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O TEATRO LIBERTÁRIO DE SYLVIA ORTHOF - UEM

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Nenhuma obra literária é isenta de ideologia. Assim como qualquer conversa<br />

expressa opiniões pessoais, o texto literário traz as opiniões, as idéias, a visão de mundo<br />

do autor. O escritor Alberto Camus lembrava que a obra não deveria estar a serviço de<br />

nada que fosse exterior a suas propriedades estéticas, mas, ao mesmo tempo, ninguém<br />

tem o direito de se omitir quanto às questões sociais e políticas de seu tempo (apud<br />

MACHADO, 1999). Assim, embora o artista não deva ter a ideologia como intenção<br />

principal, ela está sempre presente em sua experiência de vida pessoal e,<br />

conseqüentemente, estará presente em sua obra. Para Ana Maria Machado “Tudo que<br />

faz sentido é ideológico, principalmente quando se usam palavras” (1999,34).<br />

Machado lembra ainda que “a ideologia de um livro também reflete o conjunto<br />

de crenças e opiniões da cultura e da época em que vive um autor” (1999, 35). Cabe<br />

lembrar que vários textos dramáticos de Sylvia Orthof vão dos anos 70 a 79, plena<br />

ditadura militar. Após 80 entramos num momento de reconstrução da democracia<br />

nacional, de reconstrução da cidadania, de reconhecimento e valorização das minorias e<br />

da volta da liberdade de expressão. Como uma pessoa sintonizada com o seu tempo<br />

Sylvia falou de liberdade em vários textos dramáticos: A viagem de um barquinho<br />

(1975), Eu chovo, tu choves, ele chove... (1976), Zé Vagão da Roda Fina e Sua Mãe<br />

Leopoldina (1979) e A Gema do Ovo da Ema (1980). Os textos são ágeis, divertidos e<br />

Sylvia deixa clara a sua ideologia libertária: a liberdade é a protagonista de sua<br />

literatura.<br />

IV – Zé Vagão da Roda Fina e Sua Mãe Leopoldina<br />

O texto Zé Vagão da Roda Fina e Sua Mãe Leopoldina foi encenado<br />

profissionalmente, com direção da própria Sylvia Orthof, em 1980, cumprindo<br />

temporada no Teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro.<br />

O texto conta a história de uma mãe autoritária, um filho preguiçoso e uma<br />

bruxa subversiva e questionadora. Ao nomear as personagens, Sylvia Orthof já indica<br />

traços da personalidade de cada uma. Estação de Trem é uma personagem pouco<br />

atuante, introduz a peça e media alguns conflitos. Locomotiva Leopoldina é a mãe de<br />

ferro. Ridícula em sua vaidade e histérica em seu autoritarismo. Zé Vagão da Roda Fina<br />

é o filho dengoso e preguiçoso, que tenta se rebelar contra as ordens da mãe. Ele detesta<br />

andar nos trilhos. E a Bruxa Jubilosa, uma bruxa diferente, divertida, irreverente, que<br />

defende a alegria de viver.<br />

Em sua primeira fala a Locomotiva Leopoldina já mostra seu potencial cômico:<br />

Minha vida é viajar! Sobe e desce, desce e sobe, pelo<br />

caminho do trem!<br />

Meu nome é Leopoldina locomotiva faceira<br />

sou a senhora primeira, primeira dama do trem!<br />

Pííííííííííí!<br />

Mas minha vida é sofrida, triste sorte triste sina,<br />

vou puxando pelo mundo este meu filho menino<br />

que não quer saber de nada, vive de roda enguiçada:<br />

Zé Vagão da Roda Fina! (p. 6-7)<br />

Sylvia utiliza o recurso da antropomorfização ao fazer da locomotiva uma<br />

personagem e, dessa forma, brinca com o estereótipo do modelo familiar. Quando a<br />

personagem Locomotiva se auto nomeia primeira dama do trem, a autora faz uma piada<br />

com a vaidade da locomotiva, que se compara com a imperatriz que nomeou a primeira<br />

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