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Intercâmbio de olhares e perspectivas - Unorp

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KFOURI, Cláudia Lúcia Cabrera. <strong>Intercâmbio</strong> <strong>de</strong> <strong>olhares</strong> e <strong>perspectivas</strong>: uma releitura da obra O triunfo da morte, <strong>de</strong> Pieter Bruegel. Revista<br />

UNORP, ano II, v. 5: 83-121, agosto 2003.<br />

86<br />

Tal postura vai ao encontro <strong>de</strong> teorias vinculadas ao processo intertextual,<br />

atravessando, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um caminho antropofágico (cf. Oswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, 1928),<br />

como no próprio efeito <strong>de</strong> sentido produzido pelo objeto <strong>de</strong> estudo, que, por<br />

meio <strong>de</strong> um processo especular, parece construir-se pela receptivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

parte à outra, estabelecendo uma constante <strong>de</strong>voração interna, <strong>de</strong>sconstruindose<br />

e reconstruindo-se constantemente. Tal <strong>de</strong>voração abre-se, ainda, para o<br />

alheio, para o externo, seja por meio <strong>de</strong> empréstimos <strong>de</strong> traços culturais, discursos<br />

específicos, remissões a <strong>de</strong>terminadas épocas históricas, seja pela releitura direta<br />

ou indireta <strong>de</strong> outros textos, verbais ou não-verbais. Verificamos que os conceitos<br />

teóricos <strong>de</strong> Kristeva (1969), <strong>de</strong>nominados <strong>de</strong> intertextualida<strong>de</strong>, ao retomar e<br />

reestruturar aqueles estabelecidos por Bakhtin, oferecem-nos a facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

analisarmos <strong>de</strong> que maneira se produz o novo texto, os processos <strong>de</strong> rapto e a<br />

absorção <strong>de</strong> elementos alheios em uma nova obra. Assim, em tal processo, o<br />

principal não é necessariamente verificar a “fonte” em si, mas a forma como<br />

foi explorada, retrabalhada e transformada, a partir do confronto produtivo<br />

com o outro, já que o texto, segundo a autora, é uma permutação <strong>de</strong> textos, uma<br />

intertextualida<strong>de</strong>: no espaço <strong>de</strong> um texto, vários enunciados, vindos <strong>de</strong> outros<br />

textos, cruzam-se e neutralizam-se (In: BARTHES, 1968, p.143-4).<br />

Recentemente, os estudos <strong>de</strong> Genette (1989), Barthes (1992), Foucault<br />

(1998), Derrida (1974), Landow (1995) vêm dando novo enfoque à textualida<strong>de</strong><br />

e contribuindo, fundamentalmente, com o aprimoramento e a contextualização<br />

<strong>de</strong>ssa questão em nossa época, na qual a necessida<strong>de</strong> e a tendência à<br />

contaminação entre linguagens, distintas ou não, apresentam-se mais fortes, <strong>de</strong><br />

forma a nos auxiliar na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> procedimentos responsáveis à pluralida<strong>de</strong><br />

do texto, verbal ou não-verbal. Dessacralizando o conceito <strong>de</strong> texto como<br />

absolutamente hermético e auto-suficiente, tais autores reforçam os<br />

apontamentos <strong>de</strong> Bakhtin e Kristeva ao observarem que os contornos e limites,<br />

hipoteticamente conferidos ao objeto textual, tornam-se in<strong>de</strong>finidos e capazes<br />

<strong>de</strong> subverter sua imagem <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong> e completu<strong>de</strong> em um texto ilimitado <strong>de</strong><br />

associações, fragmentos, contextos e conexões. Barthes (1992, p. 39; 44-7)<br />

compreen<strong>de</strong> o ato da leitura <strong>de</strong> um texto-plural como um encontro <strong>de</strong> sentidos<br />

que nos possibilitam levar a outros sentidos, <strong>de</strong> forma a estrelar o texto, ou seja,<br />

separá-lo em blocos <strong>de</strong> significação - as lexias -, espécies <strong>de</strong> “envelopes” <strong>de</strong><br />

volumes semânticos que esboçam o espaço da escritura. Tais blocos <strong>de</strong>

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