14.05.2013 Views

as imagens da água nas poesias hilstianas - ppgel/ileel/ufu

as imagens da água nas poesias hilstianas - ppgel/ileel/ufu

as imagens da água nas poesias hilstianas - ppgel/ileel/ufu

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Revista Eletrônica de Ciênci<strong>as</strong> Human<strong>as</strong>, Letr<strong>as</strong> e Artes<br />

Como já foi mencionado anteriormente, a <strong>água</strong> é um elemento que representa não só a<br />

virtude, a purificação, a beleza que reflete, o erotismo, como também simboliza destruição e<br />

morte. A próxima obra escolhi<strong>da</strong> para análise se a<strong>da</strong>pta perfeitamente a essa afirmação.Trata-se<br />

do canto I <strong>da</strong> seção Tempo-Morte encontra<strong>da</strong> no livro Da Morte. Odes Mínim<strong>as</strong><br />

I<br />

Corroendo<br />

As grandes escad<strong>as</strong><br />

Da minha alma.<br />

Água. Como te cham<strong>as</strong>?<br />

Tempo.<br />

Vívi<strong>da</strong> antes<br />

Revesti<strong>da</strong> de laca<br />

Minha alma tosca<br />

Se desfazendo.<br />

Como te cham<strong>as</strong>?<br />

Tempo.<br />

Águ<strong>as</strong> corroendo<br />

Car<strong>as</strong>, coração<br />

Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> cord<strong>as</strong> do sentimento.<br />

Como te cham<strong>as</strong>?<br />

Tempo.<br />

Irreconhecível<br />

Me procuro lenta<br />

Nos teus escuros.<br />

Como te cham<strong>as</strong>, breu?<br />

Tempo.<br />

(HILST, 2.003, P. 71)<br />

A obra, na qual se insere o poema em questão, foi publica<strong>da</strong> pela primeira vez em 1.980.<br />

Nela chama atenção a forma poética <strong>da</strong> “ode”, toma<strong>da</strong> como objeto de celebração e como um<br />

modo de falar solene, que Hilst usa para tratar o tema “morte”.<br />

As odes do livro Da Morte. Odes Mínim<strong>as</strong> são compost<strong>as</strong> b<strong>as</strong>icamente <strong>da</strong> construção de<br />

uma interlocução <strong>da</strong> morte, ou seja, é diante <strong>da</strong> morte que o eu lírico tece su<strong>as</strong> considerações e<br />

devaneios reflexivos. Isso explica o vocabulário que celebra a morte e a descreve como<br />

ocorrência de certa duração e demora no âmago de uma existência.<br />

O poema escolhido para análise mostra a observação minuciosa do lento consumir <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> pelo tempo, tema central desse poema, que é, metaforicamente, representado pela imagem<br />

<strong>da</strong> <strong>água</strong>.<br />

Na 1ª estrofe a “<strong>água</strong>-tempo” é o sujeito que corrói <strong>as</strong> grandes escad<strong>as</strong> <strong>da</strong> alma. O verbo<br />

corroer no gerúndio sugere a idéia de continui<strong>da</strong>de, pois, a <strong>água</strong> só corrói se continuamente<br />

p<strong>as</strong>sar pelo mesmo caminho ou gotejar sempre no mesmo lugar. Portanto, a <strong>água</strong> aqui<br />

representa o insistente p<strong>as</strong>sar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Para Chevalier e Gheerbrant (1.990, p. 21) “a ribeira, o<br />

rio, o mar representa o curso <strong>da</strong> existência humana”. Essa continui<strong>da</strong>de se relaciona também à<br />

A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 1, n. 1, p. 39-45, jan./jun. 2008 43

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!