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Intercâmbio de olhares e perspectivas - Unorp

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KFOURI, Cláudia Lúcia Cabrera. <strong>Intercâmbio</strong> <strong>de</strong> <strong>olhares</strong> e <strong>perspectivas</strong>: uma releitura da obra O triunfo da morte, <strong>de</strong> Pieter Bruegel. Revista<br />

UNORP, ano II, v. 5: 83-121, agosto 2003.<br />

significação, por sua vez, tanto po<strong>de</strong>m interligar-se a lexias <strong>de</strong>ntro do mesmo<br />

texto, quanto se associar a blocos significativos <strong>de</strong> outros textos. Dessa maneira,<br />

reconhecemos as marcas do texto i<strong>de</strong>alizado por Barthes (1992, p.39;45) em<br />

O triunfo da morte, na medida que observamos a ausência <strong>de</strong> um foco ou<br />

elemento central <strong>de</strong>finidos, permitindo um número infinito <strong>de</strong> aberturas sem<br />

que nenhuma se sobreponha às outras e estabeleça qualquer vestígio <strong>de</strong><br />

organização hierárquica.<br />

Complementarmente, o mesmo autor, em O prazer do texto (1987, p.82),<br />

compreen<strong>de</strong> o texto como um “tecido” que, ao contrário <strong>de</strong> um produto acabado,<br />

investe na idéia gerativa. O “tecido”, assim, constitui um entrelaçamento<br />

permanente e incessante, provocando o gerar eterno <strong>de</strong> sentidos, em uma<br />

trajetória <strong>de</strong> construção, <strong>de</strong>sconstrução e reconstrução, extremamente similar<br />

àquela percorrida em O triunfo da morte: o texto se faz, se trabalha através<br />

<strong>de</strong> um entrelaçamento perpétuo.<br />

ABISMOS, ESPELHOS E LABIRINTOS: DESENHOS DO DESVIO<br />

Em relação à arte e ao estilo brugheliano, notamos uma similarida<strong>de</strong> e<br />

um diálogo profundos com o trabalho pictórico <strong>de</strong> Hieronymus Bosch (1450-<br />

1516), o mestre que rompeu as fronteiras entre o sonho e a realida<strong>de</strong>, sacudindo<br />

as amarras impostas pela arte convencional. Brueghel, porém, expõe ainda<br />

mais a estreiteza entre o universo onírico e o cotidiano existencial do povoado<br />

simples e humil<strong>de</strong> ao seu redor. Em outras palavras, as criaturas ou figuras ali<br />

representadas ora mostram-se extremamente impotentes e esmagadas diante<br />

das forças naturais, ora dominam a atmosfera e a paisagem do cenário principal<br />

com o peso <strong>de</strong> sua carga emotiva e altamente humana. Tal atmosfera remetenos<br />

também à representação <strong>de</strong> mundo <strong>de</strong>moníaco, dotado <strong>de</strong> evocações<br />

misteriosas <strong>de</strong> um “ambiente medieval do além”, o qual envolve-nos pelo cenário<br />

misterioso das remotas crenças medievais, embora compostas <strong>de</strong> maneira lúdica,<br />

irônica e paródica.<br />

Por isso, Brueghel é um artista que nos instiga a “entrar” em sua<br />

obra, não a permanecer simplesmente apegados à observação <strong>de</strong><br />

sua atraente e perturbadora fachada. Suas telas nos convidam a<br />

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