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Revista Volume L 19 01 2008.p65 - Academia Mineira de Letras

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12 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />

construindo como um patíbulo. Na verda<strong>de</strong>, a traição <strong>de</strong> Capitu funciona<br />

como um álibi da <strong>de</strong>ficiência humana <strong>de</strong> Bentinho, um inocente que se<br />

transforma num <strong>de</strong>sconfiado amargo, num Dom Casmurro, afinal. As<br />

provas que amealha têm o sinal da ambigüida<strong>de</strong>, tanto po<strong>de</strong>m apoiar uma<br />

hipótese quanto outra, contrária.<br />

A evolução sentimental da personagem obe<strong>de</strong>ce a um <strong>de</strong>terminismo<br />

<strong>de</strong> ampla significação no quadro social do Império. Antes <strong>de</strong><br />

nascer, Bentinho já estava con<strong>de</strong>nado a servir à Igreja, em razão <strong>de</strong> uma<br />

promessa da mãe. Escapando da con<strong>de</strong>nação através da estratégia <strong>de</strong> esta<br />

“pagar” a promessa mediante o compromisso <strong>de</strong> estipendiar a formação<br />

<strong>de</strong> outro sacerdote para a Igreja, Bentinho escraviza-se da atração física e<br />

dos escantos espirituais <strong>de</strong> Capitu.<br />

A sedução do <strong>de</strong>sejo conduz o protagonista às ações <strong>de</strong>stinadas a<br />

buscar sua satisfação. Mas a consciência intranqüila e contraditória <strong>de</strong><br />

Bentinho o impedia <strong>de</strong> lograr a plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu projeto erótico e <strong>de</strong><br />

alcançar as regalias do amor.<br />

A<strong>de</strong>mais, o enredo preparado para narrar o seu insucesso faz<br />

convergir para a mesma pauta quer a força <strong>de</strong> sua insatisfação interior (o<br />

seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> Capitu era exclusivista, como toda posse transformada em<br />

proprieda<strong>de</strong>, a ponto <strong>de</strong> as relações entre ambos se tornarem frias a partir<br />

do nascimento do filho), quer o po<strong>de</strong>r das convenções sociais (na<br />

socieda<strong>de</strong> patriarcal, o arquétipo da conduta masculina exige provas<br />

constantes <strong>de</strong> dominação, que a sua <strong>de</strong>ficiência e esterilida<strong>de</strong> não lhe<br />

permitiam manter), quer, ainda, o concílio do acaso, que lhe retira metodicamente<br />

os suportes afetivos, necessários à vida: morrem sucessivamente<br />

Escobar (cap. CXXI), sua mãe (cap. CXLII), José Dias (cap.<br />

CXLIII) e Ezequiel (cap. CXLVI).<br />

Esta é uma fatalida<strong>de</strong> romanesca, que nada tem a ver com as<br />

condições ambientais. Integra a urdidura narrativa, que não prescin<strong>de</strong><br />

das forças <strong>de</strong>sgovernadas do <strong>de</strong>stino para atestar a mortalida<strong>de</strong> do<br />

homem.<br />

Já a plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Capitu é antes <strong>de</strong> tudo entorpecida pelo quadro<br />

social. A manifestação da mulher é dificultada, principalmente para<br />

aquelas <strong>de</strong> maior iniciativa e forte personalida<strong>de</strong>.

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