1 RELEITURA DO CÂNONE ROMÂNTICO POR ÁLVARO ... - Unesp
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ANAIS <strong>DO</strong> X SEL – SEMINÁRIO DE ESTU<strong>DO</strong>S LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
consegue criar um Álvares de Azevedo que, como aponta Afrânio Peixoto, dialoga com toda uma<br />
tradição gótica, tanto europeia como americana.<br />
Nas mãos de Álvaro Cardoso Gomes, o fantástico e o perverso presentes em Noite na<br />
taverna são reelaborados e atualizados, dando uma pequena mostra de que os elementos<br />
introduzidos pela geração de Álvares de Azevedo podem, por meio da paródia, encantar e<br />
aguçar a imaginação do leitor moderno. Assim, o autor consegue criar uma ficção que alude ao<br />
que Onédia de Carvalho Barboza (1974, p. 24) chamou de “Romantismo paulista” e que, no<br />
Brasil, ficou muito associada à figura de Byron, embora o gosto pelo demoníaco e até a temática<br />
do incesto, também sugerida no texto de Poe, fossem tendências do Romantismo em geral e<br />
não imitação de um autor ou outro como a crítica do romantismo costuma assinalar. Tais<br />
tendências teriam florescido, segundo Mário Praz (1996, p. 83), a partir do romance gótico, do<br />
qual Byron também sofreu forte influência. Assim, Lord Creek, uma espécie de “Byron brasileiro”,<br />
revela-se aos olhos do personagem Álvares de Azevedo sob uma vestimenta vampiresca;<br />
imagem que ficou muito associada ao poeta inglês devido a um equívoco do diretor da revista<br />
New Monthly Magazine em atribuir a novela macabra de Polidori, The Vampire (1819), a Byron<br />
(PRAZ, 1996, p. 89). A relação entre o Lord Matias Creek com Byron surge na ficção de Álvaro<br />
Cardoso Gomes por meio da referência direta, pois o personagem Álvares de Azevedo, ao<br />
avistá-lo, pergunta-se “Quem seria ele? Um Shelley, um Byron, exilado no Brasil?” (GOMES,<br />
1997, p. 203). Contudo, para compreendermos a caracterização dessa personagem e da<br />
releitura que, por meio dela, Álvaro Cardoso Gomes realiza da tradição gótica e do “Romantismo<br />
paulista”, convém levar em conta as considerações do próprio autor, que explicita em seu<br />
Posfácio:<br />
O Livro V é grosseira paródia de “A Queda da Casa de Usher”, de Edgar Allan Poe. Notamse<br />
também estilemas de Noite na Taverna e de poemas de Álvares de Azevedo. Aqui e ali<br />
há imagens roubadas de À Rebours, do excêntrico Huysmans, de As Minas do Rei<br />
Salomão, de Ridder Haggard, na saborosa tradução de Eça de Queirós, que tornou o<br />
romance mais palatável e de poucos e sórdidos detalhes da vida de Oscar Wilde.<br />
Humildemente, contudo, não me custaria reconhecer que o fragmento poderia lembrar mais<br />
“A Queda da Casa de Usher” de Roger Corman do que a do próprio Poe. Nesse caso,<br />
quem porventura identificar as feições do meu Roderick Usher com as de Vincent Price não<br />
estará muito longe da verdade (GOMES, 1997, p. 427).<br />
Na transcrição acima, Álvaro Cardoso Gomes atesta que sua ficção mantém um<br />
diálogo não apenas com a literatura, mas também com o cinema gótico, que incrementou as<br />
feições dos heróis saídos da pena de Edgar Allan Poe. A figura do Lord de Álvaro Cardoso<br />
Gomes apresenta-se ante os românticos com uma impressionante capacidade de provocar, ao<br />
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