12.05.2013 Views

MARCAS QUE DEMARCAM - Repositório do ISCTE-IUL

MARCAS QUE DEMARCAM - Repositório do ISCTE-IUL

MARCAS QUE DEMARCAM - Repositório do ISCTE-IUL

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

simbólico (sob a forma de poder, sucesso ou prestígio social) e de capital social (na constituição<br />

de redes de bio-sociabilidade). 26<br />

Para além <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, uma outra instância social de poder amplamente coloniza<strong>do</strong>ra <strong>do</strong><br />

corpo e responsável pela convicção da relativa soberaneidade deste sobre si próprio, tem si<strong>do</strong> a<br />

própria política, «com a reivindicação <strong>do</strong> direito <strong>do</strong> indivíduo ao uso livre <strong>do</strong> seu corpo» (Ribeiro,<br />

2003:7). Com efeito, tal como coloca Fiske, a luta pelo controlo sobre os significa<strong>do</strong>s,<br />

comportamentos e prazeres <strong>do</strong> corpo tem si<strong>do</strong> «crucial porque o corpo é onde o social é mais<br />

convictamente representa<strong>do</strong> como individual e onde as políticas podem ser melhor disfarçadas<br />

como natureza humana» (1989:70), para além de «os prazeres <strong>do</strong> corpo individual constituírem<br />

uma ameaça para o corpo político» (Fiske, 1989:75). É neste senti<strong>do</strong> que Turner descreve a<br />

sociedade contemporânea como uma “sociedade somática” (1992:12-13), onde o corpo se<br />

tornou numa prioridade central de actividade e reactividade política e cultural, gerada em torno<br />

da sua própria regulação.<br />

É a partir da revolução “cultural e sexual” <strong>do</strong>s anos 60, cuja ponta <strong>do</strong> iceberg é visível nos<br />

acontecimentos de Maio de 68, que as reivindicações de liberação <strong>do</strong> corpo (e de liberação pelo<br />

corpo) emergem em larga escala. Basta pensar nos problemas eleitos pelos movimentos sociais<br />

que promoveram e sucederam tais acontecimentos, onde «a livre expressão <strong>do</strong> corpo e da<br />

mente era uma das bandeiras de luta favoráveis ao florescimento de sensibilidades diferentes,<br />

inusitadas e alternativas. (…) Para alguns, após Maio de 1968, novas formas de luta emergiram,<br />

favoráveis à defesa das minorias, <strong>do</strong> multiculturalismo, da saúde <strong>do</strong> corpo humano e <strong>do</strong> planeta»<br />

(Sant’Anna, 2001:89). Podem ser incluí<strong>do</strong>s no que Foucault designou de bio-política (1979), ou<br />

seja, a dinâmica de movimentos sociais e identitários que se formou a partir de populações<br />

sobre-definidas por lógicas de corporalidade, na tentativa não só de promover e celebrar o auto-<br />

controlo sobre o próprio corpo, como de lutar contra as desigualdades sociais decorrentes das<br />

interpretações e classificações culturais que <strong>do</strong>minam sobre determina<strong>do</strong>s traços fenotípicos,<br />

bem como contra as respectivas autoridades responsáveis pela sua produção, reprodução e<br />

reforço 27.<br />

26 Numa sociedade onde a “gestão da imagem” se tornou, reciprocamente, num negócio lucrativo e numa<br />

“necessidade de facto” no merca<strong>do</strong> de trabalho, no espaço público, nas relações interpessoais, o corpo, na forma<br />

como surge estiliza<strong>do</strong>, tornou-se numa forma intrínseca e influente de informação. To<strong>do</strong>s consumimos imagens,<br />

intitula Ewen o seu livro, onde argumenta que «em inumeráveis aspectos da vida, o poder da aparência veio<br />

ofuscar, ou formatar, a forma como compreendíamos os assuntos de substância» (1988:259). A propósito <strong>do</strong> poder<br />

que a imagem corporal joga actualmente no sucesso das trajectórias sociais das pessoas, ver ainda Amadieu, 2005;<br />

Etcoff, 2001; Wellington & Bryson, 2001.<br />

27 Como veremos mais à frente, podemos ainda integrar na bio-política a acção de alguns movimentos juvenis onde<br />

é produzi<strong>do</strong> e reivindica<strong>do</strong> um corpo espectacular ou radical, na a<strong>do</strong>pção de visuais e gestos corporais conota<strong>do</strong>s<br />

com o excesso, na medida em que desafiam expectativas e constrangimentos que habitualmente recaem sobre a<br />

imagem e os movimentos <strong>do</strong> corpo.<br />

- 48 -

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!