14.05.2013 Views

as imagens da água nas poesias hilstianas - ppgel/ileel/ufu

as imagens da água nas poesias hilstianas - ppgel/ileel/ufu

as imagens da água nas poesias hilstianas - ppgel/ileel/ufu

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Revista Eletrônica de Ciênci<strong>as</strong> Human<strong>as</strong>, Letr<strong>as</strong> e Artes<br />

reduzindo-a a um só dos seus planos de referência, é pior do que mutilá-la: é aniquilá-la, anulá-la<br />

como instrumento de conhecimento”. Por isso, propõe-se agora uma apresentação do que foi<br />

pesquisado a esse respeito, apontando algum<strong>as</strong> considerações mais recorrentes ao projeto<br />

desenvolvido.<br />

De acordo com O Dicionário de Símbolos de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant (1.990,<br />

p.15), a <strong>água</strong> está sugestivamente liga<strong>da</strong> a três tem<strong>as</strong> dominantes – fonte de vi<strong>da</strong>, meio de<br />

purificação, centro de regenerescência – sendo que “esses três tem<strong>as</strong> se encontram n<strong>as</strong> mais<br />

antig<strong>as</strong> tradições e formam <strong>as</strong> mais variad<strong>as</strong> combinações imaginári<strong>as</strong>”. Na obra de Hil<strong>da</strong> Hilst,<br />

ess<strong>as</strong> combinações remetem a questões como a sensuali<strong>da</strong>de, o feminino ou o m<strong>as</strong>culino, a<br />

pureza, o tempo que p<strong>as</strong>sa como <strong>as</strong> águ<strong>as</strong> correntes, a morte, etc.<br />

Em G<strong>as</strong>ton Bachelard, A Água e os sonhos (1.997, p. 17/18), pode-se perceber que o<br />

autor desenvolve uma teoria atraente sobre a imaginação poética. A maioria dos exemplos<br />

utilizados sobre a <strong>água</strong> são extraídos <strong>da</strong> poesia porque, segundo ele, to<strong>da</strong> psicologia <strong>da</strong><br />

imaginação somente pode ser esclareci<strong>da</strong> pelos poem<strong>as</strong> que ela inspira. “A imaginação não é,<br />

como sugere a etimologia, a facul<strong>da</strong>de de formar <strong>imagens</strong> <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de; é a facul<strong>da</strong>de de formar<br />

<strong>imagens</strong> que ultrap<strong>as</strong>sam a reali<strong>da</strong>de, que cantam a reali<strong>da</strong>de”.<br />

Na antologia organiza<strong>da</strong> por Antônio Carlos Diegues e intitula<strong>da</strong> A Imagem d<strong>as</strong> Águ<strong>as</strong><br />

(2.000, p. 16), a antropóloga Lúcia Helena de Oliveira Cunha, em seu artigo Significados<br />

Múltiplos d<strong>as</strong> Águ<strong>as</strong>, afirma que por mais impalpável e simbólica, a <strong>água</strong> não deixa de ser<br />

matéria e, por mais material que seja, inspira a poesia bem como embala sonhos. Levar essa<br />

teoria de encontro à poesia de Hilst seria dizer que nesta poesia a <strong>água</strong> está presente, <strong>as</strong>sim<br />

como a poesia está presente na <strong>água</strong> enquanto matéria.<br />

É possível afirmar que a <strong>água</strong> está ao mesmo tempo na natureza e na cultura, nos mitos<br />

e na história, n<strong>as</strong> estações do ano: <strong>as</strong> águ<strong>as</strong> de janeiro, primeir<strong>as</strong> águ<strong>as</strong>, “<strong>as</strong> águ<strong>as</strong> de março<br />

fechando o verão”, como canta Tom Jobim, <strong>as</strong> águ<strong>as</strong> de outono ou primaveris. Encontra-se,<br />

também, na vi<strong>da</strong> dos amantes, nos beijos molhados, nos corpos umedecidos pelo suor que se<br />

enlaçam e se fundem no ato do amor. Está na vi<strong>da</strong> e na morte, nos cerimoniais do adeus a <strong>água</strong><br />

<strong>da</strong> lágrima, no batismo, a <strong>água</strong> benta simbolizando a purificação divina. Portanto, está presente<br />

não só na cultura considera<strong>da</strong> erudita, como também na cultura popular, no conhecimento<br />

cotidiano.<br />

Com todos esses sentidos, a <strong>água</strong> <strong>as</strong>sume característic<strong>as</strong> que perp<strong>as</strong>sam <strong>as</strong> <strong>da</strong> matéria,<br />

p<strong>as</strong>sando a ter cor, gosto e cheiro: são clar<strong>as</strong> ou escur<strong>as</strong>, doces ou salgad<strong>as</strong>, branc<strong>as</strong> ou turv<strong>as</strong>.<br />

São profund<strong>as</strong> ou superficiais (inferior ou superior), vêm do céu, chuva, ou estão no mar<br />

(simbolicamente alto ou baixo), representam não só ess<strong>as</strong> duali<strong>da</strong>des como também o<br />

constante p<strong>as</strong>sar do tempo, <strong>as</strong> águ<strong>as</strong> correntes, ou ain<strong>da</strong> a morte, <strong>as</strong> águ<strong>as</strong> parad<strong>as</strong> ou<br />

dormentes, usando o vocabulário bachelardiano (1.997, p. 49).<br />

Para Chevalier e Gheerbrant (1.990, p. 21), a <strong>água</strong> pl<strong>as</strong>ma, doce, lacustre, é feminina,<br />

enquanto a do oceano, fecun<strong>da</strong>nte, é m<strong>as</strong>culina. De acordo com Bachelard (1.997, p. 121) a<br />

<strong>água</strong> pode ser representa<strong>da</strong> por metáfor<strong>as</strong> lácte<strong>as</strong> à medi<strong>da</strong> que para a imaginação material todo<br />

líquido é <strong>água</strong> e, em seu significado mais profundo (inconsciente), to<strong>da</strong> <strong>água</strong> é leite. “Se agora<br />

levarmos mais longe nossa busca no inconsciente, (...), deveremos dizer que to<strong>da</strong> <strong>água</strong> é um<br />

leite”. Para este autor <strong>as</strong> <strong>imagens</strong> literári<strong>as</strong> tendem a sugerir que tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> águ<strong>as</strong>, inclusive <strong>as</strong> dos<br />

próprios mares, são maternais, feminin<strong>as</strong>, pois recebem <strong>as</strong> aparênci<strong>as</strong> leitos<strong>as</strong>, <strong>as</strong> metáfor<strong>as</strong><br />

lácte<strong>as</strong>.<br />

A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 1, n. 1, p. 39-45, jan./jun. 2008 40

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!