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a ler o ensaio - ensaios sobre literatura do medo

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Ainda nesse quadro de referências universais não se poderia deixar de<br />

mencionar a obra de Edgar Allan Poe, que talvez seja o escritor <strong>do</strong> gênero que<br />

alcançou maior notoriedade. Tanto que Lovecraft dedica um capítulo inteiro de seu<br />

Horror <strong>sobre</strong>natural em <strong>literatura</strong> ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> escritor.<br />

A fama de Poe tem sofri<strong>do</strong> oscilações curiosas e agora é<br />

moda entre a “intelligentsia avançada” minimizar sua<br />

importância como escritor e como influência; mas seria<br />

difícil para qualquer crítico maduro e reflexivo negar o valor<br />

tremen<strong>do</strong> de sua obra e a potência persuasiva de sua<br />

mente para abrir horizontes estéticos. (LOVECRAFT, 2007,<br />

p. 61)<br />

Assim, traça<strong>do</strong> o panorama teórico de legitimação <strong>do</strong> “horrível” como categoria<br />

estética, pode-­‐se começar a se esboçar a aplicação <strong>do</strong>s princípios expostos acima na<br />

análise de obras <strong>do</strong>s mais diversos perío<strong>do</strong>s da narrativa produzida no Brasil, no<br />

senti<strong>do</strong> de ratificar como os elementos constituintes <strong>do</strong> me<strong>do</strong> e <strong>do</strong> horror estiveram<br />

presentes nos mais cruciais momentos de formação da <strong>literatura</strong> brasileira. Neste<br />

senti<strong>do</strong>, não seria inoportuno afirmar que há, no Brasil, certa inclinação ao tema,<br />

<strong>sobre</strong>tu<strong>do</strong> porque a própria constituição cultural de seu povo, o levou a se familiarizar<br />

com o convívio com mun<strong>do</strong>s paralelos e mistérios, que escapam <strong>do</strong>s <strong>do</strong>mínios<br />

racionais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> material em que ele está inseri<strong>do</strong>. A alma <strong>do</strong> brasileiro está<br />

habituada, desde a infância, a transitar por universos governa<strong>do</strong>s pela fantasia. Em um<br />

<strong>do</strong>s poucos trabalhos publica<strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> o tema no país, Roberto Causo ratifica esse<br />

espírito receptivo universalista <strong>do</strong> Brasil, que faz parte de sua própria natureza<br />

cultural:<br />

O potencial da ficção de horror [...]brasileira vem da<br />

alegada vocação <strong>do</strong> país como reunião de diferentes<br />

heranças culturais. Primeiro as tradições nativas, com seus<br />

mitos e costumes. Soman<strong>do</strong> a elas (quan<strong>do</strong> não as<br />

obliteran<strong>do</strong>) vieram os folclores e crenças européias,<br />

cheios de lobisomens e gnomos protetores <strong>do</strong>s bosques,<br />

rapidamente adapta<strong>do</strong>s ao Novo Mun<strong>do</strong>. E então, quase<br />

simultaneamente, rituais africanos e o seu panteão de<br />

entidades da natureza. Muitas dessas tradições, crenças ou<br />

verdades alternativas ainda estão passan<strong>do</strong> muito bem,<br />

obriga<strong>do</strong>. (CAUSO, 2003, p. 102)<br />

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