10.05.2013 Views

Revista Volume L 19 01 2008.p65 - Academia Mineira de Letras

Revista Volume L 19 01 2008.p65 - Academia Mineira de Letras

Revista Volume L 19 01 2008.p65 - Academia Mineira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

24 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />

que o pai prega as vantagens <strong>de</strong> um ofício, na verda<strong>de</strong> uma filosofia <strong>de</strong><br />

vida que ele lamenta não ter seguido, por lhe ter faltado a sabedoria <strong>de</strong><br />

um pai para aconselhá-lo. E essa sabedoria se resume em não ter idéias<br />

próprias e, no caso <strong>de</strong> as ter, não divulgá-las. O essencial é reduzir o<br />

intelecto e usar “as frases feitas, as locuções convencionais, as fórmulas<br />

consagradas pelos anos, incrustadas na memória individual e pública.”<br />

Como sempre, Machado investe com ironia contra o saber institucionalizado:<br />

“Filosofia da história”, por exemplo, é uma locução que <strong>de</strong>ves<br />

empregar com freqüência, mas proíbo-te que chegues a outras conclusões<br />

que não sejam as já achadas por outros. Foge a tudo que possa cheirar a<br />

reflexão, originalida<strong>de</strong>, etc. etc.”<br />

Eu me propus falar aqui sobre a alma exterior e acabei não<br />

resistindo à sedução <strong>de</strong> me esten<strong>de</strong>r sobre a teoria do medalhão que, <strong>de</strong><br />

fato, é das mais ousadas e divertidas páginas do repertório machadiano,<br />

que conta ainda com outras teorias, como a teoria da equivalência das<br />

janelas, a das edições, a teoria do emplasto, a das virtu<strong>de</strong>s e outras mais,<br />

pitorescas, por vezes cínicas e até mesmo sarcásticas, mas sempre cheias<br />

<strong>de</strong> sabedoria.<br />

É sabido que muitas vezes a arte antecipa-se à ciência.<br />

E a obra <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis é testemunho disto. Foi o que<br />

constatei um dia, ao <strong>de</strong>parar, por exemplo, em Jacques Lacan com uma<br />

importante diferença entre o outro, escrito com minúscula, aquele que é<br />

semelhante ao sujeito, sua imagem especular que lhe dá a ilusão da<br />

completu<strong>de</strong>, <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> do eu – e o Outro, escrito assim com maiúscula e<br />

chamado, <strong>de</strong> “gran<strong>de</strong> Outro”, aquele que está mais além, numa relação <strong>de</strong><br />

exteriorida<strong>de</strong> para com o sujeito, o simbólico, o inconsciente.<br />

E me lembrei <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis. No conto O espelho, Jacobina,<br />

o Narrador, fala que temos duas almas: uma alma interior, que olha <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro para fora, enquanto uma outra, a alma exterior, que olha <strong>de</strong> fora<br />

para <strong>de</strong>ntro.<br />

E assim como o gran<strong>de</strong> Outro lacaniano não é uma entida<strong>de</strong>, mas<br />

um lugar psíquico, a alma exterior, diz o Narrador, po<strong>de</strong> ser um espírito,<br />

um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação e<br />

mesmo a polca, um livro, um par <strong>de</strong> botas, um tambor, etc. O ofício <strong>de</strong>ssa

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!