10.05.2013 Views

Revista Volume L 19 01 2008.p65 - Academia Mineira de Letras

Revista Volume L 19 01 2008.p65 - Academia Mineira de Letras

Revista Volume L 19 01 2008.p65 - Academia Mineira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

10 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />

A mulher, na socieda<strong>de</strong> patriarcal do Segundo Império <strong>de</strong>tém<br />

horizontes limitados. No caso <strong>de</strong> Capitu, um dos primeiros problemas <strong>de</strong><br />

ascensão vem a ser o estado <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong> econômica em que ela se<br />

encontrava. Ao tentar transferir-se do nível <strong>de</strong> filha <strong>de</strong> funcionário<br />

subalterno para o círculo <strong>de</strong> Bentinho, cujo status é <strong>de</strong>rivado da renda da<br />

terra, con<strong>de</strong>na-se a um risco inevitável. Teria <strong>de</strong> pagar por sua intrusão<br />

num espaço social pouco receptivo.<br />

Boa metáfora do pecado <strong>de</strong> in<strong>de</strong>vido <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> posição<br />

consiste no intento frustrado <strong>de</strong> Pádua, pai <strong>de</strong> Capitu, <strong>de</strong> carregar uma<br />

das varas do pálio da procissão do Santíssimo Sacramento (cap. XXX).<br />

Havendo uma vara apenas para aquela distinção, meramente formal,<br />

Pádua teve <strong>de</strong> recuar <strong>de</strong> sua pretensão, <strong>de</strong>vido à presença <strong>de</strong> Bentinho e<br />

do agregado José Dias. “A distinção especial do pálio vinha <strong>de</strong> cobrir o<br />

vigário e o sacramento; para tocha qualquer pessoa servia.” No<br />

comentário do narrador, “Pádua roía a tocha amargamente. É uma<br />

metáfora, não acho outra forma mais viva <strong>de</strong> dizer a dor e a humilhação<br />

do meu vizinho.”<br />

O pai <strong>de</strong> Bentinho, Pedro <strong>de</strong> Albuquerque Santiago, era proprietário<br />

<strong>de</strong> uma fazenda em Itaguaí (cap. V) e precisou mudar-se para o Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, eleito <strong>de</strong>putado. Com a sua morte, a viúva, D. Maria da Glória<br />

Fernan<strong>de</strong>s Santiago, “ven<strong>de</strong>u a fazendola e os escravos, comprou alguns<br />

que pôs ao ganho ou alugou, uma dúzia <strong>de</strong> prédios, certo número <strong>de</strong><br />

apólices e <strong>de</strong>ixou-se estar na casa <strong>de</strong> Matacavalos.” (cap. VII).<br />

Vê-se, portanto, que a riqueza da família <strong>de</strong> Bentinho provinha da<br />

exploração <strong>de</strong> bens imobiliários. E a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses bens e sua renda<br />

são extraídos matreiramente do narrador através da curiosida<strong>de</strong> interesseira<br />

<strong>de</strong> Escobar (Ezequiel <strong>de</strong> Souza Escobar), no cap. XCIV. Este se<br />

tornará no suposto comborço <strong>de</strong> Bentinho nos benefícios dos encantos <strong>de</strong><br />

Capitu.<br />

Vocação <strong>de</strong> comerciante e ágil fazedor <strong>de</strong> contas, a pretexto <strong>de</strong><br />

exibir suas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> calculador, Escobar pe<strong>de</strong> a Bentinho que lhe<br />

dite o número <strong>de</strong> casas e respectivos aluguéis, a fim <strong>de</strong> fazer a soma <strong>de</strong><br />

cabeça. Nove casas e aluguéis que variavam <strong>de</strong> 70$000 a 180$000, dando<br />

um total <strong>de</strong> 1:070$000.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!