CIBELE CARVALHO AS HAGIOGRAFIAS FRANCISCANAS (século ...
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I. 39<br />
começo era um só, depois, como Francisco mesmo colocou em seu<br />
Testamento 48 “e Deus me deu irmãos”. Irmãos que o seguiam e o respeitavam<br />
como pai. Mas como o próprio Boaventura iria colocar em sua Legenda Maior<br />
“a história nem sempre segue a ordem cronológica dos fatos” 49 .<br />
Dessa maneira sua Ordem cresceu e seus irmãos começaram a pensar<br />
não mais com as idéias de seu fundador, mas com suas próprias idéias. Nelas,<br />
estavam contidos os argumentos que levariam a Ordem dos Frades Menores a<br />
sofrer uma ruptura no <strong>século</strong> XIII. Criando, a partir desta cisão, ramificações no<br />
interior da própria Ordem dos Frades Menores. Os que apoiavam os estudos, o<br />
crescimento da Ordem sem se perderem os princípios básicos (pobreza,<br />
penitência, humildade), conhecidos no <strong>século</strong> XIII como conventuais. E, os que<br />
eram a favor do seguimento das ideias de Francisco, como ele as conceberam,<br />
sem estudos (os estudos para Francisco causavam o afastamento da pobreza),<br />
sem bens materiais, sem ostentação, conhecidos no final do <strong>século</strong> XIII como<br />
espirituais.<br />
Esse conflito de idéias e desejos gerou uma série de desentendimentos<br />
dentro e fora da Ordem. Francisco, com seu carisma e simpatia, conseguiu<br />
acalmar os ânimos e manifestações de seus frades. Afinal sua figura era o<br />
grande ponto de referência para Ordem e seus frades. Conseguindo, em quase<br />
vinte anos de vida dedicada à pobreza, reunir uma Ordem de leigos, letrados,<br />
pobres, nobres e burgueses.<br />
Francisco não escolhia seus irmãos pela condição social, mas pelo amor<br />
a Deus, quanto mais dedicação a “domina paupertas”, mais amor. Sua figura<br />
era a centralizadora das atenções e admiração por parte de seus discípulos,<br />
que tentavam, a todo o custo, não decepcionar seu mestre e pai. Contudo, o<br />
grande crescimento da Ordem levou a um descontrole de seus frades, não<br />
conseguindo mais manter um único pensamento ou desejo. Uma vez que<br />
Francisco, ao fundar sua Ordem em 1209, e receber a aprovação oral do Papa<br />
Inocêncio III. Ele não tinha a intenção de criar uma Ordem com as proporções<br />
48 SILVEIRA, Ildefonso, Frei; REIS, Orlando dos (Org.). São Francisco de Assis:<br />
escritos e biografias de São Francisco de Assis; crônicas e outros testemunhos do<br />
primeiro <strong>século</strong> franciscanos. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 168.<br />
49 SILVEIRA, op. cit., p. 463.