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Intercâmbio de olhares e perspectivas - Unorp

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KFOURI, Cláudia Lúcia Cabrera. <strong>Intercâmbio</strong> <strong>de</strong> <strong>olhares</strong> e <strong>perspectivas</strong>: uma releitura da obra O triunfo da morte, <strong>de</strong> Pieter Bruegel. Revista<br />

UNORP, ano II, v. 5: 83-121, agosto 2003.<br />

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a aparência humana. Horrorizado e, finalmente, reeducado pelos<br />

pintores contemporâneos, o olhar ficou novamente livre para as<br />

personagens pesadonas, cor <strong>de</strong> terra rústicas, <strong>de</strong> Brueghel<br />

(HAGEN, 1995, p. 88).<br />

A leitura sincrônica da obra <strong>de</strong> Pieter Brueghel é reforçada na percepção<br />

<strong>de</strong> marcas, sobretudo em O triunfo da morte, compreendidas, aqui, como<br />

antecessoras <strong>de</strong> aspectos tidos como “reveladores” ou “originais” na expressão<br />

artística do surrealismo. Uma <strong>de</strong>ssas percepções estaria na busca surrealista<br />

<strong>de</strong>, entre o abstracionismo e o “realismo”, atingir a permanência <strong>de</strong> um<br />

figurativismo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m automática e <strong>de</strong> essência mágica, ten<strong>de</strong>ndo às artes<br />

ditas “selvagens” (nas quais inclui-se a arte <strong>de</strong> Brueghel) e com gran<strong>de</strong> influência<br />

da tradição expressionista, sempre viva na arte européia. Tal busca possibilitaria<br />

o encontro com o novo figurativismo. A adoção <strong>de</strong> objetos do mundo pressuposto<br />

como real na composição pictórica faz com que Breton (1935, apud<br />

CHENIEUX-GENDRON, 1992, p. 202) reflita sobre o mo<strong>de</strong>lo interior<br />

surrealista, ou seja, centrado na conquista <strong>de</strong> uma arte subjetiva, que conseguisse<br />

atingir o ponto <strong>de</strong> interação absoluta entre mundos interior e exterior. Haveria<br />

nessas produções uma luta constante entre a representação interior e as formas<br />

do mundo real, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando, finalmente, um procedimento poético: excluir<br />

(relativamente) o objeto exterior como tal e apenas consi<strong>de</strong>rar a natureza na<br />

sua relação com o mundo interior da consciência. Tanto na arte <strong>de</strong> Renné<br />

Magritte quanto na <strong>de</strong> Chirico haveria uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> questionamento do<br />

mundo exterior para o alcance <strong>de</strong> uma completu<strong>de</strong> criativa. Introduziriam, assim,<br />

um mecanismo dialético atuante entre o mo<strong>de</strong>lo interior e o signo do objeto.<br />

Dessas questões a respeito do automatismo pictural, há uma dupla direção:<br />

a direção “poética”, <strong>de</strong>finida como a pintura trompe-l’oeil (engana-vista) e que<br />

aparenta um estranhamento por assemelhar-se ao mundo onírico; e a direção<br />

do automatismo “objetivo”, <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> pintura automática ou gestual (como<br />

as técnicas da collage e frottage). Breton, em sua reflexão, dá especial atenção<br />

à direção poética perseguida por Magritte, na qual, por sua vez, notamos uma<br />

forte proximida<strong>de</strong> com a essência artística <strong>de</strong> Brueghel. Por meio da “<strong>de</strong>scrição”<br />

pictórica dos objetos e seres que formam o nosso mundo cotidiano, <strong>de</strong>scobrese<br />

por intermédio da relação que mantêm entre si, uma existência antes oculta,

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