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a ler o ensaio - ensaios sobre literatura do medo

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aban<strong>do</strong>na-­‐se a ela, nela se compraz; mas isso nunca ocorre<br />

no caso da <strong>do</strong>r real, que ninguém jamais suportou<br />

voluntariamente durante muito tempo. (BURKE, 1993, p.<br />

46)<br />

Ao mesmo tempo, o término da <strong>do</strong>r não estaria necessariamente liga<strong>do</strong> ao<br />

prazer e ao deleite, ou seja, a uma agradável sensação de alívio, oriunda <strong>do</strong> término da<br />

sensação de <strong>do</strong>r. Neste caso, pode-­‐se afirmar que o prazer e a <strong>do</strong>r seriam sensações<br />

independentes, com suas formas próprias de movimentação. E seria a <strong>do</strong>r a emoção<br />

mais significativa, uma vez que nos põe em contato direto com nosso mais íntimo<br />

instinto de autopreservação.<br />

As paixões que dizem respeito à autopreservação<br />

derivam principalmente da <strong>do</strong>r ou <strong>do</strong> perigo. As ideias de<br />

<strong>do</strong>r, <strong>do</strong>ença e de morte enchem o espírito de intensos<br />

sentimentos de pavor; mas vida e saúde, não obstante nos<br />

proporcionem a sensação de prazer, não produzem tal<br />

impressão mediante o mero contentamento. Portanto, as<br />

paixões que estão relacionadas à autopreservação <strong>do</strong><br />

indivíduo derivam principalmente da <strong>do</strong>r e o perigo e são as<br />

mais intensas de todas. (id., ib., p. 47)<br />

Neste senti<strong>do</strong>, mesmo estan<strong>do</strong> a <strong>do</strong>r e seu consequente instinto de<br />

autopreservação em um gradua<strong>do</strong> patamar de importância, cabe ao me<strong>do</strong> da morte o<br />

lugar mais alto, na pirâmide emocional, já que ela representa a consciência de nossa<br />

finitude e o término definitivo de todas as outras possibilidades sensitivas.<br />

Contu<strong>do</strong>, não obstante o efeito da <strong>do</strong>r seja<br />

muito mais forte <strong>do</strong> que o prazer, ela geralmente causa<br />

uma impressão muito menor <strong>do</strong> que a ideia de morte, da<strong>do</strong><br />

que dificilmente a esta se prefere, até mesmo em lugar das<br />

<strong>do</strong>res mais extremas; ademais, o que geralmente torna a<br />

própria <strong>do</strong>r, se me é lícito dize-­‐lo, mais <strong>do</strong>lorosa é ser<br />

considerada a emissária dessa rainha <strong>do</strong>s terrores. (id., ib.,p.<br />

48)<br />

Daí vem a noção de que a presença da possibilidade da morte poderia levar o<br />

espírito humano ao cume das possibilidades sensoriais. E a forma que pudesse<br />

provocar esse tipo de sensação sem que houvesse o risco real da consequência <strong>do</strong><br />

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