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Carlos Otaviano Brenner de Morais - Ministério Público - RS

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fizeram com que eu tivesse coragem suficiente para dizer para o meu pai “Me libera <strong>de</strong>sse meu<br />

compromisso <strong>de</strong> seguir o teu <strong>de</strong>sejo, eu vou ficar apenas com o Direito”. E aí segui pelo Direito.<br />

Tive um primo irmão tinha um escritório <strong>de</strong> advocacia on<strong>de</strong> trabalhei inclusive nos primeiros<br />

anos da faculda<strong>de</strong>. Mas, acima <strong>de</strong> tudo, a opção pelo Direito foi uma <strong>de</strong>cisão minha, sem a<br />

influência, seja pela i<strong>de</strong>ntificação familiar, seja pela orientação <strong>de</strong> um parente, do pai. Foi uma<br />

<strong>de</strong>cisão inteiramente minha.<br />

Memorial: Qual foi a sua primeira comarca?<br />

Entrevistado: Pedro Osório.<br />

Memorial: E como é que foi sua experiência lá?<br />

Entrevistado: Passei em Pedro Osório dois meses, dois meses e um pouco. Foi<br />

excelente, uma pequena cida<strong>de</strong> na qual ainda hoje tenho amigos daquele período. Mas surgiu<br />

a oportunida<strong>de</strong> em Campo Bom que significava um <strong>de</strong>safio, uma promotoria <strong>de</strong> outra<br />

dimensão, ainda que <strong>de</strong> primeira entrância na época, e que me oportunizava também o<br />

conhecimento <strong>de</strong> uma outra cultura a cultura germânica. Sou da zona sul e Pedro Osório era<br />

uma extensão <strong>de</strong> Pelotas, 50 quilômetros <strong>de</strong> Pelotas - eu mais ficava em Pelotas nos finais <strong>de</strong><br />

semana, embora com apartamento montado em Pedro Osório, era solteiro, tinha 22 para 23<br />

anos na época. Aí fui a Campo Bom on<strong>de</strong> passei aproximadamente dois anos e foi uma rica<br />

experiência. De Campo Bom fui para Nova Prata na serra, colonização italiana. Aqui uma<br />

curiosida<strong>de</strong>, estive duas vezes em Nova Prata, uma vez como promotor em 1982, 1983 e<br />

retornei em 1993 como marido <strong>de</strong> promotora, porque a minha mulher também é promotora,<br />

então retornei a Nova Prata <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>pois, mas como marido da promotora. Nova Prata foi a<br />

cida<strong>de</strong> na qual fiz o meu primeiro júri, o júri <strong>de</strong> um sujeito que havia matado a mulher <strong>de</strong> uma<br />

maneira extremamente covar<strong>de</strong> e brutal, me serviu como uma lição, foi meu primeiro júri e eu<br />

não consegui a con<strong>de</strong>nação e nem tão pouco reformar a <strong>de</strong>cisão do Tribunal <strong>de</strong> Justiça, isso<br />

não me imbuiu <strong>de</strong> forma alguma <strong>de</strong> ter pelo júri um gran<strong>de</strong> apresso. Aqui em Porto Alegre<br />

trabalhei no Tribunal do Júri, sempre tive pela instituição do júri esse carinho especial. Mas foi<br />

em Nova Prata o meu primeiro júri e lá também é outra realida<strong>de</strong> cultural tanto na questão<br />

relacionada à infância, um presídio já maior, a questão <strong>de</strong> segurança pública e a cultura italiana<br />

em si com <strong>de</strong>mandas diferentes daquelas que eu estava acostumado em Pedro Osório e<br />

<strong>de</strong>pois na própria comunida<strong>de</strong>. De Nova Prata fui para Rio Gran<strong>de</strong>.<br />

Memorial: Em relação ao júri, o Professor Tupinambá Azevedo comentou que<br />

antigamente o sujeito que ia para o júri já ia absolvido e hoje é o inverso, quem chega no júri já<br />

tem a pecha <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nação e fica muito mais fácil obtê-la. O senhor concorda com isso?<br />

Entrevistado: Depen<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>. Penso que o Tupinambá tem toda a razão em<br />

relação ao interior. No interior do Estado fiz muito júri em que o réu na hora do almoço ia em<br />

casa almoçar, é difícil con<strong>de</strong>nar um homem <strong>de</strong>sses. Porque matar alguém é um fato do qual<br />

nenhum <strong>de</strong> nós está livre. Nós po<strong>de</strong>mos, pela nossa educação, pelas oportunida<strong>de</strong>s que a vida<br />

nos ofereceu, pelo nosso meio, por uma série <strong>de</strong> controles que existam no nosso entorno,<br />

garantir que não cometeremos um atentado contra a liberda<strong>de</strong> sexual <strong>de</strong> uma mulher, <strong>de</strong> um<br />

homem, que não praticaremos um sequestro. Mas nenhum <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong> garantir que esteja<br />

inteiramente livre <strong>de</strong> um gesto <strong>de</strong> matar. O homicídio não traduz uma censura à personalida<strong>de</strong><br />

obrigatoriamente. Po<strong>de</strong> uma pessoa ser levada ao gesto <strong>de</strong> eliminar a vida do outro e nem por<br />

isso <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser responsável, respeitada, querida, afetuosa e a sua liberda<strong>de</strong> sendo mantida<br />

durante o curso do processo sendo os jurados muito mais conhecedores das partes envolvidas<br />

no caso do que o próprio promotor. O promotor chega lá e conhece a partir do processo uma<br />

pequena parte que, via <strong>de</strong> regra, não muito verda<strong>de</strong>ira da história real e dos personagens que<br />

compõem a história. Então o jurado chega com o julgamento já constituído. Essa realida<strong>de</strong> me<br />

parece que se mantém ainda hoje no interior. Se eu for hoje a Vera Cruz, se eu for hoje a<br />

Pedro Osório realizar um júri, a realida<strong>de</strong> vai ser a mesma do que há 30 anos atrás nessa<br />

perspectiva, porque o jurado conhece muito mais o réu do que o juiz ou o promotor. Essas não<br />

são cida<strong>de</strong>s conflituosas, <strong>de</strong> elevado grau <strong>de</strong> violência. Quando chego em Porto Alegre, vou<br />

fazer júri e assisto aquela cena, <strong>de</strong> que agora me recordo perfeitamente, do réu diante <strong>de</strong> mim,<br />

com as mãos algemadas, eu - ingenuamente quem sabe - pedindo à juíza que mandasse soltar<br />

as algemas, não fui atendido porque era uma questão <strong>de</strong> segurança. Aí aprendi pela<br />

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