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1 RELEITURA DO CÂNONE ROMÂNTICO POR ÁLVARO ... - Unesp

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ANAIS <strong>DO</strong> X SEL – SEMINÁRIO DE ESTU<strong>DO</strong>S LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />

Schiller no que se refere à imortalidade da alma pela metempsicose em oposição ao platonismo.<br />

A metempsicose ou a transmigração da alma, que viaja no tempo e no espaço reencarnando<br />

tanto em seres humanos como em animais carrega, na narrativa de Cardoso Gomes, sua<br />

essência donjuanesca. Na Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, Solfieri conta uma história<br />

que se passa em Roma, cujo núcleo temático é a catalepsia e a atração pela mulher morta; tema<br />

explorado também por Poe, em quem Álvaro Cardoso Gomes vai buscar elementos para compor<br />

a sua paródia. Há, no texto em análise, uma alusão a essa personagem de Noite na Taverna nas<br />

revelações do cocheiro, quando este desmascara o falso Lord, denunciando seu caso amoroso<br />

com um capitão inglês que se relacionava com um italiano chamado Alfieri. Da mesma forma,<br />

por que não pensar em uma alusão a Poe em Noite na Taverna quando, nos primeiros<br />

parágrafos, é mencionada a ave que dá nome a um dos poemas mais populares do escritor<br />

norte-americano:<br />

__Cala-te, Johann! Enquanto as mulheres dormem e Arnold – o loiro - cambaleia e<br />

adormece murmurando as canções de orgia de Tieck, que música mais bela que o alarido<br />

da saturnal? Quando as nuvens correm negras no céu como um bando de corvos errantes,<br />

e a lua desmaia como a luz de uma lâmpada sobre a alvura de uma beleza que dorme, que<br />

melhor noite que a passada ao reflexo das taças? (AZEVE<strong>DO</strong>, 2000, p. 565).<br />

Imagens voluptuosas usadas por Álvares de Azevedo em seus poemas e em sua<br />

prosa são também inseridas nas descrições do narrador-personagem Álvares de Azevedo de<br />

Cardoso Gomes. É o caso, por exemplo, da presença constante da noite e de suas criaturas<br />

que, aliás, recobrem todo o romance, além da personificação da lua, embriagada ou sonolenta,<br />

sempre escondida atrás de uma nuvem. Contudo, em algumas descrições do solar de Creek e<br />

das sensações sentidas naquele lugar são transposições da narrativa de Poe, com pequenas<br />

modificações semânticas.<br />

A temática e o estilo descritivo empregado por Álvares de Azevedo em suas<br />

correspondências ressurgem, ainda, em descrições espalhadas na prosa de Cardoso Gomes.<br />

Essa ambientação é naturalmente incorporada pelo autor que, na voz de Álvares de Azevedo,<br />

descreve a noite em que o trio romântico era conduzido ao solar de Creek:<br />

Era uma noite tempestuosa, e a neblina parecia-se a um sudário, coalhando de espectros<br />

os desvãos das escadas, os arcos dos conventos. Por entre as rotas cortinas do coche, mal<br />

se distinguiam as casas, as hortas, as árvores, iluminadas pelos lampiões. Mais adiante,<br />

pareceu-me que saíamos da cidade: as trevas envolveram-nos com seu manto, o caminho<br />

tornara-se esburacado; de vez em quando, os cavalos empacavam, o cocheiro praguejava,<br />

chicoteando-os impiedosamente. Transidos de frio, encolhíamos-nos, cruzando os braços<br />

sob a capa de estudante. O rude cenário, a escuridão só faziam acentuar o clima de<br />

mistério, excitando ainda mais nossa imaginação: aquela viagem, para mim, assemelhava-<br />

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