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Revista Volume L 19 01 2008.p65 - Academia Mineira de Letras

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16 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />

conquista não haveria <strong>de</strong> existir naquele cenário. Equivalia a um título <strong>de</strong><br />

nobreza, pois indicava a inclusão do “doutor” entre os poucos habilitados<br />

ao exercício <strong>de</strong> uma profissão dignificante, que conferia projeção social e<br />

po<strong>de</strong>r econômico ao seu titular.<br />

Por isto, Bentinho “... ia pensando na felicida<strong>de</strong> e na glória. Via o<br />

casamento e a carreira ilustre ...” etc.<br />

Casamento e carreira ilustre... eis aí a síntese do padrão pequenoburguês<br />

do sucesso, fontes <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma situação social<br />

prepon<strong>de</strong>rante.<br />

Na embriaguez daquelas projeções mentais otimistas, em que felicida<strong>de</strong><br />

e glória entreteciam um sonho, Bentinho se <strong>de</strong>ixa embalar pelos<br />

prognósticos triunfais: “Uma fada invisível <strong>de</strong>sceu ali, e me disse em voz<br />

igualmente macia e cálida: Tu serás feliz, Bentinho; tu vais ser feliz.”<br />

E o confi<strong>de</strong>nte José Dias, no seu costumeiro discurso <strong>de</strong> bajulação<br />

e lisonja, reforça a idéia <strong>de</strong> que a felicida<strong>de</strong> não provém somente da<br />

glória, mas “...é também outra coisa...”, acabando por concluir, por linhas<br />

tortas, que essa coisa era o amor <strong>de</strong> Capitu, “menina travessa e já <strong>de</strong><br />

olhos pensativos” e “flor caprichosa <strong>de</strong> um fruto sadio e doce ...”<br />

E, para completar o quadro <strong>de</strong> avaliação da amada <strong>de</strong> Bentinho,<br />

José Dias, portador das noções convencionais que ditam o bom senso,<br />

acrescenta que a filha <strong>de</strong> Pádua “é que distribui o dinheiro, paga as<br />

contas, faz o rol das <strong>de</strong>spesas, cuida <strong>de</strong> tudo, mantimento, roupa, luz.”<br />

Vale dizer: Capitu era dotada das qualida<strong>de</strong>s esperadas para uma boa<br />

dona <strong>de</strong> casa, principalmente como boa gestora da economia do lar.<br />

Realizado o casamento e passada a semana “no céu”, a Capitu<br />

ocorreu voltar do retiro da Tijuca. No comentário <strong>de</strong> Bentinho: “A alegria<br />

com que pôs o seu chapéu <strong>de</strong> casada, e o ar <strong>de</strong> casada com que me <strong>de</strong>u a<br />

mão para entrar e sair do carro, e o braço para andar na rua, tudo me<br />

mostrou que a causa da impaciência <strong>de</strong> Capitu eram os sinais exteriores<br />

do novo estado. Não lhe bastava ser casada entre quatro pare<strong>de</strong>s e<br />

algumas árvores; precisava do resto do mundo também. E quando eu me<br />

vi embaixo, pisando as ruas com ela, parando, olhando, falando, senti a<br />

mesma coisa. Inventava passeios para que me vissem, me confirmassem<br />

e me invejassem.”

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