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Revista Volume L 19 01 2008.p65 - Academia Mineira de Letras

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28 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />

aquela única lembrança do moribundo <strong>de</strong> dois minutos, pedindo à mãe<br />

que acudisse a irmã, vítima <strong>de</strong> uma crise nervosa ao vê-lo. Que solução<br />

se dará ao velho tema? A melhor é ainda a do jovem Hamlet: The rest is<br />

silence.” (O resto é silêncio).”<br />

E por que se teria suicidado esse homem apenas entrado nos trinta<br />

anos? Como era ele? Austero, sempre vestido <strong>de</strong> preto e usando o preto<br />

até mesmo no seu papel <strong>de</strong> correspondência, tarjado como em cartas <strong>de</strong><br />

luto; homem excêntrico, <strong>de</strong> poucos amigos, nenhuma mulher, facilmente<br />

irascível, engajado apaixonadamente na política, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>fendia pela<br />

imprensa os i<strong>de</strong>ais republicanos e abraçava a causa dos mais fracos. É<br />

claro que havia <strong>de</strong> receber também muitos ataques.<br />

Esse homem sofria crises freqüentes <strong>de</strong> melancolia, que o levavam<br />

a <strong>de</strong>sconfiar até dos companheiros mais próximos. Numa época em que a<br />

imprensa já abrigava polêmicas <strong>de</strong> baixo nível, com ataques à vida<br />

pública e privada <strong>de</strong> intelectuais, Pompéia foi alvo <strong>de</strong> artigos perversos,<br />

como um <strong>de</strong> Olavo Bilac, que se escondia sob o pseudônimo <strong>de</strong> Pierrot,<br />

no qual o autor fazia críticas grosseiras à vida íntima do escritor.<br />

Pompéia se sentiu atingido violentamente na sua honra, que prezava<br />

acima <strong>de</strong> tudo, chegando a <strong>de</strong>safiar o adversário para um duelo, frustrado,<br />

afinal, pela intervenção <strong>de</strong> amigos.<br />

Pouco <strong>de</strong>pois foi a vez <strong>de</strong> um outro artigo, esse <strong>de</strong> Luís Murat, com<br />

o título já por si provocativo <strong>de</strong> Um louco no cemitério. Referia-se a um<br />

discurso pronunciado por Pompéia por ocasião do enterro do Marechal<br />

Floriano Peixoto, <strong>de</strong> quem fora um fanático admirador. Tendo o artigo<br />

sido publicado em São Paulo, Pompéia só tomou conhecimento <strong>de</strong> sua<br />

divulgação dois meses <strong>de</strong>pois, o que prejudicou a possível resposta.<br />

Assim, ofendido como homem e como cidadão, e não tendo conseguido<br />

que um artigo seu fosse publicado, Pompéia se viu privado da sua<br />

honra, da sua “alma exterior”, sem a qual não lhe era possível viver.<br />

Suicidou-se num dia <strong>de</strong> Natal, com um tiro no coração, <strong>de</strong>ixando um<br />

bilhete ao jornal, em que dizia: “À Notícia e ao Brasil, <strong>de</strong>claro que sou<br />

um homem <strong>de</strong> honra.”<br />

A alma exterior, vindo, como diz o Narrador do conto machadiano,<br />

<strong>de</strong> fora para <strong>de</strong>ntro – a pátria para Camões, o po<strong>de</strong>r para César, a honra

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