as imagens da água nas poesias hilstianas - ppgel/ileel/ufu
as imagens da água nas poesias hilstianas - ppgel/ileel/ufu
as imagens da água nas poesias hilstianas - ppgel/ileel/ufu
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Revista Eletrônica de Ciênci<strong>as</strong> Human<strong>as</strong>, Letr<strong>as</strong> e Artes<br />
Ilustrando o que foi exposto até o momento, p<strong>as</strong>sa-se a breves análises de poesi<strong>as</strong> de<br />
Hil<strong>da</strong> Hilst, enfatizando nel<strong>as</strong> o tema que é a b<strong>as</strong>e deste estudo, com o objetivo de mostrar<br />
como sua obra se relaciona com <strong>as</strong> teori<strong>as</strong> do imaginário que se desenvolveram em torno d<strong>as</strong><br />
significações do elemento <strong>água</strong>.<br />
A primeira poesia analisa<strong>da</strong> será o canto II <strong>da</strong> obra Cantares do Sem Nome e de Parti<strong>da</strong>.<br />
Esta obra foi lança<strong>da</strong> no ano de 1.995 e é forma<strong>da</strong> por outros nove cantos que, apesar de se<br />
relacionarem, <strong>as</strong>sumem, quando sozinhos, sua própria autonomia. É o que se verifica a seguir:<br />
II<br />
E só me veja<br />
No não merecimento d<strong>as</strong> conquist<strong>as</strong>.<br />
De pé. N<strong>as</strong> plataform<strong>as</strong>, n<strong>as</strong> escad<strong>as</strong><br />
Ou através de um<strong>as</strong> janel<strong>as</strong> baç<strong>as</strong>:<br />
Uma mulher no trem: perfil desabitado de caríci<strong>as</strong>.<br />
E só me veja no não merecimento e interdita:<br />
Papéis, valises, tomos, sobretudos<br />
Eu-alguém travesti<strong>da</strong> de luto. (E umolhar<br />
de púrpura e desgosto, vendo através de mim<br />
navios e dorsos.)<br />
Dorsos de luz de águ<strong>as</strong> mais profund<strong>as</strong>. Peixes.<br />
M<strong>as</strong> sobre mim, intens<strong>as</strong>, ilharg<strong>as</strong> juvenis<br />
Machucad<strong>as</strong> de gozo.<br />
E que jamais perceba o rocio <strong>da</strong> chama:<br />
Este molhado fulgor sobre o meu rosto.<br />
(HILST, 2.004, p. 18)<br />
Hil<strong>da</strong> Hilst, no conjunto de poem<strong>as</strong> do qual este faz parte, usa o amor como tema<br />
central. No entanto, nesse canto (canto II) o vocábulo “amor” não aparece, nem por isso deixa<br />
de subentender-se ao leitor que o percebe no todo do poema. Para corroborar esta afirmação<br />
segue-se a apresentação do 1º verso do canto I:<br />
Que este amor não me cegue nem me siga.<br />
No 1º verso do canto II (no qual se resume a 1ª estrofe), o verbo “ver”, conjugado na 3ª<br />
pessoa do singular, sugere a presença de um sujeito que está oculto. Sabe-se, como já foi visto,<br />
que esse sujeito é o amor, que para o eu lírico é incógnito, “sem nome”. Esse 1º verso é ligado<br />
semanticamente ao 2º por meio do enjambement; entretanto, se analisado sozinho, pode-se<br />
entender a palavra “só” não apen<strong>as</strong> como o ato de ver somente, m<strong>as</strong> também como solidão, a<br />
solidão de um eu feminino que se af<strong>as</strong>ta do amor, que está reclusa em si mesma, “interdita”.<br />
Percebe-se que apesar do uso <strong>da</strong> forma dos cantares bíblicos feito pela poeta, essa obra não é a<br />
celebração sensualíssima d<strong>as</strong> núpci<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> sim, o registro de uma guerra vital ain<strong>da</strong> amorosa,<br />
m<strong>as</strong> precocemente perdi<strong>da</strong>.<br />
A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 1, n. 1, p. 39-45, jan./jun. 2008 41