Edição 35 - Revista Algomais
Edição 35 - Revista Algomais
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Ano 3 | no. <strong>35</strong> | Fevereiro 2009 R$ 9,00 www.revistaalgomais.com.br<br />
“Eu sempre acredito<br />
que é possível<br />
encontrar saída”<br />
Dom Helder Instituto comemora centenário do religioso<br />
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fevereiro
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Sumário<br />
<strong>Edição</strong> <strong>35</strong><br />
Circulação | 30 de janeiro de 2009<br />
Criação | Rivaldo Neto<br />
Tiragem | 10.000 exemplares<br />
Seções<br />
Reportagens<br />
4 > > fevereiro<br />
Capa<br />
Lula, em entrevista<br />
exclusiva, fala de política<br />
regional e de sua relação<br />
pessoal com Pernambuco. 20<br />
Dom Helder<br />
Religioso será homenageado<br />
com intensa programação por<br />
Instituto, CNBB e fiéis que<br />
festejarão seu centenário. 22<br />
Carnaval<br />
Apesar da crise econômica,<br />
as prefeituras prometem não<br />
decepcionar o folião e a fama<br />
de um carnaval popular. 44<br />
Carta do Leitor<br />
Entrevista<br />
Pensando Bem<br />
De Olho<br />
João Alberto<br />
Humor<br />
Política | André Regis<br />
Gestão Mais<br />
Pano Rápido<br />
Memória Pernambucana | Marcelo Alcoforado<br />
Economia | Jorge Jatobá<br />
Auto Motor | Jorge Moraes<br />
Gastronomia | Patrícia Raposo<br />
Última Página<br />
2009 celebra o Dom da Paz<br />
Acerte o Rumo volta às páginas da <strong>Algomais</strong><br />
Folia será animada apesar do sufoco das prefeituras<br />
Portabilidade estreia em Pernambuco<br />
Turismo sem preconceito<br />
6<br />
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48<br />
Carta do Editor<br />
O mesmo ideal<br />
Personagens destacados desta edição, o presidente Lula<br />
e Dom Helder Camara são hoje extremamente reverenciados<br />
pelos pernambucanos. Lula, depois de uma trajetória<br />
de dificuldades no Sudeste, marca o exercício da Presidência<br />
da República por ações de combate à miséria nunca tomadas<br />
antes por qualquer governo. Dom Helder, combatido e perseguido<br />
pela ditadura militar brasileira por julgá-lo comunista e<br />
subversivo, deixou ao morrer, há quase dez anos, uma bela e<br />
exemplar história de humildade e de amor ao próximo.<br />
Lula e Dom Helder são notáveis para os pernambucanos<br />
particularmente pelas ações sociais. O pensamento de ambos<br />
é convergente nessa área. O presidente persegue, desde que<br />
assumiu, a meta de proporcionar aos pobres o hábito, tão prosaico<br />
para os ricos, de fazer três refeições por dia. O religioso<br />
sonhava acabar com a miséria. “Na pobreza, o indivíduo tem o<br />
indispensável para viver, mas na miséria, nem o indispensável<br />
existe”, justificou certa vez ao ser questionado, segundo destaca<br />
nossa repórter Marcella Sampaio, autora do texto que<br />
registra a passagem do centenário de seu nascimento.<br />
<strong>Algomais</strong> entrevistou Lula e ele fala de sua presença<br />
constante no Estado, mas ressalva, com humildade, a Antônio<br />
Magalhães, ao comentar a popularidade: “Nada do que tenho<br />
feito em benefício da região deve ser atribuído ao fato de eu<br />
ser nordestino”.<br />
Lula saboreia, ainda como presidente, o reconhecimento<br />
dos pernambucanos. Há dificuldades, porém, para celebrar o<br />
“Dom da Paz” em 2009, como relata Marcella Sampaio. E o<br />
mais grave, segundo ainda nossa repórter, é que apesar do<br />
período relativamente curto após a morte do arcebispo emérito<br />
do Recife e Olinda, a diretoria do Instituto Dom Helder<br />
Camara, que se empenha para divulgar todo o trabalho por ele<br />
deixado, já sente que os pensamentos dele estão caindo no<br />
esquecimento.<br />
E como esquecer Dom Helder? A simples formulação<br />
dessa possibilidade parece uma heresia, mas não é. Basta<br />
dizer que a ação pastoral do atual arcebispo foi desenvolvida<br />
nesse sentido. Apesar de tudo, o pároco de Casa Forte, padre<br />
Edvaldo Gomes, é otimista: “Acho que quando passar essa<br />
fase negra que a Arquidiocese de Olinda e Recife tem vivido,<br />
quando tudo passar, serenar e morrerem essas pessoas contrárias<br />
às idéias de Dom Helder, pessoas sensatas irão trazer<br />
à tona o pensamento dele” (confira a íntegra da entrevista na<br />
página 28).<br />
Faz muito sentido. Pudessem dar um “pitaco” a Deus os<br />
que são gratos e tem memória certamente Lhe suplicariam:<br />
que tal ressuscitar Dom Helder e dar o terceiro mandato a<br />
Lula? Uma boa leitura.<br />
Roberto Tavares<br />
Editor Geral
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5
Cartas do Leitor<br />
Madalena Arraes<br />
A senhora Madalena Arraes me desculpe, mas<br />
para que a verdade histórica seja preservada,<br />
eu agradeceria muito que V. Exa. nos contasse<br />
sobre a famosa livraria de Paris. Sei que o<br />
vosso esposo era o único que tinha capital e,<br />
infelizmente, já por aqui não está para que lhe<br />
possamos fazer a mesma pergunta. Outro “sócio”<br />
também já se foi e jamais poderá contar a<br />
sua versão. O outro, ainda vivo, ainda anda por<br />
aí nada dizendo sobre fatos que deveriam ser<br />
escritos para ficarem na história dos acontecimentos,<br />
mas nem mesmo o vergonhoso abandono<br />
das ex colônias portuguesas ele foi capaz<br />
de passar para o papel. Será que V. Exa. nos<br />
poderia dizer a verdade sobre a “falida” livraria?<br />
Delmar Rosado<br />
Memória<br />
Foi com muita satisfação que li o artigo do<br />
amigo Marcelo Alcoforado na edição 34<br />
(janeiro/2009) da <strong>Revista</strong> <strong>Algomais</strong>, “Memória<br />
Pernambucana. Uma grande e curta vida”.<br />
Relembrar Marcantonio Vilaça e conhecer um<br />
pouco mais de sua trajetória artística foi realmente<br />
muito gratificante. Joseni Melo<br />
Anistia I<br />
Parabenizo a <strong>Revista</strong> <strong>Algomais</strong>, em especial<br />
no que toca ao artigo do escritor e economista<br />
Josué Mussalém: “Anistia no Brasil: verso<br />
e reverso”. Ele mostrou que deve haver por<br />
parte do ministro da Justiça, Tarso Genro, mais<br />
responsabilidade no trato do tema sobre a modificação<br />
da lei da anistia. Quero lembrar, que<br />
quando da aprovação do projeto de lei houve<br />
debate generalizado na sociedade, inclusive<br />
com a participação de membros do futuro<br />
Partido dos Trabalhadores. Através de seus<br />
EXPEDIENTE<br />
Av. Domingos Ferreira, 890, sala 803<br />
Boa Viagem | 51110-050 | Recife/PE<br />
Fone: (81) 3327.3944<br />
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Diretoria Executiva<br />
Sérgio Moury Fernandes<br />
sergiomoury@revistaalgomais.com.br<br />
Francisco Carneiro da Cunha<br />
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Diretoria Comercial<br />
Luciano Moura<br />
lucianomoura@revistaalgomais.com.br<br />
6 > > fevereiro<br />
lideres, em pronunciamentos na imprensa ou<br />
nas tribunas do Congresso Nacional, que se<br />
posicionaram contra, abstendo-se na votação<br />
da matéria. Porém o projeto de lei da anistia<br />
foi aprovado, o que a legitimou . Não cabendo<br />
nenhuma modificação agora.<br />
Luciano Caldas Pereira de Carvalho Júnior<br />
Anistia II<br />
Parabéns pela entrevista de Gustavo Krause e<br />
pelo artigo “Anistia no Brasil”, de Josué Mussalem,<br />
tão conclusivo e oportuno. Os nossos atuais<br />
dirigentes federais usam o poder que lhes<br />
confiamos para um só lado: o deles. Esquecem<br />
que toda moeda tem cara e coroa. Estão cometendo<br />
desatinos populistas em nome da democracia,<br />
dos direitos humanos e do social. É uma<br />
pena porque poderiam fazer muito pelo país tão<br />
carente de soluções para problemas crônicos -<br />
saúde pública precária, educação fundamental<br />
e moradia de má qualidade e infra-estrutura deficiente.<br />
José Maria de Souza<br />
Anistia III<br />
O bem lançado artigo “Anistia no Brasil: Verso e<br />
Reverso”, de Josué Mussalem (<strong>Algomais</strong> de<br />
Janeiro/2009) possui grande valia, tanto pelo<br />
renome do seu autor, como pelas corajosas afirmações<br />
nele contidas. Na verdade, a esquerda<br />
brasileira, empoleirada em 25 mil cargos comissionados<br />
no Governo Federal, sataniza a Revolução<br />
de 31 de Março que, muito embora cometendo<br />
erros e excessos - naturais em qualquer<br />
movimento revolucionário - teve o mérito de salvar<br />
o Brasil de se transformar em uma república<br />
sindicalista, sob os auspícios de Moscou, como<br />
a infeliz Cuba, até hoje penando o retrocesso de<br />
50 anos. Os seus líderes viveram bem enquanto<br />
recebiam subsídios de Moscou (salários mesmo!)<br />
como o percebido aqui por Prestes (conferir<br />
Conselho Editorial<br />
Francisco Carneiro da Cunha (coordenador)<br />
Antonio Magalhães<br />
Luciano Moura<br />
Ricardo de Almeida<br />
Sérgio Moury Fernandes<br />
REDAÇÃO<br />
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Editor-geral<br />
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Editor-executivo<br />
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Reportagens<br />
Carolina Bradley<br />
carol@revistaalgomais.com.br<br />
Marcella Sampaio<br />
marcella@revistaalgomais.com.br<br />
Ivo Dantas<br />
ivodantas@revistaalgomais.com.br<br />
Fotografia<br />
Alexandre Albuquerque<br />
(81) 9212.9423<br />
Editoria de Arte<br />
e Editoração Eletrônica<br />
Adrianna Coutinho<br />
adrianna@revistaalgomais.com.br<br />
Rivaldo Neto<br />
rneto@revistaalgomais.com.br<br />
“Camaradas”, de William Waack, Cia das Letras,<br />
2ª ed. pg. 114) transcrevendo documentos existentes<br />
nos arquivos do Komintern. Esses brasileiros,<br />
homicidas e assaltantes de bancos, são<br />
hoje endeusados e indenizados como vítimas da<br />
Revolução. Joaquim Correia Lima Filho<br />
Anistia IV<br />
Fui durante 32 anos professor de História do<br />
Brasil, em tradicionais e centenárias escolas<br />
de Pernambuco, sendo filho de um dos maiores<br />
professores de Português do nosso Estado<br />
– Adauto Pontes. Em relação ao artigo do sr Josué<br />
Mussalém, publicado no exemplar número<br />
34, quero demonstrar minha total contrariedade,<br />
no que foi colocado naquele artigo. Não estou<br />
discutindo o problema da violência da esquerda<br />
ou da direita. Estou me posicionando contrário<br />
ao que o Sr Josué escreveu como “Guerra Revolucionária<br />
de 1964”. Como dizer que os que<br />
lutaram contra a ditadura militar foram derrotados?<br />
O que prevaleceu na História do Brasil? Hoje<br />
nós temos um sistema democrático com eleição<br />
direta, em que o povo, não um grupo de militares,<br />
escolhe seu presidente. Quem foi derrotado na “<br />
Revolução” de 1964? Vladimir Pontes<br />
Gustavo Krause<br />
Como sempre, Antônio Magalhães dá a qualquer<br />
matéria uma conotação hiper gostosa. Esta entrevista<br />
com Gustavo está sensacional, apesar<br />
dele também ser um gigante em oratória. Parabéns<br />
aos dois. Dhora Perdizes<br />
Pano Rápido I<br />
Não posso deixar de constatar que o dileto<br />
cronista tem um “sangue muito doce” para arranjar<br />
encrencas. Já vem de lá esse sr. Pedro a<br />
criar celeumas com as imprecisões das u uu<br />
Assinatura<br />
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Cartas do Leitor<br />
suas histórias e termos. A justificativa do contador<br />
de histórias (não gosto do termo “estórias”<br />
nem do infame “causos”) é perfeita, todavia, se<br />
o “ronhento” insistir em uma explicação científica<br />
para o termo cunhado (sem trocadilho)<br />
pelo brioso arquiteto do caso, diga-lhe que o<br />
monossílabo em questão é a mais pura manifestação<br />
usual da língua portuguesa, provém<br />
do latim vulgar “culos” com anotações de uso<br />
desde o século XIV. Em Portugal pouco se usa<br />
eufemismo como “bunda”, “bumbum”, “traseiro”<br />
ou coisa que o valha. Ainda ouço o eco estridente<br />
dos gritos de nossas avós portuguesas<br />
a ralhar “menino tira o cu do chão!”, e ninguém<br />
nunca morreu por isso. Por fim, vale o conselho<br />
de um filósofo amigo meu: o melhor da vida é<br />
tomar uma cerveja, criar um atrito e discutir<br />
uma polêmica. Joaquim Rafael Soares<br />
Pano Rápido II<br />
Ao lermos a coluna nº 34/janeiro 2009, ficamos<br />
surpresas e decepcionadas com a citação<br />
feita a respeito do nosso pai, Manoel Heleno<br />
Rodrigues dos Santos, que hoje aos 86 anos<br />
encontra-se com várias limitações próprias da<br />
idade, mas não a ponto de não lembrar que<br />
jamais usou palavras de baixo calão em sala<br />
de aula com seus alunos. Gostaríamos de uma<br />
retratação na próxima edição da revista.<br />
Maria Teresa e Lívia Rodrigues Capela<br />
Resposta: Caras senhoras Maria Teresa e Lívia,<br />
muitos professores são esquecidos ao longo<br />
dos anos. Outros não. E citá-los 40, 50 anos depois<br />
é, creio eu, uma forma de homenageá-los.<br />
Afinal, na história que contei não há ofensas<br />
(nem à “pitomba” citada) nem ofendidos. No<br />
contexto, a palavra de “baixo calão” não passa<br />
de uma interjeição. A história me foi contada por<br />
Plínio Duque, meu amigo e médico, que a ouviu<br />
de um sobrinho, já falecido, do professor Manoel<br />
Heleno. De qualquer forma, lamento havê-las<br />
constrangido. Não era essa a intenção.<br />
Joca Souza Leão<br />
Pano Rápido III<br />
Estranho o fato do leitor Pedro Melo questionar a<br />
veracidade de fatos, datas e coisas de somenos<br />
importância que em nada alteram o conteúdo da<br />
narrativa. Não vi ainda por parte de outras pessoas<br />
queixas quanto a fatos narrados pelo contador<br />
de histórias e não historiador como Joca<br />
se afirma. Espero que a coluna continue com o<br />
8 > > fevereiro<br />
mesmo formato descontraído porque o que não<br />
falta em Pernambuco são pessoas com histórias<br />
engraçadas e folclóricas a se contar e leitores<br />
ávidos por lê-las. Baltazar Monteiro<br />
<strong>Algomais</strong> I<br />
Mensalmente tenho recebido a <strong>Algomais</strong> em<br />
casa e fico muito feliz pela perenidade da revista.<br />
Como imagino não deve ser fácil produzir<br />
essa publicação, diante de tantos impasses nacionais<br />
e locais. Vocês estão de parabéns. Por<br />
isso, acho que em 2009 a <strong>Algomais</strong> continuará<br />
sendo a publicação mais relevante da sua<br />
área em Pernambuco. Manoel Fernandes<br />
<strong>Algomais</strong> II<br />
A revista é <strong>Algomais</strong> e as matérias são muito<br />
mais. A matéria com Gustavo Krause é brilhante,<br />
irretocável. O contra poder a que ele se<br />
refere é de um discernimento extraordinário.<br />
O artigo de Luciano Siqueira – figura que admiro<br />
– é muito bom. Ele acerta nas questões<br />
problemáticas das regiões metropolitanas, mas<br />
não concordo quando ele aborda o capitalismo.<br />
O Estado, na verdade, é indutor do desenvolvimento<br />
(leva para onde quer e para quem<br />
precisa). O baixo salário é fruto de um Estado<br />
excessivamente tributador (o dobro da carga<br />
tributária da Argentina), e aí tira também do salário.<br />
Parabéns a todos! Antenor Lino<br />
Boa Viagem<br />
Como boa-viagenses nativos, e, membros<br />
da turma do Rififi (Posto 04), queremos<br />
externar os nossos agradecimentos em noticiar<br />
o nosso cinquentenário na edição de<br />
NOV/2008 e parabenizar a <strong>Algomais</strong> pelo<br />
apoio cultural ao livro Reminiscências - Boa<br />
Viagem Ontem e Hoje, do advogado Antonio<br />
Carlos Cavalcanti de Araújo.<br />
Luiz Augusto e Selma Vieira da Cunha<br />
Turismo<br />
Muita boa a matéria sobre turismo. O enfoque<br />
em turismo de negócios para Recife está consolidado,<br />
o de praia com Porto de Galinhas foi<br />
um trabalho dos empresários locais, e agora<br />
reforçado pelo Governo do Estado, mas temos<br />
um potencial enorme. O Cabo de Santo Agostinho,<br />
Praia dos Carneiros, São José, Várzea do<br />
Una e todo o litoral norte estão sem estímulo. A<br />
reunião ter sido no Costa Brava, foi de um bom<br />
gosto, já que o mesmo deve ter aproximadamente<br />
43 anos de funcionamento e se mantém<br />
sempre com bom serviço e tradição. O Estado<br />
tem um potencial enorme em todos os segmentos<br />
do turismo. Moreno tem um turismo<br />
de engenhos que nunca foi promovido, inclusive<br />
com um engenho ocupado pelo MST que<br />
está dando certo. Bezerros tem o carnaval e o<br />
São João muito bom, mas o turismo de aventura<br />
é melhor ainda. Estou feliz com o governo de<br />
Eduardo trabalhando o turismo. Existe potencial<br />
em todos os segmentos no Estado. O turismo é<br />
muito forte na promoção de partidos e políticos<br />
no Estado, acreditem. Frederico Carneiro Leão<br />
Profetas<br />
Muito boa a matéria “Profetas do Amanhã”,<br />
publicada na edição de nº 32. Ela revelou uma<br />
nova visão de um velho problema. Gostaria de<br />
ver mais reportagens abordando os poderes<br />
públicos. Quem sabe mostrando exemplos reais<br />
de eficácia não acordamos a sociedade e<br />
os governos para soluções de um problema tão<br />
grave. Rejane Sultanum<br />
Pólo Jurídico<br />
Gostaria de parabenizar Gustavo Cavalcanti<br />
pelo artigo “A era Dourada da Advocacia”,<br />
sobretudo porque o tema foi tratado com seriedade<br />
e leveza, além de muitíssimo bem articulado.<br />
Os reflexos da globalização na advocacia<br />
brasileira/pernambucana denotam uma<br />
discussão ampla que merece aprofundamento,<br />
já que é tema do presente e não mais perspectiva<br />
futura. Antonio Mota<br />
Última Página<br />
Caro Francisco Cunha, parabenizo-o e concordo<br />
com o mapa projetado para o desenvolvimento<br />
sustentável de Pernambuco nos próximos 50<br />
anos. Seu artigo, claro e objetivo, deveria ser<br />
de conhecimento e aplicação como objetivo<br />
estrutural e permanente do Estado, fazendo<br />
parte de programas governamentais, sem<br />
importar com tendências partidárias, mas sim,<br />
visando o bem comum do povo pernambucano.<br />
Como bem disse Gustavo Krause em<br />
seu artigo nessa mesma edição, temos que<br />
dar visão gráfica do mesmo a nossa elite governante<br />
que ultimamente muito promete.<br />
Abraços. Augusto Paranhos
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quanto a carteira<br />
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Entrevista<br />
10 > > fevereiro<br />
Luiz Inácio Lula da Silva<br />
“Guardo Pernambuco no<br />
lado esquerdo do peito”<br />
POPULARIDADE | 80% de aprovação no Nordeste é uma retribuição pelo<br />
que fez o Governo Federal em termos de política social e investimentos<br />
Por Antonio Magalhães<br />
Opresidente da República, Luiz<br />
Inácio Lula da Silva, privilegiou<br />
a <strong>Algomais</strong>. O Palácio do Planalto<br />
registra hoje mais de 100 pedidos de<br />
entrevistas exclusivas com o presidente<br />
para diversos órgãos de comunicação.<br />
Se todas fossem concedidas, Lula não<br />
teria tempo de trabalhar. O leitor tem<br />
agora a oportunidade de conhecer o que<br />
o presidente falou para a revista. Ela<br />
trata de política regional, de economia e<br />
principalmente do homem Lula em relação<br />
a Pernambuco e aos pernambucanos.<br />
É um político que diz que não tem tempo<br />
ruim para ele. “Nunca fiquei sentado num<br />
canto culpando os outros pelos meus<br />
sofrimentos”, desabafa Lula. E apregoa<br />
que foi à luta para enfrentar os efeitos no<br />
Brasil da crise financeira internacional.<br />
Para tanto manteve o funcionamento<br />
da “roda da atividade econômica”, ao<br />
contrário de outros governos que travaram<br />
a economia.<br />
“É meu jeito de ser e de agir: eu sempre<br />
acredito que é possível encontrar saídas<br />
mesmo diante de problemas que parecem<br />
não ter solução”, alega.<br />
A entrevista de Lula foi concedida por<br />
email. Vale registrar o empenho de<br />
pernambucanos próximos a Lula, como o<br />
ministro chefe da Casa Civil, José Múcio,<br />
e os jornalistas Laércio Portela e Flávia<br />
Filipini, para que ela acontecesse<br />
Abaixo, a entrevista:<br />
<strong>Algomais</strong> | Nota-se que nas suas visitas a<br />
Pernambuco há um entusiasmo além<br />
da política. A sua presença por aqui<br />
em várias ocasiões tem um peso sentimental?<br />
LULA | Eu saí de Pernambuco ainda muito<br />
menino, mas por mais que a gente rode o<br />
mundo, por mais que conheça, visite e viva<br />
em diversos outros lugares, a ligação afetiva<br />
com os conterrâneos e com a terra natal é<br />
muito forte e permanece por toda a vida. Eu<br />
nasci no atual município<br />
de Caetés, que na<br />
época era distrito de<br />
Garanhuns. A ligação<br />
com a cidade, com o<br />
Estado de Pernambuco<br />
e com o Nordeste<br />
eu guardo aqui no lado<br />
esquerdo do peito.<br />
No exercício da Presidência,<br />
no entanto,<br />
eu não posso misturar<br />
políticas públicas com<br />
sentimentos pessoais.<br />
Se hoje, estamos<br />
priorizando esta região<br />
e também o Norte em<br />
termos de políticas sociais,<br />
de investimentos<br />
em diversas áreas, de<br />
localização de empreendimentos<br />
de estatais<br />
é porque, para nós,<br />
chegou finalmente a<br />
hora e a vez do povo<br />
e das regiões que estiveram<br />
historicamente<br />
abandonados e marginalizados.<br />
Mesmo assim, não descuidamos<br />
do restante – hoje o nosso governo tem investimentos<br />
em 93% das quase 5 mil e 600<br />
cidades do país. Os moradores das cidades<br />
grandes podem atestar que há 30 anos não<br />
se via um volume tão grande de obras nas<br />
regiões metropolitanas.<br />
AM | Como a opinião pública pôde<br />
sentir nesta campanha eleitoral dos<br />
municípios brasileiros, o peso do apoio
do senhor aos candidatos do bloco governista<br />
foi muito grande, disputado até<br />
mesmo por oposicionistas. Esse é um<br />
fato único na política brasileira. Qual o<br />
significado disso tudo para o senhor?<br />
LULA | Na eleição, apoiei os candidatos dos<br />
partidos da nossa base por uma questão de<br />
lealdade às correntes que em linhas gerais<br />
apóiam a nossa política e participam da nossa<br />
administração. É verdade que fui apoiado<br />
e defendido inclusive por oposicionistas, o<br />
que prova que em meu governo tenho agido<br />
de forma absolutamente isenta. O tratamento<br />
que dispenso a prefeitos e governadores<br />
não leva em conta se eles gostam ou não<br />
de mim, se concordam ou não politicamente<br />
comigo, não depende de sua filiação partidária.<br />
Eu costumo olhar os interesses e<br />
principalmente as necessidades dos cidadãos<br />
do município ou do estado e não se<br />
são governados por a, b ou c. Afinal, todos<br />
são brasileiros, independentemente da região,<br />
e merecem o mesmo tratamento. Se<br />
estivesse agindo de maneira discriminatória,<br />
evidentemente não aconteceria essa coisa<br />
inédita de até adversários me apoiarem e<br />
disputarem o meu apoio.<br />
AM | Essa campanha mostrou também<br />
que o eleitorado do Nordeste e principalmente<br />
de Pernambuco continua<br />
fiel ao presidente Lula. O senhor acha<br />
que o Governo Federal, comandado<br />
por um nordestino, está dando uma<br />
contrapartida proporcional ao apoio<br />
da região à sua administração?<br />
LULA | Eu acho que acontece exatamente<br />
o contrário. São as nossas ações efetivas<br />
em favor do povo e dos estados do Nordeste<br />
que estão sendo reconhecidas pela população.<br />
O apoio recorde de mais de 80%<br />
da população, é uma retribuição. Mas nada<br />
do que tenho feito em benefício da região<br />
deve ser atribuído ao fato de eu ser nordestino.<br />
A atenção que dedico à região é devido<br />
seguramente aos ensinamentos da minha<br />
mãe, que teve uma penca de filhos. Ela dizia:<br />
“a gente sempre tem que dar atenção<br />
ao filho que está mais fraco, mais frágil. Se<br />
uma criança está vulnerável, é naquela que<br />
a mãe mais faz dengo, é aquela que a mãe<br />
mais ajuda, é aquela que a mãe bota para<br />
dormir com ela”. Olhando o Brasil como uma<br />
família, eu aplico em relação aos cidadãos<br />
o mesmo que minha mãe fazia em relação<br />
aos filhos. Não abandono nenhum estado,<br />
nenhuma região, mas procuro tratar com<br />
muito mais atenção as populações, regiões e<br />
micro-regiões que mais necessitam. Se estamos<br />
investindo pesado no Norte e no Nordeste<br />
é porque essas regiões nunca eram<br />
lembradas pelos formuladores das políticas<br />
públicas. O objetivo, que já estamos alcançando,<br />
é a redução das distâncias, tanto<br />
sociais quanto econômicas, que as separam<br />
de outras regiões do Brasil.<br />
AM | Pernambuco tem a melhor oportunidade<br />
dos últimos 50 anos com os<br />
investimentos projetados em Suape<br />
(estaleiro, refinaria). O senhor está<br />
satisfeito com o apoio federal a esses<br />
empreendimentos? Ele poderia ser<br />
maior?<br />
LULA | Eu, sinceramente, não poderia estar<br />
mais satisfeito do que estou. No total,<br />
as obras do PAC no Estado de Pernambuco<br />
envolvem investimentos de nada menos que<br />
R$ 31,4 bilhões. É uma coisa inédita, uma<br />
verdadeira revolução, com uma infinidade de<br />
obras de infra-estrutura espalhadas por todo<br />
o Estado. Outros empreendimentos u uu<br />
fevereiro ><br />
> 11
Entrevista<br />
de vulto e que nos orgulham são exatamente<br />
o Estaleiro Atlântico Sul e a Refinaria General<br />
José Ignácio de Abreu e Lima, ambos<br />
no complexo portuário e industrial de Suape.<br />
O estaleiro, maior do hemisfério sul, tem<br />
financiamento do BNDES, com recursos do<br />
Fundo de Marinha Mercante, e vai construir<br />
dez petroleiros para a Transpetro e o casco<br />
da Plataforma P-55 para a Petrobras. Aliás, a<br />
nossa estatal do petróleo poderia ter encomendado<br />
o casco fora e talvez saísse mais<br />
em conta, mas nós deixaríamos de possibilitar<br />
o surgimento de toda uma cadeia de<br />
fornecedores para o estaleiro, de injetar uma<br />
soma fabulosa de recursos na economia de<br />
Pernambuco e do Brasil, de criar milhares<br />
e milhares de empregos diretos e indiretos<br />
e de fomentar o consumo e o comércio. A<br />
refinaria é um empreendimento binacional<br />
de nada menos que R$ 8,91 bilhões, uma<br />
coisa ainda mais extraordinária se a gente<br />
levar em conta que a Petrobras construiu<br />
sua última refinaria em 1980, há quase 30<br />
anos. E o Nordeste, que nunca teve uma<br />
refinaria, agora vai ter quatro: essa em Pernambuco,<br />
em andamento, no ano que vem<br />
uma no Maranhão, uma no Ceará e outra no<br />
Rio Grande do Norte. Em outros governos,<br />
imagino que todas essas refinarias estariam<br />
sendo planejadas para o centro-sul do país,<br />
aumentando ainda mais a concentração<br />
econômica e as desigualdades regionais e<br />
sociais em nosso país.<br />
AM | Enfim, defina Lula, segundo o<br />
próprio Lula.<br />
LULA | Vou falar um pouco, mas, claro, só<br />
do que acho que são algumas qualidades<br />
minhas. Eu sou um sujeito que não costuma<br />
reclamar da vida. Para mim, nunca houve<br />
tempo ruim, nunca fiquei sentado num canto<br />
culpando os outros pelos meus sofrimentos.<br />
E olha que eu já passei por poucas e<br />
boas. Quando era criança, cheguei a acordar<br />
de madrugada em meio a enchentes, com<br />
rato subindo na cama para não morrer afogado.<br />
Em outras vezes eram fezes e baratas<br />
boiando ao lado da cama e a gente perdia<br />
tudo o que tinha juntado. Diante de todas<br />
essas dificuldades e de muitas outras que<br />
enfrentei pela vida afora, eu não ficava me<br />
queixando, resmungando, eu ia à luta todos<br />
os dias porque acreditava que era possível<br />
12 > > fevereiro<br />
mudar, evoluir, melhorar, superar os problemas.<br />
Por exemplo, em relação a essa crise<br />
internacional, eu poderia lavar as mãos,<br />
alegar que não sou o culpado – como não<br />
sou mesmo – e ficar jogando a culpa em<br />
cima dos Estados Unidos e do presidente<br />
“Eu sempre acredito<br />
que é possível<br />
encontrar saída mesmo<br />
diante de problemas<br />
que parecem<br />
não ter solução”<br />
Bush. A crise ia chegar com força, devorar<br />
milhões de empregos e afundar o país. No<br />
entanto, eu arregacei as mangas e fui à luta,<br />
reunindo todos os ministros e tomando uma<br />
série de medidas para enfrentar e atenuar<br />
os efeitos da crise, reduzindo suas conseqü-<br />
ências ao mínimo possível. Outros governos,<br />
diante de situações nem tão graves, tratavam<br />
de economizar, cortar gastos, reduzir a<br />
atividade econômica, procurando salvar as<br />
contas do país e com isso contribuindo para<br />
o aprofundamento da crise e deixando todos<br />
os trabalhadores desamparados. Eu estou<br />
fazendo exatamente o contrário: estou reduzindo<br />
impostos, investindo pesado em obras<br />
públicas, induzindo estados e municípios a fazerem<br />
o mesmo, estimulando a população a<br />
não reduzir gastos para, com isso, manter em<br />
funcionamento a roda da atividade econômica.<br />
É o meu jeito de ser e de agir: eu sempre<br />
acredito que é possível encontrar saídas mesmo<br />
diante de problemas que parecem não ter<br />
solução. Dizem por aí que eu tenho sorte e<br />
eu acho que tenho mesmo. Mas digo como<br />
o terceiro presidente americano, Thomas Jefferson,<br />
quando falaram o mesmo a respeito<br />
dele: “Eu acredito muito na sorte. Aliás, eu<br />
tenho constatado que quanto mais duro eu<br />
trabalho, mais sorte eu tenho.” n
fevereiro ><br />
><br />
13
Pensando bem<br />
jornal “Folha de S. Paulo”, na edição<br />
O do dia 27/12/08, na seção Painel,<br />
noticiou que a Câmara dos Deputados<br />
está lançando edital de licitação para a<br />
construção de um prédio de 10 andares<br />
para acomodar gabinetes parlamentares<br />
e que, segundo a primeira secretaria<br />
da Casa, “os recursos virão dos R$<br />
220 milhões obtidos com a venda para<br />
o Banco do Brasil da folha de pagamentos<br />
dos servidores da Câmara”.<br />
Esse procedimento adotado pela Câmara,<br />
de “vender” a folha de pagamentos<br />
dos funcionários, alastrou-se de tal sorte<br />
por todos os níveis de governo e esferas<br />
de poder, que é muito raro encontrar hoje<br />
em dia uma instituição pública no Brasil<br />
que não faça uso desse dispositivo. As<br />
médias e grandes corporações privadas<br />
seguiram no rastro do setor público e<br />
também passaram a negociar suas folhas<br />
de pagamento dos empregados com os<br />
diversos bancos concorrentes.<br />
O que pouca gente sabe, no entanto,<br />
é que todo esse movimento foi pioneira e<br />
originalmente levado a efeito em Pernambuco,<br />
em 2005, no governo de Jarbas Vasconcelos,<br />
e copiado desde então urbe et<br />
orbe.<br />
Com efeito, foi aqui mesmo que, pela<br />
primeira vez no país, se lançou um edital<br />
de licitação da folha de pagamentos do funcionalismo<br />
com a exigência de os bancos<br />
concorrentes terem de apresentar proposta<br />
de remuneração ao Estado pela guarda,<br />
operacionalização e aplicação financeira<br />
dos recursos neles depositados. Registrese,<br />
por oportuno, que nos contratos anteriores com o banco detentor<br />
da conta não havia cláusulas de reciprocidade financeira,<br />
ou seja, a instituição bancária não precisava remunerar o Estado<br />
pelo uso e operação dos recursos da Conta Única do Estado (que<br />
inclui a folha), que movimentou recursos do Tesouro estadual de<br />
quase R$ 6,0 bilhões, só em 2004, ano anterior à licitação.<br />
O processo todo, à época, foi amplamente elogiado no Brasil,<br />
não só pelo ineditismo de se buscar no setor público uma nova e<br />
14 > > fevereiro<br />
O original da cópia<br />
Pouca gente sabe<br />
que esse processo<br />
de ‘vender’ a folha<br />
de pagamentos<br />
dos funcionários<br />
foi pioneira e<br />
originalmente<br />
levado a efeito no<br />
governo Jarbas<br />
e copiado desde<br />
então urb et orbe<br />
Maurício Costa Romão<br />
mauricio-romao@uol.com.br<br />
substancial fonte de receitas complementares<br />
para os investimentos locais - fugindo<br />
do convencional apelo ao incremento de<br />
receitas via aumento de impostos e tarifas<br />
- mas, também, pela transparência e lisura<br />
do processo licitatório (fato reconhecido<br />
publicamente pelas instituições licitantes,<br />
mesmo as que não lograram vencer<br />
o certame): por meio de consulta pública,<br />
audiência pública, “data-room”, acompanhamento<br />
do Banco Central e do Tribunal<br />
de Contas do Estado, ampla cobertura da<br />
imprensa, e condução do processo por comissão<br />
interinstitucional de licitação, com<br />
supervisão do Núcleo de Coordenação do<br />
Governo.<br />
Como se tratava de modalidade nunca<br />
antes praticada no Brasil, houve necessidade<br />
de grande interação entre membros<br />
do governo e potenciais licitantes,<br />
possibilitando extraordinário aprendizado<br />
mútuo, que robusteceu sobremaneira a<br />
constituição final do edital, nos seus vários<br />
aspectos, entre os operacionais, jurídicos,<br />
financeiros etc.<br />
É oportuno registrar também um<br />
subproduto importante derivado da sistemática<br />
inaugurada em Pernambuco: a<br />
acirrada concorrência dos bancos pela<br />
aquisição das folhas tem sido acompanhada<br />
por mais e melhores ofertas de<br />
serviços aos correntistas, atendendo<br />
exigências expressas nos editais licitatórios,<br />
no caso dos certames públicos,<br />
e a requerimentos próprios, no âmbito<br />
da iniciativa privada.<br />
Em artigo de lavra coletiva escrito<br />
por secretários do governo de Pernambuco, publicado na<br />
imprensa local logo após o encerramento do processo de<br />
licitação, vaticinava-se em um dos parágrafos: “Há uma percepção<br />
generalizada no mercado de que o processo descrito<br />
deverá servir de parâmetro referenciador para toda e qualquer<br />
licitação da mesma natureza a ser realizada no Brasil<br />
daqui prá frente”. Apenas três anos depois se vê o quão<br />
clarividente fôra essa previsão!<br />
*Maurício Costa Romão é Ph.D. em Economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.<br />
Foi Secretário de Administração e Reforma do Estado (1999-2006) do Governo de Pernambuco.
fevereiro ><br />
><br />
15
16 > > fevereiro<br />
De Olho<br />
Edson Moura Mororó<br />
Edson Moura Mororó, falecido aos 79 anos no<br />
dia 15, transformou a fabricação de baterias de automóveis<br />
em Belo Jardim, no Agreste, num negócio<br />
mundial. Ele esteve sempre na pauta da <strong>Algomais</strong><br />
para uma grande entrevista. Seria a homenagem da<br />
revista a um verdadeiro empreendedor. Infelizmente<br />
não houve uma convergência de agendas que possibilitasse<br />
aos pernambucanos conhecer a história do<br />
homem que começou em 1957 a produzir placas de<br />
baterias até ser o maior exportador de Pernambuco,<br />
fora do segmento sucroalcooleiro. As Baterias Moura<br />
são produzidas hoje em cinco fábricas, quatro no<br />
Estado e uma em São Paulo, e equipa pelos menos a<br />
metade dos carros fabricados no Brasil.<br />
Depoimento<br />
Em depoimento à professora Adriana Abelhão, da<br />
Unicamp, há cinco anos, Edson Moura Mororó relatou<br />
o início do seu negócio:<br />
“Nasci em Belo Jardim, a 180 km de Recife, no Agreste<br />
pernambucano. Sou químico industrial, graduado<br />
pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em<br />
1952. Formado, fiz estágio num instituto de laticínios,<br />
para aprender a fazer queijo e trabalhei na fábrica do<br />
meu tio, a Doces Mariola.<br />
“Em 1957 fundei a Baterias Moura. Construí a Moura<br />
da maneira mais pobre que você pode imaginar. Conheci<br />
muitas fábricas daquela época, toscas, nenhuma<br />
delas tão tosca quanto a Moura. Eu tinha muito pouco<br />
dinheiro.<br />
“Meu curso de química industrial foi muito bom, mas<br />
não tinha conhecimento para fazer uma fábrica de baterias.<br />
Procurei meus professores e eles não conheciam<br />
praticamente nada, apenas os princípios eletroquímicos<br />
na base da fabricação. O diretor da escola<br />
indicou-me um colega do Departamento de Eletrotécnica<br />
da Universidade de São Paulo e resolvi ir até lá<br />
para dissipar minha ignorância, como costumo dizer.<br />
“Fui apresentado a um químico que tinha trabalhado<br />
10 anos na Prest-o-lite, uma empresa americana de<br />
baterias. Foi a partir daí que comecei a construir a fábrica,<br />
comprando peças num ferro velho”.<br />
Segurança privada<br />
Hoje o negócio da segurança privada<br />
é coisa no Brasil de quase R$<br />
3 bilhões, segundo dados de 2008<br />
do jornal Valor Econômico. O Grupo<br />
Nordeste, de origem pernambucana<br />
e de expressão nacional, faturou no<br />
ano passado R$ 915 milhões – R$ 70<br />
milhões só em Pernambuco - e projeta<br />
para este ano alcançar a marca<br />
de R$ 1 bilhão, o que dá a dimensão<br />
deste grupo num mercado que<br />
ainda não foi atingido diretamente<br />
pela crise financeira internacional.<br />
O diretor da empresa, Paulo Sérgio<br />
Macedo, diz estar tranquilo quanto<br />
ao ano de 2009, longe dos empréstimos<br />
bancários e com liquidez para<br />
o negócio.<br />
De fato, a demanda para segurança<br />
privada tende a continuar<br />
Fiscal<br />
alta. Os carros-fortes continuarão a<br />
transportar valores, prédios públicos<br />
e privados terão que ter vigias especializados<br />
e segurança eletrônica. De<br />
olho nisso, o Grupo Nordeste, que<br />
emprega 28.500 pessoas e possui<br />
uma frota de 800 carros-fortes, quer<br />
expandir este ano suas atividades no<br />
Norte e Nordeste.<br />
No ano passado houve um incremento<br />
de mais de 400 novos contratos<br />
nos produtos de transporte<br />
de valores, segurança patrimonial e<br />
processamento de valores. No produto<br />
segurança eletrônica, houve um<br />
crescimento de 1 mil novos clientes<br />
em 2008 de uma carteira de 14.550<br />
clientes, distribuídos na área de atuação<br />
- 19 Estados das regiões Nordeste,<br />
Norte, Sudeste e Sul.<br />
O fiscal número um da construção da fábrica da Perdigão em Bom Conselho,<br />
no Agreste, é Piuta. Francisco Alexandre, o Piuta, natural do município,<br />
é diretor administrativo do Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, e faz<br />
parte do conselho consultivo da empresa. Em todos os momentos, Francisco,<br />
que começou como contínuo no BB, esteve à frente do empreendimento: viu<br />
o terreno, negociou com a prefeitura e com a empresa. Nos fins de semana,<br />
Piuta pode ser encontrado por lá. É um filho grato à sua terra.
Guia<br />
Depois de “Um dia em Olinda”, guia diferenciado<br />
produzido por Francisco Cunha e Plínio<br />
Santos-Filho, está sendo lançado pela mesma<br />
dupla “Um dia no Recife”. Um passeio pelos<br />
monumentos da área central da Capital, escondidos<br />
pelo cotidiano. “É uma homenagem ao<br />
que o centro do Recife pode ser”, diz Cunha.<br />
Personagem<br />
Um velho conhecido do Recife está volta:<br />
o ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do<br />
Paraná, o consultor Jaime Lerner, referência<br />
internacional na solução de problemas urbanos<br />
e de transporte. A Prefeitura do Recife quer a<br />
partir de agora evitar burradas como o corredor<br />
de transporte da Avenida Conde da Boa Vista.<br />
Horário<br />
Um grupo de desembargadores do Tribunal<br />
de Justiça do Estado olha de lado o vice-presidente<br />
do TJPE, desembargador Bartolomeu<br />
Bueno. Ele anuncia por onde passa<br />
que vai este ano estimular os magistrados<br />
do tribunal a trabalharem dois expedientes.<br />
Que sigam seu exemplo. A justiça demorada,<br />
costuma dizer Bueno, é injustiça.<br />
Silêncio<br />
O Governo do Estado lançou este mês<br />
uma operação no litoral pernambucano, sobretudo<br />
nas áreas de atração turística, com a finalidade<br />
de garantir a tranqüilidade e o sossego<br />
público. A iniciativa é bastante oportuna, mas<br />
deveria ser contínua e não apenas sazonal. A<br />
operação é baseada em duas leis do deputado<br />
Augusto Coutinho, líder da Oposição.<br />
De olho no João<br />
O Observatório do Recife prepara-se para<br />
apresentar ao prefeito João da Costa em 31 de<br />
março a proposta oficial do grupo, formado por<br />
20 entidades da sociedade civil de vários segmentos<br />
e profissionais liberais. São indicadores<br />
sócioeconômicos com metas estabelecidas<br />
para o ano de 2015. Não assustará João da<br />
Costa, mas para que a cidade do Recife consiga<br />
cumprir os desafios propostos de desenvolvimento<br />
sustentável, o trabalho deve começar<br />
agora. A porta-voz do movimento, Kilsa Rocha<br />
(entrevistada na edição nº 30), diz que a maior<br />
dificuldade na formatação dos indicadores está<br />
na obtenção de dados confiáveis. Muitos a<br />
Prefeitura do Recife não tem, outros ela põe<br />
dificuldades para ceder. E isso tem atrasado o<br />
trabalho do Observatório. Kilsa Rocha acha<br />
que não vai ser possível até março entregar<br />
a João da Costa todos os indicadores e metas<br />
do OR. Mas um importante, o do Espaço<br />
Urbano, já está sendo finalizado, o que trata<br />
da infraestrutura: das vias expressas, ruas e<br />
calçadas, o grande calo das administrações<br />
do Recife.<br />
Inovações<br />
A Secretaria de Turismo de Pernambuco<br />
investe em criatividade para divulgar os roteiros<br />
turísticos do Estado. Além do projeto “Pernambuco<br />
conhece Pernambuco”, a secretaria está<br />
apostando na ação “Verão em Pernambuco” e<br />
para isso procurou caminhos alternativos para<br />
a divulgação. As ações do Estado estão sendo<br />
divulgadas nos points mais badalados das capitais<br />
do Nordeste. A investida consegue chamar<br />
a atenção pelas belas imagens e a inovação da<br />
mídia com painéis luminosos carregados por<br />
promotores.<br />
Troca<br />
Casa<br />
Antônio Magalhães<br />
ajamagalhaes@yahoo.com.br<br />
A compra da casa própria é a principal<br />
meta dos recifenses para 2009. Foi<br />
o que apontou a pesquisa do Grupo de<br />
Estudos do Macroambiente Empresarial<br />
de Pernambuco (Gemepe/Fafire) que<br />
avaliou as pretensões e metas de 650<br />
moradores da Região Metropolitana do<br />
Recife. Segundo o economista Uranilson<br />
Carvalho, coordenador do Gemepe/Fafire<br />
e responsável técnico pela pesquisa, o<br />
objetivo é informar à população, à imprensa<br />
especializada, aos diversos segmentos<br />
empresariais e governamentais sobre o<br />
comportamento dos residentes na RMR.<br />
Pretensões e Metas<br />
Comprar uma casa 14,24%<br />
Conseguir um emprego 13,25%<br />
Mudar de emprego 9,93%<br />
Fazer um curso 7,95%<br />
Voltar a estudar 7,28%<br />
Comprar um carro 5,30%<br />
Fazer exercícios físicos 4,64%<br />
Melhorar a situação financeira 3,97%<br />
Reformar a casa 3,97%<br />
Pagar as dívidas 3,97%<br />
Terminar a casa 3,64%<br />
Montar um negócio 3,31%<br />
Deixar de fumar 2,98%<br />
Casar 2,65%<br />
Viajar 2,65%<br />
Construir a casa 2,32%<br />
Emagrecer 1,99%<br />
Comprar uma moto 1,99%<br />
Arrumar um namorado 1,32%<br />
Organizar a situação financeira 1,32%<br />
Como o Parque Dona Lindu ainda não está pronto, apesar de inaugurado pelo filho dela, o<br />
presidente Lula, nos últimos dias de dezembro passado, a obra merece estar na imprensa. Um<br />
bem pensante oposicionista acha que os críticos da construção do parque erraram a estratégia.<br />
A defesa do verde versus concreto armado não convenceu a população a ponto de pressionar<br />
o então prefeito João Paulo para suspender a obra. Se fosse colocado que os R$ 30 milhões<br />
gastos no parque poderiam ser usados para retirar de Boa Viagem a Favela do Bode, dando condições<br />
de vida saudável aos habitantes dessa comunidade e aumentando a segurança urbana<br />
em Boa Viagem, certamente a população faria outra leitura.<br />
fevereiro ><br />
> 17
Municipal<br />
A primeira-dama do Recife, Marília<br />
Bezerra, empenhada na organização<br />
do Baile Municipal do Recife, dia<br />
14, no Chevrolet Hall, que terá a<br />
mesma estrutura dos últimos anos.<br />
No entanto, ela já decidiu que fará<br />
observações para fazer mudanças<br />
no próximo ano, para garantir a<br />
dinamização da famosa prévia.<br />
Futuro<br />
Em Brasília, tem-se como certo que<br />
quando se aposentar do Tribunal de<br />
Contas da União, no meio do ano,<br />
Marcos Vinícios Vilaça será convidado<br />
pelo presidente Lula para assumir uma<br />
embaixada brasileira na Europa.<br />
Corinthians<br />
Na conversa que teve com Julião<br />
Konrad, na sua recente visita ao Recife,<br />
o presidente Lula falou muito do seu<br />
Corinthians, principalmente quando<br />
descobriu que o empresário é amigo<br />
pessoal do técnico Mano Menezes.<br />
Placas<br />
A Prefeitura do Recife colocou bonitas<br />
placas nos postes de sinalização<br />
central da Avenida Boa Viagem,<br />
com o nome das ruas transversais<br />
Errou apenas na localização: como<br />
se destinam principalmente aos<br />
motoristas, deveriam ficar do lado<br />
esquerdo, onde circulam os carros que<br />
vão virar e não do lado da praia.<br />
Ponte<br />
Com amplo trânsito no Campo das<br />
Princesas, Guilherme Uchoa tem<br />
facilitado o contato dos deputados<br />
com Eduardo Campos. Mesmo<br />
parlamentares de oposição, como<br />
Ciro Coelho, têm tido seus pleitos<br />
atendidos pelo governador depois<br />
de encontros intermediados pelo<br />
presidente da Assembleia Legislativa.<br />
18 > > fevereiro<br />
João Alberto<br />
Marcelo Lyra/Divulgação<br />
n A primeira-dama do Recife, Marília Bezerra<br />
Caruaru<br />
José Queiroz tem agendado encontro com o<br />
secretário Sebastião Oliveira para definir obras<br />
de requalificação do Aeroporto de Caruaru.<br />
Quer que vôos comerciais sejam operados na<br />
cidade e já pensa em procurar a TAM para<br />
reativar o Vôo do Forró, no São João.<br />
Roberto Pereira/Divulgação<br />
n Eduardo Campos, Ciro Coelho e Guilherme Uchoa<br />
Padre Pop<br />
Na esteira do sucesso<br />
do seu colega Marcelo<br />
Rossi, de quem é fã<br />
assumido, o padre<br />
Fábio Melo é a nova<br />
sensação da música<br />
religiosa. Ele já vendeu<br />
1,2 milhão de CDs e lota<br />
todos os shows que<br />
realiza pelo país, como<br />
aconteceu com os dois<br />
que fez no Chevrolet<br />
Hall. Expectativa agora<br />
é pelo lançamento do<br />
DVD “Eu e o tempo”,<br />
que gravou no Canecão<br />
do Rio, com esmerada<br />
produção.<br />
Segurança<br />
Um dos segmentos industriais que mais<br />
cresceu em Pernambuco no ano passado<br />
foi o de empresas especializadas em<br />
blindagens de veículos. Hoje, são 14<br />
funcionando no Estado. Alguma de alto<br />
nível, outras nem tanto.<br />
Lei Seca<br />
Para tentar diminuir o alto índice de alcoolismo, principalmente entre os jovens, a Prefeitura<br />
de Berlim proibiu o consumo de bebidas em praças públicas. Além disso, obrigou os bares a<br />
colocar em todas as suas mesas suportes de cerveja com a frase “Não beba muito.”
n Antônio Campos e Fernando Pessoa<br />
joaoalberto@revistaalgomais.com.br<br />
fevereiro ><br />
> 19
Humor<br />
20 > > fevereiro
ANS - nº 306<strong>35</strong>-5<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
fevereiro ><br />
> 21
Centenário<br />
2009 celebra<br />
o Dom da Paz<br />
HOMENAGEM | Instituto pretende realizar<br />
ações no decorrer do ano que relembrem<br />
os feitos do religioso. Para virar realidade,<br />
programação depende de verba<br />
Por Marcella Sampaio<br />
“Tinha tudo para não<br />
dar certo... Ele era<br />
nordestino, mirradinho,<br />
pequeno, simples e de<br />
fala mansa... Para ele se<br />
poderia imaginar uma vida<br />
comum, igual a tantas<br />
outras dessa sofrida e<br />
incompreendida região,<br />
do grande país, Brasil”<br />
Marieta Borges<br />
Mas, a cada atitude pensada e repensada<br />
em suas vigílias diárias, Dom Helder<br />
conquistava a confiança da sociedade. Os<br />
pensamentos transmitidos nos discursos ultrapassaram<br />
os limites da Igreja. Hoje, quase<br />
10 anos após sua morte, preparativos e<br />
homenagens estão sendo organizados para<br />
comemorar, no próximo dia 7 de fevereiro, o<br />
centenário de vida do religioso que ficou conhecido<br />
como o Dom da Paz.<br />
Como nada para ele foi fácil, assim<br />
continua sendo para conseguir montar uma<br />
programação em sua homenagem. Incessantemente<br />
a equipe do Instituto Dom Helder<br />
Camara se empenha para divulgar todo<br />
22 > > fevereiro<br />
o trabalho por ele deixado, já que boa parte<br />
ainda encontra-se inédita. Mas a falta de<br />
verbas e incentivos coloca em risco o que<br />
foi planejado.<br />
Apesar do período relativamente curto<br />
após a morte dele, a diretoria já sente que<br />
os pensamentos do Dom estão caindo no esquecimento.<br />
Para que as novas gerações não<br />
deixem de conhecê-lo, foi programada uma<br />
ação para cada mês do ano do centenário de<br />
maneira que a população possa relembrar os<br />
feitos do religioso.<br />
O projeto da forma como foi concebido<br />
não seguirá em frente, pois o lançamento<br />
das Obras Completas e de um Memorial<br />
em sua homenagem já está comprometido.<br />
Apenas seis volumes poderão ser divulgados<br />
neste mês. Já o tão sonhado Memorial<br />
composto pela igreja das Fronteiras, casamuseu,<br />
espaço cultural com exposição permanente<br />
e o Centro de Documentação Helder<br />
Camara (Cedohc) não será totalmente<br />
inaugurado no centenário. Até então, a<br />
diretoria do Idehc não obteve recursos<br />
para a execução do projeto que contempla<br />
o espaço cultural, orçado em<br />
pouco mais de R$ 800 mil.<br />
Várias promessas já foram obtidas,<br />
mas poucas foram concretizadas.<br />
Das instâncias públicas, apenas<br />
a Prefeitura do Recife e os Correios<br />
efetivaram interesse. Uma escultura<br />
em homenagem ao poeta Dom Helder
n Dom Helder em conversa com o então presidente João Goulart<br />
foi encomendada pelo município. A obra será<br />
exposta em frente à igreja das Fronteiras no<br />
dia do centenário. Já os Correios vai considerar<br />
o religioso como o personagem do ano.<br />
A homenagem da instituição será através<br />
do lançamento, no dia 7 de fevereiro, do<br />
selo e do carimbo comemorativos ao<br />
centenário.<br />
Não é a comemoração por si só<br />
que aflige os seguidores do Dom, a<br />
forma como ela se dará também<br />
representa para eles outro problema.<br />
“Hoje em dia é muito bonito<br />
falar de Dom Helder, todo mundo<br />
quer fazer homenagem, a CNBB<br />
quer também participar. Muitos<br />
deputados e governadores que<br />
ameaçavam e metralhavam<br />
quando eram jovens a igreja<br />
das Fronteiras para intimidá-lo<br />
querem comemorar o centenário.<br />
Por isso, ficamos muito<br />
desconfiados com esses<br />
interesses porque antigamente<br />
ficar ao lado dele<br />
era até amaldiçoado”, disse<br />
o membro do Conselho<br />
de Curadores do Idehc Assuero<br />
Gomes. A ressalva<br />
é para que o centenário<br />
não dê cartaz, dinheiro<br />
ou até vantagem aos<br />
que organizam.<br />
Agenda<br />
33 anos de sopa<br />
Vizinha de Dom Helder durante 24 anos,<br />
a irmã Catarina Damasceno foi uma das<br />
companheiras que se identificou com a filosofia<br />
do religioso. Não apenas com palavras,<br />
mas com gestos e atitudes concretas, a re-<br />
n Religioso acreditava que crianças<br />
eram a esperança da humanidade<br />
n Arcebispo durante reflexão<br />
Quarta-feira (04 /02) 16h – Sessão solene na Câmara dos vereadores do Recife<br />
Quinta-feira (05/02) 18h (horário a definir) Sessão solene na Assembléia<br />
Legislativa. Local Tribunal de Contas do Estado<br />
Sexta-feira (06/02) 15h – Sessão solene na Câmara dos deputados em Brasília<br />
Sábado (07/02) 15h – Lançamento nacional do selo e do carimbo<br />
Local: Terraço da Igreja das Fronteiras<br />
16h – Inauguração da escultura de Dom Helder<br />
Local: Pátio externo da Igreja das Fronteiras<br />
16h20 – Lançamento do Cd “O Dom da Paz”. Local:<br />
16h30 – Concelebração Eucarística<br />
em homenagem ao centenário<br />
Local: Pátio externo da Igreja das Fronteiras<br />
ligiosa segue os passos do arcebispo dando<br />
continuidade à luta em prol dos pobres.<br />
Pontualmente às 16h, em frente à igreja<br />
das Fronteiras a irmã recorda o pedido feito<br />
pelo Dom “não deixe esses pobres morrer<br />
nem de fome, nem de miséria” ao servir<br />
sopa iniciada no dia 3 de março de 1975.<br />
O ato que surgiu de uma angústia ao ver<br />
os moradores de rua comendo barro, sal e<br />
pimenta do reino, hoje, é alimento de boa<br />
parte dos pobres que vivem pela região.<br />
“Gente de todo tipo se junta aqui para receber<br />
a comida e tomar um café. São 18 a 20<br />
litros por dia de sopa de segunda a sexta-feira<br />
que fazemos graças às ajudas que recebemos”,<br />
disse Catarina Damasceno.<br />
u uu<br />
fevereiro ><br />
> 23
Centenário<br />
O preço da cruz<br />
Conhecido pelos seus seguidores como<br />
peregrino da paz e da esperança, Dom Helder<br />
Camara saiu do Ceará para fazer história<br />
no mundo. Acusado de comunista e apelidado<br />
de bispo vermelho, o eclesiástico fez<br />
frente ao regime político que atordoava as<br />
estruturas do Brasil. Arriscando a si mesmo<br />
e a sua posição hierárquica manteve-se<br />
firme no seu propósito contra a injustiça<br />
social. Mas o preço da sua luta custou-lhe<br />
caro e além da perseguição política, o Dom<br />
sofreu com a religiosa.<br />
“Arriscando a si mesmo e sua posição<br />
hierárquica, Dom Helder levantou-se ostensivamente<br />
contra a Ditadura e foi perseguido.<br />
Proibiram que dissessem o seu nome em<br />
jornais, em televisão ou em qualquer lugar.<br />
Dedicaram um programa especial na televisão<br />
nacional acusando-o de não ser patriota<br />
e de odiar o Brasil”, conta o PhD e professor<br />
do Departamento de História da Universidade<br />
Federal, Severino Vicente.<br />
Os seus atos contrários a Ditadura o tornaram<br />
referência internacional na defesa dos<br />
direitos humanos e lhe renderam quatro indicações<br />
para o Nobel da Paz. Mas o regime<br />
militar não permitiu que a candidatura seguisse<br />
em frente e juntamente com a embaixada<br />
brasileira em Oslo articulou uma campanha<br />
contrária, alegando que se a homenagem<br />
fosse atribuída ao religioso grandes indústrias<br />
da Suécia no país poderiam ser prejudicadas.<br />
A repercussão da ação dos militares fez com<br />
que Dom Helder fosse o primeiro católico a<br />
receber um prêmio dos japoneses, o Niwano<br />
Peace Foundation (1983).<br />
“Quando o país estava totalmente oprimido,<br />
Dom Helder aparece com essa coragem.<br />
Efetivamente outros Bispos fizeram esse trabalho,<br />
mas ninguém mais do que ele fez tão<br />
bem para o país que os ditadores se levantassem<br />
contra a concessão do Prêmio Nobel<br />
da Paz. Dom Helder foi um fulano que viveu o<br />
século 20 como um todo. O religioso serviu<br />
ao Brasil no momento crucial. Muito do que<br />
nós temos hoje de liberdade e democracia<br />
evidentemente não foram inventados por ele,<br />
mas a ação dele, a capacidade e a coragem<br />
de apresentar-se à sociedade em seu famoso<br />
24 > > fevereiro<br />
n Com a saída de Dom Helder, arquidiocese ganha novo direcionamento<br />
discurso em Paris, onde ele denuncia o Brasil<br />
por praticar torturas, lhe renderam o ódio das<br />
centenas de pessoas que viviam das benesses<br />
do regime”, explica Severino Vicente.<br />
O incômodo que ele causou ao regime<br />
militar foi sentido logo no seu discurso de<br />
posse, em 1964. Enquanto todos esperavam<br />
um pronunciamento conservador, sobre<br />
a tradição da família, da sociedade, Dom<br />
Helder surge dizendo que veio para ajudar<br />
os excluídos e iria colocar-se ao lado dos<br />
pobres. “Durante todo o seu arquiepiscopado<br />
os militares o consideraram um opositor<br />
e ele teve personalidade, tanto que lutou<br />
muito, mas pôde cumprir sua missão, grande<br />
ajuda para impedir a Igreja de participar<br />
de algumas atitudes da ditadura”, lembra o<br />
bispo emérito de Nova Friburgo (RJ), Dom<br />
Clemente Isnard.<br />
Em pouco tempo de arquiepiscopado, organizou<br />
a Operação Esperança favorecendo<br />
a criação dos conselhos de moradores nos<br />
bairros pobres e nas periferias. Incentivou a<br />
luta por água nas casas, nas ruas, limpeza<br />
pública. Quando os militares endureceram o<br />
regime, em 1968 com o AI- 5, o Dom surgiu<br />
com o movimento chamado Pressão Moral<br />
Libertadora. A organização de confronto ti-<br />
nha como objetivo provocar mudanças sem<br />
a violência, mas a repressão fez com que a<br />
manifestação durasse pouco tempo.<br />
O regime militar se impôs até no exercício<br />
da sua tarefa como religioso. “Há um<br />
momento incrível que aconteceu na inauguração<br />
da restauração da igreja da Sé. Nesse<br />
dia, havia uma corda ao redor da Igreja<br />
e policiais que só liberavam a entrada das<br />
pessoas que fossem fazer parte da cerimônia.<br />
Quando Dom Helder chegou, um policial<br />
disse que ele não estava na lista e houve<br />
um levante geral, pois a única pessoa que<br />
não poderia faltar ali era ele, porque a Igreja<br />
era dele, ele era o arcebispo. Mas acabaram<br />
deixando-o entrar, porém no outro dia a<br />
imprensa trazia apenas as fotos em que ele<br />
não aparecia, era como se o Dom não estivesse<br />
lá”, revela a historiadora Marieta Borges,<br />
que na época era secretária de Olinda.<br />
Por causa da oposição à ditadura, sua<br />
possível nomeação como cardeal (grupo que<br />
elege o papa) acabou não sendo concretizada.<br />
Mas até seus últimos dias o arcebispo descartava<br />
a relação do título cardinalício com o<br />
regime. “Essa história de cardeal não tem nada<br />
com política nem governo”, assegurou em entrevista<br />
ao Jornal do Commercio. u uu
fevereiro ><br />
><br />
25
Centenário<br />
Perseguição religiosa<br />
Na Igreja, o profeta, como é conhecido<br />
pelos seguidores, chamou a atenção, foi divisor<br />
de águas e provocou até ciúmes no Papa.<br />
“Seu brilho ofuscou o cardeal do Rio de Janeiro<br />
e Paulo VI teve de procurar às pressas um<br />
justo canto para ele. Pensou em São Luís do<br />
Maranhão e dizem que a nomeação já estava<br />
feita quando de repente vem a falecer numa<br />
intervenção cirúrgica o grande arcebispo de<br />
Olinda e Recife, Dom Carlos Gouveia Coelho.<br />
Facilmente em Roma se corrige a nomeação<br />
e por ordem de Paulo VI, o padre nordestino,<br />
com sua simplicidade, se torna o sucessor do<br />
Dom Frei Vital, o Bispo de Olinda e Recife”,<br />
lembra Dom Clemente Isnard.<br />
Seus ideais inovadores provocaram a<br />
inquietude do Vaticano. Ao chamar para a<br />
necessidade da vida conforme Deus quer, o<br />
Dom da Paz colocou em questão a suntuosidade<br />
e riqueza da Igreja. “Em uma carta que<br />
se refere às comemorações de Cristo Rei,<br />
dom Helder reza e pede perdão a Jesus pelo<br />
luxo que a Igreja esbanjava. Por que é que a<br />
festa do Cristo Rei não abria as portas do Vaticano<br />
e chamava os pobres para participar da<br />
comemoração? Essa visão crítica não interessa<br />
para a Igreja. Roma não quer um exemplo<br />
desses que questione a sua própria estrutura.<br />
Assim como Jesus, Dom Helder não foi bom<br />
nem para o sistema de governo, nem para a<br />
Igreja. Enquanto o Brasil teve abertura política<br />
na década de 80, o Vaticano o censurou<br />
aqui dentro”, disse o membro do Conselho de<br />
Curadores do Idehc Assuero Gomes.<br />
As dificuldades com a estrutura milenar<br />
da Igreja foram sentidas ao longo de todo o<br />
seu trabalho. Ainda no ‘reinado’ de Paulo VI,<br />
Dom Helder sofreu retaliações não diretamente<br />
do papa, mas das pessoas que o cercavam.<br />
Com João Paulo II o problema tornouse<br />
ainda maior, sua árdua experiência com o<br />
fascismo, nazismo e o comunismo o fez ver<br />
no capitalismo uma liberdade até então nunca<br />
experimentada. “Para ele, o grande dragão<br />
é o comunismo, então quando vem para a<br />
linha ocidental João Paulo II não consegue<br />
ver que a liberdade do capitalismo apenas<br />
era possível com a exploração de milhões de<br />
homens no mundo. Já Dom Helder observava<br />
26 > > fevereiro<br />
n Dom Helder com o João Paulo II durante a visita do Santo Padre ao Recife<br />
n Dom Helder em encontro com general Souza Aguiar, durante a Ditadura Militar<br />
que a luta era necessária para acabar com as<br />
injustiças de ambos os sistemas. Então quando<br />
João Paulo II assume o poder, um direcionamento<br />
mais espiritual é dado à Igreja para<br />
evitar que os católicos virem comunistas”,<br />
explica Severino Vicente.<br />
O medo de que os católicos perdessem<br />
a fé fez o Papa João Paulo II enrijecer o pensamento<br />
conservador. Depois da renúncia<br />
obrigatória de Dom Helder, Roma mandou<br />
dentro de um ano o sucessor que viria a ser<br />
Dom José Cardoso. O novo arcebispo chegou<br />
instruído para reforçar a estrutura da Igreja visando<br />
minar as forças do sistema comunista.<br />
Sempre acusado de comunista, Dom Helder<br />
foi o primeiro a sofrer com as decisões de<br />
Dom José e sob o cargo de arcebispo emérito<br />
permaneceu calado ao conferir os desmontes<br />
da arquidiocese de Recife e Olinda. A nova<br />
estrutura impôs o retrocesso à liberdade e
n Censura militar proibiu qualquer menção ao arcebispo que só podia falar<br />
nos púlpitos das igrejas e na rádio Olinda<br />
pensamento do Concílio Vaticano Segundo,<br />
que com a forte atuação do Dom da Paz tentou<br />
adaptar a Igreja aos tempos modernos.<br />
“Este ambiente conservador e fechado<br />
continua, e muitos da cúpula da Igreja gostariam<br />
que a memória do Dom fosse esquecida<br />
ou, ao menos, domesticada, mas há sempre,<br />
como o próprio Dom Helder chamava, ‘minorias<br />
abraâmicas’ que continuam insistindo no<br />
caminho e nas propostas dele”, revela o monge<br />
beneditino e escritor Marcelo Barros.<br />
A prova disso é que mesmo com as<br />
mudanças, a sociedade pernambucana ainda<br />
lembra os atos de Dom Helder e revela a<br />
vontade de vê-lo ser elevado ao altar como<br />
santo. Apesar de muitos considerarem quase<br />
impossível, ecoam poucas opiniões otimistas,<br />
que defendem a tese de que a sede<br />
da Igreja Católica de fazê-lo santo mostrará<br />
que ao eternizar Dom Helder a instituição<br />
estaria se atualizando. Para os que pensam<br />
o contrário, a beatificação do Dom nunca vai<br />
sair porque ele não tinha o perfil obediente,<br />
como exige a estrutura da Igreja.<br />
Já os que acreditam na beatificação<br />
não criam expectativas para um futuro próximo.<br />
“Dom Helder é um santo, sem dúvida,<br />
a vida que ele viveu dá razão para isso, mas<br />
a legalização à subida dos altares é difícil. A<br />
gente acredita que o nosso Dom alcançou a<br />
santidade tanto que alguns ainda arriscavam<br />
chamá-lo de meu santinho quando ele estava<br />
vivo. Mas, quando diziam isso, ele falava logo<br />
‘ser santo padre não é mérito de alguns é mérito<br />
de todos, todos nós devemos ser santos’.<br />
Dom Helder acreditava que aquilo realmente<br />
não era para ele”, revela Marieta Borges.<br />
Apesar de entenderem que a beatificação<br />
seria uma homenagem ao legado deixado<br />
por Dom Helder, o assunto não preocupa<br />
tanto os seguidores, que se confortam por<br />
entenderem que não interessaria ao religioso.<br />
Segundo o padre João Pubben, era muito<br />
provável que Dom Helder fosse até contra<br />
o processo porque é muito dispendioso. “Ele<br />
ficaria muito mais feliz se esse dinheiro fosse<br />
gasto para promover o irmão e alimentar<br />
famílias. Dom Helder já é santo. Quem em<br />
vida serve e ama o irmão é santo, não precisa<br />
ser oficialmente.”<br />
u uu<br />
Arcebispo<br />
sonhava<br />
acabar com<br />
a miséria<br />
“Na pobreza,<br />
o indivíduo tem o<br />
indispensável para<br />
viver, mas na miséria,<br />
nem o indispensável<br />
existe” Dom Helder Camara<br />
Peregrino da paz e precursor da luta<br />
contra a desigualdade social, Dom Helder<br />
morreu sem conseguir alcançar o seu<br />
objetivo principal: o Ano 2000 Sem Miséria.<br />
A campanha traçada em 1995 tinha<br />
como objetivo acabar com a desnutrição<br />
infantil. O simples trabalho, que dependia<br />
da vontade que a sociedade tinha de mudar<br />
a situação, não obteve resultado.<br />
Segundo a irmã Catarina Damasceno,<br />
ajudar aos pobres era uma felicidade<br />
muito grande para o Dom. “O dinheiro<br />
que ele tinha era na mão do próximo.”<br />
Os prêmios internacionais recebidos em<br />
dinheiro deram início à reforma agrária no<br />
Estado. “Com a quantia Dom Helder comprou<br />
três engenhos que até hoje existem<br />
e a terra está sob a posse das pessoas<br />
que lá foram morar. A luta dele ainda conseguiu<br />
que o governo assentasse várias<br />
famílias do Tururu”, revela a historiadora<br />
e integrante da diretoria do Idhec, Marieta<br />
Borges.<br />
Para alertar a humanidade da gravidade<br />
do problema que fazia com que poucos<br />
tivessem muito e muitos tivessem pouco,<br />
Dom Helder escreveu a letra da “Sinfonia<br />
dos Dois Mundos”, musicada pelo maestro<br />
Pierre Kaelin. A obra, que por ele era<br />
recitada, mostra todo o momento de desespero<br />
do homem no mundo da miséria,<br />
pobreza, da exclusão e acaba revelando a<br />
sociedade que a esperança são as crianças.<br />
u uu<br />
fevereiro ><br />
> 27
Centenário<br />
Dom Helder, o pastor dos homens<br />
Companheiro de todas as horas, o padre<br />
Edvaldo Gomes revela detalhes das<br />
atividades eclesiásticas de Dom Helder.<br />
Nesta entrevista a <strong>Algomais</strong>, o pároco da<br />
igreja de Casa Forte conta que o Dom da Paz<br />
não se intimidava nem com a figura do Papa<br />
e que era respeitado e amado pelo valor<br />
dele. “Ele não era temido, porque às vezes<br />
os arcebispos se impõem aos padres pela<br />
força, pela autoridade e não pelo respeito.”<br />
<strong>Algomais</strong>| Porque Dom Helder se distinguiu<br />
dos demais religiosos?<br />
Pe. Edvaldo| A Igreja de Dom Helder não<br />
era uma Igreja desencarnada, nunca foi, ele<br />
não se dizia pastor de alma, se dizia pastor<br />
de homens e mulheres e essa consciência<br />
ele teve. Isso o distinguiu muito porque tudo<br />
que interessava à humanidade interessava a<br />
Dom Helder. Ele foi uma pessoa que esteve<br />
presente em todas as coisas importantes<br />
para o desenvolvimento do Brasil e o fez<br />
um país melhor. Com relação a Igreja, a sua<br />
fidelidade não o tornou uma pessoa subserviente.<br />
Dom Helder disse ao Papa, aos<br />
Bispos o que ele achava que deveria dizer<br />
sem se preocupar se aquilo desagradaria ou<br />
não desagradaria. Essa independência dele<br />
é característica de um profeta, o profeta é<br />
um homem que anuncia as coisas boas de<br />
Deus e denuncia os problemas dos homens<br />
e o faz com coragem se preocupar se vai ou<br />
não agradar. Dom Helder fez isso ao longo<br />
de sua vida. Só isso o marca muito.<br />
Am| As denúncias de Dom Helder complicava<br />
o relacionamento dele dentro<br />
da Igreja?<br />
Pe.| Sim. Dom Helder era uma pessoa que<br />
inquietava, ele não deixava ninguém em paz,<br />
as pregações, as considerações e a reflexão<br />
dele faziam a gente pensar, e pensar para<br />
mudar. Isso incomodou os Bispos e as autoridades<br />
acomodadas que não aceitaram, no<br />
bom sentido da palavra, os ideais revolucionários<br />
por serem demais conservadores.<br />
Am| O fato de Dom Helder estar sempre<br />
inquietando as pessoas trouxe um<br />
avanço para a Igreja?<br />
28 > > fevereiro<br />
Pe.| Trouxe para os de boa vontade. Aqueles<br />
que entenderam a mensagem de Dom<br />
Helder participaram de uma nova fase da<br />
Igreja, a qual está preocupada com o homem<br />
todo de corpo e alma. Dom Helder viveu a<br />
Teologia da Libertação a partir da consciência<br />
de que o Evangelho é profundamente<br />
revolucionário, a gente é que adapta ele.<br />
Am| Os militares proibiram que Dom<br />
Helder aparecesse na imprensa. Como<br />
foi essa fase para ele?<br />
Pe.| Foi o período mais duro para ele. Dom<br />
Helder tinha uma convicção muito forte do<br />
poder da imprensa e do poder, sobretudo,<br />
da televisão. Ele tinha ânsia de passar mais<br />
adiante as idéias chaves que ele tinha para<br />
que a sociedade fosse fraterna.<br />
Am| Essas idéias chaves de Dom Helder<br />
permanecem vivas?<br />
Pe.| No idealismo de algumas pessoas,<br />
sim. Mas, de modo geral, não. A sociedade<br />
é muito acomodada e o período da revolução<br />
aqui no Brasil foi péssimo, foi um obscuro,<br />
que criou no povo certo medo. Fomos<br />
marcados pelo fato de que dizer a verdade<br />
era pecado, era grave, havia tortura, massacre<br />
desaparecimento, quem é que não tem<br />
medo dessas coisas?<br />
Am| Há atualidade nas pregações de<br />
Dom Helder?<br />
Pe.| Apesar de fazer quase dez anos da morte<br />
dele, eu sinto que a Igreja de Olinda e Recife não<br />
deixou de caminhar sob a luz do que ele deixou.<br />
Apesar de uma nova filosofia e de outro modo<br />
de ser Igreja terem se instalado não conseguiram<br />
abafar a voz do profeta. Agora nesse centenário<br />
veremos quanta coisa vai sair e como ele<br />
ainda está vivo na mente do povo.<br />
Am| Dom Helder desempenhou alguns<br />
papéis políticos. Essa experiência contribuiu<br />
para a desenvoltura dele na<br />
vida religiosa?<br />
Pe.| Eu diria que o contato dele com a realidade<br />
temporal e com a política o amadureceu<br />
mais e o fez cada vez mais, capaz de ser<br />
quem ele foi na revolução. Ele era o homem<br />
indicado para lutar contra a revolução, somente<br />
assim eu entendo porque Deus permitiu<br />
que Dom Carlos Coelho morresse em<br />
uma cirurgia simples.<br />
Am| Interessa a Igreja o processo de<br />
beatificação de Dom Helder?<br />
Pe.| Acredito que sim. Acho que quando passar<br />
essa fase negra que a arquidiocese de Olinda<br />
e Recife tem vivido, quando tudo passar,<br />
serenar e morrerem essas pessoas contrárias<br />
às idéias de Dom Helder, pessoas sensatas<br />
irão trazer à tona o pensamento dele. Mas ele<br />
mesmo não estaria preocupado com isso.<br />
Am| A tendência da Igreja é permanecer<br />
conservadora?<br />
Pe.| Há uma tentativa de voltar ao passado<br />
conservador, saudade da figura do Egito. Mas,<br />
eu acredito que nós vamos ter na Igreja novos<br />
momentos, até pelo conhecimento que os leigos<br />
estão tendo, porque a Igreja não é apenas o<br />
Papa, os Bispos e os padres, são todos. Graças<br />
a Deus há muitos leigos estudando e se formando<br />
em Teologia, eu espero que essas idéias<br />
aflorem. Olhando direitinho, a crise que nós estamos<br />
vivendo não é uma apenas da Igreja, é do<br />
mundo. Estamos vivemos em uma sociedade<br />
muito acomodada. Então eu acredito que essa<br />
crise que o mundo vive, e a Igreja está dentro<br />
desse mundo, vai passar. Agora prognosticar se<br />
vai demorar muito ou pouco, eu acredito que as<br />
mudanças demoram, sobretudo, na Igreja. n
As enxergâncias do Dom<br />
Por Fernando Antônio Gonçalves<br />
Lembro-me como se fosse hoje: meu pai,<br />
em 1968, mostrando-me, entusiasmado,<br />
um livro de Dom Helder Camara, “Revolução<br />
Dentro da Paz”, editado naquele ano pela<br />
Sabiá. O “velho”, de personalidade conservadora,<br />
ainda que nunca reacionária, admirava<br />
profundamente a ação pastoral do Dom<br />
e os seus pronunciamentos a favor de um<br />
mundo mais humanizante. E se extasiava<br />
com as reflexões analíticas do arcebispo,<br />
principalmente com sua afiadíssima capacidade<br />
sementeira de pugnar por novos amanhãs<br />
civilizatórios.<br />
O livro, coletânea de reflexões feita por<br />
um grupo de admiradores, quarenta anos<br />
depois e às vésperas do centenário de nascimento<br />
de Dom Hélder Câmara, merece ser<br />
cuidadosamente guardado. Ele proporciona<br />
um panorama das principais preocupações<br />
do Dom. Sua visão evolucionista, por exemplo,<br />
é explicitada de modo cristalino, através<br />
de uma conclusão pra lá de sutil: “custaram<br />
alguns a entender que o essencial a salvar<br />
– ontem, hoje e sempre – é a presença do<br />
Criador e Pai. O mais é maneira de contar ao<br />
alcance de todos”.<br />
Diante do maniqueísmo dos tridentinos<br />
e fundamentalistas contemporâneos,<br />
o Dom, há mais de quarenta anos, já dizia<br />
que “a oposição excessiva, feita por alguns,<br />
entre matéria e espírito, corpo e alma, quase<br />
firmava a convicção de que o espírito, sim, é<br />
criação de Deus, mas o corpo é quase criação<br />
do diabo”. E concordava com o teólogo<br />
Chenu, quando este afirmava que “a carne<br />
não pode ser sempre tida como sinônimo de<br />
pecado, de vez que o Verbo se fez carne e<br />
habitou entre nós”.<br />
Aplaudindo um humanismo bíblico e<br />
cristão, o Dom acreditava que o cristianismo<br />
somente se fortaleceria através de um<br />
desenvolvimento científico evolucionário,<br />
por “acolher o que há de verdade em todos<br />
os humanismos, inclusive os ateus, por mais<br />
unilaterais e agressivos que se tornem”. E<br />
reconhecia no ser humano “o direito e o dever<br />
de dominar a terra e completar a criação”,<br />
cabendo ao próprio capacitar-se em<br />
todos os campos do saber”.<br />
No livro, o Dom enviou um recado aos<br />
economistas da época: “Querem os economistas<br />
um bom começo para a revolução<br />
a empreender contra o econômico pelo<br />
econômico ...? Passem a bater-se pelo reconhecimento<br />
de que os mais rentáveis investimentos<br />
são os vinculados diretamente<br />
à formação do homem. Valorizem o homem<br />
como o centro e o fim da atividade econômica”.<br />
Recomendação ainda válida para os<br />
tempos de agora, dada a advertência de<br />
Bárbara Ward, uma extraordinária figura<br />
humana daquele tempo, que o próprio Dom<br />
reproduzia para seus colaboradores: “A riqueza,<br />
aliada à indiferença, atrai o castigo<br />
clássico que é, por indiferença e dureza de<br />
coração, perder contato com os anseios das<br />
grandes massas da Humanidade”.<br />
Sei da imensa admiração<br />
sentida por Dom<br />
Maurício Andrade, Bispo<br />
Primaz da Igreja Episcopal<br />
Anglicana do Brasil,<br />
pelo sempre amado<br />
Dom Hélder Câmara. E<br />
foi dele que, outro dia,<br />
ouvi uma reflexão feita<br />
pelo Dom, ressaltando<br />
os dois ângulos de uma<br />
visão entorpecida: “...<br />
quando dou pão aos<br />
pobres, chamam-me de<br />
santo, quando pergunto<br />
pelas causas da pobreza,<br />
me chamam de comunista.”<br />
Ratificando o pensar<br />
de Dom Hélder Câmara<br />
– “quase sempre<br />
o ateísmo nasce de<br />
deficiências na vida e<br />
no pensamento dos<br />
crentes” – sonho com<br />
a efetivação de um Movimento<br />
Solidariedade<br />
& Libertação, que congregasse<br />
os que amam<br />
o Homão da Galiléia,<br />
independentemente<br />
das denominações religiosas,<br />
estas hoje em franco declínio por<br />
descontemporaneidade. Um Movimento<br />
que ensejasse iniciativas que favorecessem<br />
a desalienação de milhares. Com uma justificativa<br />
que vem do próprio Dom: “É urgente<br />
evitar que os jovens se convençam de que a<br />
Igreja é mestra em preparar grandes textos<br />
e sonoras conclusões, sem a coragem de<br />
levá-las à prática”.<br />
Os balizamentos do Movimento seriam<br />
voltados para uma reflexão-ação eminentemente<br />
binoculizadora, por derradeiro antecipadora<br />
de amanhãs, percebendo-se todos<br />
metamorfoses ambulantes.<br />
Fernando Antônio Gonçalves é professor<br />
universitário e pesquisador social<br />
fevereiro ><br />
> 29
30 > > fevereiro<br />
Política<br />
Política sem mandato<br />
possível se fazer política sem<br />
É mandato? Sim. Algumas pessoas<br />
fazem-na durante toda sua<br />
vida sem nunca ter exercido um<br />
cargo eletivo ou cargo de confiança<br />
na administração pública.<br />
Chamo aqui política o comportamento<br />
(inclusive o omissivo)<br />
intencional voltado a influir em<br />
decisões governamentais.<br />
As categorias se dividem<br />
em praticamente dois grupos:<br />
a) os com influência sobre a formação<br />
da opinião pública e; b)<br />
os com capacidade de financiar campanhas eleitorais. O poder<br />
aqui é geralmente maior do que o decorrente da maioria dos<br />
cargos eletivos.<br />
Jornalistas, radialistas, empresários, artistas, professores, estão<br />
entre as carreiras com forte propensão à participação política.<br />
Alguns empresários fazem política financiando campanhas,<br />
escolhendo candidatos que possam representar seus interesses.<br />
Vale registrar que, na maioria dos casos (exceto para aqueles<br />
poucos que ainda pregam: quem bate cartão não vota em patrão)<br />
políticos de partidos distintos, do PT aos Democratas, recebem<br />
financiamento das mesmas fontes empresariais.<br />
Um novo ator que surge, em decorrência da popularização<br />
no uso da internet, é a do blogueiro. O blogueiro não é jornalista,<br />
embora jornalistas possam ter blogs. Devido ao seu baixo<br />
custo, sua grande versatilidade e informalidade qualquer pessoa<br />
hoje pode ter seu próprio meio de difusão de idéias mediante<br />
um simples site na Internet. É espantoso o número crescente de<br />
pessoas que se informam por este meio. Os blogueiros muitas<br />
vezes conseguem pautar os jornais, como por exemplo, aqui em<br />
Pernambuco tem sido o caso do blog Acerto de Contas (www.<br />
acertodecontas.blog.br). Não sei como os profissionais da im-<br />
André Regis<br />
andreregis@revistaalgomais.com.br<br />
prensa vêem a expansão nessa<br />
área.<br />
Não podemos esquecer dos<br />
que fazem política através de<br />
suas associações profissionais ou<br />
estudantis. Não é por outro motivo<br />
que grande parte dos políticos<br />
tem origem nesses movimentos<br />
sociais, notadamente, a partir da<br />
CUT e da UNE. Apesar de serem<br />
organizados para lutar por melhores<br />
condições de trabalho ou de<br />
ensino para seus associados, essas<br />
organizações exercem forte<br />
papel político, principalmente, mobilizando, ou não, pessoas contra<br />
o governo. Elas atuam politicamente quando fazem barulho,<br />
e vão para as ruas, como no impeachment de Collor, ou quando<br />
vergonhosamente silenciam como no escândalo do mensalão.<br />
E por falar nisso, em novembro teremos uma importante eleição:<br />
a sucessão da atual gestão estadual da Ordem dos Advogados<br />
do Brasil, comandada por Jayme Asfora, da qual faço parte<br />
como conselheiro federal. É interessante observar que essa é<br />
uma eleição que movimenta não apenas os advogados, mas<br />
vários setores da sociedade. Trata-se de um processo eleitoral<br />
complexo e caro, travado com a intensidade própria de eleições<br />
majoritárias. Isso em decorrência do fato de a OAB, além de órgão<br />
de regulamentação e de fiscalização do exercício profissional<br />
da advocacia, ter a missão constitucional de zelar também pela<br />
ordem jurídica e democrática. Ou seja, a própria Constituição coloca<br />
a OAB como órgão político. Daí a sua importância.<br />
A conclusão que chegamos é que, praticamente, de um modo<br />
ou de outro, todo mundo faz política. Entretanto, precisamos de<br />
mais gente fazendo política partidária, pois o ambiente partidário<br />
é o local onde os diversos setores de uma sociedade plural devem<br />
se encontrar para discutir e planejar o nosso futuro.
TCE FARÁ SEMINÁRIO PARA NOVOS PREFEITOS PERNAMBUCANOS<br />
Para capacitar tecnicamente a nova safra de prefeitos e presidentes de Câmaras Municipais do Estado de Pernambuco, empossados dia 1º de<br />
janeiro deste ano, o Tribunal de Contas do Estado promoverá um seminário a eles destinados nos dias 3,4 e 6 de fevereiro próximo.<br />
De acordo com o presidente do TCE, conselheiro Severino Otávio, a programação foi elaborada conjuntamente pela Coordenadoria do Controle<br />
Externo, o Departamento de Controle Municipal e a Escola de Contas Públicas Professor Barreto Guimarães.<br />
A idéia do Tribunal de Contas é que os novos gestores pernambucanos tenham uma visão geral sobre a administração pública por meio de<br />
várias palestras que versarão sobre o quotidiano dos seus municípios.<br />
Pela programação elaborada, o seminário será aberto às 9 horas da manhã do dia 3 de fevereiro (terça-feira), pelo presidente Severino Otávio,<br />
no novo edifício-sede do TCE (Rua da Aurora, 885 – 10º andar).O restante da programação ficou assim constituída:<br />
03 de fevereiro<br />
Horário<br />
09h15<br />
10h<br />
10h50<br />
11h<br />
11h20<br />
12h<br />
12h10<br />
14h10<br />
14h50<br />
15h<br />
15h40<br />
15h50<br />
16h10<br />
16h50<br />
17h<br />
Tema<br />
TCE e os Municípios<br />
Lei de Responsabilidade Fiscal<br />
Perguntas<br />
Intervalo<br />
Controle Interno Municipal<br />
Perguntas<br />
Intervalo para almoço<br />
Processo Orçamentário Municipal<br />
Perguntas<br />
Previdência Municipal<br />
Perguntas<br />
Intervalo<br />
Aposentadoria no serviço público<br />
Perguntas<br />
Encerramento<br />
Palestrante<br />
Vadecir Pascoal<br />
Jackson Oliveira<br />
Luciane Cartaxo<br />
Taciana Mota<br />
Ricardo Souza<br />
Marconi Karley e Araken Ipiranga<br />
04 de fevereiro<br />
Horário<br />
08h30<br />
09h10<br />
09h20<br />
10h<br />
10h10<br />
10h30<br />
11h10<br />
11h20<br />
12h<br />
12h10<br />
14h10<br />
15h<br />
15h10<br />
16h<br />
16h10<br />
16h20<br />
17h<br />
17h10<br />
Tema<br />
Saúde Pública nos Municípios<br />
Perguntas<br />
Educação Pública nos Municípios<br />
Perguntas<br />
Intervalo<br />
Licitações e Contratos<br />
Perguntas<br />
Prefeito como agente empreendedor<br />
Perguntas<br />
Almoço<br />
Gestão de Custos<br />
Perguntas<br />
Gestão de obras e serviços<br />
Perguntas<br />
Intervalo<br />
Responsabilização dos gestores públicos<br />
Perguntas<br />
Coquetel de encerramento e entrega dos certificados<br />
Palestrante<br />
Luciene Cartaxo e Júlio Cézar Rodrigues<br />
Ricardo Ferreira<br />
Andréa Magalhães<br />
Alandeives Souto<br />
Isaac Seabra<br />
Gustavo Pimentel<br />
Cristiano Pimentel<br />
Foto: Ana Rosa Passos<br />
fevereiro ><br />
> 31
Gestão Mais<br />
32 > > fevereiro<br />
Diversidade como<br />
vantagem competitiva<br />
Você já ouviu falar em Gestão<br />
da Diversidade? Esse conceito<br />
vem ganhando cada vez mais espaço<br />
nas empresas, em especial<br />
naquelas preocupadas em manter<br />
um ambiente criativo e inovador.<br />
Investir na diversidade significa<br />
estimular a presença, nas equipes<br />
de trabalho, de profissionais com<br />
diferentes perfis, formações, raça,<br />
gênero, idade e experiências. A<br />
premissa básica é que um grupo<br />
com características heterogêneas,<br />
desde que devidamente integrado<br />
e focado nos mesmos objetivos,<br />
torna o ambiente de trabalho mais<br />
enriquecedor e produtivo.<br />
A diversidade já vinha ganhando<br />
terreno nas organizações<br />
desde a disseminação dos princípios<br />
de Responsabilidade Social nas empresas. O manual do<br />
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (2002)<br />
diz que, ao estimular a diversidade e atuar contra a discriminação,<br />
a empresa fortalece o respeito mútuo entre as pessoas,<br />
o reconhecimento de suas particularidades e o incentivo à sua<br />
criatividade e cooperação.<br />
O que muitos gestores têm percebido é que o estímulo<br />
à diversidade, além de ser uma prática socialmente responsável,<br />
pode gerar ganhos significativos para a produtividade<br />
e desempenho da empresa. Teoria comprovada na pesquisa<br />
“Gestão da diversidade: além de responsabilidade social, uma<br />
estratégia competitiva”, coordenada por Martius Vicente Rodriguez<br />
y Rodriguez, PhD em Gestão do Conhecimento pela<br />
UFRJ/Harvard Business School. Segundo o estudo, empresas<br />
que mantêm programas de diversidade têm melhor perfor-<br />
mance e alcançam resultados mais<br />
consistentes do que aquelas que<br />
não possuem nenhuma política de<br />
inclusão.<br />
Mesmo que as empresas não<br />
tenham uma política estruturada de<br />
incentivo à diversidade, é importante<br />
incorporar esse olhar à gestão.<br />
Ter profissionais com orientações,<br />
habilidades e estilos diferentes<br />
soma forças ao conjunto. Equipes<br />
heterogêneas têm mais propensão<br />
a analisar as questões sob diferentes<br />
pontos de vista, trazendo novos<br />
referenciais e propondo soluções<br />
mais criativas aos problemas enfrentados<br />
no dia-a-dia. Exatamente<br />
o que uma organização precisa<br />
para vencer o desafio da inovação.<br />
O Desafio da Integração<br />
Numa organização, integrar é administrar as diferenças<br />
— bem como os conflitos que surgirem — e reforçar<br />
as similaridades, fazendo-as trabalharem em conjunto para<br />
um mesmo fim. Assim, uma equipe com características<br />
distintas, mas bem integrada, geralmente lida melhor com<br />
a complexidade das variadas situações que uma empresa<br />
enfrenta. Portanto, a diversidade — desde que servindo à<br />
integração, e não a interesses individuais — pode contribuir<br />
muito para se alcançarem bons resultados. Cabe ao gestor<br />
estar sempre atento e criar as condições para que as diferenças<br />
sejam respeitadas e utilizadas sempre a favor do<br />
grupo e da empresa.<br />
O conteúdo desta página é de responsabilidade da TGI Consultoria em Gestão. (www.tgi.com.br)
Educação<br />
Acerte o Rumo volta<br />
às páginas da <strong>Algomais</strong><br />
CAPACITAÇÃO | Projeto que auxilia estudantes a formular planos profissionais<br />
se apresentará renovado em sua quarta edição em abril próximo<br />
nova realidade econômica do Estado<br />
A exige maiores investimentos na capacitação<br />
dos pernambucanos para as oportunidades<br />
que estão surgindo. Diante deste<br />
cenário, a revista <strong>Algomais</strong> trará de volta<br />
às suas páginas o projeto Acerte o Rumo.<br />
Em sua 4ª edição, a iniciativa virá renovada<br />
para auxiliar os estudantes do ensino fundamental<br />
a formular planos profissionais compatíveis<br />
com o talento de cada jovem. Este<br />
ano o projeto além de ser realizado mais<br />
cedo, no mês de abril, trará inovações como<br />
o lançamento do Guia das Profissões Acerte<br />
o Rumo 2009 – Profissões em Pernambuco.<br />
“Diversas pesquisas realizadas e nossa<br />
experiência demonstram que a imensa<br />
maioria dos jovens fazem as escolhas profissionais<br />
apoiadas em informações superficiais,<br />
estereotipadas ou idealizadas, e sem<br />
fazer uma análise para averiguar se possuem<br />
identificação ou não”, disse a organizadora<br />
do evento, Sílvia Gusmão.<br />
Concebido pela Trajeto Consultoria em<br />
Alexandre Albuquerque<br />
parceria com a <strong>Revista</strong> <strong>Algomais</strong> e com o<br />
Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino<br />
de Pernambuco (Sinepe/PE) o projeto vai realizar<br />
palestras a partir de abril com foco nas<br />
áreas de ciências exatas, humanas e saúde.<br />
O objetivo da iniciativa é conscientizar os jovens<br />
sobre a importância de escolher bem<br />
seu projeto profissional. Por meio de debate<br />
com profissionais de destaque os estudantes<br />
terão a oportunidade de conhecer o universo<br />
prático da carreira que pretendem seguir e<br />
ainda receberão recomendações sobre as<br />
estratégias que poderão fazer diferença para<br />
chegar ao caminho do sucesso.<br />
“A idéia do projeto é elevar o nível de reflexão<br />
e informação dos jovens, preenchendo<br />
uma lacuna existente inclusive no sistema educacional,<br />
pois entendemos que é no campo do<br />
trabalho que se pode dar contribuições sociais<br />
de maneira mais engajada e competente, ou<br />
alienada e desinvestida. Quando se faz escolhas<br />
equivocadas, a chance de não dar boas<br />
contribuições é enorme, além das repercussões<br />
n As palestras estarão focadas nas áreas de ciências exatas, humanas e saúde<br />
pessoais negativas”,<br />
explica Gusmão.<br />
Outra iniciativa<br />
do projeto será<br />
o lançamento do<br />
Guia das Profissões<br />
Acerte o<br />
Rumo 2009 –<br />
Profissões em<br />
Pernambuco.<br />
A publicação<br />
trará um panorama<br />
de todas<br />
as atividades<br />
já inseridas na<br />
nova realidade<br />
econômica do<br />
Estado, além<br />
de artigos e<br />
entrevistas<br />
com profissionais<br />
de renome.<br />
A revista<br />
vai circular no<br />
dia 20 de abril.<br />
O Acerte<br />
o Rumo beneficiará<br />
cerca<br />
de mil pessoas<br />
diretamente e<br />
mais de 6 mil<br />
indiretamente.<br />
Ainda em fase de<br />
elaboração, o formato<br />
deve se guiar<br />
a partir de eventos<br />
presenciais realizados<br />
nos principais colégios<br />
do Recife. n<br />
fevereiro ><br />
> 33
34 > > fevereiro<br />
Pano rápido<br />
Mau humor<br />
Seu Lunga, o homem mais mal humorado<br />
do mundo, tem uma loja de sucata<br />
em Juazeiro do Norte, no Ceará. A<br />
loja foi invadida por ratos. E lá se foi seu<br />
Lunga comprar veneno.<br />
— Tem veneno pra rato?<br />
— Tem, sim senhor. Vai levar?<br />
— Não! Vou trazer os ratos pra comer aqui.<br />
Canguru é pássaro<br />
Agosto de 1962. A Marinha do Brasil<br />
expulsou um navio francês que estava<br />
pescando lagosta na costa de Pernambuco.<br />
A França deslocou dois navios de<br />
guerra para águas internacionais, “próximas<br />
à região do conflito”. O Brasil mandou<br />
toda a sua esquadra. E os jornais não perderam<br />
tempo: Guerra da Lagosta! “As<br />
lagostas são pescadas enquanto nadam<br />
ou pulam, estando, portanto, na água e<br />
não em solo brasileiro, no momento em<br />
que são capturadas”, argumentavam os<br />
franceses. O almirante da Marinha do Brasil<br />
Paulo Moreira pediu a palavra.<br />
— Se lagosta é peixe, então, enquanto tá<br />
pulando, canguru é pássaro.<br />
Fez-se a paz.<br />
O cerne em questão<br />
O irreverente — e, às vezes, até<br />
grosseiro — poeta Eugênio Coimbra<br />
era fazedor de quadrinhas dedicadas<br />
aos seus desafetos políticos, literários<br />
e pessoais. Mas muitas delas eram gratuitas,<br />
apenas pra não perder o mote.<br />
A poetisa Edwirges Sá Pereira, precursora<br />
do movimento feminista e primeira<br />
mulher latino- americana a participar<br />
de uma academia de letras, foi uma de<br />
suas vítimas. Seu poema O cerne retorcido<br />
foi alvo da verve de Coimbra:<br />
Senhora Dona Edwirges,<br />
Me responda de inopino,<br />
Esse cerne que tu falas<br />
É o pau de Zé Quirino?<br />
Perseguida e famosa<br />
O escritor Hermilo Borba Filho conheceu<br />
um camarada em Palmares que só<br />
apreciava o traseiro das moças. Quando<br />
casou, a curiosidade tomou conta da cidade,<br />
todo mundo queria saber como tinha<br />
sido a lua-de-mel. O camarada não se fez<br />
de rogado:<br />
— Essa tal de vagina só tem é fama!<br />
Sem escolha<br />
Maria Júlia e Juliana, filha e neta de Léo e<br />
do pintor José Cláudio, moram nos Estados<br />
Unidos. Mas todos os anos vêm ao Brasil<br />
matar saudades afetivas e atávicas. No Restaurante<br />
Pra Você, no Pina, Galego, o garçom,<br />
recepcionou os fregueses e entregou o<br />
cardápio. Zé Cláudio nem abriu.<br />
— A gente veio comer agulha frita.<br />
— Branca ou preta? Só tem preta.<br />
Joca Souza Leão<br />
jocasouzaleao@gmail.com<br />
Protesto<br />
Estela é cozinheira da casa de Bóris<br />
Trindade há quarenta anos. Bóris, cozinheiro<br />
bissexto, tava fazendo uma feijoada.<br />
Haja atavios gordurosos: linguiça,<br />
paio, defumados, rabo, pé de porco,<br />
toucinho... Estela não se conteve:<br />
— Doutor, chega de tanta gordura. Senão,<br />
quando a gente cagar o cu nem sabe.<br />
No fundo, não<br />
No início de carreira, Plínio Duque<br />
fazia medicina social no interior de Pernambuco.<br />
Na Zona da Mata, a maioria<br />
dos pacientes era beneficiária do extinto<br />
Funrural — Fundo de Assistência e<br />
Previdência do Trabalhador Rural.<br />
— A senhora tem Funrural?<br />
— Não, doutor. Só um corrimentozinho.<br />
No fundo não tenho nada, não senhor.<br />
As histórias aqui contadas têm compromisso com os contadores de história que as contaram. E não, necessariamente, com a História.
NÃO ENCONTROU<br />
NENHUMA PEÇA<br />
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fevereiro ><br />
> <strong>35</strong>
Memória Pernambucana<br />
Uma santa mulher<br />
SOBERANA | Maria Júlia do Nascimento, Dona Santa, foi a mais famosa e<br />
reverenciada rainha dos maracatus do Recife, tornando-se um mito do carnaval<br />
fevereiro. É mais um carnaval, essa festa<br />
É tão nossa. É mês de frevo, de blocos, de<br />
troças, de caboclinhos. É mês de Capiba, de<br />
Nelson Ferreira, de Luiz Bandeira, de velhos<br />
e de novos artistas. É mês das tantas manifestações<br />
culturais que, com suas cores e<br />
animação, fazem do carnaval pernambucano,<br />
verdadeiramente, o melhor do mundo.<br />
É mês de maracatu, essa palavra de origem<br />
africana, nome de uma dança em que um bloco<br />
fantasiado baila ao som de tambores, chocalhos<br />
e gonguê enquanto acompanha uma<br />
mulher que conduz na mão um bastão em<br />
36 > > fevereiro<br />
cuja extremidade há uma boneca ricamente<br />
enfeitada — a calunga — ao mesmo tempo<br />
em que executa evoluções coreográficas.<br />
Por falar em maracatu, você já ouviu<br />
falar em uma mulher chamada Maria Júlia<br />
do Nascimento? Talvez não com esse nome,<br />
mas, em algum momento, você há de ter<br />
ouvido falar em Dona Santa, a mais famosa<br />
e reverenciada rainha dos maracatus do<br />
Recife, um mito do carnaval pernambucano.<br />
Dona Santa, aliás, era mítica mesmo<br />
quando vivia.<br />
Ainda simples plebéia na hierarquia<br />
carnavalesca — apesar de possível descendente<br />
de reis ou chefes de estado africanos<br />
na vida real —, Dona Santa, conhecida também<br />
como Santinha, fez parte das troças<br />
carnavalescas Verdureira e Miçangueira e<br />
dançou congada, uma dança dramática que<br />
representa a coroação de um rei, e às vezes<br />
também de uma rainha do Congo. É constituída<br />
de um cortejo com passos e cantos,<br />
onde a música acompanha a expressão dramática<br />
dos textos, e que se caracteriza pela<br />
embaixada, por evoluções características<br />
de procissões e lutas simbólicas de espada.<br />
Criação dos escravos no Brasil, a congada<br />
tem registro, desde 1674, em Pernambuco,<br />
podendo, contudo, na sua origem, estar antigas<br />
disputas entre tribos rivais do Congo e<br />
de Angola.<br />
E de dança em dança, Dona Santa tornou-se<br />
rainha no Maracatu Leão Coroado e<br />
fundou a Troça Carnavalesca Mista Rei dos<br />
Ciganos, depois denominada Maracatu Porto<br />
Rico do Oriente.<br />
Estava nascida a eterna soberana do<br />
carnaval recifense, uma rainha carnavalesca<br />
que não era curvilínea nem calipígia, que não<br />
usava provocantes biquínis, mas que trazia<br />
no sangue e na alma a mística e o ritmo do<br />
maracatu.<br />
Ainda rainha do Maracatu Leão Coroado,<br />
Dona Santa casou-se com João<br />
Vitorino, que, pouco depois, veio a ser<br />
rei do Maracatu Elefante, e em vez de<br />
unificar os dois reinos, como se vê nos<br />
livros de história, decidiu abdicar o trono<br />
do Leão Coroado e se tornar rainha<br />
do Maracatu Elefante. Os dezesseis<br />
anos seguintes corresponderam ao período<br />
em que o grêmio, sob seu comando,<br />
se expandiu, resplandeceu, conquistou<br />
o seu maior brilho. Dona Santa reinou
absoluta, como única rainha legalmente<br />
coroada.<br />
Explica-se o porquê do termo<br />
legalmente.<br />
Naquela época, os colonizadores brancos<br />
criaram o ritual da coroação com o propósito<br />
de manter os escravos agregados em<br />
torno das majestades e de uma corte eleita<br />
por dois anos, em tudo semelhante às cortes<br />
européias. Pretendiam, assim, evitar a<br />
insubordinação e as fugas. Revestindo o ato<br />
de legitimidade, os reis e rainhas dos negros<br />
eram coroados por um padre ou bispo católico,<br />
na Igreja de Nossa Senhora do Rosário<br />
dos Homens Pretos, na presença de autoridades<br />
políticas, e finda a solenidade desfilavam<br />
pelas ruas da cidade, seguidos de<br />
cortejo e batuque. Parece ser essa a origem<br />
do maracatu, que terminou ocupando um<br />
lugar destacado no carnaval pernambucano,<br />
como ensinou Ronaldo Correia de Brito no<br />
artigo “A rainha sem coroa”.<br />
Toda segunda-feira de carnaval o bloco<br />
desfilava sob uma profusão de amarelo, azul,<br />
branco e verde, as cores preferidas da rainha,<br />
que se mostrava vestida à moda européia<br />
do século XIX: vestido de seda, veludo,<br />
cetim, lantejoulas, miçangas, fios dourados,<br />
cetro, coroa, capa de gola alta, sapatos de<br />
salto fino, brincos, aneis, pulseiras e broches,<br />
além de um espadim de metal com<br />
que abençoava os súditos postados em seu<br />
caminho.<br />
Foi assim que ela reinou durante dezesseis<br />
carnavais do Recife, mas não se ateve<br />
apenas às alegrias do entrudo. Como uma<br />
verdadeira rainha, defendeu a crença dos<br />
seus súditos, utilizando os ensaios do maracatu<br />
para realizar cerimônias do candomblé,<br />
então proibidas pela repressão religiosa da<br />
ditadura de Getúlio Vargas.<br />
O Maracatu Elefante, o mais antigo do<br />
Brasil, foi fundado em 1880. Dona Santa,<br />
essa autêntica instituição pernambucana<br />
que se tornou tema de estudos de pesquisadores<br />
do Brasil, da Europa e dos<br />
Estados Unidos, foi nascida em 25 de<br />
março de 1877, no Pátio de Santa Cruz,<br />
no Recife, e coroada rainha do bloco no<br />
dia 27 de fevereiro de 1947, aos 59 anos<br />
de idade.<br />
Apesar de viger, na época, especialmente<br />
entre os tradicionalistas, a prática de<br />
encerrar a vida da agremiação após a morte<br />
do seu líder, Dona Santa desejava que<br />
o Maracatu Elefante continuasse a animar<br />
os carnavais recifenses após a sua morte,<br />
e conquanto acreditasse que na sucessão<br />
deveria prevalecer uma lógica dinástica,<br />
prometera a Dona Madalena, sua ex-vassala<br />
e então rival, a presidente do Maracatu Indiano,<br />
fazê-la rainha autêntica, coroada na<br />
Rosário dos Pretos.<br />
Não o fez, contudo, já que, poucos dias<br />
depois, tornou Pernambuco triste como uma<br />
Quarta-feira de Cinzas: morreu, em 1962,<br />
aos 85 anos de idade.<br />
Morreu?<br />
* Marcelo Alcoforado é publicitário e jornalista<br />
marceloalcoforado@speedmais.com.br<br />
fevereiro ><br />
> 37
38 > > fevereiro<br />
Economia<br />
Jorge Jatobá<br />
jorgejatoba@revistaalgomais.com.br<br />
De volta ao Mestre Keynes<br />
crise financeira em escala glo-<br />
A bal começou - desde o último<br />
trimestre de 2008- a impactar o<br />
País e as economias locais. A retórica<br />
da “marola” não está sendo<br />
bem absorvida pelos milhares de<br />
trabalhadores demitidos nos vários<br />
setores da economia, especialmente<br />
aqueles vinculados direta ou indiretamente<br />
ao mercado externo que<br />
enfrenta profunda recessão. Como a<br />
economia é sistêmica- um conjunto<br />
intrincado de vasos comunicanteso<br />
impacto da diminuição ou retração<br />
do nível de atividade interno e externo<br />
sobre o consumo das famílias, o<br />
investimento, a receita tributária e o<br />
gasto público já estão se manifestando.<br />
Nos estados e municípios isso<br />
significa menos transferências intergovernamentais<br />
compulsórias (FPE<br />
e FPM), reflexo de uma menor base dos tributos federais (IPI e<br />
IR) que lastreiam tais transferências e de uma menor arrecadação<br />
dos impostos e contribuições de competência de cada<br />
ente. Portanto, os diversos níveis de governos têm que estar<br />
atentos à questão fiscal porque estamos na fase descendente<br />
do ciclo econômico, uma ciclotimia típica do crescimento da<br />
economia capitalista. Todavia, na fase cadente do ritmo de negócios<br />
prudência fiscal pode ser inconsistente com combate<br />
à recessão.<br />
Não há novidades quanto à medicação. Quase todos os<br />
países- sobretudo os EUA- se voltaram para a velha receita de<br />
Lorde John Maynard Keynes. Ou seja, esqueçamos temporariamente<br />
o déficit fiscal e gastemos em investimentos públicos<br />
que permitam estabilizar a demanda agregada e o nível geral<br />
do emprego. Assim, o governo através do seu poder de investir<br />
gera efeitos multiplicadores sobre o emprego e a renda no<br />
conjunto do sistema econômico, encurtando o ciclo negativo<br />
dos negócios e criando as condições para uma retomada do<br />
crescimento econômico. O programa de Barack Obama tem<br />
um forte componente keynesiano, semelhante ao New Deal<br />
de Franklin Roosevelt, que tinha sido desenhado com a ajuda<br />
de Keynes. O PAC no Brasil precede a crise e tinha outros<br />
fundamentos. Agora a sua continuidade tem mais uma justificativa.<br />
Ser anticíclico, assumindo uma característica que<br />
não tinha antes, mas que agora é crítica- reduzir o impacto<br />
“Nada é tão bom para<br />
o emprego quanto um<br />
robusto e sustentável<br />
crescimento econômico”<br />
da crise sobre o nível de emprego,<br />
minimizar internamente os efeitos<br />
negativos da recessão internacional<br />
e criar as condições objetivas para<br />
uma retomada - mais adiante- do<br />
crescimento a partir de uma maior<br />
e melhor infra-estrutura econômica<br />
(estradas, portos, ferrovias, energia<br />
e aeroportos, etc.).<br />
Os governos estaduais caso<br />
tenham gerado poupança, obtido<br />
créditos em operações de empréstimo,<br />
ampliado recursos decorrentes<br />
de alienação de ativos e ganho<br />
outras receitas de capital -compulsórias<br />
ou voluntárias- deveriam<br />
seguir o mesmo caminho, não se<br />
esquecendo, todavia, de respeitar<br />
os limites definidos pela lei de responsabilidade<br />
fiscal. Os governos<br />
que conseguiram atrair investimentos<br />
privados que estejam em fase<br />
de implantação ou na iminência de serem realizados devem<br />
lutar para garanti-los e viabilizá-los.<br />
REMÉDIOS - Agora voltados para o mercado de trabalho-<br />
também estão de volta criando um clima de dejá vu. Os sindicatos<br />
protestam contra as demissões, os empresários pedem<br />
ajuda ao governo, mas dizem – na hora de demitir – que o mercado<br />
é soberano, as centrais sindicais e o Ministério do Trabalho<br />
se engajam em negociações complicadas que demandam<br />
mudanças legislativas de um Congresso mais preocupado em<br />
beneficiar os seus servidores do que atender ao clamor dos<br />
desempregados para os quais, aliás, não há sindicato e apenas<br />
um modesto seguro-desemprego. Ou seja, velhos temas um<br />
tanto esquecidos quando a economia ia bem voltam agora ao<br />
centro da atenção dos sindicatos, governos e empresários (flexibilização<br />
do mercado de trabalho, proibição de horas-extras,<br />
redução da jornada de trabalho com ou sem redução proporcional<br />
dos salários, etc.).<br />
O fato inexorável e duro como a vida é que a economia<br />
mudou para pior. Isso significa perdas e danos para todos,<br />
mas, sobretudo para os trabalhadores. Para resgatá-los dessa<br />
condição adversa, velhas receitas estão sendo sugeridas. Algumas<br />
já mostraram bons resultados, outras nem tanto. Fica a<br />
saudade de um velho princípio: nada é tão bom para o emprego<br />
quanto um robusto e sustentável crescimento econômico.
fevereiro ><br />
><br />
39
40 > > fevereiro<br />
Auto Motor Jorge Moraes<br />
jorgemoraes@revistaalgomais.com.br<br />
Dos EUA<br />
O novo Shelby GT500<br />
2010 foi um dos<br />
destaques do Salão<br />
de Detroit. O esportivo<br />
Mustang será oferecido<br />
nas configurações cupê<br />
e conversível. Embaixo<br />
do capô, um 5.4 litros<br />
V8 sobrealimentado<br />
que gera 547 cavalos<br />
de potência a 6.200<br />
rpm e impressionantes<br />
70 kgfm de torque<br />
máximo, disponíveis a<br />
4.800 rpm.<br />
Avante<br />
A Avante Ford, do grupo Júlio Simões,<br />
será dirigida pelo bem sucedido<br />
Fernando Simões e deve movimentar<br />
o mercado pernambucano com três<br />
lojas: Imbiribeira e Prado na primeira<br />
etapa e provavelmente Casa Forte no<br />
segundo turno dos investimentos.<br />
Sucesso<br />
Pernambucano de prestígio em São Paulo,<br />
Bartolomeu Cavalcanti, ex-gerente regional<br />
do Banco Volkswagen, conquistou a cidade,<br />
abriu a B&B Solutions na capital paulistana<br />
e já computa uma ampla gama de clientes no<br />
segmento automobilístico. Bartô virou uma<br />
espécie de guru de investimentos.<br />
Nova pernambucana<br />
A Pernambuco Motos, de Fred Almeida, grupo Loquipe, é a mais nova revenda<br />
de motos de Paulista. O empreendimento é um dos mais completos do Brasil e conta<br />
com pista de treinamento e salas de reciclagem para motociclistas.<br />
SsangYong<br />
O projeto da moderna revenda SsangYong,<br />
da Imbiribeira, foi desenhado<br />
pelo jovem talento pernambucano Sérgio<br />
Mota Filho. A empresa já conta com a<br />
direção do executivo Marquinhos Melo,<br />
que regressou de temporada na Alemanha<br />
com invejável currículo na mochila.<br />
Supermoto<br />
O programa Automotor exibido nas<br />
manhãs de sábados, na Band TV Clube,<br />
está pronto para o próximo Supermoto.<br />
A quinta motocicleta reformada será<br />
entregue antes do carnaval, provavelmente<br />
na segunda semana de fevereiro.<br />
As equipes da MotoCenter e OfCenter<br />
são parceiras do projeto.<br />
Abertura<br />
A Subaru Caoa abriu as portas na<br />
Mascarenhas de Moraes. Em Boa Viagem,<br />
a terceira loja da coreana Hyundai<br />
no Recife já trabalha a todo vapor na<br />
Domingos Ferreira, ao lado do Banco<br />
do Brasil. A revenda é do grupo Caoa<br />
e será gerenciada por Marino Carvalho<br />
com a supervisão de Eliene Souza.<br />
A loja concorre com a Matrix, de José<br />
Henrique Figueiredo.
fevereiro ><br />
><br />
41
42 > > fevereiro<br />
Gastronomia<br />
Pegar a estrada<br />
e comer bem<br />
Com o dólar em alta e muita gente trocando<br />
o avião pelo carro, o Nordeste está<br />
em foco. Turista experiente sabe que é andando<br />
pelas ruas de uma cidade e provando<br />
de sua culinária que realmente se conhece<br />
um lugar. Selecionei aqui uns restaurantes<br />
para quem vai dar um giro pelas praias da Região,<br />
o grande destino de muita gente neste<br />
verão abrasador. Inclusive o meu.<br />
Em Natal, na cada vez mais agitada<br />
praia da Ponta Negra, o restaurante Camarões<br />
Potiguar é um dos melhores locais para<br />
se comer o crustáceo que dá nome à casa.<br />
São cerca de trinta sugestões de pratos<br />
elaborados com o pescado, com peso entre<br />
18 e 22 gramas. As receitas transitam do<br />
regional à culinária internacional, trazendo<br />
ainda peixes como dourado e o bacalhau.<br />
A farta carta de vinhos tem rótulos de vários<br />
países e para todos os gostos e bolsos. Fica<br />
na rua Pedro da Fonseca Filho, 8887, Ponta<br />
Negra (84-3209.2425).<br />
No bairro do Tirol a dica fica por conta<br />
de um estabelecimento que serve ampla<br />
variedade em seu buffet de comida a qui-<br />
lo, o Cassol. São cerca de oitenta pratos frios<br />
e quentes, com destaque para as saladas. Ótimo<br />
para quem gosta de culinária regional, pois<br />
serve da galinha à cabidela, à carne de sol e ao<br />
cordeiro. Há também opções de grelhados e<br />
assados, preparados em churrasqueiras no piso<br />
térreo e, nas terças e quintas, sushis e sashimis.<br />
Mas atenção, só abre para almoço. Localizado<br />
na Rua Açu, 663, Tirol, (84-3211.2042).<br />
Já na badalada Praia da Pipa, o Pacífico se<br />
destaca pela culinária inventiva do chef californiano<br />
James Halper. Depois de obter seu diploma<br />
na mais que conceituada escola francesa de<br />
gastronomia, Le Cordon Bleu, e viajar por vários<br />
países conhecendo diversas tendências culinárias<br />
e aperfeiçoando sua técnica, ele aterrissou<br />
nesta praia com o propósito de abrir seu próprio<br />
restaurante, onde pratica cozinha autoral, tendo<br />
por base os frutos do mar sempre frescos. Suas<br />
receitas fazem fusão criativa de ingrediente,<br />
como a mistura de raiz forte, shoyo e maracujá<br />
que compõe a lagosta grelhada, um dos carroschefes.<br />
A carta de vinhos é enxuta, privilegiando<br />
rótulos do Novo Mundo. Fica na Rua dos Bem-<br />
Te-Vis, 19, Pipa, (84-9982.8981).<br />
n Ambiente interno do badalado Camarões Potiguar, em Natal<br />
Se for ao Ceará, saiba que um dos melhores<br />
restaurantes de Fortaleza é baiano. Chama-se<br />
Cabana da Negona, inspirada na Cabana da Celi,<br />
situada na Barra, em Salvador. Quase tudo que<br />
o baiano come você encontra aqui. As lambretas,<br />
no entanto, precisam ser encomendadas<br />
antecipadamente. Mas não faltam acarajé, vatapá<br />
e os deliciosos pastéis de arraia e de siri.<br />
O destaque, porém, é o caranguejo depilado,<br />
servido sempre às quintas, e preparado com<br />
azeite-de-dendê, cheiro-verde, leite de coco e<br />
limão, e servido com pirão e farofa. Destaque<br />
para a moqueca de siri-mole. Outras atrações<br />
são o bobó de camarão com mandioca, a mariscada<br />
e o arrumadinho de carne-de-sol. Está<br />
situado na Rua Ana Bilhar, 1150, no Bairro Meireles<br />
(85- 3242.0111).<br />
Se ao passar pelo bairro da Varjota, você<br />
avistar uma espécie de castelo, pare. Nesse local<br />
está instalado um restaurante que faz grande<br />
sucesso na capital cearense. É o Vojnilô, de Vicente<br />
Bojovski, macedônio que há 18 anos criou<br />
em Guarapari, no Espírito Santo, o restaurante<br />
Guaramare, estrelado pelo Guia 4 Rodas como o<br />
melhor de pescados do Brasil por 10 anos consecutivos.<br />
Tem grande oferta de cachaças - são<br />
mais de 150 rótulos. O destaque do cardápio<br />
fica, sem dúvida, com o espetinho de vieiras.<br />
Para quem gosta de ostras, aqui elas são fartas.<br />
Uma das atrações é o misto de pescados, que<br />
leva lagosta, camarões e peixe assado na brasa.<br />
A paella, também merece prova. Tem boa carta<br />
de vinhos, do Velho e Novo Mundos. Rua Frederico<br />
Borges, 413 (85-3267.3081).<br />
Esta aconchegante cantina serve as melhores<br />
massas da capital cearense, elaboradas<br />
pelas mãos do chef Antônio Ximenes. Decorada<br />
bem ao estilo italiano, com tons verde e vermelho<br />
nas cortinas e mesas, fundo musical embalado<br />
por radiola que só toca música italiana, o<br />
destaque aqui fica com o camarão fundido com<br />
fettuccine na tinta de lula. Para os que gostam<br />
de mais robustez à mesa, a dica é o ossobuco<br />
acompanhado de risoto de arroz arbóreo. A<br />
carta de vinhos é ampla e a adega, climatizada.<br />
Localizado na Rua Professor Dias da Rocha, 199,<br />
Varjota. (85-3242.4703).<br />
Em Maceió, uma imperdível refeição poderá<br />
ser feita no Wanchako, comandado pela<br />
chef Simone Bert, que vem se destacando por<br />
sua culinária peruana de alto padrão. A casa integra<br />
a associação da Boa Lembrança e todos
os seus pratos levam temperos e<br />
ingredientes comprados pessoalmente<br />
por ela no Peru, país onde<br />
morou após casar com o peruano<br />
José Luis Risco Bert. Foi lá, com<br />
sua sogra, que ela aprendeu a<br />
cozinhar. Seus pratos exploram o<br />
tradicional com nova roupagem,<br />
como os típicos ceviches - peixes<br />
curtidos no limão e servidos com<br />
batata-doce e milho verde. A chef<br />
também mistura ingredientes da culinária peruana<br />
e japonesa, tendência conhecida como nikkei.<br />
O Wanchako influenciou diretamente a abertura<br />
do restaurante Shiwake, no Recife. O cardápio,<br />
inclusive, tem o toque de Bert que deu consultoria<br />
e treinamento aos proprietários e funcionários<br />
pernambucanos. Situado à Rua São Francisco de<br />
Assis, 93, Jatiúca (82- 3327.8701).<br />
O Divina Gula, que funciona na capital alagoana<br />
desde 1988, se consagrou como destino<br />
certo do bom gourmet. Sua culinária mineira<br />
tem feito o sucesso da casa, que investe em panelinhas<br />
guisadas, caldinhos e cachaça, todos<br />
de ótima qualidade e feitos sob as orientações<br />
da cozinha interiorana de Minas Gerais. Destaque<br />
para a desfiada confiada, uma carne-de-sol<br />
desfiada com purê de inhame, abobrinhas frescas<br />
e banana-da-terra frita, um sucesso há muitos<br />
anos. De ambiente rústico, com paredes de<br />
tijolos aparentes e colunas de madeira, integra a<br />
associação da Boa Lembrança. Fica na Avenida<br />
Engenheiro Paulo Brandão Nogueira, 85, Jatiúca<br />
n Espetinhos de vieiras do Vojnilô, em Fortaleza<br />
(82- 32<strong>35</strong>.1016).<br />
Em João Pessoa, o Mangai continua sendo<br />
o melhor representante da culinária local, com<br />
ênfase no regional. Com decoração que privilegia<br />
os ícones sertanejos, oferece excelentes pratos<br />
da culinária do alto Sertão. O Mangai inspirou o<br />
recifense Parraxaxá. Os ingredientes que compõe<br />
a maioria dos pratos são cultivados nas fazendas<br />
dos proprietários. Lá você encontra sovaco-decobra<br />
- carne moída com milho e cebola -, rubacão<br />
- feijão branco, arroz, queijo e verduras - e o<br />
prato de maior saída, a carne de sol na nata. Tudo<br />
Patrícia Raposo<br />
praposo@uol.com.br<br />
servido no quilo. É um local mais indicado<br />
para comer do que para beber, já que a casa<br />
não vende nenhuma bebida alcoólica. Oferece<br />
apenas, como cortesia, uma dose da cachaça.<br />
As redes dispostas nos terraços não<br />
estão ali à toa. Normalmente come-se muito<br />
no Mangai e poucos resistem ao sono. Hoje<br />
conta com filiais em Natal e em Brasília. Está<br />
situado na Avenida General Édson Ramalho,<br />
696, em Manaíra (83- 3226.1615).<br />
Localizado num antigo trapiche abandonado<br />
na Praia da Preguiça, próximo ao Mercado<br />
Modelo, o Amado é um dos melhores<br />
restaurantes de Salvador. O ambiente é de<br />
muito bom gosto, com toques rústicos, e a<br />
vista da baía de Todos os Santos é maravilhosa.<br />
À frente da cozinha está o premiado chef<br />
Edinho Engel. Faz a linha contemporânea, com<br />
forte influência mineira e paulista, mas sem<br />
esquecer das raízes baianas. A moqueca de<br />
camarão com caju e purê de inhame é um<br />
dos exemplos da culinária inventiva praticada<br />
pelo chef Edinho. Tem ainda arroz de bacalhau<br />
servido com banana grelhada. A oferta de vinhos<br />
é ampla, com adega para 3 mil garrafas.<br />
Fica na Avenida Contorno, 660, no bairro do<br />
Comércio. (71-3322.<strong>35</strong>20)<br />
Um dos melhores locais de Salvador<br />
para se comer pescados é o Mistura, que<br />
começou como uma barraca de praia em<br />
Itapoan e graças à qualidade do que servia<br />
hoje ocupa sofisticadas instalações na Rua<br />
Professor Souza Brito, 41, ainda no mesmo<br />
bairro e próximo ao famoso Farol. O camarão<br />
do rio, que chega à mesa em uma caçarola<br />
de cobre, com pirão feito com o próprio<br />
caldo do crustáceo, é uma das delícias da<br />
casa. Outra é o camarão ao prosecco com<br />
risoto de trufa e amêndoa. A adega é ampla<br />
e variada. Fone 71-33752623.<br />
Agora que você tem o roteiro, só resta cair<br />
na estrada e aproveitar o máximo deste verão.<br />
Empório da Cerveja<br />
Empório da Cerveja Webstore (www.emporiodacerveja.com.br) é o mais novo e<br />
ambicioso projeto da AmBev. Segundo o grupo, “trata-se da primeira e maior loja virtual<br />
de varejo de uma companhia de bebidas no Brasil”. As operações ficam a cargo do<br />
site Submarino, responsável pela comercialização e entrega dos produtos. No espaço<br />
podem ser encontrados cerca de 175 itens como cervejas internacionais, kits presentes,<br />
mochilas, utensílios de bar - como copos, baldes, mesas, entre outros. O site<br />
permitirá aos consumidores receber em casa produtos antes restritos aos bares.<br />
fevereiro ><br />
> 43
Carnaval<br />
Folia será animada apesar<br />
do sufoco das prefeituras<br />
DISPOSIÇÃO | Mesmo com economia em crise, a palavra de ordem<br />
no Recife e em Olinda é preservar a cultura popular e suas tradições<br />
Mesmo com a mudança dos prefeitos de<br />
Olinda e Recife, a forma que faz sucesso<br />
há oito anos nos principais carnavais<br />
de Pernambuco será mantida, agradando<br />
a todos os gostos. O destaque fica por<br />
conta da cultura popular. O único vilão<br />
da história poderá ser o tempo de crise<br />
que surtirá efeito, inclusive, na festa<br />
mais esperada no Estado. João da<br />
Costa já anunciou que diante da perspectiva<br />
de um ano em que a economia pode afetar<br />
as receitas do município, uma maior eficiência<br />
dos gastos será utilizada. Mas, segundo a<br />
opinião popular, os melhores carnavais são os<br />
que acontecem em tempos de crise.<br />
Já em Olinda a receita<br />
ainda não foi discutida,<br />
mas tudo indica que os<br />
gastos ultrapassaram os do<br />
ano passado. “No carnaval de<br />
2008 gastamos mais de 5<br />
milhões e arrecadamos<br />
4 milhões. Este ano a expectativa<br />
é que os custos<br />
devam aumentar numa<br />
faixa de 15 a 20% porque com o crescimento<br />
do carnaval devido a descentralização é natural<br />
44 > > fevereiro<br />
que a demanda aumente. Além disso, o<br />
período carnavalesco cresceu bastante,<br />
enquanto tivemos no último ano apenas<br />
um mês, em 2009 teremos quase dois,<br />
o que faz com que o custo se torne<br />
ainda maior”, explica a secretária de<br />
Patrimônio e Cultura de Olinda, Márcia<br />
Souto.<br />
Independente da receita disponível,<br />
a palavra de ordem dos dois carnavais é<br />
preservar e exaltar a cultura do Estado. Para a<br />
festa deste ano os gestores recomendam aos<br />
foliões acertarem o passo do frevo para curtir<br />
o ritmo em grande estilo. “Não tem porque<br />
mudar a cara do carnaval. Essa festa tem algumas<br />
características que a torna um dos principais<br />
eventos culturais do país. A afirmação<br />
da sua multiculturalidade, a descentralização,<br />
a valorização dos nossos artistas e dos<br />
principais elementos culturais que caracterizam<br />
o carnaval de Pernambuco,<br />
como frevo, maracatu, caboclinho<br />
tem que existir”, ressalta o prefeito do<br />
Recife João da Costa.<br />
Apesar de não confirmar o nome de<br />
nenhuma das atrações, João da Costa<br />
adianta que a folia deste ano terá o mes-<br />
mo perfil dos outros carnavais. “Valorizaremos<br />
os artistas locais e traremos artistas que<br />
podem contribuir com a cultura do carnaval<br />
do Recife, que é multicultural.” A abertura do<br />
carnaval, realizada no Marco Zero pelo oitavo<br />
ano seguido, será mais uma vez comandada<br />
pelo percursionista Naná Vasconcelos, que<br />
deverá dividir o palco com Caetano Veloso,<br />
Miúcha e Claudionor Germano. “A única coisa<br />
que posso garantir é que o artista da abertura<br />
vai ser um nome de repercussão nacional e<br />
internacional”, adianta o secretário de Cultura,<br />
Renato Lima.<br />
Na mesma linha de pensamento das prefeituras<br />
seguirá o desfile do Galo da Madrugada.<br />
Depois de 32 edições sob o comando de<br />
Enéas Freire, o maior bloco do mundo animará<br />
o sábado de Zé Pereira homenageando o seu<br />
ilustre fundador. Ao som de artistas como<br />
Quinteto Violado, Dominguinhos, Elba<br />
Ramalho, Alceu Valença e Nação<br />
Zumbi o frevo irá contagiar o bairro<br />
de São José. O bloco em parceria<br />
com o governo do Estado também<br />
irá reverenciar a cultura pernambucana,<br />
trazendo em todos os trios<br />
representações carnavalescas.
Prévias de<br />
tirar o sapato<br />
Com o período carnavalesco mais extenso<br />
neste ano, as folias carnavalescas já começaram<br />
desde o início de janeiro a animar as ladeiras<br />
da Cidade Alta e deverão por lá se estender até<br />
março. No Recife, as tradicionais prévias começarão<br />
a ganhar força na primeira semana de fevereiro<br />
quando os principais clubes abrirão suas<br />
portas para receber os consagrados bailes.<br />
O primeiro a abrir a série de programação<br />
será o Baile dos Artistas no dia 6 de fevereiro.<br />
Daí por diante seguirão as prévias nos bairros da<br />
Zona Norte e os demais bailes, que esse ano<br />
estarão ainda mais irreverentes, já que dois<br />
deles caíram na sexta-feira (13) e prometem<br />
trazer decorações descontraídas. O Baile Pirata,<br />
que acontece no Clube Líbano, já adiantou<br />
que o tema da festa será “Sexta-feira 13: Sorte<br />
de quem vier” e o Siri na Lata terá como musa<br />
inspiradora a ministra Dilma Roussef que terá a<br />
companhia do muso Zé do Caixão.<br />
Já o sábado (14) será disputado pelas festas<br />
do Baile Municipal do Recife e do “Enquanto<br />
isso na sala da justiça”. O tradicional baile da<br />
capital ficará sob o comando da primeira dama,<br />
Marília Bezerra, que optou por dar continuidade<br />
ao formato utilizado nos últimos seis anos. “Começamos<br />
a trabalhar nele no começo de janeiro.<br />
Então alterar uma dinâmica que vinha dando<br />
certo era arriscar muito para um baile que iria ser<br />
realizado em fevereiro. As mudanças foram muito<br />
pequenas neste primeiro ano. Mas no próximo<br />
eu quero um formato mais diferenciado.”<br />
O novo formato pretende oxigenar e<br />
trazer de volta o público mais jovem para o<br />
evento que, segundo a primeira dama, na sua<br />
gestão nunca irá deixar de ter a cara da cultura<br />
de Pernambuco. “Queremos agregar algo<br />
novo. A forma de fazer terá mudanças, não<br />
porque as coisas não deram certo anteriormente,<br />
muito pelo contrário, eu peguei uma<br />
coisa que é esplendorosa. A minha situação<br />
é muito diferente da de Jeane em 2001, esposa<br />
do ex-prefeito João Paulo. Então quando<br />
eu digo que a gente quer oxigenar é porque<br />
todo ano você provoca mudanças. Eu quero<br />
tocar frevo, na minha terra o povo se orgulha<br />
do frevo. Enquanto eu estiver à frente prioritariamente<br />
terá o frevo, são quatro anos e este<br />
é o primeiro. A minha proposta nunca será<br />
trazer um artista de fora para ele não tocar a<br />
representação máxima do que nós somos.”<br />
Agenda<br />
Baile dos Artistas<br />
Dia: 06/02 Horário: 21h Local: Clube Português<br />
Atrações: Orquestra Super Oara, Almir Rouche e Gerlane Lopes<br />
Ingressos: R$ 25 (senha antecipada), R$ 130 (mesa antecipada), R$ 1,2 mil (camarote)<br />
Guaiamum Treloso<br />
Dia: 07 e 20/02 Horário: 18h Local: Poço da Panela<br />
Atrações: João do Morro com a participação de China, Escola de Samba Galeria do Ritmo, Gilberto<br />
Gil, Dj Felipe Machado e Silvério Pessoa. Dia 20 desfile pelo bairro com orquestra de frevo.<br />
Ingressos: R$ 20 (meia), R$ 40 (inteira), R$ 80 (camarote) à venda em um stand no Shopping Plaza<br />
Bal Masqué<br />
Dia: 07/02 Horário: 21h Local: Clube Internacional<br />
Atrações: Almir Rouche, André Rio, Silvério Pessoa, Nena Queiroga, Maestro Spock, Orquestra<br />
Universal e o bloco lírico O Bonde.<br />
Ingressos: R$ 25 (senha), R$ 1,2 mil (camarote), R$ 150 (mesa) à venda na secretaria do clube<br />
Baile Pirata<br />
Dia: 13/02 Horário: 22h Local: Clube Líbano<br />
Atrações: Orquestra Super Oara e Dbreck<br />
Ingressos: R$ 15 (meia), R$ 20 (inteira), R$ 160 (mesa), R$ 200 (mesa vip),<br />
R$ 600 (camarote) à venda nos quiosques da Braccialetto e na secretaria do clube<br />
Siri na Lata<br />
Dia: 13/02 Horário: 23h Local: Clube Português<br />
Atrações: Orquestra de Frevo Henrique Dias, Almir Rouche e Bando, Diego Nogueira<br />
Ingressos: R$ 60 (senha), R$ 300 (mesa), camarotes a partir de R$ 1,2mil à venda nas lojas VR do<br />
shopping Recife e Plaza Casa Forte ou pelo Disque Siri: 3427.1<strong>35</strong>1.<br />
Baile Municipal do Recife<br />
Dia: 14/02 Horário: 19h Local: Chevrollet Hall<br />
Atrações: Elba Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Maia, André Rio, Nena Queiroga, Claudionor Germano,<br />
Nonô Germano, Orquestra do maestro Spok, Almir Rouche, Gustavo Travassos e Marrom Brasileiro.<br />
Ingressos: R$ 30 (senha), R$ <strong>35</strong>0 (mesa), camarotes a partir de R$ 1 mil à venda nas lojas<br />
Esposende dos Shoppings Recife, Boa Vista e Tacaruna, quiosques nos Shoppings Boa Vista,<br />
Paço Alfândega e Plaza Casa Forte; bilheteria do Chevrolet Hall.<br />
Enquanto isso na sala da justiça<br />
Dia: 14/02 Horário: 21h Local: Pavilhão do Centro de Convenções<br />
Atrações: Jorge Bem Jor, Instituto Tim Maia Racional com a participação de B Negão<br />
e Thalma de Freitas, Orquestra Contemporânea de Olinda, Escola de Samba Preto Velho e djs<br />
Ingressos: R$ 25 (meia), R$ 50 (inteira) à venda nas lojas Canadar Color<br />
Artista sem ateliê<br />
Um dos mais tradicionais artistas plásticos<br />
do Estado, Sílvio Botelho, vive há quatro anos o<br />
drama de trabalhar sem o seu ateliê. Em pleno<br />
carnaval de 2005 sua casa foi interditada pela<br />
Prefeitura de Olinda por apresentar rachaduras<br />
que colocariam em risco a estrutura do imóvel.<br />
Daquele dia até hoje, o confeccionador dos<br />
bonecos gigantes se desdobra para entregar<br />
no prazo dos carnavais o ícone da folia carnavalesca.<br />
Ainda sem lugar para morar e trabalhar,<br />
o artista reclama da morosidade do processo<br />
que renegou a importância da sua profissão.<br />
“Tive que parar de trabalhar, assumi um débito<br />
enorme, me quebrei todo, pois fiquei totalmente<br />
desabrigado. Para retomar as minhas artes<br />
tive que ir para um quintal de um amigo. A<br />
prefeitura não me deu nenhum amparo”, conta<br />
Sílvio Botelho.<br />
De acordo com secretária de Patrimônio<br />
e Cultura, Márcia Souto, a situação só permaneceu<br />
durante todo esse tempo porque o problema<br />
do imóvel foi de caráter geográfico, já<br />
que houve um deslocamento de uma colina, a<br />
qual fez com que quatro imóveis fossem interditados.<br />
“Todos os engenheiros da prefeitura<br />
e dos órgãos de preservação acharam melhor<br />
agir desta forma para salvaguardar o imóvel e<br />
principalmente as vidas. A morosidade do processo<br />
se deu devido ao fato que tivemos que<br />
contratar o laboratório de solos da Universidade<br />
Federal para realizar um estudo do terreno.<br />
Daí verificou-se a necessidade de drenagem e<br />
estaqueamento nas áreas afetadas. Todo esse<br />
processo, além de demandar um prazo maior,<br />
precisa de recursos, os quais necessitam de<br />
tempo para captá-los. Foi uma demora necessária<br />
para que a gente pudesse tomar as<br />
medidas devidas”, explica o superintendente,<br />
Frederico Almeida. n<br />
fevereiro ><br />
> 45
Tecnologia<br />
Portabilidade estreia<br />
em Pernambuco<br />
TELEFONIA | Portabilidade numérica chega a Pernambuco neste mês.<br />
Operadoras prometem realizar serviço sem custos para o consumidor<br />
Por Ivo Dantas<br />
Seis meses após ter início no Brasil, a<br />
portabilidade numérica chega finalmente<br />
a Pernambuco neste mês de fevereiro.<br />
Com o novo serviço é possível mudar de<br />
operadora dentro da mesma área de cobertura<br />
(no Estado, 81 e 87) e manter o número,<br />
poupando os pernambucanos da dor de<br />
cabeça de ter que informar a todos os seus<br />
contatos sobre a mudança. Outra novidade<br />
é a possibilidade de trocar o plano de serviço<br />
sem ter que escolher um novo número.<br />
Assim, clientes com contratos pré-pagos<br />
podem migrar para contas pós-pagas sem<br />
maiores problemas.<br />
Para realizar a transferência basta solicitar<br />
a troca na operadora para a qual se<br />
pretende ir, levando cópias do CPF e RG. “A<br />
partir desse momento, a operação deve ser<br />
concluída em um período máximo de cinco<br />
dias úteis”, esclarece o presidente da ABR<br />
Telecom, responsável pela portabilidade no<br />
Brasil.<br />
Apesar de a Agência Nacional de Telecomunicações<br />
(Anatel) ter autorizado as<br />
operadoras a cobrarem uma taxa de R$ 4<br />
para a realização do serviço, as quatro empresas<br />
de telefonia móvel que atuam no Estado<br />
oferecem a portabilidade sem custos<br />
para o consumidor.<br />
Preocupadas com uma possível confusão<br />
na cabeça dos clientes durante o período<br />
de transição, diversas operadoras estão<br />
disponibilizando serviços auxiliares. É o caso<br />
da Claro, que criou o site www.portabilidade.com.br<br />
e produtos como o Toque Claro e<br />
46 > > fevereiro<br />
a Consulta Via Torpedo, que pretendem ajudar<br />
na identificação de clientes da empresa.<br />
Já a Vivo colocou em sua webpage um identificador<br />
de números da operadora.<br />
Assim, o cliente pode saber se está ligando<br />
para um número pertencente à mesma<br />
empresa prestadora de serviços a qual<br />
está conectado, podendo aproveitar promoções<br />
que normalmente são oferecidas.<br />
“A facilidade de ir para outra operadora<br />
deve fazer com que as empresas invistam<br />
na melhoria dos serviços oferecidos. No<br />
final, o que diferencia é a qualidade”, diz<br />
o gerente regional da Anatel, João Batista<br />
Furtado.<br />
As modificações não param por ai. Os<br />
usuários de telefonia fixa também serão beneficiados<br />
com a portabilidade numérica.<br />
Assim, será possível trocar o endereço<br />
sem ter que migrar de<br />
operadora e mudar o número,<br />
desde que seja na mesma localidade,<br />
como na Região Metropolitana<br />
do Recife.<br />
Segundo a Anatel,<br />
Estados como Pernambuco,<br />
Rio de Janeiro e<br />
São Paulo, últimos a terem<br />
o processo implantado,<br />
ficaram no final da fila de implantação<br />
do sistema por causa<br />
da grande quantidade de linhas<br />
e da extensão da área de cobertura<br />
nesses locais. Atualmente,<br />
Pernambuco conta com aproximadamente<br />
dois milhões de linhas de<br />
celular ativas. n
fevereiro ><br />
><br />
47
Comportamento<br />
Turismo sem preconceito<br />
PIONEIRISMO | O Recife Convention Bureau lança campanha inédita no<br />
Brasil para que os hotéis estejam aptos a receber bem o turista homossexual<br />
Por Carol Bradley<br />
Fazer um gesto de carinho em público, ou<br />
pedir cama de casal em hotel, são situações<br />
encaradas com naturalidade quando<br />
se trata de um casal heterossexual, porém<br />
o mesmo episódio pode ser visto com desconfiança,<br />
quando o casal protagonista é<br />
do mesmo sexo. Preocupados em receber<br />
bem o turista homossexual - que segundo<br />
pesquisa realizada pela consultoria Insearch,<br />
gasta 40% mais que os heterossexuais em<br />
lazer - o Recife Convention Bureau (CVB),<br />
lança a campanha pioneira “Friendly - GLS-<br />
BT. Pernambuco simpatiza com você”.<br />
48 > > fevereiro<br />
“Pernambuco é o primeiro Estado do Brasil<br />
onde a hotelaria se junta para ser amigável.<br />
A gente bolou uma placa discreta com a palavra<br />
friendly, que vai ser colocada na frente<br />
dos hotéis que aderirem à campanha”, explica<br />
José Otávio Meira Lins, presidente do CVB, e<br />
idealizador do programa. Além da placa que<br />
apresenta as cores do arco-íris, considerado<br />
o símbolo internacional do movimento GLSBT,<br />
os funcionários dos hotéis - principalmente os<br />
que lidam diretamente com o público como<br />
recepcionistas, camareiras e mensageiros -<br />
vão receber uma capacitação, para sensibilizá-los<br />
sobre como devem se portar diante de<br />
determinadas situações.<br />
“Esta é uma mudança radical de postura,<br />
é o acordar do empresário do setor de turismo.<br />
Isso vai surtir um efeito multiplicador,<br />
porque as pessoas vão voltar comentando<br />
que têm hotéis que atendem bem esse<br />
segmento, o que vai incentivar que outras<br />
pessoas venham para Pernambuco”, explica<br />
o jornalista e consultor de marketing Adriano<br />
Pádua, autor da tese “O Potencial do Consumidor<br />
Gay e as Estratégias de Marketing<br />
para conquistar esse Público”, de MBA em<br />
Marketing da Faculdade de Administração<br />
da Universidade de Pernambuco - UPE, e<br />
responsável pelos treinamentos nos hotéis,<br />
através de uma parceria com o CVB.
Apesar de expressamente as pessoas<br />
não se manifestarem contra o público gay,<br />
por ser considerado discriminação, muitas<br />
vezes o preconceito se manifesta de forma<br />
velada. “Eu senti num hotel em Curitiba. A<br />
gente se hospedou lá, mas não recebemos<br />
o mesmo tratamento dos outros hóspedes;<br />
num olhar você sente o preconceito. Eu não<br />
volto mais lá, foi uma experiência horrível”,<br />
diz o advogado mineiro André Gomes, que<br />
escolheu o Recife para passar dez dias de<br />
férias com o namorado. O casal vai se hospedar<br />
no Cult Hotel, que faz parte da rede<br />
friendly. “Eu vou me sentir mais à vontade,”<br />
explica o advogado, que aprova a iniciativa<br />
do CVB: “O turismo tem que englobar todas<br />
as tribos, e você tem que agradar o público<br />
GLSBT, que tem dinheiro para gastar.”<br />
De fato, o mercado gay brasileiro não<br />
pode mais ser ignorado. Formado por 18<br />
milhões de brasileiros - 39% pertencem às<br />
classes A e B - e 22% possui diploma de<br />
curso superior. A pesquisa realizada pela<br />
Insearch, que entrevistou 5.315 gays em<br />
diversos Estados, constatou que 84% viajaram<br />
pelo Brasil nos últimos 12 meses e 36%<br />
foram para o exterior nos últimos três anos.<br />
Como a maioria não tem família com filhos,<br />
e consequentemente todas as despesas que<br />
isso acarreta, acaba sobrando mais tempo e<br />
dinheiro para o lazer, e é este público que a<br />
campanha do CVB pretende atrair.<br />
“É uma idéia pioneira, que coloca<br />
Pernambuco à frente dos outros Estados<br />
quando se trata do mercado GLSBT. Este é<br />
o primeiro passo no sentido de que o setor<br />
do turismo passe a receber os frutos deste<br />
segmento”, diz Pádua, que nos treinamentos<br />
com os funcionários dos hotéis vai abordar,<br />
entre outros temas, o histórico da homossexualidade,<br />
legislação municipal e estadual<br />
sobre o assunto, bem como atendimento ao<br />
público. “Dar esse treinamento vai ser muito<br />
fácil, porque a única coisa que eles têm que<br />
fazer é agir naturalmente, para saber lidar<br />
com um casal do mesmo sexo que faz um<br />
gesto de carinho, ou mesmo saber agir se<br />
levar uma cantada, porque isso pode acontecer<br />
tanto com um hóspede hétero, quanto<br />
com um hóspede gay,” ressalta.<br />
O Recife tem um dos mais consolidados<br />
roteiros GLSBT do Nordeste com bares, boates,<br />
cinemas, e trechos de praias, que são<br />
considerados badalados pontos de encontro.<br />
“Em frente ao hotel Savaroni o território<br />
é demarcado por uma bandeira com as<br />
n Placa que credencia os hotéis<br />
cores do arco-íris. A praia de Gaibú é uma<br />
referência gay de Pernambuco, e Porto de<br />
Galinhas também tem alguns pontos”, explica<br />
Adriano Pádua, que está elaborando um<br />
guia, voltado para este público, que promete<br />
ser uma importante ferramenta para auxiliar<br />
o turista a escolher a melhor programação.<br />
“O projeto está sendo apresentado para a<br />
Secretaria de Turismo do Estado. A expectativa<br />
é sejam feitos 10.000 exemplares que<br />
serão distribuídos para agências de viagens<br />
em todo Brasil, bem como casas voltadas<br />
para este segmento.”<br />
Além dos estabelecimentos voltados<br />
especificamente para o público GLSBT, a<br />
diversidade cultural do Estado é mais um<br />
atrativo. “O Recife se diferencia por sua vida<br />
cultural e noturna agitadas, e este é um pú-<br />
Alexandre Albuquerque<br />
blico que se interessa muito por cultura, porque<br />
em geral são pessoas bem preparadas,”<br />
ressalta José Otávio. Alguns hotéis que já<br />
participam da campanha friendly são o Blue<br />
Tree, Pousada Quatro Cantos, Cult Hotel, Tivoli<br />
e Jangadeiro. “Nós já trabalhamos bastante<br />
com esse público, e dentro do hotel<br />
já preparamos os nossos funcionários para<br />
tratarem bem o turista homossexual, porque<br />
se a gente não atender bem quem perde somos<br />
nós,” explica Maria do Carmo, gerente<br />
comercial do Jangadeiro, que estima em<br />
<strong>35</strong>% o movimento do público gay no hotel.<br />
A gerente ressalta que no reveillon o<br />
movimento foi muito bom: “Recebemos<br />
muitos estrangeiros no final do ano. Teve<br />
um casal de suíços que chegou no dia 26 de<br />
dezembro, no dia 31 foram passar o reveillon<br />
em Tamandaré, e em janeiro voltaram para<br />
passar mais alguns dias no Recife.” Ao total<br />
vão passar mais de 20 dias em Pernambuco,<br />
consumindo e utilizando os serviços do<br />
Estado. Segundo a Associação Brasileira de<br />
Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes<br />
(ABRAT-GLS), o turismo gay é o mercado<br />
que apresenta mais crescimento no exterior.<br />
Enquanto 9% dos heterossexuais americanos<br />
viajam ao exterior, o percentual de gays<br />
é de 45%. O Brasil é o quinto país mais procurado<br />
para viagens pelos norte-americanos.<br />
Após a campanha do CVB, Pernambuco vai<br />
se mostrar ainda mais atrativo para receber<br />
este público, que tanto quanto qualquer outro,<br />
precisa ser respeitado. n<br />
n José Otávio Meira Lins, presidente do Recife Convention Bureau, ressalta<br />
que o público GLBTS gasta mais que o heterosexual em turismo e lazer<br />
fevereiro ><br />
> 49
50 > > fevereiro<br />
Última página<br />
Outro dia estava conversando em meio a um<br />
grupo numa empresa cliente, aguardando a<br />
chegada dos demais para começar uma reunião<br />
agendada, quando alguém comentou sobre uma<br />
determinada pessoa: “o problema é que ela é<br />
muito cabeça-dura”. Imediatamente, sem nem<br />
mesmo pensar, emendei: “mas sem cabeçadura<br />
não se constroi nada consistente.”<br />
Depois, fiquei pensando no que tinha dito<br />
de supetão e cheguei à conclusão que estava<br />
certo. Analisei as histórias de sucesso empresarial<br />
e pessoal do meu círculo de conhecimento<br />
e praticamente em todas, lá no início, esteve um ou uma “cabeçadura”<br />
começando tudo com a idéia fixa de fazer uma determinada<br />
coisa acontecer, às vezes sem nem mesmo saber direito o que exatamente<br />
está fazendo...<br />
Fiz mais, ampliei a reflexão e comecei a pensar nos exemplos<br />
da literatura e, neles também, lá estava no início o “cabeça-dura”<br />
começando tudo.<br />
“Cabeça-dura”, bem entendido, no sentido favorável de obstinação,<br />
constância de objetivo, persistência no caminho, insistência,<br />
vontade de fazer acontecer. O problema do “cabeça-dura” não são<br />
esses aspectos os quais se poderia chamar de “positivos”. O problema<br />
do “cabeça-dura” é a teimosia, o não-querer-dar-o-braço-atorcer,<br />
a intransigência, a dificuldade de admitir os erros...<br />
Uma empresa típicamente criada por um “cabeça-dura” começa<br />
“puxada” ou “empurrada” por ele e, em geral, progride até ficar “do seu<br />
tamanho” ou do “tamanho do seu estresse”. Aí, a partir desse ponto,<br />
ou se dá uma inflexão e o “cabeça-dura” “aprende” a dividir responsabilidades<br />
e aceitar o “contraditório” ou, então, a empresa “trava”,<br />
começa a regredir e definha ou, mesmo, simplesmente “explode”.<br />
O que interessa, justamente, é observar esse momento de inflexão<br />
e ver o que há nele que possa servir de referência para outros<br />
casos. A questão pode ser formulada do seguinte modo: se pratica-<br />
Francisco Cunha<br />
franciscocunha@revistaalgomais.com.br<br />
O poder do “cabeça-dura”<br />
A típica empresa<br />
que se torna<br />
sobrevivente ao<br />
“cabeça-dura”<br />
desenvolve,<br />
invariavelmente, um<br />
grupo gestor eficaz<br />
mente todas as empresas com alguma chance<br />
de futuro começaram pela ação obstinada de<br />
algum “cabeça-dura”, o que fazem as bem sucedidas<br />
para escapar da armadilha de terminarem<br />
seus dias como a empresa de “um dono<br />
só” que não progrediu?<br />
O que parece sempre acontecer nos casos<br />
exitosos é um mérito do fundador: ele incorpora<br />
na gestão e, por conseguinte, no processo decisório,<br />
outras pessoas, não raro um grupo. E<br />
consegue, não sem custos, fazer a transição. Ou<br />
seja, consegue trocar a ribalta por um trabalho<br />
mais de bastidor, deixando a cena aberta para outros, os sucessores.<br />
A observação de processos semelhantes não deixa de flagrar<br />
recaídas e recuos. Episódios do tipo: “há alguma dúvida de que quem<br />
manda aqui sou eu?” são mais freqüentes do que se poderia à primeira<br />
vista imaginar. Mas, nos casos bem sucedidos, são só recaídas,<br />
logo recuperadas para o caminho virtuoso. As que não conseguem<br />
retornar o ritmo, terminam por se perder no labirinto das empresas<br />
sem futuro.<br />
A típica empresa que se torna sobrevivente ao “cabeça-dura”<br />
desenvolve, invariavelmente, um grupo gestor eficaz. Na maioria das<br />
vezes, por mérito dele e instituindo-o como “tutor” da transição. Consegue,<br />
portanto, fazer a “passagem” sem perda e, mais do que isso,<br />
com o ganho de tê-lo como referência e com sua colaboração ativa e<br />
produtivamente participante.<br />
Como moral da história, pode-se dizer o seguinte: o problema<br />
não está propriamente em ser “cabeça-dura” no esforço de tirar uma<br />
empresa do limbo para o caminho do sucesso mas, sim, em permanecer<br />
nesta condição depois de determinado ponto. Que ponto<br />
é esse? Bem, aí é possível dizer, sem nenhum medo de errar, que<br />
já estamos no campo da impossibilidade de precisão. Essa não é<br />
uma ciência exata e cada caso é um caso diferente. Viva, então, o<br />
“cabeça-dura” “produtivo”!
fevereiro ><br />
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52 > ><br />
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