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1 RELEITURA DO CÂNONE ROMÂNTICO POR ÁLVARO ... - Unesp

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ANAIS <strong>DO</strong> X SEL – SEMINÁRIO DE ESTU<strong>DO</strong>S LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />

em diversos espaços e situações, metamorfoseando-se e assumindo inúmeras identidades. Por<br />

isso, é de suma importância identificar, na obra, a presença desse espírito que é apresentado, a<br />

princípio, como um degredado português que leva o nome de Fernão Matias Ribeiro, mas que ao<br />

reaparecer em outras épocas e espaços também assume formas e nomes diversos como o<br />

peixe-boi Matu; o negro Matulu; o escravo Matias; o delator dos inconfidentes Fernando Ribeiro;<br />

o falso Lord Creek, que era o embusteiro Matias Ribeiro; o senhor Ribeiro que contracena com<br />

um coronel; o chefe do bando de cangaceiros Matias Fernando Ribeiro, dentre outros. Em todos<br />

os nomes que adquire há marcas de que se mantém algo do nome original (Matias) ou do<br />

sobrenome Ribeiro. Da mesma forma, o nome “Ribeiro” dado ao espírito que reaparece sob<br />

diversas identidades, sugere que o romance flui como um rio e, muito acertadamente, é<br />

considerado por Marilene Weinhardt (2000) como um roman fleuve.<br />

Para o crítico literário Massaud Moisés (2004, p. 407), o termo roman-fleuve pode<br />

caracterizar obras ficcionais que se organizam em ciclos contínuos, à semelhança do curso de<br />

um rio, e que comportam inúmeras personagens e ações que se sucedem e se imbricam. De<br />

forma semelhante o define Caio Gagliardi (2006, p.14), porém com uma caracterização mais<br />

próxima da obra em questão quando se refere a roman fleuve como romances cuja personagem<br />

principal não é um indivíduo, mas um conjunto de indivíduos, e conclui que “tal qual uma<br />

sinfonia, ou um enorme afresco, orquestram a saga de uma família, de uma sociedade ou<br />

mesmo de uma nação”. Esse jogo de identidades revela-se plenamente na narrativa de Álvaro<br />

Cardoso Gomes e, por isso, no capítulo em que Fernão assume a forma de manati (peixe-boi),<br />

sua consciência dividida e submersa no sonho declara: “[...] eu que sou como a água, a própria<br />

água correndo, forma sem forma, incompleta servidão ao um que é todos [...]” (GOMES, 1997, p.<br />

88-89). Impossível não lembrar, desse modo, do poeta moderno que abarca a pluralidade sem<br />

perder a individualidade: “Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta/ Mas um dia afinal eu<br />

toparei comigo [...]” (ANDRADE, 1987, p. 211).<br />

As múltiplas máscaras usadas pelo protagonista deixam entrever sua essência<br />

donjuanesca, seja na figura do degredado Fernão Matias Ribeiro, do Caguara, o bebedor de<br />

caium, do peixe-boi Matu ou do negro Matias, enfim, todas as identidades assumidas pelo<br />

espírito do degredado português encarnam um sedutor incorrigível, desde o primeiro episódio,<br />

em que seduz a índia Ibacoby ou quando vira peixe-boi e seduz a princesa Mana ou, ainda,<br />

quando o negro Matias enfeitiça a mulher branca. Em todos os episódios torna-se evidente a<br />

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