gás em 24 horas à temperatura de 44-<br />
45OC em meios contendo sais biliares ou outros agentes tenso-ativos<br />
com propriedades inibidoras semelhantes. Além de presentes em fezes<br />
humanas e de animais podem, também, ser encontradas em solos,<br />
plantas ou quaisquer efluentes conteprdo matéria orgânica.<br />
Bactéria pertencente a família Enterobacteriaceae, caracterizada pela<br />
presença das enzimas p-galactosidade e p-glicuronidase. Cresce em<br />
meio complexo a 44-4!i0C, fermenta lactose e manitol com produção<br />
de ácido e gás e produz indol a partir do aminoácido triptofano. A<br />
Escherichia coli é abundante em fezes humanas e de animais, tendo,<br />
somente, sido encontrada em esgotos, efluentes, águas naturais e solos<br />
que tenham recebido contaminação fecal recente.<br />
Bactérias do gmpo dos estreptococos fecais, pertencentes ao gênero<br />
Enterococcus @reviamente considerado estreptococos do grupo D), o<br />
qual se caracteriza pela alta tolerância às condições adversas de cres-<br />
cimento, tais como: capacidade de crescer na presença de 6,5% de<br />
cloreto de sódio, a pH 9,6 e nas temperaturas de 1 O O e 45OC. A maioria<br />
das espécies dos Enterococcus são de origem fecal humana, embora<br />
possam ser isolados de fezes de animais.<br />
A Tabela 1.1 apresenta as características dos organismos indicadores adotados<br />
pela Legislação Brasileira. Até o ano de 2000, a Resolução CONAMA no 20 de 18 de<br />
junho de 1986 (CONAMA, 1986) adotava como indicador os organismos colif'ormes<br />
totais. Estes são um grande grupo de bactérias encontradas em solos, poluídos ou não, e<br />
em fezes de organismos de sangue quente. Em 29 de novembro de 2000 a Resolução<br />
CONAMA no 274/2000 (CONAMA, 2000) suprimiu o uso de colif'ormes totais como<br />
indicadores e defíniu que os padrões de qualidade de água, para usos que contemplem o<br />
contato primário2 fossem baseados em grupos Coliformes Fecais, Escherichia coli e En-<br />
terococos.<br />
A Resolução CONAMA no 27412000, e a resolução anterior que em outros ter-<br />
mos já assim procedia, classificou as águas para contato primário em:<br />
Quando existir o contato direto do usuário com os corpos de água como, por exemplo, as atividades de natagão,<br />
esqui aquático e mergulho (CONAMA, 1986). Pesca e esportes náuticos são considerados como sendo de contato<br />
secundário.
Excelente: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em<br />
cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no<br />
máximo, 250 coliformes fecais (termotolerantes) ou 200 Escherichia cozi ou<br />
25 enterococos por 100 mililitros;<br />
Muito Boa: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em<br />
cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no<br />
máximo, 500 coliformes fecais (termotolerantes) ou 400 Escherichia cozi ou<br />
50 enterococos por 100 mililitros;<br />
Satisfatória: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas<br />
em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, hou-<br />
ver, no máximo 1.000 coliformes fecais (termotolerantes) ou 800 Escheri-<br />
chia cozi ou 100 enterococos por 100 mililitros.<br />
A Resolução ainda define que quando for utilizado mais de um indicador micro-<br />
biológico, as águas tenham as suas condições avaliadas, de acordo com o critério mais<br />
restrítivo. Por sua vez, os padrões referentes aos enterococos aplicam-se, somente, as<br />
águas marinhas. Neste caso, as águas são consideradas impróprias quando no trecho a-<br />
valiado for verificada, entre outras condições, valor obtido na última amostragem supe-<br />
rior a 2500 coliformes fecais (termotolerantes) ou 2000 Escherichia cozi ou 400 entero-<br />
cocos por 100 mililitros;<br />
A Resolução 27412000 avança definindo responsabilidades para a garantia da<br />
qualidade da água para contato primário: Os trechos das praias e dos balneários serão<br />
interditados se o órgão de controle ambiental, em quaisquer das suas instâncias (muni-<br />
cipal, estadual ou federal), constatar que a má qualidade das águas de recreação de con-<br />
tato primário justifica a medida. A interdição e a sinalização, por qualquer um dos moti-<br />
vos mencionados acima devem ser efetivadas, pelo órgão de controle ambienta1 compe-<br />
tente; quando a deterioração da qualidade das praias ou balneários ficar caracterizada<br />
como decorrência da lavagem de vias públicas pelas águas da chuva, ou em consequên-<br />
cia de outra causa qualquer, essa circunstância deverá ser mencionada no boletim de<br />
condição das praias e balneários, assim como qualquer outra que o órgão de controle<br />
ambienta1 julgar relevante.<br />
Pode-se observar que a Resolução CONAMA n 0 274/2000, bem como a anterior,<br />
a CONAMA n 0 20/1986, estabelecem padrões de qualidade ambiental e defme as res-
ponsabilidades dos órgãos de controle ambiental. Essa é a legislação vigente que norteia<br />
os projetos para dispersão de esgotos dispostos através de emissários submarinos no<br />
Brasil. Não há, nas resoluções, responsabilidades defínidas para os causadores do dano<br />
ambiental. A população usuária das praias é a única penalizada pelo impedimento ao<br />
acesso ao banho de mar enquanto as condições de balneabilidade permanecerem impró-<br />
prias.<br />
No Brasil, não há uma resolução específica para emissários submarinos definindo limi-<br />
tes para as dimensões das plumas; ou metas de diluição a serem atingidas no campo<br />
próximo e afastado; ou que imponham responsabilidades ao empreendedor quanto ao<br />
monitoramento de seus efluentes. Essas questões acabam por serem definidas durante o<br />
processo de licenciamento ambiental do empreendimento. Há, portanto, uma grande<br />
possibilidade que nem venham a ser cogitadas nos termos de referência por desconhe-<br />
cimento dos técnicos envolvidos no processo de licenciamento ambiental.<br />
Outrossim, a compreensão dos processos oceanográficos, envolvendo correntes<br />
marinhas e estratificação de densidades na coluna d'água, que influenciam diretamente<br />
no comportamento da pluma, pode não ser satisfatoriamente atendida em estudos para<br />
implantação de projetos de disposição oceânica de esgotos por emissários submarinos.<br />
Muitas vezes, as forçantes do escoamento, a variabilidade temporal e espacial desses<br />
processos não são devidamente conhecidos e as conclusões tiradas a partir dos levanta-<br />
mentos podem levar a quantiíicações subestimadas ou superestimadas do potencial po-<br />
luente da pluma.<br />
Informações sobre o decaimento bacteriano são importantes para a modelagem<br />
do transporte de organismos indicadores, principalmente o de bactérias coliformes. Ge-<br />
ralmente, os estudos que buscam essas informações têm reportado valores acentuados<br />
de decaimento. Os trabalhos de campo, no entanto, são efetuados durante o dia, com<br />
base em amostras coletadas próximo a superfkie. Sabendo-se que o decaimento bacteri-<br />
ano é influenciado principalmente pela incidência de luz solar, e que a pluma pode ficar
aprisionada em profundidade, estes valores reportados, se utilizados conservativamente<br />
na modelagem da pluma, irão subestimar a área de abrangência da pluma.<br />
Modelos hidrodinâmicos, comumente usados na modelagem de transporte da<br />
pluma de um emissário submarino, exigem um grande esforço para reproduzir a com-<br />
plexidade da circulação costeira face as dificuldades em conhecer-se as condições de<br />
contorno, especialmente em contornos abertos. Esta dificuldade torna-se maior se o am-<br />
biente for estratificado, o que requer a adoção de um modelo tridimensional baroclínico,<br />
consequentemente mais complexo, portanto. Mesmo adotando-se um modelo com essa<br />
característica, o grau de dificuldade aumentaria uma vez que a estratificação também<br />
teria que ser conhecida no contorno. Modelos de macro e meso escala poderiam ser uti-<br />
lizados para suprir essa necessidade. Note-se, porém, que o esforço computacional re-<br />
querido para este tipo de modelagem é tamanho que dificulta sua adoção nos estudos<br />
básicos para o projeto de engenharia e em programas de monitoramento e alerta.<br />
Uma abordagem mais simples, e por isso mesmo com grande potencial de dis-<br />
seminação, para a resolução do problema foi adotada por Roberts (1999-b) utilizando<br />
um modelo estatístico de curto termo, o FRFIELD. Este modelo utiliza-se de séries<br />
temporais de dados oceanográficos medidos, correntes e densidades, e ainda caracteris-<br />
ticas da descarga e do difusor, acoplados diretamente a um modelo de campo próximo,<br />
o NRFIELD (Roberts, 1999-a). Desta forma, toda a complexidade do escoamento é au-<br />
tomaticamente inserida na modelagem da pluma. Este modelo é utilizado para estimar a<br />
variabilidade espacial de algumas propriedades estatísticas da pluma ao redor do di-<br />
sor, incluindo a freqüência de visitação e a freqüência de excedência. O modelo permite,<br />
portanto, de uma forma mais expedita, avaliar os impactos em diversos pontos do domí-<br />
nio permitindo-se assim projetar eficientemente um sistema de disposição oceânica de<br />
esgotos.<br />
A abordagem de Roberts (1999-b), no entanto, torna-se menos efetiva quando<br />
são utilizadas informações oceanográficas obtidas em poucos pontos de amostragem. É<br />
comum neste tipo de estudo obter-se medições de correntes em apenas um ponto do<br />
domínio. Neste caso, o modelo assume que o campo de correntes é homogêneo espaci-<br />
almente, pelo menos durante o tempo de vida de cada nuvem da pluma. Tal aproxima-<br />
ção fere as leis de conservação da hidrodinâmica, principalmente em locais muito pró-
ximos a costa onde o relevo exerce grande influência na variabilidade espacial do esco-<br />
amento.<br />
Entretanto, com a popularização de instrumentos oceanográfícos mais baratos,<br />
eficientes e que possibilitam a transmissão em tempo real das informações coletadas, tal<br />
abordagem torna-se bastante atraente, tanto para estudos prévios de projetos básicos<br />
quanto para sistemas de monitoramento e alerta que visem a segurança ao contato pri-<br />
mário. Os perííladores de Correntes por Doppler Acústico, conhecidos pela sigla<br />
ADCP~, e as cadeias de terrnistores permitem realizar, com muita precisão e operaciona-<br />
lidade, perfis de correntes e temperatura ao longo de quase toda a coluna d'água em in-<br />
tervalos espaciais de metros e temporais de minutos.<br />
Os modelos hidrodinâmicos, embora mais exigentes ao reproduzir certos deta-<br />
lhes do escoamento por causa da necessidade em se conhecer as condições de contorno,<br />
são as ferramentas apropriadas para conhecer a variabilidade espacial do mesmo. Certas<br />
características do escoamento em uma região costeira aberta com fundo regular e afas-<br />
tada de obstáculos, como ilhas, parcéis e penínsulas, podem variar pouco espacialmente<br />
em determinadas faixas de freqüência. Por exemplo, na faixa de fieqiiências sub inerci-<br />
ais, é de se esperar que todo sistema oscile na mesma fase uma vez que o domínio é<br />
muito menor do que o comprimento de onda da oscilação. É de se esperar, ainda, que as<br />
elipses de corrente em dois pontos distintos, porém próximos, do domínio diferenciem-<br />
se entre si pela variação da direção principal e da amplitude. Os modelos hidrodinârni-<br />
cos de circulação conseguem reproduzir essas características do escoamento em pontos<br />
distintos do domínio.<br />
Partindo desse princípio, um procedimento para a simulação de séries temporais<br />
de correntes marinhas em pontos distintos do domínio, coerentes com as dimensões da<br />
pluma, é apresentado no Capítulo 5. O procedimento acopla informações do escoamento<br />
em baixas freqüências, obtidas a partir de um modelo hidrodinâmico, melhorando a re-<br />
solução espacial do campo de correntes para utilização na abordagem estatística de Ro-<br />
berts (1999b).<br />
DO inglês "Acoustic Doppler Ciurent Profiler"
O presente trabalho tem como objetivo geral aumentar a eficiência da modelagem do<br />
campo de dispersão da pluma de esgotos de emissários submarinos oceânicos. Um estu-<br />
do de caso sobre o Emissário Submarino de Esgotos de Ipanema (ESEI) é efetuado para<br />
este h. Os objetivos específicos traçados são tratados separadamente em quatro capí-<br />
tulos que visam:<br />
Capítulo 2: discutir a estrutura oceanográÍíca da região do ESEI, a estratifkação da<br />
coluna d'água, os períodos principais de oscilação, suas magnitudes, variabilidades<br />
temporais e espaciais;<br />
Capítulo 3: discutir a eficiência da diluição da pluma do ESEI no campo próximo<br />
considerando as variabilidades sazonais;<br />
Capítulo 4: tratar da questão da eficiência da modelagem do decaimento bacteriano<br />
principalmente para plumas submersas;<br />
Capítulo 5: abordar a dispersão da pluma no campo afastado aos difbsores do ESEI<br />
tanto a superficie como no fundo, considerando as particularidades sazonais e os ris-<br />
cos de haver contato primário.<br />
A área de estudo ao redor do Emissário Submarino de Esgotos de Ipanema @SEI) é<br />
mostrada na Figura 1.1. Em operação desde 1975, o ESEI lança atualmente cerca de 6.0<br />
m 3<br />
/s de esgoto doméstico da zona do sul de Rio de Janeiro, cuja população é superior a<br />
2,l milhões de pessoas. Este foi projetado para servir a um máximo de 4,O milhões de<br />
usuários descarregando até 8,O m 3 /s em média com 12.0 m3/s em horas de pico (Britto,<br />
et al., 1986). O emissário está orientado na diregão NNE-SSO, enquanto que o difusor<br />
orienta-se na direção E-O. O emissário, construído em tubos de concreto sustentado por<br />
pilares, possui 4.326 metros de comprimento e 2,4 metros de diâmetro (Figura 1.2). Nos<br />
últimos 449 metros encontra-se o difbsor que consiste de 90 portas em cada lado da tu-<br />
bulação, cada qual com 0,17 metros de diâmetro nominal, espaçadas de cinco metros<br />
entre elas (59 das 180 portas apenas começaram a operar após 1996). O difusor descar-<br />
rega em uma profundidade em torno de 27 metros com as portas apontando para baixo
formando um angulo de 4S0com o eixo horizontal. O esgoto é submetido apenas a um<br />
peneiramento grosseiro antes de ser lançado ao mar.<br />
Os primeiros estudos realizados para implementação do ESEI datam de junho de<br />
1969 (SURSAN, 1969). Neste, foi apresentado, entre outros, o sistema de esgotos da<br />
Zona Sul do antigo Estado da Guanabara; as previsões para a população do Rio de Ja-<br />
neiro; quantidades e características das descargas esperadas; estudos oceanográficos;<br />
alternativas para o destino final do esgoto; comparação entre as alternativas e o antepro-<br />
jeto do plano recomendado, o ESEI.<br />
Rio de Janeiro<br />
Figura 1.1: Mapa de localização da área de estudos com detalhe no entorno do Emis-<br />
sário Submarino de Esgotos de Ipanema - ESEI.
Figura 1.2: Detalhe da construção do ESEI. Os tubos de concreto protendido com<br />
2,4 metros de diâmetro interno são sustentados no fundo por pilares.<br />
Britto et al. (1978) apresenta os resultados de um programa de monitoramento<br />
ambienta1 do ESEI. O estudo concluiu que houve uma sensível melhoria em todas as<br />
cargas poluidoras e que esse fenômeno deveu-se a elevada capacidade de autodepuração<br />
da região escolhida para os difusores. O estudo constatou que todas as condições de<br />
qualidade de água exigidas foram satisfatoriamente atendidas.<br />
Britto et al. (1986) apresentaram uma síntese sobre os dez anos de operação do<br />
ESEI. Os autores concluem que não foi observado impacto ecológico no ecossistema<br />
marinho e que o emissário hncionara bem no período embora as praias continuassem<br />
poluídas, fato atribuído a influência dos canais da Avenida Visconde de Albuquerque e<br />
Jardim de Alá onde foram registradas concentrações de coliformes totais de variando de<br />
1,9x105 a 7,9x109 NM.1100 ml.<br />
Figueiredo (1989) apresentou um estudo da influência do ESEI e dos canais da<br />
Lagoa Rodrigo de Freitas na contaminação por chumbo e cobre dissolvidos nas águas<br />
costeiras adjacentes a Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. O ESEI foi identificado<br />
como a principal fonte desses metais nessas águas. O autor apontara para a necessidade<br />
da realização de estudos complementares com respeito a dinâmica da circulação costeira<br />
local.
Maia (1990) avaliou o impacto ambiental causado pela descarga do ESEI através<br />
do monitoramento mensal, na coluna d'água, de nutrientes, oxigênio dissolvido, matéria<br />
particulada e outros parâmetros fisico-químicos. O autor constatou que os parâmetros<br />
supracitados encontravam-se em condições estacionárias na região do entorno do ESEI.<br />
Este estimou em 56 dias o tempo de vida médio da matéria orgânica particulada em<br />
suspensão que é expelida pelo ESEI. O mesmo concluiu que a profundidade e a distân-<br />
cia a costa na qual se encontram os difusores do ESEI são insuficientes para garantir<br />
uma dispersão eficiente do esgoto em quaisquer condições meteorológicas e oceanográ-<br />
ficas, e finda por recomendar o pré-tratamento do esgoto e a revisão do comprimento do<br />
ESEI.<br />
Carreira (1994) avaliou as possíveis transformações nas características químicas<br />
dos sedimentos próximos ao ESEI após 19 anos de funcionamento do mesmo. O autor<br />
analisou a concentração de carbono e fósforo orgânicos, a especiação do fósforo inorgâ-<br />
nico e do Ferro. O autor concluiu que parte do material orgânico derivado do ESEI pa-<br />
recia depositar-se de forma não totalmente degradada formando um filme superficial<br />
nos sedimentos. O ESEI foi responsabilizado pelo aumento da concentração de fósforo<br />
orgânico no sedimento, o que podia estar aumentando a produtividade primária local em<br />
função da biodisponibilizaqão deste elemento devido a ação de bactérias.<br />
O Britto et aí. (1996) apresentou uma síntese sobre o monitoramento ambiental<br />
em vinte anos de operação do ESEI. As conclusões efetuadas pouco diferiram do estudo<br />
de Britto (1986) sobre os 10 anos de operação do mesmo. Os pontos que apresentaram<br />
maior contaminação foram os localizados próximos as embocaduras dos canais da La-<br />
goa Rodrigo de Freitas. Os demais pontos apresentaram-se propícios a balneabilidade<br />
segundo a legislação brasileira. O estudo conclui que não houve prejuízo a biota mari-<br />
nha embora admita que houve um aumento da produtividade primária no local.<br />
Rosman (1998) apresentou simulações hidrodinâmicas e de transporte da pluma<br />
do ESEI em condições de coluna d'água não estratiiícada. Com base nas campanhas de<br />
medição efetuadas, esta condição foi considerada predominante em 80% do ano. Con-<br />
cluiu-se que para plumas com decaimento bacteriano alto (T90 < 6 horas) é impossível a<br />
mesma atingir o litoral carioca com concentrações significativas. Para as plumas com<br />
decaimento menor - 24 horas), alcançar a praia com concentração significativa se-<br />
ria uma situação muito pouco provável. Em todas as simulações, o limite de balneabili-
dade de 1000 NMP1100 ml localizou-se a mais de 2500 metros das praias. O estudo a-<br />
presenta ainda resultados qualitativos da contaminação que o Canal da Rua Visconde de<br />
Albuquerque causa nas praias do Leblon e Ipanema.<br />
Carvalho et al. (2002) relata experimentos com traçadores fluorescentes realiza-<br />
dos no ESEI entre 1996 e 1997. Como este trabalho foi realizado dentro do mesmo<br />
programa de investigação que resultou nesta tese e complementa os tópicos aqui discu-<br />
tidos, a publicação de Carvalho et. a1 (2002), publicada no "Journal of Hydraulic Engi-<br />
neering", foi adicionada no Anexo 1. O estudo compara os resultados de diluição inicial<br />
e outros parâmetros geométricos da pluma observados no campo com parâmetros simu-<br />
lados por modelos de campo próximo adotados pela "United States Environmental Pro-<br />
tection Agency" (USEPA). Os experimentos foram efetuados em coluna d'água tanto<br />
em condições estratíflcadas quanto homogêneas. De uma maneira geral, todos os mode-<br />
los foram eficientes para modelagem da pluma no campo próximo.
CAP~TULO 2: PADRÕES DE CIRCULAÇAO OCEÂNICA NA COSTA<br />
DO RIO DE JANEIRO<br />
Em projetos de emissários submarinos, é essencial conhecer-se a estrutura oceanográfi-<br />
ca do corpo receptor. Entende-se aqui por estrutura oceanográfica os padrões de circula-<br />
ção e massa d'água característicos de uma determinada região oceânica. O conhecimen-<br />
to dos padrões médios de correntes, distribuição vertical de densidades, seus períodos de<br />
oscilação mais representativos, bem como suas variabilidades nas escalas de tempo e<br />
espaço compatíveis com a dinâmica de plumas, compõem o conjunto de informações<br />
necessárias para a elaboração de projetos básicos de engenharia de emissários submari-<br />
nos. Quanto mais detalhada for a descrição dessas informações, maior será a probabili-<br />
dade de eficiência da obra proposta. Os engenheiros projetistas, valendo-se de tais in-<br />
formações, poderão incorporar ajustes nos aspectos geométricos do sistema de disposi-<br />
ção oceânica e ou no grau de tratamento prévio do efluente de forma a obter-se uma me-<br />
lhor relação custo-beneficio para a obra, buscando-se melhores indicadores ambientais<br />
na região a que se deseja proteger.<br />
Na ocasião da construção do ESEI, os instrumentos utilizados para a investiga-<br />
ção oceanográfica não permitiram uma visão sinóptica adequada da estrutura oceano-<br />
gráfica. Os estudos para o projeto do mesmo foram conduzidos pelo Alf". Paulo Moreira<br />
da Silva utilizando principalmente cartões de deriva. Um total de 29.254 cartões foi lan-<br />
çado entre maio de 1959 e janeiro de 1965. Destes, 1.680 foram recuperados entre a<br />
praia do Leblon e o município de Maricá (SURSAN, 1969). Os estudos contemplaram<br />
ainda o lançamento e rastreamento de flutuadores e a observação sistemática da Mancha<br />
do Vidigal. Na Ponta do Vidigal ocorria o langamento de cerca de 1,O m 3 /s de esgotos in<br />
natura. Na ocasião, observou-se uma alta correlação entre o sentido de deriva da man-<br />
cha e a direção do vento predominante.<br />
Moreira da Silva (in SURSAN, 1969) cita o seguinte texto: Na região da Gua-<br />
nabara, pescadores e desportistas sabem de há muito que os ventos de leste (entenden-<br />
do-se como ventos provindos do setor leste) fazem as "upas correr para o sul" (enten-
do-se como r'sul" as direções de FSlTozi S v, e que os ventos de oeste (entendendo-se<br />
como oeste o setor de oeste, muito especialmente WW e Sv, as fazem "correr para<br />
leste". Como os ventos de leste (6om tempo) e os ventos de oeste (mau tempo) se alter-<br />
nam, também se alternam as correntes. Mas tal generalização, embora zitil, é demasza-<br />
damente ampla para aplicações praticas, sobretudo por ignorar os períodos de transi-<br />
ção. O texto mostra que o padrão de circulação na escala de tempo sub-inercial já era<br />
conhecido, acreditando-se haver uma total correspondência com o vento local. Para<br />
mostrar essa correlação foram efetuadas três campanhas de medições simultâneas de<br />
vento e correntes marinhas, durante os períodos de 5 a 7, 13 a 16 de junho de 1959 e 12<br />
a 20 de setembro de 1960, na região próxima ao ESEI com navio fundeado. Os resulta-<br />
dos mostraram alta correlação entre vento e corrente no período permitindo ao autor va-<br />
lidar formulações de dependência vento-corrente que fundamentaram os estudos para o<br />
projeto do ESEI.<br />
Informações sobre correntes oceânicas e estrutura de densidades obtidas por pe-<br />
ríodos relativamente longos na plataforma continental interna do Rio de Janeiro são ra-<br />
ros. As medições existentes são demasiadamente curtas para identificar e caracterizar<br />
satisfatoriamente períodos de oscilação sub-inerciais. Estudos sobre propagação de on-<br />
das de plataforma continental têm sido efetuados utilizando-se informações de nível<br />
d'água obtidos em estações maregraficas costeiras (Castro & Lee, 1995; Trucollo, 1998;<br />
Carvalho et al., 1996, Paiva, 1993). No entanto, pouca informação tem sido reportada<br />
apresentando os aspectos hidrodiiâmicos dessas ondas longas na Plataforma Continen-<br />
tal Sudeste (PCSE) do Brasil, em especial com relação às estruturas de correntes e estra-<br />
tficação de densidades. Os modelos conceituais apresentados para explicar a circulação<br />
na PCSE geralmente associam as oscilações de nível do mar e movimentos de massas<br />
d'água a ação direta do vento agindo sobre a superfície do mar. Trucollo, 1998 observou<br />
que o nível d'água em São Francisco do Sul - SC era mais coerente com os ventos me-<br />
didos no Rio Grande do Sul do que com os medidos localmente. Isto sugere que essas<br />
ondas podem não apenas ser forçadas localmente pelo vento, mas também estarem pro-<br />
pagando-se ao longo da costa, tendo sido geradas por abalos meteorológicos ocorridos<br />
mais ao sul.<br />
Uma vez que ondas longas propagando-se em águas rasas são melhor observa-<br />
das através da análise das componentes horizontais de velocidade de correntes (Hsieh,
1982), uma investigação de longo termo baseada em informações medidas de correntes<br />
oceânicas, e o cruzamento com séries temporais de estrutura vertical de densidades, ele-<br />
vação do nível do mar e ventos, permite entender mais precisamente a dinâmica ocea-<br />
nográfica costeira e a relação com os fenômenos meteorológicos que nela influenciam.<br />
A partir da análise de séries temporais de parâmetros oceanográficos medidas<br />
por técnicos da COPPE em 1997, em dois locais distintos do litoral carioca, com o tra-<br />
balho desenvolvido nesta tese foi possível:<br />
Descrever estatisticamente as variáveis meteorológicas e oceanográficas envol-<br />
vidas no estudo.<br />
Identificar os principais períodos de oscilação a que estão sujeitas as correntes<br />
no litoral do Rio de Janeiro.<br />
Avaliar, ao longo do ano de 1997, as variações na predominância dos períodos<br />
de oscilação encontrados.<br />
Identificar particularidades sazonais, principalmente com respeito ao padrão de<br />
estratíficação da coluna d'água.<br />
Verificar a correlação destes períodos com outras propriedades meteorológicas e<br />
oceanográficas como posição do nível d'água, ventos e estratificação de densi-<br />
dades, medidas ou previstas para a costa do Rio de Janeiro.<br />
Avaliar a correlação entre as correntes medidas simultaneamente, em dois pon-<br />
tos distintos, durante o experimento da COPPE.<br />
Deste modo, identifícaram-se padrões de semelhança típicos na dinâmica de cir-<br />
culação a fim de aperfeiçoar a resolução espacial da modelagem numérica da dispersão<br />
do efluente; e identscar cenários típicos para posteriormente, auxiliado por modelagem<br />
numérica de circulação e transporte, inferir sobre os efeitos da pluma do ESEI sobre a<br />
linha de costa.<br />
Este capítulo será estruturado da seguinte forma: primeiro, será apresentada uma<br />
descrição, baseada em trabalho publicado pelo autor (Carvalho et al., 1998) e em cita-<br />
ções mais recentes, do estado da arte do conhecimento sobre a oceanografia regional da<br />
PCSE; posteriormente, será efetuada a fundamentação teórica de espectros rotatórios,<br />
esta que será a principal ferramenta de análise das informações dos dados de corrente e
ventos; as iriformações meteorológicas e oceanografícas utilizadas neste trabalho serão<br />
então apresentadas, analisadas e discutidas.<br />
A Plataforma Continental Sudeste do Brasil (PCSE), segundo segmentação do litoral<br />
brasileiro proposta por Castro Filho, 1990, é limitada ao norte pelo Cabo Frio (23"S), ao<br />
sul pelo Cabo de Santa Marta Grande (28"40'S), a oeste pela linha de costa e a leste pe-<br />
la quebra da plataforma localizada em profundidades variando entre 120 e 180 metros<br />
(Castro Filho, 1990). A PCSE é côncava com a batimetria seguindo a direção geral NE-<br />
SO. No litoral do Rio de Janeiro esta segue a direção E-O, enquanto que em Santa Cata-<br />
rina assume a direção N-S.<br />
2.2.1 Massas D'água<br />
A estrutura oceanográfica da PCSE foi estudada inicialmente por Emilson (1961). Este<br />
classificou as massas d'água que ocorrem na região como Água Tropical (AT) (T>20°C<br />
e S36.4) que é transportada para o sul pela Corrente do Brasil (CB); Água Costeira<br />
(AC), bastante idiuenciada pelo aporte continental de água doce; Água Subtropical<br />
(T
clina sazonal bem acentuada, e durante o inverno a coluna d'água é predominantemente<br />
homogênea e com temperaturas mais baixas. Na PE não são observadas variações sazo-<br />
nais significativas.<br />
35 psu 36 ~ su<br />
35 psu 36 psu<br />
Tropical<br />
-P 20 "C<br />
ua Central do<br />
Tropical<br />
Figura 2.1 : Representação esquemática clássica da estrutura de massas d'água na<br />
PCSE nas situações de inverno e verão (modificado de Matsuura, 1986).<br />
Note-se a penetração da ACAS junto ao fundo por sobre a plataforma<br />
continental durante o período de verão. O que Matsuura, I986 chamou de<br />
Água de Plataforma é classificado por outros autores como a mistura das<br />
ma<br />
Carvalho et al. 1998 constatou, no Litoral Centro Norte de Santa Catarina, a pre-<br />
sença de massas d'água costeiras com características muito semelhantes as encontradas<br />
na Plataforma Continental Sul (PCS). Na PCS, a contribuição continental, bastante sig-<br />
nificativa, é efetuada através da Barra do Rio Grande e mais ao sul pelo Estuário do Rio<br />
da Prata. A feição oceanográfíca mais importante na PCS é a confluência das correntes<br />
do Brasil e Malvinas formando a extremidade oeste da Convergência Subtropical (CS).
A CS migra sazonalmente influenciando fortemente a distribuição de massas d'água e<br />
circulação na PCS. No inverno, a região é dominada pela Água Subantártica (ASA)<br />
(4.0°C < T < 15°C e 33.7 < S < 34.15) que se move para o norte devido a ação de cor-<br />
rentes costeiras. No verão, a PCS é dominada pela AT que é transportada para o sul pela<br />
Corrente do Brasil (Castro Filho & Miranda, 1998). A ASA, em seu movimento para o<br />
norte no inverno tem sua salinidade reduzida pela contribuição continental. Miranda<br />
(1972) apud Miranda (1979) sugeriu que a Água Costeira poderia ser subdividida em<br />
Água Costeira com Influência Subantártica (ACISA) (S < 34.0), característica do inver-<br />
no, e Água Costeira com Influencia Tropical (ACIT) característica do verão. A penetra-<br />
ção desta água fiia e pouco salina (ACISA) pela costa sul do Brasil frequentemente o-<br />
corre por sobre a PCSE no inverno. Campos et al. (1996) constatou uma incursão desta<br />
água até 24OS no inverno de 1993.<br />
2.2.2 Mecanismos de transporte na Plataforma Continental Sudeste do Brasil<br />
2.2.2.1 Forçantes meteorológicas<br />
O padrão característico das condições meteorológicas na PCSE é dominado pelo Antici-<br />
clone (serni-fixo) do Atlântico Sul (AAS) e pelo Anticiclone Polar Móvel (APM). Peri-<br />
odicamente, a situação de bom tempo induzida pelo AAS, caracterizada por ventos mo-<br />
derados vindos de nordeste, é perturbada pelo deslocamento de sistemas frontais força-<br />
dos pelo APM. Estes sistemas fkontais formam-se geralmente sobre o Oceano Pacaco<br />
Sul, dirigem-se para Leste até encontrarem os Andes, e, entre 40 e 20°S, seguem no sen-<br />
tido sudoeste-nordeste ao longo da costa leste sul americana. Eventualmente, os siste-<br />
mas frontais podem atingir latitudes menores do que 13"s Wousky, 1979, qud Castro<br />
Filho & Miranda, 1998).<br />
Stech & Lorenzzetti (1992) propuseram um modelo conceitual para passagem de<br />
fi-entes fiias sobre a PCSE, ilustrado na Figura 2.2. Segundo o modelo, um observador<br />
localizado sobre um ponto fíxo na PCSE presenciaria a evolução do seguinte quadro:<br />
Antes da passagem do sistema fi-ontal, ventos de NE sopram persistentemente sobre a<br />
região com velocidade média de 5 mís; quando a fkente aproxima-se do observador, o<br />
vento gira de nordeste para noroeste no sentido anti-horário; imediatamente após a pas-
sagem da frente fi-ia o vento passa a soprar de sudoeste com velocidade média de 8 mls;<br />
nas próximas 24 horas o vento ronda gradativamente de sudoeste para nordeste nova-<br />
mente, no sentido anti-horário. O tempo médio de propagação de uma frente fia sobre a<br />
PCSE é de 2 dias, o que confere a mesma uma velocidade de 500 km/dia. Este quadro<br />
se repete em média de 3 a 6 vezes por mês, ou seja, com período entre ftentes variando<br />
de 5 a 10 dias.<br />
Figura 2.2: Representação gráfica do modelo conceitual da passagem de frentes fri-<br />
as sobre o sudeste do Brasil (adaptado de Stech & Lorenuetti, 1992). An-<br />
tes da passagem do sistema frontal, ventos de NE sopram sobre a região<br />
com velocidade média de 5 mls. Quando a frente passa, o vento gira de<br />
nordeste para noroeste no sentido anti-horário e, imediatamente após a<br />
passagem da mesma, o vento passa a soprar de sudoeste com velocida-<br />
de média de 8 mls. Nas 24 horas seguintes, o vento ronda gradativamente<br />
de sudoeste para nordeste novamente, no sentido anti-horário.
A fi-ente fiia é a separação fisica de duas massas de ar distintas, uma tropical ma-<br />
rítima e outra polar. O ar quente e úmido eleva-se na região da fi-ente induzindo o au-<br />
mento da nebulosidade e conseqüentemente da pluviosidade. A medida que propagam-<br />
se para NE, eventualmente, estas fi-entes estacionam sobre a PCSE causando períodos<br />
longos de chuva. O mais comum, entretanto, é a fi-ente dissipar-se ou desviar-se para<br />
leste. Assim sendo, a fkequência da ocorrência de sistemas frontais diminui em direção<br />
ao Equador e aumenta no inverno, quando o APM, fortalecido, empurra as frentes e a<br />
AAS mais para o norte.<br />
2.2.2.2 Resposta OceanograJica<br />
Castro Filho (1990) propõe um modelo conceitual para a circulação gerada pelo vento<br />
na PCSE que explica a variação sazonal da estrutura de massas d'água encontrada na PI.<br />
Durante o verão, quando se observa uma estratificação acentuada formando duas cama-<br />
das distintas separadas por uma termoclina sazonal, os ventos predominantes provêm do<br />
quadrante N-E. As componentes do vento paralelas a costa são responsáveis pelo trans-<br />
porte da água superficial para mar aberto. A divergência superficial resultante, além de<br />
abaixar o nível do mar na costa induz a ressurgência da ACAS em direção à mesma. O<br />
abaixamento do nível do mar cria uma força gradiente horizontal de pressão apontando<br />
para a costa. Se houver persistência suficiente do vento (20 horas aproximadamente) a<br />
força de gradiente horizontal de pressão entra em equilíbrio com a força de Coriolis re-<br />
sultando numa corrente paralela a costa e no mesmo sentido do vento. Abaixo da termo-<br />
clina, no entanto, o sentido da corrente se inverteria uma vez que a força gradiente hori-<br />
zontal de pressão apontaria para o sentido contrário, ou seja, para mar aberto. Isto por-<br />
quê a ressurgência de águas mais densas em direção a costa promoveria a inclinagão da<br />
termoclina neste sentido intensificando a condição baroclínica e forçando a inversão do<br />
gradiente de pressão. Durante o inverno, os ventos predominantes provêm do quadrante<br />
S-O. As componentes do vento paralelas a costa agora induzem um transporte do mar<br />
aberto em direção a mesma, causando uma convergência superfkial costeira e conse-<br />
qüentemente a elevação do nível do mar e o afastamento das águas localizadas abaixo<br />
da picnoclina. Neste caso, a força de gradiente horizontal de pressão aponta para mar<br />
aberto e a corrente paralela a costa, resultante do equilíbrio desta com a força de Corio-<br />
lis, flui no mesmo sentido do vento predominante. Como a coluna d'água estaria homo-
gênea sobre a PI a condição seria barotrópica, ao contrário do verão, não havendo inver-<br />
são de correntes em profùndidade, o que favoreceria a penetração de águas provindas do<br />
sul em toda a coluna d'água. A este padrão de oscilação dar-se-á o nome de Corrente<br />
Costeira.<br />
Souza (2000) encontrou períodos dominantes de oscilação em 5 a 8,5, 13 e 20,6<br />
dias na PCSE. Os dois primeiros períodos são coerentes com os encontrados por Castro<br />
Filho & Miranda (1998) e Castro Filho & Lee (1995), sendo atribuídos a influência<br />
direta da passagem de fi-entes fias. Carvalho et aí. (1999) cita períodos de oscilação na<br />
costa do Rio de Janeiro de até 18 dias no ano de 1997. Garzoli & Bianchi (1987) apud<br />
Souza (2000) encontraram períodos de 21,6 dias na costa da Argentina, ao que atribuí-<br />
ram provavelmente à passagem de ondas longas aprisionadas propagando-se para o nor-<br />
te no talude continental.<br />
Os mecanismos discutidos acima são o resultado de um equilíbrio dinâmico, e-<br />
videnciado numa escala sazonal, da ação de eventos sucessivos com escala de tempo<br />
menores. A dinâmica de sistemas frontais sobre a PCSE é a principal responsável pelo<br />
padrão de ventos dos quadrantes N-E e S-W. E, como estes eventos ocorrem o ano intei-<br />
ro com períodos que variam de 4 a 18 dias é de se esperar que os mecanismos de trans-<br />
porte descritos anteriormente ocorram também o ano inteiro, na mesma escala de tempo.<br />
O que se observa na realidade é o efeito resultante, ora com o predomínio de uma, ora<br />
de outra condição.<br />
2.2.2.3 A Corrente do Brasil<br />
A circulação no limite leste da PCSE é dominada pela Corrente do Brasil. A CB é a cor-<br />
rente de contorno oeste que completa o giro do Atlântico Sul. Esta surge em torno de<br />
10"s alimentada, com cerca de 4 Sv, pela Corrente Sul Equatorial (CSE) (Castro Filho<br />
& Miranda, 1998) e flui para sudoeste até a Confluência Brasil-Malvinas (CBM), loca-<br />
lizada em torno de 38"s. Esta última é caracterizada por uma fi-ente termohalina bem<br />
desenvolvida separando a Água Tropical quente da CB da Água Subantártica fia da<br />
Corrente das Malvinas. A capacidade de transporte da CB é pequena (< 11 Sv segundo
Peterson & Strarnma, 1991) quando comparada a outras correntes de contorno oeste,<br />
como as Correntes do Golfo e Kuroshio.<br />
Na PCSE, a CB segue de NE para SO, meandrando sobre a quebra da platafor-<br />
ma, em torno da isóbata de 200 metros (Calado et al. 2000). Com a acentuada mudança<br />
na direção do litoral em Cabo Frio, a CB apresenta um padrão meandrantre acentuado<br />
dando, frequentemente, origem a fortes vórtices frontais ciclônicos e anticiclônicos<br />
(Campos et al., 1995). Estes meandros e vórtices são feições marcantes na parte externa<br />
da PCSE que produzem perturbações no padrão dominante da corrente NE-SO e contri-<br />
buem para a subida da ACAS do talude para a plataforma continental (Castro Filho et<br />
al. (1987); Campos et al., 1999).<br />
Garfield (1990), utilizando imagens NOAA, mostrou que uma parte importante<br />
da CB localiza-se sobre a PCSE e em locais com lâminas d'água menores do que 500<br />
metros. Esta aparece fina e rasa em 24"s transportando AC e ACAS em profundidades<br />
menores do que 400 metros. Em 3 1"s a CB fica mais larga e funda, possivelmente pela<br />
contribuição de águas costeiras e a entrada de ACAS do giro subtropical. Evans & Sig-<br />
norini (1985) encontraram, em 24"S, um transporte de 5 Sv ocorrendo em lâmina<br />
d'água inferior a 200 metros, contra 6 Sv sobre o talude continental.<br />
2.2.2.4 A Reswgência de Caho Frio<br />
Há evidências de que perto do Cabo de São Tomé (22"S), a nordeste da PCSE, a CB<br />
ocupa a maior parte da plataforma continental durante o verão, sendo encontrada inclu-<br />
sive na plataforma interna. Medições diretas (Harari et al. 1993) evidenciaram nesta é-<br />
poca correntes predominantes para sudoeste. Este movimento é reforçado pelos ventos<br />
de nordeste oriundos do AAS. Na região de Cabo Frio, a incidência de tais ventos causa<br />
a advecção dessas águas costeiras superficiais aquecidas para fora da costa e, por conti-<br />
nuidade, força a ressurgência da ACAS junto a mesma. Tal fato é reforçado pela alta<br />
correlação entre temperaturas baixas na supeficie da água e eventos com ventos so-<br />
prando de leste e nordeste (Miranda, 1982).<br />
Imagens TSM evidenciam esse fenômeno (Castro & Miranda, 1998) e mostram<br />
ainda a advecção dessas águas fias induzida pelo padrão normal de correntes costeiras
influenciando as regiões do entorno de Cabo Frio, incluindo o litoral do município do<br />
Rio de Janeiro.<br />
2.3 ANÁLIsE ESPECTRAL ROTATÓRIA<br />
Em Oceanografia Física e Meteorologia, frequentemente faz-se necessário analisar sé-<br />
ries temporais de vetores no domúiio da fiequência. No procedimento mais comum,<br />
usa-se decompor as séries de vetores em componentes paralela e perpendicular a um<br />
alinhamento mais representativo do escoamento. Os espectros das duas componentes<br />
são então obtidos separadamente. Agora, imaginando-se que numa determinada faixa de<br />
freqüências, a direção do escoamento não seja necessariamente a mesma da direção<br />
principal, e deseja-se quantificar o conteúdo energético nesta faixa também. Supondo-se<br />
que essa diieção fosse conhecida, promover-se-ia uma rotação no eixo do sistema de<br />
coordenadas de forma que um deles coincidisse com a direção predominante na fie-<br />
quência desejada. Ao efetuar-se a rotação notar-se-ia que o conteúdo energético dos es-<br />
pectros fora alterado, dificultando sobremaneira a interpretagão dos fenômenos. Ou seja,<br />
o conteúdo energético dos espectros é dependente da orientagão dos eixos de coordena-<br />
das.<br />
Os espectros rotatórios são uma forma de contornar esse problema. Estes foram<br />
apresentados por Gonella (1972) e Mooers (1973) com base nos conceitos originalmen-<br />
te apresentados por Fofonoff (1969). Nestes, um vetor velocidade pode ser representado<br />
como um número complexo.<br />
As componentes oscilatórías do vetor velocidade executam órbitas elípticas pe-<br />
riódicas no plano hodográfico. O vetor pode ser decomposto, para cada fiequência, em<br />
dois movimentos circulares de sentidos opostos, cada qual com sua amplitude e fase. Os<br />
movimentos anti-horários correspondem aos das frequências positivas, e os horários,<br />
aos das fiequências negativas. A série temporal de vetores pode ser representada no<br />
domínio da freqüência por:
onde<br />
A e 4 e C e B são as amplitudes e fases das componentes anti-horárias e horárias res-<br />
pectivamente, na fi-equência a .<br />
4-0<br />
Se introduzirmos os ângulos a = - e P=- em (2.3) então,<br />
2 2<br />
onde a e p são a direção do eixo maior e a fase temporal da elipse, respectivamente.<br />
É interessante agora defuiir funções espectrais que são invariáveis face a uma ro-<br />
tação do sistema de coordenadas. Quatro fùnções são particularmente úteis: a energia<br />
cinética média ou o espectro total, o coeficiente de rotação, a orientação da elipse e a<br />
estabilidade da elipse.<br />
onde<br />
O espectro total é o resultado da soma dos espectros horários e anti-horários:<br />
s- = %(C, 1 +Cw - 2Q_) 6 o espectro horário e (2-6)<br />
1<br />
,!i'+ = %(C,, + C, + 2Qu,) é o espectro anti-horário. (2-7)<br />
Os termosC,, e C, são os auto-espectros das séries de componentes u e v e<br />
Q,, é o quad-espectro do espectro cruzado entre as mesmas.<br />
O coeficiente de rotação é dado por:
Este varia entre -1 para rotação circular no sentido horário e +l para rotação cir-<br />
cular no sentido anti-horário. Quando C, tende a zero, a elipse achata-se gradativamen-<br />
te até a que os vetores apresentem apenas pulsação sem rotação.<br />
A direção da elipse em cada fkequência é dada por:<br />
onde C, é o co-espectro do espectro cruzado entre as componentes u e v. O coeficien-<br />
te de estabilidade da elipse é dado por:<br />
O coeficiente de estabilidade indica o quão estável e signtficativa, no tempo, é a<br />
direção do escoamento. Este varia entre O e 1 podendo ser interpretado de forma seme-<br />
lhante a coerência entre duas séries reais.<br />
A análise espectral rotatória permite ainda cruzar séries de dois vetores ou de um<br />
vetor com um escalar. Sejam duas séries de vetores representadas por suas componentes<br />
w, = u, + iv, e w, = u, + iv, . O espectro cruzado interno entre as duas séries de vetores<br />
é definido como:<br />
onde SUjuk, Svjvk , S,,'vk, Svj, são os espectros cruzados entre as componentes cartesianas<br />
dos vetores. Fisicamente, Swj, é o espectro cruzado entre as componentes anti-horárias<br />
(horárias) das séries j e k para o 2 O (o 5 O ). Expandindo os termos em (2.1 1) tere-<br />
mos:
como:<br />
O auto-espectro interno é, a partir daí, obtido por:<br />
A coerência interna ao quadrado entre os vetores 1 e 2, y;, é definida como:<br />
A fase interna z12 é definida como:<br />
xl2 = arctan<br />
Pode-se definir ainda o espectro cruzado externo entre duas séries vetoriais<br />
Expandindo os termos em (2.16) teremos:<br />
Fisicamente, Kv,, é o espectro cruzado entre a componente horária (anti-horária)<br />
da série 1 com a componente anti-horária (horária) da série 2 para a 2 0 (a 1 0). A<br />
coerência externa ao quadrado é defkida como:
e a fase externa como:<br />
v,, = arctan<br />
Os parâmetros apresentados acima são função da fiequência angular,<br />
o(-m~aroo).<br />
As fases interna e externa podem ser utilizadas para definir a diferença média<br />
entre as orientações das elipses, Aa,, = al - a,, fazendo-se:<br />
e a diferença de fase média entre as duas elipses, AP,, = Pl - P2, fazendo-se:<br />
2.4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS METEOROLÓGICOS E OCEANOGRÁFI[COS DISPONÍ-<br />
VEIS<br />
No período compreendido entre 29 de novembro de 1996 e 15 de janeiro de 1998, a<br />
COPPE, através do Laboratório de Traçadores, realizou uma grande campanha de medi-<br />
ções oceanográficas no litoral do Rio de Janeiro com o objetivo de subsidiar estudos<br />
sobre a dispersão no Emissário Submarino de Esgotos de Ipanema (ESEI). Próximo a<br />
extremidade do difusor, numa profundidade de 28 metros e sob as coordenadas<br />
23"00'59,2" S e 043O13 ' 19,ó" W (Figura 2.3), foi instalado um perfilador acústico dop-<br />
pler de correntes (ADCP) modelo RDI sentinelB 300-IcHz broadband. Este foi progra-<br />
mado para obter informações de correntes marinhas em intervalos de 2,5 metros, entre<br />
1,O e 21,O metros de profundidade, com médias de 5 minutos a cada meia hora. Simul-<br />
taneamente, perfis de temperatura da água foram medidos por uma cadeia de termistores<br />
modelo Aanderaa TR-7@ também a cada meia hora, entre 7,7 e 27,7 metros com espa-<br />
çamento de 2,O metros entre os sensores.
042O40' W 042O20' W 042°00' W<br />
Figura 2.3: Mapa de localização das estações de coleta de dados.<br />
Entre os dias de 29 de novembro de 1996 e 21 de março de 1997 um segundo<br />
conjunto de ADCP e cadeia de termistores, com as mesmas características descritas a-<br />
cima, operou sob as coordenadas 23'00' 04"s e 042'12' 28"W, em uma lâmina d'água<br />
de 26 metros. As medições de corrente foram efetuadas entre 07 e 23 metros, a cada 2<br />
metros e as de temperatura entre 6,7 e 24'7 metros, também a cada 2 metros. A este con-<br />
junto de dados dar-se-á o nome de fundeio raso (Figura 2.3).
Depois de 21 de março de 1997, o conjunto de equipamentos do fbndeio raso foi<br />
transferido para outro local dentro da Baía de Guanabara a fim de efetuar medições para<br />
os estudos do Emissário Submarino de Esgotos de Alegria (EsEA)~. O mesmo foi fun-<br />
deado a uma profundidade de 20 metros em baixo da ponte Rio-Niterói (Figura 2.3).<br />
Todas as campanhas oceanográficas foram bem conduzidas alcançando taxas de<br />
recuperação superiores a 99 %. As séries temporais brutas, com exceção do primeiro<br />
nível de correntes do fundeio do ESEI, aparentaram boa qualidade. Poucos momentos<br />
de falha foram observados, causados unicamente pela atividade de manutenção dos e-<br />
quipamentos e recuperação dos dados.<br />
Informações de nível do mar para todo o ano de 1997 foram obtidas na Estação<br />
Maregráfíca da Ilha Fiscal mantida pela Marinha do Brasil. Os dados estão disponíveis<br />
no Banco Nacional e Dados Oceanográficos (BNDO) operado pelo Centro de Hidrogra-<br />
fia da Marinha (CHM). A estação possui um marégrafo analógico cujos registros são<br />
digitalizados na CHM. As séries temporais são disponibilizadas em meio magnético em<br />
intervalos horários.<br />
As séries temporais de vento utilizadas neste trabalho foram obtidas através das<br />
reanálises dos modelos meteorológicos do "National Centers for Environrnental Predic-<br />
tion" (NCEP) e do "National Center for Atmospheric Research" (NCAR) que são dis-<br />
ponibilizados pelo "Climate Diagnostics Center" (CDC) da NOAA<br />
(www.cdc.noaa.gov/cdc). Este serviço disponibiliza diversos parâmetros meteorológi-<br />
cos obtidos pelos modelos meteorológicos assimilando de dados observados desde<br />
1948. Informações instantâneas dos parâmetros são fornecidas a cada 6 horas, em pon-<br />
tos de grade espaçados de 2,5 graus entre 0" e 360°de longitude e de 80"s a 80°N de<br />
latitude. O ponto escolhido para as informações foi 23"48,6' S e 043"7,5' W.<br />
Os dados do ESEA não serão apresentados nesse capítulo, mas serão utiIizados posteriormente para a validação do<br />
modelo numérico de circulagão.
2.5.1 Análise das séries temporais<br />
As séries temporais de correntes, temperatura, nível d'água e vento foram submetidas a<br />
rotinas de processamentos de dados elaboradas em ambiente MATLAB. O processa-<br />
mento consistiu basicamente em análise de consistência, análise estatística básica e aná-<br />
lise espectral rotatória.<br />
A análise de consistência teve como objetivo detectar a presença valores espú-<br />
rios nas séries temporais e então corrigir ou rejeitar trechos defeituosos. Foram efetua-<br />
dos testes de valores fora dos limites de detecção dos equipamentos, "spikes" e valores<br />
sucessivos iguais. Acreditando que os testes de consistência numérica são apenas ferra-<br />
mentas de apoio a decisão, e que estas não são capazes de superar a eficiência do julga-<br />
mento pessoal, utilizou-se a inspeção visual das séries temporais como principal ferra-<br />
menta para avaliação da qualidade das medições. Os poucos e curtos trechos com au-<br />
sência de medição, ocasionados pelas operações de manutenção e recuperação das in-<br />
formações, foram preenchidos através de interpolação linear.<br />
As séries de nível d'água foram submetidas a análise harmônica utilizando-se o<br />
sistema PAC, em versão DOS, de análise e previsão de marés cujo embasamento teórico<br />
está descrito em Franco, 1988.<br />
Como forma de facilitar a visualização e permitir a compreensão dos fenômenos<br />
oceanográficos, cujas escalas espaciais e temporais são compatíveis com a dinâmica da<br />
pluma do ESEI, utilizou-se da plotagem simultânea das séries temporais disponíveis.<br />
Por vezes, não só a visualização como o processamento exigia que fossem separadas,<br />
em séries distintas, fiequências sub-inerciais e supra-inerciais. Isso foi possível através<br />
da utilização de um filtro passa-baixa baseado na janela de Lanczos adaptado de Emery<br />
& Thomsom (1998). O filtro aplicado possui período de corte de 40 horas conforme é<br />
observado na sua fkção de transferência (Figura 2.4). Nota-se que períodos menores do<br />
que 0,3 c.p.d. (3,3 dias) não são afetados pelo mesmo, e os maiores do que 0,8 c.p.d. (30<br />
horas) são efetivamente eliminados. O efeito contrário, isto é um filtro passa-alta, é ob-<br />
tido fazendo-se:
Onde, H é a função de transferência na freqüência angular a .<br />
As séries temporais vetoriais, ou seja, tanto de vento quanto de corrente, foram<br />
submetidas a tratamentos semelhantes. Efetuaram-se descrições estatísticas de longo<br />
termo agrupando-as na forma de diagramas de fkequência de ocorrência conjunta de ve-<br />
locidade e direção para um período anual.<br />
O 0.5 I 1.5 2 2.5<br />
Frequencia (c.p.d.)<br />
Figura 2.4: Função de transferência do filtro Lanczos com período de corte de 0,6<br />
c.p.d. (40 horas). A linha contínua em vermelho é a função teórica obtida<br />
segundo Emery & Thomson, 1999. As linhas pontilhadas são as funções<br />
estimadas segundo (2.22) para as séries temporais de verão, outono, in-<br />
verno e primavera. Note-se que períodos menores do que 0,3 c.p.d. não<br />
são afetados pelo mesmo, e os maiores do que 0,8 c.p.d. são efetivamen-<br />
te eliminados.
As séries vetoriais foram submetidas a rotinas de Análise Espectral Rotatória<br />
(AER) elaboradas pelo autor em ambiente MATLAB com base nos fundamentos descri-<br />
tos anteriormente. A fim de sintetizar satisfatoriamente o padrão de correntes nos pontos<br />
de coleta, indicando os períodos de oscilação mais signifícativos, suas características e<br />
respectivas magnitudes, foram produzidos gráficos de espectros totais, coeficientes de<br />
rotação, direções e estabilidade das elipses.<br />
Na Figura 2.4 são apresentadas ainda, superpostas a função de transferência teórica, as<br />
funções estimadas a partir da relação entre os espectros de séries de componentes longi-<br />
tudinais de corrente filtradas e não filtradas, para os períodos distintos no verão, outono,<br />
inverno e primavera. Observa-se que, muito embora um pouco diferentes da função de<br />
transferência teórica na faixa entre 0,3 e 0,8 ciclos por dia, a função estimada mostra<br />
que o filtro consegue eliminar as fiequências indesejadas, preservando as demais com<br />
eficiência. Como os períodos de oscilação da PCSE são bem definidos nas escalas de<br />
marés astronômicas, iguais ou menores do que 1 dia, e de marés meteorológicas com<br />
escalas maiores do que 4 dias, o fíltro atende perfeitamente aos objetivos propostos.<br />
2.6.1 Análise descritiva das séries temporais<br />
Nas Figuras 2.5, 2.7, 2.8 e 2.9 são apresentadas conjuntamente as séries temporais de<br />
nível d'água medidas na Ilha Fiscal; componentes longitudinais e transversais a costa de<br />
correntes marinhas; e temperatura na coluna d'água, estas duas últimas variando em<br />
função da profundidade, medidas no fundeio localizado junto ao difusor do ESEI. Todas<br />
as séries foram fíltradas conforme o procedimento descrito acima. As séries de correntes<br />
apresentadas foram giradas de 25 graus no sentido anti-horário a fim de alinhar o eixo<br />
horizontal com a direção preferencial das correntes. Assim, valores positivos de corren-<br />
tes longitudinais indicam sentido de deslocamento de OS0 para ENE e valores positivos<br />
de correntes transversais indicam movimento em direção a costa.
Da mesma forma, a Figura 2.6 apresenta as séries temporais de nível d'água,<br />
componentes longitudinais e transversais a costa de correntes marinhas e temperatura na<br />
coluna d'água, medidas no fundeio raso. As séries de correntes apresentadas foram gi-<br />
radas de 17 graus no sentido anti-horário. Os limites verticais de amostragem de corren-<br />
te e temperatura no fùndeio raso foram concordantes, ao contrário do que ocorreu com o<br />
fundeio do ESEI. Neste último, por razões indesejáveis inerentes a prática de campo,<br />
observa-se uma defasagem de quatro metros entre o primeiro nível de medição de cor-<br />
rentes e o de temperatura. Seria desejável que houvesse concordância entre os níveis, e<br />
que o limite superior de cobertura estivesse mais próximo da superflcie, para que assim<br />
a estrutura de correntes e estratifícação pudesse ser amostrada em quase todo a coluna<br />
d'água.
n -5<br />
E<br />
V<br />
Q><br />
; -10<br />
z<br />
V<br />
r -15<br />
e<br />
P<br />
-20<br />
-25<br />
Verão 1997 (dia juliano)<br />
Figura 2.5: Séries temporais simultâneas de nível d'água medido na Ilha Fiscal (em<br />
cima nas figuras); (a) componente longitudinal e (b) componente trans-<br />
versal da corrente e temperatura da água (colorido) medidas ao longo da<br />
coluna d'água junto ao dífusor do ESEI no verão de 1997. Obs 1.: 1,O m na<br />
escala vertical de profundidades equivale a 0,l mls na velocidade da cor-<br />
rente. Obs 2: Todas as séries foram submetidas a um filtro Lanczos 40<br />
horas para facilitar a visualização.
10 20 30 40 50 60 70 80 90<br />
Verão 1 997 (Dia juiiino)<br />
10 20 30 40 50 60 70 80 90<br />
Verão 1997 (Dia juiiino)<br />
Figura 2.6: Séries temporais simultâneas de nível d'água medido na Ilha Fiscal (em<br />
cima nas figuras); (a) componente longitudinal e (b) componente trans-<br />
versal da corrente e temperatura da água (colorido) medidas ao longo da<br />
coluna d'água no fundeio raso no verão de 1997. Obs 1 .: 1 ,O m na escala<br />
vertical de profundidades equivale a 0,l mls na velocidade da corrente.<br />
Obs 2: Todas as séries foram submetidas a um filtro Lanczos 40 horas<br />
para facilitar a visualização.<br />
a)<br />
b)
A Figura 2.5, que mostra as séries temporais relativas ao verão 5 de 1997, evi-<br />
dencia períodos com coluna d'água homogênea, com águas fi-ias, de temperaturas pouco<br />
inferiores a 15 "C, provavelmente alcançando a superficie. Ao final de fevereiro e du-<br />
rante o mês de março, observou-se uma termoclina acentuada oscilando verticalmente.<br />
A temperatura na camada acima da termoclina possuía uma temperatura pouco superior<br />
a 24 "C, conferindo um gradiente térmico de até 10 OC em cerca de 20 metros. Essa<br />
massa d'água mais fia encontrada abaixo da termoclina, embora não haja informações<br />
de salinidade disponíveis para caracterizá-la, é a porção superior da Água Central do<br />
Atlântico Sul (ACAS) que nesta época do ano ocupa um volume maior dentro da plata-<br />
forma continental, sendo encontrada em profundidades menores junto a costa.<br />
A oscilação vertical da termoclina ocorreu em fase oposta com a oscilação da<br />
corrente e de nível do mar. Quando a corrente apontava para ENE, a termoclina tendia a<br />
aprofùndar-se na coluna d'água, e o nível do mar tendia a elevar-se. Embora não tão<br />
evidente neste período, no instante em que a corrente invertia o sentido, a corrente<br />
transversal apontava para a costa. A situação oposta ocorria quando a corrente apontava<br />
para OSO. Neste caso, a água do fundo tendia a elevar-se na coluna d'água, ao mesmo<br />
tempo em que o nível do mar diminuía.<br />
No mês de abril e início de maio de 1997 (Figura 2.7 a e b), a termoclina esteve<br />
localizada em profundidades maiores, quando comparadas ao período de verão. Parece<br />
ter havido um aprofundamento gradativo da termoclina até que, ao final de maio e ju-<br />
nho, esta desapareceu ou esteve localizada fora do dominio observado. Neste período, a<br />
coluna d'água permaneceu homogênea com temperaturas entre 19 e 20 "C.<br />
O verão, aqui, refere-se ao trimestre que inicia no dia 1" de janeiro e temina no dia 31 demarço. Convenção recí-<br />
proca foi adotada para as demais estações.
Outono 1997 (dia juliano)<br />
100 110 120 130 140 150 160 170 180<br />
Outono 1997 (dia juliano)<br />
E<br />
Y<br />
-1 3<br />
E<br />
O<br />
'CI<br />
-1.5z<br />
-2<br />
-2.5<br />
><br />
\i<br />
Figura 2.7: Séries temporais simultâneas de nível d'água medido na Ilha Fiscal (em<br />
cima nas figuras); (a) componente longitudinal e (b) componente trans-<br />
versal (b) da corrente e temperatura da água (colorido) medidas ao longo<br />
da coluna d'água junto ao difusor do ESEI no outono de 1997. Obs 1 .: 1 ,O<br />
m na escala vertical de profundidades equivale a 0'1 mls na velocidade da<br />
corrente. Obs 2: Todas as séries foram submetidas a um filtro Lanczos 40<br />
horas para facilitar a visualização.<br />
z
Da mesma forma como ocorreu no final do verão, as correntes, durante o outo-<br />
no, apresentaram comportamento diferenciado entre o período quando se observava a<br />
presença de termoclina e o período em que esta era inexistente. Através da coluna<br />
d'água, as correntes diminuíram de intensidade gradativamente, ao contrário do período<br />
com coluna d'água homogênea, quando a corrente apresentou uma tendência de perma-<br />
necer constante ao longo da mesma. Isto mostra o efeito marcante de uma componente<br />
baroclínica no escoamento durante o período estratificado.<br />
No inverno (Figura 2.8 a e b), as temperaturas superficiais variaram entre 21 e<br />
22 "C. Mesmo nesse período foi possível observar o padrão de ascensão e subsidência<br />
da termoclina relatado acima. As características desse fenômeno, no entanto, pareceram<br />
ser peculiares. Os períodos de oscilação vertical da termoclina foram marcadamente<br />
maiores do que os observados anteriormente. As diferenças de temperatura observadas<br />
foram menores também, um gradiente térmico máximo de 6 "C em 20 metros foi obser-<br />
vado no início de setembro. As alturas das oscilações também pareceram ser maiores no<br />
inverno do que nos períodos com forte estratificação observados anteriormente. No ou-<br />
tono, as oscilações máximas alcançaram cerca de 18 metros de altura, enquanto que no<br />
inverno estas foram maiores do que a janela de observação, maiores, portanto, do que<br />
20 metros.<br />
Oscilações com períodos menores ainda (+ 4 dias) puderam ser observadas no<br />
inverno superpostas ao padrão descrito acima. As séries de corrente evidenciaram bem<br />
estes períodos. Da mesma forma, a série de nível do mar também apresentou as duas<br />
faixas de períodos principais observados.<br />
Na primavera (Figura 2.9 a e b), a termoclina começou a soerguer-se gradativa-<br />
mente na coluna d'água novamente. A estratificação de temperaturas voltou a aumentar<br />
e os períodos de oscilação diminuíram. Ao fínal da estação, as características encontra-<br />
das foram semelhantes as observadas no verão passado. Águas com temperaturas baixas<br />
(< 16 "C) localizadas na porção inferior da coluna d'água oscilaram verticalmente com<br />
períodos coerentes com a corrente e nível do mar.
Figura 2.8:<br />
E<br />
Y<br />
o o<br />
A -5 -0.5 A<br />
0)<br />
;<br />
-10 -1 fã<br />
E<br />
2<br />
'D<br />
o<br />
c<br />
'D<br />
2 -15 -1.55<br />
><br />
e<br />
.-<br />
P<br />
Z<br />
-20 -2<br />
-25 -2.5<br />
190 200 210 220 230 240 250 260 270<br />
Inverno 1997 (dia juliano)<br />
Séries temporais simultâneas de nível d'água medido na Ilha Fiscal (em<br />
cima nas figuras); (a) componente longitudinal e (b) componente transversal<br />
(b) da corrente e temperatura da água (colorido) medidas ao longo<br />
da coluna d'água junto ao difusor do ESEI no inverno de 1997. Obs I<br />
E<br />
Y<br />
.: 1,O<br />
m na escala vertical de profundidades equivale a 0'1 mls na velocidade da<br />
corrente. Obs 2: Todas as séries foram submetidas a um filtro Lanczos 40<br />
horas para facilitar a visualização.
Os padrões aqui descritos para escalas sub-inerciais concordam plenamente com<br />
o modelo proposto por Castro Filho (1990) descrito anteriormente. As correntes seguem<br />
um padrão elíptico anti-horário similar a propagação de uma onda de plataforma junto a<br />
costa. Os gradientes de temperatura mais acentuados no verão e outono produziram on-<br />
das internas com amplitudes menores do que as que foram geradas no inverno, quando<br />
os gradientes são menores. Em águas rasas, supondo-se uma situação simpliíicada com<br />
duas camadas de densidades distintas separadas por uma termoclina acentuada, o deslo-<br />
camento vertical da termoclina relaciona-se com o nível do mar através de:<br />
1 p2 - , Kundu (1998)<br />
=-C[ Pl<br />
onde r] é a posição da superficie do mar, ré a posição da termoclina e p, > pl são as<br />
densidades das camadas. Segundo esta equação, quanto maior a diferença entre as den-<br />
sidades das camadas, menor será a amplitude do deslocamento vertical da termoclina.
oz-<br />
3. ÇZPZEZZZ CZOZ6L8CL19CSLPC<br />
:-<br />
:'C sqo 'L66C ap e~anewud eu 13~3 op Josngp oe olun! en6p,p eunlo3 ep<br />
o6uol oe sep!paui (op!~olo3) en6e ep e~n~waduia~ a aIuaJJo3 ep (q) (eslaA<br />
sue^^ a~uauodwo~ (q) a 1eu!pnq6uol ajuauoduio3 (e) !(se~n6!~ seu ew!3<br />
uia) le3s!d eqll eu op!paw en6y,p lany ap seaugpwls s!e~oduia$ sayas :gz e~n6!~<br />
-ep!3ola~ eu slui C'O e aleynba sapep!punjo~d ap ImyaA eie3sa eu ui O'C<br />
-oe5ez!lens!~ e ~~q!lpej e~ed se~oq op soz3uq<br />
OJUN uin e sep!Iawqns uie~oj sauas se sepol :Z sqo -aIuaJJo3 ep ap
2.6.2 Estatística brísica das séries temporais<br />
A Figura 2.10 apresenta, na forma polar, o diagrama de ocorrência conjunta entre velo-<br />
cidade e direção de correntes em todos os níveis de medição no fundeio do ESEI entre<br />
01/01 e 31/12/1997. A direção principal da corrente manteve-se em 63 graus ao longo<br />
da coluna d'água quando o sentido da corrente era de OS0 para ENE. No sentido con-<br />
trário, a corrente tende a assumir uma direção mais para oeste, em torno de 260". No<br />
nível mais profundo, 21 metros, as correntes menores tendem a dirigir-se para 30°, pro-<br />
vavelmente devido a interação com o fundo.<br />
Dois destes diagramas de ocorrência conjunta entre velocidade e direção de cor-<br />
rentes, os das profundidades 3,5 e 21 metros, são apresentados na forma numérica no<br />
Quadro 2.1 e Quadro 2.2. A 3,5 metros da superficie, 27,9 % das correntes dirigiram-se<br />
para NE e ENE enquanto que 24,4 % foram para OS0 e O. As correntes que seguiram<br />
para NE e ENE apresentaram as maiores velocidades médias, 18,6 e 19,O cds respecti-<br />
vamente, e máxima, 75,O cds. As correntes que seguiram para OS0 e O também igua-<br />
laram o máximo de velocidades, 75,O cds, mas as médias foram menores, 15,6 e 13,O<br />
cds respectivamente. As velocidades medidas nesta profundidade foram, em geral,<br />
muito baixas. Um total de 65,7 % das correntes foi menor do que 15 cds. Cerca de<br />
17,O % das correntes apontaram na direção da costa, isto é, entre NNO e NNE. A velo-<br />
cidade média neste intervalo foi de 10,8 cds e a máxima observada foi de 543 cds.<br />
Em 21 metros de profiindidade, 27,7 % das correntes dirigiram-se para NE e<br />
ENE e 21,3 % apontaram para N e NNE, diferindo sobremaneira do padrão superEicia1.<br />
A característica de haver correntes indo para O e OS0 praticamente desapareceu no<br />
fundo. As correntes que seguiram para NE e ENE apresentaram as maiores velocidades<br />
médias, 8,4 e 9,7 cds respectivamente, com máxima de 38,O cds para ENE. Um total<br />
de 92,6 % das velocidades medidas nesta profundidade foi menor do que 15 cds. Cerca<br />
de 26,8 % das correntes apontaram na diregão da costa com velocidades médias de 6,6<br />
cds e a máxima de 3 0,O cds.
Figura 2.10: Ocorrência conjunta entre velocidade e direção de correntes em a) 3,5, b)<br />
6,0, c) 8,5, d) 11,0, e) 13,5, f) 16,0, g) 18,5 e h) 21,O metros no ESEI entre<br />
01/01 e 31/12/1997.
2.6.3 Análise espectral das séries temporais<br />
Os espectros rotatórios foram utilizados para determinação dos principais períodos de<br />
oscilação oceânica que ocorrem na costa do Rio de Janeiro exercendo, assim, influência<br />
na dispersão dos efluentes do ESEI. Todos os espectros foram calculados utilizando-se<br />
FFT e alisamento de 14 graus de liberdade.<br />
Quadro 2.1: Diagrama de ocorrência conjunta entre velocidade e direção de correntes<br />
medidas a 3,5 metros de profundidade no ESEI - fundo entre 01/01 e<br />
3111 211 997.<br />
ESEI -fundo<br />
Ocorrênciaconjuntade Intensidade (anls) e Direção (O) de corrente<br />
Pexiodo: 01101H997 a31HU1997<br />
Prof: 3.5 meos<br />
N NNE NE ENE E ESE SE SSE S SSO SO 0% O ONO NO NNO Tdal % DirMed<br />
0.0-5.0 382 183 244 196 158 133 128 111 164 138 213 238 277 272 211 231 31ii 181 310<br />
5.0-10.0 270 345 408 400 205 176 104 112 138 219 345 528 573 374 287 272 4796 27.4 310<br />
10.0-15.0<br />
15.0-20.0<br />
211<br />
101<br />
256<br />
183<br />
458<br />
387<br />
437<br />
339<br />
234<br />
111<br />
64<br />
25<br />
42<br />
15<br />
38<br />
21<br />
57<br />
8<br />
70<br />
24<br />
176<br />
109<br />
486<br />
267<br />
515<br />
281<br />
273<br />
71<br />
145<br />
58<br />
124<br />
59<br />
3534<br />
2159<br />
20.2<br />
123<br />
337<br />
358<br />
Total<br />
%<br />
Vd. Med.<br />
Vel. Max.<br />
Quadro 2.2: Diagrama de ocorrência conjunta entre velocidade e direção de correntes<br />
medidas a 21 metros de profundidade no ESEI - fundo entre 01/01 e<br />
ESEl -fundo Prof: 21 metms<br />
Ocorrência Conjuntade Intensidade (cmls) e Direçáo (7 de c ome<br />
Período: 0V01H997 a31HU19W<br />
N NNE NE ENE E ESE SE SSE S SSO SO OS0 O ONO NO NNC<br />
0.0-5.0 761 398 475 419 366 303 313 282 247 248 234 193 270 233 256 33;<br />
5.0-10.0 757 962 1158 885 574 341 340 288 344 381 231 170 174 223 359 43;<br />
Total<br />
5274<br />
7858<br />
3270<br />
892<br />
287<br />
85<br />
35<br />
9<br />
17520<br />
% Dir Med<br />
30.1 53<br />
488 44<br />
18.7 47<br />
5.1 57<br />
1.6 63<br />
0.5 66<br />
0.2 51<br />
0.1 78
2.6.3.1 Distribui~ão de energia na faixa de marés meteorológicas<br />
As Figuras 2.11 e 2.12 apresentam, para 3 3 e 21 metros de profundidade respectiva-<br />
mente, quatro funções do espectro rotatório para todo o ano de 1997. Os espectros fo-<br />
ram calculados utilizando-se 8192 pontos de amostragem, sendo que a série de corren-<br />
tes, que continha 8760 horas de medição, foi reamostrada para que coubesse inteiramen-<br />
te na análise e nenhuma informação fosse perdida. Não foi utilizado qualquer tipo de<br />
filtragem na série temporal.<br />
O espectro total, que é a soma do espectro horário com o anti-horário, das séries<br />
de corrente na profundidade de 33 metros é apresentado na Figura 2.11-a. Os limites<br />
superiores e inferiores para 95 % de confiança são apresentados no lado esquerdo da<br />
figura. No espectro, observaram-se vários períodos principais de oscilação, identificados<br />
por números no gráfico. O mais significativo é o de número 5 referente a um período de<br />
5,2 dias, seguido do de número 2 com 16,7 dias. Pela ordem de magnitude seguem-se o<br />
de número 4 com 7,2 dias, o 3 com 8,5 dias e o número 1 com período de 30 dias. A<br />
amplitude do pico principal, estimada por $dsCf), ficou em 14 cds, podendo oscilar<br />
entre 10 e 21 cds com 95 % de confiabilidade. Para todos os picos supracitados, os co-<br />
eficientes de rotação foram muito baixos (IC,l< 0,07) porém positivos, indicando que<br />
os vetores giram, segundo uma elipse muito achatada, para o sentido anti-horário. Em<br />
todos os picos, a direção principal da elipse foi de 63", concordando com o observado<br />
nos diagramas de ocorrência conjunta. Os altos valores de estabilidade das elipses asso-<br />
ciados a esses picos indicam que os mesmos são bastante fieqiientes. Todos os picos<br />
apresentaram estabilidade superior a 0,9, com exceção do de 30 dias com 0,75. O nível<br />
de confiança para 95 % para estabilidade da elipse foi de 0,40.<br />
O cenário descrito pelos espectros rotatórios da corrente em 3,5 metros de pro-<br />
fundidade indica que a corrente segue um padrão bem comportado na faixa de fi-equên-<br />
cias sub-inerciais. Mesmo os períodos de oscilação variando significativamente entre 5<br />
e 30 dias, a forma como os vetores se comportam não é muito variável. As amplitudes<br />
de corrente em todos os picos são semelhantes entre si, e esta segue um padrão, prati-<br />
camente de pulsação com um pequeno giro anti-horário, que é muito constante no tem-<br />
po, conforme evidenciado pela estabilidade. A energia nas fi-eqüências de marés astro-<br />
nômicas foi menor, em cerca de uma ordem de grandeza, do que as sub-inerciais.
0.1 1<br />
Frequencia (c.p.d.)<br />
Figura 2.11: Funções do espectro rotatório, a) espectro total, b) coeficiente de rota-<br />
ção, c) direção da elipse e d) estabilidade da elipse e limite de 95% de<br />
confiança, de correntes medidas na profundidade de 3,s metros no fun-<br />
deio do ESEI durante todo o ano de 1997. Os picos numerados corres-<br />
pondem respectivamente aos períodos 30,0, 16,7,8,5, 7,2, 5,2, 1 ,O e 0,5 di-<br />
as.<br />
d)
Em 2 1 metros de profundidade (Figura 2.12), no espectro total observam-se os<br />
mesmos períodos sub-inerciais descritos anteriormente, porém com energia muito redu-<br />
zida. A amplitude do pico de 5,2 dias, por exemplo, foi reduzida para 3,6 cds podendo<br />
oscilar entre 2,6 e 5,7 cds com 95 % de confiança. Houve, portanto, uma redução de<br />
75 % na intensidade da corrente em 18 metros. Este pico de 5,2 dias aparece junto a ou-<br />
tros picos com energia da mesma ordem de grandeza distribuídos sobre uma faixa de<br />
freqüências que se estende de 3,7 a 5,2 dias. O pico de maré semidiurna, no entanto, não<br />
sofreu redução de amplitude e passou a dominar o espectro nesta profundidade com<br />
amplitude de 5,8 cmls (4,2 a 9,l cmh com 95 % de confiança). Houve mudança signifi-<br />
cativa nos coeficientes de rotação nas faixas de períodos menores. No pico de 30 dias, o<br />
mesmo foi também baixo, porém negativo. Em 16,7 dias, o C, foi zero, indicando ape-<br />
nas uma pulsação da corrente sem giro preferencial. As fkeqüências maiores apresenta-<br />
ram valores positivos, indicando rotação anti-horária, porém um pouco maiores do que<br />
os observados a 3,5 metros. As direções das elipses também variaram um pouco mais,<br />
entre 60 e 80 graus. Apenas o pico número 4, com 7,2 dias, apresentou uma direção em<br />
torno de 90 graus. Como a estabilidade neste pico foi muito baixa (0,5), pouco superior<br />
ao limite de confíança, isto provavelmente deveu-se a uma situação anômaía pouco re-<br />
presentativa. Apenas o pico de 5,2 dias apresentou estabilidade superior a 0,7.<br />
Os espectros rotatórios da corrente em 21 metros indicaram um padrão bastante<br />
variável na faixa de fkeqüências sub-inerciais. As elipses não apresentaram um padrão<br />
comum a todas as frequências podendo, em algumas destas, as mesmas girarem no sen-<br />
tido horário e em outras no anti-horário, com direções principais variáveis. A baixa es-<br />
tabilidade em todas as frequências fortalece o padrão variável das mesmas. Este padrão<br />
pode estar relacionado a interação com o fundo próximo, mas pode também ser ocasio-<br />
nado por limitações do ADCP em resolver satisfatoriamente velocidades muito baixas,<br />
próximas de seu limite de detecção inferior. Há que se considerar, ainda, o fato de que<br />
em velocidades muito baixas, as oscilações de alta Eeqüência podem afetar mais signi-<br />
ficativamente as medições instantâneas de corrente e assim aumentar a incerteza da<br />
estatística dos cinco minutos de amostragem. O resultado é que a cada 30 minutos tem-<br />
se um valor médio de 5 minutos, cujo coeficiente de variação é maior do que seria se a<br />
velocidade de corrente fosse maior.
0.1 I<br />
Frequencia (c.p.d .)<br />
Figura 2.12: Funções do espectro rotatório, a) espectro total, b) coeficiente de rota-<br />
ção, c) direção da elipse e d) estabilidade da elipse e limite de 95% de<br />
confiança, de correntes medidas na profundidade de 21 metros no fun-<br />
deio do ESEI durante todo o ano de 1997. Os picos numerados corres-<br />
pondem respectivamente aos períodos 30,0,16,7,8,5,7,2,5,2, 1,O e 0,s di-<br />
as.
2.6.3.2 Yaria~ão temporal dos espectros de energia<br />
Os espectros apresentados acima evidenciaram a importância relativa dos picos de ener-<br />
gia, em suas respectivas fiequências, ao longo de todo o período de observação. O pro-<br />
cesso observado, no entanto, não pode ser considerado como estacionário, uma vez que<br />
os picos de energia não necessariamente ocorrem ao longo de toda a duração do regis-<br />
tro, ao contrário do que o espectro sugere. No ambiente marinho, é possível ocorrer e-<br />
ventos de natureza osciíatória com grande energia, porém de curta duração. Assim como<br />
também é possível também ocorrer eventos oscilatórios, de longa duração, porém com<br />
menor energia. Numa dada fiequência, o espectro apresenta a energia total ponderada<br />
pela duração do evento oscilatório. Num espectro obtido a partir de um registro de longa<br />
duração, os dois tipos de evento poderiam aparentar semelhança gráfica, embora sendo<br />
de naturezas distintas, e assim levar a interpretação equivocada da natureza dos mes-<br />
mos.<br />
Uma forma de observar a não estacionaridade dos eventos é apresentar, num<br />
mesmo gráfico de contorno, espectros sucessivos calculados a partir de uma janela tem-<br />
poral que prograda no tempo. A Figura 2.13 apresenta a variação temporal do espectro<br />
total elaborado a partir da varredura de uma janela temporal com 2048 horas, com passo<br />
de tempo de 64 horas, sobre as 8760 horas dos registros de correntes do fundeio do<br />
ESEI em 1997. A Figura 2.13-a refere-se a 3,5 metros e a Figura 2.13-b, 2 1 metros de<br />
profundidade. Nestas, o eixo do tempo está representado por dias julianos correspon-<br />
dendo a data do centro do registro. Desta forma há uma perda de 1024 horas no início e<br />
no fínal do registro.<br />
Na série temporal de 3,5 metros de profundidade, o pico de energia que apareceu<br />
como predominante no espectro anual, 5,2 dias, ocorreu entre o final de agosto e mea-<br />
dos de novembro de 1997. Uma linha preta foi traçada na figura a fun de facilitar a vi-<br />
sualização. O de 7,2 dias ocorreu entre fevereiro e maio. O pico de 16,7 dias ocorreu de<br />
meados de fevereiro ao início de outubro. Este pico, embora notadamente de menor e-<br />
nergia do que os demais, apresentou-se de forma mais estacionária durante o período de<br />
observação. Souza, 2000, encontrou períodos de oscilagão de 20 dias na PCSE utilizan-<br />
do derivadores rastreados por satélite. Esta faixa de períodos parece ser bastante irnpor-<br />
tante na circulação da PCSE.
Figura 2.13:<br />
1 O0 200 300<br />
1997 (Dia juliano)<br />
1997 (Dia ~uliano)<br />
Evolução temporal dos espectros de correntes marinhas a a) 3,s metros e<br />
b) 21 metros de profundidade. Nota-se que não há correspondência total<br />
entre os picos da superfície e do fundo na faixa de freqüências sub-<br />
inerciais.<br />
a)<br />
b)
Figura<br />
0.01 0.1 1 10<br />
Frequsncia (cp.d.) '"a)<br />
iom<br />
8W<br />
6M<br />
1 10<br />
Frequsncia (cp.d.)<br />
2.14: Espectros totais de correntes ao longo da coluna d'água no ESEI durante<br />
a) o verão, b) outono, c) inverno e d) primavera. 0s picos de corrente su-<br />
perficiais são bastante atenuados em direção ao fundo na faixa de fre-<br />
qüências sub-inerciais.<br />
Em 21 metros de profùndidade, apenas o pico de 5,2 dias apresentou correspon-<br />
dência com os picos de energia observados em 3,5 metros. Nesta profundidade, a faixa<br />
de energia entre 3,7 e 5,2 dias predominou praticamente o ano todo demonstrando haver<br />
grande estabilidade nesta faixa de freqüências, fato este comprovado pela Figura 2.12.
A escala temporal de agrupamento das informagões adotada neste estudo é tri-<br />
mestral de forma a caracterizar as estações do ano. As Figuras 2.14-a a 2.14-d apresen-<br />
tam os espectros totais de energia das correntes marinhas na região do ESEI no verão,<br />
outono, inverno e primavera, a cada 2,5 metros de 3 3 a 21,O metros de prokndidade.<br />
Estes foram obtidos a partir das séries horárias reamostradas de forma a conterem 2048<br />
pontos. A Figura 2.15 mostra a mesma informação para o fimdeio raso que operou ape-<br />
nas durante o verão.<br />
Nestas, pode-se observar o decaimento gradual da energia cinética com a pro-<br />
fùndidade, Nota-se, ainda, que este decaimento é maior nas faixas de fi-equências meno-<br />
res. Os períodos de 18,l e 14,6 dias observados durante o outono e inverno respectiva-<br />
mente, praticamente desapareceram na profundidade de 21 metros, o que já havia sido<br />
evidenciado pela Figura 2.13, podendo ser inexistentes abaixo deste nível. O mesmo<br />
ocorreu com os períodos de 7,3 a 7,6 dias observados no verão, outono e primavera. Já<br />
períodos menores de 4,O a 4,7 dias sofreram reduções menos acentuadas nas magnitudes<br />
de energia. Nestes períodos, os picos de energia passaram a ser relativamente dorninan-<br />
tes na profundidade de 21 metros. O mesmo padrão foi observado nas correntes medidas<br />
no fundeio raso.<br />
1000<br />
7,O<br />
9,o<br />
11,o<br />
13,O<br />
15,O<br />
17,O<br />
- - 19,O<br />
- 21,o<br />
23,O metros<br />
0.1 1 1 o<br />
Frequencia (c.p.d.)<br />
Figura 2.15: Espectros totais de correntes ao longo da coluna d'água no fundeio raso<br />
durante o verão.
2.6.3.3 Distribui@o de energia na faixa de marés astronômicas<br />
A análise acima permitiu caracterizar satisfatoriamente o padrão de oscilação de corren-<br />
tes que ocorrem na faixa de freqüências sub-inerciais. Seria interessante, no entanto,<br />
analisar como a energia das correntes marinhas na faixa das marés astronômicas varia<br />
com o tempo e com a profundidade. Para isso, foram elaborados gráficos de espectros<br />
sucessivos filtrados dos períodos maiores do que 40 horas.<br />
As Figuras 2.16-a e 2.16-b apresentam a evolução dos espectros totais de corren-<br />
te em 33 e 21 metros respectivamente. A fim de aumentar o foco sobre as freqüências<br />
astronômicas, reduziu-se a janela temporal destes espectros para 512 horas. O passo de<br />
tempo do avanço da janela temporal foi de 64 horas. Duas faixas principais de oscilação<br />
foram observadas tanto próximo a superfície quanto ao fundo, uma semidiurna e outra<br />
diurna. A faixa de freqüências semidiurnas, como era de se esperar por se tratar de um<br />
evento astronômico determinístico, demonstra estacionaridade ao longo do tempo. Na<br />
faixa de freqüências diurnas, tal padrão, embora exista, não é tão evidenciado.<br />
A Figura 2.17 apresenta as funções do espectro rotatório, espectro total, coefici-<br />
ente de rotação, direção e estabilidade da elipse, promediados, a partir dos espectros<br />
progressivos descritos acima, ao longo de todo o ano de 1997. Os espectros totais mos-<br />
tram que não houve variação perceptível da energia de correntes na faixa de freqüências<br />
semidiurnas. Ambas apresentaram correntes muito baixas, com média em torno de 1,8<br />
cmls, uma ordem de grandeza menores do que as correntes observadas nas freqüências<br />
sub-inerciais. Este padrão difere do das freqüências sub-inerciais que sofreram redução<br />
significativa com o aumento da profundidade. O coeficiente de rotagão variou de 0,04 a<br />
superfície e - 0,085 no fundo. Embora tenham sinais opostos, o que indicaria rotações<br />
em sentidos contrários, estes estão muito próximos de zero, o que indica quase nenhuma<br />
rotação. Ainda assim, as correntes são muito baixas, muito próximas do limite de per-<br />
cepção do equipamento. Portanto, se há uma inversão de rotação com a profundidade,<br />
esta não pode ser comprovada a partir dessas observações. A direção da elipse na faixa<br />
de freqüência semidiurna variou de 63" em 3 3 metros para 40" em 21 metros. Isto pode<br />
estar relacionado as mesmas limitações da medição, como pode também refletir uma<br />
tendência real de haver uma deflexão para esquerda nas correntes de maré a medida que<br />
a profundidade aumenta. A estabilidade na freqüência semidiurna foi maior próximo ao<br />
fundo (0,70) do que próximo a superfície (0,35).
.v- --"<br />
1997 (Dia Juliano)<br />
1997 (Dia Siiano)<br />
Figura 2.16: Evolução temporal dos espectros de correntes marinhas, nas freqüências<br />
de marés astronômicas, a a) 3,s metros e b) 21 metros de profundidade.<br />
Duas faixas principais de oscilação são observadas tanto próximo a su-<br />
perfície quanto ao fundo, uma semidiuma e outra diurna. A faixa de fre-<br />
qüências semidiumas demonstra estacionaridade ao longo do tempo. Na<br />
faixa de frequências diurnas, tal padrão, embora exista, não é tão eviden-<br />
ciado.
20 -<br />
3.5 metros<br />
16 -<br />
.E<br />
9 12 -<br />
21 metros<br />
4 -<br />
O<br />
I I I I I<br />
O 1 2 3 4 5<br />
Frequencia (c.p.d.)<br />
Figura 2.17: Funções do espectro rotatório na faixa de frequências astronômicas. As<br />
funções são médias de uma janela temporal com 512 horas que variou no<br />
tempo com passo de 64 horas durante todo o ano de 1997. Os espectros<br />
totais mostram que não há variação perceptível da energia de correntes<br />
na faixa de freqüências semidiurnas. Na faixa de frequências diurnas, é<br />
possível que a brisa marinha influencie o espectro.<br />
Na faixa de freqüências diurnas, o espectro total em 3,s metros apresentou um<br />
pico correspondente a uma velocidade de corrente de 2,2 cmh, contra 1,s cm/s em 21<br />
metros. Ambas as profundidades apresentaram coeficientes de rotação semelhantes, em<br />
torno de -0,05, valores baixos portanto indicando praticamente uma pulsagão de corren-<br />
4
tes. A direção da elipse, 60°, nesta faixa de 6equência concordou com a orientação das<br />
demais. A estabilidade, 0,3, foi considerada baixa para as duas profundidades. Nova-<br />
mente, as velocidades de corrente muito baixas, sujeitas a uma baixa relação sinaVruido,<br />
podem prejudicar a interpretação do ambiente. Mas, correntes de período diurno com<br />
maior intensidade a superfície e baixa estabilidade, podem indicar que a brisa marinha<br />
esteja forçando o movimento em conjunto com as componentes astronômicas de mesmo<br />
período. Não sendo possível separá-las na prática, tal suposição é de difícil comprova-<br />
ção. Tal hipótese torna-se viável quando comparamos as magnitudes dos picos semidi-<br />
urnos e diurnos. O fator de forma da maré, F=0,33, indica que a maré é semidiurna com<br />
pequena desigualdade diurna. As componentes diurnas (Tabela 2.1) são consideravel-<br />
mente menores do que as semidiurnas e, portanto, não haveria razão para que o pico de<br />
maré diurna fosse maior do que o da semidiurna. A energia adicional observada no es-<br />
pectro deve estar sendo fornecida pela brisa marinha. É possível também que haja in-<br />
fluência da componente inercial que nessa latitude oscila com período de 30,7 horas. De<br />
qualquer forma, a contribuição tanto das marés astronômicas quanto da brisa marinha é<br />
pequena quando comparada aos das fiequêmias sub-inerciais.<br />
Tabela 2.1: Constantes harmônícas calculadas para a estação maregráfica da Ilha Fiscal<br />
(92" 53'8' S e 043" 9,9' W). São apresentadas apenas as constantes cujas<br />
amplitudes foram maiores do que 1 ,O cm.<br />
Constante<br />
Harmônica<br />
O I<br />
Amplitude<br />
(cm)<br />
lO,6<br />
691<br />
239<br />
274<br />
194<br />
32,2<br />
l8,l<br />
66<br />
42<br />
217<br />
22<br />
1,9<br />
1,9<br />
2,o<br />
1,7<br />
176<br />
1,3<br />
12<br />
4.8<br />
Fase<br />
(graus)<br />
91,l
2.6.3.4 Semelhan~a entre o fundeio do ESEI e o fundeio Raso.<br />
Para a avaliação da dispersão da pluma de um emissário submarino seria útil conhecer<br />
precisamente todo o campo de correntes dentro dos limites fisicos da pluma. Uma vez<br />
que as oscilações encontrados na costa do Rio de Janeiro são predominantemente sub-<br />
inerciais, cujos comprimentos de onda são demasiadamente longos, se as dimensões da<br />
pluma não forem muito acentuadas e se não houver obstáculos próximos ao dfisor, é<br />
razoável supor que o campo de correntes seja aproximadamente homogêneo dentro dos<br />
limites fisicos da mesma.<br />
Tal hipótese pode ser testada para o caso da costa do Rio de Janeiro uma vez que<br />
o fundeio raso operou simultaneamente ao do ESEI entre o final de novembro de 1996 e<br />
meados de março de 1997 registrando vetores de corrente e temperatura ao longo de<br />
quase toda a coluna d'água (Figura 2.5 e 2.6). Os dois fundeios estiveram separados de<br />
cerca de 2.070 metros.<br />
Comparando-se as correntes em profundidades similares é possível avaliar o<br />
quão semelhantes são as características do escoamento nestes dois pontos do campo de<br />
correntes. A Figura 2.18 apresenta as funções espectrais rotatórias de correntes medidas<br />
no fundeio raso, em 07 metros, e no do ESEI, em 06 metros de profundidade. Pode-se<br />
constatar que as funções apresentam diversos pontos em comum. Os picos de energia<br />
dos dois espectros totais apresentaram valores semelhantes. O pico do fundeio do ESEI<br />
apresentou uma corrente média de 21 cds, enquanto que no fundeio raso, este alcançou<br />
19,O cm/s. A diferença foi de cerca de 10 %, portanto, entre as duas estações. Os coefi-<br />
cientes de rotação foram baixos, 0,00 no ESEI contra -0,02 no fiindeio raso. Isso indica<br />
haver praticamente apenas uma pulsação de correntes nos dois pontos, sem que haja<br />
uma rotação significativa. Nessa freqüência, a direqão da elipse do fundeio raso foi de<br />
80' contra 68" do ESEI. Ambas as séries apresentaram alta estabilidade, 0,89 no raso e<br />
0,96 no ESEI. Isto mostra que o padrão do escoamento é bastante repetitivo para essa<br />
faixa de freqüência.<br />
Os valores semelhantes encontrados para o coeficiente de rotação e estabilidade<br />
na faixa de freqüências sub-inerciais, e também, embora menos importantes em termos<br />
de energia, na faixa de freqüências semidiurnas, apontam para o fato de que há, sim,<br />
uma certa homogeneidade do campo de correntes, pelo menos nessas faixas do espectro
otatório. Razoável seria aproximar a série de correntes do fundeio raso a partir da série<br />
medida no ESEI, desde que rotacionada de 10" e amplificada de 10%. Um procedimen-<br />
to semelhante a este poderia ser utilizado para gerar séries artificiais de corrente em ou-<br />
tros pontos dentro dos domínios da mancha, para assim melhor definir as características<br />
do escoamento. Um procedimento semelhante a este é proposto no Capítulo 5 para a<br />
modelagem da dispersão da pluma de contaminantes do ESEI.<br />
0.1 1<br />
Frequencia (c.p.d.)<br />
Figura 2.18: Espectro rotatório de correntes medida do fundeio raso em 07 metros de<br />
profundidade e no ESEI em 06 metros. Os valores semelhantes encontra-<br />
dos para o coeficiente de rotação e estabilidade na faixa de freqüências<br />
sub-inerciais apontam para o fato de que há uma certa homogeneidade<br />
do campo de correntes nessas faixas do espectro.
2.6.3.5 Influência do vento sobre a circula@o<br />
Ondas de longo período que se propagam sobre a Plataforma Continental podem ser de-<br />
tectadas tanto por medições de correntes horizontais quanto por medições de nível do<br />
mar. Porém, uma vez que essas ondas são, em essência, oscilações de correntes horizon-<br />
tais, as variações verticais de nível do mar são características secundárias (Hsieh, 1982).<br />
Entretanto, quanto mais informações puderem ser computadas, e se possível cruzadas,<br />
para auxiliar a compreensão do funcionamento do ambiente físico marinhoJ mais consis-<br />
tência pode-se esperar para as hipóteses levantadas e testadas.<br />
A Figura 2.19 apresenta funções espectrais de nível do mar medido na Ilha Fis-<br />
cal; espectro total de ventos obtidos por reanálise; espectro total de correntes marinhas<br />
medidas a 3,5 metros de profùndidade; e coerência interna horária e anti-horária do es-<br />
pectro cruzado entre as séries de correntes e ventos. Observa-se a correspondência entre<br />
os picos principais de energia, 30, 16,7, 9,4 a 8,5, 7,2 e 5,2 dias, nos três espectros. O<br />
pico de 16,7 dias apresentou alta coerência interna horária (0,7). Ou seja, a componente<br />
horária do vento apresentou alta correlação com a componente horária da corrente. O<br />
pico de 7,2 dias possui coerência elevada (0,7) tanto entre as componentes horárias<br />
quanto entre as anti-horárias. Em geral, a coerência entre o vento e a corrente foi maior<br />
entre as suas componentes horárias do que entre as anti-horárias.<br />
Essas ondas podem ter origem a partir de distúrbios meteorológicos ocorridos<br />
longinquamente ou podem ser forçadas localmente pelos mesmos. Fato este atestado<br />
pela alta coerência entre o vento e a corrente observada nas Figura 2.19-d e Figura 2.19-<br />
e. No caso da PCSE, onde os sistemas fiontais avançam por sobre a mesma de sudoeste<br />
para nordeste a uma velocidade típica de 500 kmldia (Stech e Lorenzzetti, 1992), o dis-<br />
túrbio que gera a onda também se desloca no mesmo sentido da mesma. Sobre o Rio de<br />
Janeiro, entretanto, a fiente encontra-se, praticamente, no final de seu percurso rumo ao<br />
norte-nordeste. Pressionada pelo Anticiclone do Atlântico Sul, a velocidade de propaga-<br />
ção da frente sobre o Litoral Fluminense deve ser menor do que a registrada pelos auto-<br />
res citados acima.<br />
O cenário é de dificil definição, portanto. De forma a aumentar a resolução tem-<br />
poral dos espectros cruzados entre vento e corrente, procedeu-se novamente a pfotagem<br />
da progressão dos mesmos no tempo ao longo de todo o período de observação.
0.001 0.01 0.1<br />
Frequencia (Dia-')<br />
1<br />
Figura 2.19: Funções do a) espectro de nível do mar medido na Ilha Fiscal, b) espectro<br />
total de vento (reanálise NOAA), c) espectro total de correntes a 3,5 me-<br />
tros, d) coerência interna horária e e) coerência interna anti-horária do<br />
espectro cruzado entre o vento e a corrente.<br />
A Figura 2.20 apresenta a progradação no tempo dos espectros totais, direções e<br />
estabilidade das elipses de vento e corrente. Complementarmente, a Figura 2.21 apre-<br />
senta as coerências horárias e anti-horárias e a diferença de fase entre essas duas séries<br />
temporais vetoriais. As figuras foram elaboradas seguindo os mesmos procedimentos<br />
descritos anteriormente.<br />
e>
nn 7M ?nn<br />
---<br />
1997 (Dia iiiano) 1997 (Dia ~uliano)<br />
Figura 2.20: Evolução temporal de a) e b) espectros totais; c) e d) direção; e) e f) esta-<br />
bilidade das elipses de vento e corrente para a costa do Rio de Janeiro<br />
em 1997. Nota-se haver correspondência entre as funções espectrais ro-<br />
tatórias nos períodos de outono e primavera.
Nota-se haver correspondência e alta coerência interna horária, maior do que 0,7,<br />
entre vento e corrente nos eventos de alta energia ocorridos no outono e primavera. Nos<br />
eventos da primavera observou-se também alta coerência interna anti-horária. Este fato<br />
reitera a Figura 2.21 que atestava que ventos e correntes estão correlacionados na costa<br />
do Rio de Janeiro. Observando, porém, a diferença de fase entre essas séries, nota-se<br />
que no período de outono, na faixa de alta coerência interna horária, esta apresentava<br />
valores entre -10 e +10°, ou seja, muito próximos de zero, indicando que os eventos,<br />
além de coerentes, foram simultâneos também. Nos eventos da primavera, entretanto, a<br />
diferença de fase observada variou entre -10 e -30". Uma vez que o vento liderou o es-<br />
pectro cruzado, um valor de fase negativo indica que a onda chegou primeiro à costa do<br />
Rio de Janeiro, influenciando o campo de correntes, antes do abalo meteorológico que a<br />
originou. Para essa faixa de fiequências, essa diferença de fase equivale a 2,6 a 8 horas<br />
de atraso.<br />
Os cenários descritos acima atestam que tanto a situação de oscilação forçada lo-<br />
calmente pelo vento, quanto a propagação de uma onda livre pela costa são característi-<br />
cos do litoral carioca. Nos dois casos, a estrutura e a dinâmica oceanográfica respondem<br />
de forma similar.<br />
Um outro aspecto importante a ser levantado diz respeito à estabilidade do vento<br />
durante a primavera. Nota-se que esta aumentou signifícativamente nesse período, na<br />
mesma faixa de fiequência em que foram observadas maiores coerências internas horá-<br />
rias e anti-horárias. As orientações das elipses seguiram a direção NNE - SSO. A maior<br />
estabilidade, associada a alta energia, nessa direção pode significar maior eficiência no<br />
transporte da Corrente Costeira do Brasil. A estabilidade alta da corrente nesse período<br />
parece reforçar essa hipótese. No outono, entretanto, não foi observado comportamento<br />
semelhante ou qualquer outro que apontasse para um padrão.
1997 (Dia iüfmno)<br />
Figura 2.21: Evolução temporal de coerência interna a) horária e b) anti-horária; e c)<br />
diferença de fase do espectro cruzado entre as elipses de vento e corren-<br />
te para a costa do Rio de Janeiro em 1997. Observa-se alta coerência in-<br />
terna horária entre vento e corrente nos eventos de alta energia ocorridos<br />
no outono e primavera. Nos eventos da primavera observou-se também<br />
alta coerência interna anti-horária. No período de outono, na faixa de alta<br />
coerência interna horária, os eventos ocorreram simultaneamente. Nos<br />
eventos da primavera, as ondas longas da plataforma chegaram primeiro<br />
a costa carioca do que os abalos meteorológicos.<br />
A questão da eficiência de transporte pode ser avaliada por outro evento ocorrido<br />
próximo ao meio do ano. O período com maior energia cinética de ventos não apresen-<br />
tou correspondência, nem coerência, com eventos de alta energia de correntes. Neste<br />
período, os ventos seguiram a direção ENE-OSO, diferente dos demais picos coerentes.<br />
Isto aponta para o fato de que os ventos efetivamente capazes de iduenciar a circulação<br />
seguem a direção NNE-SSO.
A estrutura oceanográfíca do litoral da cidade do Rio de Janeiro foi avaliada com base<br />
em informações de campo obtidas ao longo do ano de 1997 nas proximidades dos difu-<br />
sores do Emissário Submarino de Esgotos de Ipanema.<br />
As correntes seguiram um padrão eiíptico anti-horário similar a propagação de<br />
uma onda de plataforma junto a costa. Os gradientes de temperatura mais acentuados no<br />
verão e outono produziram ondas internas com amplitudes menores do que as que foram<br />
geradas no inverno, quando os gradientes são menores.<br />
As correntes próximas a superfície dirigiram-se predominantemente para NE-<br />
ENE e OSO-O. A média de velocidades foi inferior a 20 cds enquanto as máximas al-<br />
cançaram 75 cds. Próximo ao fundo, as correntes dirigiram-se predominantemente pa-<br />
ra NE-ENE e N-NNE. As velocidades médias foram menores do que 15 cds e as má-<br />
ximas alcançaram 3 8,O cds.<br />
Os períodos de oscilação sub-inerciais foram os mais significativos observados<br />
no litoral carioca. Os vetores de corrente giram elipticamente no sentido anti-horário<br />
com alta estabilidade. A direção principal da elipse seguiu em geral a orientação das<br />
isobatimétricas. No fundo, observam-se os mesmos períodos sub-inerciais da superfície<br />
porém com energia muito reduzida. O pico de maré semidiurna, no entanto, não sofre<br />
redução de amplitude com a profundidade e passa a dominar o espectro próximo ao<br />
fundo.<br />
Observou-se que os períodos de oscilação variam si&cativamente ao longo do<br />
ano. O pico predominante no espectro anual, 5,2 dias, ocorreu entre o fhal de agosto e<br />
meados de novembro; o de 7,2 dias ocorreu entre fevereiro e maio; e o de 16,7 dias o-<br />
correu de meados de fevereiro ao início de outubro. Este último pico apresentou-se de<br />
forma mais estacionária durante o período de observação.<br />
Observou-se que ventos e correntes são coerentes na costa do Rio de Janeiro.<br />
Entretanto, pode haver períodos de tempo em que a concordância não é simultânea. Um<br />
abalo meteorológico produzido ao sul, geraria uma onda que se propagaria rumo ao lito-<br />
ral carioca, lá chegando antes da fi-ente propriamente dita. Foram observadas diferenças<br />
de fase variando entre 2,8 e 8 horas.
CAP~TULO 3: DILUIÇAO NO CAMPO PRÓXIMO AO EMISSÁRIO<br />
SUBMARINO DE ESGOTOS DE IPANEMA<br />
A dispersão de plumas de contaminantes dispostas no ambiente aquático através de e-<br />
missários submarinos é usualmente modelada separando-se o campo próximo, domina-<br />
do pela turbulência gerada pela própria descarga, do campo afastado, onde predomina a<br />
turbulência gerada pelas correntes. As escalas espaciais e temporais dos processos de<br />
mistura envolvidos distinguem-se signúicativamente nesses dois domínios, o que difi-<br />
culta serem consideradas em um único modelo.<br />
Existem vários modelos de uso difundido para campo próximo. Três dos quais<br />
têm destaque por serem disponibilizados pela "United States EnWonmental Protection<br />
Agency (USEPA)": o UM3, o RSB e o CORMIX. O UM3 é um modelo lagrangeano de<br />
arrasto ("entrainment model") tri-diiensional disponível na interface Visual PLUMES<br />
prick et al., 2000). O RSB, ahialmente também chamado de NRFIELD, utiliza formu-<br />
lações semi-empíricas baseadas nos resultados de extensivos experimentos realizados<br />
em laboratório com diisores multi-portas em ambiente estratificado Poberts, 1989). O<br />
CORMIX ("Comeu Mixing Zone Expert System") congrega várias rotinas para analisar<br />
a geometria e diluição na zona de mistura. Este classifica o escoamento baseado nas<br />
magnitudes relativas de escalas de comprimento computadas a partir das informações de<br />
entrada. O subsistema CORMlX2 (Akar e Jirka, 1991) é utilizado para simular a pluma<br />
de difusores multi-portas submersos.<br />
Estudos avaliando a eficiência in sitzc dos modelos de campo próximo são raros.<br />
Faisst et al. (1990), Roberts and Wilson (1990), Davidson et al. (1993), Wu et al. (1994)<br />
and Petrenko et al. (1998) desenvolveram estudos com esse objetivo utilizando traçado-<br />
res naturais, radioativos e/ou fluorescentes. Carvalho et al. (2002) compararam os resul-<br />
tados dos três modelos supracitados com medições "in situ" do campo de esgotos do<br />
ESEI em situações de coluna d'água estratifícada e homogênea. De maneira geral, os<br />
três modelos mostraram-se eficientes para representar a diluição inicial e os demais pa-<br />
râmetros.
Projetos de emissários submarinos geralmente buscam alcançar diluição inicial<br />
em tomo de 1:100 ao final do campo próximo, na condição de corrente e estratficação<br />
de densidades mais desfavorável a diluição (Ludwig, 1988). Para atingir este patamar,<br />
conhecendo-se as características do efluente e do ambiente receptor, o engenheiro proje-<br />
tista, utilizando-se de modelos de campo próximo, pode avaliar diferentes arranjos de<br />
profundidade de lançamento; tamanho do difusor; número e diâmetro das portas nele<br />
existentes, e espaçamento entre as mesmas.<br />
Embora reconhecendo a necessidade de se utilizar séries temporais dos parâme-<br />
tros envolvidos na modelagem, longas o suficiente para avaliar-se a eficiência de um<br />
sistema de disposição oceânica com resolução sazonal, poucos trabalhos utilizando-se<br />
de monitoramento contínuo desses parâmetros foram descritos. Roberts (1999) descreve<br />
a modelagem de campo próximo no emissário submarino de Baía de Mamala, no Havaí.<br />
Neste, foram utilizadas séries temporais de corrente, obtidas a partir de ADCP, de fun-<br />
deio de termistores, e da descarga do efluente com duração de 10 meses. A metodologia<br />
de coleta de dados adotadas neste trabalho serviu de base para o planejamento das cam-<br />
panhas realizadas pela COPPE de 1996 a 1998 no ESEI.<br />
O presente trabalho avalia estatisticamente a pefiormance de campo próximo do<br />
ESEI utilizando o modelo NRFIELD adaptado de Roberts, 1999. As simulações foram<br />
efetuadas para um período de um ano completo e os resultados foram agrupados por es-<br />
tações sazonais. O modelo foi escolhido para simulação por permitir a pronta utilização<br />
de séries temporais de todos os parâmetros de entrada do modelo. Além disso, a saída<br />
do mesmo acopla-se como entrada no modelo FRFIELD de campo afastado que será<br />
discutído no próximo capítulo. A seguir será apresentada uma descrição do referencial<br />
teórico utilizado pelo modelo NFWIELD.<br />
3.1.1 Mistura no campo próximo<br />
A Figura 3.1 mostra uma típica descarga por emissários submarinos. O efluente é ejeta-<br />
do horizontalmente como um jato flutuante através de portas em série espaçadas uni-<br />
formemente de cada lado do difúsor. Estes jatos turbulentos flutuantes geram mistura<br />
com a água do mar circundante resultando numa rápida diminuição na concentração do
efluente. Como a água do mar que circunda o difusor geralmente apresenta estratifica-<br />
ção de densidades, a descarga, cuja densidade é próxima da água doce, é mais leve e a<br />
pluma eleva-se na coluna d'água devido as forças de empuxo ("buoyancy" em Inglês)<br />
até alcançarem um nível de flutuabilidade neutra ou nível de aprisionamento do efluen-<br />
te. Neste ponto o mesmo passa a espalhar-se lateralmente criando uma camada de espa-<br />
Ihamento horizontal. Dependendo da magnitude da estratificação, a camada de espa-<br />
lhamento horizontal pode encontrar-se submersa. Se a coluna d'água estiver homogênea<br />
ou fracamente estratificada, a pluma emergirá espalhando-se ao longo da superfície da<br />
água.<br />
Figura 3.1: Comportamento típico dos efluentes de um emissário submarino (adap-<br />
tado de Roberts, 1996).<br />
A intensa mistura que ocorre próximo a fonte deve-se a turbulência gerada por<br />
ela própria, quer pelos fluxos de momentum devido a ejeção, quer pelos fluxos de massa<br />
devido ao empuxo. Esta região, onde se processa a mistura inicial, é conhecida como<br />
campo próximo ou zona de mistura inicial. A máxima diluição alcançada é denominada<br />
diluição inicial. Esta é bastante idiuenciada pelas características do difusor; particular-<br />
mente a profundidade, o comprimento, o diâmetro individual das portas e o espaçamen-<br />
to entre as mesmas; e pelas características do corpo d'água receptor.
Dentro do campo próximo, a diluição aumenta rapidamente com a distância ao<br />
difusor até que a energia cinética turbulenta gerada pelo empuxo e momentum da des-<br />
carga seja dissipada. Devido a natureza turbulenta do escoamento, as flutuações na con-<br />
centração instantânea do efluente, quando comparadas a concentração média, são gran-<br />
des próximo ao diisor e diminuem em direção ao final da zona de mistura. Neste pon-<br />
to, diz-se que o campo de esgotos está estabelecido e a diluição ali observada é efetiva-<br />
mente a diluição inicial.<br />
Num projeto de um emissário submarino, é desejável prever-se as características<br />
do campo estabelecido e avaliar o quanto essas dependem do projeto do difusor, da es-<br />
tratificação do corpo d'água receptor, e da velocidade e direção das correntes. As carac-<br />
terísticas de maior interesse são (Figura 3.2) a altura em relação ao fundo, do topo do<br />
campo de esgotos estabelecido, 2, ; a altura do nível de máxima concentração (corres-<br />
pondendo a mínima diluição), Z,,, ; e a espessura do mesmo, h,. A diluição mínima ao<br />
final da zona de mistura, S,,, , é definida como o menor valor de diluição observada em<br />
um plano vertical perpendicular ao campo de esgotos ao final da zona de mistura inicial.<br />
Campo esgotos<br />
Figura 3.2: Perfil de uma descarga por emissários submarinos (adaptado de Roberts,<br />
1996).
A previsão das características do campo de esgotos estabelecido é complexa de-<br />
vido às muitas variáveis envolvidas no processo. Roberts (1979), Roberts et al. (1989) e<br />
Daviero (1997) descrevem abordagens similares para descarga por difusores multi-<br />
portas em ambientes estratificados e homogêneos, variando as velocidades de corrente e<br />
as características geométricas dos mesmos. Nesses estudos, os autores produziram for-<br />
mulações empíricas consistentes, baseadas em análise dimensional, argumentos de esca-<br />
las de comprimento e extensivos experimentos em laboratório. Objetivando a farniliari-<br />
zagão com os conceitos básicos das abordagens supracitadas, será apresentado o desen-<br />
volvimento da formulação apenas para difùsores muIti-portas, que é o caso mais co-<br />
mum. O desenvolvimento completo, incorporando as formulações para tubulações sim-<br />
ples, pode ser obtido nas referências supracitadas.<br />
Quando as portas do diisor estão muito espaçadas entre si predominam as ca-<br />
racterísticas de descargas individuais. As variáveis primárias envolvidas são os fluxos<br />
cinemáticos de volume, momentum, e empuxo 6 .<br />
Fischer et al. (1979) dekine o fluxo específico de massa, ou fluxo de volume, como:<br />
p=<br />
P<br />
, onde o termo integral é o fluxo de massa que atravessa a área A da seção transversal de um jato<br />
com velocidade W e massa específica p . O fluxo específico de momentum é defindo por @I = Lm2d<br />
P<br />
onde o termo integral, fluxo de momentum, é a quantidade de momentum do jato que passa pela seção transversal<br />
na unidade de tempo. O fluxo específico de empuxo é definido por P=<br />
IA SAPW~<br />
, onde o temo integral é<br />
P<br />
o peso submerso do fluido que passa pela seção transversal do jato por unidade de tempo. Note que os termos<br />
chamados de fluxo de volume, de empuxo e de momentum são, na verdade, fluxos de massa gerados por essas propriedades.<br />
Os termos Qp , M e B são os fluxos específicos iniciais, ou seja, na porta, de massa (ou fluxo de<br />
volume), momentum e empuxo.
onde Qp, o fluxo inicial de volume, é a descarga individual da porta, 24, é a velocidade<br />
AP<br />
de saída da porta, A é a área da porta, g, ' = g- é a aceleração da gravidade modifí-<br />
Pa<br />
cada (ou gravidade reduzida), Ap = pa - pe é a diferença entre as densidades do efluen-<br />
te, p,, e do corpo d'água receptor na profundidade da porta, pa . OS efeitos dinâmicos<br />
relativos desses fluxos podem ser determinados pelas seguintes escalas de comprimento:<br />
Cada uma dessas escalas de comprimento tem um significado físico. I, define a<br />
distância, em relação a origem, a partir da qual o fluxo de volume não exerce mais in-<br />
fluência dinâmica sobre o campo de escoamento. No caso de diisores relativamente<br />
profundos, Qp torna-se muito pequeno quando comparado ao fluxo de volume que é<br />
incorporado a pluma enquanto esta eleva-se na coluna d'água. Isto ocorre quando<br />
zlí,, >> 1. Neste caso, o efeito dinâmico do fluxo de volume da fonte torna-se insigni-<br />
ficante e o campo e escoamento é determinado apenas pelos fluxos de momentum e de<br />
empuxo. O termo I, defhe a distância em que o fluxo de momentum da fonte é impor-<br />
tante em relação ao fluxo de empuxo. Fisher et al. (1979) define pluma pura como uma<br />
descarga totalmente dominada pelo fluxo de empuxo, com fluxo de momentum nulo.<br />
Isto ocorre quando zll, > 5 em ambientes não estratificados (Papanicolaou & List,<br />
1988). Analogamente, um jato puro é definido como sendo dominado apenas pelo fluxo<br />
de momentum, com fluxo de empuxo nulo ( z l lM < 1 ).<br />
Quando as portas estão muito próximas, as descargas individuais irão fundir-se<br />
totalmente e comportar-se como um escoamento bidimensional. Neste caso a descarga é<br />
descrita pelos fluxos de volume, empuxo e momentum por unidade de comprimento do<br />
difusor:
onde Q = ZQ é a descarga total do difusor, L é o comprimento do difusor, e s é o es-<br />
P<br />
pagamento entre as portas. Os efeitos dinâmicos desses fluxos são determinados basea-<br />
dos nas escalas de comprimento características para a fonte em linha.<br />
As características da descarga dependem ainda de certas propriedades do corpo<br />
receptor tais como velocidade da corrente e estratifica@o de densidades. Como esta ú1-<br />
tima tende a inibir movimentos verticais, as flutuações turbulentas verticais são supri-<br />
midas diminuindo a diluição e a altura de ascensão da pluma. A estratiíkação, sendo<br />
linear ou não, pode ser caracterizada pela fieqüência de Brünt-Vaisala, N:<br />
onde p, é a densidade ambiente na profundidade z e p, é a densidade ambiente no<br />
nível de lançamento. A presença de estratificação de densidades resulta em escalas de<br />
comprimento adicionais para plumas individuais e em linha:
Para uma fonte pontual o fluxo de momentum da fonte é desprezível quando<br />
'~ < 1 (Wong & Wright, 1988) enquanto que para uma fonte em linha, este é despre-<br />
zível quando', < 0,l (Wright et al., 1982).<br />
Correntes oceânicas tendem a aumentar a mistura e, dependendo de suas veloci-<br />
dade e orientação relativas ao difúsor, estas podem afetar signifícativamente a diluição.<br />
Roberts (1979) realizou experimentos com plumas em linha descarregando num ambi-<br />
ente estratiíicado. A importância da velocidade de corrente e relação ap empuxo da fon-<br />
te foi descrita pela magnitude do número de Froude da corrente.<br />
Um valor pequeno de F evidencia uma descarga dominada pela seu empuxo,<br />
enquanto que F grande evidencia uma descarga dominada pela velocidade da corrente.<br />
A Figura 3.3 mostra plumas de difúsores muiti-portas operando em ambiente estratití-<br />
cado sob condições com número de Froude distintos. Para corrente nula (F = O ) as duas<br />
plumas fundem-se parcialmente antes de entrarem na camada de espalhamento horizon-<br />
tal. Com um pequeno aumento na velocidade de corrente (F = 0,l) a camada superior é<br />
expelida e todo o escoamento é deslocado para jusante. Aumentando-se mais ainda a<br />
velocidade de corrente, as plumas dos dois lados do difksor fùndem-se rapidamente e<br />
aparecem ondulações no campo de esgotos.<br />
Quando a velocidade de corrente aumenta muito ocorre uma mudança no pro-<br />
cesso e mistura. Nessa situação, a pluma não consegue incorporar massa do fluido am-<br />
biente e a base do campo de esgotos permanece na altura do nível das portas. Isto é o<br />
regime de arrasto forgado. A altura de ascensão e a espessura da pluma diiuem com o<br />
aumento da velocidade de corrente neste caso.<br />
A disposição oceânica de esgotos é geralmente efetuada através de difusores<br />
multi-portas. Qualquer variável dependente em um problema deste tipo pode ser expres-<br />
sa como:
Figura 3.3: Plumas de difusores perpendiculares em correntes estratificadas para<br />
diferentes números de Froude (Roberts, 1989). Note-se que com o aumen-<br />
to da velocidade de corrente, a pluma não consegue incorporar o fluido<br />
ambiente e a base do campo de esgotos permanece na altura do nível das<br />
portas. A altura de ascensão e a espessura da pluma diminuem com o<br />
aumento da velocidade de corrente neste caso.<br />
onde, dos termos não definidos acima, v é a viscosidade cinemática da fonte, D é o di-<br />
âmetro da porta, s é o espaçamento entre as portas, H é a profundidade da porta e B é<br />
o ângulo da corrente em relação ao eixo do dfisor (Figura 3.4).
Difusor 4<br />
Mstc<br />
Campo de 6sgotoç<br />
Figura 3.4: Vista em planta de uma descarga por emissários submarinos.<br />
A Equação (3.15) pode ser reescrita em termos dos fluxos de volume, empuxo e<br />
momentum assumindo-se que a aproximação de Boussinesq é válida.<br />
Assumindo-se que o efeito dinâmico do fluxo de volume da fonte é desprezível<br />
comparado com o fluxo de volume arrastado; que o escoamento é essencialmente turbu-<br />
lento e independente do número de Reynolds da fonte; e que o escoamento é perpendi-<br />
cular ao eixo do difbsor; a Equação 3.16 pode ser simplificada como:
onde os fluxos de momentum e de empuxo por unidade de comprimento são definidos<br />
como b = 2% e m = 2ML para descarga por multi-portas dos dois lados do difusor.<br />
Para o caso em que a diferença de densidades na pluma é linearmente propor-<br />
cional a concentração do poluente, a diluição, S, é dada pela razão entre a aceleração da<br />
gravidade modificada da fonte pela aceleração da gravidade modificada local, g' (Ro-<br />
berts, 1977):<br />
A diluição ao final da zona de mistura hidrodinâmica será:<br />
onde gnl é a aceleração da gravidade modificada no íinal da zona de mistura hidrodi-<br />
nâmica.<br />
Para o caso de coluna d'água homogênea, qualquer variável dependente poderá<br />
ser expressa por:<br />
Não havendo correntes, a aceleração da gravidade modiicada ao íinal da zona<br />
de mistura hidrodinâmica pode ser expressa como:<br />
Aplicando análise dimensional pode-se reescrever a equaqão acima como:
Para o caso de um difusor profundo, a descarga é dominada apenas pelo empuxo<br />
e o efeito do momentum da fonte é desprezível. Introduzindo a Equação 3.20 e reorga-<br />
nizando a Equação 3.23 teremos:<br />
Similarmente, o comprimento da zona de mistura hidrodinâmica e a largura do<br />
campo de esgotos são dados por:<br />
Quando as plumas estão muito próximas, s/H > 1, estas comportam-se como<br />
plumas individuais e não fundem-se com as vizinhas. Neste caso:<br />
Para o caso de plumas múltiplas, com corrente e coluna d'água homogênea, a di-<br />
luição pode ser expressa como:<br />
A Figura 3.5 sumariza experimentos de Roberts (1977) para difusores multi-<br />
portas operando em coluna d'água homogênea. A maior diluição é alcançada quando o<br />
difusor é perpendicular à direção da corrente.<br />
No caso de plumas múltiplas, com corrente e coluna d'água estratificada as ca-<br />
racterísticas do campo de esgotos estabelecido podem ser expressas por:
Figura 3.5: Diluiqão mínima superficial num difusor multi-porta operando em coluna<br />
d'água homogênea (adaptado de Roberts,1996).<br />
para intervalos de Zm 1 Zb < 0,2 e s lZb < 0,3 (Roberts et al., 1989). A Figura 3.3<br />
apresenta fotografias desses experimentos. A Figura 3.6 apresenta graficamente os re-<br />
sultados dos experimentos para a diluição inicial na forma da Equação 3.29. A diluição<br />
inicial aumenta com a velocidade da corrente quando F excede 0,1, é maior para um<br />
difusor disposto perpendicularmente e menor para um disposto paralelamente à direção<br />
da corrente.<br />
Medidas da elevação da pluma na coluna d'água, ze, são apresentadas na Figura<br />
3.7. A altura de elevação diminui rapidamente com o aumento da velocidade de corren-<br />
tes para correntes perpendiculares no regime de arrasto forçado. Esta também decresce<br />
para correntes paralelas mas não tão rapidamente quanto no caso das correntes perpen-<br />
diculares ao difusor.
Figura 3.6: Diluição mínima inicial para descargas de difusores multi-portas em co-<br />
luna d'água estratificada e sob efeito de correntes (adaptado de Ro-<br />
Figura 3.7: Altura de elevação da pluma para descargas de difusores multi-portas em<br />
coluna d'água estratificada e sob efeito de correntes (adaptado de Ro-<br />
berts,l996).<br />
78
A largura do campo de esgotos estabelecido depende do espalhamento gravita-<br />
cional lateral. Este é particularmente importante para difùsores paraielos a direção das<br />
correntes como mostra a Figura 3.8.<br />
I'ista Lateral<br />
Figura 3.8: Vista lateral e em planta de descargas de difusores multi-portas em colu-<br />
na d'água estratificada e sob efeito de correntes paralelas (adaptado de<br />
Roberts, 1996). A largura do campo de esgotos estabelecido depende do<br />
espalhamento gravitacional lateral.<br />
O referencial teórico descrito acima compõe o conjunto de equações utilizadas no mo-<br />
delo NRFIELD (Roberts, 1999) adotado nesse trabaiho. O modelo incorpora como da-<br />
dos de entrada características do ambiente, como séries temporais de velocidade e dire-<br />
ção de correntes nas profbndidades disponíveis e perfis de densidade da água; caracte-<br />
rísticas do diisor (Tabela 3.1) e do efluente (densidade do efluente: 998 kg/m 3 ). A par-<br />
tir dessas informações, o mesmo calcula, entre outros, os seguintes parâmetros da plu-<br />
ma: Diluição inicial (S); altura, em relação ao dfisor, de máxima concentração<br />
(Hcmax) e espessura da pluma (He). O número de Froude densimétrico (F ), apresen-<br />
tado em (3.14), também é fornecido pelo modelo.
Tabela 3.1: Características do difusor do ESEI adotadas na modelagem de campo<br />
próximo.<br />
As séries temporais obtidas no ESEI, com 8760 valores horários de perfis de<br />
corrente e densidade da água do mar (inferida a partir dos perfis de temperatura), descri-<br />
tas no Capítulo 2 (Figuras 2.5 a 2.9), foram introduzidas no modelo para reproduzir as<br />
características oceanográficas do ambiente. Nas profundidades acima e abaixo dos Ill-ní-<br />
tes de amostragem dos equipamentos, assumiu-se não haver variação vertical das pro-<br />
priedades, repetindo-se os valores de corrente ou densidade desses limites até a superfí-<br />
cie ou o fundo do mar.<br />
Profundidade do difùsor<br />
Número de portas<br />
Espaçamento entre as portas<br />
Diâmetro de portas<br />
Orientação do difusor<br />
27 m<br />
Os resultados da modelagem com o NEWIELD foram séries temporais dos pa-<br />
râmetros supracitados. As informações foram agrupadas por estações do ano, apresenta-<br />
dos na forma gráfica cartesiana e reduzidas estatisticamente de forma a permitir a análi-<br />
se descritiva da diluição da pluma relacionando, quando necessário, com episódios oce-<br />
180<br />
5,O m<br />
0,17 m<br />
90"<br />
anográficos, ou mesmo de variação na descarga, significativos.<br />
O código do modelo NRFIELD foi modificado para incorporar uma adaptação<br />
na forma como as informações de velocidade e direção de correntes são introduzidas no<br />
mesmo. Os experimentos de laboratório que deram suporte ao NRFIELD, assim como<br />
todos os demais modelos de campo próximo, foram conduzidos com correntes unifor-<br />
mes. Por isso, o modelo original efetua uma promediação das informações de corrente<br />
existentes ao longo da coluna d'água. Numa situação em que a pluma fica aprisionada<br />
em sub-superficie, é útil promediar a corrente somente ao longo do percurso da pluma,<br />
ou seja, até a profundidade de estabilização da pluma. Desta forma, elaborou-se o se-<br />
guinte procedimento: A cada passo de tempo, a profundidade do topo da pluma, Ze , é<br />
calculada, inicialmente sem a presença de correntes. Em seguida, os vetores de corrente<br />
do perfil de ADCP são promediados do fundo até Ze ; nova modelagem é efetuada com<br />
essa velocidade e uma nova Ze é obtida. O processo é repetido até que haja convergi%-<br />
cia de Ze .
3.2.1 Avaliaçiio da descarga do ESEI<br />
A fim de obter-se maior precisão na estimativa do campo próximo, foram solicitados a<br />
CEDAE os registros do monitoramento diário de descarga do ESEI que a empresa reali-<br />
za. Os mapas de bomba das estações elevatórias São Conrado, Elo, Leblon, E1 1, Satur-<br />
nino de Brito, E12, e André Azevedo, E22, que alimentam o ESEI foram disponibiliza-<br />
dos pela mesma. A Empresa monitora nos mapas de bomba os horários em que cada<br />
bomba encontra-se em operação. Conhecendo-se a capacidade de bombeamento por ho-<br />
ra de funcionamento das mesmas, a vazão horária do ESEI pôde ser então estimada so-<br />
mando-se os volumes bombeados por todas as bombas em operação no sistema numa<br />
determinada hora.<br />
Como os tempos de trânsito do efluente entre as estações elevatórias e o difiisor<br />
são diferentes, a estimativa da descarga efetiva no fím do sistema, baseada na soma das<br />
quantidades bombeadas, é uma aproximação da realidade. Uma oscilação da descarga<br />
gerada pelo desligamento de uma bomba qualquer do sistema, registrado no mapa de<br />
bombas, refletiria instantânea e integralmente no cálculo da descarga do ESEI. Na reali-<br />
dade, a iduência desta bomba na redução da descarga dependeria do tempo de trânsito<br />
do esgoto por ela bombeado até o final do sistema. O sistema, como um todo, tende a<br />
funcionar como um filtro passa-baixa, atenuando ou absorvendo as oscilações geradas<br />
por suas partes individualmente. A fim de inserir esta característica no processamento<br />
da vazão efetuou-se a média móvel com três valores de descarga consecutivos (com pe-<br />
sos 25,50 e 25%).
3.2.2 Estimativa da densidade da hgua<br />
O NRFIELD utiliza todo o perfil de densidades da água do mar para calcular os parâme-<br />
tros da pluma. Dispondo apenas de informações de temperatura, fez-se necessário infe-<br />
rir a densidade a partir destas. Com esse propósito, estabeleceu-se uma relação entre<br />
temperatura e densidade utilizando-se informações de temperatura e salinidade obtidas<br />
em cruzeiros oceanográficos realizados na região costeira adjacente ao município do<br />
Rio de Janeiro (Figura 3.9), gentilmente disponibilizadas pela equipe do Banco Nacio-<br />
nal de Dados Oceanográficos da Diretoria de Hidrografia e Navegação.<br />
O seguinte polinômio foi ajustado aos dados para relacionando a temperatura<br />
com a massa específica, com R~=o,% 8 :<br />
15 20 25<br />
Temperatura ("C)<br />
Figura 3.9: Relação massa específica por temperatura na região costeira adjacente<br />
ao município do Rio de Janeiro. Dados cedidos pelo BNDO.<br />
82
3.3.1 A descarga do ESEI.<br />
A Figura 3.10 apresenta as séries temporais de descarga por estação do ano reconstituí-<br />
da a partir dos mapas de bomba da CEDAE. Como não foram encontrados os registros<br />
do mês de janeiro este foi estimado utilizando-se a descarga média do verão superposta<br />
a forma da curva de descarga média horária apresentada na Figura 3.1 1. A descarga em<br />
1997 variou entre 1,06 e 7,98 m3/s com média em 5,49 m3/s. Observa-se um padrão sa-<br />
zonal na descarga do ESEI. Nos meses de inverno, as descargas tendem a ser menores<br />
do que nos de verão devido a menor demanda por água característica dessa época do<br />
ano, Da mesma forma, nos horários de pico, que ocorrem por volta das 11 :O0 da manhã,<br />
as descargas médias chegam ser 20% superiores a dos horários de menor demanda, que<br />
ocorre por volta das 5:00 horas da manhã. Essas diferenças poderiam certamente ser<br />
maiores não fosse o controle da descarga que a CEDAE pratica, utilizando as cisternas<br />
das estações elevatórias, visando perenizar o escoamento.<br />
É possível que, em alguns horários, as informações de descarga totalizadas in-<br />
corporem erros causados por vícios de operação quanto ao preenchimento dos mapas de<br />
bomba. Talvez por ser uma atividade repetitiva e de importância secundária, é comum<br />
observar indícios de que, em alguns dias, as planilhas foram preenchidas num único<br />
momento do turno de um operador e não na ocasião de sua ronda as bombas. Nesse ca-<br />
so, há que se contíar que o mesmo não tenha se enganado ao, ou se esquecido de, anotar<br />
certos detalhes da operação das bombas. Também é possível que pelo tempo de uso das<br />
bombas, suas capacidades de bombeamento não estejam devidamente calibradas. Utili-<br />
zaram-se aqui as informações cedidas pela CEDAE que por sua vez segue as tabelas<br />
fornecidas pelos fabricantes das bombas.<br />
As descargas muito baixas observadas na Figura 3.10 foram causadas por inter-<br />
rupções da operação de algumas das estações elevatórias. Em especial, a estação eleva-<br />
tória André Azevedo (E22), responsável por mais da metade do volume escoado pelo<br />
ESEI, causou as maiores variações no escoamento. Problemas como falta de energia,<br />
manutenções em instalações e equipamentos foram responsáveis por essas oscílações<br />
excepcionais.
10-fev 2-mar 22-mar<br />
Verão - 1997<br />
I-mai 21-mai 10-jun 30-jun<br />
Outono - 1997<br />
I I<br />
9-ago 29-ago<br />
inverno - 1997<br />
28-out 17-nov 7-dez 27-dez<br />
Primavera - 1997<br />
Figura 3.10: Descarga horária no ESEI em 1997. O mês de janeiro foi estimado com a<br />
variação diária superposta a média da estação do ano. Fonte: mapas de<br />
bomba da CEDAE. Nos meses de inverno, as descargas tendem a ser<br />
menores do que nos de verão devido a menor demanda no consumo de<br />
água. As descargas muito baixas foram causadas por interrupções na<br />
operação de algumas das estações elevatórias devido a problemas como<br />
falta de energia, manutenções em ínstalações e equipamentos.<br />
4<br />
b)<br />
d)
4.8 [ ~ ~ - ~ ~ i ~ i ~ ~ i i ~ ~<br />
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 d1 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24<br />
Hora<br />
Figura 3.11: Descarga média horária no ESEI em 1997. Observa-se um aumento médio<br />
de cerca de 20% no horário de pico em relação ao horário de menor des-<br />
carga.<br />
3.3.2 O campo próximo no ver50<br />
A Figura 3.12 apresenta as séries temporais dos parâmetros da pluma modelados para o<br />
campo próximo ao ESEI nos meses de janeiro, fevereiro e março de 1997. A diluição<br />
inicial máxima observada no período, 277, ocorreu no dia 10 de fevereiro por volta das<br />
18:OO horas, quando a descarga estimada encontrava-se em 5,08 m 3 /s. A coluna d'água<br />
estava homogênea e a pluma emergiu a superficie com uma espessura de 23 metros. O<br />
número de Froude calculado para esse instante foi de 5,77, induzido por uma corrente<br />
média na coluna d'água de 0,26 m/s apontando para sudoeste.<br />
O mínimo valor observado de diluição foi 34, e ocorreu no dia 1" de março as<br />
02:OO horas, quando a descarga estimada encontrava-se em 6,45 m 3 /s. A coluna d'água<br />
estava bastante estratzcada, o que ocasionou o aprisionamento da pluma em 10,5 me-<br />
tros acima dos difusores. A corrente média calculada para essa faixa de profundidades<br />
foi de 0,03 ds apontando para SSO e o número de Froude ficou em 0,Ol. Nesse perío-<br />
do, as correntes acima da terrnoclina (Figura 2.5, dia juliano 60) estavam relativamente<br />
altas, superiores a 0,3 ds. A pluma, entretanto, por causa da alta estratitícação, não teve<br />
contato com esta faixa de relativa alta velocidade.
1 O-fev 2-mar<br />
Verão - 1997<br />
10-fev 2-mar<br />
Verão - 1997<br />
I I<br />
1 O-fev 2-mar<br />
Verão - 1997<br />
1 0-fev 2-mar<br />
Verão - 1997<br />
Figura 3.12: a) Diluição inicial, b) Altura de máxima concentração (C,), c) Espessura<br />
da pluma e d) Número de Froude do escoamento calculado para o verão<br />
de 1997 no ESEI. A diluição inicial máxima observada no período ocorreu<br />
quando a coluna d'água estava homogênea e a pluma emergiu. O valor<br />
mínimo ocorreu quando a coluna d'água estava bastante estratificada, o<br />
que ocasionou o aprisionamento da pluma em meia profundidade.
O tipo de situação apresentado no último parágrafo ilustra bem a situação que<br />
motivou as modificações no código fonte do NRFIELD a fim de torná-lo mais eficiente<br />
em escoamentos estratificados. Na versão original, a corrente seria promediada ao longo<br />
de toda a coluna d'água. A velocidade média então calculada seria maior do que a cor-<br />
rente média existente nas camadas abaixo da termoclina, onde a pluma estaria aprisio-<br />
nada. Tal fato provocaria uma superestimativa da corrente, influenciando diretamente<br />
no cálculo da diluição mínima e demais parâmetros da pluma.<br />
Os dois cenários descritos como situações extremas, na verdade, foram os cená-<br />
rios mais comuns encontrados no período. A diluição média calculada para os períodos<br />
em que a pluma esteve submersa foi de 68, contra 128 quando esta alcançava a superfi-<br />
cie. Essas duas situações ocorreram praticamente com as mesmas freqüências de ocor-<br />
rência, 51,4% para a condição de pluma submersa contra 48,6% de pluma emersa (Ta-<br />
bela 3.2). É possível que a condição de pluma submersa esteja subestimada por causa da<br />
ausência de informações de densidade em profundidades menores que 7 metros de pro-<br />
fundidade. Observando os gradientes de cores das Figuras 2.5 e 2.6 conclui-se que havia<br />
sim situações em que a termoclina encontrava-se acima desta profundidade.<br />
Os histogramas dos parâmetros de pluma modelados para o verão são apresenta-<br />
dos na Figura 3.13. A diluição mínima no período apresentou duas modas principais,<br />
uma entre 60 e 80 e outra entre 100 e 120. Isto reflete os padrões de coluna d'água ho-<br />
mogênea e estratificada ocorrendo com fiequências semelhantes. A altura de máxima<br />
concentração também refletiu este padrão. Em 48,6% do tempo, o ponto de concentra-<br />
ção máxima da pluma esteve localizado entre 26 e 27 metros acima do dfisor. Na outra<br />
moda, C, oscilou mais frequentemente entre 7 e 18 metros, com pico entre 10 e 11<br />
metros acima do dfisor. A espessura da pluma no final do campo próximo, H,, apre-<br />
sentou 3 modas. A primeira centrada entre 12 e 13 metros com fiequência de ocorrência<br />
semelhante a outra moda entre 23 e 24 metros. Com cerca 35% de ocorrência, a moda<br />
principal apresentou sistematicamente uma espessura &a de 20,3 metros. Tal situação é<br />
alcançada quando a pluma emerge a superficie, por causa da coluna d'água homogênea,<br />
e as correntes são muito baixas, tornando o número de Froude menor ou igual a 0,l. A<br />
espessura da pluma neste caso é aproximada por H, lZE = 0,75 (Roberts et al., 1989a).<br />
Tal aproximação, no entanto, criou uma descontinuidade na estimativa da espessura da<br />
pluma. Instantes próximos, sujeitos a condições de descarga e estratificação semelhan-
tes, cujas velocidades diferem pouco mas o suficiente para ultrapassar o limite F 1 0,1,<br />
e assim serem enquadrados em outra categoria de escoamento, apresentam espessuras,<br />
no mínimo, dois metros maiores. Acredita-se que novos experimentos em laboratório<br />
devam ser propostos para melhorar a eficiência do modelo nesta situação de transição.<br />
No período em questão, cerca de 68% do tempo o número de Froude foi menor do que<br />
6 i i 5 8 i o i i i 4 1 6 1 8<br />
Espessura (m)<br />
0.4 0.0 1.2 1.6 2 2.4 2.8 32 3.6<br />
Numero de Froude<br />
Figura 3.13: Histogramas de a) Diluição mínima, b) Altura de Cmax, c) Espessura da<br />
pluma e d) Número de Froude estimados pelo NRFIELD para período do<br />
verão de 1997. A diluição bimodal reflete os padrões de coluna d'água<br />
homogênea e estratificada ocorrendo com freqüências semelhantes. Com<br />
48,6% do tempo, o ponto de concentração máxima da pluma esteve loca-<br />
lizado a superfície. Com cerca 35% de ocorrência, a espessura da pluma<br />
foi de 20,3 metros. Em 68% do tempo o número de Froude foi menor do<br />
que 0,l.
3.3.3 O campo próximo no outono<br />
A Figura 3.14 apresenta as séries temporais dos parâmetros da pluma modelados para o<br />
campo próximo ao ESEI nos meses de abril, maio e junho de 1997. A diluição inicial<br />
máxima observada no período, 399, ocorreu no dia 7 de abril as 00:OO horas, quando a<br />
descarga estimada encontrava-se em 6,01 m 3 /s. A coluna d'água estava homogênea em<br />
função do soerguimento da termoclina e a pluma emergiu a supeficie com uma espes-<br />
sura de 27 metros. O número de Froude calculado para esse instante foi de 19,5, induzi-<br />
do por uma corrente média na coluna d'água de 0,4 m/s apontando para nordeste.<br />
O valor mínimo de diluição observada, 42, ocorreu no dia 5 de abril as 14:OO ho-<br />
ras, quando a descarga estimada encontrava-se em 6,26 m 3 /s. A coluna d'água estava<br />
bastante estratificada com a termoclina afundando na coluna d'água. Tal situação apri-<br />
sionou a pluma em 12,8 metros acima dos difusores. A corrente média calculada para<br />
essa faixa de profundidades foi de 0,02 m/s apontando para SE e o número de Froude<br />
ficou em praticamente 0,O. Nesse período, semelhante ao que ocorreu no verão, as cor-<br />
rentes acima da termoclina (Figura 2.6, dia juliano 96) estavam altas, com médias supe-<br />
riores a 0,2 ds.<br />
Os histogramas dos parâmetros de pluma modelados para o outono são apresen-<br />
tados na Figura 3.15. A diluição inicial apresentou uma moda entre 100 e 120. Cerca de<br />
47% das diluições mínimas foram menores do que 100 no período, refletindo a Muên-<br />
cia da coluna d'água estratificada. Com 48,1% do tempo, o ponto de concentração má-<br />
xima da pluma localizou-se entre 26 e 27 metros acima do difusor. Semelhantemente ao<br />
período de verão, as alturas de C,ax em condições estratificadas variaram entre 7 e 18<br />
metros, com pico entre 10 e 11 metros acima do difusor. A espessura da pluma também<br />
apresentou 3 modas. A primeira, centrada entre 11 e 12 metros, a segunda, com 25% de<br />
ocorrência em 20,3 metros, e a terceira, com moda entre 23 e 24 metros. No outono,<br />
cerca de 49% do tempo o número de Froude foi menor do que 0,l.
I-mai 21-mai<br />
Outono - 1997<br />
I -mai 21-mai 10-jun 30-jun<br />
Outono - 1997<br />
I -mai 21-mai<br />
Outono - 1997<br />
Figura 3.14: a) Diluição inicial, b) Altura de máxima concentração (C,), c) Espessura<br />
da pluma e d) Número de Froude do escoamento calculado para o outono<br />
de 1997 no ESEI. A diluição inicial máxima observada no período ocorreu<br />
quando a coluna d'água estava homogênea. A coluna d'água estava bas-<br />
tante estratificada e a termoclina afundando na coluna d'água quando a<br />
mínima diluição inicial ocorreu.<br />
b)
O 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28<br />
Espessura (m] Numera de Fraude i d)<br />
Figura 3.15: Histogramas de a) Diluição mínima, b) Altura de Cmax, c) Espessura da<br />
pluma e d) Número de Froude estimadas pelo NRFIELD para período do<br />
outono de 1997. Cerca de 47% das diluições mínimas foram menores do<br />
que 100 no período, refletindo a influência da coluna d'água estratificada.<br />
Com 48,1% do tempo, o ponto de concentração máxima da pluma esteve<br />
localizado a superfície. Com cerca 25% de ocorrência, a espessura da<br />
pluma foi de 20,3 metros. Cerca de 49% do tempo o número de Froude foi<br />
menor do que 0,l.<br />
3.3.4 O campo próximo no inverno<br />
A Figura 3.16 apresenta as séries temporais dos parâmetros da pluma modelados para o<br />
campo próximo ao ESEI nos meses de julho, agosto e setembro de 1997. A diluição ini-<br />
cial máxima observada no período, 427, que também foi a maior do ano, ocorreu no dia<br />
11 de setembro as 22:OO horas, quando a descarga estimada encontrava-se em 4,38 m 3 /s.<br />
A coluna d'água estava quase homogênea (Figura 2.8, dia Juliano 255) e a pluma atin-<br />
giu a superfície com uma espessura de 27 metros. A termocha, embora não muito a-
centuada no período, havia afundado na coluna d'água um dia antes. O número de<br />
Froude calculado para esse instante foi de 6,38, induzido por uma corrente média na co-<br />
luna d'água de 0'25 rnls apontando para NNE.<br />
O valor mínimo de diluição inicial observada, 51, ocorreu no dia 9 de setembro,<br />
as 03:OO horas, poucos dias antes, portanto, do evento de maior diluição. A descarga<br />
estimada encontrava-se em 5,16 m 3 /s neste momento. A coluna d'água estava estratfi-<br />
cada (Figura 2.8, dia Juliano 252), em função da termoclina que, localizando-se mais<br />
abaixo na coluna d'água, impediu a ascensão da pluma, aprisionando-a em 9,l metros<br />
acima dos dfisores e mantendo-a com espessura de 10,2 metros. A corrente média cal-<br />
culada para essa faixa de profundidades foi de 0'03 m/s apontando para NO e o número<br />
de Froude ficou em 0,Ol.<br />
Os histogramas dos parâmetros de pluma modelados para o inverno são apresen-<br />
tados na Figura 3.17. A diluição inicial apresentou uma moda acentuada entre 120 e<br />
140. Menos de 24% das diluições iniciais foram menores do que 100 no inverno, refle-<br />
tindo a influência da coluna d'água mais homogênea. Com 63% do tempo, o ponto de<br />
concentração máxima da pluma localizou-se entre 26 e 27 metros acima do difusor. Em<br />
condições estratificadas as profundidades de C,,, oscilaram entre 6 e 19 metros, com<br />
pico entre 11 e 12 metros acima do difusor. A espessura da pluma centrou-se entre 13 e<br />
14 metros, em 20'3 metros (35%)' e entre 23 e 24 metros. No inverno, apenas em 50%<br />
do tempo o número de Froude foi menor do que 0,l.<br />
Como já havia sido verifícado no Capítulo 2 a termoclina percorre uma trajetória<br />
maior na coluna d'água no inverno por causa do gradiente de temperatura menos acen-<br />
tuado. A altura da onda interna é maior e a interface entre as massas d'água tende a lo-<br />
calizar-se em profundidades maiores. Isso melhora as condições para aumentar a dilui-<br />
ção e a emersão da pluma.
9-ago 29-ago 18-set<br />
inverno - 1997<br />
9-ago 29-ago 18set<br />
inverno - 1997<br />
9-ago 29-ago<br />
inverno - 1997<br />
9-ago 29-ago<br />
inverno - 1997<br />
Figura 3.16: a) Diluição inicial, b) Altura de máxima concentração (C,), c) Espessura<br />
da pluma e d) Número de Froude do escoamento calculado para o inverno<br />
de 1997 no ESEI. A diluição inicial máxima ocorreu quando a coluna<br />
d'água estava quase homogênea, pois a termoclina, embora não muito<br />
acentuada no período, havia afundado na coluna d'água um dia antes. O<br />
número de Froude nesse instante foi 6,38 induzido por uma corrente mé-<br />
dia na coluna d'água de 0,25 mls.<br />
a><br />
b)
O 2 4 6 8 10 I2 14 16 18 20 22 24 26 28<br />
Espsssura (m)<br />
Figura 3.17: Histogramas de a) Diluição mínima, b) Altura de Cmax, c) Espessura da<br />
pluma e d) Número de Froude estimados pelo NRFIELD para período do<br />
inverno de 1997. Menos de 24% das diluições iniciais foram menores do<br />
que 100 no inverno, refletindo a influência da coluna d'água mais homo-<br />
gênea. Com 63% do tempo, o ponto de concentração máxima da pluma<br />
esteve localizado a superfície.<br />
3.3.5 O campo próximo na primavera<br />
A Figura 3.18 apresenta as séries temporais dos parâmetros da pluma modelados para o<br />
campo próximo ao ESEI nos meses de outubro, novembro e dezembro de 1997. A dilui-<br />
ção inicial máxima observada no período, 416, ocorreu no dia 18 de outubro as 00:OO<br />
horas, quando a descarga estimada encontrava-se em 5,36 m 3 /s. A coluna d'água estava<br />
pouco estratificada e a termoclina encontrava-se abaixo dos difusores. A pluma estabili-
zou-se em 24,l metros acima das portas com uma espessura de 21,9 metros. O número<br />
de Froude calculado para esse instante foi de 41,4, induzido por uma corrente média na<br />
coluna d'água de 0,5 1 m/s apontando para nordeste.<br />
O valor múillno de diluição observada, 40, ocorreu no dia 26 de novembro as<br />
00:OO hora, quando a descarga estimada encontrava-se em 6,60 m3/s. A coluna d'água<br />
estava estratificada com a termoclina localizada na cava da onda interna (Figura 2.9, dia<br />
Juliano 330), o que aprisionou a pluma em 8,3 metros acima dos dfisores. A corrente<br />
média calculada para essa faixa de profundidades foi de 0,07 ds apontando para norte e<br />
o número de Froude ficou em 0,08.<br />
Os histogramas dos parâmetros de pluma modelados para a primavera são apre-<br />
sentados na Figura 3.19. A diluição inicial apresentou uma moda principal entre 60 e 80<br />
e uma secundária entre 100 e 120. Cerca de 60% das diluigões mínimas foram menores<br />
do que 100 no período, refletindo a influência da coluna d'água estratificada. Com ape-<br />
nas 35,1% do tempo, o ponto de concentração máxima da pluma esteve localizado entre<br />
26 e 27 metros acima do difusor. As alturas de C,-, em condições estratificadas, varia-<br />
ram entre 6 e 19 metros, com pico entre 11 e 12 metros acima do dfisor. A espessura<br />
da pluma centrou-se entre 13 e 14 metros, em 20,3 metros (20%), e entre 23 e 24 me-<br />
tros. No inverno, apenas em 58% do tempo o número de Froude foi menor do que 0, l.
I I<br />
28-out 17-nov<br />
Primavera - 1997<br />
28-out 17-nov 7-dez 27-dez<br />
Primavera - 1997<br />
b)<br />
28nut 17-nov 7-dez 27-dez<br />
Primavera - 1997<br />
8-out 28-out 17-nov 7-dez 27-dez<br />
Primavera - 1997<br />
d><br />
Figura 3.18: a) Diluição inicial, b) Altura de máxima concentração (C,), c) Espessura<br />
da pluma e d) Número de Froude do escoamento calculado para a prima-<br />
vera de 1997 no ESEI. A diluição inicial máxima observada no período,<br />
416, ocorreu com a coluna d'água pouco estratificada e a termoclina en-<br />
contrava-se abaixo dos difusores. O valor mínimo de diluição ocorreu a<br />
coluna d'água estava estratificada com a termoclina localizada na cava da<br />
onda interna.<br />
c>
O 2 4 6 8 10 12 14 16 18<br />
Espessura (m)<br />
. . .<br />
20 22 24 28 28 O 0.4 0.8 1.2 1.6 2 2.4 2.8 32 3.6<br />
Numero deFmude<br />
Figura 3.19: Histogramas de a) Diluição mínima, b) Altura de Cmax, c) Espessura da<br />
pluma e d) Número de Froude estimados pelo NRFIELD para período da<br />
primavera de 1997. A diluição inicial apresentou uma moda principal entre<br />
60 e 80 e uma secundária entre I00 e 120. Cerca de 60% das diluições mí-<br />
nimas foram menores do que I00 no período.<br />
A Tabela 3.2 sumariza as informações de campo próximo resultantes da mode-<br />
lagem com o NRFIELD. É possível observar a variabilidade sazonal das características<br />
da pluma resultantes da interação com a estrutura oceanográfica e a descarga. No ano de<br />
1997, em 51% do tempo a pluma esteve submersa. Durante a primavera, em quase 65%<br />
do tempo a pluma esteve sob essa condição. No inverno, a situação inverteu-se e apenas<br />
36% do tempo a pluma esteve submersa. Conforme já comentado, é possível que a con-<br />
dição de pluma submersa esteja subestimada por causa da ausência de informações de<br />
densidade acima dos 7 metros de profundidade.<br />
A estratifícação dificulta sobremaneira a diluição inicial no ESEI. A diluição<br />
média anual para plumas submersas foi de 78, variando de 68 no verão a 100 no inver-
no. Com as plumas emersas, a diluição inicial variou de 128 a 146 nas mesmas épocas<br />
do ano, enquanto que a média ficou em 134, 172% maior, portanto, do que com as plu-<br />
mas submersas. A diluição inicial mínima encontrada na situação de emersão foi de 91,<br />
sem grandes variações ao longo do ano, contra 34 na situação de submersão. Isso mostra<br />
que os dfisores do ESEI atingem os objetivos propostos quando a coluna d'água en-<br />
contra-se homogênea favorecendo a emersão. Entretanto, a condição de emersão da<br />
pluma, se o ano de amostragem for representativo, ocorre em apenas 50% do tempo. No<br />
inverno, as condições oceanogrt3icas e a menor descarga são mais favoráveis a diluição<br />
no campo próximo.<br />
Tabela 3.2: Sumário da modelagem dos parâmetros de campo próximo da pluma do<br />
ESEI em 1997.<br />
Freqüência de<br />
ocorrência (%)<br />
Elevação média<br />
Diluição mínima<br />
Diluição média<br />
Diluição máxima<br />
Freqüência de<br />
ocorrência (O?)<br />
Diluição mínima<br />
Diluição média<br />
Diluição máxima<br />
Janeiro Fe-<br />
vereiro<br />
Março<br />
1,43<br />
16,7<br />
3 4<br />
68<br />
180<br />
Abril Maio<br />
Junho<br />
Campo de esgotos submerso<br />
Campo de esgotos atingindo a superficie<br />
48,57<br />
98<br />
128<br />
277<br />
51,86<br />
17,3<br />
42<br />
8 1<br />
23 7<br />
48,14<br />
91<br />
129<br />
399<br />
Julho A-<br />
gosto Se-<br />
tembro<br />
36,Ol<br />
18,5<br />
5 1<br />
1 O0<br />
222<br />
63,99<br />
91<br />
146<br />
427<br />
Outubro No-<br />
vembro De-<br />
zembro<br />
64,90<br />
17,6<br />
40<br />
72<br />
180<br />
35,lO<br />
93<br />
129<br />
416<br />
Anual<br />
48,96<br />
91<br />
134<br />
427
Utilizando-se de séries temporais de perfis de correntes marinhas e densidade da<br />
água, e da descarga estimada do ESEI, para todo o ano de 1997, os parâmetros de carn-<br />
po próximo da pluma de esgotos foram estimados utilizando-se o modelo matemático<br />
NRFIELD (Roberts, 1999). Acredita-se que o modelo, que fora satisfatoriamente con-<br />
fiontado com experimentos de campo realizados pela COPPE em 1996 e 1997 (Carva-<br />
lho et al., 2002), tenha apresentado uma radiografia estatística fiel do comportamento da<br />
pluma do ESEI, permitindo, assim, avaliar-se a variabilidade temporal de suas caracte-<br />
rísticas e suas correlações com as condições oceanográficas que nelas influenciam.<br />
A descarga do ESEI variou entre 1'06 e 7,98 m 3 /s com média em 5,49 m 3 /s no<br />
período observado. Nos meses de inverno, as descargas são menores do que nos de ve-<br />
rão devido a menor demanda por água característica dessa época do ano. Os horários de<br />
pico ocorrem por volta das 1 1 :O0 da manhã quando as descargas chegam ser 20% supe-<br />
riores a do horário de menor demanda, que ocorre por volta das 5:00 horas.<br />
A diluição inicial é máxima quando a coluna d'água encontra-se homogênea ou<br />
muito pouco estratificada e as correntes são relativamente altas. Na situação oposta, a<br />
diluição inicial é mínima quando a coluna d'água encontra-se bastante estratificada e as<br />
correntes são baixas. Essas situações ocorreram intercalando-se praticamente o ano in-<br />
teiro. No inverno, porém, a descarga menor do ESEI, associada a coluna d'água por<br />
mais tempo homogênea, favorece o aumento da diluição inicial.
CAP~TULO 4: UM MODELO DE DECAIMENTO BACTERIANO EM<br />
PLUMAS DE EMISSÁRIOS SUBMARINOS<br />
A distribuição e a quantidade de bactérias de origem intestinal, estas utilizadas como<br />
indicadoras de potencial contaminação fecal no ambiente marinho, dependem da advec-<br />
ção e dispersão, causadas pela ação das correntes marinhas, e de fatores que resultam no<br />
decaimento ou incremento de suas populações.<br />
Em estudos de modelagem numérica do transporte de bactérias, o decaimento é<br />
usualmente representado pelo parâmetro T90, período em que a população de bactérias é<br />
reduzida de 90 % da quantidade original. Este é um parâmetro usualmente mensurado<br />
"in situ" em estudos de dispersão de plumas de emissários submarinos. Os estudos, en-<br />
tretanto, são geralmente efetuados durante o dia, em horários com radiação solar inten-<br />
sa, e com amostras de água obtidas próximo a superíície @avo & Vicente, 1992;<br />
CEDAE, 1978). Devido ao mecanismo de foto-decaimento, discutido a seguir, os valo-<br />
res de T90 adotados, muitas vezes de forma conservativa, nos modelos de transporte são<br />
muito pequenos reproduzindo um decaimento muito acentuado ao longo de todo o dia.<br />
O presente trabalho apresenta e discute as técnicas de modelagem de decaimento<br />
bacteriano e efetua uma modificação nos modelos existentes de forma a permitir que<br />
estes sejam utilizados para plumas submersas, usando-se para isso resultados de mode-<br />
los de campo próximo que fornecem características da geometria da pluma de esgotos.<br />
4.1.1 O Decaimento Bacteriano<br />
É relativamente bem conhecido que, tendo deixado os intestinos humanos, ou de outros<br />
animais de sangue quente, e alcançado um ambiente mais hostil, as populações de bac-<br />
térias intestinais começam a sofier decaimento. Vários fatores são responsáveis pela<br />
cinética de decaimento, dentre eles estão os fatores fisicos, tais como foto-oxidação in-<br />
duzída pela radiação solar, temperatura da água, adsorção, flocula~ão, coagulaqão e se-<br />
dimentação; os fatores físico-químicos, tais como efeitos osmóticos induzidos pela va-
iação brusca de salinidade, pH, toxidade química e potencial redox; e os fatores bio-<br />
químicos e biológicos, como nivel de nutrientes, presença de substâncias orgânicas, vi-<br />
nis bacteriófagos, predação, algas, presença de materiais fecais (Chamberlin & Mit-<br />
chell (1978); El-Sharkawi et al., 1989; Evison, 1988; Alkan et al., 1995; Yang, et al.<br />
2000; Canteras et ai., 1995; Fujioka et al., 1981; McCambridge & McMeekin, 1981;<br />
Kapuscinski & Mitchell, 1981; Mancini, 1978; Bellair et ai., 1977; McFeters & Stuart,<br />
1972, Jannasch, 1968).<br />
É possível também eventualmente haver aumento da população de bactérias in-<br />
testinais na coluna d'água a partir da ressuspensão de organismos previamente deposi-<br />
tados no sedimento. Já foi observado também o aumento da população dessas bactérias<br />
devido a reprodução das mesmas nos corpos d'água (Tholmann & Mueller, 1987).<br />
A foto-oxidação é o agente mais importante no decaimento bacteriano. Cham-<br />
berlin & Mitchell (1978) propõem o seguinte mecanismo de danificação de bactérias<br />
fecais induzido pela radiação solar. A primeira etapa é a absorção da luz por sintetiza-<br />
dores endógenos ou exógenos, ou mesmo cromóforos, e a conseqüente excitação eletrô-<br />
nica dos mesmos. O sintetizador excitado pode então: a) simplesmente transferir a e-<br />
nergia adquirida para um eliminador de calor via troca de elétron e retomar ao estado de<br />
excitação inicial; b) reagir diretamente com um determinado componente da célula e,<br />
conseqüentemente, danificá-lo; c) combinar com 02 formando superóxidos (02-), peró-<br />
idos de hidrogênio @&O2) ou peróxidos orgânicos (R-H02); d) as formas reativas de<br />
O2 produzido podem reagir e danificar alguns constituintes celulares; e) ser decomposto<br />
enzimaticamente em produtos mais inócuos. Vários compostos comumente presentes<br />
em microorganismos podem agir como sintetizadores endógenos, dentre eles citam-se<br />
porfirinas, citocromos, aminoácidos aromáticos, DNA, flavina, clorofila. Os pigmentos<br />
de algas e ácidos húmicos, facilmente encontrados dissolvidos no meio aquático, são os<br />
principais fotossintetizadores exógenos.
4.1.2 Modelagem do Decaimento Bacteriano<br />
Chamberlin & Mitchell(1978) elaboraram um modelo de decaimento bacteriano depen-<br />
dente da luminosidade. Assumindo-se que a taxa de decaimento bacteriano em ambien-<br />
tes aquáticos é diretamente proporcional a intensidade luminosa, e que esta, por sua vez,<br />
decai exponencialmente com a profundidade, o decaimento bacteriano é dado por:<br />
Onde:<br />
k = taxa de decaimento bacteriano (hora-');<br />
k, = coeficiente de proporcionalidade que mede a sensibilidade de um organismo espe-<br />
cífico (cm 2 /cal);<br />
I, = a intensidade de luz descendente na superfície da água (cal/(cm 2 .hora));<br />
a = coeficiente de atenuação vertical da luz na água do mar (m-I);<br />
Z = a profundidade (m).<br />
Assumindo que a pluma é completamente misturada dentro de sua espessura,<br />
Chamberlin & Mitchel (1978) apresentaram uma formulação para a taxa de decaimento<br />
promediada da supeficie até uma profundidade H.<br />
Onde k (hora-') é a taxa de decaimento bacteriano médio dentro de uma pluma cujo<br />
limite inferior está a H metros de distância da supedície.<br />
A formulação descrita acima parte do princípio de que a pluma esteja localizada<br />
entre a superfície e H metros de profundidade. Em situações de coluna d'água estratfi-<br />
cada, a pluma, por ficar aprisionada a alguns metros da superfície, dispõe de menos<br />
luminosidade e a taxa de decaimento, conseqüentemente, é menor também. Para<br />
modelar-se satisfatoriamente essa condição, a Equação 4.1 deve ser promediada entre o<br />
topo e a base da pluma. A Figura 4.1 apresenta esquematicarnente a condição a ser mo-<br />
delada. Assim,
Resolvendo a integral acima chega-se a equação<br />
Mas, fazendo<br />
Ia = IoePaze<br />
a equação (4.4) resume-se a:<br />
Figura 4.1: Esquema proposto para a modelagem do decaimento bacteriano. O mes-<br />
mo é promediado para a espessura da pluma, He, a partir da luminosi-<br />
dade que alcança a profundidade do topo Ze .
Onde:<br />
Ze = profundidade do topo da pluma;<br />
He = espessura da pluma;<br />
Ize = Intensidade da luz no topo da pluma (cal/(cm2. hora)).<br />
ap = coeficiente de atenuação vertical da luz dentro da pluma (m-I);<br />
Note-se que na Equação 4.6 a premissa de pluma completamente misturada ao<br />
longo da vertical é mantida. Essa é uma simplificação do problema, pois na realidade,<br />
como visto no Capítulo 3, a concentração do contaminante dentro da pluma varia como<br />
uma distribuição normal.<br />
A espessura, He , e posição do topo da pluma, Ze , utilizadas na Equação 4.6 po-<br />
dem ser obtidas através de modelos de campo próximo. A intensidade luminosa na su-<br />
perfície da água, I,, pode ser monitorada através de foto-radiômetros ou estimadas a<br />
partir de modelos que podem levar em consideração a influência da latitude, época do<br />
ano, hora do dia, nebulosidade e poeira suspensa.<br />
O coeficiente de atenuação vertical da luz na água do mar é difícil de ser estima-<br />
do com precisão. Este varia significativamente com a quantidade de organismos, mate-<br />
riais em suspensão e dissolvidos presentes na coluna d'água. Muito embora seja de fá-<br />
cil mensuração utilizando-se foto-radiômetros, ou mesmo discos de Secchi, monitorar a<br />
variação do decaimento da luz ao longo do tempo é pouco exequível. A fim de obter-se<br />
uma aproximação rudimentar do comportamento do coeficiente de extinção da luz em<br />
uma determinada região, pode-se optar por efetuar estatísticas básicas de dados sobre<br />
profundidade de Secchi obtidas ao longo do tempo. Tal parâmetro costuma ser rotinei-<br />
ramente amostrado em levantamentos oceanogr~cos para fins de estudos de produtivi-<br />
dade primária.<br />
Para a equação 4.6, é preciso conhecer o coeficiente de atenuação vertical da luz<br />
em plumas de esgotos. A detecção in situ do campo de esgotos de emissários submari-<br />
nos a partir de suas propriedades óticas é relativamente recente. Wu (1993) rastreou o<br />
campo de esgotos de um emissário em Los Angeles, Califórnia, cruzando informações<br />
sobre os coeficientes de atenuação em feixes de luz com 660 nm, salinidade, temperatu-<br />
ra e fluorescência de clorofila. Petrenko (1997) e Petrenko et al. (1 997) utilizaram téc-<br />
nicas semelhantes para a detecção do campo de esgotos de Sand Island, Havai. Nesses<br />
trabalhos, no entanto, o objetivo era a detecção do campo de esgoto apenas. O método
permitia contrastar as características óticas de partículas de sedimento, fitoplâncton e da<br />
pluma propriamente dita. Muito desenvolvimento nessa área é ainda necessário para<br />
relacionar as características óticas e a diluição do campo de esgotos.<br />
Chamberlin & Mitchell (1978) apresentam coeficientes de proporcionalidade,<br />
k,, para diversos organismos. Este coeficiente exprime a sensibilidade dos mesmos a<br />
foto-oxidação. A Tabela 4.1 apresenta parcialmente a compilação elaborada pelos auto-<br />
res. Observa-se que os coeficientes variam significativamente entre os diferentes estu-<br />
dos e entre os organismos estudados. Os experimentos de Foxworthy & Kneeling<br />
(1969) e Gameson & Gould (1975) geraram coeficientes semelhantes para grupo coli-<br />
formes. Dos experimentos desses autores conclui-se que um valor representativo de k,<br />
para este grupo seria 0,150 cm 2 /cal. Embora menos numerosos, os experimentos com<br />
Escherichia Coli também produziram coeficientes semelhantes entre si. Um valor de k,<br />
médio para este grupo seria 0,355 cm2/cal (Tabela 4.1). O grupo enterococos apresen-<br />
tou valores de k, mais baixos e mais variáveis do que os demais, sugerindo que a lumi-<br />
nosidade é um agente menos importante no decaimento desses organismos. Os estudos<br />
de Foxworthy & Kneeling (1969), que contaram com um número de amostragens maior,<br />
indicaram um k, médio de 0,091 cm 2 /cal.
Tabela 4.1: Comparação de estimativas de k,. Resumido de Chamberlim & Mitcheil<br />
Organismo<br />
Grupo Colifomes<br />
Streptococus fecais<br />
Estudo<br />
14 estudos de campo<br />
Média<br />
Percentil5<br />
Percentil95<br />
24 estudos de campo<br />
Média<br />
Percentil5<br />
Percentil95<br />
61 estudos de laboratório<br />
Média<br />
Percentii 5<br />
Percentil95<br />
4 estudos de campo<br />
Média<br />
Mínimo<br />
Máximo<br />
4 estudos de laboratório<br />
3 estudos de laboratório<br />
Mínimo<br />
Máximo<br />
3 estudos de campo<br />
1 estudo de campo<br />
12 estudos de campo<br />
Média<br />
Percentil5<br />
Percentil95<br />
Fonte de dados<br />
- -<br />
Gameson & Gould (1 975)<br />
Foxworthy & Kneeling (1969)<br />
Gameson & Gould (1 975)<br />
Gameson & Gould (1 975)<br />
Gameson & Gould (1 975)<br />
Gameson & Gould (1 975)<br />
Gameson & Gould (1 975)<br />
Garneson & Gould (1 975)<br />
Foxworthy & Kneeling (1 969)<br />
Durante o período noturno o decaimento bacteriano reduz-se drasticamante de-<br />
vido a falta de lurninosidade. Fatores como a salinidade, a temperatura, a predação, a<br />
decantação, etc, passam a ter maior importância no mecanismo de mortalidade dos or-<br />
ganismos. Mancini (1978) apresenta uma formulação na qual o decaimento de bactérias<br />
colifonnes é o resultado dos efeitos da porcentagem de água do mar na amostra, da<br />
temperatura, além da lurninosidade. Segundo o autor, o decaimento bacteriano é dado<br />
por:
Onde a salinidade é apresentada em relação a uma salinidade padrão (i. e. se S = 343<br />
PSU e a salinidade padrão é 35 PSU, o termo %águadomar = 98,57 %); a temperatura,<br />
T, é fornecida na escala Celsius; e a radiação incidente na superiicie, IA, é dada em<br />
cal/(cm2 hora).<br />
Note-se que o termo de luminosidade assemelha-se ao modelo proposto por<br />
Chamberlin & Mitchel (1978) mas não incorpora o parâmetro k,, de sensibilidade ao<br />
fotodecaimento, não permitindo assim fazer-se distingão entre os tipos de bactéria. A<br />
rigor, este termo não está dimensionalmente correto e para assim fazê-lo seria necessá-<br />
rio introduzir o termo k,. De qualquer forma, este modelo produziu resultados muito<br />
consistentes quando comparado com experimentos reais (Mancini, 1978, Figura 6).<br />
Os termos de temperatura e salinidade da Equação (4.7) foram acoplados ao<br />
termo de luminosidade da Equação (4.6) para modelar-se o decaimento bacteriano. A<br />
salinidade e temperatura da água podem ser também promediadas nas dimensões verti-<br />
cais da pluma ou, sabendo-se da natureza gaussiana da concentração dentro da pluma,<br />
interpeladas para as profundidades de máxima concentração fornecidas pelo modelo de<br />
campo próximo. O modelo resume-se então a:<br />
+ - e 1-e<br />
Hea,<br />
- kJa ze(a-aP ) ( -aPxe)<br />
kZ,,He,S9J = [0,8 + 0,006(~?~guadom~)] x 1,07T-20<br />
Para o cálculo do decaimento bacteriano conforme proposto pela Equação (4.8) faz-se<br />
necessário conhecer as informações da espessura, a profundidade do topo e do ponto de<br />
máxima concentração da pluma. Para isso utilizou-se um modelo de campo próximo, o<br />
NRFIELD (Roberts, 1999) adaptado para trabalhar com os dados de entrada na forma<br />
de séries temporais. Para cada hora do ano de 1997 foram geradas as informações aci-<br />
ma mencionadas. A profundidade de máxima concentração foi utilizada para o cálculo<br />
da temperatura da água neste ponto, interpolada a partir dos registros dos termistores<br />
instalados na região dos difusores. Assumiu-se a porcentagem de água do mar constan-<br />
te e igual a 100 %.
Na impossibilidade de conhecer-se o coeficiente de extinção vertical de luz para<br />
todas as horas soturnas de 1997, procurou-se fazer uma estatística das informações de<br />
profundidade de extinção de luz efetuadas com discos de Secchi no litoral do Rio de<br />
Janeiro. Foram utilizadas informações obtidas na área do ESEI descritas por Maia<br />
(1990) e informações disponibilizadas pela Marinha do Brasil, através do Instituto de<br />
Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, em Arraial do Cabo. Somente informações<br />
obtidas entre 10:OO e 14:OO horas foram utilizadas no processamento, evitando-se os<br />
horários com grande inclinação solar que favorecem a reflexão dos solares. O coefici-<br />
ente de extinção de luz foi calculado por:<br />
onde 2, é a profundidade de Secchi.<br />
Roldão (1996) e Roldão (1997) apresentam resultados de turbidez medidas na<br />
região dos difùsores do ESEI durante campanhas de detecção do campo de esgotos em<br />
condições de verão e inverno, respectivamente. Os perfis em geral apresentam um au-<br />
mento de turbidez junto ao fhdo, mas não chegam a mostrar alterações signifícativas<br />
dentro das plumas. Provavelmente, o sensor utilizado não possuía resolução suficiente<br />
para os níveis de turbidez encontrados dentro da mesma. Mas, isto também indica que o<br />
campo de esgotos não apresenta níveis de turbidez muito superiores aos do ambiente.<br />
Desta forma, assumiu-se que o coeficiente de atenuação vertical da luz na pluma é igual<br />
ao do ambiente (a, = a ).<br />
A radiação solar incidente na superficie da água foi modelada conforme Brock<br />
(1981). Este modelo considera os efeitos da época do ano, hora e duração do dia, decli-<br />
nação da Terra, a latitude, ângulo zenital e ângulo horário.<br />
A extinção da luz na água do mar variou significativamente na região do ESEI, é o que<br />
mostra a Figura 4.2-a. Foram encontrados valores de profundidade de Secchi variando<br />
de 3 a 17 metros com uma moda razoavelmente defínida em 10 metros e média de 9,O
metros. Essa variação pode estar refletindo a influência intermitente das águas mais es-<br />
curas da Baia de Guanabara que, dependendo do sentido preferencial da corrente, pode-<br />
riam alcançar a região do ESEI. Essas informações quando computadas junto com as da<br />
costa de Arraial do Cabo, reconhecidamente mais claras e distantes da influência da bai-<br />
a, apresentam um histograma (Figura 4.2-b) também variado embora com um padrão<br />
mais bem definido assemelhando-se a uma distribuição normal.<br />
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17<br />
Pramndidade de rerrhl (m)<br />
O 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 3<br />
Pronindidade de Serchi (m)<br />
Figura 4.2: Histogramas de profundidade de Secchi a) somente na região do Emissá-<br />
rio Submarino de Esgotos de Ipanema (Maia, 1990) e b) incluindo infor-<br />
mações da costa de Arraial do Cabo cedidas pelo IEAPM. As modas dos<br />
dois histogramas foram semelhantes, 10 metros de profundidade.<br />
A moda e a média de um total de 500 observações de profundidade de Secchi,<br />
contabilizando-se também medigões efetuadas em Arraial do Cabo, foi também de 9<br />
metros. Esse valor, que parece ser significativo para a costa do Rio de Janeiro, poderia<br />
ser adotado de forma fixa para os estudos de decaimento bacteriano aqui relatados. No<br />
entanto, optou-se por outra metodologia. Sabe-se que não é possível recuperar realisti-<br />
camente a profundidade de Secchi para todos os horários iluminados do ano de 1997.<br />
Mas, conhecendo-se o histograma desta propriedade (Fig. 4.2-b) pode-se ajustar ao<br />
mesmo uma função densidade de probabilidade e gerar séries randômicas de profundi-<br />
dades de Secchi a partir desta. Tal procedimento, embora não reproduza a profundidade<br />
de Secchi real, incorpora a variabilidade estatística desta variável aleatória na série tem-<br />
poral do TgO.
As 500 profundidades de Secchi observadas ajustaram-se melhor a função nor-<br />
mal (Figura 4.3), principalmente as com valores entre 4 e 13 metros. Os valores extre-<br />
mos superiores e inferiores, totalizando cerca de 30 % das profundidades medidas, não<br />
foram bem ajustados por esta função, mas, de todas as funções testadas, esta foi a que<br />
gerou a maior aderência nesse intervalo. O histograma da Figura 4.2-b apresenta uma<br />
leve assimetria negativa. É possível que, dispondo-se de mais informações medidas,<br />
funções tipo Rayleigh, Log-normal, Weibul ou Gama, características de distribuições<br />
assimétricas, venham a ser consideradas mais representativas do fenômeno.<br />
Figura 4.3: Ajuste das profundidades de Secchi a função normal. As profundidades<br />
de Secchi entre 4 e 13 metros ajustaram-se bem a função.<br />
A Figura 4.4 apresenta o decaimento de grupo coliformes calculado a partir da<br />
equação 4.8, com o k, representativo deste grupo (k, = 0,150 cal/cm 2 ). A informação é<br />
apresentada na forma de séries temporais de T90, período em que a população de bacté-<br />
rias é reduzida em 90 %, para todo o ano de 1997. A seguinte equação relaciona o T90<br />
ao coeficiente de decaimento bacteriano, k .
Os valores de T90 variaram de 0,48 a 60,30 horas com média de 26,39 horas. O<br />
histograma da Figura 4.4 mostra que a moda, pouco mais de 17 % dos T90 calculados,<br />
esteve no intervalo entre O e 2 horas. Estes valores estiveram associados aos horários de<br />
máxima luminosidade do dia em períodos em que e a coluna d'água homogênea permi-<br />
tia as emersões da pluma. Um segundo pico aparece entre 36 e 38 horas (8,4 %), carac-<br />
terístico dos horários noturnos.<br />
A modelagem de campo próximo mostrou que quando a coluna d'água encontra-<br />
se estratificada a pluma fica submersa em profundidades médias de 10,5 metros. Con-<br />
siderando-se uma profundidade de Secchi de 10 metros, a radiação solar incidente no<br />
topo da pluma é reduzida a cerca de 15 % da quantidade que chega a superfície. Consi-<br />
derando ainda que a espessura média das plumas submersas é de 14 metros, o T90 calcu-<br />
lado para essa situação seria pouco superior a 3 horas no pico de radiação. Se uma plu-<br />
ma com a mesma espessura estivesse emersa, o TgO seria de 30 minutos, seis vezes me-<br />
nor. Esse exemplo ilustra bem a importância de serem consideradas as características<br />
geométricas da pluma no cálculo do decaimento bacteriano.<br />
O efeito da temperatura da água fica bastante evidenciado no período noturno<br />
quando não há decaimento devido a radiação. A envoltória superior das curvas de Tgo<br />
na Figura 4.4 refletem o efeito deste parâmetro. Dependendo da dinâmica vertical da<br />
termoclina e da advecção horizontal, pode haver uma variação significativa do T90, de<br />
até 20 horas como o que é observado nos primeiros dias de março de 1997. Neste caso,<br />
a advecção de águas aquecidas (>20°C) para dentro da área próxima ao ESEI e a simul-<br />
tânea subsidência da termoclina a profundidades maiores do que a de lançamento, pro-<br />
moveu um aumento repentino do decaimento bacteriano.
Figura 4.4: T9@<br />
para grupo coliformes na pluma do Emissário Submarino de Esgotos<br />
de Ipanema no ano de 1997. O mesmo foi estimado considerando infor-<br />
mações de salinidade (S = 35 PSU), temperatura (medida) na profundida-<br />
de de máxima concentração (estimada), radiação solar (estimada), posi-<br />
ção do topo e espessura da pluma (estimados).
A posição da termoclina é um fator importante para o decaimento bacteriano,<br />
principalmente no verão e outono quando esta é mais evidenciada (Figuras 2.5 e 2.7).<br />
Ao mesmo tempo em que há uma redução da luminosidade, a temperatura da água na-<br />
quela posição é também inferior a da supeficie. Isto porque a termoclina marca o limi-<br />
te entre a Água Costeira (AC), quente, e a porção superior da Água Central do Atlântico<br />
Sul (ACAS), cujas temperaturas são inferiores a 20 "C. Os dois fatores agem em con-<br />
junto para reduzir o decaimento bacteriano aumentando, por conseguinte, o TgO.<br />
O 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56 60 64<br />
T90 (horas)<br />
Figura 4.5: Histograma de TsO para grupo coliforme na pluma do ESEI no ano de<br />
1997. Note-se que há dois picos principais, um entre O e 4 horas, corres-<br />
pondentes aos máximos de radiação solar, e outro menor entre 36 e 38<br />
horas, correspondente ao período noturno.
Uma adaptação nos modelos de decaimento bacteriano de Chamberlim & Mit-<br />
chell (1978) e Mancini (1978) foi apresentada permitindo assimilar características ge-<br />
ométricas de plumas de emissários submarinos obtidas a partir de um modelo de campo<br />
próximo. O modelo foi aplicado para a pluma do Emissário Submarino de Esgotos de<br />
Ipanema ao longo de todo o ano de 1997.<br />
Os resultados de T90 variaram de 0,48 a 60,30 horas com média de 26,39 horas.<br />
A primeira moda encontrou-se no intervalo entre O e 2 horas e a segunda entre 36 e 38<br />
horas, características de período diurno e noturno respectivamente.<br />
O modelo mostrou-se eficiente para modelar o efeito de plumas submersas pela<br />
estratificação de densidades desde que informações de radiação solar na superfície da<br />
água, coeficiente de extinção vertical da luz, correntes marinhas, estratificação de den-<br />
sidades (salinidade e temperatura) e descarga do efluente sejam monitorados simultane-<br />
amente.<br />
A eficiência do modelo proposto pode ser maior se informações de radiação so-<br />
lar à superfície do mar forem obtidas próximo ao local de lançamento. Estudos relati-<br />
vos à penetração da luz no ambiente marinho, padrões médios e variabilidades, também<br />
seriam importantes para diminuir os níveis de incerteza dos parâmetros do modelo. Su-<br />
gere-se que tais parâmetros sejam incluídos nos termos de referência dos processos de<br />
licenciamento ambienta1 de emissários submarinos.
CAP~TULO 5: SOBRE A PLUMA NO CAMPO AFASTADO DO ESEI<br />
A proteção ao contato primário é a principal meta ao se projetar um sistema de disposi-<br />
qão oceânica de efluentes domésticos. O mesmo deve, em tese, atender aos padrões exi-<br />
gidos pela legislação vigente para garantir a segurança desejada. Para isso, faz-se neces-<br />
sário prever, baseado nas características físicas do difusor, da descarga e do corpo re-<br />
ceptor, as dimensões da pluma. Pluma esta cujos limites mínimos de concentração na<br />
zona de balneabilidade podem ser definidos como os valores máximos tolerados pela<br />
legislagão, considerados seguros para contato primário.<br />
Os estudos sobre o comportamento da pluma do ESEI atestaram uma eficiência<br />
satisfatória do mesmo no que diz respeito a segurança ao contato primário nas praias do<br />
Leblon e Ipanema. O programa de monitoramento ambienta1 que a CEDAE mantém no<br />
ESEI desde a sua inauguração, constatou que os pontos que apresentaram maior conta-<br />
minação estão localizados próximos as embocaduras dos canais da Lagoa Rodrigo de<br />
Freitas e da Av. Visconde de Albuquerque (CEDAE, 1996). Segundo o estudo, os crité-<br />
rios de balneabilidade só não foram plenamente atendidos nas praias por causa da polui-<br />
ção destes dois canais.<br />
Rosman (1998) apresenta simulações hidrodinâmicas e de transporte da pluma<br />
do ESEI em condição de coluna d'água homogênea, condição esta considerada como<br />
predominante em 80% do ano. O autor concluiu que as plumas com decaimento bacteri-<br />
ano alto (TgO < 6 horas) não são capazes de atingir o litoral carioca com concentrações<br />
significativas. Conclui ainda que seria pouco provável que plumas com decaimento me-<br />
nor (T90 - 24 horas) tocassem a praia com concentração significativa. Em todas as simu-<br />
lações o limite de balneabilidade de 1000 NMP/100 ml para coliformes fecais localizou-<br />
se a mais de 2500 metros das praias. Horita (1997) apresenta resultados semelhantes a<br />
respeito da pluma do ESEI. Carvalho et nl. (2002), Roldão (1997) e Roldão (1998) rela-<br />
tam os resultados de experimentos com traçadores fluorescentes realizados no ESEI en-<br />
tre 1996 e 1997 em condições de coluna d'água homogênea e estratificada. Também
nesses casos, constatou-se que o campo de esgotos do ESEI não se aproximava signiíi-<br />
cativamente das praias.<br />
Os estudos supracitados elaboraram cenários de transporte das plumas com base<br />
em padrões de circulação e de descarga típicos. Os estudos com traçadores permitiram<br />
caracterizar o campo de esgotos, não só em dias com coluna d'água homogênea, mas<br />
também em dias em que as condições de estratificação mantiveram as plumas submer-<br />
sas. Os modelos, entretanto, permitiram a visualização do campo de esgotos apenas em<br />
situações em que as plumas afloravam a superficie. Tais situações foram consideradas<br />
críticas pelos autores porque somente com a pluma aflorando haveria risco ao contato<br />
primário na zona litorânea de balneabilidade.<br />
No Capítulo 3, vimos que, segundo a modelagem de campo próximo, o campo<br />
de esgotos permaneceu submerso durante 51% do ano devido principalmente a estratifi-<br />
cação de densidades ambiente. No Capítulo 2, mostrou-se que a estratificação de densi-<br />
dades provavelmente está associada a propagação de uma onda interna forçada por aba-<br />
los meteorológicos. Tal condigão oceanográfica, para ser devidamente modelada, neces-<br />
sitaria da utilização de um modelo hidrodiâmico tridimensional baroclínico em escala<br />
muito maior que os considerados nos estudos citados. Outrossim, o decaimento bacteri-<br />
ano deveria ser inserido na modelagem do transporte como sendo variável no tempo,<br />
considerando-se a disponibilidade de luz dentro da pluma, em função da hora do dia, da<br />
posição vertical e espessura da mesma, da temperatura e salinidade no local.<br />
Todas essas variáveis tornam a modelagem de campo afastado bastante comple-<br />
xa. Considerando, ainda, que as legislações adotam padrões de balneabiidade baseados<br />
em fiequência de ocorrência de concentrações de bactérias indicadoras inferior a 80%<br />
de um valor máximo estabelecido, um critério estocástico portanto, seria desejável apre-<br />
sentar uma compilação de todos os cenários possíveis para a pluma, contemplando as-<br />
sim uma visão estatística das concentrações de bactérias.<br />
Roberts (1999-b) desenvolveu um modelo estocástico de curto termo, o<br />
FRFIELD, que utiliza séries temporais de dados oceanográficos medidos, correntes e<br />
densidades, e ainda características da descarga e do difusor, acoplados diretamente ao<br />
modelo de campo próximo NRFIELD (Capítulo 3). Este modelo é utilizado para estimar<br />
a variabilidade espacial de algumas propriedades estatísticas da pluma ao redor do difu-
sor, incluindo as freqüências de visitação e excedência. Esta abordagem, entretanto, tor-<br />
na-se inconsistente quando são utilizadas informações oceanográficas obtidas em pou-<br />
cos pontos de amostragem assumindo-se que o campo de correntes é homogêneo espa-<br />
cialmente durante o tempo de vida de cada nuvem da pluma. Tal aproximação fere as<br />
leis de conservação da hidrodinâmica, principalmente em locais muito próximos a costa<br />
onde o relevo exerce grande influência na variabilidade espacial do escoamento. Tais<br />
limitações poderiam comprometer a utilização deste tipo de modelo. Entretanto, com a<br />
popularização de instrumentos oceanográfícos (ARCPs e cadeias de termistores) tal a-<br />
bordagem torna-se bastante atraente.<br />
Neste capítulo, discute-se os resultados de modelagens de campo afastado da<br />
pluma de esgotos do ESEI efetuadas tanto pela abordagem de freqüência de visitação<br />
como por transporte advectivo/diisivo de partículas. Em ambos os modelos, o decai-<br />
mento bacteriano foi considerado como sendo variável em função da hora do dia e das<br />
características geométricas da pluma, conforme descrito no Capítulo 4. Uma técnica pa-<br />
ra aumentar a eficiência da aproximação do campo de correntes utilizado na modelagem<br />
estocástica, é apresentada e discutida.<br />
A seguir, são discutidos os fùndamentos dos modelos utilizados.<br />
5.1.1 O modelo estocástico da pluma do ESEI<br />
Completada a fase de diluição inicial descrita no Capítulo 3, a turbulência do meio faz<br />
com que o campo de esgotos estabelecido passe a softer difusão na medida em que é<br />
advectado pelas correntes oceânicas. Isto faz com que a concentração de bactérias no<br />
mesmo seja bastante reduzida. A diminuição na concentração é também devida à morta-<br />
lidade que a população de bactérias sofre quando enfi-enta a agressividade do ambiente<br />
marinho.<br />
Roberts (1999b) modelou o campo afastado no emissário submarino de Sand Is-<br />
land na Baía de Mamala, Honolulu, Hawaii por um período de 10 meses. O modelo uti-<br />
lizado segue a abordagem de fkequência de visitação (Csanady, 1983; Fischer, 1979;<br />
Koh, 1988) e opera de forma acoplada ao modelo de campo próximo NRFIELD apre-
sentado anteriormente. Os fundamentos teóricos propostos por Roberts (1999b) nesse<br />
tipo de abordagem são apresentados a seguir.<br />
5.1.1. I O conceito de fiequência de visita$o<br />
A fi-equência de visitação y é a probabilidade da pluma de contaminantes im-<br />
pactar um determinado ponto do domínio considerado. Esta é definida, em um determi-<br />
nado ponto do domínio expresso pelo vetor posição x, como a fiação do tempo em que<br />
o centro da pluma está no interior de um círculo cujo raio é definido pelo vetor w/2 a<br />
partir de x, onde Iwl é a largura esperada desta pluma. Ou seja, y é o mesmo que a<br />
probabilidade de encontrar a pluma dentro de +w/2 de x .<br />
Supondo que o langamento de uma nuvem da pluma ocorreu em x = O no tempo<br />
t = O. A função distribuição de probabilidade para a localiza@io do centro da nuvem<br />
num tempo t é P(x, t) . Portanto, a probabilidade do centro da nuvem estar entre x e<br />
x + & no instante t é P(s, t)dx . A probabilidade desta nuvem estar sobrepondo-se ao<br />
ponto x será:<br />
no qual o limite de integração A é a área da nuvem no tempo t . Para uma fonte contí-<br />
nua lançada em condições estacionárias a probabilidade de impacto da pluma para todos<br />
os lançamentos anteriores é obtido integrando-sep(x,t) ao longo do tempo de lança-<br />
mento t ' . Assim,<br />
Csanady (1983) define um limite de tempo t, que faz distinção entre pluma re-<br />
cente e pluma antiga. A fiequência de visitação de todas as nuvens recentes, com idades<br />
menores do que t, será então:
Se as trajetórias das nuvens forem conhecidas, a probabilidade de localização<br />
das mesmas, P(x,t), pode ser calculada. A localização do centro da nuvem em vários<br />
instantes de tempo t, x,(t) , dada por:<br />
x, (t) = 1; uL (t ')dt ' .<br />
No qual zs, é a velocidade lagrangeana do centro da nuvem. Geralmente, essas veloci-<br />
dades Lagrangeanas não são conhecidas. É comum dispor-se de registros Eulerianos de<br />
corrente obtidas em um ou mais pontos fixos no domínio e inferir deslocamentos La-<br />
grangeanos a partir dos mesmos pela aproximação:<br />
- t<br />
x, (t) 1, u, (t ')dt '<br />
onde u, é o registro de velocidades Eulerianas obtido em um dos pontos fixos. Koh<br />
(1988) discute como P(x,t) pode ser calculado a partir das estatísticas de uL e apresen-<br />
ta simulações utilizando correntes sintéticas.<br />
A trajetória calculada pela equação (5.5) é o diagrama de vetores progressivos<br />
enquanto que pela equação (5.4) obtém-se a linha de correntes. O deslocamento calcu-<br />
lado pela equação (5.4) torna-se progressivamente irreal a medida que a distância a fon-<br />
te aumenta. Por causa da complexidade do processo de dispersão e da relativa pouca<br />
resolução espacial das medições de corrente no ambiente costeiro, não é razoável espe-<br />
rar por grande precisão desse método em regiões muito afastadas da fonte. A abordagem<br />
estatística, no entanto, possui grande aplicabilidade quando associa a probabilidade de<br />
excedência de um determinado padrão legal de concentração em locais específicos, co-<br />
mo no limite do campo de dispersão ou mesmo ao longo da linha de costa. Uma vez que<br />
as componentes dos vetores de corrente transversais a costa tendem, de maneira geral, a<br />
decrescer em direção a costa; e o modelo, por sua vez, tende a super dirnensioná-las,<br />
este &da por superestimar as concentrações junto a linha de costa, promovendo maior<br />
segurança aos locais aos quais deseja-se proteger.
Para estudos em emissários submarinos, usualmente dispõe-se de registros dis-<br />
cretos de correntes com intervalos de amostragem At obtidos por correntógrafos insta-<br />
lados em pontos fixos dentro do domínio. A pluma é então discretizada como uma série<br />
de nuvens lançadas numa taxa semelhante a fieqüência de amostragem. A localização<br />
de uma nuvem lançada no tempo to = nAt , após um tempo de percurso T = r nb , é as-<br />
sumida como sendo dada pela forma discreta da equação (5.5).<br />
onde u,(t) é a velocidade local medida no instante de tempo t = zAt . Este cálculo é re-<br />
petido para os lançamentos ocorridos durante todo o registro de dados. Cada nuvem é<br />
acompanhada até um período máximo de percurso, ou horizonte de tempo, td . Este pro-<br />
cedimento iria tipicamente incluir milhares de lançamentos, cada qual sendo rastreado a<br />
cada intervalo do tempo total de percurso. A área ao redor do difusor é recoberta por um<br />
gride, e se uma nuvem estiver com o centro a uma distância *w/2 de um nó do gride,<br />
conta-se uma visita. O número de visitas de uma nuvem com idade menor do que td é<br />
somado e divido pelo número total de lançamentos obtendo-se assim a fieqüência de<br />
visitação naquele local.<br />
A medida em que a pluma se desloca, esta sofie difusão e cresce devido a turbu-<br />
lência oceânica. Por causa da simplicidade computacional, o FRFIELD utiliza um mo-<br />
delo de gradiente de difusão para representar este processo. Assume-se que o coeficien-<br />
te de difusão é proporcional ao tamanho da nuvem elevado a 4/3. O decaimento da con-<br />
centração de pico é dado pela solução de Brooks (1960) para a equação de difusão. Esta<br />
pode ser expressa e termos do tempo de percurso t a partir da fonte como:
no qual Sf é a diluição no campo afastado; C, é a concentração do contarninante de-<br />
pois de completada a mistura no campo próximo; C,, é a concentração central; e EO é o<br />
valor inicial do coeficiente horizontal de difusão, que é dado por:<br />
onde a é uma constante e L é o tamanho inicial da nuvem. A Equação (5.7) aplica-se<br />
para uma fonte em linha contínua cuja concentração é reduzida apenas por difusão late-<br />
ral. Para uma nuvem isolada crescendo nas três dimensões, a taxa de difusão será maior,<br />
e a diluição da pluma será maior, quanto mais afastado do centro da nuvem. Aqui este<br />
efeito é ignorado assumindo-se conservativamente que a diluição dentro da nuvem é<br />
dada por uma solução contínua e é constante ao longo da mesma.<br />
a relagão<br />
O tamanho da nuvem w cresce por difusão a medida em que caminha, seguindo<br />
no qual s, é o desvio padrão<br />
A diluição efetiva, S , em cada local, quando a pluma está presente, é o produto<br />
da diluição do campo próximo, S, , pela diluição no campo afastado, Sf :<br />
onde S, é assumido como sendo a diluição prevista para o final do campo próximo pelo<br />
modelo NRFELD. A concentração do contaminante correspondente será dada por:<br />
(5.12)
onde C, é a concentração do contaminante ao sair da estaçgo de tratamento. A concen-<br />
tração estimada por (5.12) é a maior que poderia ser encontrada em qualquer local. En-<br />
tretanto, isto deve ocorrer muito pouco e a concentração promediada no tempo será mui-<br />
to menor.<br />
No FRFIELD assume-se que o decaimento bacteriano segue um processo de<br />
primeira ordem. A concentração de bactérias após um tempo de percurso t é dada por<br />
onde c, é a concentração bacteriana ao final do campo próximo; T,, é o tempo necessá-<br />
rio para haver uma redução de 90% nas bactérias devido à mortalidade. Conforme se<br />
discutiu no Capítulo 4, esta mortalidade é fiinção tanto de fatores abióticos como salini-<br />
dade, temperatura e luminosidade, quanto bióticos como competição e predação.<br />
No presente estudo, alguns procedimentos e adaptações foram efetuados no modelo<br />
FRFIELD visando aumentar a eficiência da modelagem do campo afastado. O primeiro<br />
diz respeito ao cálculo do decaimento bacteriano. O código do FRFIELD foi adaptado<br />
para utilizar os valores de T90 calculados conforme o procedimento descrito no Capítulo<br />
4. A cada instante de tempo t =iAt valores de T90 subseqüentes, até o horizonte de<br />
tempo t, , são utilizados pelo modelo para calcular o decaimento bacteriano. A sincroni-<br />
zação dos valores de T90 com os de velocidade e direção de corrente, profundidade de<br />
máxima concentração e espessura da pluma permitem uma melhor avaliação da disper-<br />
são considerando que a pluma oscila verticalmente na coluna d'água.<br />
O segundo procedimento para melhorar a eficiência de modelagem do campo<br />
afastado está relacionado com a forma como o campo de correntes é estimado. Dispon-<br />
do de perk de corrente em apenas um ponto dentro do domínio, o modelo perde rea-<br />
lismo longe deste ponto. As leis da conservação de continuidade e da quantidade de<br />
movimento são severamente violadas ao assumir-se que o campo de correntes em todo o
domínio possa ser aproximado como semelhante a corrente observada em um ponto a-<br />
penas.<br />
Há características do escoamento, entretanto, que se mantêm constantes ao longo<br />
do tempo. No Capítulo 2, constatou-se que o escoamento na região do ESEI é dominado<br />
por oscilações sub-inerciais. Ondas com longo período e comprimento propagam-se de<br />
forma progressiva sobre a plataforma continental forçadas pelos sistemas fi-ontais que<br />
atravessam a região Sudeste-Sul do Brasil. As direções principais das elipses que defi-<br />
nem o escoamento tendem a ser coincidentes com as direções das linhas isobatiméricas.<br />
Os coeficientes de estabilidade observados (Figura 2.1 l), muito próximos de 1, indicam<br />
que este padrão é praticamente estacionário nessa faixa de f?t-equências. E possível supor<br />
ainda que, como o comprimento da onda é muito grande quando comparado com as di-<br />
mensões da pluma, todo o campo de correntes, dentro dos limites da mesma, esteja em<br />
fase. Os espectros cruzados entre as correntes medidas nos fundeios ESEI e raso (Figura<br />
2.18) atestam essa suposição.<br />
Com base nessas considerações, é possível supor que o campo de correntes, den-<br />
tro dos limites da pluma pelo menos, possa ser aproximado a partir da medição de cor-<br />
rentes em um único ponto. Aplicando-se funções de transferência sobre as séries tempo-<br />
rais de vetores seria possível simular o escoamento em outros pontos dentro do domínio<br />
da pluma, promovendo a adequação as leis de conservação do movimento.<br />
Essas funções de transferência puderam ser obtidas a partir dos espectros rotató-<br />
rios cruzados entre séries temporais de corrente obtidas a partir de modelo hidrodinâmi-<br />
co em diversos pontos do domínio. Tais funções operariam em fi-equências específicas<br />
características do escoamento.
5.1.2 O Modelo hidrodinâmico<br />
O modelo hidrodinâmico utilizado no presente estudo é o FIST3D (Filtered in Spce<br />
and Time) que compõe o Sistema Base de Hidroditiâmica Ambiental - SisBAHIA, de-<br />
senvolvido na COPPEJ<strong>UFRJ</strong> através do Programa de <strong>Engenharia</strong> <strong>Oceânica</strong> - PENO, Á-<br />
rea de <strong>Engenharia</strong> Costeira e Oceanográfica - AECO.<br />
O modelo hidrodinâmico gera campos de corrente em corpos d'água rasos com<br />
superfície livre, cujos gradientes de densidade não sejam relevantes. O mesmo permite<br />
trabalhar com correntes promediadas na vertical (módulo 2DH) e/ou conhecer o períil<br />
vertical tridirnensional de correntes (módulo 3D) influenciado pelas tensões de atrito na<br />
superfície e no fundo.<br />
O modelo resolve as equações de Navier-Stokes, com aproximações de águas ra-<br />
sas (pressão hidrostática), fornecendo a cada passo de tempo, a posição da superficie<br />
livre e o campo de velocidades dentro do domínio considerado. As equações de Navier-<br />
Stokes expressam os princípios básicos da conservação da quantidade de movimento. O<br />
sistema de equações diferenciais é resolvido numericamente em conjunto com a equa-<br />
ção da continuidade.<br />
No modelo FIST3D, a discretização espacial é feita por uma malha de elementos<br />
finitos Lagrangeanos subparamétricos, utilizando-se triângulos ou quadriláteros com 6<br />
ou 9 nós respectivamente. É possível utilizar os dois tipos de elementos numa mesma<br />
malha, possibilitando maior adequação aos contornos e batimetria irregulares.<br />
Em computações de escoamentos 3D, o modelo 2DH é um módulo acoplado in-<br />
tegrado no processo de solução. Computações 3D + 2DH são inteiramente acopladas,<br />
sendo ambas feitas em todos os passos de tempo. O modelo 3D usa a elevação da super-<br />
fície livre computada pelo modelo 2DH, e tem uma condição de equalização: as médias<br />
na vertical dos perfis 3D têm que igualar as velocidades 2DH. Quando módulo integran-<br />
te de uma modelagem hidrodinâmica 3D, o atrito no fundo do modelo 2DH depende dos<br />
perfis de velocidade 3D. Em simulações puramente 2DH, o modelo 2DH funciona de<br />
modo independente e o atrito no fundo é calculado pela usual formulação quadrática.<br />
A rotina de solução 2DH usa processo iterativo GMRES . O esquema de solução<br />
3D é implícito na direção vertical e explícito nos níveis horizontais. Assim, ao longo de
cada coluna de água representada por um nó de malha visto de topo, resulta um proble-<br />
ma numérico 1D. Os problemas 1D são tratados em esquemas de diferenças finitas, u-<br />
sando o método de varredura dupla na solução. Uma opção de solução numérico-<br />
analítica é também disponível para computação dos perfis de velocidade 3D. Tal opção<br />
é mais rápida, e dá resultados adequados em regiões de escoamento com acelerações<br />
advectivas pequenas.<br />
Optou-se, neste trabalho, por uma breve descrição do modelo apontando suas<br />
principais características que permitem uma compreensão geral do mesmo. Evitou-se<br />
descrever o conjunto de equações e procedimentos adotados na modelagem numérica de<br />
circulação do FIST3D uma vez que tais considerações encontram-se didadicamente bem<br />
apresentadas na documentação técnica do SisBAHIA (COPPE, 2000).<br />
5.1.2.1 DeJini@o da malha<br />
Adotou-se uma malha de elementos fínitos com 4732 nós distribuídos em 1092 elemen-<br />
tos bíquadráticos (Figura 5.1). Do total de nós, 3980 são internos, 695 são contornos de<br />
terra, 59 são contornos abertos e 2 são tanto abertos quanto de terra. Com o objetivo de<br />
aumentar a resolução espacial do modelo na área de interesse, procurou-se desenhar a<br />
malha de tal forma que os elementos na parte oceânica do modelo fossem diminuindo<br />
em área gradualmente até a região próxima aos difiisores do ESEI. Nessa região, ado-<br />
tou-se elementos retangulares com lados de aproximadamente 300 metros.<br />
No modelo, a Baía da Guanabara é também contemplada embora não seja de in-<br />
teresse imediato do presente estudo. Nota-se, por isso, que a densidade da malha é con-<br />
sideravelmente reduzida ao adentrar-se os domínios da baía. Optou-se por modelar a<br />
baía porque as correntes na região do ESEI são afetadas em sua magnitude pelos ciclos<br />
de enchentes e vazantes na Baía. Além disso, há estações maregraficas na BG cujos da-<br />
dos puderam ser utilizados para a validação do modelo hidrodinâmico e para auxiliar na<br />
estimativa das condições de contorno.
Figura 5.1: Mapa base e malha adotado na modelagem numérica. Note-se o adensa-<br />
mento da malha na área próxima ao ESEI.<br />
A Figura 5.2 apresenta as isolinhas de rugosidade do fundo, E, determinadas a<br />
partir da faciologia da Baiada Guanabara e região oceânica adjacente. Esta variou de<br />
cerca de 0,01 m, nas regiões com sedimentos finos no fundo da baía característicos de<br />
ambientes com pouca energia, a cerca de 0,05 m nas regiões com fundos arenosos da<br />
plataforma continental interna e do canal de entrada da baía.
Figura 5.2 - Mapa de isolinhas de coeficientes de rugosidade adotados no modelo.<br />
A Figura 5.3 apresenta o mapa batirnétrico utilizado para o domínio modelado<br />
elaborado com base nas cartas náuticas da Diretoria de Hidrografia e Navegação. As<br />
profundidades alcançaram perto de 56 metros próximo ao contorno aberto meridional.<br />
Na região dos difusores do ESEI a profundidade gira em torno de 27 metros. A tubula-<br />
ção segue até os difusores paralelo a elevação formada pelas Ilhas Cagarras. A profun-<br />
didade nessa elevação diminui de 27 para 17 metros. Como se mostra a seguir, tal geo-<br />
metria influencia o transporte de plumas aprisionadas próximo ao fundo pela estratifica-<br />
ção de densidades.
Figura 5.3: Batimetria adotada na modelagem numérica, referida ao NMM. Note-se o<br />
tômbolo submerso a leste da tubulação do ESEI, com cujas profundida-<br />
des elevam-se cerca de 17 metros em relação ao fundo na altura dos di-<br />
fusores.<br />
5.1.2.2 Condi~ões de contorno e iniciais<br />
A resolução do sistema de equações diferenciais envolvidos na modelagem da<br />
circulação hidrodinâmica depende do conhecimento das condições de contorno para o<br />
campo de velocidades e elevação da superfície. No módulo 3D, junto ao fiindo, a velo-<br />
cidade é nula. A superficie, a condição de contorno é dada pela tensão de atrito do ven-<br />
to, calculada a partir de valores de vento fornecidos. Os domínios podem apresentar,<br />
ainda, tanto contornos abertos quanto fechados (ou de terra). Os contornos abertos são<br />
limites estratégicos, não fisicos, que limitam o modelo em sua parte oceânica. São ge-<br />
ralmente fixados longe da região foco a ser modelada de forma a evitar-se o efeito da
propagação de instabilidades numéricas. Os contornos fechados do modelo geralmente<br />
coincidem com as margens terrestres do domínio a ser modelado. Neste contorno pode<br />
haver pontos com afluxo ou efluxo provenientes de rios ou canais onde se faz necessário<br />
prescrever fluxos/velocidades normais não nulas. Nos demais pontos do contorno de<br />
terra, o fluxo/velocidade normal é, em geral imposto como nulo. Ao longo dos contor-<br />
nos abertos, geralmente, somente a elevação da supedicie livre é prescrita.<br />
No caso da modelagem em questão, não foram consideradas as contribuições<br />
dos rios do interior da Baía da Guanabara. Assim, todos os pontos do contorno de terra<br />
foram prescritos com velocidade normal nula. Nos contornos abertos, prescreveu-se a<br />
elevação da superficie livre de tal forma que um gradiente horizontal fosse formado en-<br />
tre as extremidades leste e oeste permitindo simular a propagação de uma onda longa na<br />
costa carioca, simulando o efeito das marés meteorológicas.<br />
Da mesma forma que nas condições de contornos, é preciso estabelecer uma<br />
condição inicial para a resolução do sistema de equações diferenciais que regem o mo-<br />
vimento. Para todos os nós do domínio, deve-se fornecer os valores para elevação da<br />
superficie livre e as componentes (U e Y) de velocidade promediada na vertical no ins-<br />
tante inicial de simulação.<br />
No modelo em questão adotou-se o procedimento de, num primeiro momento,<br />
partir do estado de repouso. Com a simula@o estabilizada depois da fase de aquecimen-<br />
to do modelo, fez-se uma regressão aproximada dos valores de elevação e componentes<br />
de velocidade horizontal para o instante inicial. Estes valores foram então adotados co-<br />
mo condições iniciais das simulações defhitivas. Tal procedimento reduziu simcati-<br />
vamente o período de aquecimento (Figura 5.4).
20<br />
Horas<br />
Figura 5.4: Elevação da superfície livre e componentes de velocidade no ESEI ilus-<br />
trando a estratégia para definição das condições iniciais. Partindo de uma<br />
partida a frio, depois de estabilizado o modelo, os valores eram retro-<br />
estimados e utilizados como condições iniciais para o modelo definitivo.<br />
Nota-se que a fase de aquecimento do modelo foi praticamente eliminada.<br />
5.1.2.3 VnZida@o do modelo<br />
Não havendo medições simultâneas distribuídas ao longo do domínio, teve-se que pro-<br />
ceder a validação do modelo com base nos dados de nível d'água, obtidos na estação da<br />
Ilha Fiscal, e os dados de correntes medidos no ESEI.<br />
As constantes harmônicas apresentadas na Tabela 2.1 foram utilizadas para<br />
prescrever a elevação da superfície no contorno do modelo. Para o nó referente a Ilha<br />
Fiscal foi gerada uma série horária de nível d'água simulada com 32 dias de duração,.<br />
Uma nova análise harmônica de maré foi então realizada seguindo metodologia de<br />
Franco (1982). A amplitude da componente calculada era comparada com a anterior.<br />
Aplicando-se a correção sobre a amplitude, novas componentes harmônicas eram intro-
duzidas no contorno e o procedimento era repetido até que houvesse uma convergência<br />
satisfatória para as componentes apresentadas na Tabela 5.1. O erro padrão, ponderado<br />
pelas amplitudes das componentes, para as constantes harmônicas principais (M2, S2,<br />
01 e Kl) foi de 4,9 %, enquanto que para todas as componentes o mesmo foi de 6,s %.<br />
Esse erro foi considerado satisfatório pois é da mesma ordem do limite de confiança uti-<br />
lizado nas análises harmônicas.<br />
Tabela 5.1: Constantes harmônicas utilizadas no contorno aberto. Estas foram esti-<br />
madas a partir das constantes da Ilha Fiscal, de forma a reproduzir a am-<br />
plificação que maré sofre dentro da Baía da Guanabara.<br />
Constante<br />
M2<br />
S2<br />
01<br />
Kl<br />
M4<br />
N2<br />
K2<br />
OP2<br />
Ql<br />
MN4<br />
L2<br />
Ma2<br />
MTS2<br />
MS4<br />
Pl<br />
Erro padrão (%)<br />
Impktude Ifii<br />
Fiscal modelo<br />
(cm)<br />
33,8<br />
19,l<br />
10,7<br />
615<br />
417<br />
413<br />
52<br />
219<br />
2.2<br />
Erro (%)<br />
Na parte oceânica do modelo, procurou-se forçar o mesmo a reproduzir as fun-<br />
ções espectrais rotatórias (espectro total, coeficiente de rotação, direção e estabilidade<br />
da elipse) da corrente medida a 4,5 metros de profundidade. Para isso, a amplitude e o<br />
fator de multiplicador de fase eram variados numa seqüência de tentativa e erro.
Figura 5.5: Localização dos pontos de controle adotados para a determinação das<br />
funções de transferência destinados a modelagem com o FRFIELD.<br />
5. I.2.4 Pontos de controle<br />
A Figura 5.5 apresenta a localização dos nove pontos de controle estabelecidos para ge-<br />
rar as funções de transferência. Os mesmos foram definidos com base nas dimensões do<br />
campo de mistura obtidas no modelo FRFIELD, alimentado com séries temporais de<br />
correntes obtidas apenas no fundeio do ESEI. Procurou-se localizar os pontos de contro-<br />
le nos limites do campo de mistura. Dois pontos foram estabelecidos sobre as localiza-<br />
ções dos fundeios ESEI e raso, descritos no Capítulo 2. Dois pontos, C6 e C7 foram co-<br />
locados próximo a costa para melhorar o desempenho do FRFIELD nessa região.
5.1.3 - O modelo Lagrangeano de transporte advectivo/difusivo<br />
Estes tipos de modelo permitem, com bastante eficiência, conhecer o campo de disper-<br />
são de efluentes em corpos d'água receptores. Sua principal vantagem é sua fácil aplica-<br />
ção a fontes com escala reduzida e a fortes gradientes. Nestes modelos, partículas, re-<br />
presentando o contaminante, são lançadas aleatoriamente numa região fonte em interva-<br />
los regulares e então advectadas pelas correntes no campo afastado. As trajetórias são<br />
conhecidas através da soma de uma componente advectiva determinística e outra aleató-<br />
ria que reproduz o efeito da difusão turbulenta. A posição da partícula, P"", no instante<br />
de tempo (n + 1)At é calculada a partir de uma expansão de série de Taylor partindo da<br />
posigão anterior P n no instante nAt .<br />
onde T.A.O. são termos de alta ordem desprezados. Assumindo que no transporte ad-<br />
vectivo de um escalar passivo as partículas deslocam-se com as mesmas velocidades das<br />
correntes do corpo receptor, as derivadas temporais da posição são obtidas a partir do<br />
campo de velocidades calculado pelo modelo hidrodinâmico (2DH ou 3D) da seguinte<br />
forma;<br />
O espalhamento das partículas causado pela difusão turbulenta ambiente é simu-<br />
lada introduzindo um desvio aleatório, V, que é somado as velocidades advectivas. O<br />
desvio aleatório segue a seguinte fùnção;<br />
onde a é uma hnção aleatória que varia entre -1 e 1;
ai, é um delta de Kroenecher;<br />
KW é o coeficiente horizontal de difusão turbulenta de momentum;<br />
K, é o coeficiente de dispersão horizontal de momentum;<br />
A é um parâmetro relativo a largura do Htro utilizado na atragem da turbulência<br />
(Rosman, 1990);<br />
u, é a velocidade de atrito.<br />
Para o cálculo das concentrações, o modelo estabelece uma grade de distribuição<br />
que abriga toda a mancha de contaminante. Definindo-se a posição da partícula, divide-<br />
se sua massa por cada célula de grade associada conforme uma função de distribuição<br />
específicada. Se a mancha associada a uma partícula é grande em relação ao tamanho<br />
das células, pode-se usar uma knção Gaussiana.<br />
onde as variâncias relacionam-se com os coeficientes de dispersão através de<br />
da por;<br />
A massa equivalente de contaminante em cada partícula lançada pela fonte é da-<br />
onde NA B o número de partículas lançadas por unidade de tempo, Qe e C, são a<br />
descarga e a concentração do efluente na fonte, respectivamente. Em um determinado<br />
instante após o lançamento da partícula de massa Mo, a parcela de massa mi na posição<br />
(xz + y, ) é dada por
A massa da partícula irá variar em função do tempo se houver reações cinéticas de pro-<br />
dução e consumo. No caso das bactérias indicadoras, um decaimento de primeira ordem<br />
é usualmente especificado como<br />
onde tv é o tempo de vida da partícula e k é o coeficiente de decaimento bacteriano<br />
discutido no Capítulo 4.<br />
Os módulos hidrodinâmico 3D e de transporte advectivo/difusivo de partículas do Sis-<br />
BAHIA foram utilizados para modelar o campo de dispersão da pluma do ESEI. Dois<br />
cenários distintos foram alvo de modelagem. No primeiro, procurou-se simular o efeito<br />
da elevação das Cagarras sobre o campo de dispersão da pluma do ESEI. No segundo<br />
cenário, o objetivo era conhecer o alcance da pluma do ESEI considerando o T90 variá-<br />
vel e com ordens de grandeza compatíveis com as estimadas no Capítulo 4.
5.2.1 Definição das funções de transferência<br />
Com o intuito de avaliar a variabilidade das características do escoamento na faixa de<br />
fiequências sub-inerciais, simulações foram efetuadas com o modelo hidrodinâmico va-<br />
riando-se características das for~antes oscilatórias. Arranjos com períodos de 4 e 10 di-<br />
as, multiplicador de defasagem de 100 e 200 graus e amplitudes de 10 e 20 centímetros<br />
geraram séries temporais de correntes nos pontos de controle supracitados.<br />
Tabela 5.2: Características espectrais nos picos de energia de séries temporais de<br />
correntes geradas com o modelo hidrodinâmico. Vários arranjos de perí-<br />
odo sub-inercial, multiplicador de defasagem e amplitude foram testados<br />
para avaliar a variabilidade do campo de correntes.<br />
Parâmetro<br />
Velocidade<br />
(cmls)<br />
Coeficiente<br />
de<br />
Rotação<br />
Direção da<br />
Elipse<br />
(graus)<br />
Coeficiente<br />
de Estabili-<br />
dade<br />
Período<br />
(dias)<br />
Estações<br />
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 RASO ESEI<br />
19,5 14,6 13,7 11,9 21,3 9,2 5,O 17,3 17,7<br />
29,3 22,3 22,O 17,2 33,2 13,4 6,7 26,2 26,7<br />
28,l 21,5 20,8 17,2 31,4 13,2 6,7 25,5 25,2<br />
41,9 32,9 32,O 25,9 47,9 18,5 8,9 38,4 38,3<br />
15,6 11,2 10,3 9,l 15,7 7,2 4,O 13,6 14,O<br />
24,l 17,6 16,9 14.5 25.9 11.2 5.8 21.3 21.8
A Tabela 5.2 apresenta valores de amplitude das correntes, coeficiente de rota-<br />
ção, direção e estabilidade da elipse calculados a partir das séries temporais obtidas nos<br />
pontos de controle. As amplitudes das velocidades responderam diretamente ao fator de<br />
defasagem e a amplitude da oscilação da superfície livre em todos os pontos de contro-<br />
le. Quanto maiores forem esses dois parâmetros, maiores serão as amplitudes das cor-<br />
rentes.<br />
A Tabela 5.3 apresenta a relação entre as amplitudes de corrente estimadas em<br />
cada ponto de controle com a estimada no ponto ESEI. Nota-se que as relações perma-<br />
necem aproximadamente constantes. Isto indica que, independente das características do<br />
forçante, os pontos de controle tendem a responder de forma semelhante, acelerando ou<br />
desacelerando na mesma razão. Os baixos desvios padrão observados atestam este fato.<br />
Tabela 5.3 - Razões entre a velocidade da corrente nos pontos de controle e a do ESEI.<br />
Os valores foram gerados com base na Tabela 5.2.<br />
Parâmetro<br />
Razão de<br />
velocidade<br />
em relação<br />
ao ESEI<br />
P<br />
Período<br />
(dias)<br />
4<br />
10<br />
Muitipl.<br />
de<br />
defasagem<br />
P<br />
0<br />
100<br />
200<br />
100<br />
200<br />
Amplitude<br />
(cm)<br />
10<br />
20<br />
10<br />
20<br />
10<br />
20<br />
10<br />
20<br />
As direções das elipses também apontam para essa mesma conclusão. A Tabela<br />
5.4 apresenta a diferença entre a direção da elipse em cada ponto de controle e a do pon-<br />
to ESEI. Os baixos desvios padrão, menores do que 3,l graus, mostram que a direção<br />
das correntes tende a se manter aproximadamente constante, independente das caracte-<br />
rísticas da oscilação que força o movimento.<br />
c1<br />
Estações<br />
c2 c3 C4 C5 C6 c7 RASO<br />
1,lO 0,82 0,77 0,67 1,20 0,52 0,28 0,98<br />
1,lO 0,84 0,82 0,64 1,24 0,50 0,25 0,98<br />
1,12 0,85 0,83 0,68 1,25 0,52 0,27 1,Ol<br />
1,09 0,86 0,84 0,68 1,25 0,48 0,23 1,OO<br />
1,11 0,80 0,74 0,65 1,12 0,51 0,29 0,97<br />
1,11 0,81 0,78 0,67 1,19 0,51 0,27 0,98<br />
1,11 0,81 0,77 0,64 1,17 0,51 0,26 0,98<br />
1,lO 0,82 0,80 0,65 1,20 0,50 0,25 0,99<br />
1,11 0,83 0,79 O,66 1,20 0,51 0,26 0,99<br />
0,Ol 0,02 0,03 0,02 0,04 0,Ol 0,02 0,Ol
Tabela 5.4: Diferença entre as direções das elipses de corrente nos pontos de contro-<br />
le e as do ESEI. Os valores foram gerados com base na Tabela 5.2.<br />
Parâmetro<br />
Diferença de<br />
direção em<br />
relação ao<br />
SEI<br />
O coeficiente de rotação muito baixo e a estabilidade da elipse equivalente a u-<br />
nidade indicam a ditículdade do modelo em reproduzir essas características naturais do<br />
escoamento. Uma vez que apenas uma onda longa pode ser prescrita no contorno, e esta<br />
ainda entra no domínio seguindo uma direção pré-estabelecida, não é possível o modelo<br />
reproduzir o padrão elíptico de velocidade na sua porção oceânica. De qualquer forma,<br />
as correntes medidas também apresentam valores de coeficientes de rotação e estabili-<br />
dade próximos de zero e um, respectivamente. Portanto, esta não chega a ser uma defi-<br />
ciência significante.<br />
Período I M"ltipl' I Amplitude I Estações<br />
.-I= I I I I I I I<br />
A constância da direção e da razão das magnitudes dos vetores de corrente na<br />
parte oceânica do modelo fortalece a idéia de se produzir funções de transferência que<br />
permitam aproximar o campo de correntes com base em medições em um ponto apenas.<br />
Um processo de amplificação e rotação do vetor parece atender a esse objetivo. Assim,<br />
foram efetuadas as seguintes operações no domínio do tempo:<br />
onde,<br />
100<br />
200<br />
inn<br />
=-..-<br />
V, = g, COSO-C sení?<br />
10<br />
20<br />
10<br />
20<br />
10<br />
6, = p.u,<br />
v. = p.v,<br />
i é o índice do vetor a ser aproximado;<br />
O é o vetor de referência;<br />
,B é o fator de amplificação do vetor;<br />
8 é o ângulo de rotação do vetor.<br />
I I I I I I I<br />
25,l 3,7 -0,4 -5,0 17,3 30,4 10,4 13,5<br />
23,2 3,6 0,8 -4,0 15,7 28,4 9,l 11,l<br />
23,3 4,O 0,5 -4,4 15,8 28,5 9,6 11,9<br />
19,7 3,5 1,2 -3,6 14,4 25,O 7,6 9,4<br />
28,2 5,6 -4,3 -8,7 20,9 35,O 10,4 16,l
A rigor, as equações 5.23 e 5.24 deveriam ser dependentes das frequências de<br />
oscilação que ocorrem no local. Não se pode assumir que o padrão bem comportado das<br />
correntes na faixa de frequências sub-inerciais seja também observado em outras faixas<br />
de freqüência. Mas, conforme visto no Capítulo 2, a energia cinética na região oceânica<br />
do município do Rio de Janeiro é dominada por oscilações sub-inerciais. A energia na<br />
faixa de marés, não é capaz de influenciar significativamente o padrão da circulação, a<br />
não ser próximo ao fundo. No presente trabalho, optou-se por aplicar a função de trans-<br />
ferência apenas nas componentes sub-inerciais. Para isso, a série do ESEI foi filtrada<br />
com o filtro Lanczos 40 horas (Figura 2.4); a função de transferência foi aplicada sobre<br />
baixa frequência; e a alta frequência foi novamente introduzida na série simulada. Os<br />
valores adotados para e 0 para cada estação de controle são apresentados nas Tabe-<br />
las 5.3 e 5.4.<br />
5.2.2 Aplicação das funções de transferência<br />
Conforme descrito no Capítulo 2, durante o verão de 1997 havia dois conjuntos de<br />
ADCP e termistores operando na região, um localizado no ponto ESEI e outro no raso<br />
(Figura 2.3). A técnica de aproximação do campo de correntes descrita acima foi apli-<br />
cada a uma série temporal de corrente medida no ESEI em 6,O metros com o objetivo de<br />
reproduzir uma série temporal para o fundeio raso e então compará-la com a série efeti-<br />
vamente medida neste ponto a 7,O metros de profundidade.<br />
A técnica, para ser eficiente, deve tornar as componentes dos vetores estimados<br />
o mais semelhantes o possível com as das componentes medidas. E, partindo-se do<br />
princípio de que o escoamento no fundeio raso seria aproximado como sendo idêntico<br />
ao escoamento no fundeio ESEI, este último pode ser usado como critério de compara-<br />
@o, permitindo avaliar a eficiência da simulação.<br />
A Figura 5.6 apresenta os diagramas progressivos das séries de vetores, em bai-<br />
xa frequência, medidas e simuladas. Observa-se que a trajetória do vetor simulado se<br />
aproxima da trajetória corrente medida no fùndeio raso indicando que a técnica promo-<br />
ve um ganho de eficiência para a estimação do campo de correntes.
----- RASO (medido)<br />
Figura 5.6: Diagrama progressivo de vetores das séries medidas no ESEI e no fun-<br />
deio raso, e a simulada no fundeio raso. Observa-se que a trajetória do<br />
vetor simulado se aproxima da dos vetores medidos no fundeio raso.<br />
Os erros médios quadráticos PMQ) entre as séries medida e calculada no fun-<br />
deio raso, e entre as medidas nos fundeios raso e ESEI, foram calculados para quantití-<br />
car o ganho de eficiência da estimativa do escoamento. O EMQ das componentes Este-<br />
Oeste permaneceram constantes, o que era de se esperar uma vez que o escoamento se-<br />
gue aproximadamente essa orientação e o fator de multiplicação para o raso é pratica-<br />
mente 1 (Tabela 5.4). Entretanto, a rotação das elipses promoveu uma redução de 35%<br />
no EMQ das componentes Norte-Sul, comparado ao EMQ das componentes medidas no<br />
ESEI.<br />
Poderia se esperar maior eficiência da técnica proposta face a comparação apre-<br />
sentada. Deve-se considerar, entretanto, que o método baseia-se em aplicar funqões de
transferência médias sobre séries medidas. Além disso, a comparação foi efetuada com<br />
séries medidas por equipamentos distintos. Não há como garantir, a princípio, que os<br />
dois equipamentos foram semelhantemente eficientes. Problemas como incrustação, ru-<br />
ídos eletrônicos, estratificação da coluna d'água, localização dos níveis de medição, ca-<br />
racterísticas localizadas do escoamento, são potenciais fontes de disparidade entre as<br />
séries dos ADCPs. Dificilmente, mesmo com equipamentos semelhantes instalados nu-<br />
ma mesma coordenada e profundidade, as séries temporais serão totalmente semeihan-<br />
tes entre si. Desta forma, o EMQ comparando valores instantâneos das séries envolvidas<br />
sempre será não nulo.<br />
5.2.3 Modelagem estocrísticrr do campo afastado<br />
Com o objetivo de conhecer a extensão do campo de esgotos do ESEI conforme os limi-<br />
tes estabelecidos gela Legislação Brasileira, foram gerados gráficos de fi-equência de<br />
excedência para o limite de 80% para coliformes fecais, Escherichia cozi e enterococos.<br />
Os mesmos foram produzidos utilizando-se o modelo FRFIELD, descrito acima, valen-<br />
do-se das aproximações do campo de correntes e simulações intermediárias, campo pró-<br />
ximo e decaimento bacteriano, descritas anteriormente.<br />
As simulações foram efetuadas adotando-se um horizonte de tempo de 50 horas<br />
de forma a atender as necessidades dos T90 elevados (Capítulo 4) resultado, principal-<br />
mente, da falta de luminosidade nos períodos noturnos e de pluma submersa. Foi estabe-<br />
lecida uma malha quadrada com 200 x 200 pontos de grade espaçados de 300 metros<br />
entre si. Foram estabelecidos três pontos de controle sobre a linha de 300 metros das<br />
praias de Ipanema e Leblon (Figura 5.7) a fim de obter-se uma estatística da concentra-<br />
ção de bactérias, cuja origem é o ESEI, que eventualmente alcançam esta linha de segu-<br />
rança. A profundidade nessa linha é de aproximadamente 9 metros. Em função disto, a<br />
símulação do campo afastado ficou restrita aos 9 metros superiores da coluna d'água.<br />
Seguindo o padrão adotado nos capítulos anteriores, as simulações foram efetuadas para<br />
os períodos de verão, outono, inverno e primavera.
As concentrações iniciais de bactérias indicadoras adotadas na modelagem fo-<br />
ram 3,8x 10' W100 ml (SURSAN, 1969) para coliformes fecais, 1,0x 108 NMP/100<br />
ml para Escherichia Cozi e l,6xlo6 NMP1100 ml para enterococos (Tholmann & Muel-<br />
ler, 1987).<br />
5.2.3. í O campo afastado no verão<br />
A Figura 5.7 apresenta freqüência de excedência superior a 80% estabelecidos pela re-<br />
solução CONAMA 27412000 para coliformes fecais, Escherichia cozi e enterococos pa-<br />
ra o ESEI durante o verão de 1997. A mancha de coliformes fecais estendeu-se com<br />
concentração acima do limite considerado satisfatório (1000 NMP/100 ml) por uma área<br />
aproximadamente elíptica com 3,8 km de diâmetro maior, paralelo a costa, por 1,6 km<br />
de diâmetro menor. O limite abaixo do qual a água é considerada excelente para o con-<br />
tato primário (250 NMP1100 ml) esteve localizado a 1,8 km da linha de segurança. As<br />
dimensões dos campos de esgoto de Escherichia cozi e enterococos foram aproximada-<br />
mente semelhantes. Ambas apresentaram diâmetro maior de cerca de 2,O km contra 1,l<br />
de diâmetro menor.
-2000<br />
2000 o m 4000 6000<br />
metros<br />
Figura 5.7 Freqüência de excedência superior a 80% dos limites estabelecidos pela<br />
resolução CONAMA 27412000 para a) coliformes fecais, b) Escherichía co-<br />
li e c) enterococos para o ESEI durante o verão de 1997.
Tabela 5.5: Estatística da concentração estimada nos pontos de controle para coliformes<br />
fecais, Escherichia colí e enterococos cuja origem é o ESEI durante o pe-<br />
ríodo de verão de 1997.<br />
Bactéria Indi-<br />
cadora<br />
Coliformes<br />
Fecais<br />
i3cheríchia<br />
Coli<br />
Enterococus<br />
Limite<br />
Legislação<br />
Máximo<br />
Média geométrica<br />
NMP/100ml<br />
Máximo NMP/lOOml<br />
Média geométrica<br />
NMP/100ml<br />
Máximo NMP/lOOml<br />
Média geométrica<br />
NMP1100ml<br />
A Tabela 5.5 apresenta a estatística de concentração de bactérias nos<br />
pontos de controle para o período de verão. O valor máximo estimado para a concentra-<br />
ção de coliformes fecais foi de 36.000 NPM/100 ml, enquanto a média geométrica não<br />
ultrapassou 7,8 NPM/100 ml. Em 52,7 % do tempo, as concentrações de coliformes fo-<br />
ram iguais a zero e em apenas 5,2 % do tempo a concentração ultrapassou o limite con-<br />
siderado como satisfatório. Em 1,87 % do tempo, a concentração ultrapassou o limite<br />
máximo permitido equivalente a 2.500 NPM/100 ml. Para Escherichia coli, os pontos<br />
de controle se mostraram impróprios, ou seja, com concentrações maiores do que 2.000<br />
NPM/100 ml, em 0,61% do tempo. Considerando-se o critério enterococos, em apenas<br />
0,09% do tempo, os pontos de controle se mostraram impróprios, ultrapassando 400<br />
NPMI100 ml.
5.2.3.2 O campo afastado no outono<br />
A Figura 5.8 apresenta fiequência de excedência superior a 80% estabelecidos pela re-<br />
solução CONAMA 274/2000 para coliformes fecais, Escherichia coli e enterococos pa-<br />
ra o ESEI durante o outono de 1997. A mancha de coliformes fecais estendeu-se com<br />
concentração acima do limite considerado satisfatório por uma área aproximadamente<br />
elíptica com 3,l km no eixo principal por 1,2 km no eixo secundário. O campo de esgo-<br />
tos estimado apresentou uma acentuada assimetria, apontando preferencialmente para<br />
leste. Em função disto, o limite abaixo do qual a água é considerada excelente para o<br />
contato primário aproximou-se a aproximadamente 1,7 km do ponto de controle 3. Se-<br />
melhantemente ao período de verão, as dimensões dos campos de esgoto de Escherichia<br />
coli e enterococos também foram aproximadamente semelhantes. Ambas apresentaram<br />
diâmetro maior de cerca de 2,s km contra 1,O km de diâmetro menor.<br />
A Tabela 5.6 apresenta a estatística de concentração de bactérias nos pontos de<br />
controle para o período de outono. O valor máximo estimado para a concentração de<br />
coliformes fecais foi de 110.000 NPRIl100 ml na estação 1, enquanto a média geométri-<br />
ca foi menor ou igual a 7,5 NPM/100 ml nas três estações. Em 63,l % do tempo, as<br />
concentrações de coliformes foram iguais a zero e em apenas 4,12% do tempo a concen-<br />
tração ultrapassou o limite considerado como satisfatório. Em 2,31 % do tempo, na es-<br />
tação 3, a concentração ultrapassou o limite máximo permitido. Para Escherichia coli,<br />
os pontos de controle se mostraram impróprios, em 1,81% do tempo, enquanto que para<br />
enterococos, em 0,63% do tempo, os pontos de controle se mostraram impróprios.
Figura 5.8 Freqüência de excedência superior a 80% dos limites estabelecidos pela<br />
resolução CONAMA 27412000 para a) colifomes fecais, b) Escheríchia Co-<br />
li e c) enterococus para o ESEI durante o outono de 1997.
Tabela 5.6 Estatística da concentração estimada nos pontos de controle para coli-<br />
formes fecais, Escherichía colíe enterococos cuja origem é o ESEI duran-<br />
te o período de outono de 1997.<br />
Bactéria Indi-<br />
cadora<br />
Coliformes<br />
Fecais<br />
Escherichia<br />
Cok<br />
Enterococus<br />
Limite<br />
Legislação<br />
Máximo<br />
NMP/lOOml<br />
%=O<br />
% > 250<br />
O/o > 1000<br />
'/o > 2500<br />
Média geométrica<br />
NMP/100ml<br />
Máximo NMP/lOOml<br />
%=O<br />
% > 200<br />
?h > 800<br />
% > 2000<br />
Média geométrica<br />
NMP/lOOml<br />
Máximo NMP/lOOml<br />
O/o = o<br />
% > 25<br />
Oh > 100<br />
?h > 400<br />
Média geométrica<br />
NMP/lOOmI<br />
5.2.3.3 O campo afastado no inverno<br />
A Figura 5.9 apresenta freqüência de excedência superior a 80% para co-<br />
liformes fecais, Escherichia cozi e enterococos para o ESEI durante o inverno de 1997.<br />
A mancha de coliformes fecais estendeu-se com concentração acima do limite satisfató-<br />
rio por uma área elíptica com 4,6 km no eixo principal por 1,5 km no eixo secundário.<br />
Novamente, houve uma leve assimetria para leste do campo de esgotos. O limite exce-<br />
lente para contato primário esteve localizado a 1,5 km da estação 3. Os campos de esgo-<br />
to de Escherichia cozi e enterococos apresentaram diâmetro principal com 3,4 krn contra<br />
1,l no eixo secundário.
mtros<br />
mtros<br />
Figura 5.9: Freqüência de excedência superior a 80% dos limites estabelecidos pela<br />
resolução CONAMA 27412000 para a) coliformes fecais, b) Escheríchia Co-<br />
li e c) enterococos para o ESEI durante o inverno de 1997.
Tabela 5.7: Estatística da concentração estimada nos pontos de controle para coli-<br />
formes fecais, Escherichia coií e enterococos cuja origem é o ESEI duran-<br />
te o período de inverno de 1997.<br />
Bactéria Indi-<br />
cadora<br />
Coliformes<br />
Fecais<br />
Escherichia<br />
Coli<br />
Enterococus<br />
Limite<br />
Legislação<br />
Máximo NMP/100ml<br />
'/o > 2500<br />
Média geométrica<br />
NMP/IOOml<br />
Máximo NMP/lOOml<br />
Média geométrica<br />
NMP/lOOml<br />
Máximo NMP/lOOml<br />
Média geométrica<br />
NMP/lOOml<br />
A Tabela 5.7 apresenta a estatística de concentração de bactérias nos pontos de<br />
controle para o período de inverno. O valor máximo estimado para a concentração de<br />
coliformes fecais foi de 7.700 NPMI100 ml, enquanto a média geométrica não ultrapas-<br />
sou 11 NPM/100 ml. Em, no mínimo, 65,2 % do tempo, as concentrações de coliformes<br />
foram iguais a zero e em apenas 4,3 % do tempo a concentração ultrapassou o limite<br />
considerado como satisfatório. Em 1,3 1 % do tempo, a concentração ultrapassou o limi-<br />
te máximo permitido. Para Escherichia coli, os pontos de controle se mostraram impró-<br />
prios em 0,45 % do tempo e para enterococos os limites máximos não foram ultrapassa-<br />
dos.
5.2.3.4 O campo afastado na primavera<br />
A Figura 5.10 apresenta fi-eqüência de excedência superior a 80% para colifor-<br />
mes fecais, Escherichia coli e enterococos para o ESEI durante a primavera de 1997. A<br />
mancha de coliformes fecais estendeu-se com concentração acima do limite considerado<br />
satisfatório por uma área com 3,2 km de extensão por 1,3 km de largura máxima. O li-<br />
mite abaixo do qual a água é considerada excelente para o contato primário esteve loca-<br />
lizado a 2,2 km da linha de segurança. Para Escherichia coli o diâmetro maior do campo<br />
de esgotos foi de 2,l km contra 1,l de diâmetro menor. Para enterococos, esses limites<br />
foram de 1,4 km e 1,O km respectivamente.<br />
A Tabela 5.8 apresenta a estatística de concentração de bactérias nos pontos de<br />
controle para o período de primavera. O valor máximo estimado para a concentração de<br />
coliformes fecais foi de 130.000 NPMl100 ml na estação 1, enquanto a maior média ge-<br />
ométrica foi 16 NPM1100 ml. Em 65,5 % do tempo, as concentrações de coliformes fo-<br />
ram iguais a zero e em 4,4 % do tempo a concentração ultrapassou o limite considerado<br />
como satisfatório. Em 1,31 % do tempo, a concentração ultrapassou o limite máximo<br />
permitido. Para Escherichia coli, os pontos de controle se mostraram impróprios em<br />
2,17 % do tempo. Considerando-se o critério enterococos, em apenas 0,63 % do tempo,<br />
os pontos de controle se mostraram impróprios.<br />
5.2.3.5 Discussão sobre a modelagem do campo afastado<br />
Comparando os gráficos para os três critérios de balneabilidade estabelecidos pela Le-<br />
gislação Brasileira, verifica-se que o critério coliforme fecal é o mais restritivo de todos<br />
para a segurança ao contato primário. Os organismos enterococos são menos sensíveis<br />
ao foto-decaimento, mas a concentração inicial mais baixa e a dispersão ocasionada pela<br />
turbulência ambiente reduzem signifícativamente suas concentrações no campo afasta-<br />
do. O efeito contrário ocorre com a Escherichia coli. Embora as concentrações iniciais<br />
sejam relativamente altas, próximas das de coliformes fecais, estas são muito sensíveis<br />
ao foto-decaimento, resultando numa redução mais acentuada na concentração destes<br />
organismos. Com base nesse fato, para efeito da avaliação da eficiência do ESEI, so-<br />
mente o critério coliforme fecal será considerado daqui por diante.
Figura 5.10 Freqüência de excedência superior a 80% dos limites estabelecidos pela<br />
resolução CONAMA 27412000 para a) coliformes fecais, b) Escheríchia Co-<br />
Ií e c) enterococos para o ESEI durante a primavera de 1997.
Tabela 5.8: Estatística da concentração estimada nos pontos de controle para coli-<br />
formes fecais, Escheríchia coli e enterococos cuja origem é o ESEI duran-<br />
te o período de primavera de 1997.<br />
Bactéria Indi-<br />
cadora<br />
Coliformes<br />
Fecais<br />
Enterococus<br />
Limite<br />
Legislação<br />
Máximo NMP/lOOml<br />
O/o = O<br />
% > 250<br />
% > 1000<br />
?h > 2500<br />
Média geométrica<br />
NMP/lOOml<br />
Máximo NMP/lOOmI<br />
%=O<br />
% > 200<br />
'/o > 800<br />
% > 2000<br />
Média geométrica<br />
NMP/lOOml<br />
Máximo NMP/lOOml<br />
O/o = o<br />
% > 25<br />
O/o > 100<br />
% > 400<br />
Média geométrica<br />
NMP/lOOml<br />
Comparando os gráficos de coliformes fecais percebe-se que a área do campo de<br />
esgotos no inverno é maior do que as demais; o verão e a primavera apresentaram carac-<br />
terísticas bastante semelhantes; e que o outono apresentou a menor área, ou seja a maior<br />
eficiência, a princípio. Esses resultados refletem sobremaneira a influência da estratifi-<br />
cagão da coluna d'água sobre a modelagem. No inverno, embora a descarga tenha sido<br />
menor (Figura 3.10), e a diluição inicial a mais eficiente do ano, a pluma emergiu em<br />
64% do tempo (Tabela 3.2). Isso fez com que mais vezes a pluma alcançasse os 9 me-<br />
tros superiores da coluna d'água e fosse contabilizada no cálculo da fkequência de ocor-<br />
rência. O resultado é o aumento do tamanho da pluma estocástica. Por outro lado, as<br />
concentrações observadas nos pontos de controle indicam que no inverno foram alcan-<br />
gados os melhores índices de eficiência no ESEI.
No outono, dois fatores influenciaram para a redução da área do campo de esgo-<br />
tos. A Figura 2.7 mostra que na primeira metade do trimestre havia uma estratificação<br />
acentuada em profundidades maiores quando comparadas ao verão e primavera. Na se-<br />
gunda metade do trimestre, praticamente não houve estratificação. A pluma permaneceu<br />
submersa, abaixo de 9 metros, durante boa parte do período e subitamente passou inin-<br />
termptamente a emergir. Assim, ou a pluma não frequentou a porção superior da coluna<br />
d'água, ou quando o fez, a diluição inicial era máxima. O resultado foi um campo de<br />
esgotos mais reduzido.<br />
Pode-se notar que as modelagens estocásticas foram efetuadas sem introduzir os<br />
efeitos dos ventos. Julgou-se que tal procedimento não seria necessário neste tipo de<br />
modelagem uma vez que as séries de correntes medidas já incorporaram todos os efeitos<br />
que os ventos produziram. Há que se considerar, entretanto, que no nível de medição<br />
mais próxímo da supedície, 3,5 metros, os efeitos do vento são mais reduzidos do que a<br />
superficie. O FRFIELD, entretanto, utiliza-se de velocidades de correntes promediadas<br />
ao longo de uma faixa de profundidades que se estende do limite superior até o nível<br />
inferior da pluma ou até o limite estipulado para modelagem, no caso -9,O metros. Para<br />
o caso de uma pluma atingindo a superficie, a espessura da pluma sempre é maior do<br />
que os 9,O metros (Capítulo 3). Assim, a velocidade de correntes seria promediada entre<br />
a superficie e o nível de -9,O metros. O erro na estimativa da velocidade média da cor-<br />
rente por não se considerar o efeito do vento nas camadas superiores da coluna d'água 7 ,<br />
seria bastante reduzido. Numa situação extrema, se o vento induzisse na coluna d'água<br />
acima do nível de 3,5 metros, uma corrente média 25 % maior do que a corrente média<br />
abaixo deste nível até a cota -9,O metros, o erro na estimativa da corrente promediada<br />
entre O e -9,O metros seria de 9 %. Embora o erro não seja muito grande, o ideal seria<br />
que as campanhas de medição de correntes e densidades tivessem como prioridade ga-<br />
rantir perfilagens recobrindo o máximo possível da coluna d'água.<br />
A concentração de bactérias indicadoras no esgoto bruto, ou seja a concentração<br />
inicial, é um parâmetro importante a ser discutido. A variação em uma ordem de gran-<br />
deza neste parâmetro produz um aumento significativo na área do campo de esgotos<br />
modelado. É um dos parâmetros de maior sensibilidade para o modelo.<br />
Geralmente modelado como 3% da velocidade do vento medido a 10 metros de altura.
Valores de colimetria em esgotos brutos foram consultados pelo autor em plani-<br />
lhas de monitoramento efetuadas pelo Laboratório de <strong>Engenharia</strong> do Meio Ambiente -<br />
LEMA/ UEW, Companhia Catarinense de Águas e Saneamento - CASAN e Universi-<br />
dade do Vale do Itajaí - UNIVALI. Da análise das informações pôde-se concluir que há<br />
uma variação significativa nas concentrações medidas. Os valores variaram em ordens<br />
de 106 a 1014 W100mi. Os valores de coliformes fecais registrados pela UNIVALI<br />
foram referentes a 40 amostras coletadas, entre dezembro de 1999 a julho de 2001, antes<br />
de o esgoto entrar na planta de tratamento da cidade de Balneário Camboriu. A concen-<br />
tração média calculada foi de 3,6x1013 NMP/100 ml. Coincidentemente, o monitora-<br />
mento anterior efetuado pela CASAN, também registrara concentrações de coliformes<br />
fecais tão elevadas quanto estas.<br />
Os registros da <strong>UFRJ</strong> não mostraram valores tão elevados quanto os demais. En-<br />
tretanto, comunicações pessoais do corpo técnico do laboratório evidenciaram que, em<br />
muitos casos, o objetivo das análises efetuadas pelo LEMA era, por contrato, apenas<br />
comprovar se um determinado nível de concentração era ultrapassado naquela amostra.<br />
As diluições sucessivas requeridas no método de colimetria eram interrompidas quando<br />
o referido nível era atingido. Os resultados, portanto, não traduzem a concentração efe-<br />
tiva de coliformes fecais no esgoto bruto.<br />
Tamanha disparidade entre os resultados das análises efetuadas mostra que este<br />
parâmetro, básico para a modelagem, precisa ser melhor dirnensionado. Valores subes-<br />
timados da concentração de coliformes no esgoto bruto, podem levar a resultados dis-<br />
torcídos do alcance do campo de esgotos de um emissário submarino, trazendo riscos ao<br />
contato primário.<br />
5.2.3.6 Modelagem no fundo<br />
O modelo FRFIELD permite avaliar a dispersão da pluma por faixas de profundidade.<br />
Seria do objetivo deste trabalho apresentar resultados para a dispersão em profundida-<br />
des maiores do que 9 metros. Principalmente porque a modelagem do Tg0 foi um esfor-<br />
ço voltado para este fim. Mas, como resultado deste esforço, uma outra limitação do<br />
modelo FRFIELD foi evidenciada.
Em profundidades superiores a 10 metros, o decaimento bacteriano é bastante<br />
reduzido devido as baixas luminosidade e temperatura ambiente. Esta última por vezes<br />
chegando a menos do que 15 'C na porção superior da ACAS, comumente encontrada<br />
nessas profundidades nos meses de verão e outono (Capítulo 2). Numa pluma estabili-<br />
zada abaixo da termoclina, durante o período noturno, o T90 estimado atingiu valores da<br />
ordem de 60 horas (Capítulo 4). Durante o período soturno, algumas vezes foram esti-<br />
mados T90 superiores a 20 horas para plumas na mesma situação.<br />
Embora as velocidades de corrente próximo ao fundo sejam menores do que a<br />
superfície na escala sub-inercial, devido ao tempo de inativação das bactérias, o trans-<br />
porte pode se estender a grandes distâncias a partir dos difusores. Nessa situação, o<br />
FRFIELD não é capaz de reproduzir satisfatoriamente o transporte uma vez que este<br />
não interage com a batimetria. Na região do ESEI (Figura 5.31, observa-se uma eleva-<br />
ção, partindo das Ilhas das Cagarras seguindo o sentido NNE até a costa, com profùndi-<br />
dades variando entre 10 e 20 metros. Tal feição deve assumir um papel importante na<br />
circulação próxima ao fundo. Correntes predominantes de OS0 para ENE em ambiente<br />
estratificado, após receber a descarga do ESEI, devem encontrar a barreira formada pe-<br />
las isobatimétricas acima de 20 metros do tômbolo e da praia. Mesmo que haja condi-<br />
ções da mancha passar por cima do tômbolo, esta deve sofier, a montante do mesmo,<br />
um aumento de concentração gradativo enquanto durar a condição oceanográfica.<br />
Tal situação ocorreria à cerca de 2000 metros da praia. Se consideramos os mo-<br />
vimentos verticais da termoclina causados pela propagação da onda interna (Capítulo 2),<br />
poderiam ser criadas as condições para a mancha aflorar junto a costa com uma alta<br />
concentração de bactérias indicadoras.<br />
O monitoramento efetuado pela CEDAE (CEDAE, 1996) nos pontos de amos-<br />
tragem oceânicos contemplava apenas coletas a superfície. Apenas no ponto relativo ao<br />
d'isor era efetuada coleta em três níveis. Desta forma, não é possível comprovar essa<br />
hipótese a partir de medições. Adicionalmente, informações totalizadas da concentração<br />
de coEormes medidas no ponto de amostragem do Arpoador não apontam para um au-<br />
mento signíficativo durante os meses de verão-outono. Mas, para uma avaliação precisa<br />
seria necessário cruzar séries de colimetria com séries de vento ou nível do mar medidos<br />
na costa do Rio de Janeiro, para assim identificar possíveis eventos com alta correlação.
Tal análise não foi possível uma vez que não se teve acesso as informações brutas de<br />
colimetria.<br />
Outra forma avaliar as dimensões da pluma junto ao fiindo, seria através de es-<br />
tudos quali-quantitativos da estrutura das comunidades bentônicas. Os relatórios do mo-<br />
nitoramento efetuado pela CEDAE @rito et aZ, 1996 e Brito et al., 1978) discutem a<br />
influência do ESEI apenas sobre organismos planctônicos.<br />
Há muito que avançar para a modelagem do decaimento nessas condições tam-<br />
bém. Com o aumento do tempo de exposição das bactérias em ambiente de baixa ener-<br />
gia, ou seja, aumentando-se a escala temporal do fenômeno, outros agentes favoráveis<br />
ao decaimento, que não foram considerados no cálculo do T90, poderiam tornar-se mais<br />
significativos. A sedimentação, acompanhada ou não de floculação, adsorção ou coagu-<br />
lação; a predação e a competição teriam que ser melhor avaliadas a partir da diminuição<br />
relativa da importância dos agentes principais.<br />
Como recomendação deste estudo, sugere-se a realização, no verão ou início do<br />
outono, de uma campanha oceanográfica com monitoramento de bactérias indicadoras<br />
ao longo de toda a coluna d'água nos mesmos pontos de controle que a CEDAE guarne-<br />
ce rotineiramente. Isto permitiria avaliar se há risco de exposição eventual de banhistas<br />
ao campo de esgotos do ESEI a partir da elevação da termoclina na zona costeira.<br />
5.2.4 A modelagem no campo afastado utilizando o modelo de transporte advec-<br />
tivo/difusivo de partículas.<br />
5.2.4.1 A pluma submersa<br />
Supondo-se uma pluma com 5 metros de espessura aprisionada a 20 metros de profun-<br />
didade por uma termoclina que permanece estacionada por um período maior do que 24<br />
horas durante evento com velocidades de correntes usuais seguindo de oeste para leste.<br />
Essa seria uma situação típica para ser modelada com um modelo tridimensional baro-<br />
clínico. Entretanto, conforme os perfis de corrente demonstram (Figuras 2.5 a 2.9),<br />
mesmo havendo um modo baroclínico na circulação, a componente barotrópica é a que
predomina e o modelo barotrópico pode apresentar resultados coerentes. A estratifica-<br />
ção de densidades funciona, no caso a ser modelado, apenas como uma barreira ao mo-<br />
vimento vertical da pluma e não interfere no movimento horizontal. Tal situação é hipo-<br />
tética, pois, como os perfis de temperatura e corrente também indicam, há um movimen-<br />
to vertical da termoclina resultado da propagação da onda subinercial.<br />
Deve-se, portanto, entender que esses cenários simulados fornecem apenas uma<br />
visão quali-quantitativa aproximada do campo de esgotos resultado da reprodução limi-<br />
tada da hidrodinâmica do ambiente. Como forma de garantir características realísticas, o<br />
campo de correntes modelado foi forçado a reproduzir as magnitudes dos espectros to-<br />
tais obtidos a partir das medições efetuadas na profundidade de 21 metros.<br />
----- pluma emersa<br />
pluma submersa<br />
Figura 5.11: Curvas de TgO utilizadas na modelagem da pluma nas formas emersas e<br />
submersas. O T90 foi calculado com uma insolação direta típica de solstício<br />
e, no caso de pluma submersa, espessura de 5 metros aprisionada em<br />
20 metros de profundidade com temperatura ambiente de 14°C. Na pluma<br />
emersa, a espessura considerada foi de 20 metros com temperatura de 18<br />
Oc.<br />
I<br />
I I<br />
I I<br />
t /<br />
\ /<br />
'. . J<br />
-- _-- _-<br />
I I I I<br />
5 10 15 20 25<br />
Hora do dia
A Figura 5.11 apresenta as curvas de T90 utilizadas na modelagem. O Decaimen-<br />
to bacteriano da pluma submersa foi calculado conforme a Equação 4.8 para uma ínso-<br />
lação à superfície típica de equinócio e espessura de 5 metros aprisionada em 20 metros<br />
de profundidade com temperatura ambiente de 14°C. Os valores variaram de 55,3 horas<br />
durante o período noturno a 14,2 às 13:OO horas.<br />
A Figura 5.12 apresenta o campo de correntes e a pluma de contaminação de co-<br />
liformes fecais aprisionada a 20 metros de profundidade às 08 horas da manhã num pe-<br />
ríodo em que a corrente predominante seguia o sentido leste-oeste. O cenário traduz o<br />
efeito do baixo decaimento bacteriano ocorrido durante o período noturno. A pluma de<br />
coliformes fecais estendeu-se à cerca de 15 km a partir dos diisores. Uma faíxa contí-<br />
nua de 10 km de comprimento com concentrações maiores do que 1,O x 106 NMP1100<br />
ml foi evidenciada no centro da mancha. Após esse período, a pluma começa a se desin-<br />
tegrar devido ao efeito da radiação solar. Esse efeito, entretanto, não é muito acentuado<br />
pois o TgO na profundidade é consideravelmente elevado.<br />
Figura 5.12: Campos de correntes e a pluma de contaminação de coliformes fecais do<br />
ESEI aprisionada a 20 metros de profundidade. O cenário reproduz o<br />
comportamento da pluma do ESEI no momento de sua máxima excursão<br />
para sudoeste resultado da propagação de uma oscilação com 7,2 dias;<br />
descarga diurna conforme a Figura 3.11; curva de decaimento conforme a<br />
Figura 5.11, insolação típica céu claro de equinócio e profundidade de<br />
Secchi de 10 metros; e sem vento. O horário em questão é 08 horas da<br />
manhã, antes da mancha começar a retrair por causa do efeito da insola-<br />
ção.
Pode-se observar também que, devido ao efeito da batimetria, as correntes no<br />
fundo tendem a formar um ângulo mais acentuado com a linha de diisores, favorecen-<br />
do a diluição inicial. As correntes, de uma maneira geral, tendem a afastar a pluma para<br />
mais de 5 km de distância da costa.<br />
A Figura 5.13 apresenta o campo de correntes e a pluma de contaminação de co-<br />
liformes fecais aprisionada a 20 metros de profundidade as 08 horas da manhã num pe-<br />
ríodo em que a corrente predominante seguia o sentido oeste-leste. Este quadro pouco<br />
varia ao longo do dia devido ao TgO acentuado e a proximidade entre campo de esgotos<br />
estabelecido e a linha de difusores. A pluma de coliformes fecais, praticamente confina-<br />
da entre a elevação das Cagarras e o talude da costa, estendeu-se a cerca de 2 km a par-<br />
tir dos difusores.<br />
Rio de Janeiro tí/<br />
Figura 5.1 3: Campos de correntes e a pluma de contaminação de coliformes fecais do<br />
ESEI aprisionada a 20 metros de profundidade. O cenário reproduz o<br />
comportamento da pluma do ESEI no momento de sua máxima excursão<br />
para nordeste resultado da propagação de uma oscilação com 7,2 dias;<br />
descarga diurna conforme a Figura 3.11; curva de decaimento conforme a<br />
Figura 5.11, insolação típica céu claro de equinócio e profundidade de<br />
Secchi de 10 metros; e sem vento. O horário em questão é 08 horas da<br />
manhã. A mancha não chega a retrair, mas diminui a concentração com o<br />
tempo em função da luminosidade.<br />
Um bolsão de contaminante com concentrações superiores a 1 ,O x 1 o7 NMP1100<br />
ml foi formado, por força deste confinamento, a uma distância de aproximadamente 2<br />
km da praia, confirmando as suspeitas descritas anteriormente. Se um evento oceano-
gráfico resultasse numa ascensão rápida da termoclina, esta pluma seria disponibilizada<br />
para a superfície facilitando o contato com a praia. Esses movimentos verticais da ter-<br />
mocha são acompanhados por movimentos horizontais que tenderiam a advectar a<br />
pluma em direção ao litoral.<br />
Tais situações são esporádicas e não ocorreriam durante mais 20% do tempo,<br />
portanto não desabilitariam as praias ao contato primário, segundo esse critério da Le-<br />
gislação Brasileira. Entretanto, a julgar pelas altas concentrações observadas na pluma<br />
modelada, é razoável supor que quando acontecesse, o evento produziria um aumento<br />
da concentração instantânea de bactérias indicadoras, muito maiores talvez do que o li-<br />
mite máximo estabelecido de 2.500 W 100 ml. Por esse motivo, é recomendável que<br />
tais hipóteses e suspeitas sejam alvo de investigações específkas.<br />
5.2.4.2 A pluma emersa<br />
A forma como as condições de contorno foram impostas para o modelo simular<br />
a circulação resultante da propagação da componente sub-inercial não reproduz fidedig-<br />
namente a fisica do fenômeno oceanográfico. Conforme descrito anteriormente, o<br />
modelo cria a circulação impondo um gradiente horizontal de pressão através da<br />
defasagem da componente subinercial nos pontos do contorno. O modelo usa ainda um<br />
fator multiplicador de defasagem para o modelador ajustar as magnitudes das<br />
velocidades modeladas as medidas. Quanto maior for a defasagem da onda nos pontos<br />
do contorno, maior será a velocidade devida ao gradiente horizontal de pressão, ou seja,<br />
a elevação da superfície está 90' graus defasada em relação a velocidade das partículas,<br />
o que é típico de onda estacionária. Conforme visto no capítulo 2, a oscilação sub-<br />
inercial resulta da propagação de uma onda progressiva ao longo do litoral. Os dados<br />
mostram que a velocidade horizontal permanece em fase com a elevação no caso de<br />
movimento barotrópico. O máximo de velocidade horizontal é alcançado<br />
simultaneamente a passagem da crista da onda.<br />
Independente do modelo não estar reproduzindo o fenômeno fisico correto, e<br />
mesmo se assim o fizesse, a circulação continuaria seguindo a orientação imposta pela<br />
costa e pela batimetria. Supõe-se então que, para a escala espacial e temporal do campo
de dispersão da pluma de contaminantes, os campos de correntes simulados reproduzem<br />
satisfatoriamente o padrão observado no local.<br />
Para a modelagem do TgO da pluma emersa, a espessura considerada foi de 20<br />
metros com temperatura média na coluna d'água de 18 "C. Os valores de T90 variaram<br />
de 43,6 horas durante o período noturno a 0,9 às 13:OO horas. A profiindidade de Secchi<br />
adotada na modelagem foi de 9,O metros.<br />
A Figura 5.14 apresenta uma seqüência do comportamento do campo de dispersão de<br />
coliformes fecais as 06, 09, 10 e 12 horas, respectivamente, com o campo de correntes<br />
apontando de oeste para leste. Neste cenário, o modelo foi forçado por um vento contí-<br />
nuo estacionário com velocidade de 10 m/s soprando de sul sobre todo o domínio. No<br />
início da manhã, devido ao baixo decaimento bacteriano ocorrido durante o período no-<br />
turno, ainda sobrevivem 53% dos coliformes fecais que foram lançados no início da noi-<br />
te anterior. O campo de esgotos prolongou-se por mais de 20 km durante o período a-<br />
proximando-se da região das praias oceânicas do município de Niterói. Com a presenga<br />
do Sol, e o conseqüente aumento do decaimento bacteriano, a mancha rapidamente se<br />
desintegrou, chegando a possuir dimensões da ordem de 2 km de comprimento as 12<br />
horas.
e$.+, Niid<br />
Figura 5.14: Campos de correntes e a pluma de contaminação de colifonnes fecais do<br />
ESEI a 5 metros profundidade. O cenário reproduz o comportamento da<br />
pluma do ESEI em quatro momentos consecutivos após sua máxima ex-<br />
cursão para leste resultado da propagação de uma oscilação com 7,2 di-<br />
as; descarga diurna conforme a Figura 3.11; curva de decaimento con-<br />
forme a Figura 5.1 1, insolação típica céu claro de equinócio e profundida-<br />
de de Secchi de 10 metros; vento sul constante com velocidade 10 mls;<br />
Concentração Inicial de 3,8 x 10' NMP1100 ml. Os horários em questão<br />
são a) 06 horas b) 08 horas c) 10 horas e d) 12 horas da manhã. A man-<br />
cha retrai significativamente em 6 horas em função do decaimento cau-<br />
sado pela luminosidade.
Figura 15: Campos de correntes e a pluma de contaminação de colifonnes fecais do<br />
ESEI a 05 metros de profundidade. O cenário reproduz o comportamento<br />
da pluma do ESEI no momento de sua máxima excursão para leste resul-<br />
tado da propagação de uma oscilação com 7,2 dias; descarga diurna con-<br />
forme a Figura 3.11; curva de decaimento conforme a Figura 5.1 1, insola-<br />
ção típica céu claro de equinócio e profundidade de Secchi de 10 metros;<br />
vento sul constante com velocidade 10 mls. O horário em questão é 08<br />
horas da manhã, antes da mancha começar a retrair por causa do efeito<br />
da insolação.<br />
A Figura 5.15 apresenta a pluma de bactérias coliformes às ORO0 horas numa si-<br />
tuação cujas correntes apontam de leste para oeste. A pluma estendeu-se a 25 km dos<br />
diisores do ESEI com uma largura máxima de 4 km. A pluma esteve afastada das prai-<br />
as por cerca de 2 km, não trazendo riscos ao contato primário.<br />
Os resultados da modelagem mostram que, mesmo considerando o T90 variável,<br />
as praias oceânicas do Rio de Janeiro não soffem influência do ESEI. Entretanto, esses<br />
resultados também apontam para um novo cenário de discussão para o ESEI, que até<br />
então não havia sido considerado. Poderiam as praias oceânicas de Niterói ser afetadas<br />
pela poluição lançada pelo ESEI? Os estudos anteriores não trabalharam com a hipótese<br />
de T90 elevado e variável 8 , e tinham foco de interesse na região próxima ao diisor e<br />
praias de Ipanema e Leblon. Por isso, não existem informações sobre a dispersão do<br />
campo do ESEI longitudinalmente ao litoral.<br />
O estudo de Rosman (1998) apontou para a possibilidade do Tw assumir valores altos durante o período noturno. O<br />
autor efetuou modelagens com Tw fmo de 24 horas, menores portanto do que os aqui utilizados.
Considerando que o modelo de TsO variável pode ser demasiadamente impreciso<br />
face aos inúmeros processos biológicos e fisico-químicos que iduenciam no decaimen-<br />
to bacteriano, seria prematuro inferir quantitativamente sobre a extensão da pluma do<br />
ESEI. Estes resultados, entretanto, uma vez que os sub-modelos que compõem o mode-<br />
lo de TgO são fundamentados em bases fisiológicas consistentes, servem para indicar no-<br />
vas estratégias de monitoramento. Recomenda-se que campanhas de mensuração de<br />
concentração de bactérias indicadoras sejam efetuadas ao longo do campo de esgotos do<br />
ESEI durante o período noturno e início da manhã para se conhecer o comportamento<br />
da pluma.<br />
Outro fator a ser evidenciado é o efeito simultâneo cumulativo dos diversos e-<br />
missários existentes ou projetados para a costa do Rio de Janeiro. As plumas dos emis-<br />
sários da Barra da Tijuca e o de Alegria, ainda para serem construídos, e o de Icaraí, po-<br />
deriam, a princípio, face ao decaimento bacteriano reduzido no período noturno, terem<br />
suas manchas fundidas eventualmente com a do ESEI. Seria interessante avaliar essa<br />
possibilidade e quantificar seu efeito cumulativo.<br />
O campo afastado da pluma de esgotos do ESEI foi avaliado com base num mo-<br />
delo estocástico de fiequência de visitação, que utiliza séries de velocidade de correntes<br />
medidas, e por um modelo advectivo/difusivo de transporte de partículas, que utiliza o<br />
campo de correntes de um modelo hidrodiiâmico 3D barotrópico. Em ambos os mode-<br />
los, o decaimento bacteriano foi considerado como sendo variável em função da hora do<br />
dia e das características geométricas da pluma.<br />
Uma técnica para aumentar a eficiência da aproximação do campo de correntes<br />
utilizado na modelagem estocástica foi empregada. O campo de correntes era estimado<br />
aplicando-se funções de transferência aos vetores do ponto onde a corrente foi medida.<br />
Essas funções de transferência foram elaboradas a partir dos espectros rotatórios de sé-<br />
ries de corrente estimadas com o modelo hidrodinâmico para pontos de controle situa-<br />
dos em pontos estratégicos compatíveis com a dimensão da pluma.
O resultados da modelagem estocástica mostraram que o critério coliforme fecal<br />
é significativamente mais restritivo do que os critérios enterococos e Escherichia cozi<br />
para avaliar a segurança ao contato primário, a partir do lançamento de esgotos por e-<br />
missários submarinos. As concentrações desses organismos no esgoto bruto, citadas na<br />
literatura e amplamente adotadas em estudos de dispersão de emissários submarinos,<br />
foram questionadas a partir da constatação de que em algumas localidades estas podem<br />
ser muitas ordens de grandeza superiores. Tal informação é, talvez, a mais importante<br />
para a modelagem. A variação em uma ordem de grandeza deste parâmetro é capaz de<br />
aumentar sobremaneira as dimensões da pluma modelada e, assim, chegar a conclusões<br />
distintas sobre a eficiência de um sistema de disposição oceânica. Sugere-se que estu-<br />
dos específicos sejam efetuados com esse propósito, procurando, se possível, avaliar<br />
flutuações sazonais e diurnas na concentração de organismos indicadores.<br />
Considerando os cenários modelados, o campo de esgotos atende aos padrões es-<br />
tabelecidos pela Legislação Brasileira na linha de 300 metros da costa. Eventualmente,<br />
entretanto, segundo o modelo estocástico, a mancha pode alcançar a costa com concen-<br />
trações instantâneas maiores do que o máximo permitido. Mesmo aplicando as funções<br />
de transferência, o modelo ainda apresenta uma considerável imprecisão nas estimativas<br />
de concentrações junto a costa, muito embora, a imprecisão neste caso tenda a aumentar<br />
a segurança ao contato primário, uma vez que são utilizadas velocidades de corrente su-<br />
perestimadas.<br />
Com o modelo advectivoldifusivo de transporte de partículas, foi possível avali-<br />
ar instantaneamente a posição do campo de esgotos. Os cenários reproduzidos permiti-<br />
ram evidenciar características importantes, até então, nunca relatadas.<br />
Em condição de coluna d'água homogênea, por causa do Tso elevado dos perío-<br />
dos noturnos, o modelo mostrou que campo de esgotos pode estender-se ao litoral de<br />
Niterói com concentrações elevadas no início da manhã. Certamente, a modelagem do<br />
T90 continua imprecisa uma vez que só incorpora três de muitos outros agentes que fa-<br />
vorecem o decaimento bacteriano. Por isso, não se pode afírmar conclusivamente que<br />
as praias daquela cidade sejam atingidas pela pluma do ESEI. Entretanto, tal hipótese<br />
deve ser avaliada com campanhas de investigação e monitoramento especificamente<br />
projetadas para este fim.
Outra situagão que deveria ser considerada é o aprisionamento que a pluma sofke<br />
no tômbolo das Cagarras quando a coluna d'água permanece estratificada. Nesta situa-<br />
ção, o modelo indicou concentrações superiores a 107 NR/IP/lOOml. Campanhas ocea-<br />
nográticas deveriam ser programadas especificamente para avaliar a dinâmica vertical<br />
da pluma na região de influência do tômbolo e os possíveis deslocamentos convergentes<br />
a costa associados.
CAP~TULO 6: CONCLUSOES GERAIS E RECOMENDAÇÓES<br />
A estrutura oceanográfica do litoral da cidade do Rio de Janeiro foi avaliada com base<br />
em informações de campo obtidas ao longo do ano de 1997 nas proximidades dos difu-<br />
sores do Emissário Submarino de Esgotos de Ipanema.<br />
As correntes seguiram um padrão elíptico anti-horário similar a propagação de<br />
uma onda de plataforma continental junto a costa. Os gradientes de temperatura mais<br />
acentuados no verão e outono produziram ondas internas com amplitudes menores do<br />
que as que foram geradas no inverno, quando os gradientes são menores.<br />
As correntes próximas a superfície dirigiram-se predominantemente para NE-<br />
ENE e OSO-O. A média de velocidades foi inferior a 20 cmís enquanto as máximas al-<br />
cançaram 75 cmís. Próximo ao fundo, as correntes dirigiram-se predominantemente pa-<br />
ra NE-ENE e N-NNE. As velocidades médias foram menores do que 15 cmís e as má-<br />
ximas alcançaram 38,O cds.<br />
Os períodos de oscilação sub-inerciais foram os mais sigmfícativos observados<br />
no litoral carioca. Os vetores de corrente giram elipticamente no sentido anti-horário<br />
com alta estabilidade. A direção principal da elipse seguiu em geral a orientação das<br />
isobatimétricas. No fundo, observam-se os mesmos períodos sub-inerciais da superkie<br />
porém com energia muito reduzida. O pico de maré semidiurna, no entanto, não sofie<br />
redução de amplitude com a profùndidade e passa a dominar o espectro próximo ao<br />
fundo.<br />
Observou-se que os períodos de oscilação variam sigdicativamente ao longo do<br />
ano. O pico predominante no espectro anual, 5,2 dias, ocorreu entre o final de agosto e<br />
meados de novembro; o de 7,2 dias ocorreu entre fevereiro e maio; e o de 16,7 dias o-<br />
correu de meados de fevereiro ao início de outubro. Este Úítimo pico apresentou-se de<br />
forma mais estacionária durante o período de observação.<br />
Observou-se que ventos e correntes são coerentes na costa do Rio de Janeiro.<br />
Entretanto, pode haver períodos de tempo em que a concordância não é simultânea. Um<br />
abalo meteorológico produzido ao sul, geraria uma onda que se propagaria rumo ao lito-
al carioca, lá chegando antes da fkente propriamente dita. Foram observadas diferenças<br />
de fase variando entre 2,8 e 8 horas.<br />
Utilizando-se de séries temporais de perfis de correntes marinhas e densidade da<br />
água, e da descarga estimada do ESEI, para todo o ano de 1997, os parâmetros de cam-<br />
po próximo da pluma de esgotos foram estimados utilizando-se o modelo matemático<br />
NRFIELD (Roberts, 1999). Acredita-se que o modelo, que fora satisfatoriamente con-<br />
frontado com experimentos de campo realizados pela COPPE em 1996 e 1997 (Carva-<br />
lho et al., 2002), tenha apresentado uma radiogrda estatística fiel do comportamento da<br />
pluma do ESEI, permitindo, assim, avaliar-se a variabilidade temporal de suas caracte-<br />
rísticas e suas correlações com as condições oceanográficas que nelas influenciam.<br />
A descarga do ESEI variou entre 1,06 e 7,98 m 3 /s com média em 5,49 m 3 /s no<br />
período observado. Nos meses de inverno, as descargas são menores do que nos de ve-<br />
rão devido a menor demanda por água característica dessa época do ano. Os horários de<br />
pico ocorrem por volta das 11:OO da manhã quando as descargas chegam ser 20% supe-<br />
riores a do horário de menor demanda, que ocorre por volta das 5:00 horas.<br />
A diluição inicial é máxima quando a coluna d'água encontra-se homogênea ou<br />
muito pouco estratiikada e as correntes são relativamente altas. Na situação oposta, a<br />
diluição inicial é mínima quando a coluna d'água encontra-se bastante estratifkada e as<br />
correntes são baixas. Essas situações ocorreram intercalando-se praticamente o ano in-<br />
teiro. No inverno, porém, a descarga menor do ESEI, associada à coluna d'água por<br />
mais tempo homogênea, favorece o aumento da diluição inicial.<br />
Uma adaptação nos modelos de decaimento bacteriano de Chamberlim & Mit-<br />
chell (1978) e Mancini (1978) foi apresentada permitindo assimilar características ge-<br />
ométricas de plumas de emissários submarinos obtidas a partir de um modelo de campo<br />
próximo. O modelo foi aplicado para a pluma do Emissário Submarino de Esgotos de<br />
Ipanema ao longo de todo o ano de 1997.<br />
Os resultados de T ~o variaram de 0,48 a 60,30 horas com média de 26,39 horas.<br />
A primeira moda encontrou-se no intervalo entre O e 2 horas e a segunda entre 36 e 38<br />
horas, características de período diurno e noturno respectivamente.
O modelo mostrou-se eficiente para modelar o efeito de plumas submersas pela<br />
estratiíicação de densidades desde que informações de radiação solar na superfície da<br />
água, coeficiente de extinção vertical da luz, correntes marinhas, estratiíicação de den-<br />
sidades (saiinidade e temperatura) e descarga do efluente sejam monitorados simultane-<br />
amente.<br />
A eficiência do modelo proposto pode ser maior se informações de radiação so-<br />
lar à superfície do mar forem obtidas próximo ao local de lançamento. Estudos relati-<br />
vos a penetração da luz no ambiente marinho, padrões médios e variabilidades, também<br />
seriam importantes para diminuir os níveis de incerteza dos parâmetros do modelo. Su-<br />
gere-se que tais parâmetros sejam incluídos nos termos de referência dos processos de<br />
licenciamento ambienta1 de emissários submarinos.<br />
O campo afastado da pluma de esgotos do ESEI foi avaliado com base num mo-<br />
delo estocástico de freqüência de visitação, que utiliza séries de velocidade de correntes<br />
medidas, e por um modelo advectivo/difùsivo de transporte de partículas, que utiliza o<br />
campo de correntes de um modelo hidrodinâmico 3D barotrópico. Em ambos os mode-<br />
los, o decaimento bacteriano foi considerado como sendo variável em hnção da hora do<br />
dia e das características geométricas da pluma.<br />
Uma técnica para aumentar a eficiência da aproximação do campo de correntes<br />
utilizado na modelagem estocástica foi empregada. O campo de correntes era estimado<br />
aplicando-se fimções de transferência aos vetores do ponto onde a corrente foi medida.<br />
Essas funções de transferência foram elaboradas a partir dos espectros rotatórios de sé-<br />
ries de corrente estimadas com o modelo hidrodinâmico para pontos de controle situa-<br />
dos em pontos estratégicos compatíveis com a dimensão da pluma.<br />
O resultados da modelagem estocástica mostraram que o critério coliforme fecal<br />
é significativamente mais restritivo do que os critérios enterococos e Escherichia cozi<br />
para avaliar a segurança ao contato primário, a partir do lançamento de esgotos por e-<br />
missários submarinos. As concentrações desses organismos no esgoto bruto, citadas na<br />
literatura e amplamente adotadas em estudos de dispersão de emissários submarinos,<br />
foram questionadas a partir da canstatação de que em algumas localidades estas podem<br />
ser muitas ordens de grandeza superiores. Tal informação é, talvez, a mais importante<br />
para a modelagem. A variação em uma ordem de grandeza deste parâmetro é capaz de
aumentar sobremaneira as dimensões da pluma modelada e, assim, chegar a conclusões<br />
distintas sobre a eficiência de um sistema de disposição oceânica. Sugere-se que estu-<br />
dos específicos sejam efetuados com esse propósito, procurando, se possível, avaliar<br />
flutuações sazonais e diurnas na concentração de organismos indicadores.<br />
Considerando os cenários modelados, o campo de esgotos atende aos padrões es-<br />
tabelecidos pela Legislação Brasileira na linha de 300 metros da costa. Eventualmente,<br />
entretanto, segundo o modelo estocástico, a mancha pode alcançar a costa com concen-<br />
trações instantâneas maiores do que o máximo permitido. Mesmo aplicando as funções<br />
de transferência, o modelo ainda apresenta uma considerável imprecisão nas estimativas<br />
de concentrações junto a costa, muito embora, a imprecisão neste caso tenda a aumentar<br />
a seguranga ao contato primário, uma vez que são utilizadas velocidades de corrente su-<br />
perestimadas.<br />
Com o modelo advectivo/difusivo de transporte de partículas, foi possível avali-<br />
ar instantaneamente a posição do campo de esgotos. Os cenários reproduzidos permiti-<br />
ram evidenciar características importantes, até então, nunca relatadas.<br />
Em condição de coluna d'água homogênea, por causa do T90 elevado dos perío-<br />
dos noturnos, o modelo mostrou que campo de esgotos pode estender-se ao litoral de<br />
Nterói com concentrações elevadas no início da manhã. Certamente, a modelagem do<br />
Tgo continua imprecisa uma vez que só incorpora três de muitos outros agentes que fa-<br />
vorecem o decaimento bacteriano. Por isso, não se pode afirmar conclusivamente que<br />
as praias daquela cidade sejam atingidas pela pluma do ESEI. Entretanto, tal hipótese<br />
deve ser avaliada com campanhas de investigação e monitoramento especificamente<br />
projetadas para este h.<br />
Outra situação que deveria ser considerada é o aprisionamento que a pluma sofi-e<br />
no tômbolo das Cagarras quando a coluna d'água permanece estratificada. Nesta situa-<br />
@o, o modelo indicou concentrações superiores a 107 NMP/100ml. Campanhas ocea-<br />
nográficas deveriam ser programadas especificamente para avaliar a dinâmica vertical<br />
da pluma na região de infíuência do tômbolo e os possíveis deslocamentos convergentes<br />
a costa associados.
Uma vez que a modelagem de T90 variável identificou possíveis deslocamentos<br />
acentuados de bactérias indicadoras, é razoável especular sobre como a pluma do ESEI<br />
interage ou irá interagir com os demais emissários já construídos ou em vias de constru-<br />
ção. Sugere-se que novos estudos, de campo e modelagem, sejam efetuados conside-<br />
rando conjuntamente as descargas do Emissário de Icaraí, já construído, e os de Alegria<br />
e Barra da Tijuca.<br />
Revisões na legislação poderiam ser propostas de forma a aumentar a parcela de<br />
responsabilidade do empreendedor sobre a garantia ao contato primário. Na forma atu-<br />
al, cabe ao usuário da praia o ônus ambiental, caracterizado pela privagão ao banho de<br />
mar, e cabe aos Governos arcar com os custos para avaliar a balneabilidade dos locais a<br />
serem protegídos. Assim como em outras legislações, deveria haver limites espaciais<br />
para que dentro dos mesmos os critérios de qualidade sejam plenamente atingidos.<br />
O empreendedor poderia ser também responsável por monitorar a trajetória e<br />
concentração de seus efluentes implantando sistemas de Oceanografia Operacional vi-<br />
sando previsão e alerta com medição e modelagem de parâmetros oceanográficos. Des-<br />
ta forma, as respostas seriam mais rápidas e os recursos públicos poderiam ser aplicados<br />
de forma direcionada para quando houvesse real necessidade de monitoramento.
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ANEXO I<br />
Publicação no Journal of Hydraulic Engineering complementar ao tema da tese.
servations of Ipanerna Beach<br />
João L. B. ~awalho'; Philip J. W. Roberts2; and João Roldão 3<br />
Abstract: Field observations of the Ipanenia Beach, Rio de Janeiro, Brazil, ocean sewage outfali were obtained by adding dye tracers<br />
to the effluent and sUuultaneously nieasurjng oceanographic conditions. Four experiments were perfornied, two duriug unstratified<br />
co11ditions, and two durjng síratified coiiditioils. When strati£ied, the plunie was trapped below the tiiennocline with low diiution, around<br />
35 to 1, when unstratified, the plunie surfaced and ale dilution increased to more than 100 to 1. The results were coiiipared with<br />
predictions of some con1moidy used near field plume niatliematical models: UM3, RSB, and CORMIX. With suitable assuniptions, all tlie<br />
inodels reasonably predict near field dilution. RSB predicts iiear field results directly; for UM3 and CORME, it was assumed that the eiid<br />
of the near field occurs when the plunie reaches its teimiiial rise height or impacts the free surface. Dífferent assutnptions about the sliape<br />
of tiie density profiles in CORMIX resulted iii widely difíering predictions of dilution. While the gross properties of the plume can be<br />
reasonably predicted by plume models, there rema& many aspects which cannot be, particularly the patcliy ilature of the wastefield that<br />
has been observed here and in other field tests.<br />
DOI: lO.lOGl/(ASCE)O733-9429(2002)128:2(15 1)<br />
C€ Database keywords: Dilution; Outfali sewers; Brazil; Beaches; and Wastewater.<br />
Introduction<br />
Outfalls are designed to use the natural assidative capacity of<br />
the oceans to dispose of wastewaters with miiiinlal enviroinnental<br />
impact. Tlus is accoinplished by proniotiug vigorous initial inix-<br />
ing tiiat is followed by efficient turbulent oceanic dispersion due<br />
to spatially and tempoi-ally varying currents. Tliese physical pro-<br />
cesses, combined witii bacterial mortality, result in rapid reduc-<br />
tions in the coiicentratioiis of toxic containinants and bacteiia<br />
contained in the wastewater to near background levels. Environ-<br />
mental irnpacts of the discharge are therefore usually sinaii and<br />
are restricted to a liuiited area around the outfaii. Impacts on<br />
surface waters can be reduced to near zero by oceanic density<br />
straecation that results in trapping of the wastewater plume<br />
below the ocean surface.<br />
The wastewater is mixed by processes that occur over a wide<br />
range of length and time scales. Initial mixing occurs with about<br />
100 m and within a few minutes after release from the diffuser.<br />
The region in whicli this occurs is called the near field. It is<br />
chatacterized by inteue inung due to turbulence generated by<br />
the buoyaiicy and momentum of the discharge. F'rocesses iii the<br />
near field include inixing in the free pluine, impingement on the<br />
water surface, and horizontal spreading and furtlier nixing be-<br />
yond the plume's terniiilal iise height. The near field ends where<br />
'Professor, Physical Oceanography Laboratory, Univ. of Vale do Itajai,<br />
P.O. Box 360, Itajai, Brazil88.302-202.<br />
2~rofessor, <strong>Sc</strong>hool of Civil and Environtnental Engineering, Georgia<br />
instihtte of Tecluiology, Atlanta, GA 30332-0335.<br />
3~rofessor, COPPFAJFRJ-Federal Univ. of Rio de Janeiro, Cidade<br />
Univ., CT-bl I. Rio de Janeiro, Brazil, 21945 970.<br />
Note. Discussion open until July 1, 2002. Separate discussions rnust<br />
be submitted for individual papers. To extend the ciosing date by one<br />
rnonth, a wvritten request iniist be filed with the ASCE Mamging Editor.<br />
The inanuscript for túis paper was submitted for review and possible<br />
p~~blication on August 16,2000; approved on July 18,2001. This paper is<br />
part of the Joitrnul of Hydruulic Engineering, Vol. 128, No. 2, February<br />
1, 2002. OASCE, ISSN 0733-94291'200212-151-160/$8.00+$.50 per<br />
page.<br />
the discharge-generated turbulence collapses under the infiuence<br />
of buoyancy forces. For a layer spreadiiig just beneatli the water<br />
surface this coiiapse is due to the development of a stable density<br />
profile within the layer itself. For a layer trapped below the water<br />
surface by ambient density straiification, the collapse is due to the<br />
stabíiity of the ambient density profile. Iu either case, mkg iii<br />
tiie spreaduig layer can be substantial, with increases in dilutioii<br />
of up to a factos of three or so beyond that o11 the pluiiie ceiiter-<br />
lhe at the terminal iise height (Daviero 1998; see also Roberts<br />
et al. 1997). Beyond the near field the wastefield driíts with the<br />
ocean cwent and is diffused by oceaiiic turbulence in a regioii<br />
cailed tlie far field. The rate of mixiug in the far field is niucli<br />
slower than in the iiear field. If loiig-tem high quality oceano-<br />
grapliic measurements of current and density proHes are avail-<br />
able, the fw-field extent of the dispersion patterns can be pre-<br />
dicted by statistical approaches (Roberts 1999).<br />
Many niathematical models have been developed to predict<br />
tiie near field behavior of plurnes under steady-state coiiditions.<br />
The reiiabiiity of these models can be evaluated, and knowledge<br />
of nwciiig under real oceanic conditiom can be furthered, by in<br />
situ measurements of wastefield behavior. Because of the difficul-<br />
ties in conducting experiments of this type, liowever, iiicludiig<br />
Iugh costs, variability of discharge flowrate, cun-ents, and síratifi-<br />
cation, and the large areal extent to be nloiutored, reliable field<br />
nieasurenients of coastal outfaii plumes are rare. TlCs is particu-<br />
larly mie for subinerged plun~es. Examples of studies in which<br />
dilution have been measured are Faisst et al. (1990), Roberts and<br />
Wilson (1990), Davison et ai. (1993), WU et ai. (1994), and Pe-<br />
trenko et al. (1998). Iu these studies, dilution was measured eitlier<br />
directly by added tracers such as fluorescent dye or radioisotopes,<br />
or indirectly by observing salinity variatiom.<br />
The objective of this paper is to present and analyze the results<br />
of field observations of the Ipanema Beach ocean outfaii. The<br />
dilution and 0th wastefield characteristics were obtained by<br />
addíng tracer dye to the effluent and measuring in situ. Siinulta-<br />
neous measurements of oceanographic conditions were made by<br />
current meteis, therniistor striugs, and pro~g instniments. Four<br />
experiments were perfomed, two during stroiigly stratined con-<br />
JOURNAL OF HYDRAULIC ENGINEERING I FEBRUARY 2002 1 151
N<br />
Rio de Janeiro<br />
1 ; ~~ecbomagneticmmeniieter<br />
A Pumping stations and dye Injection<br />
Sample poinls<br />
Profiling points<br />
, - .~ m<br />
Fig. 1. Map of Ipanema Beach outfall, tracer injection, and current<br />
measurement points<br />
ditions, and two during unstratified conditions. The quality of the<br />
dilution measurements is high due to good control of tracer con-<br />
centrations and effluent flowrates during the periods of study. We<br />
also compare the results with predictions of commonly used<br />
mathematical models of near field mixing. Only brief surnrnaries<br />
of the extensive results are given here; for detailed data iistings<br />
and plots of the horizontal and vertical tracer concentration pro-<br />
ílles, see COPPETEC (1996, 1997).<br />
Study Site<br />
The study site is shown in Fig. 1. The Ipanema Beach outfall has<br />
bem in operation siiice 1975; it presently discharges about 6.0<br />
m 3 /s of domestic wastewater fiam the southern zone of Rio de<br />
Janeiro, whose population is more than 2.1 million. It was de-<br />
signed to serve a maximum of 4.0 miilion users discliarging up to<br />
8.0 m 3 /s average and 12.0 m3/s peak flows (Britto et al. 1986).<br />
The outfail receives flows from two pumping stations, at Ipanema<br />
Beach and Copacabana Beach, labeled PS1 and PS2 in Fig. 1. At<br />
present, the wastewater receives only come screening prior to<br />
discharge. The outfall is oriented NNE-SSW (also the direction of<br />
the greatest winter waves), whüe the difiüser is oriented E-W. The<br />
outfall, made of concrete pipe, is 4326 m long, 2.4 m diameter.<br />
The last 449 m is the diffuser, consisting of 90 ports on each side,<br />
nominaily 170 mm diameter, spaced five meters apart (59 of the<br />
180 ports were not working during the first and second cam-<br />
paigns). The di&ser discharges at a depth of about 27 m; it is<br />
unusual in that it is raised above the seabed on piles and the ports<br />
discharge downwards at an angle of 45" below the horizontal axis<br />
(Fig. 2).<br />
Experimental Methods<br />
Dye Tracem<br />
The possibility of detecting fluorescent dye tracers at very low<br />
concentrations makes its adoption very attractive for investigation<br />
152 1 JOURNAL OF HYDRAULIC ENGINEERING I FEBRUARY 2002<br />
Piling<br />
-LI<br />
Fig. 2. Sketch of difhser<br />
of high dilution effluents such as expected here. Although fluo-<br />
rescent dye tracers can decay in the presence of free chlorine, for<br />
unchlorinated effluents, such as Iiere, this decay is not significant.<br />
The main tracer used was the fluorescent dye Amide-rhodamine G<br />
Extra (Acid Red 50, color index 45220) also known as Orcoacid<br />
Sulpho Rhodamhe G@. This dye is known to be insensitive to<br />
iight decay, organic particulate adsorption, temperature, and pH<br />
variation. To íürther reduce uncertainties due to these factors, a<br />
second tracer was also used. This was Uranine (Acid Yellow 73,<br />
color index 45350) also known as Fluorescein Sodium. This dye<br />
is known to be sensitive to light decay, but the light exposure<br />
from the time of injection until detection was short enough to<br />
avoid any si,pificant decay. The measurements of Amide-<br />
rhodamine G Extra were used for the quantitative results reported<br />
here.<br />
Four campaigns were performed. The íirst and second cam-<br />
paigns were on March 20 and 22, 1996, during unstratified con-<br />
ditions when the plume was surfacing, and the third and fourth<br />
campaigns were on October 13, 1996, and September 25, 1997,<br />
during strongly stratiíied conditions when the plume was sub-<br />
merged.<br />
Injecfion Mefhod<br />
The dilution, S, in the outfall plume is computed fi-om<br />
where C,=tracer concentration inside the outfail and C<br />
=measured tracer concentration in the sea. The tracer was in-<br />
jected simultaneously at the two pump stations PSl and PS2 (Fig.<br />
I) by peristaltic pumps and the flowrate was measured volumetri-<br />
cally. Simultaneously, the sewage discharges in the pipes A and B<br />
were maintained approximately constant. The tracer injections are<br />
sumrnarized in Table 1. The injections lasted for about 6 h, and, to<br />
allow for the transit time through the outfail estimated as 1.5 h,<br />
the field measurements began two hours later. The tracer mass<br />
flowrates were chosen to provide an average tracer concentration<br />
in the outfall of about 300 ppb, yielding a maxirnum measurable<br />
dilution of around 6,000 for the minimum detection limit of 0.05<br />
PP~.<br />
To confirm the tracer concentration in each pipe (C, and CB)<br />
and to measure the wastewater flowrates (QA and QB) and their<br />
variability in each pipe, samples were coilected at regular inter-<br />
vals from manholes in pipes A and B just before the two flows
Table 1. Details of Tracer Injections<br />
Tracer<br />
Uranine<br />
Amidorod.<br />
C Exm<br />
Injection flowrate Mass. Conc. Mass Com.<br />
Campaign Date site Start Finish (mVmin) (kg) (PP~) (kd (PP~)<br />
First March 20, 1996 PS 1<br />
PS2<br />
Second March 22, 1996 PS 1<br />
PS2<br />
Third October 13, 1996 PSl<br />
PS2<br />
Fourth September 25, 1997 PS 1<br />
PS2<br />
blend into the outfall. This allows for checks on the tracer con-<br />
centrations and the wastewater flowrates and their variability. The<br />
flowrate in each pipe was determined from a mass balance for the<br />
tracer:<br />
and the combined flowrate Qo in the outfall from<br />
where q,,, and c,,, = flowrates and concentrations of the injected<br />
tracer, respectively. The dilution measurement requires the flows<br />
be constant! the tracer to be conservative and completely mixed<br />
with the efluent, and the mass injection rates of the tracer to be<br />
constant. The tracer concentration in the outfall pipe was com-<br />
puted by mass balance<br />
Field Sampling Technique<br />
Two boats were used for in situ tracer detection for a11 campaigns.<br />
The &st one (Fig. 3) conducted horizontal traverses, sampling at<br />
Digital radlo<br />
antenna (\DCPS)<br />
bber hose for contiouous<br />
pumping of samples<br />
\<br />
Ballast (100 kg)<br />
Centrifugal pump<br />
Sample coilecting bottles<br />
\ /'<br />
Rubber hose for continuous<br />
pumping of samples<br />
constant depths. It was equipped with a differential global posi-<br />
tioning system (DGPS), and either two or tluee sample collectors<br />
at diffaent depths. Each collector was comected to a centrifugal<br />
pump that pumped seawater through a rubber hose to a portable<br />
fluorometer uma-10~). Data were recorded on a data logger,<br />
graphic recorder, and a notebook computer. The sample depths<br />
were measured by a pressure sensor on the ballast weight. In<br />
addition, seawater samples of 60 rnL each were collected at 15 s<br />
intervals. The samples were properly stored in order to perform<br />
precise analyses later on a spectro-fluorometer (Jobin Yvon<br />
JY-3E) in the laboratory. Arnide-rhodarnine concentrations ob-<br />
tained by the portable fluorometer were used for tracking the<br />
plurne in real time and guiding the second boat to locations at<br />
which to conduct vertical proíiiing. The second boat collected<br />
seawater samples at various depths by purnping devices and mea-<br />
sured physicochemical parameters, including temperature, salin-<br />
ity, DO, pH and turbidity, at one meter intervals with a profding<br />
Horiba U-10' water quality analyzer.<br />
Oceanographic Instrumentation<br />
Simultaneously with the field tests, measurements of currents<br />
were obtained near the diffuser. For the &st and second cam-<br />
paigns, a mooring with four electromagnetic current metas (Con-<br />
Depth<br />
m,cter ~ ~ ,Digital ~ radio ò i ~<br />
Fig. 3. Field sampling method and tracer detection apparatus<br />
logw computer<br />
JOURNAL OF HYDRAULIC ENGINEERING I FEBRUARY 2002 1153<br />
183
Fig. 4. Stick plots of currents measured by electromagnetic current<br />
meters durinp. first and second campai~s<br />
sub ~ 0~20009 instaiied at 7, 13, 19, and 24 m depth was operating<br />
March 18-27, 1996 (Fig. I). For the third and the fourth<br />
campaigns, from October 10 to November 1 1996 and from November<br />
29, 1996 to January 15, 1998, an Acoustic Doppler Current<br />
Profiier (ADCP) RDI sentinele 300-kHz broadband was operated<br />
at the offshore extremity of the difiser (Fig. 1). It was set<br />
to record current speed and direction at half-hour intervals from<br />
3.5 to 21 m depth in bins spaced 2.5 m apart. During the fourth<br />
campaign, an Aanderaa TR-7" thermistor string was installed at<br />
the same point to measure temperature every half-hour at 2.0 m<br />
intervals from depths of 7.7 to 27.7 m.<br />
Results<br />
Campaígns I and 2: Sfratified Condifions<br />
The fust and second campaigns on March 20 and 22, 1996 were<br />
designed to show the behavior of the plume during spring ebb and<br />
flood tides under stratiíied conditions. The predicted low tide for<br />
the first campaign occurred at 09:38 and the subsequent Iugh tide<br />
at 15:24. For the second campaign the high tide occurred at 03:58<br />
and the low tide at 10:58. The tidal ranges were 0.7 and 0.6 m,<br />
respectively. During these campaigns, the average outfall dis-<br />
charge, determined by Eqs. (2) and (3), was 6.2 and 6.0 m3/s,<br />
respectively. The flow variation during the kst carnpaign was<br />
about 10%. During the second campaign it was not possible to<br />
maintain the discharge constant; after 07:00 the discharge in-<br />
creased gradually fiom 6.0 to a peak of 7.4 m3/s at 08:25.<br />
Stick plots of the measured currents are shown in Fig. 4. (Note<br />
that the axis is rotated for clarity.) The currents below the ther-<br />
mocline were weak during these penods with speeds around 7.0<br />
cds. The predominant current directions were to the south and<br />
southeast.<br />
Some vertical proí2ing results are shown in Fig. 5. The water<br />
column was strongly stratified on both days. The temperature dif-<br />
ference between the bottom and tlie surface was about 12"C, with<br />
most of the difference occurring in a sharp thermocline that ex-<br />
tended from 14 to 20 m deep for the first campaign and 11 to 18<br />
m deep for the second one. The density differences over the water<br />
column were 4.5 and 5.0 a, (a o, unit is a density difference of 1<br />
gímL or 1 kg/m3), respectively. The tracer profiies show that the<br />
plume was trapped below the thennocline. The maximurn concen-<br />
154 1 JOURNAL OF HYDRAULIC ENGINEERING I FEBRUARY 2002<br />
Saliniiy (PSU)<br />
15 20 25<br />
Temperature CC), Denslty (slgma-t<br />
üye wncenirah (ppb)<br />
a) First campaign (20 Maffih 19%)<br />
Fig. 5. Temperature, salinity, density, and tracer profiíes at points P1<br />
and P2 durinp. first and second campaigns<br />
trations measured at these locations were 5.0 and 3.7 ppb, corre-<br />
sponding to diiutions of 59 and 48, respectively. The wastefield<br />
thickness was about 5 m for tlie first campaign, and about 13 m<br />
for the second can~paign.<br />
Figs. 6 and 7 show contour plots of the dilution measured by<br />
the horizontal traverses at 17 and 21 m depth during the h t<br />
campaign and at 17, 19, and 21 m depth during the second cam-<br />
paign. The plumes had roughly similar patterns on both days.<br />
They spread below the thermocline mostly southward with a<br />
northerly inhusion; the net resultant movement was to the south,<br />
or offshore. The directions do not quite agree with the measured<br />
currents. Tlus discrepancy is believed to be due to the inability of<br />
Fig. 6. Contour plots of dilution at 17 and 21 m depth during first<br />
campaign
Fig. 7. Contour plots of dilution at 17, 19, and 21 m depth during<br />
second camuaim<br />
the electromagnetic current meters to reliably measure weak cur-<br />
rents. Fig. 6 shows how difficult it is to measure in situ plume<br />
characteristics. Two different plumes are seen, both going to the<br />
southeast but with the upper one displaced about 500 m to the<br />
North. This may be caused by vertical variation of current direc-<br />
tion over the strati6ed water colum, or by temporal variations of<br />
current speed and direction. The contour plot is not truly synoptic;<br />
the samples were taken at different times over a time-varying<br />
plume. As tlie time required for each traverse varied from 4.5 to<br />
33 min and the campaigns lasted up to four hours, variations in<br />
plume shape could occur over the duration of the field measure-<br />
ments.<br />
Campaigns 3 and 4: Unsfrafified Conditions<br />
Tlie third and fourth campaigns on October 13, 1996 and Septem-<br />
ber 25, 1997 were designed to investigate the behavior of the<br />
plume during nonstratified conditions. For the third campaign the<br />
predicted low tide occurred at 10:21 and the subsequent high tide<br />
at 15:15. During the fourth campaign, the high tide was at 12:26<br />
and the low tide at 17: 11. The tidal ranges at these periods were<br />
0.9 and 0.6 m, respectively. During the third and the fourth cam-<br />
paigns, the average outfall discharges were 4.8 and 5.7 m 3 /s, re-<br />
spectively. For the third campaign, tlie discharge was essentially<br />
constant for the whole period, varying by less than 8%. During<br />
the fourth campaign, it was not possible to maintain the discharge<br />
constant; afier 11 :00, the discharge decreased from about 6.5 m 3 /s<br />
to a constant level around 5.0 m3/s.<br />
Stick plots of the currents measured by tlie ADCP are shown in<br />
Figs. 8 and 9. (Note that tlie axis is rotated for clarity.) The cur-<br />
rents during these campaigns were again weak. The average cur-<br />
rent velocity and direction for the third campaign was 7.0 cmís<br />
and 60" over the whole colurnn, except for tlie uppermost level.<br />
The measurements at this level were considered unreliable due to<br />
surface effects. Dunng the fourth campaign, the measured aver-<br />
age current direction was 270".<br />
Some vertical profiling results are shown in Fig. 10. The water<br />
colurnn was completely homogeneous during October 13, 1996.<br />
On September 25, 1997 salinity stratification caused a slight den-<br />
sity difference of 0.5 a,. The temperature averaged 14 and 22°C<br />
during the tliird and fourth campaigns, respectively. The vertical<br />
Fig. 8. Stick plots of currents measured by ADCP during third cam-<br />
profiles of tracer concentration show the plumes surfaced during<br />
both campaigns. The plume thickness decreased away from the<br />
diffusers. The maxin~um concentrations measured at these points<br />
were 2.4 and 1.5 ppb, corresponding to dilutions of 130 and 116,<br />
respec tively.<br />
Contour plots of dilution measured by the horizontal traverses<br />
are shown in Fig. 11 and 12. During the third campaign, the<br />
plume spread to the northeast, agreeing with the measured average<br />
current direction of 60". During the fourth campaign, the<br />
plume spread to the west-northwest, approximately agreeing with<br />
the measured average current direction of 270".<br />
Discussion of Regional Oceanography<br />
The local currents are not strongly Muenced by tides. Circula-<br />
tion in the South Brazilian Bight is govemed by wind driven<br />
subinertial oscillations with periods that range from 4 to 12 days<br />
(Castro Fdho 1998). Tlie current pattenis observed during all<br />
campaigns were influenced by this kind of oscillation. Current<br />
*%<br />
-<br />
0.5 mis<br />
Fig. 9. Stick plots of currents measured by ADCP during fourth<br />
campaign<br />
JOURNAL OF HYDRAULIC ENGINEERING I FEBRUARY 2002 1 155
6 -<br />
- 10- - E -<br />
5 -<br />
n<br />
i? 15m<br />
- - -- 7-<br />
- -Daq<br />
25 -<br />
Saiinily (PSU)<br />
S,= 130<br />
l,.,il,iiilii Ii.i,Iiii
P<br />
Table 2. Summary of Measured Plume Characteristics<br />
O<br />
rn Predicted<br />
Z<br />
2 Observed RSB UM3 CORMIX<br />
Z<br />
rn<br />
rn Near Hei& of Spreading NEAR HEIGHT OF SPREADING NEAR HEIGHT OF SPREADING NEAR HEIGHT OF SPREADING FLOW<br />
E Froude Field Minimum Layer FIELD MINIMüM LAYER FIELD MINIMUM LAYER FIELD MINIMUM LAYER CLASS-<br />
2<br />
G) number Dilution Dilution Thickness DILUTION DILUTION THICKNESS DILUTION DILUTION THICKNESS DILUTION DILUTION THICIWSS IFICATION<br />
I<br />
; Cmpaign F=u3/b S, z,, (m) h, (m) sn 20, (4 h, (m) $0, zal ím) h, (14 sn zn2 (m) h, (m)<br />
m<br />
C<br />
D<br />
3<br />
h2<br />
O<br />
Firsc<br />
March 20,<br />
1996<br />
Second<br />
0.02<br />
0.06<br />
59<br />
(367<br />
48<br />
9.0<br />
7.0<br />
5.5<br />
13.0<br />
38<br />
39<br />
8.6<br />
8.7<br />
9.7<br />
9.7<br />
40<br />
46<br />
13.1<br />
12.9<br />
14.9<br />
15.1<br />
39"<br />
23b<br />
40'<br />
11.9<br />
9.9<br />
9.8<br />
5.4<br />
3.2<br />
5.1<br />
MS3<br />
MUIV<br />
MS3<br />
March 22,<br />
1996<br />
(34") 39b 9.3 4.6 MUIV<br />
Thhd 0.17 130 27.0 23.0 139 27.0 23.4 152 23.9 14.6 140 22.7 9.1 MUIII<br />
October 13,<br />
1996<br />
(13~~)<br />
Fourth 0.14 116 25.0 12.0 115 27.0 23.5 110 21.3 17.8 145 21.5 11.9 MSJIH<br />
September 25,<br />
1997<br />
(124~)<br />
Two-layer linear proiile, a.<br />
b~wo-layer profile, b.<br />
"Measured by the horizontal traverses at 21 m depth.<br />
d~easured by the horizontal traverses at 4 m depth.
ditions (Fig. 4) it is either 5.5 or 13.0 m for seemingly similar speed between the boat and the mbient current that results in<br />
conditions. For unstratified conditions (Fig. 8), it is either 12.0 or variations in the drag force onde hose. Tlús sample height varia-<br />
23.0 m, again for seemingly similar coilditions. This is possibly tion can be a siguihnt error for thh, trapped plumes, and may<br />
because the coilditions are si~ch that the Froude niunber is near to conti-ibute to the appearance of patchiness. Inted wave effects<br />
that at which a transition in plume behavior occurs. For F0.2, the<br />
probes, also contributiug to the appearance of patcliiness.<br />
plume is in the "forced entraimnent" regime; it extends over the Conclusions<br />
water depth and the layer thickness increases substantially. The<br />
plume behavior inay vary between these two conditions, but exact<br />
calcillation of the Froude number is not possible diie to measurement<br />
imcertainty with these slow ciments.<br />
Given these uncertainties, exact model comparisons are not<br />
warranted Nevertheless, it appears that all the models (with snitable<br />
assumptions) can predict near field dilution to better than<br />
50%. The predictions may actually be better than this, bie the<br />
uncertaiuty in the measured dilutions precludes more definitive<br />
conclusions. For UM3 and CORMIX, dilutions computed at the<br />
trap level or &ee surface weiz used, i,e., subsequent near field<br />
iuixing processes were iguored. This assumption is reasonable in<br />
this case because the plimes effectively merge to a plane buoyant<br />
jet before the terminal rise height is reached. For tlús case, recent<br />
experiments on the additional near field niixing of iuerged plumes<br />
beyond the terminal rise heiglit (Daviero 1998) show the increase<br />
in dilution in this region to be quite small, of the order of 20%.<br />
CORME continues the calciilation beyond the terminal rise<br />
height, however, with algoritbms to predict a near field dilution.<br />
This i-esnlts in a predicted sudden juinp in dilution beyond the<br />
terminal rise height location, aud, if this near field prediction were<br />
wed, CORME would coiisiderably overestunate the measiued<br />
dilutions .<br />
The two assumed density profiles in CORME for the first and<br />
second campaigns resulted in the predicted flow regime changing<br />
froni MS3 to MU1V &e., a chge in tlte canse of trapping from<br />
the linear stratification in the lower layer to the interfacial density<br />
junip). Although the two profiles did not restilt in substantially<br />
different niunerical predictions for the second campaign, for the<br />
first campaign they caused the dilution to increase by 79%, from<br />
23 to 39. Such a large change would cause difficulties in applying<br />
CORMIX in similar cases where the values of the parameters to<br />
fit the Type C profile to the actual density profile are not kuown a<br />
priori.<br />
The observed pliunes imply patchiness in the vertical and horizontal<br />
directions. T!is patclwiess, that has also been observed in<br />
other field studies, e.g., Petrenko et al. (1998), is not iucoi-porated<br />
into any of the present plume models. The models itnplicitly assiune<br />
properties that vary smoothly in space, an assunlption that is<br />
tme only for time-averaged pliunes. The continuing iu~provement<br />
of field instnunentation and sampling teclmiques, such as in situ<br />
fluorometers and rapid tow-yo sarnpliug should provide further<br />
iusight into tliis behavior. The patchiuess and variabiliíy precludes<br />
conclusions about the far field pluine behavior aud pluine spreading<br />
and comparisons with far field models. Even to assume the<br />
pictures as instantaneoiis snapshots is a rough approxiination because<br />
the plume shape may be distorted by time-varying ciu-rents<br />
while the trausects are obtained.<br />
It is not clear to what extent the implied plime patchess is<br />
due to physical processes or measiuement limitations. The probe<br />
depths assumed in the contoiu plots are an approximation. The<br />
Field ineasiirernents of the dilution and other characteristics of the<br />
pliune from the Ipanema Beach, Rio de Janeiro, ocean outfa11<br />
were made. Foiu tests were conducted, two diuing strongly stratified<br />
conditions, and two duriug iuistratified conditions. Currents<br />
aud stratification were nieasured simiiltaneoiisly with the tracer<br />
measureinents. Dilution was measured by the addition of fluorescent<br />
tracer dye to the wastewater. Sampling of the flows before<br />
they entered the outfall provided good control of wastewater<br />
flowrate and tracer concentrations. The use of tracers provides<br />
unambiguous and n~ore reliable ineasurements of diiution than<br />
natural tracers, like salinity.<br />
The plume behavior was highly infiuenced by density stratscation.<br />
Dwing stratified conditions, the plume is trapped below<br />
de thermocline and the diliition is low, aroimd 35 to 1. During<br />
iuistratified conditions the plume suifaces and the dilution increases<br />
si@cantly to more than 100 to 1. These results probably<br />
represent the worst-case conditions because the currents were<br />
weak and did not increase dilution.<br />
The results show the difficulties of obtaiuing reliable field<br />
ineasiwements of operating outfalls. When stratified, nuniinum<br />
dilutions measured by vertical and horizontal traverses differed by<br />
about 40%, although when unstratified the difference is much<br />
less, about 7%. Pliune thickuess also varied widely, even with<br />
seeiniugly similar conditions. This is possibly due to conditions<br />
being near to those in which a transition in plume behavior &om<br />
stable two-layer flow to mixing over depth occim.<br />
The measured results were compared to those of three near<br />
field mathematical plume models iu comon use: RSB, UM3,<br />
aud CORMIX. With siutable assumptioiis, all the models can reasonably<br />
predict near field dili~tion. RSB predicts near field diintion<br />
directly; for UM3 and COR= it was assuuied that the end<br />
of the near field occim when the plume reaches its terminal rise<br />
height for the stratified case, or impacts the free siuface for the<br />
imstratified case. Because the flow conditions result in merging of<br />
the pliunes before the termiual rise height is reached, this yields<br />
reasonable results. For CORMM the measured density profiles<br />
were approximated as type C profiles: two layers separated by a<br />
density jiunp with the lower layer liuearly stratified. As the measured<br />
profiles did not correspond exactly to this shape, two approxhnations<br />
to the measured profiles were tried. The different<br />
approxhnations resulted in a change in the predicted flow regime,<br />
and, in one case, a change in dilution of 79%.<br />
While the gross properties of the pliune can be reasonably<br />
predicted by pluine inodels, there remaiu many aspects which<br />
cmot be, particularly the patchy natui-e of the wastefield that has<br />
been observed here and in other field tests. Continuhg field observations,<br />
especially with recent hprovements in field iustmmentation<br />
and data collection methods, should be very valuable in<br />
furihering understandiug of basic mixing processes under real<br />
oceanic conditions and our ability to model them.<br />
pressure sensors placed on the sample intake (Fig. 3) registered,<br />
during the fust canipaign, 1.6 m maximwn and 0.5 m standard<br />
Acknewledgments<br />
deviation in the sample depths for each level. This is caused by The writers acknowledge the State Company of Water and Wastewave-induced<br />
motions of the boat and by variations in the relative water of Rio de Janeiro (CEDAE) for their support of the field<br />
JOURNAL OF HYDRAULIC ENGINEERING I FEBRUARY 2002 1 159
experiments. They also acknowledge the Brazilian Foiuidation for<br />
the Coordination of Higher Education and Graduate Training<br />
(CAPES) for the ed~~cational support of the first author at the<br />
Georgia Instittrte of Technology.<br />
Notation<br />
The following symbols are used in this paper:<br />
h = buoyaucy flux per imit length of diffuser;<br />
C = measirred tracer concentration in the sea;<br />
C,, C, = concentration of the injected tracer in pipes A<br />
md B, respectively;<br />
C, = tracer concentration in the outfail pipe;<br />
c, ,c, = concentration of the tracer injected into pipes A<br />
and B, respectively;<br />
F = u3/b=densiinetnc Froude n~mber of liue diffuser;<br />
g = accelei-ation due to gravity;<br />
L = difiüser lengtli;<br />
QA ,QB = sewage flow rate iu pipes A and B, respectively;<br />
Q, = sewage flow rate in the outfall pipe;<br />
q, ,qB = flowrate of the tracer injected into pipes A aud<br />
B, respectively;<br />
S = dilution;<br />
S, = near field dilution;<br />
14 = ambient ciu~ent speed;<br />
p, = seawater demity at leve1 of ports; and<br />
po = efflu~ent density.<br />
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