as imagens da água nas poesias hilstianas - ppgel/ileel/ufu

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Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes semântica do tempo que sempre passa insistentemente e quase imperceptivelmente, como a água fluida. O corroer das “escadas da alma” mostra que o eu lírico ressalta os aspectos maléficos do tempo que destrói as conquistas da alma, representadas pela imagem ascendente das escadas. Na 2ª estrofe pode-se fazer uma ligação semântica com a anterior, assim a água continua a ser o sujeito ao qual são atribuídas as características de ser vívida antes, revestida de laca. A cor laca é recorrente por ser forte, vitalícia, quente. Mas o eu lírico reforça que sua alma, agora tosca, continua sendo desfeita por esta água, pela “água- tempo”. É na 3ª estrofe que o eu lírico percebe que a “água-tempo” não corrói apenas as conquistas da alma, mas também a matéria fisiológica do corpo – caras, coração – bem como as cordas dos sentimentos que se desfazem, que são corroídas pelo passar do tempo. Chega o momento que o ser se torna “irreconhecível” (3ª estrofe) e a “água-tempo” se torna escura por carregar tantas substâncias efêmeras da alma, do corpo, dos sentimentos. Bachelard (1.997, p. 58) afirma que as “águas preencheram uma função psicológica essencial: absorver as sombras, oferecer um túmulo cotidiano a tudo o que, diariamente, morre em nós”. A água, tempo neste poema, de vívida, vestida de laca, passa a ser escura, como o breu. Para Bachelard (1.997, p. 49) “(...) toda água primitivamente clara (...) é uma água que deve escurecer, (...). Toda água viva é uma água que está a ponto de morrer”. Assim como a existência humana, que se esvai aos poucos, que é efêmera. O eu lírico não se reconhece nessa escuridão, nesse “breu” e se procura, pois se sente perdido em meio a esse tempo, a essa água escura que nunca pára. A relação desta poesia com a morte está na constatação da presença da morte ainda em vida, muito antes de sua hora definitiva, porque o eu lírico percebe que morre um pouco a cada instante que passa. A morte passa a ser então uma companheira da vida e não um instante estagnado que irá chegar. Com a análise destas poesias conclui-se que Hilda Hilst usa as imagens da água de forma peculiar, com uma organização própria na relação com outros elementos, ou seja, reconstrói a imagem simbólica da água interrelacionando-a a outras imagens, organizando, assim, um todo simbólico que sustenta seus devaneios e suas reflexões psíquicas. Torna-se necessário, portanto, o envolvimento com outras áreas do conhecimento para se entender, de forma mais precisa, algumas das perspectivas consideradas por essa autora que é, sem dúvida, um importante nome para a literatura contemporânea do Brasil. REFERÊNCIAS: BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. Trad. Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1997. BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. Trad. Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 2001. CANDIDO, Antonio. Na sala de aula. São Paulo: Ática, 1985. CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. Trad. Vera da Costa Silva. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990. DIEGUES, Antônio Carlos (Org.). A imagem das águas. São Paulo: Hucitec, 2000. A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 1, n. 1, p. 39-45, jan./jun. 2008 44
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